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Prof.ª FER MENDES – INSTAGRAM @pedagogiatiraduvidas – YOUTUBE Pedagogia Tira Dúvidas Prof.ª ALINY GUERREIRO – INSTAGRAM @trabalhos_academicosprofaliny – YOUTUBE Pedagogia EAD LIVRO – NATUREZA E SOCIEDADE Compilado reunido pelas professoras Fernanda Mendes (62) 99342 0331 e Aliny Guerreiro (63) 98498-2374 Material extraído do AVA – UNOPAR/ANHANGUERA PEDAGOGIA CONHECENDO A DISCIPLINA É na educação infantil que se inicia o desenvolvimento de competências da educação básica. Assim, com os conhecimentos de Ciências da Natureza e Sociedade, constrói-se a compreensão e a interpretação do mundo a partir de saberes relacionados à natureza, à sociedade e à tecnologia, constituindo a primeira etapa na formação de indivíduos com conhecimento para atuar e transformar seu ambiente. O ensino de Ciências da Natureza e Sociedade, a partir do universo infantil e de ações como brincar, conhecer, conviver, explorar, expressar e participar, propicia às crianças a descoberta e a ampliação de senso crítico e estético. Aqui, na formação de professores, a disciplina Natureza e Sociedade lhe possibilita a compreensão da criança inserida em seu contexto e lhe mostra o quão importante é para ela a exploração e a interação cotidianas para a construção de conhecimentos de sua cultura e ambiente. A partir dessa disciplina, você será capaz de identificar e escolher trabalhos pedagógicos na educação infantil que visem à formação de cidadãos que atuem na preservação do ambiente, da vida e do bem comum. Você também descobrirá a importância dos conhecimentos prévios da criança, de modo que passará sempre a despertar o interesse, a curiosidade e a capacidade de solucionar problemas, respeitando a criança como agente da sua cultura. Como isso é visto neste livro? Na primeira unidade, que trata da criança e suas relações com o mundo, a disciplina discute a criança como sujeito histórico e de direitos e a construção da identidade pessoal e coletiva. Trabalha, em seguida, a curiosidade: de si, de seu corpo, dos fenômenos, das transformações e dos demais seres vivos. Na disciplina também são vistos os processos cognitivos, as representações e hipóteses das crianças e que tipo de relação elas estabelecem com os objetos. Você tem ainda a oportunidade de estudar a importância do perguntar, dos estímulos, das interações e das atividades exploratórias para o desenvolvimento da postura investigativa. Prof.ª FER MENDES – INSTAGRAM @pedagogiatiraduvidas – YOUTUBE Pedagogia Tira Dúvidas Prof.ª ALINY GUERREIRO – INSTAGRAM @trabalhos_academicosprofaliny – YOUTUBE Pedagogia EAD Na segunda unidade, Natureza e Sociedade na perspectiva da educação infantil, os conteúdos mostram o conhecimento científico sobre a natureza e a sociedade e sobre as mudanças ambientais. Nessa unidade você trabalhará com a importância dos saberes de Ciências Naturais para a educação infantil e o papel do professor para o desenvolvimento das teorias infantis e das reflexões e explicações do conhecimento humano acumulado que explica o entorno da criança. Na terceira unidade, as orientações didáticas para o ensino da Natureza e Sociedade, a análise do RCNEI e da BNCC colabora com a construção de saberes sobre as abordagens dadas às temáticas da natureza e da sociedade na educação infantil. E, na quarta unidade, são abordados os aspectos culturais importantes para o ensino de Natureza e Sociedade a partir da cultura, da personalidade e da diversidade; além disso, são discutidos o ambiente sociocultural, a construção de identidades, a socialização, a interação, o respeito pelas diferenças, a sustentabilidade social e ambiental. Vamos começar? A CRIANÇA E SUAS RELAÇÕES COM O MUNDO É importante compreender a criança em seu contexto e entender o valor da exploração e da interação cotidianas para a construção de conhecimentos de sua cultura e ambiente. CONVITE AO ESTUDO Para falarmos das relações que a criança estabelece com o mundo, precisamos compreender o conceito de criança e refletir sobre nossas crenças, concepções e valores. As crianças sempre ocuparam o lugar que hoje ocupam no processo educativo? O que você acha? Hoje nos parece estranho pensar que possa ter sido diferente, pois somos muito envolvidos com nossas crianças e delas cuidamos. Temos em nosso país legislação que lhes garante educação, moradia e atenção. Porém, não foi sempre assim ao longo da história da humanidade, ou pelo menos ao longo da história contada no ocidente a partir de povos europeus. A cada momento da história social, econômica e política, a infância foi vista de forma diferente. A Prof.ª FER MENDES – INSTAGRAM @pedagogiatiraduvidas – YOUTUBE Pedagogia Tira Dúvidas Prof.ª ALINY GUERREIRO – INSTAGRAM @trabalhos_academicosprofaliny – YOUTUBE Pedagogia EAD partir da Revolução Francesa (final do século XVIII) e da Revolução Industrial (séculos XVIII e XIX), observamos uma mudança na interpretação de termos como criança e direitos, por exemplo. Assim, precisamos ter fortalecida a ideia de que conceitos sociais são relativos a um determinado contexto e, para compreendermos a criança, precisamos tê-la em seu ambiente cotidiano e refletir sobre a forma como ela interage com seu entorno e como ela o explora e decifra. Vamos começar estudando a criança e suas relações com o mundo. Nesta unidade vamos discutir a importância de reconhecê-la como sujeito histórico e de direitos, a construção de sua identidade pessoal e coletiva e sua curiosidade de descobrir e decifrar o mundo físico. Porém vamos caminhar um pouco pela história e entender como chegamos aos conceitos que temos hoje. Na Modernidade a criança não era vista por si, mas pelo que um dia viria a ser, alguém a ser constituído, diferentemente de hoje, que a entendemos como um sujeito: um sujeito histórico e de direitos. Com o avanço tecnológico, a informação, que no passado era privilégio de uns poucos que poderiam ter acesso a ela, passou a se democratizar. Dessa forma, a informação passou a ser um direito humano e pudemos começar a pensar a escola e a educação infantil a partir dessa ideia, ou seja, uma educação que faça parte do grupo social em que a criança está inserida; que reconheça a importância da transmissão da cultura de um povo, de um lugar, de um grupo, uma transmissão de geração em geração, na educação formal, na escola. Para conseguirmos esse feito, deve ser incontestável a ideia de que a educação se dá a partir de interações com mundo e não com um acúmulo de saberes que não tenham sentido para os educandos. As crianças, de maneiras e em tempos diferentes, extraem significados de suas experiências cotidianas, elas apresentam processos mentais distintos de organização de suas ideias e de desenvolvimento de suas teorias; aos educadores é dada a tarefa de motivar os educandos a desenvolver a competência de extrair os significados. A educação infantil e a forma como ela se dá são hoje reconhecidas como importante etapa para o desenvolvimento cognitivo das crianças. PRATICAR PARA APRENDER Vamos discutir a frase: “A minha liberdade termina onde começa a do outro”. Prof.ª FER MENDES – INSTAGRAM @pedagogiatiraduvidas – YOUTUBE Pedagogia Tira Dúvidas Prof.ª ALINY GUERREIRO – INSTAGRAM @trabalhos_academicosprofaliny – YOUTUBE Pedagogia EAD Qual é o limite que se coloca para a liberdade de cada um? O outro, não é mesmo? Nossa liberdade, nossos direitos individuais não são infinitos, pois não podem ferir os direitos dos outros. Essa vida em sociedade carrega uma série de regras, normas e leis, que foram definidas ao longo de nossa história. Algumas regras mudam com o tempo e de um lugar para o outro. Outras parecem mais gerais. Pensemos num ato simples e comum, a alimentação. Alguns povos usam talheres (garfo, faca e colher), outros hashi (que às vezeschamamos de palitinhos japoneses), enquanto outros comem com as mãos. A alimentação é cultural. Os alimentos são diferentes e a forma de levá-los à boca também, o que pode causar espanto quando alguém não respeita a regra do lugar onde está. Na educação infantil é importante reconhecer as crianças dentro de seus contextos e a partir daí trabalhar a construção de suas identidades pessoais e coletivas como sujeitos históricos e de direitos, levando sempre em consideração a curiosidade delas no tocante a si, ao outro, ao seu ambiente e a outros ambientes, pois, com o avanço das tecnologias da informação e da comunicação e com a chegada destes a lugares distantes, outras maneiras de viver passaram a fazer parte da vida das crianças, as quais muitas vezes manifestam seu interesse e curiosidade por aquilo que não faz parte da cultura na qual está inserida. Ao tratarmos da criança e de suas relações com o mundo, também precisamos pensar nos processos cognitivos das crianças, isto é, a forma como elas elaboram representações e hipóteses e o modo como aprendem. Com o conhecimento dos processos para cada faixa etária, os professores serão capazes de escolher atividades e metodologias que possibilitem estímulos adequados, valorização das perguntas e hipóteses das crianças, interações e prazer de explorar. Imagine que você começou a lecionar numa escola próxima a um pequeno riacho cujo leito foi modificado e agora corre entre paredes de concreto. Em consequência disso, em época de chuvas, ele transborda. Esse fato prejudica o trânsito na região e traz preocupações quanto à possibilidade de inundação nas casas e mesmo na escola. Prof.ª FER MENDES – INSTAGRAM @pedagogiatiraduvidas – YOUTUBE Pedagogia Tira Dúvidas Prof.