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VIGILÂNCIA SANITÁRIA E DEFESA DO CONSUMIDOR 1.ed. Ministério da Justiça e Segurança Pública Secretaria Nacional do Consumidor Escola Nacional de Defesa do Consumidor MJ Brasília 2019 3 2019 © Secretaria Nacional do Consumidor Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução total ou parcial, de qualquer forma ou por qualquer meio, salvo com autorização por escrito da Secretaria Nacional do Consumidor. Esplanada dos Ministérios, Bloco “T”, Palácio da Justiça Raymundo Faoro, Edifício Sede, 5º andar, Sala 542 – Brasília, DF, CEP 70.964-900. VIGILÂNCIA SANITÁRIA E DEFESA DO CONSUMIDOR Edição Ministério da Justiça e Segurança Pública Secretaria Nacional do Consumidor Escola Nacional de Defesa do Consumidor Equipe Técnica do Ministério da Justiça e Segurança Pública - MJ Ministro de Estado da Justiça e Segurança Pública Sérgio Fernando Moro Secretário Nacional do Consumidor Luciano Benetti Timm Diretor do Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor Fernando Boarato Meneguin Escola Nacional de Defesa do Consumidor Supervisão - Andiara Maria Braga Maranhão Apoio Técnico - Ana Cláudia Sant’Ana Menezes / Nicolas Eric Matoso Medeiros de Souza Equipe Técnica da Agência Nacional de Vigilância Sanitária - ANVISA Alice Alves de Souza / Carla Janne Farias Cruz / Claudia Passos Guimaraes Rabelo / Daniela Macedo Jorge / Edson Antonio Donagema / Ethel Resch / Fernanda Moreira Coura / Mariana Adelheit Von Collani / Mariana Denardin Klein / Marinez de Freitas Messias / Nízia Martins Sousa / Raphael Andrade de Castro / Rosaura Maria da Costa Hexsel / Thalita Antony de Souza Lima / Tiago Lanius / Vanessa Ghisleni Zardin / Webert Goncalves de Santana / entre outros. Equipe Técnica da Fundação Universidade de Brasília - FUB Coordenação - Prof. Dr. Rafael Timóteo de Sousa Júnior / Prof. Dr. Ugo Silva Dias Coordenação Pedagógica - Janaína Angelina Teixeira Design Instrucional - Meirirene Moslaves Meira Apoio ao Núcleo Pedagógico - Andréia Santiago de Oliveira / Josiane do Carmo da Silva / Meirirene Moslaves Meira / Nayara Gomes Lima / Suzane Lais de Freitas Ilustração - Cristiano Silva Gomes Diagramação - Patricia Faria / Sanny Saraiva Revisão - Angélica Magalhães Neves Vigilância sanitária e defesa do consumidor / supervisão, Andiara Maria Braga Maranhão ; apoio técnico, Ana Cláudia Sant’Ana Menezes, Nicolas Eric Matoso Medeiros de Souza. -- 1. ed. – Brasília : Ministério da Justiça e Segurança Pública, Secretaria Nacional do Consumidor : Fundação Universidade de Brasília - FUB, 2019. 192 p. : il. color. ISBN: 978-85-5506-069-4 1. Proteção e defesa do consumidor. 2. Vigilância sanitária 3. Relação de consumo. 4. Direito à saúde. I. Maranhão, Andiara Maria Braga. II. Menezes, Ana Cláudia Sant’Ana. III. Souza, Nicolas Eric Matoso Medeiros de. IV. Brasil. Ministério da Justiça e Segurança Pública. Secretaria Nacional do Consumidor. V. Fundação Universidade de Brasília - FUB. 342.51 V677s CDD Elaborada por Danielle Monteiro do Amaral – CRB-1 / 2533 4 SUMÁRIO PREFÁCIO 7 OBJETIVOS INSTRUCIONAIS 9 CAPÍTULO 1 ESTADO E SOCIEDADE 13 1 O DIREITO À SAÚDE E À DEFESA DO CONSUMIDOR NA CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA 17 1.1 O CONCEITO DE ESTADO 20 1.2 A ORGANIZAÇÃO DO ESTADO BRASILEIRO 25 1.3 O PODER DE POLÍCIA DE ESTADO 31 2 VAMOS RELEMBRAR 33 CAPÍTULO 2 A PROTEÇÃO E A DEFESA DA SAÚDE DOS CONSUMIDORES 35 1 POLÍTICA NACIONAL DAS RELAÇÕES DE CONSUMO 37 1.1 CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR (CDC) 41 1.2 SISTEMA NACIONAL DE DEFESA DO CONSUMIDOR (SNDC) 49 1.2.1 COMPETÊNCIAS DA SENACON 53 1.2.2.COMPETÊNCIAS DOS PROCONS 57 1.2.3 COMPETÊNCIAS DO MINISTÉRIO PÚBLICO 59 1.2.4 COMPETÊNCIAS DA DEFENSORIA PÚBLICA 59 1.3 PLANO NACIONAL DE CONSUMO E CIDADANIA (PLANDEC) 60 1.4 CONSUMIDOR.GOV.BR 63 2 VIGILÂNCIA SANITÁRIA NO BRASIL 65 5 2.1 SISTEMA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA (SNVS) 71 2.1.1 COMPETÊNCIAS DA ANVISA 78 2.1.2 COMPETÊNCIAS DOS ÓRGÃOS ESTADUAIS E MUNICIPAIS DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA 82 2.2 ARCABOUÇO LEGAL PARA ATUAÇÃO DA VIGILÂNCIA SANITÁRIA 82 2.2.1 CÓDIGOS SANITÁRIOS ESTADUAIS E MUNICIPAIS 84 3 VAMOS RELEMBRAR 84 CAPÍTULO 3 RISCO E SAÚDE 85 1 RISCO À SAÚDE 86 1.1 CONCEITO DE SAÚDE 92 2.2 RISCO À SAÚDE DO CONSUMIDOR 94 1.3 RISCOS E O CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR 95 1.4 RISCOS E A LEGISLAÇÃO SANITÁRIA 98 1.5 TIPOS DE RISCO 102 2 VÍCIO, DEFEITO E ACIDENTE DE CONSUMO 103 2.1 PRECAUÇÃO 105 3 VAMOS RELEMBRAR 105 CAPÍTULO 4 PRODUTOS E SERVIÇOS 107 1 PRODUTOS E SERVIÇOS 108 1.1 VIGILÂNCIA DE PRODUTOS 112 1.2 VIGILÂNCIA DE PRODUTOS PARA A SAÚDE E DE SERVIÇOS DE INTERESSE PARA A SAÚDE 123 6 1.3 VIGILÂNCIA SANITÁRIA DO MEIO AMBIENTE E DOS AMBIENTES DE TRABALHO 125 1.4 VIGILÂNCIA SANITÁRIA DE PORTOS, AEROPORTOS E FRONTEIRAS E RECINTOS ALFANDEGADOS 126 2 INTERVENÇÃO SANITÁRIA NO ESCOPO DE PRODUTOS E SERVIÇOS DE INTERESSE DA SAÚDE 127 2.1 REGULAÇÃO 127 2.1.1 VIGILÂNCIA SANITÁRIA E PROTEÇÃO E DEFESA DO CONSUMIDOR 135 1.2 INFORMAÇÃO 142 1.2.1 INFORMAÇÃO PARA GESTÃO 142 2.2.2 INFORMAÇÃO PARA CIDADANIA 156 3 VAMOS RELEMBRAR 160 CAPÍTULO 5 INTEGRANDO AS AÇÕES DE DEFESA DO CONSUMIDOR E DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA 163 1 INTEGRAÇÃO DAS AÇÕES 164 2 PARTICIPAÇÃO E CONTROLE SOCIAL 172 3 VAMOS RELEMBRAR 177 GLOSSÁRIO 178 REFERÊNCIAS 186 7 A Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon)/MJ, por meio da Escola Nacional de Defesa do Consumidor e em parceria com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), publica este livro que trata da importância das ações conjuntas entre os membros do Sistema Nacional de Defesa do Consumidor (SNDC) e do Sistema Nacional de Vigilância Sanitária (SNVS) para proteção e defesa do consumidor. O presente livro está dividido em 5 capítulos: No primeiro capítulo, o leitor aprenderá sobre a importância acerca do surgimento do Estado e do papel deste em relação à defesa e à saúde do consumidor. No segundo capítulo, são apresentadas a Política Nacional das Relações de Consumo e a Vigilância Sanitária no Brasil. No terceiro capítulo, conceitos sobre vício, defeito e acidente de consumo, bem como o que é risco à saúde do consumidor, são explicados didaticamente a partir de exemplos concretos. No quarto capítulo, são abordados, dentre outros, os riscos que os consumidores estão sujeitos em relação aos produtos e aos serviços disponíveis no mercado, e a importância da atuação da Vigilância Sanitária em diversos segmentos da cadeia produtiva, desde a produção, a rotulagem, a embalagem e a reembalagem, a armazenagem, o transporte, a comercialização, até o consumo. PREFÁCIO 8 No quinto capítulo, são demonstradas iniciativas de integração de ações de defesa do consumidor e de Vigilância Sanitária a exemplo das redes de trabalho, como Rede de Consumo Seguro e Saúde, Comissão de Estudos Permanentes de Acidentes de Consumo (CEPAC), Sistema de Informações de Acidentes de Consumo (SIAC), e Sistema Nacional de Alertas Rápidos de Recall. Para a conclusão desta inestimável publicação, a Secretaria Nacional do Consumidor agradece o empenho e a dedicação da Consultora Silva Regina do Amaral Vignola pela aproximação conceitual de duas áreas relevantes como a defesa do consumidor e a Vigilância Sanitária. A Senacon agradece também à Anvisa pela parceria e pelas contribuições que foram fundamentais para enriquecimento da presente obra.Considerando que os órgãos de defesa do consumidor e de Vigilância Sanitária têm pontos de intersecção muito claros, uma vez que ambos têm como foco assegurar direitos, especialmente aqueles voltados à saúde e à segurança do consumidor, espera-se que este manual contribua para estimular o desenvolvimento de ações conjuntas em todas as esferas de governo, visando à proteção da saúde do cidadão brasileiro. Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor Secretaria Nacional do Consumidor Ministério da Justiça e Segurança Pública 9 OBJETIVOS INSTRUCIONAIS Neste livro, espera-se que você seja capaz de: • Explicar o direito do consumidore a saúde na Constituição Federal. • Definir o direito à saúde não apenas como direito ao tratamento de doenças. • Explicar por que o Estado deverá promover a defesa do consumidor e garantir a todos a saúde. • Conceituar “Estado” e descrever o seu surgimento. • Explicar a organização do Estado brasileiro. • Resumir os princípios da Administração Pública previstos na Constituição Federal. • Exemplificar como agentes da defesa do consumidor ou da Vigilância Sanitária utilizam o Poder de Polícia para coibir abusos no mercado de consumo. • Resumir acerca do histórico da Política Nacional das Relações de Consumo no Brasil. • Explicar o que é uma relação de consumo. • Definir os conceitos de consumidor, fornecedor, produto e serviço previstos no CDC. • Listar os princípios estabelecidos no CDC. • Dizer alguns direitos básicos do consumidor previstos no CDC. 10 • Citar as principais legislações, no âmbito federal, referentes à defesa do consumidor. • Resumir as competências da Senacon, dos Procons, do Ministério Público e da Defensoria Pública. • Explicar a importância da plataforma consumidor. gov para a resolução de conflitos de consumo de forma rápida. • Resumir acerca do histórico da Vigilância Sanitária no Brasil. • Explicar o que é o Sistema Nacional de Vigilância Sanitária e como ele está estruturado. • Resumir as competências da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e dos órgãos Estaduais e Municipais de Vigilância Sanitária. • Citar as principais legislações, no âmbito federal, referentes à Vigilância Sanitária. • Definir os conceitos de saúde e