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Sebastião Elviro de Araújo Neto Agricultura e agronomia 1ª edição Rio Branco, Acre Sebastião Elviro de Araújo Neto 2020 ©2020 Sebastião Elviro de Araújo Neto (ed) Direitos desta edição reservados ao Autor Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Central da UFAC A663a Araújo Neto, Sebastião Elviro de, 1975 - Agricultura e agronomia / Sebastião Elviro de Araújo Neto. - Rio Branco: Edição do Autor, 2020. 149 p.: il. 21 cm. ISBN: 978-65-00-00060-3 Inclui referências bibliográficas. Título: Agricultura e agronomia 1. Agronomia. 2. Agronomia docência. 3. Universidade Federal do Acre (UFAC). I. Título. CDD 630 Bibliotecária: Nádia Batista Vieira CRB-11º/882 Dedico este livro aos meus filhos Ana Luíza Ferreira de Araújo e André Luiz Ferreira de Araújo, à minha esposa Regina Lúcia Félix Ferreira e aos meus pais Antônio Braz de Araújo e Maria Gorethe Pereira, que sempre acreditaram em mim, com muito carinho e amor. Biografia do autor Profº. Dr. Sebastião Elviro de Araújo Neto Formado em Agronomia pela Universidade Federal do Acre, Rio Branco-Acre, em 1997. Em 2000, concluiu o mestrado em fitotecnia pela Universidade Federal Rural do Semiárido, Mossoró-RN e em 2004 o doutorado em fitotecnia pela Universidade Federal de Lavras-MG. Desde 2004, é professor efetivo da Universidade Federal do Acre, até 2019, orientou 113 alunos e publicou 112 artigos científicos, experiências que contribuem para a redação de assuntos relacionados ao ensino, extensão e pesquisa, o tripé do ensino superior. A partir de 2004, assiste os pequenos agricultores ecológicos do Acre, práticas que lhe permitiram ampliar o debate para as questões ambientais, econômicas, sociais e agronômicas no campo da agricultura familiar. Dentre as suas atividades no magistério superior, fez parte da comissão de professores que elaborou a reformulação do curso de agronomia da Universidade Federal do Acre em 2011; foi membro do conselho universitário da mesma Ifes; coordenou por seis anos o programa de pós-graduação em agronomia; a partir de 2010, passou a ser membro titular do colegiado do curso de agronomia; desde o ano de 2018, é membro do núcleo docente estruturado; e desde 2012, ministra a disciplina de Introdução à Agronomia na Universidade Federal do Acre. As experiências aqui mencionadas formam parte da base de conhecimentos necessários para a redação deste livro, com uma visão relacionada à agricultura e ao ensino de agronomia. Sumário Apresentação 7 1 O engenheiro agrônomo 9 1.1 Ser agrônomo: uma carreira 9 1.2 Atribuições do engenheiro agrônomo 11 1.3 Ser agrônomo: um bom negócio 18 1.4 O cientista e acadêmico 20 1.5 A vida acadêmica no curso de agronomia 22 1.5.1 Escolha do orientador 24 1.5.2 Relação orientador-orientado 26 1.5.3 Programas de iniciação científica 27 1.6 Salário do agrônomo 29 1.7 O doutor do campo 30 2 Diretrizes curriculares nacionais para a agronomia 31 3 As titulações de agrônomo e engenheiro agrônomo 37 4 A formação da consciência crítica do agrônomo 39 5 História da agricultura mundial 45 5.1 Conceitos e nomenclaturas 45 5.2 Origem da agricultura 46 5.3 Como fazer agricultura sem as escolas de agronomia? 47 5.4 O início da agricultura “moderna” 49 6 História da agricultura e da agronomia no Brasil 51 7 Questão agrária 69 7.1 Concentração e distribuição de terras 70 7.2 Agricultura familiar capitalista e camponesa 72 7.3 Conflito entre campesinato e agronegócio 80 7.4 A crise no campo em direção à cidade 81 7.5 Mercados imperfeitos e desbalanceados 85 7.6 Dois modelos de agricultura 86 8 Reforma Agrária 89 8.1 Reforma agrária em Cuba 91 8.2 Reforma agrária na China 92 8.3 Reforma agrária no Japão 93 8.4 Reforma agrária na Coreia do Sul 94 8.5 Reforma agrária no Brasil 95 8.6 Produção e produtividade na agricultura familiar 97 8.7 Soberania alimentar 99 8.8 Reforma agrária e desenvolvimento 105 8.9 A reforma agrária da FAO 107 9 A abordagem sistêmica na agronomia 109 9.1 As especificidades locais e regionais 114 9.2 O perfil do agricultor 116 9.3 A necessidade de diálogo na relação agrônomo/agricultor 117 9.4 O poder do mercado 118 9.5 A racionalidade do agricultor 121 10 A formação do engenheiro agrônomo 123 10.1 Estágio interdisciplinar de vivência 123 10.2 A formação crítica e holística 125 10.3 O buraco negro na formação do agrônomo 129 10.4 Indissociabilidade ensino-pesquisa-extensão 133 Glossário 136 Referências 140 Apresentação Após ministrar a disciplina de Introdução à Agronomia desde 2012, e ter reunido muitas referências sobre o assunto, resolvi escrever este livro-texto com o objetivo de facilitar os estudos dos iniciantes em agricultura e agronomia. É importante o alerta de que este livro não se constitui de nenhuma espécie de “resumão” sobre agricultura e agronomia. Já existem livros publicados com este objetivo. O objetivo deste livro é contribuir com a iniciação em agricultura e agronomia com esclarecimentos sobre a importância da agricultura e sua relação ambiental, social e econômica. Para isso, os conteúdos aqui descritos esclarecem a importância da agricultura, da agronomia e do agrônomo, o espaço e as relações sociais, ambientais e econômicas no campo de atuação do agrônomo e a abordagem de estudos da agronomia para uma formação ampla e crítica. O texto traz também uma visão de agricultura que garante a soberania alimentar, o equilíbrio na balança comercial, o equilíbrio entre população urbana e rural e a importância econômica para as cidades, estados e nações. Os principais assuntos relatados neste livro são: 1. Importância do curso superior em agronomia; 2. Campo de atuação do agrônomo; 3. As relações sociais e o espaço rural nos quais atua o agrônomo; 4. O local onde se faz agricultura e que produz alimentos, medicamentos, couro, fibra, água, serviços e energia. 5. A terra e sua função social: espaço importante para o desenvolvimento humano; 6. As características da agricultura capitalista de alto uso de insumos e energia; 7. Aspectos de microeconomia na agricultura familiar: capitalista e camponesa; 8. O desenvolvimento rural a partir do latifúndio e do minifúndio e a necessidade continuada de reforma agrária transformativa em todos os países; 9. Estudos dos fatores e fenômenos relacionados à produção ecológica, incluindo a economia e as relações sociais dos agricultores e seu comportamento na natureza por meio de abordagens sistêmicas e, 10. Adequação do PPC dos cursos de agronomia no Brasil e da gestão pedagógica para a formação crítica e reflexiva do agrônomo por abordagens sistêmicas. 9 1 O engenheiro agrônomo O engenheiro agrônomo é um profissional com carga de conhecimento multidisciplinar, incluindo os campos da sociologia, economia, administração, engenharia, ecologia, biologia, física, química, zootecnia, ciências do solo, ciências do alimento, fitossanidade, fitotecnia dentre outras, aplicadas no campo das ciências agrárias, em seus aspectos de conservação ambiental, geração de serviços, produção de matéria para a indústria e principalmente, para produção de alimentos de origem animal e vegetal. Esta profissão é cada vez mais essencial para a humanidade, que precisa alimentar-se com produtos produzidos pelos agricultores que utilizam seus próprios conhecimentos e os conhecimentos técnicos do agrônomo, importantes para manter alta a produtividade e a qualidade dos alimentos, com preços acessíveis a todos. Com o agravamento dos problemas ambientais e escassez de recursos naturais,agrônomos e agricultores devem ter maior responsabilidade e criatividade para a produção de alimentos seguros e com métodos conservacionistas. 1.1 Ser agrônomo: uma carreira O agrônomo pode seguir a carreira de servidor de instituições públicas e mistas, como nos órgãos de extensão e assistência técnica, INCRA, Bancos, CONAB, Prefeituras, MAPA, perito da polícia federal, institutos de defesa fitossanitária e ser professor em escolas agrícolas, institutos federais ou outras escolas similares. Para os agrônomos que alcançarem os títulos de mestre e doutor, também existe a possibilidade de seguirem a carreira 10 acadêmica do magistério superior em universidades públicas e privadas (Figura 1). Figura 1 - Relação de instituições públicas nas quais o agrônomo pode trabalhar. Embrapa Universidades Institutos Federais de Educação EMATER/Extensão INCRA Serviços públicos Bancos Prefeituras MAPA Polícia Federal Institutos de defesa agropecuária CONAB Apesar da carreira estável no serviço público, em países com tendência neoliberal (estado mínimo), pode haver extinção de órgãos e funções ou redução de vagas de trabalho nesses órgão, tornando a assistência social, a pesquisa e o ensino, atividades desenvolvidas por instituições privadas, que geralmente remuneram pouco seus trabalhadores ou exigem alta carga de trabalho. No final do século XX e início do século XXI, percebe-se uma tendência à terceirização dos serviços públicos em áreas da saúde, educação, assistência técnica, ensino e outras. Assim, muitos agrônomos estão sendo contratados para prestar serviços de assistência técnica por tempo determinado, comprometendo uma 11 possível relação de longo prazo com os agricultores e a continuidade de metodologias construtivistas de assistência técnica. Salvo a formação eclética do agrônomo, este pode desenvolver seu próprio negócio nos diversos ramos da agricultura e da agronomia. 