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UMA INTRODUÇÃO AO PENSAMENTO DE VYGOTSKY (Inhelora Kretzschmar)

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RESUMO ACADÊMICO 
PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO 
UMA INTRODUÇÃO AO PENSAMENTO DE VYGOTSKY 
(Inhelora Kretzschmar) 
Autora do resumo: NATALIA COLA DE PAULA, discente do curso de 
Letras – UNESP São José do Rio Preto (Ibilce) 
 
O presente texto é um resumo acadêmico do artigo científico 
intitulado “Uma introdução ao pensamento de Vygotsky”, de autoria de Inhelora 
Kretzschmar Joenk. 
O principal autor-representante da teoria histórico-cultural é 
Vygotsky, contudo, com sua morte precoce, sua teoria continuou sendo discutida 
por seus seguidores. 
A atividade de pesquisa de Vygotsky tem por base os fundamentos articulados 
com a tradição do materialismo histórico (ciência marxista) e o materialismo 
dialético (filosofia marxista). 
Para a teoria marxista, o desenvolvimento das habilidades humanas 
e a origem da sociedade são resultados do trabalho. É por meio do trabalho que o 
homem transforma a si mesmo e a natureza. 
Sobre a teoria de Vygotsky, chamada de histórico-cultural ou sócio-
interacionista, tem por objetivo caracterizar os comportamentos humanos, 
elaborando hipóteses. 
Vygotsky buscou respostas às seguintes questões: 1 – compreender 
a relação entre os seres humanos e o seu ambiente físico e social; 2 – identificar 
as formas novas de atividades do trabalho como meio fundamental de 
relacionamento entre o homem e a natureza; 3 – analisar a natureza das relações 
entre o uso de instrumentos e o uso da linguagem. 
Pressuposto fundamental é que há intrínseca relação entre o 
biológico e o social, a partir dele o pesquisador elaborou um referencial teórico 
que se propõe a explicar o desenvolvimento do psiquismo humano através das 
relações entre as funções mentais e a atividade humana. 
Concluíram, nos estudos feitos com crianças, que há uma origem 
social no desenvolvimento pessoal. Como discutido, antes da criança nascer o 
círculo social familiar já traça planos e faz idealizações para aquele ser, que vai 
receber estímulos e influências do ambiente, e, assim, se desenvolverá como 
indivíduo. 
Sobre as Funções Mentais Superiores, são ações mediatas, 
construídas entre os seres humanos e a natureza. Vygotsky deu alguns exemplos: 
memória, atenção e lembrança voluntária, imaginação, ação intencional, 
raciocínio dedutivo ... 
Esses tipos de atividades psicológicas são tidos como “superior”, 
porque difere de atividades mais simples, de origem biológica, comuns aos 
humanos e animais, como ações reflexas, reações automatizadas ou associações 
simples. 
Para o pensamento de Vygotsky, o desenvolvimento do psiquismo 
não ocorre “a priori”, não é universal, imutável e passivo. Plasticidade é o adjetivo 
referente àquilo que pode ser moldado pela ação de forças externas. A 
plasticidade do cérebro humano é fundamental, podemos aprender novas 
atividades criadas pela cultura na história. As estruturas do cérebro não são inatas 
e imutáveis, mas passam por mudanças no decorrer do desenvolvimento do 
indivíduo pela interação do ser humano com o meio físico e social. 
Segundo consta no texto, mediação é o processo de intervenção de 
um elemento intermediário numa relação, que deixa de ser direta e passa a ser 
mediada por esse elemento. Um exemplo dado é de uma criança pegando em um 
caule de uma rosa. Ela retira imediatamente a mão quando se alfineta com os 
espinhos, ou seja, tem uma relação direta entre o espinho e a retirada da mão. Em 
um segundo contato com a rosa, a criança se lembrará dessa experiência anterior 
e não irá se machucar. Contudo, se em outro contato com a rosa a mãe lhe advertir 
que os espinhos podem ferir a mão, a relação estará mediada pelo conselho 
materno. 
