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Agricultura e agronomia livro19_02_2020

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Prévia do material em texto

Sebastião Elviro de Araújo Neto 
 
 
 
 
 
 
 
 Agricultura e agronomia 
 
 
 
1ª edição 
 
 
 
 
 
 
Rio Branco, Acre 
Sebastião Elviro de Araújo Neto 
2020 
 
 
©2020 Sebastião Elviro de Araújo Neto (ed) 
 
Direitos desta edição reservados ao Autor 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Central da UFAC 
A663a Araújo Neto, Sebastião Elviro de, 1975 - 
Agricultura e agronomia / Sebastião Elviro de 
Araújo Neto. - Rio Branco: Edição do Autor, 2020. 
149 p.: il. 21 cm. 
ISBN: 978-65-00-00060-3  
Inclui referências bibliográficas. 
Título: Agricultura e agronomia 
1. Agronomia. 2. Agronomia docência. 3. 
Universidade Federal do Acre (UFAC). I. Título. 
CDD 630 
Bibliotecária: Nádia Batista Vieira CRB-11º/882 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dedico este livro aos meus filhos 
Ana Luíza Ferreira de Araújo e André Luiz 
Ferreira de Araújo, à minha esposa Regina 
Lúcia Félix Ferreira e aos meus pais Antônio 
Braz de Araújo e Maria Gorethe Pereira, que 
sempre acreditaram em mim, com muito 
carinho e amor. 
 
 
Biografia do autor 
 
Profº. Dr. Sebastião Elviro de Araújo Neto 
 
 
Formado em Agronomia pela Universidade Federal do Acre, 
Rio Branco-Acre, em 1997. Em 2000, concluiu o mestrado em 
fitotecnia pela Universidade Federal Rural do Semiárido, Mossoró-RN 
e em 2004 o doutorado em fitotecnia pela Universidade Federal 
de Lavras-MG. 
Desde 2004, é professor efetivo da Universidade Federal do 
Acre, até 2019, orientou 113 alunos e publicou 112 artigos científicos, 
experiências que contribuem para a redação de assuntos relacionados 
ao ensino, extensão e pesquisa, o tripé do ensino superior. 
A partir de 2004, assiste os pequenos agricultores ecológicos 
do Acre, práticas que lhe permitiram ampliar o debate para as questões 
ambientais, econômicas, sociais e agronômicas no campo da 
agricultura familiar. 
Dentre as suas atividades no magistério superior, fez parte 
da comissão de professores que elaborou a reformulação do curso 
de agronomia da Universidade Federal do Acre em 2011; foi membro 
do conselho universitário da mesma Ifes; coordenou por seis anos o 
programa de pós-graduação em agronomia; a partir de 2010, 
passou a ser membro titular do colegiado do curso de agronomia; 
desde o ano de 2018, é membro do núcleo docente estruturado; 
e desde 2012, ministra a disciplina de Introdução à Agronomia na 
Universidade Federal do Acre. 
As experiências aqui mencionadas formam parte da base de 
conhecimentos necessários para a redação deste livro, com uma 
visão relacionada à agricultura e ao ensino de agronomia. 
 
 
Sumário 
 
Apresentação 7 
1 O engenheiro agrônomo 9 
1.1 Ser agrônomo: uma carreira 
 
9 
1.2 Atribuições do engenheiro agrônomo 
 
11 
1.3 Ser agrônomo: um bom negócio 
 
18 
1.4 O cientista e acadêmico 20 
1.5 A vida acadêmica no curso de agronomia 
 
22 
1.5.1 Escolha do orientador 
 
24 
1.5.2 Relação orientador-orientado 26 
1.5.3 Programas de iniciação científica 27 
1.6 Salário do agrônomo 29 
1.7 O doutor do campo 30 
2 Diretrizes curriculares nacionais para a agronomia 31 
3 As titulações de agrônomo e engenheiro agrônomo 37 
4 A formação da consciência crítica do agrônomo 39 
5 História da agricultura mundial 
 