1.2 Atribuições do engenheiro agrônomo As atribuições do engenheiro agrônomo são amplas, estão previstas na resolução nº. 1048/2013 e seu exercício depende do registro no Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (CREA) BRASIL (2002). Resolução nº 1.048, de 14 de agosto de 2013 (CONFEA, 2013): Art. 3º As atividades dos profissionais citados no art. 1º desta resolução são as seguintes: I – Desempenho de cargos, funções e comissões em entidades estatais, paraestatais, autárquicas e de economia mista e privada; II – Planejamento ou projeto, em geral, de regiões, zonas, cidades, obras, estruturas, transportes, explorações de recursos naturais e desenvolvimento da produção industrial e agropecuária; III – Estudos, projetos, análises, avaliações, vistorias, perícias, pareceres e divulgação técnica; IV – Ensino, pesquisa, experimentação e ensaios; V – Fiscalização de obras e serviços técnicos; VI – Direção de obras e serviços técnicos; 12 VII – Execução de obras e serviços técnicos; VIII- Produção técnica especializada, industrial ou agropecuária. Art. 4º O exercício das atividades e das áreas de atuação profissional elencadas nos arts. 2º e 3º correlacionam-se às seguintes atribuições: I – Ensino agrícola em seus diferentes graus; II – Experimentações racionais e científicas referentes à agricultura, e, em geral, quaisquer demonstrações práticas de agricultura em estabelecimentos federais, estaduais e municipais; III – Propagar a difusão de mecânica agrícola, de processos de adubação, de métodos aperfeiçoados de colheita e de beneficiamento dos produtos agrícolas, bem como de métodos de aproveitamento industrial da produção vegetal; IV – Estudos econômicos relativos à agricultura e indústrias correlatas; V – Genética agrícola, produção de sementes, melhoramento das plantas cultivadas e fiscalização do comércio de sementes, plantas vivas e partes vivas de plantas; VI – Fitopatologia, entomologia e microbiologia agrícolas; VII – Aplicação de medidas de defesa e de vigilância sanitária vegetal; VIII – Química e tecnologia agrícolas; IX – Reflorestamento, conservação, defesa, exploração e industrialização de matas; X – Administração de colônias agrícolas; 13 XI – Ecologia e meteorologia agrícolas; XII – Fiscalização de estabelecimentos de ensino agronômico reconhecidos, equiparados ou em via de equiparação; XIII – Fiscalização de empresas agrícolas ou de indústrias correlatas; XIV – Barragens; XV – Irrigação e drenagem para fins agrícolas; XVI – Estradas de rodagem de interesse local e destinadas a fins agrícolas; XVII – Construções rurais, destinadas a moradias ou fins agrícolas; XVIII – Avaliações e perícias; XIX – Agrologia; XX – Peritagem e identificação, para desembaraço em repartições fiscais ou para fins judiciais, de instrumentos, utensílios e máquinas agrícolas, sementes, plantas ou partes vivas de plantas, adubos, inseticidas, fungicidas, maquinismos e acessórios e, bem assim, outros artigos utilizados na agricultura ou na instalação de indústrias rurais e derivadas; XXI – Determinação do valor locativo e venal das propriedades rurais, para fins administrativos ou judiciais, na parte que se relacione com a sua profissão; XXII – Avaliação e peritagem das propriedades rurais, suas instalações, rebanhos e colheitas pendentes, para fins administrativos, judiciais ou de crédito; 14 XXIII – Avaliação dos melhoramentos fundiários; XXIV – O estudo, projeto, direção, fiscalização e construção de obras de drenagem e irrigação; XXV – O estudo, projeto, direção, fiscalização e construção de edifícios, com todas as suas obras complementares; XXVI – O estudo, projeto, direção, fiscalização e construção das estradas de rodagem e de ferro; XXVII – O estudo, projeto, direção, fiscalização e construção das obras de captação e abastecimento de água; XXVIII – Trabalhos de captação e distribuição da água; XXIX – O estudo, projeto, direção, fiscalização e construção das obras destinadas ao aproveitamento de energia e dos trabalhos relativos às máquinas e fábricas; XXX – O estudo, projeto, direção, execução e exploração de instalações industriais, fábricas e oficinas; XXXI – O estudo, projeto, direção e execução das instalações das oficinas, fábricas e indústrias; XXXII – O estudo, projeto, direção, fiscalização e construção das obras relativas a portos, rios e canais e das concernentes aos aeroportos; XXXIII – O estudo, projeto, direção, fiscalização e construção das obras peculiares ao saneamento urbano e rural; XXXIV – Projeto, direção e fiscalização dos serviços de urbanismo; 15 XXXV – Assuntos de engenharia legal; XXXVI – Assuntos legais relacionados com suas especialidades; XXXVII – Perícias e arbitramentos; XXXVIII – Fazer perícias, emitir pareceres e fazer divulgação técnica; XXXIX – Trabalhos topográficos e geodésicos; XL – O estudo e projeto de organização e direção das obras de caráter tecnológico dos edifícios industriais; XLI – O estudo, projeto, direção e execução das instalações de força motriz; XLII – A direção, fiscalização e construção das instalações que utilizem energia elétrica; XLIII – O estudo, projeto, direção e execução das instalações mecânicas e eletromecânicas; XLIV – O estudo, projeto, direção e execução de obras relativas às usinas elétricas, às redes de distribuição e às instalações que utilizem a energia elétrica; XLV – A direção, fiscalização e construção de obras concernentes às usinas elétricas e às redes de distribuição de eletricidade; XLVI – Vistorias e arbitramentos; XLVII – O estudo de geologia econômica e pesquisa de riquezas minerais; XLVIII – A pesquisa, localização, prospecção e valorização de jazidas minerais; XLIX – O estudo, projeto, execução, direção e fiscalização de serviçosde exploração de minas; 16 L – O estudo, projeto, execução, direção e fiscalização de serviços da indústria metalúrgica; LI – Reconhecimentos, levantamentos, estudos e pesquisas de caráter físico-geográfico, biogeográfico, antropogeográfico e geoeconômico e as realizadas nos campos gerais e especiais da Geografia, que se fizerem necessárias: a) na delimitação e caracterização de regiões, sub-regiões geográficas naturais e zonas geoeconômicas, para fins de planejamento e organização físico-espacial; b) no equacionamento e solução, em escala nacional, regional ou local, de problemas atinentes aos recursos naturais do País; c) na interpretação das condições hidrológicas das bacias fluviais; d) no zoneamento geo-humano, com vistas aos planejamentos geral e regional; e) na pesquisa de mercado e intercâmbio comercial em escala regional e inter-regional; f) na caracterização ecológica e etológica da paisagem geográfica e problemas conexos; g) na política de povoamento, migração interna, imigração e colonização de regiões novas ou de revalorização de regiões de velho povoamento; h) no estudo físico-cultural dos setores geoeconômicos destinados ao planejamento da produção; i) na estruturação ou reestruturação dos sistemas de circulação; 17 j) no estudo e planejamento das bases físicas e geoeconômicas dos núcleos urbanos e rurais; k) no aproveitamento, desenvolvimento e preservação dos recursos naturais; l) no levantamento e mapeamento destinados à solução dos problemas regionais; m) na divisão administrativa da União, dos Estados, dos Territórios e dos Municípios. LII – a organização de congressos, comissões, seminários, simpósios e outros tipos de reuniões, destinados ao estudo e à divulgação da Geografia; LIII – levantamentos geológicos, geoquímicos e geofísicos; LIV – estudos relativos a ciências da terra; LV – trabalhos de prospecção e pesquisa para cubação de jazidas e determinação de seu valor econômico; LVI – ensino das ciências geológicas nos estabelecimentos de ensino secundário e superior; LVII – relatório circunstanciado, nos termos do inciso IX do art. 16, do Decreto-lei nº 1.985, de 29 de janeiro de 1940 (Código de Minas); LVIII – dirigir órgãos, serviços, seções, grupos ou setores de Meteorologia em entidade pública ou privada; LIX – julgar e decidir sobre tarefas científicas e operacionais de Meteorologia e respectivos instrumentais; 18 LX – pesquisar, planejar e dirigir a aplicação da Meteorologia nos diversos campos de sua utilização; LXI – executar previsões meteorológicas; LXII – executar pesquisas em Meteorologia; LXIII – dirigir, orientar e controlar projetos científicos em Meteorologia; LXIV – criar, renovar e desenvolver técnicas, métodos e instrumental em trabalhos de meteorologia; LXV – introduzir técnicas, métodos e instrumental em trabalhos de Meteorologia; LXVI – pesquisar e avaliar recursos naturais na atmosfera; LXVII – pesquisar e avaliar modificações artificiais nas características do tempo; e LXVIII – atender a consultas meteorológicas e suas relações com outras ciências naturais. Parágrafo único. Os profissionais citados no art. 1º desta resolução poderão exercer qualquer outra atividade que, por sua natureza, se inclua no âmbito de suas profissões. 1.3 Ser agrônomo: um bom negócio O engenheiro agrônomo possui muitas possibilidades, pela multidisciplinaridade de sua formação e pela demanda crescente e contínua por alimentos frescos e processados – que tem como base o trabalho no campo -, afinal, nenhum alimento surge sem vir da terra. 