risco. • Dizer como o CDC protege a saúde e a segurança do consumidor em relação ao risco. • Resumir os conceitos previstos na resolução n.17/99. • Explicar quais são os tipos de risco. • Diferenciar os conceitos de “vício” e “defeito”. • Relacionar “defeito” à “acidente de consumo”. • Identificar que, em diversas ações cotidianas, há 11 produtos e serviços que são regulados e controlados para não exporem os consumidores a riscos. • Citar a organização das estruturas de Vigilância Sanitária. • Exemplificar os instrumentos de regulação sanitária e de defesa do consumidor. • Demonstrar a importância da informação para a gestão. • Resumir os bancos de dados e os sistemas de informações do SNVS. • Resumir os sistemas de informação do SNDC. • Citar ações de educação para o consumo. • Demonstrar formas de intersecção entre as ações dos órgãos de defesa do consumidor e de Vigilância Sanitária. • Resumir as atividades compartilhadas, no âmbito federal, entre defesa do consumidor e Vigilância Sanitária. • Explicar o que é a Rede de Consumo Seguro e Saúde (RCSS). • Exemplificar as ações, no âmbito federal, de articulação para a proteção da vida, da saúde e da segurança dos consumidores. • Citar as legislações que garantem a participação popular. • Citar os canais de participação da Anvisa e da Senacon. CAPÍTULO 1 ESTADO E SOCIEDADE 15 CAPÍTULO 1 Olá, sou Pedro e quero desejar boas-vindas ao livro Vigilância Sanitária e Defesa do Consumidor. Seja bem-vindo, sou Ana e espero que você possa desenvolver novas competências e aprimorar as que já possui nessas áreas. Bom estudo! Olá sou Luís, e também estarei com você! Aqui, você terá a oportunidade de compreender a importância da ar�culação entre os atores dos Sistemas Nacional de Vigilância Sanitária e Defesa do Consumidor para a proteção das pessoas. Vamos começar? Observe que, após a promulgação da atual Constituição Brasileira, em 1988, vários direitos foram garantidos ao cidadão brasileiro. Entre eles, dois direitos que serão discutidos neste livro: o direito à saúde e a defesa dos direitos do consumidor. Para compreender como o Estado brasileiro se estrutura para que esses direitos sejam efetivados, apresentaremos reflexões sobre os conceitos que permeiam as atividades dos servidores públicos que atuam na área de saúde, especificamente na área de Vigilância Sanitária, e daqueles que desempenham funções na defesa do consumidor. 16 CAPÍTULO 1 Conceitos como Estado, Estado Democrático de Direito, Cidadão, Direito à Saúde, Defesa do Consumidor, Administração Pública, Supremacia do Interesse Público, Saúde, Risco, Produtos e Serviços de Interesse da Saúde, entre outros, serão o arcabouço para a reflexão proposta neste livro. Aqui, os termos técnicos foram adaptados para uma linguagem simplificada, a fim de facilitar a compreensão do conteúdo pelos servidores públicos dos 5.561 municípios brasileiros. A fim de facilitar os estudos, didaticamente dividimos o conteúdo em cinco capítulos: Capítulo 1 - Estado e Sociedade Capítulo 2 - A Proteção e a Defesa da Saúde dos Consumidores Capítulo 3 - Risco e Saúde Capítulo 4 - Produtos e Serviços Capítulo 5 - Integrando as Ações de Defesa do Consumidor e de Vigilância Sanitária Assim, esse conteúdo pretende aperfeiçoar a articulação entre os membros que compõem os Sistemas Nacionais de Defesa do Consumidor e de Vigilância Sanitária para a harmonização de conceitos, o intercâmbio de conhecimentos e as experiências, para a reflexão sobre fluxos de trabalho e atuação conjunta, considerando as especificidades em âmbitos municipal, estadual e federal, a fim de que haja sinergia de ações dos dois Sistemas. 17 CAPÍTULO 1 1 - O DIREITO À SAÚDE E À DEFESA DO CONSUMIDOR NA CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA Para que possamos compreender o papel dos servidores públicos que atuam nas áreas de Vigilância Sanitária e de defesa do consumidor, vamos inicialmente entender como questões relativas ao direito à saúde e à defesa do consumidor são apresentadas em nossa legislação maior: a Constituição Brasileira. Você já consultou a nossa Cons�tuição? É importante conhecê-la, pois podemos dizer que ela é o “script da vida de todo cidadão brasileiro”. Qualquer alteração no texto cons�tucional incide diretamente na vida da sociedade brasileira. A Constituição, em seu Título II – Dos Direitos e Garantias Fundamentais, Capítulo I – Dos Direitos e Deveres Individuais e Coletivos, determina que: “o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor” (CF art. 5º inciso XXXII). 18 CAPÍTULO 1 Já o Capítulo II – Dos Direitos Sociais – determina que: “são direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição” (CF art. 6º). IMPORTANTE Vejamos: é no momento em que a Constituição brasileira aborda os direitos e as garantias fundamentais do cidadão que é apresentado o dever do Estado de promover a defesa do consumidor. É nesse momento, também, que é fundamentado o direito social à saúde. O texto constitucional responsabiliza concorrentemente à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar sobre responsabilidades por danos ao consumidor e também sobre proteção e defesa da saúde (CF art. 24). No momento em que nossa Constituição aborda a ordem econômica, frisando que ela tem, por fim, “assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social” (CF art.170), um dos princípios que deve ser observados para que isso aconteça é a defesa do consumidor. A necessidade de um Código de Defesa do Consumidor também foi determinada pela Constituição em suas Disposições Transitórias (CF, ADCT, art.48). Ao abordar questões relativas à Ordem Social (Título VIII), especialmente no tocante à Seguridade Social (Capítulo II), e mais especificamente à Saúde (Seção I), a Constituição determina que “saúde é direito de todos e dever do Estado”. 19 CAPÍTULO 1 DESTAQUE Aqui, cabe lembrar que somente na Constituição Brasileira de 1988 o direito à saúde foi considerado como direito fundamental, de relevância pública, garantido o acesso universal e igualitário a todos. O texto constitucional éclaro ao explicitar que o direito à saúde deve “ser garantido mediante políticas sociais e econômicas”. Contudo, a Constituição vai além, atribuindo a essas políticas o compromisso na “redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação” (CF art.196). Como podemos observar, é dever do Estado, no tocante à saúde, garantir ao cidadão brasileiro muito mais que a assistência à doença, cabendo, entre outras atribuições: LEGISLAÇÃO “controlar e fiscalizar procedimentos, produtos e substâncias de interesse para a saúde e participar da produção de medicamentos, equipamentos, imunobiológicos, hemoderivados e outros insumos; executar as ações de Vigilância Sanitária e epidemiológica, bem como as de saúde do trabalhador; participar da formulação da política e da execução das ações de saneamento básico; fiscalizar e inspecionar alimentos, compreendido o controle de seu teor nutricional, bem como bebidas e águas para consumo humano; participar do controle e fiscalização da produção, transporte, guarda e utilização de substâncias e produtos psicoativos, tóxicos e radioativos; colaborar na proteção do meio ambiente, nele compreendido o do trabalho” (CF art.200). 20 CAPÍTULO 1 Assim, é responsabilidade do Estado, segundo nossa Constituição, promover a defesa do consumidor, bem como garantir o direito à saúde a todos os cidadãos brasileiros. 1.1 O CONCEITO DE ESTADO DESTAQUE Como vimos anteriormente, cabe ao Estado promover a defesa do consumidor e assegurar o direito à saúde. Contudo, você sabe o que é Estado? Ao longo da história, vários pensadores refletiram sobre o conceito de Estado. Na antiguidade, o mundo grego, já possuía cidades-Estado. Cidades como Atenas, Esparta, Corinto, entre outras, eram independentes e autossuficientes. Não existia um Estado grego, e sim cidades-Estado. Segundo o Professor Dallari, (DALLARI, 2000), citando Aristóteles em sua obra “A Política”: “a sociedade constituída por diversos pequenos burgos forma uma cidade completa, com todos os meios de se abastecer por si, tendo atingido, por assim dizer, o fim a que se propôs”. 21 CAPÍTULO 1 Assim, a unidade territorial iniciada no período medieval passa a ser precursora de uma das características básicas do Estado Moderno: a unidade territorial. Essas cidades-Estado também eram chamadas de polis, e era no espaço da polis que emergia a dimensão política da sociedade grega daquela época. Mas, ao longo da história, foram os romanos que melhor configuraram o conceito de Estado. Os romanos conseguiram congregar diferentes povoados dentro de um mesmo conjunto de regras, deixando como herança para futuras civilizações, conceitos como: - res pública – coisa pública ou assuntos públicos – essência que sustenta até os dias de hoje as Repúblicas, e - Civita, corpo social, formado por civis ou cidadãos. Daí o conceito de civilização. Os cidadãos romanos participavam dos destinos do Estado romano por meio do voto. Os demais habitantes de povoados conquistados pelos romanos eram conhecidos como “sujeitos”, ou seja, submetiam-se ao Estado, sem poder participar de decisões sobre ele. Os romanos aprimoraram a estrutura de regras ou leis que permitiram a manutenção do “equilíbrio” do Estado. É difícil caracterizar um Estado no período medieval. O feudalismo, o cristianismo e as invasões bárbaras são fatores que conformaram a sociedade medieval, caracterizando esse período como um período de muita instabilidade política. Para enfrentar abusos cometidos por monarcas, os senhores feudais adotaram como estratégia a busca da unidade de seus feudos, modificando a estrutura territorial feudal. 