45 
5.1 Conceitos e nomenclaturas 45 
5.2 Origem da agricultura 46 
5.3 Como fazer agricultura sem as escolas de agronomia? 47 
5.4 O início da agricultura “moderna” 49 
6 História da agricultura e da agronomia no Brasil 51 
7 Questão agrária 69 
7.1 Concentração e distribuição de terras 70 
7.2 Agricultura familiar capitalista e camponesa 72 
7.3 Conflito entre campesinato e agronegócio 80 
7.4 A crise no campo em direção à cidade 81 
 
 
7.5 Mercados imperfeitos e desbalanceados 85 
7.6 Dois modelos de agricultura 86 
8 Reforma Agrária 89 
8.1 Reforma agrária em Cuba 
 
91 
8.2 Reforma agrária na China 92 
8.3 Reforma agrária no Japão 93 
8.4 Reforma agrária na Coreia do Sul 94 
8.5 Reforma agrária no Brasil 95 
8.6 Produção e produtividade na agricultura familiar 97 
8.7 Soberania alimentar 99 
8.8 Reforma agrária e desenvolvimento 105 
8.9 A reforma agrária da FAO 107 
9 A abordagem sistêmica na agronomia 109 
9.1 As especificidades locais e regionais 114 
9.2 O perfil do agricultor 116 
9.3 A necessidade de diálogo na relação agrônomo/agricultor 117 
9.4 O poder do mercado 118 
9.5 A racionalidade do agricultor 121 
10 A formação do engenheiro agrônomo 123 
10.1 Estágio interdisciplinar de vivência 123 
10.2 A formação crítica e holística 125 
10.3 O buraco negro na formação do agrônomo 129 
10.4 Indissociabilidade ensino-pesquisa-extensão 133 
Glossário 136 
Referências 140 
 
 
 
 
Apresentação 
 
Após ministrar a disciplina de Introdução à Agronomia desde 
2012, e ter reunido muitas referências sobre o assunto, resolvi escrever 
este livro-texto com o objetivo de facilitar os estudos dos iniciantes 
em agricultura e agronomia. 
É importante o alerta de que este livro não se constitui de 
nenhuma espécie de “resumão” sobre agricultura e agronomia. 
Já existem livros publicados com este objetivo. 
 O objetivo deste livro é contribuir com a iniciação em 
agricultura e agronomia com esclarecimentos sobre a importância da 
agricultura e sua relação ambiental, social e econômica. Para isso, os 
conteúdos aqui descritos esclarecem a importância da agricultura, da 
agronomia e do agrônomo, o espaço e as relações sociais, ambientais 
e econômicas no campo de atuação do agrônomo e a abordagem 
de estudos da agronomia para uma formação ampla e crítica. 
O texto traz também uma visão de agricultura que garante a 
soberania alimentar, o equilíbrio na balança comercial, o equilíbrio 
entre população urbana e rural e a importância econômica para as 
cidades, estados e nações. 
 Os principais assuntos relatados neste livro são: 
1. Importância do curso superior em agronomia; 
2. Campo de atuação do agrônomo; 
3. As relações sociais e o espaço rural nos quais atua 
o agrônomo; 
4. O local onde se faz agricultura e que produz alimentos, 
medicamentos, couro, fibra, água, serviços e energia. 
5. A terra e sua função social: espaço importante para 
o desenvolvimento humano; 
6. As características da agricultura capitalista de alto uso 
de insumos e energia; 
 
 
7. Aspectos de microeconomia na agricultura familiar: 
capitalista e camponesa; 
8. O desenvolvimento rural a partir do latifúndio e do 
minifúndio e a necessidade continuada de reforma agrária 
transformativa em todos os países; 
9. Estudos dos fatores e fenômenos relacionados à 
produção ecológica, incluindo a economia e as relações 
sociais dos agricultores e seu comportamento na natureza 
por meio de abordagens sistêmicas e, 
10. Adequação do PPC dos cursos de agronomia no Brasil 
e da gestão pedagógica para a formação crítica e reflexiva 
do agrônomo por abordagens sistêmicas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
9 
 