19 Da terra saem os produtos primários como hortaliças, frutos, grãos, óleos, extratos, condimentos, essências florestais, medicamentos, plantas ornamentais, insumos, carnes, ovos, leite, couro, tecidos, dentre outros. Essas matérias-primas passam pela agroindústria, sendo transformadas, agregando valor ao produto primário. A produção agrícola pode movimentar baixas receitas, entre R$1.000,00 e R$2.000,00/mês – como em uma pequena horta com 1.000 m², viveiro de plantas ou pequena agroindústria, mas também pode movimentar milhões de reais por mês – em uma empresa exportadora de frutas ou beneficiadora de laticínio, sucos, doces e vinhos e produção de animais confinados, por exemplo (Figura 2). Figura 2 – Alternativas de negócio em que o agrônomo pode atuar. Lojas agropecuárias Consultorias Laticínios Bebidas alcoólicas Agroindústria Sucos Polpas Próprio Doces negócio Produção animal Produção vegetal Produção de mudas e sementes Paisagismo Produção de insumos Produtos florestais Turismo rural 20 Para receitas elevadas, há necessidade de estratégias comerciais, como venda em larga escala, custo e preço competitivo, contratação de muita mão de obra, infraestrutura mínima, terra e capital disponível e logística favorável. Porém, o mais importante é a disposição individual, conhecimento técnico e muito planejamento do agrônomo responsável. Muitos negócios dependem de poucos fatores variáveis para serem controlados, como demanda, oferta, concorrência, custo de produção e comercialização, o que pode exigir pouca disposição do empresário com a contratação de um gerente, nesses casos, o risco é pequeno. Na agricultura, além desses fatores, as condições naturais, como temperatura, umidade, vento, chuva, iluminação, patógenos, pragas, plantas daninhas, medidas protecionistas e os subsídios aos agricultores dos países industrializados, aumentam o risco da atividade e exige maior envolvimento do empresário na atividade, que de preferência deve ter conhecimentos mínimos de agricultura e inevitavelmente contratar agrônomos para administrar os sistemas produtivos ou prestar acessórias nas diferentes área. 1.4 O cientista e acadêmico O curso de agronomia no Brasil é tipificado como Bacharelado, formando técnicos projetistas e calculistas, com capacidade de interpretar a realidade biológica, física e química 21 utilizando conhecimento existente e/ou aqueles gerados com a experimentação agrícola1 e pesquisa ação2 para solução de problemas. A habilidade de interpretar a realidade deve ser estimulada com conhecimento teórico e contextualizado em atividades de campo, em projetos de extensão universitária e pesquisas científicas. A habilidade de gerar conhecimento a partir de pesquisa científica deve ser estimulada pela participação em projetos de pesquisa, seja com bolsa de iniciação científica ou participação voluntária. Tanto os projetos de extensão quanto os de pesquisa devem ser conduzidos prioritariamente sob a orientação de professores. Pois são os professores que possuem a credencial para registrar institucionalmente seus projetos de pesquisa e extensão e submetê- los aos órgãos de fomento. A formação científica deve ser ampliada nos cursos de mestrado e doutorado. Algumas funções como a de professor de universidades federais e pesquisadores da Embrapa, por exemplo, exigem a titularidade de doutor, sendo o doutoramento um caminho possível de se percorrer. Em toda ciência ou profissão, o profissional tem acesso a conhecimentos produzidos no mundo inteiro por meio de livros e artigos científicos publicados em periódicos (revistas científicas) ou em anais de congresso e outros eventos científicos. 1 Experimentação agrícola: ciência agronômica que utiliza os conhecimentos em estatística, com casualização, repetição e aplicação de testes estatísticos para validação de novas tecnologias testadas em campo ou em laboratórios. 2 Pesquisa-ação: metodologia de pesquisa com a participação do agricultor na identificação do problema, problematização do conhecimento, teste e avaliação de novas tecnologias. 22 O acesso namaioria dos periódicos é gratuito, outros podem ser acessados via pagamento por cada artigo ou número de páginas do artigo. A rede de computadores das universidades públicas brasileiras tem acesso a grande número de periódicos cadastrados no scielo (www.scielo.br), Science direct (www.sciencedirect.com), periódicos CAPES (http://www.periodicos.capes.gov.br/) e em sítios de busca comum. Além do conteúdo recomendado pelo professor no plano de disciplina, o discente pode acessar a esses portais para expandir seus conhecimentos e ter contato com os avanços no tema de estudo de interesse. 1.5 A vida acadêmica no curso de agronomia Há um provérbio comum entre os estudantes de agronomia (e tantos outros cursos no Brasil) que diz: “entrar para agronomia é fácil, difícil é sair”. A dificuldade está na necessidade de domínio de conhecimentos distintos, como cálculo e botânica, física e ecologia, química e sociologia. Para ser um bom agrônomo não basta ser apenas hábil com os cálculos e ler muito, é necessário ter vivência de campo para que o conhecimento teórico seja incorporado a partir de problemas reais e contextualizados para as condições ambientais, econômicas e sociais de cada região. Essa vivência deve perseguir o agrônomo para o resto de sua vida profissional, pois o período após a faculdade é muito importante http://www.scielo/ http://www.sciencedirect/ http://www/ 23 para a consolidação de sua formação, visto que na vida se aprende todo dia. Almeida (2000) afirma que há claramente um forte antagonismo entre técnicas versus práticas: Se por um lado, as técnicas podem ser analisadas, elaboradas, testadas independentemente daqueles que as utilizam, as práticas não podem ser estudadas sem se levar em consideração as condições nas quais agem os agricultores, sem uma análise do contexto social, econômico e ecológico da ação. Neste contexto, a agronomia é cada vez mais conectada às “questões do meio ambiente”, já que seu próprio objeto de estudo se encontra no centro de muitas questões ou problemas ligados à esta questão-maior. Para os estudantes que querem seguir uma carreira acadêmica, é preciso, desde cedo, procurar um orientador e iniciar sua formação científica, participando de pesquisas que possam lhe render habilidades práticas e publicação de resumos e artigos científicos, produtos pelos quais serão avaliados em seleções de provas e títulos. No Brasil, para se ter acesso a programas institucionais de fomento, os estudantes, professores, e pesquisadores devem ter seus currículos cadastrados na plataforma Lattes do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq (http://lattes.cnpq.br/). Os resumos científicos simples de uma página ou resumos expandidos de cinco páginas, por exemplo, encontram menos dificuldades para a sua publicação, geralmente, se publicam em encontros científicos, seminários, semanas acadêmicas, simpósios http://lattes.cnpq.br/ 24 e congressos, contudo, o seu peso em critério de avaliação de desempenho profissional é baixo. Artigos científicos são mais difíceis de serem publicados, principalmente em revistas mais bem ranqueadas, visto que exigem - além do pagamento de submissão, pagamento para publicação e para a versão do artigo em língua inglesa -, exigem ainda temas de repercussão amplos, capazes de atingir um elevado número de leitores, inclusive internacionais. Atualmente os estudantes realizam matrículas, empréstimo de livro, acessam programas de assistência estudantil e portal de notas com seus aparelhos de comunicação moveis (celular), um instrumento importante na vida moderna, quase indispensável. Porém, na “era dos celulares”, a tendência é a de que os melhores agrônomos serão aqueles que melhor souberem utilizar seus aparelhos celulares para comunicações indispensáveis, consultas a conhecimentos e uso de aplicativos que economizem tempo para dedicação aos estudos. Para obter uma formação científica de elevado nível é necessário escolher um orientador, que pode ser um professor da própria instituição de ensino superior (IES), de outra IES ou pesquisadores de instituições de pesquisa ou extensionistas. 1.5.1 Escolha do orientador Pela importância da pesquisa na formação profissional em ensino de nível superior, o olhar de um bom orientador é muito significativo nesta etapa. Por isso, o ideal é que o aluno tenha opções de escolha dentre muitos orientadores de alto nível; porém, dependendo da região, da universidade e/ou do curso, o estudante 25 pode possuir poucas alternativas e ter que optar por orientadores com menor capacidade de orientação. No entanto, nem sempre o aluno escolhe; ele também pode ser escolhido, já que os orientadores têm preferência por alunos criativos, inteligentes e - principalmente -, responsáveis e esforçados. Quando o aluno possui opção de escolha, deve procurar orientadores dedicados à orientação em nível de iniciação científica, que possua criatividade e ao mesmo tempo “controle” a imaginação, seja aberto ao diálogo com possibilidade de aceitar teorias e os conhecimentos do aluno e que, sobretudo, zele pelo método científico e domine a técnica de pesquisa escolhida. Os orientadores com título de mestre e principalmente com título de doutor, teoricamente, reúnem as melhores características e habilidades para orientação por sua formação continuada e acúmulo de treinamento em redação científica, estatística e técnicas de pesquisa. Também é importante escolher orientadores que tenham boa relação pessoal e profissional com seus colegas de trabalho da mesma instituição ou de diferentes instituições e, com isso, possa viabilizar pesquisas interdisciplinares. Outro critério que não deveria ser observado pelo estudante é a capacidade do orientador de captar recursos externos. Por quê? Porque as instituições de ensino superior públicas ou privadas e as instituições de pesquisa deveriam ter recursos suficientes para todos os orientadores, mas esta não é uma realidade brasileira. Assim, os orientadores devem concorrer aos editais das agências de fomento (CNPq, FINEP e Fundações estaduais), que possuem recursos limitados e estes são aprovados apenas para os orientadores com melhores currículos, obedecendo ao modelo produtivista de captação de recurso. 