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Ana Carolina Simões – MED 105 – PAPM III 12/05/2022 Sopros Introdução Diferente da procura pelas bulhas acessórias, e semelhante ao primeiro passo da asculta cardíaca, a procura por sopros é realizada em todos os focos e com o uso do diafragma do estetoscópio O fluxo dentro de uma estrutura vascular é laminar, portanto, com baixo atrito entre suas partículas, motivo pelo que não percebemos ruídos do sangue movendo dentro do coração Quando o fluxo passa de laminar para turbilhonar, o choque entre as partículas aumenta, podendo então causar um ruído que chamamos de sopro Normalmente um sopro depende do volume sanguíneo, então, havendo um maior volume, há mais sopro A detecção de sopros durante o exame clínico do paciente pode ser de extrema valia para a detecção de valvopatias, estados de hiperfluxo ou outras alterações estruturais cardíacas Durante a ausculta de um sopro cardíaco, é preciso que sejam estabelecidas as seguintes características: Fase do ciclo cardíaco: sistólicos, diastólicos e sistodiastólicos/contínuos Os sopros contínuos são ouvidos durante toda a sístole e a diástole, sem interrupção, recobrindo e mascarando a B1 e a B2 o A parte sistólica desses sopros costuma ser mais intensa e mais rude o São designados sopros “em maquinaria” porque lembram o ruído de máquina a vapor em movimento. o Aparecem na persistência do canal arterial, nas fístulas arteriovenosas, nas anomalias dos septos aortopulmonares e no rumor venoso. Localização (epicentro) e irradiação: local onde o sopro é mais audível (frequentemente nos principais focos de ausculta) e seu padrão de irradiação (axila, dorso, epigástrico, fúrcula, carótidas) A patologia de persistência do canal arterial (persistência do canal que liga a artéria pulmonar com a artéria aorta presente na vida intrauterina após o nascimento) apresenta um sopro bem audível acima da clavícula esquerda Ana Carolina Simões – MED 105 – PAPM III 12/05/2022 Duração (fase em que as vibrações ocorrem predominantemente): proto (início), meso (meio), tele (final) ou holo (todo a fase do ciclo) sistólicos ou diastólicos. Intensidade (amplitude das vibrações) – pode ser graduado em 6 cruzes: Grau 1+/6+: difícil de ser auscultado, detectável somente com muita atenção ou com manobras específicas Grau 2+/6+: sopro leve, porém detectável Grau 3+/6+: sopro moderado e frequentemente com irradiação. Grau 4+/6+: sopro alto, com presença de frêmito palpável e uso do esteto colado à parede torácica Grau 5+/6+: sopro muito alto que pode ser auscultado mesmo com o estetoscópio em contato parcial com a pele Grau 6+/6+: sopro muito alto que pode ser auscultado com estetoscópio próximo à pele, sem necessidade de contato Obs.: até 3+ é um sopro sem frêmito (sensação tátil do sopro a nível vascular ou a nível de vias aéreas), a partir de 4+ é com frêmito Frequência (tonalidade): agudos ou graves Timbre: conjunto variado de características que podem ser utilizadas para descrever os sopros: rude, áspero, suave, musical, aspirativo ou ruflar. Manobras dinâmicas que alteram os sopros Manobra de Rivero-Carvallo – aumento da intensidade do sopro na inspiração profunda sugere sopro de origem tricúspide ou pulmonar o Técnica – com o paciente em decúbito dorsal, coloca-se o receptor do estetoscópio no foco, pondo-se especial atenção na intensidade do sopro. Em seguida, solicita-se ao paciente que faça uma inspiração profunda, durante a qual o examinador procura detectar as modificações na intensidade do sopro Se não houver alteração ou se o sopro diminuir de intensidade, diz-se que a manobra de Rivero-Carvallo é negativa, o que, neste caso, determina que o sopro audível naquela área é apenas a propagação de um sopro originado na cavidade esquerda (menor volume) Caso haja alteração ou se o sopro aumentar de intensidade, diz-se que a manobra de Rivero-Carvallo é positiva, o que determina que o sopro audível naquela área é apenas a propagação de um sopro originado na cavidade direita (maior volume) Na expiração, esse quadro é invertido, por conta da cavidade esquerda (sopro aumenta de intensidade) receber mais volume que a direita (sopro diminui de intensidade) Hand grip test/prensão palmar – aumento da intensidade do sopro com a elevação da pós- carga sugere insuficiência mitral ou aórtica o Manobra que aumenta a resistência vascular periférica (força oposta a ejeção) o Técnica – posiciona-se o estetoscópio no foco onde está ouvindo o sopro e pede para que o paciente aperte as mãos de outra pessoa muito forte o Esse teste serve para sopros duvidosos onde ocorre zona de conflito entre os focos. O sopro de estenose aórtica é sistólico e tem como epicentro o foco aórtico acessório, podendo irradiar para próximo do foco mitral, porém, quando realizamos o hand grip, o sopro diminui, uma vez que o aumento da resistência vascular periférica somado a estenose da válvula vai promover um bloqueio ainda mais expressivo da passagem do volume de sangue, o que faz com que se consiga definir o foco e a origem do sopro Ana Carolina Simões – MED 105 – PAPM III 12/05/2022 O sopro de insuficiência mitral também é sistólico e tem como epicentro no foco mitral podendo irradiar para o foco aórtico acessório, porém, quando realizamos o hand grip, o sopro aumenta, uma vez que o aumento da resistência vascular periférica somado a insuficiência da válvula vai promover um retorno ainda mais expressivo do volume de sangue para o AE, o que faz com que se consiga definir o foco e a origem do sopro Cócoras – comprime-se as pernas