ª ALINY GUERREIRO – INSTAGRAM @trabalhos_academicosprofaliny – YOUTUBE Pedagogia EAD Você decide junto com sua turma fazer um trabalho sobre o bairro e a escola. As crianças ficam interessadas, começam a se sentir jornalistas, pesquisadores, e aceitam a ideia. Você inicia sua pesquisa buscando recortes de jornais e fotos antigas, tanto na biblioteca da escola e quanto em acervos pessoais dos colegas professores. Em reunião, você solicita o apoio dos familiares das crianças, para que elas façam uma pesquisa em casa, com avós, vizinhos e o pessoal mais antigo daquela localidade. Além de fotos, você orienta as famílias, na reunião de pais e mestres, que eles contem histórias para as crianças, de modo que elas as possam repetir na escola, na hora da roda, compartilhando saberes com os colegas. Como você faria os registros dessas rodas de conversa e dessas narrativas? Certo dia uma das crianças traz uma foto já amarelada pelo tempo, fala que era de seu avô pescando quando criança, mas parece insatisfeita e diz assim: “você vai ficar brava comigo, pois minha mãe falou que era meu avô no córrego da avenida, mas não pode ser. O rio não está reto na foto, tem mais água, não tem os carros e nem a avenida, minha mãe está mentindo”. Você acalma a criança, agradece a foto e combina que vai falar com a mãe dela. Quais ações você tomaria para buscar informações sobre o bairro e o riacho, que, na foto, mais parece um rio? Que tipo de lições você espera discutir com as crianças em relação ao meio ambiente? Embora inicialmente você tenha ficado muito feliz com o projeto e com a foto do tal avô pescando, talvez isso tenha trazido mais questões de pesquisa. Além disso, há na turma crianças que estão ficando de fora da discussão, pois não apresentaram nenhum material e nem contaram alguma história na roda. O projeto está caminhando, está chegando o dia da apresentação e nada. Aliás, ninguém da família dessas crianças tinha comparecido na reunião inicial quando você explicou o projeto, seus objetivos e o cronograma. Você procura a coordenação e descobre que algumas das crianças nasceram por ali, porém seus familiares vieram de outras cidades, de outros estados e até de outros países, de modo que, embora elas tenham nascido por ali, seus familiares haviam chegado ao bairro há pouco tempo. Quais são as ações que você pensa em tomar com essas crianças e com suas famílias para que elas participem ativamente das aulas e do projeto? Você manteria as atividades propostas dentro do bairro e abriria uma aba para infâncias e crianças de outros lugares ou reveria os objetivos desse projeto? Prof.ª FER MENDES – INSTAGRAM @pedagogiatiraduvidas – YOUTUBE Pedagogia Tira Dúvidas Prof.ª ALINY GUERREIRO – INSTAGRAM @trabalhos_academicosprofaliny – YOUTUBE Pedagogia EAD Além de tudo, há ainda uma criança que não se envolveu. Quando você foi verificar os motivos disso, soube que ela é de uma família do bairro. Assim, resolveu chamar alguém para conversar, mas, já passados três dias, você não obteve resposta. É uma criança muito tímida, normalmente não fala nada nas rodas de conversa, sempre precisa de motivação e, na hora do recreio, ela parece preferir brincar sozinha. Conversando novamente com a coordenação, você descobriu que ela vem de uma família em vulnerabilidade social, sentindo- se, assim, excluída dos demais colegas. Que caminhos você tomaria para envolver essa criança no projeto da turma? Vamos juntos! CONCEITO-CHAVE A urbanização ocorrida no Brasil, no século XIX, gerou uma série de mudanças no modo de viver, e a educação infantil, entendida como creche e pré-escola, pode ser apresentada inicialmente como uma das necessidades geradas em tal contexto. Embora o senso comum ainda acredite que a educação infantil apenas acolhe as crianças pequenas para que seus familiares possam trabalhar, é comprovada a importância dessa etapa escolar no desenvolvimento dos indivíduos. Porém, é necessário que ela seja desenvolvida com qualidade, ou seja, em uma escola na qual são encontrados profissionais com formação para os cargos que ocupam, turmas com número reduzido de crianças por educador, programas pedagógicos bem definidos e compatíveis com a faixa etária, ambientes que propiciem a participação das crianças, além de segurança, higiene, cuidado pessoal, acompanhamento e apoio e orientação aos familiares (BORGES, 2009; CAMPOS; PEREIRA, 2015). CONTEXTO HISTÓRICO O atendimento à criança pequena, em instituições educacionais, teve início no país durante a primeira metade do século XIX. A primeira infância foi reconhecida a partir de condições históricas que contribuíram para a formação de crianças em vulnerabilidade socioeconômica, surgindo a necessidade assistencialista não só para as crianças, mas também para suas famílias. O novo olhar que surgia para a primeira infância era o de fiscalizar a alimentação e a saúde básica devido à alta taxa de mortalidade infantil observada no período. Com isso, foram criados diferentes tipos de estabelecimentos: creches, asilos e hospitais infantis, postos de puericultura, jardins de infância, lactários, escolas maternais, parques infantis e pré-escola (KUHLMANN JR., 2001; MAIOLINO, 2020). Prof.ª FER MENDES – INSTAGRAM @pedagogiatiraduvidas – YOUTUBE Pedagogia Tira Dúvidas Prof.ª ALINY GUERREIRO – INSTAGRAM @trabalhos_academicosprofaliny – YOUTUBE Pedagogia EAD A tarefa de cuidar das crianças era realizada por mulheres, das quais não se esperava nenhum grau de instrução. O modelo inicial foi baseado na organização social da primeira metade do século XIX, época em que os cuidados eram de responsabilidade das mães e amas, e a educação, dos pais. Campos e Pereira (2015, p. 27798) afirmam que: [...] as instituições de educação da criança estão em estreita relação com à história da infância e da família, a constituição da sociedade capitalista, da urbanização e da industrialização, das mudanças na organização familiar, da participação da mulher no mercado de trabalho, do desemprego. No início do século XX, eram três diferentes instituiçõesque acolhiam as crianças: as creches, que atendiam de zero a dois anos; as escolas maternais, com crianças de dois a quatro anos; e os jardins de infância, com as de quatro a seis anos. As creches e as escolas maternais eram destinadas aos filhos de operários, e os jardins de infância, oferecidos pelo setor privado, destinavam-se aos filhos de famílias com mais condições financeiras, tendo expoentes no Rio de Janeiro e em São Paulo. Assim como o privado, o setor público atendia a elite paulistana no jardim de infância da Escola Normal Caetano de Campos, inaugurado em 1877 (KUHLMANN, 1991; MAIOLINO, 2020). Estamos falando aqui de um período em que a indústria incorporou a mão de obra feminina, oferecendo-lhe péssimas condições de trabalho e longas jornadas. Isso gerou reinvindicações contra “as jornadas excessivas de trabalho, insalubridade, inexistência de assistência médica, habitações precárias, infraestrutura sanitária ausente, etc.; dentre outras reivindicações, surgia a da creche para os filhos dos trabalhadores” (OLIVEIRA; ROSSETTI-FERREIRA, 1986, p. 37). Kuhlmann Jr. (1991) relata ainda que nesse período a igreja tinha reconhecido conhecimento sobre assistencialismo e exercia influência sobre as instituições. Maiolino (2020) reúne referências indicativas de que, a partir dos anos 1940, as creches passaram a fazer parte do cenário legal nacional, com a legislação trabalhista para empresas com mais de 30 funcionárias. Porém, por falta de clareza na lei, esta não se efetivou e, com as mulheres inseridas no mercado de trabalho, muitas famílias passaram a deixar seus filhos com mulheres sem formação para o atendimento às crianças, as quais eram chamadas criadeiras. Essas eram condições que nada contribuíram para a diminuição da mortalidade infantil. O governo e as empresas não se responsabilizavam pelos pequeninos, e somente algumas instituições filantrópicas acolhiam crianças abandonadas ou filhos de trabalhadoras domésticas. Nos anos 1950 e 1960 já podemos encontrar pesquisadores preocupados com a discussão de cursos objetivos e práticos para a formação dos profissionais destinados às creches. Já para os maternais e jardim de infância esperavam-se qualificações como ser mãe, enfermeira, professora (ter feito magistério) ou assistente social. Além disso, deveria ter Prof.ª FER MENDES – INSTAGRAM @pedagogiatiraduvidas – YOUTUBE Pedagogia Tira Dúvidas Prof.ª ALINY GUERREIRO – INSTAGRAM @trabalhos_academicosprofaliny – YOUTUBE Pedagogia EAD dotes artísticos, ser boa observadora, ouvinte, bondosa, juíza imparcial e mais algumas outras características, que hoje chamaríamos de proatividade, mas sempre profissionais do sexo feminino. No final dos anos 1960, na cidade de São Paulo, foi criada a Secretaria do Bem Estar Social, responsável, também, pelas creches, que não faziam parte da Secretaria da Educação, o que evidencia seu caráter assistencialista. Na efervescência do final dos anos 1960 e 1970, entre manifestações políticas e reinvindicações sociais, cresceu o Movimento de Luta por Creche como direito da mulher trabalhadora e como pressão para o aumento do número de vagas para as crianças, aspecto pelo qual inicialmente o governo não se interessava muito. Em 1975, na cidade de São Paulo, passou-se a utilizar o nome Escola de Educação Infantil (EMEI), ainda em meio período, fato que prejudicava a mãe trabalhadora. Entretanto, é importante ressaltar que a mudança de nomenclatura parece um deslocamento conceitual e a entrada de um caráter mais educacional ao que até então era apenas assistencial. Após uma longa caminhada e muitas lutas de movimentos feministas e de trabalhadoras, a Constituição Federal de 1988, em seu art. 208, inciso IV, reconheceu o atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero a seis anos de idade como direito de todos e dever do estado e da família, e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), nº 9.394, de 1996, em seu art. 43, nomeou a educação infantil como primeira etapa da educação básica, com os objetivos de proporcionar condições para o desenvolvimento físico, psicológico e intelectual da criança em complementação à ação da família. Porém, ainda sem muito cuidado e especificidade, essa etapa da educação básica tem, numa ponta, sido muito influenciada pela escolarização precoce e, em outra, tem funcionado apenas sob um caráter assistencial. As pesquisas atuais em educação sugerem que se busque um equilíbrio entre essas ações. Transformar a educação infantil é um processo que exige uma postura de luta contra o senso comum, ainda assistencialista, de revisão das concepções de infância e criança e de observação das desigualdades sociais e do papel da sociedade. Segundo Kuhlmann Jr. (1998), quando nos prendemos às concepções médico- higienistas para olhar a sociedade e a questão do atendimento à criança, corremos o risco de se deixar encobrir a influência de concepções relacionadas à desigualdade social. O autor, diferentemente de outros pesquisadores, acrescenta que, desde seu início, as creches e pré-escolas tiveram um caráter Prof.