26 Estes orientadores produtivistas são poucos e podem conter moralmente desvios de conduta, como mal humor, arrogância, pouco senso crítico e egocentrismo, dentre outros, reduzindo as opções de escolha. Como dito anteriormente, o estudante pode ser escolhido por um orientador e, muito possivelmente, pelos orientadores produtivistas, que possuem recursos para pesquisa e precisam manter alta sua produtividade em formação de recursos humanos, critério também utilizado pelas agências de fomento. Para o orientador manter a produtividade de artigos publicados, escolhem alunos com perfil de pesquisador, que em uma relação de troca, colaboram na pesquisa e recebem ensinamento individual não apenas do tema de pesquisa, mas de outros conhecimentos afins e muitas vezes de caráter ético e moral. 1.5.2 Relação orientador-orientando A relação orientador-orientando não deve jamais ser de superioridade ou inferioridade, apesar dos níveis de titulação diferentes, a relação deve ser de professor e aluno, que devem realizar atividade de pesquisa em que ambos estejam abertos ao diálogo. Mesmo que a maior via de conhecimento siga na direção orientador-orientando há uma via importante de conhecimento do orientando para o orientador, mas, para isso, é preciso que exista o diálogo nesta relação. A teoria da dialogicidade de Paulo Freire ocorre pelo menos entre duas partes, agrônomo-agricultor, professor-estudante, médico- -paciente, pai-filho, exigindo que as partes incorporemo papel de 27 educador-educando e ao mesmo tempo o de educando-educador (FREIRE, 1977). O orientador não deve ensinar tudo para o estudante, mas possibilitar que ele descubra os fenômenos e os conhecimentos principais e secundários da pesquisa, para isso, Paulo Freire recomenda a problematização do conhecimento (FREIRE, 1977). Além do relacionamento pedagógico, deve haver entre as partes, reconhecimento, respeito, cobrança, pontualidade, assiduidade, zelo pelo método de pesquisa, muita dedicação, dentre outras virtudes. 1.5.3 Programas de iniciação científica Para iniciar na pesquisa, o estudante não precisa estar inserido formalmente em nenhum programa de pesquisa ou extensão, porém, é importante sua inserção formal, pois geralmente ele precisará de comprovante de participação em programa de pesquisa e extensão para compor seu currículo, que poderá ser utilizado em momentos de concorrência em concursos públicos ou em seleções para ingresso na pós-graduação. E é indispensável para o desenvolvimento de pesquisas: equipamentos, laboratórios e recursos financeiros disponíveis para os professores e à disposição à seus programas de pesquisa e extensão. No Brasil, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) possui vários programas de iniciação científica e tecnológica. Dentre os quais podemos destacar: o Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC) e o Programa Institucional de Bolsas de Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação (PIBITI). 28 O PIBIC tem a modalidade PIBIC-AF (ações afirmativas), destinado aos estudantes que ingressaram na Instituição Federal de Ensino Superior (IFES) pelo Sistema de Seleção Unificada – SISU, nas vagas reservadas para estudantes que se autodeclaram pretos, pardos ou indígenas, conforme Lei nº. 12.711 de 2012: Art. 3º Em cada instituição federal de ensino superior, as vagas de que trata o art. 1º desta Lei serão preenchidas, por curso e turno, por autodeclarados com deficiência na população da unidade da Federação onde está instalada a instituição, segundo o último censo da Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE (BRASIL, 2012) Esses programas são administrados pelas instituições de ensino e pesquisa, com bolsas de iniciação científica e tecnológica pagas pelo CNPq e parte delas pela instituição proponente. Na UFAC, há a modalidade de pesquisa para estudantes voluntários em iniciação científica (PIVIC), sendo o aluno obrigado a cumprir todas as exigências dos estudantes bolsistas para que possa receber o certificado de participação. Tais programas não são estendidos a todos os estudantes e orientadores. As cotas são distribuídas por meio de edital, público lançado pela instituição proponente, em que o orientador deve elaborar o projeto de pesquisa com plano de trabalho para cada bolsista que - junto com o currículo do orientador - são os critérios utilizados para a seleção. 29 1.6 Salário do agrônomo O piso salário do agrônomo foi estabelecido pela pelo CONFEA, por maio da Resolução nº 397, DE 11 AGO 1995. Salário Mínimo Profissional para execução das atividades e tarefas classificadas na alínea "a" do Art. 4º da Resolução é de 06 (seis) vezes o Salário Mínimo comum, vigente no País, para os profissionais... Engenharia, de Arquitetura, de Agronomia, de Geologia, de Geografia, de Meteorologia e afins com curso universitário de 04 (quatro) anos ou mais (CONFEA, 1995). A Constituição Brasileira em seu artigo 7º, veda a vinculação do salário mínimo como indexador para qualquer fim: Art. 7° - São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social: (...) IV - salário-mínimo, fixado em lei nacionalmente unificado, capaz de atender às suas necessidades vitais básicas e às de sua família com moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social, com reajustes periódicos que lhe preservem o poder aquisitivo, sendo vedada sua vinculação para qualquer fim (BRASIL, 2019a). Em levantamento realizado a respeito do salário do agrônomo, verificou-se que entre outubro de 2018 e maio de 2019, o salário médio foi de R$7.023,21/mês, no mercado de trabalho brasileiro, para uma jornada de trabalho de 42 horas semanais3. 3 (https://www.salario.com.br/profissao/engenheiro-agronomo-cbo-222110/) https://www.salario.com.br/profissao/engenheiro-agronomo-cbo-222110/ 30 1.7 O doutor do campo Apesar de o agricultor ter conhecimento acerca de solos férteis e pobres, saber diferenciar os problemas fitossanitários (se são causados por bactéria, fungo, vírus, inseto ou nematoide), saber castrar animais, ter um bom palpite sobre a quantidade de água e nutrientes a ser aplicada à sua lavoura, conhecer as plantas contendo princípios ativos para cura de doenças humanas, o agrônomo quem era tratado como “doutor”, mesmo tendo apenas o título de Bacharel. Atualmente, o bacharel em agronomia já não é denominado de doutor. A partir do currículo do curso de agronomia e da necessidade do mercado, foram criados cursos de graduação como: Zootecnia, Veterinária, Engenharia Agrícola, Engenharia Florestal, Agroecologia, Ciência do Alimento e Entomologia, todos contemplado na agronomia em outrora. Apesar dos Projetos Pedagógicos dos Cursos (PPCs) de agronomia terem especificidades locais e regionais, esses são delimitados por diretrizes do Ministério da Educação (MEC), que exigem carga horárias com disciplinas básicas (física, química, cálculo), essenciais e profissionalizantes, que ainda abrangem os campos da veterinária, zootecnia, engenharia agrícola, engenharia florestal, ciência de alimentos e outros. Deste modo, cabe a questão: como deve ser um PPC que proporcione uma formação do agrônomo competitiva no mercado e sem conflitos com as demais profissões? 31 2 Diretrizes curriculares nacionais para a agronomia As Diretrizes Curriculares Nacionais para os cursos de graduação em Engenharia Agronômica ou Agronomia, foram instituídas pela Resolução nº 1, de 2 de fevereiro de 2006 (BRASIL, 2006a). Em seu artigo 2º, ficam claros os objetivos dessas diretrizes, como segue: As Diretrizes Curriculares para o curso de Engenharia Agronômica ou Agronomia indicarão claramente os componentes curriculares, abrangendo a organização do curso, o projeto pedagógico, o perfil desejado do formando, as competências e habilidades, os conteúdos curriculares, o estágio curricular supervisionado, as atividades complementares, o acompanhamento e a avaliação bem como o trabalho de conclusão de curso como componente obrigatório ao longo do último ano do curso, sem prejuízo de outros aspectos que tornem consistente o projeto pedagógico. A orientação estabelecida pelas diretrizes é a de uma formação profissional com capacidade crítica e criativa para a resolução dos problemas da sociedade, relacionados à agricultura e ao atendimento das expectativas humanas, utilizando de forma racional os recursos naturais disponíveis. Essas diretrizes devem nortear o PPC e caracterizar o perfil do egresso em engenharia agronômica. 