para aumentar o retorno venoso (aumento do volume) e, consequentemente, aumentar o sopro Exercício físico – ao aumentar a velocidade sanguínea e estimular o sistema adrenérgico, promove o aumento da intensidade dos sopros de estenose aórtica ou mitral Decúbito lateral esquerdo (manobra de Pachón) – acentua a ausculta do ruflar da estenose mitral Ficar sentado e em pé – quando o paciente levanta, ele aumenta a resistência periférica e o retorno venoso diminui Causas Estenoses valvares/vasculares – sopros de estenose de carótidas, estenose mitral, estenose aórtica, pulmonar e tricúspide Isso ocorre por estreitamento das válvulas ou dos vasos sanguíneos No caso das que tem uma ocorrência mais comum, estenose mitral e estenose aórtica, pode-se fazer um comparativo dos pontos mais relevantes das diferenças quando o sopro for sistólico ou diastólico Estenose Mitral o Sopro sistólico – mais intenso no foco mitral e irradia para axila e dorso No momento da sístole, as válvulas mitral e tricúspide têm que estar fechadas, por isso, é mais comum se ter sopro sistólico nos quadros de insuficiência dessas válvulas o Sopro diastólico – mais intenso no foco aórtico acessório e irradia para o ápice Normalmente é o mais comum nesse caso, assim como na estenose tricúspide Estenose Aórtica o Sopro sistólico – mais intenso no foco aórtico e irradia para pescoço (mais especificamente na fúrcula) e região infraclavicular Normalmente é o mais comum nesse caso, assim como na estenose pulmonar (epicentro no foco pulmonar) Tem uma característica de aspecto sonoro em diamante (crescendo-decrescendo – sobe de intensidade e desce até a B2) o Sopro diastólico – mais intenso no foco mitral e irradia para axila No momento da diástole, as válvulas aórtica e pulmonar têm que estar fechadas, por isso, é mais comum se ter sopro diastólico nos quadros de insuficiência dessas válvulas Ana Carolina Simões – MED 105 – PAPM III 12/05/2022 Comunicação entre as câmaras de baixa e alta pressão – o sangue passa por uma comunicação para um sistema de baixa pressão e nessa passagem ele turbilhona Sopros de CIAe CIV CIA – doença congênita que consiste em uma abertura no septo interatrial por má formação o Como a pressão do AE é maior que o a do AD, o sangue passa pela câmara de maior pressão turbilhonando em direção a câmara de menor pressão CIV – doença congênita que consiste em uma abertura no septo interventricular por má formação o Como a pressão do VE é muito maior que a do VD, o sangue passa pela câmara de maior pressão turbilhonando em direção a câmara de menor pressão Também pode ocorrer em pacientes com fístula arteriovenosa (essa fístula acontece em pacientes que fazem diálise, por exemplo) Comunicação entre a veia radial (vaso de baixa pressão) e a artéria radial (vaso de alta pressão) Regurgitação/Insuficiência Valvar – uma válvula que não está totalmente fechada e permite um refluxo de sangue, gerando um turbilhão e o sopro Ocorre em sopros de insuficiência mitral, aórtico, tricúspide e pulmonar Dilatação súbita pelo trajeto – acontecem principalmente na aorta, e é quando algum vaso está com o diâmetro aumentado, e na hora que o sangue passa por essa dilatação ele turbilhona Acontecem em sopros de dilatação da aorta, aneurisma da aorta e hipertensão arterial de longa data (normalmente se escuta bem em cima da fúrcula) Ana Carolina Simões – MED 105 – PAPM III 12/05/2022 Estados hiperdinâmicos – aumento da velocidade de fluxo dentro do vaso ou do coração (aumento do DC), podendo ocorrer em casos de febre, anemia, infecção, gravidez, etc Também pode ocorrer no caso de jovens com excesso de volume circulante (tende a desaparecer) Descrição da Ausculta Cardíaca com Sopro O sopro pode estar acompanhado ou não de bulha Definir se o sopro é diastólico ou sistólico. Definir qual o foco. Deve-se colocar a irradiação. Classificar o sopro em cruzes Exemplos Ritmo cardíaco regular em 2T, com M1>T1, A2>P2, e presença de sopro sistólico mitral ++/+6 irradiando para axila Ritmo cardíaco regular em 3T, com M1>T1, A1>P2, presença de B3 de VD e sopro diastólico pulmonar ++++/+6 Ritmo cardíaco irregular em 2T, com M1>T1, com presença de sopro sistólico aórtico ++/+6 irradiando para fúrcula Observação 1: Prolapso Normalmente ocorre mais na válvula mitral, mas também pode acontecer na tricúspide A válvula costuma fechar em linha, mas no caso de um prolapso, ela pode fechar com um “bico” para dentro do átrio, e por conta disso ela pode vazar, uma vez que não fechou totalmente, então, no momento de contração ventricular, o sangue vaza pela válvula e isso causa sopro É um quadro muito comum em mulheres jovens O prolapso tem insuficiência, mas ele se diferencia da patologia por conta de um som que tem a mais além do sopro, que aparece na ausculta Observação 2: Sopro Fisiológico Assim como na B3, há situações em que o sopro pode ser fisiológico, como, por exemplo, em crianças Como o volume circulante é maior que o coração da criança comparado com o adulto, essa quantidade elevada faz com que, ao passar pelas válvulas, principalmente pela aórtica que é a nossa menor válvula, o sangue acabe turbilhonando e, consequentemente, gerando o sopro Em casos como esse, o que vai diferenciar se é fisiológico ou patológico é a história clínica, por normalmente a criança cardiopata não se movimentar muito, ou pela manobra de ficar em pé, uma vez que o sopro desapareceria pela redução do retorno venoso no caso de ser fisiológico, já que ocorre a diminuição de volume que chega ao coração
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