1 O engenheiro agrônomo 
 
O engenheiro agrônomo é um profissional com carga de 
conhecimento multidisciplinar, incluindo os campos da sociologia, 
economia, administração, engenharia, ecologia, biologia, física, 
química, zootecnia, ciências do solo, ciências do alimento, 
fitossanidade, fitotecnia dentre outras, aplicadas no campo das ciências 
agrárias, em seus aspectos de conservação ambiental, geração de 
serviços, produção de matéria para a indústria e principalmente, 
para produção de alimentos de origem animal e vegetal. 
Esta profissão é cada vez mais essencial para a humanidade, 
que precisa alimentar-se com produtos produzidos pelos agricultores 
que utilizam seus próprios conhecimentos e os conhecimentos 
técnicos do agrônomo, importantes para manter alta a produtividade 
e a qualidade dos alimentos, com preços acessíveis a todos. 
Com o agravamento dos problemas ambientais e escassez 
de recursos naturais,agrônomos e agricultores devem ter maior 
responsabilidade e criatividade para a produção de alimentos seguros 
e com métodos conservacionistas. 
 
 
1.1 Ser agrônomo: uma carreira 
 
O agrônomo pode seguir a carreira de servidor de instituições 
públicas e mistas, como nos órgãos de extensão e assistência técnica, 
INCRA, Bancos, CONAB, Prefeituras, MAPA, perito da polícia 
federal, institutos de defesa fitossanitária e ser professor em escolas 
agrícolas, institutos federais ou outras escolas similares. 
Para os agrônomos que alcançarem os títulos de mestre e 
doutor, também existe a possibilidade de seguirem a carreira 
10 
 
acadêmica do magistério superior em universidades públicas e 
privadas (Figura 1). 
 
Figura 1 - Relação de instituições públicas nas quais o agrônomo 
pode trabalhar. 
 Embrapa 
 Universidades 
 Institutos Federais de Educação 
 EMATER/Extensão 
 INCRA 
Serviços públicos Bancos 
 Prefeituras 
 MAPA 
 Polícia Federal 
 Institutos de defesa agropecuária 
 CONAB 
 
Apesar da carreira estável no serviço público, em países 
com tendência neoliberal (estado mínimo), pode haver extinção de 
órgãos e funções ou redução de vagas de trabalho nesses órgão, 
tornando a assistência social, a pesquisa e o ensino, atividades 
desenvolvidas por instituições privadas, que geralmente remuneram 
pouco seus trabalhadores ou exigem alta carga de trabalho. 
No final do século XX e início do século XXI, percebe-se 
uma tendência à terceirização dos serviços públicos em áreas da 
saúde, educação, assistência técnica, ensino e outras. Assim, muitos 
agrônomos estão sendo contratados para prestar serviços de 
assistência técnica por tempo determinado, comprometendo uma 
11 
 
possível relação de longo prazo com os agricultores e a continuidade 
de metodologias construtivistas de assistência técnica. 
Salvo a formação eclética do agrônomo, este pode 
desenvolver seu próprio negócio nos diversos ramos da 
agricultura e da agronomia. 
 
 
1.2 Atribuições do engenheiro agrônomo 
 
As atribuições do engenheiro agrônomo são amplas, estão 
previstas na resolução nº. 1048/2013 e seu exercício depende do 
registro no Conselho Regional de Engenharia e Agronomia 
(CREA) BRASIL (2002). 
Resolução nº 1.048, de 14 de agosto de 2013 
(CONFEA, 2013): 
Art. 3º As atividades dos profissionais citados 
no art. 1º desta resolução são as seguintes: 
I – Desempenho de cargos, funções e comissões 
em entidades estatais, paraestatais, autárquicas e 
de economia mista e privada; 
II – Planejamento ou projeto, em geral, de 
regiões, zonas, cidades, obras, estruturas, 
transportes, explorações de recursos naturais 
e desenvolvimento da produção industrial e 
agropecuária; 
III – Estudos, projetos, análises, avaliações, 
vistorias, perícias, pareceres e divulgação técnica; 
IV – Ensino, pesquisa, experimentação e ensaios; 
V – Fiscalização de obras e serviços técnicos; 
VI – Direção de obras e serviços técnicos; 
12 
 