ª FER MENDES – INSTAGRAM @pedagogiatiraduvidas – YOUTUBE Pedagogia Tira Dúvidas Prof.ª ALINY GUERREIRO – INSTAGRAM @trabalhos_academicosprofaliny – YOUTUBE Pedagogia EAD educacional, além de assistencialista. Houve um alinhamento entre médicos e mães de camadas privilegiadas da sociedade no tocante ao atendimento dos filhos das trabalhadoras domésticas, não apenas dos das operárias. Mulheres da elite tinham trabalhadoras em suas residências, para as quais era necessário um local em que deixar seus filhos, para que se dedicassem ao trabalho. Essa era a forma médico-higienista, jurista e religiosa de organizar a modernização da sociedade. As questões relacionadas à implantação da educação infantil, desde a falta de compromisso do governo e das empresas, até a formação profissional do educador para trabalhar com essa faixa etária e a mudança conceitual de assistencialismo para a etapa da educação formal, só ampliam a necessidade de se estudar a criança pequena e as reconhecer enquanto educandos, visto que cada vez mais nos afastamos da ideia de ações sem planejamento, visando apenas à sobrevivência da criança. CENÁRIO ATUAL Desde os anos 1990, o conceito de criança como sujeito sócio histórico e a perspectiva sociointeracionista de Lev S. Vygotsky (1896-1934) vêm crescendo entre os educadores e pesquisadores no Brasil. Conceitualmente, entende-se que a aprendizagem se dá pela interação da criança com o mundo a partir de seu entorno. É importante lembrar que a educação institucional de crianças brasileiras tem pouco mais de um século e vem avançando com dificuldades recorrentes. Ao longo dos anos, podem ser observadas mudanças no pensamento quanto às práticas pedagógicas que orientam as concepções de criança: no início havia um conceito mais assistencialista e de educação compensatória, que objetivava diminuir a mortalidade infantil e apoiar a mãe trabalhadora, baseando-se, assim, em cuidados físicos, educação moralista e escolarizador, não se exigindo formação teórica das cuidadoras, apenas algo como maternidade, atenção, simpatia e carinho; agora, na atualidade, há um pensamento apoiado em registros legais, como a LDB de 1996 e as Diretrizes Curriculares para as Licenciaturas de 2002, que visam à formação dos educadores para todas as etapas da educação básica, isto é, buscam-se profissionais com nível superior específico. Hoje é reconhecida a importância do cuidar associado ao educar, com conhecimento sobre os processos cognitivos de cada faixa etária. A partir disso, programas e propostas político-pedagógicas têm sido desenvolvidos. As pesquisas no campo da educação infantil brasileira tiveram um impulso após a publicação dos Parâmetros Nacionais de Qualidade na Educação Infantil,volumes 1 e 2 (BRASIL, 2006), das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Prof.ª FER MENDES – INSTAGRAM @pedagogiatiraduvidas – YOUTUBE Pedagogia Tira Dúvidas Prof.ª ALINY GUERREIRO – INSTAGRAM @trabalhos_academicosprofaliny – YOUTUBE Pedagogia EAD Educação Infantil (DCNEI) (BRASIL, 2010), dos Indicadores da Qualidade na Educação Infantil (BRASIL, 2009a) e da Lei nº 12.796, que trouxe a obrigatoriedade do ingresso de crianças na educação infantil aos quatro anos (BRASIL, 2013). Tais pesquisas têm se fundamentado nos estudos de Vygotsky sobre a Psicologia Histórico-Cultural. Outra linha forte nesse campo de pesquisa é a Sociologia da Infância. Desde seus primeiros trabalhos, Vygotsky teve no materialismo histórico- dialético sua fonte científica para buscar compreender o que a psicologia (velha Psicologia) ainda não tinha conseguido definir. Ele estudava acreditando que os fenômenos devem ser observados como processos em transformação, não de forma especulativa, mas com estudos metodológicos, cientificamente organizados, que acompanhassem as mudanças de comportamento ao longo do desenvolvimento. CRIANÇA, AMBIENTE E CULTURA Nesse momento podemos afirmar que Vygotsky foi quem correlacionou o materialismo histórico-dialético a questões psicológicas concretas. O pesquisador, nos seus estudos de Psicologia, foi o primeiro a tratá-la a partir da teoria marxiana, compreendendo as mudanças históricas na sociedade e na vida material como agentes de transformações na consciência e no comportamento humanos. VOCABULÁRIO Marxiana é a teoria que não se restringe ao pensamento marxista, mas adiciona a ele outros pensadores que se inspiraram em Marx. Quando buscamos discutir a criança em seu ambiente e cultura, estamos nos firmando no pensamento vygotisquiano, na Psicologia Histórico-Cultural, afirmando que a personalidade não é algo inato, ela é formada a partir do contato com as pessoas e com os objetos da cultura. A criança transforma e é transformada pelas formas de vida e de educação que lhe são oferecidas. É na vivência e na experiência que ela se apropria das qualidades humanas histórica e socialmente constituídas. As mudanças qualitativas, que ocorrem ao longo do desenvolvimento da criança, são fruto de um conjunto complexo de atividades dela na sua relação com o mundo físico. Tal pensamento é complexo e amplo, pois envolve sua percepção de si e de seu próprio corpo, a percepção e a interação com o outro, com os animais, com as plantas, as transformações da natureza, o dia e a noite, os fenômenos climáticos e atmosféricos, etc. e está na curiosidade de descobrir e decifrar o mundo que se mostra a ela. Prof.ª FER MENDES – INSTAGRAM @pedagogiatiraduvidas – YOUTUBE Pedagogia Tira Dúvidas Prof.ª ALINY GUERREIRO – INSTAGRAM @trabalhos_academicosprofaliny – YOUTUBE Pedagogia EAD É importante atentarmos ao fato de que a atividade da criança no mundo envolve as pessoas, os objetos e os fenômenos, mas também a sua cultura, a qual é entendida como língua, linguagens, costumes e hábitos, uso de objetos, lógica, ciência e técnicas. As bases epistemológicas de Vygotsky estão no materialismo histórico-dialético de Karl Marx (1818-1883) e Friedrich Engels (1820-1895), o cerne científico e social da teoria marxiana, que procura a causa final e o que levou a ela devido aos acontecimentos históricos e transformações da sociedade, a seus modos de produção e de troca, à divisão social do trabalho, à formação de classes sociais e às lutas entre elas. Ao fundamentar-se no materialismo histórico-dialético, Vygotsky trabalhou com a possibilidade de apreensão dialética da realidade social pela razão humana. Uma tese demonstrada a partir de argumentações e contraposições (uma ideia inicial e uma questão – a tese; uma nova ideia e a resposta – a antítese; a união das duas ideias e a conclusão – a síntese) definem a dialética e mostram o caráter dinâmico do conceito, refletindo as mediações e transformações da realidade objetiva. O pesquisador afirmava que, assim como os instrumentos são criados pela cultura ao longo da história, também a incorporação inconsciente dos signos dessa cultura traz modificação no comportamento e na ligação entre as formas elementares e superiores do desenvolvimento do psiquismo infantil. Estamos falando da mediação entre o ser humano e seu ambiente por meio do uso de ferramentas (tratadas como instrumentos), para o uso da palavra, da escrita ou da lógica entre outros (chamados de signos). O conceito ou a concepção de ser humano, aqui mais particularmente da criança, sob o ponto de vista do materialismo histórico-dialético, ultrapassa a condição animal (irracional) que age em função das necessidades imediatas e de seus instintos. O ser humano tem capacidade de se antecipar, de planejar suas ações visando a esse ou àquele resultado. A criança, vista como sujeito histórico, é capaz de fazer escolhas. A natureza rege as ações dos animais, já a criança a observa curiosamente, pois a quer descobrir e decifrar para, a partir daí, ver conquistada a sua autonomia diante dela. Vygotsky (1991) se refere à velha Psicologia, que na época contava com seus cinquenta anos e tinha como base epistemológica o positivismo e o empirismo. Naquele tempo havia raízes na biologia para o comportamento humano, o que facilmente se podia derivar para tendências étnicas e alimentar distorções e Prof.ª FER MENDES – INSTAGRAM @pedagogiatiraduvidas – YOUTUBE Pedagogia Tira Dúvidas Prof.