1 2 3 4 5 6 7 8 9 22 CAPÍTULO 1 Em períodos posteriores, a reflexão sobre o Estado recebeu contribuições de importantes pensadores, como Locke, Rousseau, Maquiavel, entre outros, e assim foi sendo formado o conceito de Estado Moderno. Embora existam diferentes reflexões sobre as características básicas do Estado Moderno, três delas são fundamentais: a soberania, o território e o povo. - Por que fizemos esse breve passeio pela história? - Para entender a atuação dos servidores públicos de Vigilância Sanitária e defesa do consumidor. É importante saber o que significa Estado, soberania, território e povo. Vamos voltar à Constituição. LEGISLAÇÃO O artigo 1º do TÍTULO I - Dos Princípios Fundamentais diz: Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático 23 CAPÍTULO 1 de Direito e tem como fundamentos: I - a soberania; II - a cidadania; III - a dignidade da pessoa humana; IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; V - o pluralismo político. Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição. Vamos saber mais sobre os conceitos de soberania, território e povo, logo abaixo. POVOSOBERANIA TERRITORIO Em relação ao conceito de território, o �lósofo político Norberto Bobbio esclarece que: “o território, torna-se o limite de validade espacial do direito do Estado, no sentido de que as normas jurídicas emanadas do poder soberano, valem apenas dentro de determinadas fronteiras” (BOBBIO, 2007). É o exercício da autoridade que reside num povo e que se exerce por intermédio dos seus órgãos constitucionais representativos. Mas e o povo? O que o povo tem a ver com tudo isso? Povo e cidadão, como esses conceitos estão relacionados? Não há discordância entre os autores na a�rmação de que o povo é razão e �nalidade da existência do Estado. Se no mundo antigo o povo era o conjunto de cidadãos, e que cidadãos eram somente aqueles que participavam da vida política e portanto dos rumos do Estado, hoje, cidadãos são todos aqueles que “participam da constituição do Estado” (DALLARI, 2000). Após esse breve passeio por palavras que são amplamente discutidas desde os primórdios da história das civilizações ocidentais, como polis, que deu origem à termos como política, polícia, político; res publica, que deu origem à palavra república, 24 CAPÍTULO 1 soberania, território, povo, cidadão, cidadania etc., vamos entender como a estrutura de Estado se organiza, para que o cidadão possa ter seus direitos garantidos. Vamos nos ater ao Estado brasileiro que, como é apresentado em nossa Constituição, é um “Estado Democrático de Direito”, organizado administrativamente como República Federativa que compreende a União, os Estados e os Municípios. Essa caracterização fundamenta que o Estado brasileiro é ordenado por leis, sob as quais todos os cidadãos, em todo território nacional, são iguais e podem participar democraticamente de seu destino, pelo voto e por outras formas de participação previstas na Constituição. IMPORTANTE É importante lembrar que, nas últimas décadas, o Estado brasileiro passou por um processo de reforma, influenciado pela dinâmica da internacionalização dos fluxos de capital e pela globalização dos mercados e dos novos padrões de produção, em decorrência da expansão tecnológica e da velocidade da comunicação em tempo real. Tudo isso trouxe imensas consequências em relação à circulação de informações, a mercadorias e aos serviços. Esse contexto não pode ser desconsiderado pelos profissionais que são alvo deste livro. 25 CAPÍTULO 1 1.2 A ORGANIZAÇÃO DO ESTADO BRASILEIRO Para que a liberdade dos cidadãos pudesse ser garantida, desde o Iluminismo, as funções do Estado foram distribuídas e separadas em três poderes: o Legislativo, o Executivo e o Judiciário. SAIBA MAIS Iluminismo 1 - Doutrina de certos movimentos religiosos marginais, com base na crença de uma iluminação interior ou em revelações inspiradas diretamente por Deus. 2 - Movimento de renovação científicana Itália, no século XVIII. Publicado em: 2016-09-24, revisado em: 2017-02-27. Disponível em: ‹https:// dicionariodoaurelio.com/iluminismo›. Acesso em: 18 jul. 2017 Segundo o prof. Dallari, D. (2000): “de fato, quando se pretende desconcentrar o poder, atribuindo o seu exercício a vários órgãos, a preocupação maior é a liberdade dos indivíduos, pois, quanto maior for a concentração do poder, maior será o risco de um governo ditatorial”. 26 CAPÍTULO 1 Ana, se Estado, em última instância, é o convívio de membros de uma dada sociedade, em um dado território, dentro de regras de�nidas e, se cabe ao Estado brasileiro promover a defesa do consumidor e garantir o direito à saúde do cidadão brasileiro, a quem competem tais atribuições? Os três poderes são constituídos por servidores públicos, cujas atividades são caracterizadas por funções de�nidas em regras especí�cas da administração para cada uma dessas instâncias de poder. Para entender melhor, vamos nos aprofundar em cada uma dessas instâncias de poder? Ao Poder Legislativo cabe, dentre outras inúmeras funções, elaborar leis e fiscalizar e controlar o Poder Executivo. Essa é uma redução bastante simplista, pois nossa Constituição elenca quinze competências exclusivas do Congresso Nacional, além de outras competências partilhadas com o Presidente da República. Cabe lembrar que, se na esfera da União, o Poder Legislativo é exercido pelo Congresso Nacional (Câmara dos Deputados e Senado Federal); nos estados a função legislativa é exercida pelas Assembleias Legislativas; e nos Municípios, pelas Câmaras dos Vereadores. PODER LEGISLATIVO NIVEL FEDERAL NIVEL ESTADUAL NIVEL MUNICIPAL CONGRESSO NACIONAL CAMARA DOS DEPUTADOS SENADO FEDERAL ASSEMBLEIAS LEGISLATIVAS CAMARA DE VEREADORES 27 CAPÍTULO 1 Ao Poder Executivo, na figura de seu máximo responsável, cabe: sancionar, promulgar e fazer publicar as leis, bem como expedir decretos e regulamentos para sua fiel execução, vetar projetos de lei, total ou parcialmente, dispor sobre a organização e o funcionamento da administração, na forma da lei, entre outras funções. O Poder Executivo é exercido, no âmbito da União, pelo Presidente da República; nos Estados, pelos Governadores; e nos Municípios, pelos Prefeitos. PODER EXECUTIVO NIVEL FEDERAL NIVEL ESTADUAL NIVEL MUNICIPAL PRESIDENTE DA REPUBLICA ... GOVERNANDORES ... PREFEITOS ... O Presidente da República, os Governadores, os Prefeitos, os Senadores, os Deputados Federais, os Deputados Estaduais e os Vereadores são eleitos democraticamente pelo voto, já que o Brasil é um Estado Democrático de Direito. O Poder Judiciário é constituído, segundo nossa Constituição, pelos seguintes órgãos: Supremo Tribunal Federal; Conselho Nacional de Justiça; Superior Tribunal de Justiça; Tribunais Regionais Federais e Juízes Federais; Tribunais e Juízes do Trabalho; Tribunais e Juízes Eleitorais; Tribunais e Juízes Militares; Tribunais e Juízes dos Estados e do Distrito Federal. Nos Estados, o Poder Judiciário é exercido por diferentes Tribunais, além de Juizados Especiais e Juizados Especiais Cíveis (anteriormente denominados de Pequenas Causas). 28 CAPÍTULO 1 SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL TRIBUNAL SUPERIOR DO TRABALHO SUPERIOR TRIBUNAL MILITAR TRIBUNAIS DE JUSTIÇA JUÍZES FEDERAIS JUÍZES DE DIREITO TRIBUNAIS REGIONAIS FEDERAIS TRIBUNAIS REGIONAIS ELEITORAIS JUÍZES ELEITORAIS TRIBUNAIS REGIONAIS DO TRABALHO JUÍZES DO TRABALHO TRIBUNAIS DE JUSTIÇA MILITARES JUÍZES MILITARES Cabe salientar que a garantia da defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis conta com o Ministério Público (federal e estaduais). A Constituição de 1988 também enfatiza a importância das Defensorias Públicas, que promovem a assistência jurídica gratuita aos necessitados, inclusive no tocante aos direitos do consumidor. Essa complexa estrutura do Estado brasileiro, com três Poderes distintos, com seus diversos órgãos nas três esferas de governo, compõe a Administração Pública, que incorpora, ainda, órgãos de administração indireta, como autarquias, fundações, empresas públicas e sociedades de economia mista. Se a Administração Pública conta com servidores públicos, que executam atividades relativas às políticas públicas, será que existem parâmetros para que esses servidores possam atuar? 29 CAPÍTULO 1 Embora a função administrativa seja própria do Poder Executivo, o funcionamento de toda essa estrutura deve obedecer a princípios estabelecidos no art. 37 da Constituição. São eles: legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência. Vamos entender melhor esses princípios. 1 Legalidade 2 Impessoalidade 3 Moralidade 4 Publicidade 5 Eficiência Legalidade: esse princípio estabelece que os representantes da Administração Pública estão sujeitos “aos mandamentos da lei, e às exigências do bem comum, e deles não se pode afastar ou desviar, sob pena de praticar ato inválido e expor-se à responsabilidade disciplinar, civil e criminal, conforme o caso” (MEIRELLES, 1983).1 Legalidade 2 Impessoalidade 3 Moralidade 4 Publicidade 5 Eficiência Impessoalidade: é o princípio que obriga a administração, em sua atuação, a não praticar atos visando aos interesses pessoais ou se subordinando à conveniência de qualquer indivíduo, mas sim direcionada a atender aos ditames legais e, essencialmente, aos interesses sociais. 1 Legalidade 2 Impessoalidade 3 Moralidade 4 Publicidade 5 Eficiência Moralidade: “a moralidade administrativa constitui pressuposto da validade de todo Ato da Administração Pública”, sendo “um conjunto de regras de conduta tiradas da disciplina interior da administração”. Sendo o “agente administrativo ser humano dotado da capacidade de atuar, deve necessariamente, distinguir o Bem do Mal, o honesto do desonesto” (MEIRELLES, 1983). 