32 Em seu artigo 4º, a resolução orienta a elaboração de PPCs com atividades interdisciplinares, modos de integração entre teoria e prática; o incentivo à pesquisa, como uma forma de ampliação da atividade de ensino, regulamentações para as atividades relacionadas ao trabalho de conclusão de curso (TCC), atividades complementares e estágios curriculares supervisionados. O Trabalho de Conclusão de Curso passa a ser obrigatório e deve ser realizado nos últimos anos de integralização do curso. Em seu artigo 6º, a resolução orienta a elaboração de PPCs com as seguintes competências e habilidadesesperadas para um egresso em Engenharia Agronômica: a) projetar, coordenar, analisar, fiscalizar, assessorar, supervisionar e especificar técnica e economicamente projetos agroindustriais e do agronegócio, aplicando padrões, medidas e controle de qualidade; b) realizar vistorias, perícias, avaliações, arbitramentos, laudos e pareceres técnicos, com condutas, atitudes e responsabilidade técnica e social, respeitando a fauna e a flora e promovendo a conservação e/ou recuperação da qualidade do solo, do ar e da água, com uso de tecnologias integradas e sustentáveis do ambiente; c) atuar na organização e gerenciamento empresarial e comunitário interagindo e influenciando nos processos decisórios de agentes e instituições, na gestão de políticas setoriais; d) produzir, conservar e comercializar alimentos, fibras e outros produtos agropecuários; 33 e) participar e atuar em todos os segmentos das cadeias produtivas do agronegócio; f) exercer atividades de docência, pesquisa e extensão no ensino técnico profissional, ensino superior, pesquisa, análise, experimentação, ensaios e divulgação técnica e extensão; g) enfrentar os desafios das rápidas transformações da sociedade, do mundo, do trabalho, adaptando- se às situações novas e emergentes. Para isso, o currículo dos PPCs deve conter três núcleos estruturantes e - de preferência -, com interdisciplinaridade entre eles. I - O núcleo de conteúdos básicos será composto dos campos de saber que forneçam o embasamento teórico necessário para que o futuro profissional possa desenvolver seu aprendizado. Esse núcleo será integrado por: Matemática, Física Química, Biologia, Estatística, Informática e Expressão Gráfica. II - O núcleo de conteúdos profissionais essenciais será composto por campos de saber destinados à caracterização da identidade do profissional. O agrupamento desses campos gera grandes áreas que caracterizam o campo profissional e agronegócio, integrando as subáreas de conhecimento que identificam atribuições, deveres e responsabilidades. Esse núcleo será constituído por: Agrometeorologia e Climatologia; Avaliação e Perícias; Biotecnologia, Fisiologia Vegetal e Animal; Cartografia, 34 Geoprocessamento e Georeferenciamento; Comunicação, Ética, Legislação, Extensão e Sociologia Rural; Construções Rurais, Paisagismo, Floricultura, Parques e Jardins; Economia, Administração Agroindustrial, Política e Desenvolvimento Rural; Energia, Máquinas, Mecanização Agrícola e Logística; Genética de Melhoramento, Manejo e Produção e Florestal. Zootecnia e Fitotecnia; Gestão Empresarial, Marketing e Agronegócio; Hidráulica, Hidrologia, Manejo de Bacias Hidrográficas, Sistemas de Irrigação e Drenagem; Manejo e Gestão Ambiental; Microbiologia e Fitossanidade; Sistemas Agroindustriais; Solos, Manejo e Conservação do Solo e da Água, Nutrição de Plantas e Adubação; Técnicas e Análises Experimentais; Tecnologia de Produção, Controle de Qualidade e Pós-Colheita de Produtos Agropecuários. III - O núcleo de conteúdos profissionais específicos deverá ser inserido no contexto do projeto pedagógico do curso, visando a contribuir para o aperfeiçoamento da habilitação profissional do formando. Sua inserção no currículo permitirá atender às peculiaridades locais e regionais e, quando couber, caracterizar o projeto institucional com identidade própria. IV - Os núcleos de conteúdos poderão ser ministrados em diversas formas de organização, observando o interesse do processo pedagógico e a legislação vigente. V - Os núcleos de conteúdos 35 poderão ser dispostos, em termos de carga horária e de planos de estudo, em atividades práticas e teóricas, individuais ou em equipe, tais como: a) participação em aulas práticas, teóricas, conferências e palestras; b) experimentação em condições de campo ou laboratório; c) utilização de sistemas computacionais; d) consultas à biblioteca; e) viagens de estudo; f) visitas técnicas; g) pesquisas temáticas e bibliográficas; h) projetos de pesquisa e extensão; i) estágios profissionalizantes em instituições credenciadas pelas IES; j) encontros, congressos, exposições, concursos, seminários, simpósios, fóruns de discussões, etc. Os PPCs dos cursos de graduação no Brasil, em geral, não cumprem em parte as diretrizes estabelecidas pelo MEC, principalmente no que diz respeito a interdisciplinaridade e a condução de estudos práticos. Os estágios obrigatórios devem ser realizados durante o curso e não possuem conteúdos mínimos que confiram as competências e habilidades determinadas pela resolução. A carga horária mínima para os cursos de agronomia deve ser de 3.600 h e é definida pela Resolução nº 2, de 18 de junho de 2007. A resolução nº 7, de 18 de dezembro de 2018, que estabelece as diretrizes para a extensão na educação superior brasileira, inclui, obrigatoriamente, a extensão universitária como componente curricular dos cursos superiores: [...] Art. 4º As atividades de extensão devem compor, no mínimo, 10% (dez por cento) do total da carga horária curricular estudantil dos 36 cursos de graduação, as quais deverão fazer parte da matriz curricular dos cursos (BRASIL, 2018). [...] Art. 7º São consideradas atividades de extensão as intervenções que envolvam diretamente as comunidades externas às instituições de ensino superior e que estejam vinculadas à formação do estudante, nos termos desta Resolução, e conforme normas institucionais próprias (BRASIL, 2018). 37 3 As titulações de agrônomo e engenheiro agrônomo A titulação do profissional formado em Agronomia ou Engenharia Agronômica, foi denominada inicialmente como Agrônomo pelo decreto 5.957 de 23 de junho de 1875, seguindo a matriz do ensino agrícola francês de 1848. Naquela época, o profissional da agronomia tinha formação sólida em produção vegetal. Em 1910, o Brasil regulamentou o ensino agrícola brasileiro pelo decreto 8.319 de 20 de outubro, denominando de engenheiro agrônomo o egresso dos cursos de agronomia, apesar de que a formação ainda era voltada para a produção vegetal e animal. Em 1925, a Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ), reformulou seu currículo, acrescentando as cadeiras de engenharia rural, matemática, desenho e outras, reforçando a área de engenharia e consolidando a titulação de engenheiro agrônomo. Essa denominação foi reforçada pelo decreto 23.937 de 08 de março de 1934. Porém, ainda em 1934, o Ministério da Agricultura - responsável pelo ensino agrícola nacional na época -, alterou a titulação de engenheiro agrônomo para simplesmente agrônomo, instigando a revolta nos estudantes de agronomia do Rio de Janeiro (UFRRJ) e de Piracicaba (ESLAQ). Posteriormente, foi publicado o decreto 9.585 de 15 de agosto de 1946, determinando a impressão de novos diplomas e a reimpressão dos diplomas antigos com a titulação de engenheiro agrônomo. Atualmente, as diretrizes curriculares para o curso de Agronomia, em vigor desde 2006, continuam apresentando a mesma duplicidade (BRASIL, 2006a). Independentemente da titulação, as atribuições do engenheiro agrônomo são determinadas pelo Conselho Federal de Engenharia 38 e Agronomia (CONFEA) por meio do CREA de cada estado onde atua o profissional. Nem o saber, nem o salário dependem da denominação dessa titulação, pois os cursos das diferentes instituições devem seguir e cumprir as diretrizes curriculares - com pequenas diferenças entre si a depender das especificações locais e regionais -. 39 4 A formação da consciência crítica do agrônomo O homem, com seus sentidos naturais - no cotidiano, e em contato com o ambiente -, espontaneamente formauma consciência ingênua, por meio da apreensão da realidade. A partir dessa consciência, o homem passa a refletir, na tentativa de compreender e manejar os fenômenos, desenvolvendo, assim, a consciência crítica necessária para a sua própria sobrevivência ou prosperidade. Essa consciência crítica é considerada por Schimidt e Garcia (2005) como real, honesta e justa e, para isso, faz-se necessária a busca incessante pela justiça, procurando eliminar e combater qualquer forma de injustiça. Com isso, o homem tem sua história reconhecida, cria massas críticas, muda sociedades inteiras e muitas vezes torna-se imortal como Madre Tereza de Calcutá4, Nelson Mandela5, Oskar Schindler6 e, mais recentemente, a jovem muçulmana Malala Yousafzai7. 4 De família Albanesa, Madre Tereza conseguiu nacionalidade indiana, visitou famílias em favelas, lavou as feridas de crianças, começou uma escola ao ar livre e cuidou de pobres, doentes e famintos. 5 Nelson Mandela foi o líder do movimento contra o Apartheid - legislação que segregava os negros na África do Sul. Condenado em 1964 à prisão perpétua, foi liberto em 1990, depois de grande pressão internacional. Recebeu o “Prêmio Nobel da Paz” em dezembro de 1993, pela sua luta contra o regime de segregação racial. 6 O alemão Oskar Schindler viu na mão de obra judia uma solução barata e viável para lucrar com negócios durante a guerra. Com sua forte influência dentro do partido nazista, conseguiu as autorizações para a abertura de uma fábrica. O que poderia parecer uma atitude de um homem não muito bondoso, transformou-se em um dos maiores casos de amor à vida da História, pois o alemão abdicou de toda sua fortuna para salvar a vida de mais de mil judeus em plena luta contra o extermínio nazista. 