ª ALINY GUERREIRO – INSTAGRAM @trabalhos_academicosprofaliny – YOUTUBE Pedagogia EAD preconceitos e que hoje não podemos mais permitir. Já para Vygotsky, o psíquico não é uma qualidade inerente à biologia humana, mas uma consequência de sua interação com o mundo. O ser humano, assim, pode ser visto como indivíduo singular e vive seu desenvolvimento psíquico por meio de suas experiências e vivências, por meio de sua vida e da educação que lhe é oferecida. A nova concepção de criança e infância que emergiu com o pensamento histórico-crítico tem o seguinte tripé: a atividade da criança, as relações da criança com o mundo e seu contexto e a mediação do educador. Quando se determinam períodos para o desenvolvimento infantil, independentemente de qualquer outro fator, como fez Jean Piaget (1896-1980) na teoria Psicogenética, a cada faixa etária, a despeito do ambiente, a criança será capaz de uma ou outra atividade. Ao ligar a idade com o desenvolvimento da inteligência e da moral, acredita-se em estágios sucessivos no desenvolvimento psíquico humano. Já nas teorias de cunho ambientalista, tendo a vertente behaviorista representada por B. F. Skinner (1904-1990), o estudo das interações entre o indivíduo e o ambiente é importante, porém ao ambiente cabe o estímulo e às crianças a resposta. Assim a criança aprende a partir dos estímulos de seu ambiente. Para a vertente behaviorista, a concepção de criança é a de um indivíduo passivo e receptor dos saberes que seu ambiente proporciona. Já na vertente da Psicogenética, a concepção de criança tem um enfoque naturalista, de modo que ela é considerada um indivíduo isolado; além disso, a sociedade, a cultura e a história humanas não influenciam o desenvolvimento de seu psiquismo, encarado como um movimento de adaptação do indivíduo ao seu meio. Na vertente histórico-cultural a criança é um sujeito que apreende o mundo num processo dialético de interações. As suas experiências e vivências envolvem o ambiente sociocultural a que pertence, a história constituída pela humanidade e a educação oferecida. São acompanhados os processos de construção de sua identidade pessoal sempre condicionada à identidade coletiva. Fica estabelecido que as características humanas sejam formadas nas relações sociais, mediante a apropriação da cultura. As habilidades e aptidõeshumanas são assim constituídas nas relações materiais e imateriais entre os seres humanos e o mundo da cultura. De certa forma poderíamos afirmar que, dentro dessa concepção, a criança não nasce humana, ela se torna humana pela dinâmica da vida, da educação e de suas ações. Essa é a construção de um ser histórico e cultural. Prof.ª FER MENDES – INSTAGRAM @pedagogiatiraduvidas – YOUTUBE Pedagogia Tira Dúvidas Prof.ª ALINY GUERREIRO – INSTAGRAM @trabalhos_academicosprofaliny – YOUTUBE Pedagogia EAD Vamos nos deter um pouco mais na apropriação da cultura para Vygotsky e em seu papel no desenvolvimento das funções psíquicas superiores a partir dos signos culturais, que é o mesmo que dizer aprendizado e apropriação das regras sociais acumuladas ao longo da história cultural humana. Em Vygotsky (1991), as estruturas primitivas são aquelas que estão relacionadas com a reação do sujeito aos estímulos. Delas se organizam as estruturas superiores a partir das mediações entre a criança e o mundo com o qual ela se relaciona. Para Vygotsky (1998), o psiquismo da criança se modifica num movimento dialético. A criança é transformada pelas relações com seu ambiente e ao interagir com ele, também o transforma. O desenvolvimento da vida psíquica é um processo de estreita interação com o processo de apropriação cultural da criança, o qual é reconhecido de forma dialética, formado por rupturas e avanços, considerando as particularidades de cada indivíduo e seu ritmo de aprendizagem e de desenvolvimento, sem separá- lo do coletivo. É importante sempre se considerar o papel que a cultura e a educação escolar têm nesse desenvolvimento. ASSIMILE Ao descobrir e decifrar o mundo, a criança, transformada pela cultura, também a transforma, num processo contínuo. Desenvolver projetos na unidade educacional, nos quais as crianças sejam motivadas a observar o outro, a partir de interesses próprios da faixa etária (brincadeiras, alimentos, vestimenta, etc.) vai lhes mostrar a relação do cotidiano infantil e adulto com o ambiente, os animais, as plantas, o clima, a vida urbana, a vida no campo e as escolas. Ao ter contato com diferentes materiais e múltiplas linguagens a criança vai se relacionando com o mundo, descobrindo-se no outro, percebendo os fenômenos naturais que lhe rodeiam. REFLITA Reflita, sob a ótica do materialismo-histórico de Vygotsky, como se dá a dinâmica da cultura quando crianças migrantes convivem com as crianças locais na educação infantil. E se nos fundamentarmos no behaviorismo ou na psicogenética? Veja que a diferença de referencial é importantíssima nessa situação. Prof.ª FER MENDES – INSTAGRAM @pedagogiatiraduvidas – YOUTUBE Pedagogia Tira Dúvidas Prof.ª ALINY GUERREIRO – INSTAGRAM @trabalhos_academicosprofaliny – YOUTUBE Pedagogia EAD Enquanto que com Vygotsky pensaríamos nos saberes compartilhados e na mediação da cultura na construção de indivíduos historicamente constituídos, os behavioristas discutiriam os estímulos (do ambiente) e as respostas (dos indivíduos) a esses estímulos, de modo a controlar e a moldar o comportamento humano. Já a psicogenética busca visualizar o indivíduo em sua totalidade e a interação sujeito-objeto na construção do conhecimento, porém justificará a construção de saberes em função de fases de desenvolvimento. EXEMPLIFICANDO 1. Que tal desenvolver um projeto com as crianças e seus familiares sobre as brincadeiras infantis? O que faziam, como faziam? Quais eram os jogos? Ao longo de um período, talvez semanalmente, um familiar pode ir à escola falar sobre sua infância. 2. Confira o interessante trabalho do fotógrafo estadunidense Gregg Segal, disponível em seu próprio website (GREGG SEGAL, 2020), que retrata as crianças e os alimentos que costumam consumir. A partir desse referencial, é possível desenvolver um projeto na escola com informações sobre as crianças e suas famílias. Tal projeto pode terminar numa grande festa com pratos familiares e contextualização das origens. Em ambos os casos as culturas infantis têm o protagonismo. O primeiro exemplo se relaciona com o conhecimento de si e do outro, no tocante a brincadeiras; o segundo tem nos alimentos, nos colegas de turma e em seus familiares o material de partida para a construção de saberes sobre indivíduos históricos. No segundo caso, a ideia de aprendizado com o outro sai da sala de aula inicialmente, viaja pelo mundo e retorna à classe. Ambas as ações têm o mesmo objetivo: olhar o outro e a si mesmo e criar repertório para o respeito mútuo. FOCO NA BNCC A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) (BRASIL, 2017) é embasada em alguns marcos legais, que corroboram com a discussão tida até então, pois podemos observar, num destes textos, referência às Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Infantil (DCNEI, Resolução CNE/CEB nº 5/2009) (BRASIL, 2009b), a qual, em seu art. 4º, diz que a criança é definida como “sujeito histórico e de direitos, que, nas interações, relações e práticas cotidianas que vivencia, constrói sua identidade pessoal e coletiva, brinca, imagina, fantasia, deseja, aprende, observa, experimenta, narra, questiona e constrói sentidos sobre a natureza e a sociedade, produzindo cultura” (BRASIL, 2009b). Prof.ª FER MENDES – INSTAGRAM @pedagogiatiraduvidas – YOUTUBE Pedagogia Tira Dúvidas Prof.ª ALINY GUERREIRO – INSTAGRAM @trabalhos_academicosprofaliny – YOUTUBE Pedagogia EAD Em Direitos de Aprendizagem e Desenvolvimento na Educação Infantil são elencados: conviver, brincar, participar, explorar, expressar e conhecer-se. O trecho a seguir está na terceira seção da BNCC, A Etapa da Educação Infantil: Essa concepção de criança como ser que observa, questiona, levanta hipóteses, conclui, faz julgamentos e assimila valores e que constrói conhecimentos e se apropria do conhecimento sistematizado por meio da ação e nas interações com o mundo físico e social não deve resultar no confinamento dessas aprendizagens a um processo de desenvolvimento natural ou espontâneo. Ao contrário, impõe a necessidade de imprimir intencionalidade educativa às práticas pedagógicas na Educação Infantil, tanto na creche quanto na pré-escola. (BRASIL, 2017, [s.p.]) PESQUISE MAIS A animação O menino e o mundo (O MENINO..., 2013), com uma linguagem especial e própria, não se assemelha a outras animações. Nela é narrada, por Alê Abreu, aos olhos da criança, a história de um menino do interior que vivia em contato com a natureza, mas que precisou procurar o pai, que havia partido para a cidade grande em busca de trabalho para ter melhores condições de vida. Uma animação feita a caneta hidrográfica, lápis e giz de cera. As transformações sociais, políticas e econômicas que o país viveu entre os séculos XIX e XXI foram muito importantes para a constituição de nossa escola, da educação infantil em particular, e para os conceitos de infância e de criança. A história da infância é a história da relação da sociedade, consequentemente da cultura, dos adultos com indivíduos menores de doze anos, e a história da criança é a história da relação delas entre si e com os outros. Discutimos um pouco dos caminhos legais e teóricos para ressaltar a importância da visão atual da criança como sujeito histórico e de direitos e quanto esse olhar é significativo para que essa primeira etapa da educação básica escolar potencialize a construção da identidade pessoal dos educandos e da identidade coletiva de uma dada cultura. FAÇA A VALER A PENA Questão 1 Após a Independência do Brasil, iniciaram-se no País alguns processos de mudanças econômicas. A economia cafeeira foi responsável por grande concentração de renda, que passou a ser investida em outras atividades econômicas, inclusive em um pequeno processo de industrialização, ainda Prof.