30 CAPÍTULO 1 1 Legalidade 2 Impessoalidade 3 Moralidade 4 Publicidade 5 EficiênciaPublicidade: todo ato público deve ser divulgado para “conhecimento público e início de seus efeitos externos”. Aqui cabe lembrar que o art. 5º da Constituição brasileira, em seu inciso XXXIII, regulamento pela Lei n. 12.527/2011, determina que: “todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado”. 1 Legalidade 2 Impessoalidade 3 Moralidade 4 Publicidade 5 Eficiência Eficiência: é dever da Administração Pública, por meio de seus agentes, “realizar suas atribuições com presteza, perfeição e rendimento funcional” (MEIRELLES, 1983). Segundo a prof.ª Dallari, S. (2000) “ao definir-se como um Estado Democrático de Direito, o país adotou o princípio básico do Estado de Direito de vincular a Administração Pública às estritas previsões legais”. Não existindo autonomia na prática de atos administrativos. Assim, lembra a professora, citando Bandeira de Mello, que “na administração da coisa pública, só se pode querer o que sirva para cumprir uma finalidade antecipadamente estabelecida em lei” (DALLARI, S., 2000). É importante lembrar que um dos princípios primordiais da Administração Pública é a Supremacia do Interesse Público, ou seja, na mediação de conflitos entre o interesse público e o interesse privado, deve ser priorizado o interesse público, sempre respeitando as garantias constitucionais. 31 CAPÍTULO 1 1.3 O PODER DE POLÍCIA DE ESTADO Para restringir abusos, a Administração Pública é dotada de poderes administrativos, com destaque ao poder de polícia. Órgãos de Defesa do Consumidor e de Vigilância Sanitária têm poder de polícia na sua esfera de competência. Legalmente, a conceituação de poder de polícia édada pelo Código Tributário Nacional, em seu artigo 78: LEGISLAÇÃO “Considera-se poder de polícia atividade da Administração Pública que, limitando ou disciplinando direito, interesse ou liberdade, regula a prática de ato ou a abstenção de fato, em razão de interesse público concernente à segurança, à higiene, à ordem, aos costumes, à disciplina da produção e do mercado, ao exercício de atividades econômicas dependentes de concessão ou autorização do Poder Público, à tranquilidade pública ou ao respeito à propriedade e aos direitos individuais ou coletivos”. Quanto à competência, segundo o professor Hely Lopes Meirelles, “em princípio, tem competência para policiar a entidade que dispõe do poder de regular a matéria” (MEIRELLES, 1983). Segundo Dias (2008): O poder de polícia se concretiza em ato de polícia, que só pode ser praticado por quem, efetivamente, detenha a competência para a sua realização. O ato de polícia é ato administrativo. É, em regra geral, um ato discricionário, sujeito aos princípios da legalidade, realidade e razoabilidade. 32 CAPÍTULO 1 Por ser discricionário, ou seja, por comportar certa liberdade, é importante lembrar que, se o agente público, com poder de polícia de Estado, agir arbitrariamente, estará “sujeito às sanções penais, administrativas e civis por abuso de poder” (MEIRELLES, 1983). IMPORTANTE O exercício do poder de polícia só pode ser exercido em razão do interesse público. FRIOS Infelizmente tive que interditar seu frigori�co, as carnes estão mal-acondicionadas e seu freezer não está na temperatura exigida pela legislação. A atuação da vigilância sanitária visa proteger o consumidor e limitar o comerciante de causar danos ao consumidor. Em alguns casos, isso requer a interdição do estabelecimento. Um servidor público (aqui o Luís, com o colete), em um setor de um supermercado, interditando produtos com validade vencida, a fim de proteger o consumidor e limitar o comerciante de causar maiores danos ao consumidor. Dias (2008) lembra que “o exercício do poder de polícia é sempre em razão do interesse público, sempre buscando o interesse público”. 33 CAPÍTULO 1 2 – VAMOS RELEMBRAR Como vimos, o cidadão brasileiro tem vários direitos garantidos pela Constituição, dentre eles o direito à saúde, entendido não apenas como direito ao tratamento de doenças, mas como a garantia da defesa de seus direitos na condição de consumidor. Como determina nossa Constituição, cabe ao Estado a garantia desses direitos, portanto os servidores dos três poderes de Estado devem atuar para a efetivação desses direitos. Muitos desses servidores atuam para restringir abusos daqueles que fornecem produtos e serviços para a saúde, ou de interesse à saúde. Produtos para a saúde – são produtos utilizados na realização de procedimentos médicos, odontológicos e fisioterápicos, bem como no diagnóstico, no tratamento, na reabilitação ou na monitoração de pacientes. Inclui desde uma simples lâmpada de infravermelho até equipamento de ressonância magnética; de uma compressa de gaze a uma prótese de quadril; e de um meio de cultura até um kit de reagente para detecção de HIV. Serviços de interesse para a saúde – é a prática de atividades que prestem assistência ao indivíduo, fora do contexto hospitalar ou clínico, e que pode alterar o estado de saúde do indivíduo. Dentre essas atividades, estão compreendidas as realizadas em salões de beleza, em clínicas de estética, em estúdios de tatuagem, em instituições de longa permanência para idosos, em comunidades terapêuticas, em academias de ginástica, em creches, entre outras. Atualmente, esse setor abarca mais de um milhão de serviços e uma ampla variedade de atividades que demanda boa parte do esforço do Sistema Nacional de Vigilância Sanitária no cumprimento de suas competências regimentais. Para que a restrição de direitos daqueles que fornecem esses produtos e serviços possa ser efetivada, esses servidores públicos devem ser investidos de poder de polícia. 34 CAPÍTULO 1 Essa nobre função de servidores públicos da área de saúde, especialmente do que chamamos vigilância sanitária e também daqueles que atuam na área de defesa do consumidor, deve ser responsavelmente exercida, afinal estamos falando da responsabilidade de efetivar direitos dos cidadãos brasileiros. CAPÍTULO 2 A PROTEÇÃO E A DEFESA DA SAÚDE DOS CONSUMIDORES 3636 CAPÍTULO 2 Olá, estamos iniciando o capítulo 2. Teremos a oportunidade de aprofundar os conhecimentos sobre as competências dos órgãos que compõem o Sistema Nacional de Defesa do Consumidor (SNDC) e dos órgãos que compõem o Sistema Nacional de Vigilância Sanitária (SNVS). Desejamos que esses conteúdos possam servir para aprimorar ainda mais seus conhecimentos. Para que os direitos à saúde e à defesa do consumidor possam ser viabilizados, o Estado brasileiro definiu políticas públicas de defesa do consumidor e de saúde. Para efetivá-las, o Estado se organiza de forma sistêmica, compondo dois grandes sistemas nacionais: Sistema Nacional de Defesa do Consumidor (SNDC) Sistema Nacional de Vigilância Sanitária (SNVS) 3737 CAPÍTULO 2 1 POLÍTICA NACIONAL DAS RELAÇÕES DE CONSUMO Agora, vamos ver como surgiu a política nacional das relações de consumo. Para isso, temos que discutir o DIREITO DO CONSUMIDOR, relacionando-o ao advento da REVOLUÇÃO INDUSTRIAL que ocorreu no século XVIII. Segundo Sodré (2009), citando Neil McKendrick: A revolução do consumidor ocorreu na Inglaterra no século XVIII juntamente com a revolução industrial. A revolução de consumo foi o lado da demanda análogo ao da oferta proporcionada pela revolução industrial. Todas as classes participaram desta revolução, caracterizada por uma nova prosperidade e novas técnicas de produção e de marketing. A revolução do consumidor é decisiva na história da experiência humana. Se no século XIX os conflitos sociais ocorriam entre trabalhadores e patrões, em meados do século XX, outros atores passam a manifestar-se lutando “pelo acesso ao consumo de bens seguros e a garantia da informação plena a respeito dos produtos e serviços colocados no mercado” (SODRÉ, 2009). Na década de 1960 o movimento de defesa do consumidor ganhou maior fôlego, influenciado pelo discurso do presidente estadunidense John Kennedy, que, em 15 de março de 1962, afirmou perante o Congresso daquele país que “consumidores, por definição, somos todos nós” e que os consumidores, por constituírem “o maior grupo econômico, influenciam e são influenciados por quase todas as decisões econômicas públicas e privadas”. Naquele discurso o presidente reconheceu quatro direitos básicos dos consumidores. Os direitos a: 3838 CAPÍTULO 2 Esse discurso passou a ser um marco para defesa do consumidor em todo mundo. Desde 1983, no dia 15 de março, é comemorado o Dia Mundial dos Direitos do Consumidor. Em 1960, foi criada a International Organization of Consumers Union (IOCU), atual Consumers International (CI), que passou a agregar grupos de consumidores de todos os continentes. 3939 CAPÍTULO 2 SAIBA MAIS A Consumers International é um organismo internacional que reúne membros associados e organizações de consumidores que buscam atuar globalmente em favor dos consumidores. A entidade conta com uma participação disseminada geograficamente de seus membros, tendo ampla representatividade dos países. Para a consecução de seus trabalhos, a Consumers International participa de diversos fóruns importantes que tratam do tema da proteção ao consumidor, opinando e estabelecendo diálogos em favor dos consumidores. A Secretaria Nacional do Consumidor mantém diálogos constantes com a Consumers International sobre os mais diversos temas que envolvem a proteção do consumidor brasileiro e estrangeiro; realizam intercâmbios de informações e experiências; e também pautam sua parceria na realização conjunta de eventos, tais como semináriose workshops. Em novembro de 2014, a Secretaria Nacional do Consumidor passou a condição de membro da organização. (http://www.justica.gov.br/seus-direitos/consumidor/Anexos/consumers-international. Acesso em 19.02.2016). Segundo Rios, Lazzarini e Serrano, no Brasil, assim como nos Estados Unidos e na Europa, as primeiras iniciativas relacionadas aos direitos dos consumidores não nascem dentro da estrutura do Estado, e sim na sociedade civil. 