No processo de desenvolvimento, as relações mediadas passam a 
predominar sobre as relações diretas, por isso Vygotsky conclui que a relação 
humana com o mundo não é uma relação direta (por meio das experiências 
puramente), mas uma ação mediada (mediada pelo seio social, pelas pessoas e 
valores culturais). 
O pesquisador distinguiu 2 tipos de elementos mediadores: os 
instrumentos e os signos. O instrumento consiste no elemento que fica entre o 
homem e o objeto de seu trabalho, aumentando as possibilidades de ação sobre a 
natureza. Cada instrumento possui uma finalidade específica, ele ajuda o homem 
no seu trabalho. Ex: machado. 
Para Vygotsky, o signo age como instrumento da atividade 
psicológica de maneira análoga ao papel de um instrumento no trabalho. Signos 
seriam elementos que representam ou expressam outros objetos, eventos, 
situações. São símbolos a linguagem, os sistemas de contar, os mapas, placas de 
trânsito, etc. Em um momento mais avançado da evolução da espécie humana, os 
signos passam a ser compartilhados pelos membros de um grupo social, 
possibilitando a comunicação e melhorando a intervenção social. 
Em um outro tópico, o texto aborda a questão inerente aos conceitos 
cotidianos e científicos. 
A elaboração conceitual é uma função psicológica superior, trata-se 
da capacidade que o homem desenvolveu para pensar, analisar e generalizar os 
elementos da realidade. 
 Vygotsky observou que um conceito não é formado pela interação 
de associações, mas por operação intelectual, dirigida pelo uso de palavras. 
Na discussão sobre os conceitos científicos e os cotidianos, pode-se 
dizer que os cotidianos ou espontâneos, têm origem nas situações concretas, da 
convivência diária, através da observação, manipulação e experiência. 
Os conceitos científicos, por seu turno, são relações estabelecidas 
entre objetos já definidos pelas teorias formais, criados historicamente pela 
cultura e não pelo indivíduo. A aquisição de conceitos científicos exige uma ação 
mediada, como atividades de ensino. A relação entre sujeito e objeto do 
conhecimento é consciente e voluntária. 
Sobre a apropriação desses conceitos, pode-se dizer que o sujeito se 
apropria de um conceito científico quando usa o mesmo para implementar uma 
ação, como resolver um problema. Para essa linha de pensamento, o conceito 
científico precisa ser aplicado para ser incorporado pelo sujeito. Apenas quando 
utilizados nas soluções de problemas os conceitos científicos cumprirão um de 
seus papéis, que é questionar as limitações e fragilidades dos conceitos 
cotidianos. 
Sem dúvidas os conceitos científicos e cotidianos enxergam o 
mundo de forma diferente. Se o indivíduo possui apenas conceitos cotidianos, vê 
somente a realidade imediata. Com a apropriação dos conceitos científicos, o 
indivíduo é apresentado a um novo mundo, consegue visualizar a dinamicidade 
das relações humanas em uma visão retrospectiva e também prospectiva. 
Também apresenta o texto um tópico específico sobre o papel da 
escola no processo de formação dos conceitos científicos. 
A interrelação entre conceitos cotidianos e científicos é um caso 
peculiar da relação ampla entre aprendizagem e desenvolvimento. Segundo a 
teoria de Vygotsky, há uma influência recíproca entre aprendizagem e 
desenvolvimento mental. 
O pesquisador ainda formulou um novo conceito, o de zona de 
desenvolvimento proximal, que é conceituada como sendo a distância entre o 
nível de desenvolvimento real (resolver individualmente o problema) e o nível de 
desenvolvimento potencial (resolver o problema sob a orientação de um adulto 
ou em grupo, de forma colaborativa, com companheiros mais capazes). A zona 
de desenvolvimento proximal define aquelas funções que estão em processo de 
maturação, funções que amadurecerão, mas que estão presentes em estado 
embrionário. 