VII – Execução de obras e serviços técnicos; 
VIII- Produção técnica especializada, industrial 
ou agropecuária. 
Art. 4º O exercício das atividades e das áreas de 
atuação profissional elencadas nos arts. 2º e 3º 
correlacionam-se às seguintes atribuições: 
I – Ensino agrícola em seus diferentes graus; 
II – Experimentações racionais e científicas 
referentes à agricultura, e, em geral, quaisquer 
demonstrações práticas de agricultura em 
estabelecimentos federais, estaduais e municipais; 
III – Propagar a difusão de mecânica agrícola, 
de processos de adubação, de métodos 
aperfeiçoados de colheita e de beneficiamento 
dos produtos agrícolas, bem como de métodos de 
aproveitamento industrial da produção vegetal; 
IV – Estudos econômicos relativos à agricultura 
e indústrias correlatas; 
V – Genética agrícola, produção de sementes, 
melhoramento das plantas cultivadas e fiscalização 
do comércio de sementes, plantas vivas e partes 
vivas de plantas; 
VI – Fitopatologia, entomologia e microbiologia 
agrícolas; 
VII – Aplicação de medidas de defesa e de 
vigilância sanitária vegetal; 
VIII – Química e tecnologia agrícolas; 
IX – Reflorestamento, conservação, defesa, 
exploração e industrialização de matas; 
X – Administração de colônias agrícolas; 
13 
 
XI – Ecologia e meteorologia agrícolas; 
XII – Fiscalização de estabelecimentos de 
ensino agronômico reconhecidos, equiparados ou 
em via de equiparação; 
XIII – Fiscalização de empresas agrícolas ou de 
indústrias correlatas; 
XIV – Barragens; 
XV – Irrigação e drenagem para fins agrícolas; 
XVI – Estradas de rodagem de interesse local e 
destinadas a fins agrícolas; 
XVII – Construções rurais, destinadas a moradias 
ou fins agrícolas; 
XVIII – Avaliações e perícias; 
XIX – Agrologia; 
XX – Peritagem e identificação, para desembaraço 
em repartições fiscais ou para fins judiciais, de 
instrumentos, utensílios e máquinas agrícolas, 
sementes, plantas ou partes vivas de plantas, 
adubos, inseticidas, fungicidas, maquinismos e 
acessórios e, bem assim, outros artigos utilizados 
na agricultura ou na instalação de indústrias rurais 
e derivadas; 
XXI – Determinação do valor locativo e venal das 
propriedades rurais, para fins administrativos ou 
judiciais, na parte que se relacione com a sua 
profissão; 
XXII – Avaliação e peritagem das propriedades 
rurais, suas instalações, rebanhos e colheitas 
pendentes, para fins administrativos, judiciais ou 
de crédito; 
14 
 
XXIII – Avaliação dos melhoramentos fundiários; 
XXIV – O estudo, projeto, direção, fiscalização 
e construção de obras de drenagem e irrigação; 
XXV – O estudo, projeto, direção, fiscalização 
e construção de edifícios, com todas as suas 
obras complementares; 
XXVI – O estudo, projeto, direção, fiscalização 
e construção das estradas de rodagem e de ferro; 
XXVII – O estudo, projeto, direção, fiscalização e 
construção das obras de captação e abastecimento 
de água; 
XXVIII – Trabalhos de captação e 
distribuição da água; 
XXIX – O estudo, projeto, direção, 
fiscalização e construção das obras 
destinadas ao aproveitamento de energia e 
dos trabalhos relativos às máquinas e fábricas; 
XXX – O estudo, projeto, direção, execução e 
exploração de instalações industriais, fábricas e 
oficinas; 
XXXI – O estudo, projeto, direção e execução 
das instalações das oficinas, fábricas e indústrias; 
XXXII – O estudo, projeto, direção, fiscalização 
e construção das obras relativas a portos, rios e 
canais e das concernentes aos aeroportos; 
XXXIII – O estudo, projeto, direção, fiscalização 
e construção das obras peculiares ao saneamento 
urbano e rural; 
XXXIV – Projeto, direção e fiscalização dos serviços 
de urbanismo; 
15 
 