ª FER MENDES – INSTAGRAM @pedagogiatiraduvidas– YOUTUBE Pedagogia Tira Dúvidas Prof.ª ALINY GUERREIRO – INSTAGRAM @trabalhos_academicosprofaliny – YOUTUBE Pedagogia EAD insipiente, porém responsável pelo desenvolvimento da urbanização. Mulheres trabalhadoras assumiram postos nas primeiras indústrias têxteis da segunda metade do século XIX, contrariando o imaginário social de que as mulheres ficavam em casa cuidando dos filhos. Para que as mulheres pudessem trabalhar nas indústrias, surgiram as primeiras creches. Há pesquisas no campo da educação infantil que indicam ter sido assistencialista o primeiro projeto de creches e isso se deve ao fato de que: a. As primeiras instituições de educação infantil, criadas no início da urbanização e da industrialização, tinham como objetivo central propiciar à mulher trabalhadora condições dignas de trabalho e diminuir a mortalidade infantil. b. As primeiras instituições de educação infantil, criadas no início da urbanização e da industrialização, tinham como objetivo diminuir a mortalidade infantil, não havendo qualquer relação com o fato de apoiar a participação da mulher no mercado de trabalho. c. As primeiras instituições de educação infantil, criadas no início da urbanização e da industrialização, tinham como objetivo central propiciar à mulher trabalhadora condições dignas de trabalho, porém não se preocuparam em diminuir a mortalidade infantil. d. As primeiras instituições de educação infantil, criadas no início da urbanização e da industrialização, tinham como objetivo apoiar as mudanças na organização familiar com participação da mulher no mercado de trabalho e diminuir a mortalidade infantil. e. As primeiras instituições de educação infantil, criadas no início da urbanização e da industrialização, tinham como objetivo central atender às reinvindicações do movimento feminista. Questão 2 O conceito de criança como sujeito sócio-histórico, na perspectiva sociointeracionista de Lev S. Vygotsky, entende que a aprendizagem se dá pela interação da criança com o mundo a partir de seu entorno. Essa linha de pesquisa adquiriu importância no país a partir dos anos 1990. Sabendo que Vygotsky teve no materialismo histórico-dialético sua fonte científica para buscar compreender a forma como se dá o desenvolvimento psíquico da criança, é possível afirmar que: Prof.ª FER MENDES – INSTAGRAM @pedagogiatiraduvidas – YOUTUBE Pedagogia Tira Dúvidas Prof.ª ALINY GUERREIRO – INSTAGRAM @trabalhos_academicosprofaliny – YOUTUBE Pedagogia EAD a. Para Vygotsky o psíquico não é uma qualidade inerente à biologia humana, mas uma consequência de sua interação com o mundo. O ser humano, assim, pode ser visto como indivíduo singular e vive seu desenvolvimento psíquico por meio de suas experiências de vida e das experiências decorrentes da educação que lhe é oferecida. b. Para Vygotsky o psíquico não é uma qualidade inerente à biologia humana, mas uma consequência de sua interação com o mundo. O ser humano, assim, pode ser visto como indivíduo singular e vive seu desenvolvimento psíquico a partir dos seis anos por meio de suas experiências e vivências, porém na educação infantil ainda não há relevância o tipo de escola que lhe é oferecida. c. Para Vygotsky o psíquico é uma qualidade inerente à biologia humana e a interação da criança com o mundo exerce sobre ele pouca influência. O ser humano pode ser visto como indivíduo que vive seu desenvolvimento psíquico por meio de suas experiências de vida e das experiências decorrentes da educação que lhe é oferecida. d. Para Vygotsky o psíquico não é uma qualidade inerente à biologia humana, mas uma consequência de sua interação com o mundo. O ser humano, assim, pode ser visto como indivíduo singular e vive seu desenvolvimento psíquico a partir dos três anos por meio de suas experiências e vivências, porém na creche ainda não há relevância o tipo de escola que lhe é oferecida e. Para Vygotsky o psíquico é uma qualidade inerente à biologia humana e a interação da criança com o mundo exerce sobre ele pouca influência. O ser humano pode ser visto como indivíduo que vive seu desenvolvimento psíquico ao longo do tempo naturalmente, por sua formação genética particular. Pouca relevância terão suas experiências e vivências na educação infantil. Questão 3 Estudamos em Vygotsky que, a partir das mediações entre a criança e o mundo com o qual ela se relaciona, dá-se o desenvolvimento do psiquismo, num movimento dialético, no qual a criança é transformada pelas relações com seu ambiente, o qual também transforma quando interage com ele. Nas afirmativas a seguir, qual projeto para creche pode confirmar o exposto no texto-base? a. São apresentados pintores clássicos e as crianças recebem folhas com um desenho impresso das obras estudadas para colorir e depois todas as atividades são expostas na parede da sala. b. O desenvolvimento de um projeto de horta na escola para se trabalhar com a alimentação saudável, cuidados, responsabilidade e compromissos. Prof.ª FER MENDES – INSTAGRAM @pedagogiatiraduvidas – YOUTUBE Pedagogia Tira Dúvidas Prof.ª ALINY GUERREIRO – INSTAGRAM @trabalhos_academicosprofaliny – YOUTUBE Pedagogia EAD c. Cada criança é convidada a trazer para a creche sua fruta favorita. Todos falam sobre a fruta, estudam qual é a mais apreciada, comparam suas preferências e o que não gostam, defendem suas escolhas, estudam as texturas, os sabores e os odores e, por fim, compartilham pedaços com seus colegas. d. Com um projeto de ajudante do dia, cada criança tem a sua vez de montar o quadro dos presentes, reconhecendo a letra do nome do colega, bem como experimentar a posição de liderança para poder dar ordens e ser obedecido na sala. e. A professora ensina para as crianças músicas infantis de diferentes regiões do país, cantam e depois recebem um desenho impresso com crianças de trajes típicos de cada região trabalhada com as músicas para pintar. COMO TRABALHAR A CONSTRUÇÃO DE IDENTIDADE PESSOAL E COLETIVA DE SEUS EDUCANDOS? As rodas de conversas podem contribuir para o compartilhamento de narrativas orais das crianças e o contato com outros hábitos, costumes e vivências contribui para a formação da identidade pessoal e coletiva. SEM MEDO DE ERRAR Chegar numa escola nova é sempre um recomeçar. Cada unidade educacional tem sua história e seu contexto e você acabou de chegar numa escola próxima a um riacho com possibilidade de enchentes. Para se envolver com a comunidade e trabalhar a construção de identidade pessoal e coletiva de seus educandos, você parte para um belo trabalho que os coloca como sujeitos históricos. A primeira questão a resolver é como você faria os registros das narrativas orais das crianças, aquilo que trazem de seus familiares para compartilhar com a turma. Com autorização prévia você pode gravar o áudio ou mesmo um vídeo das rodas de conversa. As crianças podem, após a exposição do colega, fazer seus registros na forma de desenhos. A roda de conversa deve ter seus combinados, hora de falar e hora de ouvir, como fazer perguntas e quando interromper, se puder interromper, o colega. A discussão das regras, dos combinados de classe é sempre um bom exercício de cidadania, de desenvolvimento de diretos e deveres, que, se discutidos e com possibilidades de rearranjo, desenvolvem indivíduos conscientes. Uma das crianças traz uma foto que mostra o bairro e o rio há muitos anos, antes da intervenção humana em seu leito e construção da avenida que o acompanha. SAIBA MAIS Prof.ª FER MENDES – INSTAGRAM @pedagogiatiraduvidas – YOUTUBE Pedagogia Tira Dúvidas Prof.ª ALINY GUERREIRO – INSTAGRAM @trabalhos_academicosprofaliny – YOUTUBE Pedagogia EAD Sugiro que você assista ao vídeo Entre Rios – a urbanização de São Paulo (ENTRE..., 2009) e se inspire nele para construir saberes sobre a urbanização e as tragédias anunciadascaso a natureza deixe de ser respeitada. Ao se preocupar com as crianças que não apresentaram nenhum material e nem contaram alguma história na roda, você resolveu procurar a coordenação e descobriu que algumas das crianças nasceram por ali, porém seus familiares vieram de outros lugares. Na tentativa de colocar essas crianças e seus familiares no projeto, você pode procurá-los e pedir-lhes que falem de suas infâncias, hábitos, costumes, brincadeiras de outros lugares. Na roda de conversa, essas crianças engrandecerão seu projeto, pois todos verão que existem outras formas de se fazer as coisas ou ainda que, mesmo distantes, brincavam de algo parecido. A experiência pode ser encantadora. O contato com outras culturas sempre contribui para a formação da identidade pessoal e coletiva. E a criança tímida que vem de um núcleo familiar em vulnerabilidade social, quais ações devem ser tomadas pela educadora, pelo educador? Numa aproximação com essa criança e com seus familiares, você pode mostrar-lhes que todos temos histórias para contar de nossas vivências e experiências. Talvez na dureza dos dias esses adultos não se lembrem de excelentes momentos de felicidade e paz, mas todas as histórias orais de infância são prenhes de significados, são imagéticas e nos trazem muitas lições. Que tal tentar contá- las? Tem uma história aqui, uma lembrança acolá e assim esses familiares também vão se entender como sujeitos históricos e de direitos, liberando suas crianças para essa formação também e auxiliando a realização do processo de inclusão. AVANÇANDO NA PRÁTICA A BOLHA SOCIAL Felizmente começamos a discutir, no País, a desigualdade social. Inúmeras vezes nos deparamos com ideias e teorias que dissertam sobre ações para as escolas localizadas em periferias, com baixas condições de saneamento básico, energia elétrica, internet, etc. Algumas vezes nos deparamos com a atenção para a desigualdade social dentro da escola, posto que numa mesma escola pública há crianças desiguais, de realidades socialmente distantes. Outras vezes, em escolas particulares, pensamos na desigualdade, lembrando-nos de estudantes bolsistas, filhos de funcionários, que não têm as mesmas condições financeiras e/ou sociais que os alunos pagantes. E, dentro de todas essas situações, partimos para um trabalho de inclusão e valorização dos sujeitos a Prof.