7 Mulher militante dos direitos das crianças, uma jovem paquistanesa que foi vítima de um atentado por defender o direito das meninas de ir à escola. Com 17 anos, foi a mais jovem ganhadora do Prêmio Nobel da Paz. 40 No campo da agronomia, são reconhecidas como pessoas notáveis que contribuíram para uma consciência crítica ao modelo dominante de agricultura (poluidor, explorador e energeticamente ineficiente), Ana Primavesi8, Sebastião Pinheiro9 e Carlos Armênio Khatounian10. O conhecimento e a formação crítica como formas de resistência ao pensamento único e a um único entendimento do sujeito e dos fatos é considerado como uma racionalidade dialética, hermenêutica e ético-política, sendo de responsabilidade da universidade (CULLEN, 2014). Para Freire (1977), o homem é o único ser que está em constante reflexão e transformação de sua realidade, mas para isso, é preciso conhecê-la de forma questionadora por meio da consciência crítica. Segundo Freire (2014, p. 52) as características da consciência ingênua dos indivíduos são: 1. Revela uma certa simplicidade, tendente a um simplismo, na interpretação dos problemas. Não se aprofunda na casualidade do próprio fato. 2. Há também uma tendência a considerar que o passado foi melhor. 8 Ana Maria Primavesi (1920-2020) foi uma engenheira agrônoma naturalizada brasileira nascida na Áustria em 03 de outubro de 1920. Responsável por avanços no campo de estudo das ciências do solo, em especial ao manejo ecológico do solo. 9 Sebastião Pinheiro é engenheiro agrônomo e engenheiro florestal. Brasileiro e gaúcho, dedica parte de sua vida no combate ao uso de agrotóxicos e em defesa da agricultura ecológica. 10 Carlos Armênio Khatounian é brasileiro, engenheiro agrônomo e desenvolve pesquisas, extensão e ensino no campo da agroecologia. https://pt.wikipedia.org/wiki/Agronomia https://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%81ustria https://pt.wikipedia.org/wiki/Ci%C3%AAncias_do_solo https://pt.wikipedia.org/wiki/Manejo_sustent%C3%A1vel https://pt.wikipedia.org/wiki/Manejo_sustent%C3%A1vel https://pt.wikipedia.org/wiki/Solo 41 3. Tende a aceitar formas gregárias ou massificadoras de comportamento. Esta tendência pode levar a uma consciência fanática. 4. Subestima o homem simples. 5. É impermeável à investigação. Satisfaz-se com as experiências. Toda concepção científica para ela é jogo de palavras. Suas explicações são mágicas. 6. É frágil na discussão dos problemas. O ingênuo parte do princípio que sabe tudo. Pretende ganhar a discussão com argumentações frágeis. É polêmico, não pretende esclarecer. Sua discussão é feita mais de emocionalidades que de criticidades: não procura a verdade; trata de impô-la e procurar meios históricos para convencer com suas ideias. É curioso ver como os ouvintes se deixam levar pela manhã, pelos gestos e pelo palavreado. 7. Tem forte conteúdo passional. Pode cair no fanatismo ou sectarismo. 8. Apresenta fortes compreensões mágicas. 9. Diz que a realidade é estática e não mutável. Para Freire (2014, p. 53) as características da consciência crítica dos indivíduos são: 1. Anseio de profundidade na análise de problemas. Não se satisfaz com as aparências. 2. Reconhece que a realidade é mutável. 3. Substitui situações ou explicações mágicas por princípios autênticos de causalidade. 42 4. Procura verificar ou testar descobertas. Está sempre disposta às revisões. 5. Ao se deparar com um fato, faz o possível para livrar-se de preconceitos. Não somente na captação, mas também na análise e na resposta. 6. Repele posições quietistas. É intensamente inquieta. O essencial para parecer algo é ser algo; é a base da autenticidade. 7. Repele toda transferência de responsabilidade e de autoridade e aceita a delegação das mesmas. 8. É indagadora, investiga, força, chora. 9. Ama o diálogo, nutre-se dele. 10. Face ao novo, não repele o velho, nem aceita o novo por ser novo, mas aceita-os na medida em que são válidos. A maioria dos egressos de agronomia possui consciência ingênua pela deficiência do processo de ensino-aprendizagem. Porém, a sociedade – representada pelas empresas de comercialização e as cooperativas ligadas ao agronegócio que contratam agrônomos – não busca profissionais com consciência crítica, mas meramente profissionais “repassadores” e vendedores dos conhecimentos já produzidos, que trarão retorno econômico para as empresas, dentro da lógica da agricultura capitalista (GNOATTO et al., 2009). O pensamento crítico também pode ser entendido como o estudo daquela parte da atividade de nossa vida mental (cognitiva ou intelectual, que lida com ideias) em que procuramos meios (métodos e orientações) para saber como chegar a boas razões pelas quais conseguimos sustentar, fundamentar e justificar: pontos 43 de vista e teorias (filosófica, científica, de senso comum, religiosa, etc.) ou mesmo as afirmações que fazemos na vida cotidiana e profissional (CANAL, 2013). A habilidade cognitiva do pensamento crítico serve para avaliar corretamente os argumentos feitos por outros e construir bons argumentos por si mesmo (RAINBOLT, 2010), como desconfiar de propagandas enganosas, descobrir a real intenção dos grupos políticos, escolher o caminho mais rápido mesmo que seja mais longo, etc. 44 45 5 História da agricultura mundial O homem faz agricultura há cerca de 10 a 12 mil anos, momento em que deixou de ser nômade, estabelecendo, assim, as primeiras comunidades e povoados e caracterizando o início da vida moderna. 5.1 Conceitos e nomenclaturas A palavra agricultura vem do latim agricultūra, que significa, no sentido estrito, o “cultivo da terra para produção vegetal”. Este é o principal sentido da palavra em língua portuguesa, embora, pela influência do inglês e do francês, agriculture se refira a “todas as atividades do campo” de uma maneira mais genérica, cultivo de plantas, criação e domesticação de animais,processamento de alimentos e extrativismo de área de reserva na mesma propriedade. Em português, a palavra agropecuária e, mais recentemente, agronegócio, são termos mais apropriados para se referir as atividades múltiplas no campo, como o cultivo de vegetais, criação de animais e suas atividades secundárias. O termo camponês é utilizado simplesmente como sinônimo de agricultor, mas pode ser entendido como uma categoria de agricultor que não utiliza a terra apenas para produção, mas como forma de vida, e não coloca o capital como única lógica de produção. O termo colono veio da Europa com os imigrantes que designavam os meeiros ou famílias agregadas dos latifúndios como colonos. No Brasil, o termo é empregado também para designar os agricultores proprietários de terra dos programas de colonização do INCRA. 46 O termo produtor, muito usado no Brasil, se refere a quem produz, embora, cada atividades de produção tenha sua própria denominação, como: ferro-ferreiro, roupa-alfaiate, alimentos-chefe, arte-artista, pintura-pintor, alvenaria-pedreiro, móveis-marceneiro etc. Para denominar o produto de material prima no campo, exige- se o adjetivo rural - produtor rural, portanto, o termo agricultor já define claramente quem produz no campo, este é o termo preferido por este autor e adotado neste livro. O termo fazenda considera-se propriedade rural de dimensões consideráveis, de lavoura ou de criação de gado; herdade. Dependendo do lugar, tem seus significados próprio. No Norte do Brasil, por exemplo, pode significar grandes áreas de terra com criação de bovinos, e o dono é considerado um fazendeiro. No polo frutífero de Mossoró-Assú-Baraúna, estado do Rio Grande do Norte, pode significar grande área de terra para produção de frutas, neste caso, o dono não é denominado de produtor. 5.2 Origem da agricultura A data do início da agricultura não é muito precisa, podendo variar de 10 a 12 mil anos, no período do neolítico ou período da pedra polida, em todas as regiões onde viviam os seres humanos. Os sistemas muito variados de obtenção de alimentos (coleta, caça e pesca) foram autotransformados de maneira diversificada, porém, perto de moradias e aluviões das vazantes dos rios, em terras fertilizadas naturalmente sem a exigência de grandes desmatamentos (MAZOYER; ROUDART, 2010). Com o aumento da população mundial (que dobrou), passando de 50 para 100 milhões de indivíduos aproximadamente entre os anos 3.000 e 1.000 a.C., e, principalmente, pelo avançado https://pt.wikipedia.org/wiki/Neol%C3%ADtico 47 desenvolvimento das grandes sociedades agrárias dos Indus, da Mesopotâmia e do Nilo, foi necessária a expansão dos cultivos em terras altas, intensificando a abertura de novas áreas, no sistema de derrubada-queimada (MAZOYER; ROUDART, 2010), em clareiras, com fertilização dos solos realizada principalmente por meio de pousio (descanso da terra com vegetação, para recuperação da fertilidade mediante ciclagem de biomassa e nutrientes). Essas clareiras eram rodeadas por terras virgens com toda sua biodiversidade e aliada aos cultivos diversificados, havia diversidade suficiente para promover homeostase do ambiente e evitar o surgimento de pragas e doenças que causassem perdas a níveis significativos. 