XXXV – Assuntos de engenharia legal; 
XXXVI – Assuntos legais relacionados com 
suas especialidades; 
XXXVII – Perícias e arbitramentos; 
XXXVIII – Fazer perícias, emitir pareceres e fazer 
divulgação técnica; 
XXXIX – Trabalhos topográficos e geodésicos; 
XL – O estudo e projeto de organização e direção 
das obras de caráter tecnológico dos edifícios 
industriais; 
XLI – O estudo, projeto, direção e execução das 
instalações de força motriz; 
XLII – A direção, fiscalização e construção das 
instalações que utilizem energia elétrica; 
XLIII – O estudo, projeto, direção e execução 
das instalações mecânicas e eletromecânicas; 
XLIV – O estudo, projeto, direção e execução 
de obras relativas às usinas elétricas, às redes de 
distribuição e às instalações que utilizem a 
energia elétrica; 
XLV – A direção, fiscalização e construção de 
obras concernentes às usinas elétricas e às redes 
de distribuição de eletricidade; 
XLVI – Vistorias e arbitramentos; 
XLVII – O estudo de geologia econômica e 
pesquisa de riquezas minerais; 
XLVIII – A pesquisa, localização, prospecção e 
valorização de jazidas minerais; 
XLIX – O estudo, projeto, execução, direção e 
fiscalização de serviçosde exploração de minas; 
16 
 
L – O estudo, projeto, execução, direção e 
fiscalização de serviços da indústria metalúrgica; 
LI – Reconhecimentos, levantamentos, estudos 
e pesquisas de caráter físico-geográfico, 
biogeográfico, antropogeográfico e geoeconômico e 
as realizadas nos campos gerais e especiais da 
Geografia, que se fizerem necessárias: 
a) na delimitação e caracterização de regiões, 
sub-regiões geográficas naturais e zonas 
geoeconômicas, para fins de planejamento e 
organização físico-espacial; 
b) no equacionamento e solução, em escala 
nacional, regional ou local, de problemas atinentes 
aos recursos naturais do País; 
c) na interpretação das condições hidrológicas 
das bacias fluviais; 
d) no zoneamento geo-humano, com vistas aos 
planejamentos geral e regional; 
e) na pesquisa de mercado e intercâmbio 
comercial em escala regional e inter-regional; 
f) na caracterização ecológica e etológica da 
paisagem geográfica e problemas conexos; 
g) na política de povoamento, migração interna, 
imigração e colonização de regiões novas ou de 
revalorização de regiões de velho povoamento; 
h) no estudo físico-cultural dos setores 
geoeconômicos destinados ao planejamento da 
produção; 
i) na estruturação ou reestruturação dos sistemas 
de circulação; 
17 
 
j) no estudo e planejamento das bases físicas e 
geoeconômicas dos núcleos urbanos e rurais; 
k) no aproveitamento, desenvolvimento e 
preservação dos recursos naturais; 
l) no levantamento e mapeamento destinados à 
solução dos problemas regionais; 
m) na divisão administrativa da União, dos 
Estados, dos Territórios e dos Municípios. 
LII – a organização de congressos, comissões, 
seminários, simpósios e outros tipos de reuniões, 
destinados ao estudo e à divulgação da Geografia; 
LIII – levantamentos geológicos, geoquímicos e 
geofísicos; 
LIV – estudos relativos a ciências da terra; 
LV – trabalhos de prospecção e pesquisa para 
cubação de jazidas e determinação de seu valor 
econômico; 
LVI – ensino das ciências geológicas nos 
estabelecimentos de ensino secundário e superior; 
LVII – relatório circunstanciado, nos termos do 
inciso IX do art. 16, do Decreto-lei nº 1.985, de 
29 de janeiro de 1940 (Código de Minas); 
LVIII – dirigir órgãos, serviços, seções, grupos 
ou setores de Meteorologia em entidade pública 
ou privada; 
LIX – julgar e decidir sobre tarefas científicas 
e operacionais de Meteorologia e respectivos 
instrumentais; 
18 
 