ª FER MENDES – INSTAGRAM @pedagogiatiraduvidas – YOUTUBE Pedagogia Tira Dúvidas Prof.ª ALINY GUERREIRO – INSTAGRAM @trabalhos_academicosprofaliny – YOUTUBE Pedagogia EAD partir de estratégias variadas. Porém, aqui, vamos partir para uma situação invertida. Vamos nos imaginar numa escola em um bairro em que residem famílias de alto poder aquisitivo. Alunos que chegam de carro na escola, muitas vezes acompanhador por trabalhadores domésticos, motoristas e babás. Crianças que não imaginam como é a vida fora dos muros de seu condomínio. Um dia, um dos alunos da sala, na roda de conversa, conta que viu um menino fazendo malabares no semáforo. As demais crianças não entendem quando o autor da história diz que sua mãe deu uma moeda ao menino e lhe explicou que o menino estava trabalhando... As crianças ficam muito agitadas, pois nunca tinham ouvido falar que criança trabalhava, isso era coisa de adulto. Mais escandalizadas elas ficam quando lhes é contado que o menino estava descalço e só de shorts. Como assim? Quando os pais saem para trabalhar eles estão muito arrumados, nunca viram ninguém ir trabalhar descalço. Até os trabalhadores domésticos, que não estão com as roupas iguais a de seus pais, nunca trabalham descalços. Como você poderia aproveitar essa situação para mostrar às crianças que há muita desigualdade no nosso país e no mundo? Quais seriam as estratégias metodológicas para o desenvolvimento de um projeto desse porte com crianças tão pequenas? O cinema pode nos mostrar a diferença das infâncias no mundo e no País, nestes tempos e em tempos anteriores. Algumas sugestões são: Rio, 40 Graus (1955), Brasil, um filme de Nelson Pereira dos Santos. O Contador de histórias (2006), Brasil, de Luiz Villaça. Meu pé de laranja lima (2012), Brasil, de Marcos Bernstein. A culpa é do Fidel (2007), França, de Julie Gravas. Pelos olhos de Maisie (2012), EUA, de Scott McGehee e David Siegel. Filhos do Paraíso (1998), Irã, de Majid Majidi. O Tambor (1979), Alemanha, de Volker Schlöndorff. A língua das mariposas (1999), Espanha, de José Luis Cuerda. Indomável Sonhadora (2013), EUA, de Benh Zeitlin. Não são filmes para serem exibidos aos pequenos, mas podem aguçar o olhar do professor e construir saberes. A solução para essa situação-problema pode ser resolvida com uma busca em revistas, jornais, internet e a partir da Prof.ª FER MENDES – INSTAGRAM @pedagogiatiraduvidas – YOUTUBE Pedagogia Tira Dúvidas Prof.ª ALINY GUERREIRO – INSTAGRAM @trabalhos_academicosprofaliny – YOUTUBE Pedagogia EAD construção de um grande painel sobre crianças de diferentes lugares do Brasil e do mundo. O docente deve ter cuidado e sensibilidade relativa à faixa etária de sua turma e gradualmente trazer imagens e histórias que mostrem outras realidades, sem julgamentos, sem criminalização e sim com contextualização nesse mundo gerador de desigualdades. Há contos clássicos infantis que podem colaborar para a discussão sobre desigualdades e inclusão: O patinho feio, de Hans Christian Andersen. Pinóquio, de Carlo Collodi. A Lebre e a Tartaruga, de Esopo. A Festa no Céu, de Ângela Lago. O Asno e o Cavalo, também de Esopo. COMO ORIENTAR AS CRIANÇAS PARA A DESCOBERTA? Incentivando e valorizando suas dúvidas e perguntas para que elas desenvolvam postura investigativa, valorizando experiências através das brincadeiras, usando a imaginação e a fantasia e do estímulo à observação para ampliar seus conhecimentos. PRATICAR PARA APRENDER O que é ciência para você? O que é ciência para uma criança na educação infantil? Prof.ª FER MENDES – INSTAGRAM @pedagogiatiraduvidas – YOUTUBE Pedagogia Tira Dúvidas Prof.ª ALINY GUERREIRO – INSTAGRAM @trabalhos_academicosprofaliny – YOUTUBE Pedagogia EAD Podemos começar lembrando de que forma foi feita a construção de referências sobre ciência e cientistas na nossa infância, na juventude e até mesmo na vida adulta. Quem foi criança/jovem, particularmente entre os anos 1992 e 1998, deve se lembrar de O Mundo de Beakman, (Beakman’s World), um programa de TV com 91 episódios exibidos no Brasil. O ator Paul Zaloom vivia, no papel principal, um cientista, inspirado em You Can with Beakman and Jax, de Jok Church, que eram tirinhas de jornal na categoria de educação em Ciência publicadas de 1991-2016. O programa de TV iniciava com a leitura de cartas de telespectadores, reais nos EUA, porém com nomes fictícios no Brasil, para que houvesse alguma identidade local, seguida de um experimento para responder uma pergunta/dúvida contida na carta. Havia muita ação, cores vibrantes e muitos sons. O clímax do episódio era o quadro intitulado “Desafio de Beakman”, no qual Beakman testava os conhecimentos de Lester (o rato interpretado por Mark Ritts). Lester, aparentemente um cético em relação à ciência, sempre achava que havia algum truque de mágica, porém o cientista/professor/personagem respondia e explicava com ciência e conhecimento, o que é um dos méritos da série, pois a relação de investigação para se descobrir e decifrar o mundo nem sempre é clara em muito do que pode ser visto nas mídias que nos são comuns (programas e canais infantis, filmes ou quadrinhos, por exemplo) e que falam ou tentam falar sobre ciência e cientistas. Pare e pense. Você deve se lembrar da expressão caricata de cientistas: normalmente homens brancos, com algum sotaque do hemisfério norte, uma vestimenta típica de laboratório e cabelosincomuns. E da ciência? Essa aparece como assustadora, com bombas, pesticidas, devastação, contaminação, sempre, ou quase sempre, ligada à destruição. Como podemos entender a importância da ciência e do conhecimento para o desenvolvimento humano? De que forma nós mesmos, adultos, olhamos para a ciência e seus agentes? Que valor damos para questões de saúde, segurança alimentar, conforto e qualidade de vida? Isso ainda sem pensar no desenvolvimento do pensamento, da sociedade e das relações humanas. Onde as diferentes manifestações científicas nos tocam para que possamos, na educação infantil, orientar as crianças para a descoberta? Na relação com o mundo, as crianças elaboram representações e hipóteses sobre o que observam. Para tal elas partem de referenciais próprios, prévios e elaboram questões para si. Quando na presença de alguém que incentiva e valoriza suas questões, elas fazem perguntas, elas desenvolvem a postura investigativa. Prof.ª FER MENDES – INSTAGRAM @pedagogiatiraduvidas – YOUTUBE Pedagogia Tira Dúvidas Prof.ª ALINY GUERREIRO – INSTAGRAM @trabalhos_academicosprofaliny – YOUTUBE Pedagogia EAD O educador consciente e atento utiliza as brincadeiras, a imaginação, a capacidade de fantasiar, as observações e as experimentações da criança para orientá-la na ampliação de seus conhecimentos. Para contextualizar sua aprendizagem, imagine que você leciona para uma turma de crianças entre três e quatro anos. Num dia de sol uma das crianças chega agitada na sala e diz: “Eu vi muitas formigas lá fora, não sei para onde iam, mas iam todas para o mesmo lugar. Iam sim, uma atrás da outra. Vem ver”. Você vai com ela e as outras crianças a acompanham. Encontram as formigas e, olhando mais de perto, percebem que umas vão e algumas vêm. As crianças começam a rir e ficam agitadas. Outra criança fala: “Tenho medo de formiga, ela pica, dói muito” e outra sai correndo e chorando na direção da sala e diz ter alergia a picada de formiga. O que essa situação lhe sugere? Como explorar o parque com o objetivo de que as crianças descubram e decifrem a natureza? Formigas no parquinho podem representar um problema ao mesmo tempo em que trazem uma situação de aprendizagem interessante, não acha? Você tem uma faixa etária com conhecimentos prévios sobre formigas, curiosidades e também alguém com alergia. Ficou difícil conciliar tudo isso? Que tal explorar o ambiente interno e externo da sua sala com as crianças, com o intuito de valorizar a curiosidade e interesse pela descoberta? Essa atividade terá como objetivos específicos que as crianças se relacionem entre si e com os adultos e que estabeleçam contato com pequenos animais, plantas e objetos pertinentes à unidade educacional. Que tipo de rotina poderia ser apropriado para esse projeto? A partir do comentário de medo e alergia, algumas providências devem ser tomadas antes da investigação sobre os pequenos animais presentes no parque. Prof.ª FER MENDES – INSTAGRAM @pedagogiatiraduvidas – YOUTUBE Pedagogia Tira Dúvidas Prof.