5.3 Como fazer agricultura sem as escolas de agronomia? O homem, por si só, possui capacidade de raciocínio para criar suas próprias condições de vida e sobrevivência. Assim, os conhecimentos necessários para o desenvolvimento humano e para a agricultura foram construídos a partir da percepção dos fenômenos naturais - que ocorrem até hoje -, sendo potencializados pelas escolas de agronomia, centros de pesquisas e todo o aparelhamento moderno investigativo que existe hoje. A agricultura surgiu a partir da construção dos primeiros conhecimentos humanos sobre a lavoura, com a descoberta de que as sementes oriundas das plantas germinavam e transformavam-se em plantas semelhantes. Em seguida, na agricultura empírica, o homem alcançou os conhecimentos de uma genética simples e passou a selecionar plantas mais produtivas (seleção massal), de modo que houvesse cultivos com a produtividade e a qualidade desejada. Assim, em um 48 processo de domesticação das plantas foram criados muitos dos alimentos que consumimos hoje, como por exemplo, a seleção de banana sem sementes. A domesticação ocorreu em cada região com as espécies adaptadas ao clima e solo, em seguida, as principais espécies domesticadas (Tabela 1). Tabela 1 - Espécies vegetais domesticados em diferentes regiões. Região Espécies domesticadas América do Norte ameixa; girassol e mirtilo. Mesoamérica milho; mandioca; batata doce; tomate; feijão comum; mamão; cacao e abacate. América do Sul - terras altas feijão comum; batata; amendoim e algodão. América do Sul - terras baixas inhame; algodão; abacaxi; mandioca; batata doce; maracujá e goiaba. Europa beterraba açucareira; uva; oliveira e aveia. África sorgo; café; melancia; algodão; inhame; feijão vigna e quiabo. Ásia central fava. China soja; repolho; alho e pêssego. Índia melão; algodão; gergelim e berinjela. Sudoeste da Ásia arroz oriental; taro; cana de açúcar; banana; citros; inhame e manga. Pacífico Sul cana de açúcar; coco e fruta pão. Austrália macadame. No entanto, com essa domesticação aliada à especialização da agricultura de mercado, houve redução significativa do número de espécies alimentares: 50% da alimentação mundial se restringe a três espécies - trigo, milho e arroz -, apesar de serem cultivadas mais de 120 espécies e de existirem mais de 30 mil espécies de plantas comestíveis. 49 Além de reduzir o número de espécies comestíveis, a seleção de plantas com elevada produtividade levou a redução de qualidade nutricional, com menos vitaminas, antioxidantes, proteínas e minerais e para espécies de grãos, maiores teores de amido e glúten. Uma descoberta importante que o homem fez para impulsionar a agricultura em pouco tempo, foi o fogo. O fogo é utilizado como técnica de limpeza da área (roçado) a baixo custo e em pouco tempo, porém, atualmente é proibido ou restrito por causar contaminação do ar e perigo à vida humana, animal, vegetal e edáfica. No período neolítico, o domínio dos metais, tais como o cobre, o estanho e o ferro, forjados com fogo, possibilitou a construção de ferramentas de trabalho, sendo a mais importante delas o arado à tração humana e depois animal (FELDENS, 2018). O arado foi importante na Europa, que o utilizava para tombar a terra e promover o desgelo e aquecimento, propiciando condições para germinação das sementes (Figura 3). Figura 3 – Arado de aiveca à tração animal. A irrigação, outra técnica de artificialização da agricultura, possibilitou maior controle sobre o ambiente e possibilidade de cultivo 50 em épocas de baixa precipitação pluviométrica, garantindo alimento durante maior período de tempo, alterando a sazonalidade alimentar. Assim, a evolução da humanidade levou o homem a criar e inventar cada vez mais, melhorando suas técnicas agrícolas, como a conservação de grãos e a construção de ferramentas cada vez mais eficientes. 5.4 O início da agricultura “moderna” No século XIX os cientistas Saussure (1797 - 1845), Boussingault (1802 - 1887) e Liebig (1803 - 1873) derrubaram a teoria do húmus, de que as plantas não se desenvolviam a partir do húmus da terra e sim de elementos químicos contidos na terra e que poderiam ser sintetizados e aplicados para melhorar a fertilidade química do solo, potencializando a produção vegetal. Assim, surgiu a química agrícola e atualmente o cultivo sem solo (hidroponia e aeroponia). Com o aumento dos aglomerados urbanos, a agricultura foi mais intensificada e os agricultores se especializaram em determinadasespécies de plantas e animais para melhor competir no mercado. Esta intensificação e especialização levou ao uso intensivo de fertilizantes, agrotóxicos, sementes melhoradas e monocultivo, criando ambiente favorável para os organismos patogênicos (fungos, bactérias, vírus e nematoides) e insetos-praga, promotores de perdas nas lavouras. Apesar dos problemas causados, a agricultura é importante para alimentação e economia dos países pouco industrializados como Brasil e Argentina, que não podem romper com a exportação de matéria prima (comodities) de forma abrupta, antes de fortalecer outras atividades econômicas que garantam o desenvolvimento de suas nações. 51 Com o desenvolvimento humano, a agricultura passou a produzir não apenas alimento, mas também uma infinidade de produtos como flores, plantas ornamentais e medicinais, insumos agrícolas, látex, etanol, óleos essenciais, fibras (algodão, linho, seda, cânhamo, sisal, juta, piaçava), combustível (madeira para lenha, etanol, metanol, biodiesel), aguardente e eletricidade (biodigestor, hidráulica, eólica e solar11). Uma proposta de classificar a agricultura (e a agronomia) no tempo foi proposta por Almeida (2000): Primeira fase: período de “sobrevivência” humana na terra, da prática da coleta, da caça, do cultivo primitivo sobre queimadas e desmatamentos sumários; Segunda fase: desde o neolítico, aparece uma agricultura mais ou menos organizada, para proveito de um pequeno número de nobres e do clero. Os operários da época, cujo trabalho era a condição de sobrevivência social, são os escravos ou servos ligados a essas glebas; Terceira fase: pouco a pouco, ainda na Idade Média, os verdadeiros agricultores se diferenciam no interior das populações de escravos e se organizam as primeiras unidades agrícolas mais ou menos independentes em áreas periféricas aos feudos, concedidas pela igreja ou pelos senhores feudais. A Revolução Francesa, em 1789, acelera este processo na França e na Europa. Dois sistemas se caracterizam nesta fase: um, baseado 11 As empresas de energia solar e eólica pagam mensalmente pelo uso da área dos agricultores, situadas em regiões com alta radiação solar e ventos forte e constantes, constituindo a principal renda desses agricultores. 52 na tração bovina e, outro, na tração por cavalos, tradição esta retomada da Antiguidade, com grande importância durante a Renascença e atingindo seu apogeu no século XIX; Quarta fase: no fim do século XIX e durante todo o século XX, as teorias econômicas substituem, gradativamente, a então “economia rural”, implantando a lógica do rendimento financeiro (regimes capitalistas) ou político (regimes socialistas). O objetivo de uma exploração agrícola deste tipo é o da acumulação de capital através da sustentação de uma economia de consumo de massa. A modernização agrícola aparece como um processo científico e técnico de “libertação” da atividade produtiva dos contratempos do meio físico; e Quinta fase: No final do século XX surge um ideário agronômico novo, que transforma a agricultura de nível nuclear, familiar, em outra de abrangência do Estado e, se possível, do global. Trata-se da gestão, conservação e recuperação do meio ambiente global. O termo ecologia recobre em parte esta concepção da ação do homem sobre seu meio ambiente. Trata-se, de fato, de algo muito mais amplo: pode-se falar de uma “agronomia global”, que aborda as relações das pessoas com seu ambiente natural. Hoje, há um forte paradigma da produção de alimentos com métodos antigos e realizados pela mão de obra da família (agricultura 53 familiar) ou a produção intensificada com moto-mecanização, automação, irrigação, fertilização química e controle tóxico de pragas e doenças. Este paradigma fundamenta-se muito mais no campo político do que em razão de rendimentos físicos e econômicos e pela conservação ambiental, e sim, movido pelo capitalismo de consumo em massa, concentração de capital e terra (Figura 4). Para analisar detalhadamente este paradigma é preciso sair da visão conservadora, simplista e reducionista e ir para o campo da análise visão sistêmica. Na ótica conservadora, a agricultura consiste em ciclos produtivos que se utilizam de capital para a compra de insumos, máquinas e pagamento de mão de obra, para no final do processo produtivo se obter mais capital, dando pouca importância aos problemas ambientais e sociais que causam. Figura 4 - Campos agrícolas do agronegócio brasileiro à esquerda e cultivo tradicional como na agricultura familiar à direita. Fonte: IMEA (2019) Fonte Hentz (2019) Na ótica sistêmica, mais que objetivar os rendimentos físicos de produtividade e rentabilidade, deve-se considerar o fluxo de energia, a manutenção da fertilidade da terra a longo prazo, o tempo natural de 54 plantio, colheita, pousio (descanso da terra) e os aspectos sociais e culturais das famílias e comunidades envolvidas com esta agricultura. As pequenas propriedades, mesmo utilizando técnicas antigas como a tração animal, o monjolo, o moinho de pedra, dentre outras, possuem maior conservação ambiental, pois os agricultores geralmente moram na terra e por ela adquirem uma relação de bem-querer, preservando suas nascentes e vegetação nativa. Do ponto de vista econômico, as propriedades pequenas são mais produtivas, proporcionando, por isso, maior renda por unidade de área e unidade de mão de obra, visto que áreas pequenas são mais bem cuidadas (SIMONETTI et al., 2013). Por outro lado, de acordo com o modelo agroexportador adotado hoje pelo Brasil e por outros países, este só é possível pela produção e a venda em grandes volumes, com o uso intensivo da terra, de motomecanizados e de insumos, apesar de ser uma agricultura insustentável, do ponto de vista econômico, energético, ambiental, social e alimentar. O uso intensivo de insumos, a venda de produto primário - sem agregação de valor -, e a terceirização da comercialização, reduzem significativamente a receita do agricultor, que fica aproximadamente com 15% do valor total da produção para deduzir deste a mão de obra, de modo que é comum que a receita líquida seja negativa na atividade agrícola em condições hostis (Figura 5). A grande quantidade de energia utilizada na forma de sementes, combustível, fertilizantes, agrotóxicos, secagem, transporte, máquinas e eletricidade torna esta agricultura intensiva pouco eficiente energeticamente (Tabelas 2 e 3). 