4040 CAPÍTULO 2 1976 Com a criação do primeiro órgão público de defesa do consumidor, o Grupo Executivo de Proteção do Consumidor (Procon), vinculado à Secretaria de Economia e Planejamento do Estado de São Paulo, ganhou fôlego e passou a ser referência para criação de órgãos semelhantes em outras unidades da federação. 1985 Criado o Conselho Nacional de Defesa do Consumidor, com a missão de assessorar a Presidência da República na formulação de políticas de defesa do consumidor, teve em sua composição associações civis de consumidores, Procons Estaduais, a Ordem dos Advogados do Brasil, as Confederações da Indústria, do Comércio e da Agricultura, o Conselho de Autorregulamentação Publicitária, o Ministério Público e representações dos Ministérios da Justiça, da Agricultura, da Saúde, da Indústria e do Comércio e da Fazenda. A missão do Conselho foi além daquilo que estava inicialmente previsto, já que o grupo passou a ter “destacada atuação na elaboração de propostas para Assembleia Constituinte e, principalmente, por ter difundido a importância da defesa do consumidor no Brasil, possibilitando inclusive, a criação de uma Política Nacional de Defesa do Consumidor” (Senacon/MJ). 1988 1991 2012 A proteção do consumidor foi considerada direito fundamental dos cidadãos brasileiros e princípio da ordem econômica, cabendo ao Estado sua defesa (CF, arts. 5º e 170). O texto constitucional também determinou, no art. 48 das Disposições Transitórias, que o Congresso Nacional elaborasse, dentro de cento e vinte dias da promulgação da Constituição, um Código de Defesa do Consumidor (posteriormente, a Lei n. 8.078/90). Criação do Departamento Nacional de Defesa do Consumidor, ligado ao Ministério da Justiça e Segurança Pública, e posteriormente da Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon). A Senacon, órgão ao qual o Departamento passou a ser subordinado, permitiu que o planejamento, a elaboração, a coordenação e a execução da Política Nacional das Relações de Consumo (PNRC) pudesse ser orquestrada. A Senacon é o órgão público federal de proteção e defesa do consumidor que, além de coordenar a PNRC, atua na integração e na articulação do SNDC, mantém cooperação técnica com outros órgãos públicos e agências federais e promove e coordena diálogos setoriais com os representantes do mercado, representando os interesses dos consumidores brasileiros. Ademais, atua na advocacia normativa dos direitos dos consumidores e na prevenção e na repressão das práticas infratoras em âmbito nacional. 4141 CAPÍTULO 2 1.1 CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR (CDC) Em 1990 foi sancionada a Lei n. 8.078, conhecida como Código de Defesa do Consumidor (CDC), considerada uma das mais avançadas do mundo. O texto legal busca maior equiparação das forças que atuam no mercado de consumo e garante a possibilidade de o consumidor ter seus direitos respeitados, especialmente no tocante à sua saúde e segurança. Consumidor – “toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final” (CDC, art. 2º). No Brasil, o pressuposto básico do direito do consumidor é o princípio da vulnerabilidade. Para a legislação brasileira, a vulnerabilidade se configura na fragilidade do consumidor diante de práticas do fornecedor, sendo, por isso, necessária a ação estatal em sua proteção. Cabe observar que existem diferentes visões doutrinárias e jurídicas em relação às empresas, quando se trata do alcance da expressão “destinatário final”. Nesse ponto, são três principais teorias. Para exis�r uma relação de consumo, são necessárias as figuras do consumidor, do fornecedor e de um produto ou serviço. Assim, vejamos cada um desses conceitos de acordo com o CDC. 4242 CAPÍTULO 2 SAIBA MAIS A primeira delas é a teoria finalista, segundo a qual o consumidor (destinatário final) é apenas a pessoa física ou jurídica que adquire o produto ou serviço para utilizá-lo de forma a satisfazer uma necessidade privada, desde que não haja a utilização desse bem ou desse serviço com a finalidade de produzir, desenvolver atividade comercial ou mesmo profissional. Os finalistas afirmam que, ao se adquirir um produto ou serviço com a finalidade de desenvolver uma atividade de produção, este não estaria utilizando o produto ou serviço como destinatário final. De acordo com a corrente finalista, o comerciante e o profissional poderão ser considerados como consumidores quando adquirirem produtos ou contratarem serviços para o uso não profissional, ou seja, que não tenham nenhuma ligação com a sua atividade produtiva. Por sua vez, a teoria maximalista aponta que o consumidor (destinatário final) seria toda e qualquer pessoa física ou jurídica que retira o produto ou o serviço do mercado e o utiliza. Nessa corrente não importa se a pessoa adquire ou utiliza o produto ou o serviço para o uso privado ou para o uso profissional. Já a teoria mista, ou finalista temperada ou teoria finalista aprofundada, mescla elementos das duas teorias já mostradas. Segundo seus defensores, o consumidor (ou destinatário final) é a pessoa que adquire o produto ou o serviço para o uso privado, mas se admite sua utilização em atividade de produção, com o fim de desenvolver atividade comercial ou profissional, considerada a necessidade de verificação da vulnerabilidade dessa pessoa física ou jurídica que está adquirindo o produto ou contratando o serviço. Assim, conforme a política estabelecida pelo órgão de proteção e defesa do consumidor, a pessoa jurídica poderá ou não ser atendida em relação à sua demanda no órgão estadual ou municipal da sua cidade. Além disso, existe no Brasil a figura do Microempreendedor Individual (MEI), categoria jurídica direcionada às pessoas que trabalham por conta própria, faturam até R$ 60 mil ao ano, não possuem participação em outras empresas como sócio 4343 CAPÍTULO 2 ou titular e empregam no máximo um funcionário, que recebe o salário-mínimo ou o piso da categoria. Segundo entendimento da Secretaria Nacional do Consumidor (Nota Técnica n.014/2015), os MEIs poderão recorrer aos Procons, órgãos estaduais e municipais de defesa do consumidor, para solucionar conflitos relacionados ao consumo de produtos e serviços. Fornecedor - “é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços” (CDC, art. 3º). É importante frisar que o fornecedor é considerado como tal, mesmo sem auferir lucro de sua atividade. Importante também destacar que, ao considerar fornecedor “pessoa jurídica pública”, o CDC submete os prestadores de serviços públicos ao respeito às suas disposições. Produto - “é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial” (CDC, art. 3º, §1°). Serviço - “é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista” (CDC, art. 3º, §1°). “O CDC trata os bens da vida como produtos ou serviços” (Manual de Direito do Consumidor/Senacon - 4ª Ed.) e, portanto, vai além dos produtos e serviços que são objeto deste livro: os produtos e serviços de interesse da saúde. O Código estabelece que a Política Nacional das Relações de Consumo (PNRC) tem por objetivo: 4444 CAPÍTULO2 o atendimento das necessidades dos consumidores, o respeito à sua dignidade, saúde e segurança, a proteção de seus interesses econômicos, a melhoria da sua qualidade de vida, bem como a transparência e harmonia das relações de consumo... LEGISLAÇÃO O CDC estabelece princípios, reconhecendo a vulnerabilidade do consumidor no mercado de consumo, a necessidade de ações governamentais voltadas à sua defesa, a importância da educação e da informação, tanto de fornecedores como de consumidores, esclarecendo seus direitos e deveres e a repressão eficiente de todos os abusos praticados no mercado de consumo. Também enfatizou a necessidade de racionalização e melhoria dos serviços públicos e de estudos constantes das modificações do mercado de consumo (CDC, art. 4º). Ao estabelecer esses princípios, mais uma vez é importante lembrar que também os órgãos públicos devem atendê-los, pois, como já foi apresentado, eles também são, na qualidade de fornecedores de produtos e serviços, “pessoas jurídicas públicas”, estando sujeitos aos ditames do Código. O Código estabelece direitos básicos do consumidor, ou seja, condições mínimas que devem ser atendidas para que o consumidor possa conviver dignamente com o mercado. São direitos básicos do consumidor, no seu art. 6°, entre outros: 4545 CAPÍTULO 2 1- Educação e divulgação sobre o consumo adequado dos produtos e serviços, asseguradas a liberdade de escolha e a igualdade nas contratações. Lorem ipsum dolor sit amet, consectetuer adipiscing elit, sed diam nonummy nibh euismod tincidunt ut laoreet dolore magna aliquam erat volutpat. Ut wisi enim ad minim veniam, quis nostrud exerci tation ullamcorper suscipit lobortis nisl ut aliquip ex ea commodo consequat. Duis autem vel eum iriure dolor in hendrerit in vulputate velit esse molestie consequat, vel illum dolore eu feugiat nulla facilisis at vero eros et accumsan et iusto odio dignissim qui blandit praesent luptatum zzril delenit augue duis dolore te feugait nulla facilisi.Lorem ipsum dolor sit amet, cons ectetuer adipiscing elit, sed diam nonummy nibh euismod tincidunt ut laoreet dolore magna aliquam erat volutpat. Ut wisi enim ad minim veniam, quis nostrud exerci tation ullamcorper suscipit lobortis nisl ut aliquip ex ea commodo consequat. 2- Informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, com especificação correta de quantidade, características, composição, qualidade, tributos incidentes e preço, bem como sobre os riscos que apresentem. ESCORREGADOR GIGANTE O escorregador é gigante e você vai se divertir muito! Compre já o seu! 3- Proteção contra a publicidade enganosa e abusiva, métodos comerciais coercitivos ou desleais, bem como contra práticas e cláusulas abusivas ou impostas no fornecimento de produtos e serviços. 4- Proteção da vida, saúde e segurança contra os riscos provocados por práticas no fornecimento de produtos e serviços considerados perigosos ou nocivos. CO N S U M I D O R Transporte aéreo Transporte terrestre Fornecimento de energia elétrica Abastecimento de água Serviços de telecomunicações 5- Adequada e eficaz prestação dos serviços públicos em geral. (CDC art. 6º) 4646 CAPÍTULO 2 Em relação à qualidade de produtos e serviços, o Código define com objetividade que: LEGISLAÇÃO “os produtos e serviços colocados no mercado de consumo não acarretarão riscos à saúde ou segurança dos consumidores, exceto os considerados normais e previsíveis em decorrência de sua natureza e fruição, obrigando-se os fornecedores, em qualquer hipótese, a dar as informações necessárias e adequadas a seu respeito” (CDC art.8º). Cabe ressaltar que as informações ao consumidor devem ser claras e são um elemento essencial do próprio produto. Ao tratar da informação e por considerá-la instrumento fundamental para efetivação dos direitos básicos do consumidor, o CDC responsabiliza fortemente o fornecedor que não a disponibiliza de forma ostensiva, adequada e oportuna. Nesse sentido, a falha de informação é considerada defeito no produto ou no serviço se for capaz de gerar riscos ao consumidor. Ainda na mesma esteira, o ar�go 10 do CDC prevê que o fornecedor não pode colocar no mercado de consumo produto ou serviço que apresente risco ao consumidor. Caso o fornecedor tome conhecimento de tal risco, é sua obrigação comunicar o fato imediatamente às autoridades competentes e à cole�vidade de consumidores. E promover a re�rada do risco do mercado, ação conhecida como recall ou processo de chamamento. 4747 CAPÍTULO 2 LEGISLAÇÃO O Código determina que “a defesa dos interesses e direitos dos consumidores e das vítimas poderá ser exercida em juízo individualmente, ou a título coletivo”, esclarecendo que, para esse fim, são legitimados concorrentemente o Ministério Público; a União, os Estados, os Municípios e o Distrito Federal; as entidades e órgãos da Administração Pública, direta ou indireta, ainda que sem personalidade jurídica, especificamente destinados à defesa dos interesses e direitos protegidos por este código; as associações legalmente constituídas há pelo menos um ano, e que incluam, entre seus fins institucionais, a defesa dos interesses e direitos protegidos por este código” (CDC arts. 81 e 82). Em mais de cem artigos, o CDC define os direitos, a política, as questões sobre qualidade de produtos e serviços, a prevenção e a reparação de danos, e caracteriza infrações e estabelece penalidades. É com esse instrumento legal que o cidadão brasileiro pode fazer valer seus direitos na sua condição de consumidor, não só, mas especialmente, no tocante à sua saúde e segurança. O Código também estabelece a organização das instituições e dos atores que participam da Política de Defesa do Consumidor, configurando sua articulação em um sistema, o Sistema Nacional de Defesa do Consumidor. 4848 CAPÍTULO 2 Lei n. 7.347/1985 Disciplina a ação civil pública de responsabilidade por danos causados ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico e dá outras providências. Lei n. 8.078/1990 Dispõe sobre a proteção e a defesa do consumidor. É conhecida como Código de Defesa do Consumidor. Lei n. 12.741/2012 A lei estabelece que deverá constar nos documentos �scais informações equivalentes ao valor aproximado correspondente à totalidade dos tributos federais, estaduais e municipais, cuja incidência in�ui na formação dos respectivos preços de venda. Decreto n. 2.181/1997 O Decreto dispõe sobre a organização do Sistema Nacional de Defesa do Consumidor (SNDC) e estabelece as normas gerais de aplicação das sanções administrativas previstas no CDC. Decreto n. 7.738/2012 Estabelece, dentre outros, regras para a Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon), alterando o Decreto n. 2.181, de 20 de março de 1997. Decreto n. 7.963/2013 Institui o Plano Nacional de Consumo e Cidadania (Plandec). Decreto n. 8.573/2015 Dispõe sobre o Consumidor.gov.br, sistema alternativo de solução de con�itos de consumo. Leis e Decretos 4949 CAPÍTULO 2 1.2 SISTEMA NACIONAL DE DEFESA DO CONSUMIDOR (SNDC) Para que a proteção e a defesa do consumidor sejam efetivadas, o CDC criou o Sistema Nacional de Defesa do Consumidor (SNDC), regulamentado pelo Decreto n. 2.181/97. O SNDC tem como missão possibilitar que a atividade de proteção e defesa do consumidor seja exercida de forma organizada e coordenada, a fim de garantir maior “segurança e eficiência nos resultados aos cidadãos” (Manual de Direito do Consumidor/Senacon-4ª Ed.). O referido Sistema integra, sem hierarquizar ou subordinar, a Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon), do Ministério da Justiça e Segurança Pública, os Procons Estaduais e Municipais e do Distrito Federal, o Ministério Público, as Defensorias Públicas e as entidades civis de defesa do consumidor. 5050 CAPÍTULO 2 01 02 Além da Senacon, atualmente a estrutura do SNDCé composta por: Procons Estaduais compostos por 26 unidades, além do Distrito Federal, e 825 Municipais. Ministério Público nas 27 unidades federativas e Ministério Público Federal. Defensoria Pública nas 27 unidades federativas e no Distrito Federal. 18 Entidades civis de defesa do consumidor. Os Procons são órgãos públicos que elaboram, coordenam e executam a política estadual ou municipal de proteção e defesa do consumidor, integram e coordenam os sistemas estaduais ou municipais de defesa do consumidor, realizam o atendimento e a orientação ao consumidor e fiscalizam as práticas infrativas aos direitos dos consumidores nos estados e municípios. O Ministério Público promove a atuação na defesa dos interesses difusos e coletivos dos consumidores, e contribui para a construção e a implementação de políticas públicas. A Defensoria Pública atua no atendimento, na orientação e na assistência jurídica e judicial aos consumidores de baixa renda. Também atua no âmbito coletivo e na construção e na implementação de políticas públicas. A participação de Organizações Civis de defesa do consumidor também foi contemplada no CDC. A Política Nacional das Relações de Consumo prevê, inclusive, a “concessão de estímulos à criação e desenvolvimento das Associações de Defesa do Consumidor” (art. 5ª, inciso V). Entidades civis de defesa do consumidor, desde que obedecidas às exigências do CDC, podem, inclusive, representar coletivamente os consumidores em juízo. Senacon 0304 05 06 07 5151 CAPÍTULO 2 O país conta com dezenas de organizações da sociedade civil que atuam na defesa dos diretos dos consumidores em praticamente todos os estados brasileiros. Várias dessas entidades se articulam em um Fórum de Entidades Civis de Defesa do Consumidor (FNECDC), trocando informações, desenvolvendo ações conjuntas e fortalecendo o movimento civil de defesa do consumidor. As entidades são originalmente plurais, mas todas têm como missão defender os interesses do consumidor, atuando dentro dos princípios éticos, como: independência, transparência e democracia, solidariedade e compromisso social. SAIBA MAIS São entidades do FNECDC: - ABCCON/MS – Associação Brasileira da Cidadania e do Consumidor do Mato Grosso do Sul - ABED/CE – Associação Brasileira de Economistas Domésticas do Ceará - ABRACON – Associação Brasileira do Consumidor do Rio de Janeiro - ACOPA/PR – Associação dos Consumidores de Produtos Orgânicos do Paraná - ACV/RO – Associação Cidade Verde de Rondônia - ADCB/JE/BA – Associação das Donas de Casa da Bahia – Jequié - ADECCON/PE – Associação de Defesa da Cidadania e do Consumidor de Pernambuco - ADOC – Associação de Defesa e Orientação do Cidadão de Curitiba - ADOCON/TB – Associação das Donas de casa, dos Consumidores e da Cidadania de Tubarão – Santa Catarina - ADUSEPS – Associação dos Usuários de Seguros, Planos e Sistemas de Saúde – Pernambuco - CDC/RN – Centro de Defesa do Consumidor do Rio Grande do Norte - DECONOR – Comitê de Defesa do Consumidor Organizado de Florianópolis - FEDC/RS – Fórum Estadual de Defesa do Consumidor – Rio Grande do Sul - ICONES – Instituto para o Consumo Educativo Sustentável de Belém - IDEC/SP – Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor – São Paulo - MDC/GO – Movimento das Donas de Casa de Goiás 5252 CAPÍTULO 2 - MDCCB – Movimento de Donas de Casa e Consumidores da Bahia - MDC/MG – Movimento das Donas de Casa e Consumidores de Minas Gerais - MDCC/RS – Movimento das Donas de Casa do Rio Grande do Sul Entidades como a Associação Brasileira de Procons (ProconsBrasil), a Associação Nacional do Ministério Público do Consumidor (MPCon), o Conselho Nacional de Defensores Públicos Gerais (Condege), o Fórum Nacional de Juizados Especiais (Fonaje) e o Instituto Brasileiro de Política e Direito do Consumidor (Brasilcon) desempenham importante papel na defesa dos interesses dos consumidores. 