ª ALINY GUERREIRO – INSTAGRAM @trabalhos_academicosprofaliny – YOUTUBE Pedagogia EAD Mesmo se ninguém tivesse falado nada, como você procederia antes de começar a estudar pequenos animais de jardim? Na secretaria da escola, junto às folhas de matrícula, deve haver informação sobre cuidados médicos, mas sempre é pertinente uma consulta às famílias, explicando o projeto e solicitando informações detalhadas de cuidados com as crianças em relação ao ambiente externo da sala. Quando as famílias estão a par dos projetos, elas têm condições de também se envolver, colaborar com seus saberes e ampliar o conhecimento de todos. Que tal começar com a expedição ao parque? Colher observações e conhecimentos prévios sobre tudo o que as crianças acharem importante registrar, como desenhos, fotos e coletas, pode ser muito produtivo nesse momento. Mas quanto aos pequenos bichinhos, o melhor é só fotografar mesmo. Caso haja risco às crianças com formigueiros, colmeias, etc., isso é um assunto para a manutenção da escola. As crianças até podem conhecer a necessidade de tirá-los de lá, mas tudo deve ser muito objetivo em relação à necessidade de entender e respeitar a vida. Nas rodas de conversa e leitura, as temáticas voltadas para o que há no exterior e no interior da sala devem ser priorizadas. “Cada coisa em seu lugar sempre?” e com a sua função no mundo social e natural pode ser um bom exercício de organização para as crianças. E, agora, tem formiga no parque da escola, tem criança com medo, tem criança com alergia e tem muita curiosidade por lá! O que essa situação lhe sugere? Vamos entrar nesse mundo de dúvidas, perguntas e busca por respostas. CONCEITO-CHAVE Vamos rapidamente passar com uma ótica histórica pelo conceito de infância. Antes do século XVI, não havia consciência social que admitisse existência autônoma da infância. As crianças estavam ali, existiam, mas não eram vistas como algo em especial, eram consideradas adultos em miniatura. O historiador Ariès (1981) mostra que, nos séculos XVI e XVII, começou a ser desenhada a ideia de infância centrada na inocência e na fragilidade infantil, e a continuidade de seus estudos nos diz que, no século XVIII, iniciou-se a construção da infância moderna, trazendo consigo alguns dos princípios da modernidade: liberdade, autonomia e independência. Porém, a criança como um sujeito escolar só passou a ser considerada teoricamente a partir do século XIX. Prof.ª FER MENDES – INSTAGRAM @pedagogiatiraduvidas – YOUTUBE Pedagogia Tira Dúvidas Prof.ª ALINY GUERREIRO – INSTAGRAM @trabalhos_academicosprofaliny – YOUTUBE Pedagogia EAD Ainda no século XVIII, o autor relata que começou a surgir o que ele chama de sentimento de família e o desejo de privacidade, com o modelo de família burguesa gerando modificações no contexto familiar e no desenvolvimento da divisão sexista dos papéis familiares: o homem com o papel de provedor e assim voltado ao mundo do trabalho e das relações com os outros, tornando-se um ser público; e à mulher foram designadas as responsabilidades do lar, afazeres da casa e o cuidado dos filhos. A elas estava reservado, então, o mundo privado de suas residências. Essa era a concepção de família. A estrutura social nos séculos XIX e XX suportava a infância como uma etapa do desenvolvimento humano, de modo que a criança deixou de ser um adulto mirim e passou a ser um futuro adulto. Para tal, desenvolveu-se a “infância científica”, a partir da qual surgiram teorias e práticas que cuidavam dessa fase da vida e do desenvolvimento da criança. Hoje nós a discutimos como um sujeito histórico e de direitos. O sentimento de infância, portanto, é decorrente de um processo, de uma criação humana relativa a um tempo histórico e a condições socioculturais determinadas, e não de uma ocorrência natural. Vemos também que, na perspectiva de Ariès (1981), não podemos analisar todas as infâncias e todas as crianças tomando-se o mesmo referencial. A infância mudou em relação ao tempo e aos contextos sociais, econômicos e geográficos; as crianças de hoje não são iguais às do século passado e possivelmente não serão iguais às do futuro. Aliás, mesmo que estejamos no mesmo tempo histórico, muitos são os contextos e diversas são as particularidades de cada criança, portanto não pensemos em infância no singular mas em infâncias, pois reconhecemos assim haver distinção entre a infância da criança indígena, da quilombola, da urbana, da camponesa, da que tem água encanada, da portadora de uma síndrome, da que usa óculos, etc., muitos podem ser os recortes. De acordo com Santos (2006, p. 316): “Temos o direito a ser iguais sempre que a diferença nos inferioriza; temos o direito a ser diferentes sempre que a igualdade nos descaracteriza”. A sociologiaclássica estudou a infância e foram desenvolvidos conceitos de socialização. A partir disso, é importante ressaltar que: [...] o pedagogo não tem de construir de alto a baixo um sistema de ensino, como se já não existisse um antes dele, devendo, ao contrário, empenhar-se, sobretudo em conhecer e compreender o sistema de sua época – esta é a condição para que ele esteja apto a usá-lo com discernimento e julgar o que pode estar errado nele. (DURKHEIM, 2013, p. 91) Prof.ª FER MENDES – INSTAGRAM @pedagogiatiraduvidas – YOUTUBE Pedagogia Tira Dúvidas Prof.ª ALINY GUERREIRO – INSTAGRAM @trabalhos_academicosprofaliny – YOUTUBE Pedagogia EAD [...] o ideal pedagógico de uma época expressa antes de tudo o estado da sociedade na época considerada. Contudo para que este ideal se torne realidade, é preciso ainda fazer com que a consciência da criança se conforme a ele. (DURKHEIM, 2013, p. 95) REPRESENTAÇÕES, HIPÓTESES E CONHECIMENTO PRÉVIO Ao nos depararmos com as representações elaboradas pela criança e as hipóteses e relações que estabelece com o objeto, estamos nos preocupando com a forma como ela o compreende e o que acontece à sua volta. As representações são elementos produtores da realidade social em que ela está envolvida. Uma vez construída a representação, ela buscará criar uma realidade que valide as hipóteses e explicações que se originam e se desenvolvem a partir das representações. “Que linda a bola que desenhaste!” “Não é uma bola, é eu e meu pai pescando!” Esta situação ilustra o que muitas vezes acontece no cotidiano com crianças pequenas. O nosso olhar adulto tentou interpretar a produção da criança, que, por sua vez, mostra-se “ofendida” ou frustrada com nossas interferências. (UNESCO, 2005, p. 31) A criação artística, por exemplo, mostra as representações possíveis e exclusivas da criança, de cada criança. Há sempre um caminho de criação a se percorrer. É uma construção individual, que só pode ser elaborada a partir de sua relação anterior com a produção artística e suas experiências e vivências, isto é, o mundo que a envolve, seu contexto, na relação e expressão do seu próprio fazer. O conhecimento prévio das crianças possibilitará a relação delas com o que está sendo proposto estudar, assim devemos buscar acionar esses conhecimentos. Ao começar a ensinar um conceito qualquer, não devemos partir do nada, afinal superamos a Idade Média e as crianças não são mais vistas como tábuas rasas: elas são sujeitos históricos. Começar um tema a partir do “início” pensado pelo adulto letrado pode ser desafiador para umas das crianças, porém banal e sem graça para outras. Partindo do pressuposto de que todos saibam alguma coisa, lidaremos didaticamente com dispersões possíveis de sala de aula, sem que se culpem as crianças ou os temas “chatos”. As crianças carregam consigo as vivências familiares e de seus grupos sociais, bem como as de anos anteriores na educação formal. Na relação do cuidar e do educar na educação infantil está inserida a expectativa de aprendizado e, por isso, é preciso atenção para um diagnóstico dos níveis de Prof.ª FER MENDES – INSTAGRAM @pedagogiatiraduvidas – YOUTUBE Pedagogia Tira Dúvidas Prof.ª ALINY GUERREIRO – INSTAGRAM @trabalhos_academicosprofaliny – YOUTUBE Pedagogia EAD conhecimentos das crianças inicialmente, para que depois se planejem com mais detalhes as aulas, trazendo o novo e aproveitando os conhecimentos de cada um. Levantar os conhecimentos prévios que as crianças têm sobre o tema da aula ou do projeto a se desenvolver é uma atividade que envolve todos, e o papel docente nesse momento é o de fazer um registro das hipóteses, descobertas e saberes compartilhados a partir de uma ou mais ações motivadoras (um passeio no parque, a leitura de um livro, de uma notícia, a discussão de uma fotografia, de uma música, de um evento, etc.). O conhecimento prévio, bem como o espontâneo, registrados pelo docente, deve ser guardado para que, no decorrer das atividades, as hipóteses iniciais sejam confrontadas com os novos significados construídos. A mobilização e a atualização dos saberes mostram para a criança que ela já sabe algo, mas que tem mais a aprender. Todo o aprendizado relacionado a experiências e vivências anteriores tem mais sentido e torna-se significativa (AUSUBEL; NOVAK; HANESIAN, 1980; AUSUBEL, 2003). Sena et al. (2017) ressaltam a importância de as crianças participarem de todo o processo. A professora dialoga com elas na busca de que todos se mobilizem para as descobertas, impressões, gostos, afetos, desafetos, interesses. As crianças saem de casa, sentem a chuva, reconhecem pequenos insetos, ou seja, mesmo as da cidade estão em constante encontro com a natureza, com um mundo vivo. Dessa forma, torna-se significativo mapear quais elementos do meio ambiente fazem parte do espaço que ocupamos. Qual é o nosso contexto? Olhe quantas possibilidades temos e é por isso que vamos pensar em infâncias e em projetos para esse ou aquele grupo, nessa ou naquela escola. A partir de um registro sobre Natureza e Infância, Sena et al. (2017, p. 84) comentam que: Para além de considerar as falas “bonitinhas” e “engraçadas”, no processo de discussão e compartilhamento dos entendimentos das crianças em torno do tema Natureza, fomos entendendo a riqueza das hipóteses infantis e de como esses saberes são provocadores de investigações. Por meio de um pensamento metafórico, as crianças captam as essências e os conceitos das coisas, vivenciam um processo intenso de investigação, numa busca constante por compreender o mundo. Aproximar do pensamento infantil é pensar numa educação transformadora que busca significado e sentido para a vida. Prof.ª FER MENDES – INSTAGRAM @pedagogiatiraduvidas – YOUTUBE Pedagogia Tira Dúvidas Prof.