LX – pesquisar, planejar e dirigir a aplicação 
da Meteorologia nos diversos campos de sua 
utilização; 
LXI – executar previsões meteorológicas; 
LXII – executar pesquisas em Meteorologia; 
LXIII – dirigir, orientar e controlar projetos 
científicos em Meteorologia; 
LXIV – criar, renovar e desenvolver técnicas, 
métodos e instrumental em trabalhos de 
meteorologia; 
LXV – introduzir técnicas, métodos e instrumental 
em trabalhos de Meteorologia; 
LXVI – pesquisar e avaliar recursos naturais na 
atmosfera; 
LXVII – pesquisar e avaliar modificações artificiais 
nas características do tempo; e 
LXVIII – atender a consultas meteorológicas e 
suas relações com outras ciências naturais. 
Parágrafo único. Os profissionais citados no art. 
1º desta resolução poderão exercer qualquer 
outra atividade que, por sua natureza, se inclua 
no âmbito de suas profissões. 
 
 
1.3 Ser agrônomo: um bom negócio 
 
O engenheiro agrônomo possui muitas possibilidades, pela 
multidisciplinaridade de sua formação e pela demanda crescente 
e contínua por alimentos frescos e processados – que tem como base 
o trabalho no campo -, afinal, nenhum alimento surge sem vir da terra. 
19 
 
Da terra saem os produtos primários como hortaliças, 
frutos, grãos, óleos, extratos, condimentos, essências florestais, 
medicamentos, plantas ornamentais, insumos, carnes, ovos, leite, 
couro, tecidos, dentre outros. 
Essas matérias-primas passam pela agroindústria, sendo 
transformadas, agregando valor ao produto primário. 
A produção agrícola pode movimentar baixas receitas, entre 
R$1.000,00 e R$2.000,00/mês – como em uma pequena horta com 
1.000 m², viveiro de plantas ou pequena agroindústria, mas também 
pode movimentar milhões de reais por mês – em uma 
empresa exportadora de frutas ou beneficiadora de laticínio, sucos, 
doces e vinhos e produção de animais confinados, por exemplo 
(Figura 2). 
 
Figura 2 – Alternativas de negócio em que o agrônomo pode atuar. 
 
 Lojas agropecuárias 
 Consultorias 
 Laticínios 
Bebidas alcoólicas 
 Agroindústria Sucos 
 Polpas 
 Próprio Doces 
 negócio Produção animal 
 Produção vegetal 
 Produção de mudas e sementes 
 Paisagismo 
 Produção de insumos 
 Produtos florestais 
 Turismo rural 
 
 
20 
 
Para receitas elevadas, há necessidade de estratégias 
comerciais, como venda em larga escala, custo e preço competitivo, 
contratação de muita mão de obra, infraestrutura mínima, terra e 
capital disponível e logística favorável. Porém, o mais importante 
é a disposição individual, conhecimento técnico e muito planejamento 
do agrônomo responsável. 
 Muitos negócios dependem de poucos fatores variáveis para 
serem controlados, como demanda, oferta, concorrência, custo de 
produção e comercialização, o que pode exigir pouca disposição do 
empresário com a contratação de um gerente, nesses casos, o risco 
é pequeno. 
Na agricultura, além desses fatores, as condições naturais, 
como temperatura, umidade, vento, chuva, iluminação, patógenos, 
pragas, plantas daninhas, medidas protecionistas e os subsídios aos 
agricultores dos países industrializados, aumentam o risco da atividade 
e exige maior envolvimento do empresário na atividade, que de 
preferência deve ter conhecimentos mínimos de agricultura e 
inevitavelmente contratar agrônomos para administrar os sistemas 
produtivos ou prestar acessórias nas diferentes área. 
 