Desta forma, a zona de desenvolvimento real diz respeito à 
capacidade de realizar tarefas de forma independente (sozinho). São funções que 
a criança já aprendeu e domina, é um processo de desenvolvimento já 
consolidado. 
A zona de desenvolvimento potencial diz respeito à capacidade de 
realizar tarefas pela imitação ou mediante auxílio de adulto ou companheiro 
experiente. 
Nesse ínterim,pode-se concluir que, para Vygotsky, o aprendizado 
começa muito antes da criança entrar na escola. Mas é verdade que o aprendizado 
escolar origina algo inédito no desenvolvimento infantil. 
Quando o ensino escolar é organizado de forma correta, objetivando 
a intervenção na zona de desenvolvimento potencial acarreta desenvolvimento 
mental, mas também desencadeia vários processos, que não ocorreriam de forma 
espontânea. 
A partir disso, Vygotsky sugere que a escola deveria ter uma visão 
prospectiva do desenvolvimento do aluno e da sua relação com a aprendizagem. 
O verdadeiro ensino é aquele constituído na zona de desenvolvimento proximal, 
que estimula processos internos, consolidando as funções psicológicas superiores 
e usando-as para as diferentes atividades sócio-culturais. 
No processo pedagógico, e essencial a figura da mediação para a 
internalização das trocas sociais entre professores e alunos. As interações sociais 
na escola são condição necessária para a apropriação e produção dos 
conhecimentos pelos alunos, por isso é interessante que o professor estimule o 
diálogo, a troca de informações e a interação, pois, as relações entre sujeito e 
objeto são estabelecidas através dos outros. 
Ademais, a relação entre o homem e o mundo é mediada, por isso a 
importância da intervenção do professor no processo de ensino-aprendizagem, 
tendo em vista a ótica de Vygotsky, da educação como um processo cultural e 
social. 
Os estudos de Vygotsky atribuem aos conhecimentos escolares um 
papel de suma importância na formação intelectual da criança, de modo que a 
abordagem teórica do pesquisador adquire uma proporção política bastante atual 
e justifica o interesse recente nas pesquisas educacionais. 
Como impressões finais após a leitura, pode-se atribuir ao texto um 
adjetivo que é interessante, é uma teoria do psiquismo que se relaciona com o 
materialismo histórico do marxismo, que encontra adeptos por todo o mundo. 
Vygotsky parece ter respondido com propriedade as perguntas iniciais que se 
propôs a resolver no início de sua pesquisa, inseriu conceitos como de funções 
mentais superiores, distinguiu tipos de conceitos, os cotidianos e científicos. 
O pensador também identifica o nível de desenvolvimento real, que 
se refere às conquistas, ao aprendizado consolidado, e o nível de desenvolvimento 
potencial, que se relaciona às capacidades que estão sendo ainda construídas. 
Outro ponto principal da teoria de Vygotsky é que ele “amarra” 
todos esses conceitos com a ideia do papel da escola no desenvolvimento 
humano. Apesar de existirem os conhecimentos construídos pela experiência 
pessoal (cotidianos ou espontâneos), o conhecimento científico precisa ser 
incorporado mediante ensino em sala de aula, sistemático, com a mediação do 
professor. 
E, por fim, vem a pergunta: para que as crianças precisam adquirir 
os conceitos científicos? Só para ostentarem e repetirem conceitos abstratos que 
aprenderam na escola? Obviamente não, não é esse o objetivo da escola de mero 
“acúmulo” de informações vazias que não geram desenvolvimento educacional. 
A obtenção de conceitos científicos serve para implementar uma ação, para tornar 
aquilo, de alguma forma, prático. Serve, acima de tudo, para a resolução de uma 
situação-problema. Só assim o conhecimento científico cumprirá seu papel 
precípuo. Essa, sem dúvidas, foi a mais salutar contribuição dos estudos de 
Vygotsky, que pode ser transplantada para o âmbito das pesquisas educacionais 
contemporâneas a título de análise e reflexão, uma vez que tem se perdido um 
pouco essa verdadeira teleologia da finalidade aplicacional do conhecimento 
científico.

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