ª ALINY GUERREIRO – INSTAGRAM @trabalhos_academicosprofaliny – YOUTUBE Pedagogia EAD POSTURA INVESTIGATIVA É sabido que não basta simplesmente que as crianças estejam juntas, elas precisam se relacionar, interagir, trocar, brincar. A valorização da aprendizagem se faz possibilitando que as crianças estejam em um ambiente que desperte a curiosidade, mas que ao mesmo tempo as deixe seguras, pois estar na escola com os amigos deve ser prazeroso e deve proporcionar experiências tranquilas e agradáveis. A professora, quando conhece suas crianças, tem mais possibilidades de construir um grupo de trabalho e pesquisa para experiências e aprendizagens significativas. As crianças, quando escolhem seus parceiros, normalmente o fazem por afinidade, buscam sintonia ou complemento e juntos vão buscar estratégias para resolver problemas. Ao observar o desenvolvimento das pesquisas, a professora pode relançar as questões, trazer as hipóteses iniciais novamente para a discussão, mas deve buscar não instruir as crianças no caminho da solução. Assim sendo, a valorização das experiências a partir das brincadeiras, do uso da imaginação e da fantasia e do estímulo à observação deve colaborar para a ampliação dos conhecimentos prévios dos pequeninos. E muitas vezes, em se tratando de Natureza, a prática com o adulto letrado pode romper com o senso comum que vinha impregnado nos conhecimentos prévios, mas que nem sempre correspondem a uma realidade científica. Nesse aspecto, o papel da professora na educação infantil é buscar a harmonia com as crianças de modo a compreender como vão se transformando as ideias, os objetos. Tudo feito com respeito e cumplicidade. Existe algo de raro nos gestos e ações das crianças em processo de investigação e descoberta e participar dessa construção, refletir sobre as atividades e acontecimentos faz do adulto um corresponsável pela descoberta. Aqui, novamente lembramo-nos da importância de um diário de bordo para que não se percam as hipóteses e descobertas. Dar ouvidos às vozesinfantis é sempre uma experiência gratificante, pois ao expressarem-se as ideias coletivas vão se formando. Embora muitas vezes as perguntas sejam vistas como uma consequência da curiosidade das crianças, elas podem ser algo além disso. Suas hipóteses sobre as origens das coisas e as causas dos fenômenos dizem também muito sobre elas e sobre seus contextos de vida. A qualidade das experiências oferecidas para as crianças terá como fruto a construção de ideias e hipóteses para que na troca, no vai e vem das questões entre a turma e a professora, os conhecimentos prévios sejam ampliados. Portanto, articular as práticas sociais (brincadeiras, fantasias, explorações Prof.ª FER MENDES – INSTAGRAM @pedagogiatiraduvidas – YOUTUBE Pedagogia Tira Dúvidas Prof.ª ALINY GUERREIRO – INSTAGRAM @trabalhos_academicosprofaliny – YOUTUBE Pedagogia EAD conjuntas) com a exposição das experiências das crianças, deve tornar significativa a própria cultura. No cotidiano da educação infantil, todos podem se envolver com atividades de investigar o porquê das hipóteses e de como são colocadas à turma. Na dialogia de professoras e crianças, o pensamento reflexivo orienta as trocas de conversas entre os pequenos. A intencionalidade pedagógica, inerente ao cotidiano na unidade escolar, coloca o cuidar e o educar juntos na educação infantil, mostrando que brincar, fantasiar, experimentar, que são atividades associadas a infâncias dos diferentes contextos sociais, pertencem também à área de educação e de pesquisa. A organização escolar passou a estimular essas atividades quase que exclusivamente quando se trata de crianças pequenas. A sociedade pode, a partir dessa orientação, também ser estimulada a melhorar os espaços urbanos com parques e jardins para as crianças brincarem. Na área científica, apoiamo- nos na importância dada a essas atividades e às interações pelos estudos de Vygotsky. Muitas vezes pode haver uma dúvida, tensões e contrastes entre a infância que a professora viveu e essa que ora discutimos como infância atendida. Por esse motivo nos valemos de colocar infância no plural e tratar de nos acostumarmos conceitualmente com infâncias, contextos, tempo histórico e desenvolvimento de teorias no campo da educação infantil. Se examinarmos os processos através do quais as crianças incorporam as estruturas do pensamento de sua comunidade e adquire assim um lugar como participante competente e funcional nessa comunidade, eles nos apresentam um campo de investigação que pode ser fontes de questões produtivas e contribuições construtivas para a própria TEORIA DAS REPRESENTAÇÔES SOCIAIS. (DUVEEN, 2013, p. 209) A criança começa a descobrir o mundo desde muito pequena, e ela precisa se apropriar dele para seu processo de socialização, para vir a fazer parte integrante da sociedade e constituir um sujeito social. Para tal precisará compreender e vivenciar normas, valores, crenças, direitos e deveres e assim terá sua identidade social (DUVEEN, 2013). Segundo Duveen (2013, p. 223), “entre a sociedade pensante dos adultos e a emergência da criança enquanto ator social existe um processo de construção que merece ser entendido”. E é a isso que professoras devem atentar para entender que representações são assumidas no processo de construção social da infância com a qual ela lida na sua unidade educacional, respeitando e Prof.ª FER MENDES – INSTAGRAM @pedagogiatiraduvidas – YOUTUBE Pedagogia Tira Dúvidas Prof.ª ALINY GUERREIRO – INSTAGRAM @trabalhos_academicosprofaliny – YOUTUBE Pedagogia EAD orientando as representações sociais que se manifestam no cotidiano pedagógico. Duveen (2011) afirma que, se nós quisermos entender as representações sociais, precisamos entender os processos através dos quais elas são produzidas e transformadas. Portanto, as professoras devem reconhecer que as crianças são cidadãs portadoras de direitos, entre eles o de brincar. Esse reconhecimento torna possível a apreensão das representações sociais, pois "todo ator social tem uma história de desenvolvimento, cuja influência não pode ser ignorada" (DUVEEN, 2013, p. 210). Conforme Freire (2005, p. 106), os seres humanos “[...] em suas permanentes relações com a realidade, produzem, não somente os bens materiais, as coisas sensíveis, os objetos, mas também as instituições sociais, suas ideias, suas concepções”. A escola, seja ela em que nível for, exercerá sobre as crianças e jovens uma grande influência da na construção e reconstrução de suas representações sociais, pois é o espaço educativo que se dispõe a preparar o indivíduo para atuar na sociedade. A proposta de estudar a natureza de forma dialógica é fortemente associada à proposta de formar cidadãos críticos e conscientes de suas escolhas. Para tal, espera-se que as crianças, no contato com a natureza já desde a Educação Infantil, tenham apoiadas, reforçadas e estimuladas suas perguntas e o respeito às suas representações, hipóteses e relações que estabelecem com o mundo que estão a descobrir e a decifrar. Rinaldi (2017, p. 227-228) nos aponta o caminho para interpretar as atitudes das crianças: Escutar significa estar aberto aos outros e ao que eles têm a dizer, ouvindo as cem (e mais) linguagens com todos os nossos sentidos. Escutar é um verbo ativo, pois significa não só gravar uma mensagem, mas também interpretá-la, e essa mensagem adquire sentido no momento em que o ouvinte a recebe e a avalia. Escutar é ainda um verbo recíproco. Escutar legitima a outra pessoa, pois a comunicação é uma das maneiras fundamentais de dar forma ao pensamento. O ato comunicativo que ocorre na escuta produz significados e modificações recíprocas, que enriquecem todos os participantes desse tipo de troca. SAIBA MAIS Aqui Rinaldi se reporta ao poema As Cem Linguagens da Criança, presente na abordagem do projeto do pedagogo Loris Malaguzzi, desenvolvido na cidade de Reggio Emilia, na Itália, em escolas de educação infantil após o término da Segunda Guerra. Este era um projeto que colocava a criança como protagonista na construção de seu conhecimento. Prof.ª FER MENDES – INSTAGRAM @pedagogiatiraduvidas – YOUTUBE Pedagogia Tira Dúvidas Prof.ª ALINY GUERREIRO – INSTAGRAM @trabalhos_academicosprofaliny – YOUTUBE Pedagogia EAD A autora afirma com isso a importância da atenção não só às manifestações e falas das crianças, mas à necessidade de entender e interpretar seus desejos, ações, curiosidades, dúvidas e interesses. Além disso, ela especifica ainda mais o ato de escutar: [...] Escuta interior, portanto, de nós mesmos, como pausa, suspensão, como elemento que gera a escuta de outro, mas que, por sua vez, é gerado pela escuta que os outros dirigem a nós. Por trás de um ato de escuta há, frequentemente, uma curiosidade, um desejo, uma dúvida, um interesse; há sempre uma emoção. A escuta é emoção, é gerada por emoção e provoca emoções. As emoções dos outros nos influenciam mediante processos fortes, diretos, não mediados, intrínsecos das interações entre sujeitos que comunicam. (RINALDI, 2014, p. 82) Com a construção de projetos e durante trabalhos em equipe com as crianças, podem ser desenvolvidas as estratégias de ensino investigativo das professoras, envolvendo a escuta de forma ativa durante as situações de ensino, seja na sala de aula, seja no parque, no refeitório, em qualquer lugar onde os atores da educação infantil estejam interagindo. Articular os conceitos de educação e de cuidado na educação infantil tem siso uma estratégica política para o redimensionamento da educação da infância para além da guarda e da assistência social. A Constituição de 1988 legitimou a importância social e política da educação infantil ao tratar do caráter educativo das unidades educacionais voltadas para a atenção às crianças pequenas. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação
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