5353 CAPÍTULO 2 1.2.1 COMPETÊNCIAS DA SENACON I - Planejar, elaborar, propor, coordenar e executar a política nacional de proteção e defesa do consumidor. II - Receber, analisar, avaliar e apurar consultas e denúncias apresentadas por entidades representativas ou pessoas jurídicas de direito público ou privado ou por consumidores individuais. III - Prestar aos consumidores orientação permanente sobre seus direitos e garantias. IV - Informar, conscientizar e motivar o consumidor, por intermédio dos diferentes meios de comunicação. V - Solicitar à polícia judiciária a instauração de inquérito para apuração de delito contra o consumidor, nos termos da legislação vigente. VI - Representar o Ministério Público competente para �ns de adoção de medidas processuais, penais e cívis, no âmbito de suas atribuições. VII - Levar ao conhecimento dos órgãos competentes as infrações de ordem administrativa que violarem os interesses difusos, coletivos ou individuais dos consumidores. VIII - Solicitar o concurso de órgãos e entidades da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, bem como auxiliar na �scalização de preços, de abastecimento, de quantidade e de segurança de produtos e serviços. IX - Incentivar, inclusive com recursos �nanceiros e outros programas especiais, a criação de órgãos públicos estaduais e municipais de defesa do consumidor e a formação, pelos cidadãos, de entidades com esse mesmo objetivo. XIII - Desenvolver outras atividades compatíveis com suas �nalidades. Parágrafo único – Para a consecução de seus objetivos, a Senacon poderá solicitar o concurso de órgãos e entidades de notória especialização técnico-cientí�ca. Conforme estabelece o CDC, em seu art. 106, posteriormente regulamentado pelo Decreto n. 2.181/97, compete à Senacon a coordenação do Sistema Nacional de Defesa do Consumidor (SNDC), cabendo à Secretaria: 5454 CAPÍTULO 2 Além das atividades definidas no CDC, o Decreto n. 2.181/97 estabeleceu que compete à Secretaria: “fiscalizar e aplicar as sanções administrativas previstas na Lei n. 8078/90, e em outras normas pertinentes à defesa do consumidor; celebrar convênios e termos de ajustamento de conduta, na forma do § 6º do art. 5º da Lei n. 7347/85; (Redação dada pelo Decreto n. 7.738/2012); elaborar e divulgar o cadastro nacional de reclamações fundamentadas contra fornecedores de produtos e serviços, a que se refere o art. 44 da Lei n. 8078/90.” Em 2012, foi criada a Coordenação de Saúde e Segurança do Consumidor, como principais ações: 3 Analisar e encaminhar denúncias e consultas relativas às relações de consumo. 2 Analisar, acompanhar e monitorar campanhas de chamamento (recalls) em todo o país. 1 Executar e acompanhar ações relacionadas à proteção da vida, saúde e segurança do consumidor. 4 Analisar e instruir procedimentos administrativos. 5 Analisar e emitir informações, notas e pareceres de natureza técnica nos procedimentos administrativos que visem à apuração de condutas infringentes aos direitos do consumidor em questões de saúde e segurança. 7 Acompanhar as atividades referentes à proteção e defesa do consumidor. 6 Realizar estudos na área de proteção à vida, à saúde e à segurança do consumidor. Saúde e segurança do consumidor 5555 CAPÍTULO 2 Por meio da Coordenação de Consumo Seguro e Saúde, a Senacon atua no desenvolvimento de políticas públicas articuladas, que possibilitam o aprimoramento da ação fiscalizatória do Estado. Pela atuação conjunta com outros órgãos governamentais, o órgão trabalha na detecção de possíveis riscos à saúde e à segurança da coletividade de consumidores, minorando as chances de ocorrência de acidentes de consumo e monitorando a ação de fornecedores no cumprimento do Código de Defesa do Consumidor. Na sociedade contemporânea, em que se nota o aumento da quantidade e da complexidade das relações de consumo, a definição de uma política de saúde e segurança para as relações de consumo apresenta-se especialmente relevante.No âmbito da Senacon, a Coordenação de Consumo Seguro e Saúde desenvolve esse processo. Como exemplos, cabe citar que o Brasil administra, hoje, por meio da Senacon, o Sistema Nacional de Alertas Rápidos de Recall – o único sistema nacional da América Latina por meio do qual consumidores e entidades cadastrados recebem, por via eletrônica, mensagens de alerta, sempre que um novo recall é protocolizado no âmbito da Senacon. IMPORTANTE Em 2009 a Senacon e a Anvisa assinaram um Acordo de Cooperação Técnica cujo objeto era “atuação integrada no âmbito da relação institucional entre os órgãos, com vistas a realizar o intercâmbio de informações e promover ações conjuntas que aprimorem o desempenho de atividades que garantam a efetiva proteção e defesa do consumidor”, tendo como foco “a necessidade de resguardar o consumidor de produtos e serviços colocados no mercado de consumo que apresentam riscos à sua saúde e segurança”. 5656 CAPÍTULO 2 Além do exposto, a Senacon conta com o Sistema Nacional de Informações de Defesa do Consumidor (Sindec), que é um sistema informatizado que integra processos e procedimentos relativos ao atendimento de consumidores nos Procons, visando proporcionar um instrumento de gestão adequado ao dinamismo típico de seus setores de atendimento. Ele é resultado de um trabalho integrado, realizado segundo a lógica da parceria, e se constitui em um instrumento que permite amplificar a voz de milhões de consumidores em todo o Brasil. DICA Conheça os indicadores do Sindec na página do portal www.defesadoconsumidor. gov.br Além das competências citadas, a Senacon também possui em sua estrutura a Escola Nacional de Defesa do Consumidor que atua na construção do conhecimento de proteção e defesa do consumidor, na formação e na capacitação do SNDC e de órgãos parceiros que trabalham com a temática da proteção e defesa do consumidor. 5757 CAPÍTULO 2 1.2.2.COMPETÊNCIAS DOS PROCONS Atenção! Veremos agora o que compete aos Procons e à En�dade ou aos órgãos da Administração Pública federal, estadual e municipal. Compete aos Procons: LEGISLAÇÃO “planejar, elaborar, propor, coordenar e executar a política estadual, do Distrito Federal e municipal de proteção e defesa do consumidor, nas suas respectivas áreas de atuação; dar atendimento aos consumidores, processando, regularmente, as reclamações fundamentadas; fiscalizar as relações de consumo; funcionar, no processo administrativo, como instância de instrução e julgamento, no âmbito de sua competência, dentro das regras fixadas pela Lei n. 8078/90, pela legislação complementar e por este Decreto; elaborar e divulgar anualmente, no 5858 CAPÍTULO 2 âmbito de sua competência, o cadastro de reclamações fundamentadas contra fornecedores de produtos e serviços, de que trata o art. 44 da Lei n. 8078/90 e remeter cópia à Secretaria Nacional do Consumidor do Ministério da Justiça e Segurança Pública (Redação dada pelo Decreto n. 7738/2012); desenvolver outras atividades compatíveis com suas finalidades.” (Dec. n. 2181/97, art. 4º). Outras competências: LEGISLAÇÃO Entidade ou órgãos da Administração Pública, federal, estadual e municipal, “destinados à defesa dos interesses e direitos do consumidor têm, no âmbito de suas respectivas competências, atribuição para apurar e punir infrações ao Decreto n. 2.181/97 e à legislação das relações de consumo”, bem com “poderão celebrar compromissos de ajustamento de conduta às exigências legais, nos termos do § 6º do art. 5º da Lei n. 7.347/85, na órbita de suas respectivas competências” (Dec. n. 2181/97, art. 5º e 6º). Destacamos dois órgãos de Estado que cumprem funções essenciais à justiça, embora não estejam subordinados ao Poder Judiciário: o Ministério Público e a Defensoria Pública. 5959 CAPÍTULO 2 1.2.3 COMPETÊNCIAS DO MINISTÉRIO PÚBLICO Cabe ao Ministério Público da União e dos estados, entre outras funções, zelar pela defesa do regime democrático, pela aplicação e pelo respeito às leis, pelos interesses sociais, instaurar inquéritos e propor ações coletivas. O Ministério Público tem cumprido importante papel, representando a coletividade de consumidores, especialmente em situações em que é difícil identificar quem e quantos são os consumidores lesados ou potencialmente lesados, ajuizando Ações Civis Públicas, firmando Termos de Ajustamento de Conduta, instaurando inquéritos civis para apuração de infrações à legislação de consumo e promovendo ações penais públicas relativas às infrações penais de consumo. O Ministério Público conta com a legitimidade exclusiva para promover ação penal pública em decorrência de possíveis infrações penais de consumo. Para os casos em que a lesão for coletiva, o Ministério Público ajuizará ação civil pública (ação coletiva), com o encaminhamento ao Poder Judiciário, para que suas decisões atinjam a proteção dos consumidores, inclusive com reparação de danos (materiais e morais). 1.2.4 COMPETÊNCIAS DA DEFENSORIA PÚBLICA No âmbito da advocacia pública, a Defensoria Pública da União, do Distrito Federal, Territórios e estados tem como função “fornecer orientação jurídica e defesa, em todos os graus, dos necessitados”, (art. 5º, LXXIV da CF). Por necessitados deve- se compreender as pessoas que não possuem recursos econômicos para recorrer a advogados particulares. Para cumprir sua missão institucional, a Defensoria Pública pode propor ações individuais ou coletivas. Ao cumprir esse papel constitucional, a Defensoria Pública democratiza o acesso à justiça para aqueles que não têm recursos econômicos para contratar advogados que possam defender seus direitos. 6060 CAPÍTULO 2 É importante destacar que a Defensoria Pública tem exercido relevante função na defesa coletiva dos consumidores, resolvendo questões de numerosos consumidores e garantindo-lhes o acesso à justiça. DESTAQUE A Política Nacional de Defesa do Consumidor conta ainda com a participação de delegacias de polícia especializadas no atendimento de consumidores vítimas de infrações penais de consumo, e com juizados especiais civis com atribuição de processar e julgar lesões sofridas pelos consumidores que envolvem danos que não envolvam valores superiores a 40 salários-mínimos vigentes. As Agências Reguladoras, responsáveis pelo controle, pela fiscalização e pela gestão de políticas, além de suas competências próprias, devem receber reclamações fundamentadas de consumidores e tomar as devidas providências administrativas. 