55 Figura 5 - Participação do agricultor na receita de seu produto em cem anos. 1.900 d.C. 2.000 d.C. Fonte: Adaptado de Pinheiro (2001). Comercialização Trabalho Insumos 56 Tabela 2 - Comparação da eficiência energética em calorias de combustível fóssil transformados na produção das principais culturas americanas. Cultura Sistema de cultivo Produtividade (t.ha-1) Mao de obra (h/ha) Energia utilizada (kcalx106) Eficiência Saída/Entrada Milho Orgânico1 7,7 14 3,6 7,7 Milho Convencional2 7,4 12 5,2 5,1 Milho Convencional3 8,7 11,4 8,1 4,0 Soja Convencional4 2,7 12 2,1 4,6 Soja Orgânica5 2,4 14 2,3 3,8 Soja Convencional6 2,7 7,1 3,7 3,2 Arroz Convencional 7,4 24 11,8 2,2 Trigo Convencional 2,7 7,8 4,2 2,1 Batata Convencional 40,7 35 17,7 1,3 Repolho Convencional 27,3 60 11,0 1,3 Laranja Convencional7 46,0 210 23,0 1,0 Maçã Convencional8 55,0 385 50,2 0,61 Tomate Convencional 41,8 363 32,3 0,26 1 - Media de dois sistemas orgânicos com 20 anos de idade na Pennsylvania. 2 - Media de sistemas convencionais de milho com 20 anos de idade na Pennsylvania. 3 - Média da produção de milho dos Estados Unidos. 4 - Media de sistemasconvencionais de soja com 20 anos de idade na Pennsylvania. 5 - Media de dois sistemas orgânicos com 20 anos de idade na Pennsylvania. 6 - Média da produção de soja dos Estados Unidos. 7 - Media do sistema de produção de laranja na Flórida. 8 - Media do sistema de produção de maçã. Fonte: Pimentel (2006). Ao analisar a produção animal, Pimentel (2006) destaca que para produzir 1 kcal em forma de carde suína, gastam se 14 57 kcal, um consumo de energia maior que a energia contida nos alimentos de origem animal. Tabela 3 - Comparação da média de gasto energético de sistema orgânico e convencional de produção de milho por hectare nos Estados Unidos. Entrada de energia Orgânico Convencional Orgânico Convencional (Itens) Uso energético (kcl x 100) Mao de obra 15 h 11,4 h 600 462 Implementos 55 kg 55 kg 1.018 1.108 Diesel 90 L 88 L 1.026 1.003 Gasolina 40 L 40 L 405 405 Nitrogênio 0 153 kg 0 2.448 Fósforo 48 kg 65 kg 200 270 Potássio 57 kg 77 kg 186 251 Calcário 1,120 kg 1.120 kg 315 315 Sementes de milho 21 kg 21 kg 520 520 Sementes, ervilhaça 14 kg 0 930 0 Eletricidade 13,2 kwh 13,2 34 34 Transporte 204 kg 204 kg 169 169 Herbicida 0 6,2 kg 0 620 Inseticida 0 2,8 kg 0 280 Total 5,377 Produtividade 8.700 kg.ha-1 8.700 kg.ha-1 Eficiência do sistema convencional Entrada/saída = 1:5,79 Entrada/saída = 1:3,99 Fonte: Pimentel (2006). Produtos produzidos pela agricultura convencional com agroquímicos possuem resíduos tóxicos, maiores concentrações de nitrato e menores teores de substâncias fenólicas, vitaminas, minerais 58 e antioxidantes, constituindo-se em alimentos de baixo valor biológico (SILVA et al., 2011; MDITSHWA et al., 2017). A agricultura intensiva promove degradação ambiental, tendo como consequência o assoreamento, as voçorocas, a contaminação da água e do solo por substâncias químicas, a poluição do ar com partículas químicas e sólidas e a seca de nascentes e rios (Figura 6). Figura 6 - Processos intensivos de erosão e assoreamento de rio entre as cidades de Oliveira e São Tiago no estado de Minas Gerais. Fonte: Foto de Sebastião Elviro de Araújo Neto. Recentemente, houve o caso do esgotamento das águas do Rio Urubu no estado do Tocantins (Figura 7) pelo uso para irrigação, acima da capacidade de reposição. Outro caso foi a poluição das águas dos rios Prata e Formoso, do município de Bonito, MS, causado pelas enxurradas dos campos arados (Figura 8). 59 Esta agricultura intensiva de baixo grau de sustentabilidade, com contaminação e degradação ambiental, uso intensivo do solo e grandes aplicações de fertilizantes e agrotóxicos, é o agronégocio, palavra que muitas pessoas se orgulham em pronunciar, mas poucos a conhecem profundamente. Não é apenas um negócio agrícola; é um grande negócio mundial de compra e venda de commodity, máquinas, sementes e insumos e concentração de capital e terra a qualquer custo ambiental e social. É possível fazer agricultura em larga escala minimizando os danos ao ambiente, com melhor qualidade do alimento e com desenvolvimento humano autêntico? Figura 7 - Rio Urubu no estado do Tocantins, com vazão baixa decorrente do uso da água para irrigação. Fonte: (JM Notícia, 2018). 60 Figura 8 - Poluição das águas dos rios Prata, do município de Bonito, MS. Fonte: Paschoal (2019). 61 6 História da agricultura e da agronomia no Brasil Antes do desembarque dos europeus, nos anos 1.500, os indígenas brasileiros - em diversas regiões, cultivavam mandioca, amendoim, tabaco, batata-doce, milho e extraíam da natureza o babaçu, o pequi, o umbu, o pinhão, as castanhas, as plantas medicinais, as frutas e hortaliças, entre outras. A agricultura praticada por eles não era muito diferente da praticada por indígenas de outros países. Além do cultivo nos solos aluviões, faziam seus roçados a partir da derrubada das florestas, seguido pela secagem natural e queima da biomassa pelo fogo, transformando tudo em cinzas (fertilizante). O cultivo era realizado por curto período de tempo – de um a três anos -, e a área era abandonada para regeneração de sua biomassa e biodiversidade (pousio) até novo ciclo. Todas as operações eram manuais, com o auxílio de ferramentas. Os roçados eram abertos em clareiras, constituindo-se de ilhas na floresta. Assim, a biodiversidade natural aliada à diversificação das plantas cultivadas era responsável pela manutenção de baixas populações de insetos-praga e microrganismos patogênicos. Para suas outras necessidades, os nativos utilizavam madeira, palhas, cipós e envireiras para a construção de casas e galpões, sendo que parte da proteína consumida vinha da caça de animais silvestres e pescados, abundantes na época. A partir de 1.500 d.C., com a chegada dos exploradores europeus, o primeiro produto de exploração econômico foi o pau- brasil da mata atlântica. No Brasil, a colonização durou da primeira metade do século XVI até a primeira metade do século XIX. O monocultivo de cana- de-açúcar na zona da mata da região Nordeste (Sergipe, Alagoas, 62 Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte) e em São Paulo, com utilização inicialmente da mão de obra escrava, se constituiu no principal produto agrícola da economia. O açúcar produzido no Brasil tinha custo 30% menor que o açúcar produzido em outros países. Este sistema econômico gerou concentração de renda e terra e a formação dos grandes latifúndios. Seu declínio ocorreu na segunda metade do século XVII, obrigando os “coronéis” a diversificarem seus sistemas de cultivo com outras culturas, como algodão em Pernambuco e tabaco e cacau na Bahia. No Brasil império (1822 a 1889), outro produto passou a ocupar espaço de destaque na economia: o café, produzido pelos “Barões do Café” e utilizando inicialmente mão de obra escrava e posteriormente mão de obra da imigração europeia e japonesa - principalmente Italianos no estado de São Paulo e Paraná e os alemães no Rio Grande do Sul-. Além do café, açúcar, cacau, fumo e borracha eram os produtos de exportação. O ciclo da borracha natural proveniente da seringueira (Hevea brasilienses) na Amazônia durou de 1879 a 1912, revigorando-se por pouco tempo entre 1942 e 1945, tendo entrado em posterior declínio pelo uso da borracha sintética, pela produção de borracha natural da Malásia e pela borracha de cultivo no centro do Brasil. A grande oferta mundial de café no começo do século XX causou uma crise interna devido aos baixos preços e consequente abandono da atividade. Os governadores do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais, pressionados pelos “Barões do Café”, acordaram com o governo federal do presidente Afonso Pena, em comprar o excedente de café, reduzir as exportações e com isso, equilibrar o preço internacional. Este fenômeno ficou batizado de “Convênio de Taubaté” (1906). Além disso, houve fixação da taxa cambial a favor do Brasil. 63 O estoque era comprado com recursos de empréstimos externos. O café exportado era taxado com a finalidade de pagamento da dívida. Após a crise de 1929, com a queda da bolsa de valores de Nova York, houve queima de estoques de café e a dívida dos Estados foi nacionalizada pelo governo de Getúlio Vargas em 1930 (RIBEIRO, 2011; PINTO, 2020). Assim, com o surgimento de problemas mais complexos na agricultura, surgiram as primeiras escolas de agronomia. A primeira delas surgiu na Europa com a fundação francesa Instituto Nacional Agronômico de Versailles, em 1848 (ALMEIDA, 2000). A atividade agrícola, até então caracterizada pelo monocultivo, pela pouca diversidade, mão de obra escrava, extensas áreas de terras férteis disponíveis e baixo nível tecnológico, dispensava maiores cuidados com o plantio e manejo das lavouras, de modo que qualquer
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