1.3 PLANO NACIONAL DE CONSUMO E CIDADANIA (PLANDEC) Em março de 2013 a Política Nacional das Relações de Consumo passou a contar com um Plano Nacional de Consumo e Cidadania (Plandec), que reconheceu a proteção e a defesa do consumidor como política de Estado. O objetivo do Plano é: 6161 CAPÍTULO 2 LEGISLAÇÃO “garantir o atendimento das necessidades dos consumidores; assegurar o respeito à dignidade, saúde e segurança do consumidor; estimular a melhoria da qualidade de produtos e serviços colocados no mercado de consumo; assegurar a prevenção e a repressão de condutas que violem direitos do consumidor; promover o acesso a padrões de produção e consumo sustentáveis e promover a transparência e harmonia das relações de consumo” (Dec. n. 7963/2013, art. 3º). Para a efetivação desse propósito, são definidas diretrizes, como: LEGISLAÇÃO “educação para o consumo; adequada e eficaz prestação dos serviços públicos; garantia do acesso do consumidor à justiça; garantia de produtos e serviços com padrões adequados de qualidade, segurança, durabilidade e desempenho; fortalecimento da participação social na defesa dos consumidores; prevenção e repressão de condutas que violem direitos do consumidor; e autodeterminação, privacidade, confidencialidade e segurança das informações e dados pessoais prestados ou coletados, inclusive por meio eletrônico” (Dec. n. 7963/2013, art. 1º). 6262 CAPÍTULO 2 No âmbito federal, as ações prioritárias da PNRC previstasno referido Decreto devem atender a três eixos principais: Prevenção e solução de conflitos de consumo Regulação e fiscalização do mercado de consumo Fortalecimento do Sistema Nacional de Defesa do Consumidor SAIBA MAIS Para se aprofundar mais a respeito dos três eixos, sugerimos que realize o nosso curso de Introdução à Defesa do Consumidor. No Plano estão envolvidos diversos órgãos governamentais, compondo a Câmara Nacional das Relações de Consumo, que conta com um Conselho de Ministros e um Observatório das Relações de Consumo. As atividades do Conselho de Ministros e o Observatório das Relações de Consumo são regulamentadas pelo Dec. n. 7.963/2013. O Conselho de Ministros é presidido pelo Ministro da Justiça e coube à Senacon as funções de Secretaria- 6363 CAPÍTULO 2 Executiva do Conselho. O Conselho tem como atribuição “orientar a formulação, a implementação, o monitoramento e a avaliação do Plano” (Dec. nº 7963/2013, art. 10). O Observatório das Relações de Consumo deve acompanhar a execução das políticas, programas e ações do Plano, promovendo estudos e formulando propostas para que os objetivos do Plandec possam ser atingidos. A estrutura do Observatório é composta por uma Secretaria Executiva, cujas funções são atribuídas à Senacon, e mais 3 Comitês: Comitê Técnico de Consumo e Regulação; Comitê Técnico de Consumo e Turismo; e Comitê Técnico de Consumo e Pós-Venda. DESTAQUE A Anvisa integra o Comitê Técnico de Consumo e Turismo. 1.4 CONSUMIDOR.GOV.BR Outra iniciativa que merece destaque é o Consumidor.gov. br, serviço público lançado pela Senacon, em junho de 2014, que permite a interlocução direta entre consumidores e empresas para solução de conflitos de consumo pela internet. Monitorada pela Senacon, pelos Procons, pelas Defensorias Públicas, pelos Ministérios Públicos e também por toda a sociedade, a ferramenta, concebida com base em princípios de transparência e controle social possibilita a resolução de conflitos de consumo de forma rápida e desburocratizada. Em síntese, o atendimento realizado por meio do Consumidor.gov.br ocorre da seguinte forma: 6464 CAPÍTULO 2 O desempenho das empresas participantes também pode ser monitorado. Há um módulo de indicadores que permite qualquer consumidor pesquisar o conteúdo das reclamações dos consumidores, as respostas das empresas e o comentário final dos consumidores (na avaliação do atendimento). Inclusive é possível pesquisar a informação por meio do uso de filtros diversos, como: palavras-chave, segmento de mercado, fornecedor, dados geográficos, área, assunto, problema, período, classificação (resolvida/não resolvida/não avaliada) e/ou nota de satisfação. A riqueza desse conteúdo permite a qualquer interessado promover a elaboração de inúmeras outras análises e cruzamentos então não contemplados pelas consultas disponíveis na plataforma. 6565 CAPÍTULO 2 Entre os participantes estão empresas de segmentos historicamente muito reclamadas como telecomunicações, bancos, aviação civil, comércio eletrônico, varejo e indústria. IMPORTANTE Importante registrar que o índice médio de solução das demandas dos consumidores é de 80% e o tempo médio de resposta é de 7 dias. 2 VIGILÂNCIA SANITÁRIA NO BRASIL Chegada da família real ao Brasil e abertura dos portos. A área de vigilância sanitária é considerada a con�guração mais antiga dos serviços voltados à saúde pública. Cartas Régias de�nindo as atividades de saúde pública e atribuições do “Phisico-Mór”. O Alvará de 22 de janeiro de 1810 trazia as atribuições de ordem santária. As atividades sanitárias tinham um caráter �scalizador, julgador e punitivo. Não havia um trabalho preventivo. As autoridades detinham o poder de tributar e arrecadar as taxas sobre os respectivos serviços. O poder público atuava determinando regras que disciplinavam comportamentos e relações, exercendo a �scalização e seu cumprimento. Intervenções de cunho sanitário, a �m de conter epidemias e inserir o país nas rotas de comércio internacional. Intensi�cação do �uxo de embarcações e circulação de mercadorias e de passageiros no país. Com a intensi�cação de embarcações, circulação de passageiros e mercadorias, surgiu a necessidade do controle sanitário nas áreas portuárias, com o objetivo de evitar doenças epidêmicas e criar condições de aceitação dos produtos brasileiros no mercado internacional. 6666 CAPÍTULO 2 Veja nas datas correspondentes a trajetória da Vigilância Sanitária. 1820 1950 1961 1976 1980 1990 Em 1820 foi criada a Inspetoria de Saúde Pública do Porto do Rio de Janeiro e logo foram estabelecidas normas para organizar a vida nas cidades, que regularam gêneros alimentícios, açougues, matadouros, casas de saúde, medicamentos, cemitérios, entre outros. Por meio da promulgação de leis, da estruturação e da reforma de serviços sanitários e dos rearranjos da estrutura do Estado, as intervenções sanitárias foram aos poucos institucionalizadas. Do período monárquico até a transição para a República, e acompanhando a instauração da nova ordem política, econômica e social, o que hoje denominamos Vigilância Sanitária, foi se formando no âmago do setor da saúde. Esse subsetor organizou suas ações sob o esteio do “poder de polícia”, cuja face mais visível é a fiscalização e a aplicação de penalidades. Ao longo do século XX, os serviços de Vigilância Sanitária passaram por inúmeras reformas, de maior ou menor envergadura, e houve uma intensa produção de leis e normas concentradas, sobretudo na normatização das áreas de medicamentos e alimentos. A década de 1950 foi marcada pela criação do Ministério da Saúde (MS), em 1953 e, no ano seguinte, pela criação do Laboratório Central de Controle de Drogas e Medicamentos (LCCDM). Em 1961 foi regulamentado o Código Nacional de Saúde e, no final dessa mesma década, foi editado o Decreto-Lei n. 986/69, que estabeleceu as normas básicas para alimentos, que continuam em vigor até os dias atuais. 6767 CAPÍTULO 2 Em 1976, com a reestruturação do Ministério da Saúde, foi criada a Secretaria Nacional de Vigilância Sanitária. Segundo o Decreto n. 79.056/76, coube à nova Secretaria “promover ou elaborar, controlar a aplicação e fiscalizar o cumprimento de normas e padrões de interesse sanitário relativos a portos, aeroportos, fronteiras, produtos médico-farmacêuticos, bebidas, alimentos e outros produtos ou bens, respeitadas as legislações pertinentes, bem como efetuar o controle sanitário das condições do exercício profissional relacionado com a saúde”. A estrutura da Secretaria denotava, claramente, maior ênfase às ações de controle da qualidade dos produtos de interesse da saúde: alimentos, cosméticos, saneantes (produtos destinados à limpeza e desinfecção de ambientes) e medicamentos. As relações dos serviços de Vigilância Sanitária federal e estaduais eram extremamente frágeis e a insuficiência de recursos não permitiu que os serviços fossem adequadamente organizados, nas diferentes esferas de governo, para acompanhar as demandas crescentes do parque produtivo. Desse modo, a Vigilância Sanitária limitou sua atuação, adotando um modelo cartorial, baseado apenas na análise documental, sem a confirmação das informações por meio de inspeção sanitária (LUCCHESE, 2006). Na década de 1980, no bojo da Nova República e do processo de redemocratização do país, surgiu o Movimento de Reforma Sanitária. O Movimento foi liderado por um grupo de profissionais de saúde, inclusive da área de Vigilância Sanitária, e os debates daquele período formularam as bases para a atual política de saúde materializada no Sistema Único de Saúde, o SUS. Em 1985 foi realizado o Seminário Nacional de Vigilância Sanitária, cujo objetivo principal foi firmar a necessidade de definição da Política Nacional de Vigilância Sanitária, integrada à Política Nacional de Saúde. Em 1986, dois importantes eventos discutiram bases
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