 
1.4 O cientista e acadêmico 
 
O curso de agronomia no Brasil é tipificado como 
Bacharelado, formando técnicos projetistas e calculistas, com 
capacidade de interpretar a realidade biológica, física e química 
21 
 
utilizando conhecimento existente e/ou aqueles gerados com a 
experimentação agrícola1 e pesquisa ação2 para solução de problemas. 
A habilidade de interpretar a realidade deve ser estimulada 
com conhecimento teórico e contextualizado em atividades de campo, 
em projetos de extensão universitária e pesquisas científicas. 
A habilidade de gerar conhecimento a partir de pesquisa 
científica deve ser estimulada pela participação em projetos de 
pesquisa, seja com bolsa de iniciação científica ou participação 
voluntária. 
Tanto os projetos de extensão quanto os de pesquisa devem 
ser conduzidos prioritariamente sob a orientação de professores. 
Pois são os professores que possuem a credencial para registrar 
institucionalmente seus projetos de pesquisa e extensão e submetê-
los aos órgãos de fomento. 
A formação científica deve ser ampliada nos cursos de 
mestrado e doutorado. Algumas funções como a de professor de 
universidades federais e pesquisadores da Embrapa, por exemplo, 
exigem a titularidade de doutor, sendo o doutoramento um caminho 
possível de se percorrer. 
Em toda ciência ou profissão, o profissional tem acesso a 
conhecimentos produzidos no mundo inteiro por meio de livros e 
artigos científicos publicados em periódicos (revistas científicas) ou 
em anais de congresso e outros eventos científicos. 
 
1 Experimentação agrícola: ciência agronômica que utiliza os conhecimentos 
em estatística, com casualização, repetição e aplicação de testes estatísticos 
para validação de novas tecnologias testadas em campo ou em laboratórios. 
2 Pesquisa-ação: metodologia de pesquisa com a participação do agricultor na 
identificação do problema, problematização do conhecimento, teste e 
avaliação de novas tecnologias. 
22 
 
O acesso namaioria dos periódicos é gratuito, outros 
podem ser acessados via pagamento por cada artigo ou número de 
páginas do artigo. 
A rede de computadores das universidades públicas brasileiras 
tem acesso a grande número de periódicos cadastrados no scielo 
(www.scielo.br), Science direct (www.sciencedirect.com), periódicos 
CAPES (http://www.periodicos.capes.gov.br/) e em sítios de 
busca comum. 
Além do conteúdo recomendado pelo professor no plano de 
disciplina, o discente pode acessar a esses portais para expandir seus 
conhecimentos e ter contato com os avanços no tema de estudo 
de interesse. 
 
 
1.5 A vida acadêmica no curso de agronomia 
 
Há um provérbio comum entre os estudantes de agronomia 
(e tantos outros cursos no Brasil) que diz: “entrar para agronomia 
é fácil, difícil é sair”. A dificuldade está na necessidade de domínio 
de conhecimentos distintos, como cálculo e botânica, física e ecologia, 
química e sociologia. 
Para ser um bom agrônomo não basta ser apenas hábil com 
os cálculos e ler muito, é necessário ter vivência de campo para que 
o conhecimento teórico seja incorporado a partir de problemas reais 
e contextualizados para as condições ambientais, econômicas e sociais 
de cada região. 
Essa vivência deve perseguir o agrônomo para o resto de sua 
vida profissional, pois o período após a faculdade é muito importante 
http://www.scielo/
http://www.sciencedirect/
http://www/
23 
 
para a consolidação de sua formação, visto que na vida se aprende 
todo dia. 
Almeida (2000) afirma que há claramente um forte 
antagonismo entre técnicas versus práticas: 
Se por um lado, as técnicas podem ser analisadas, 
elaboradas, testadas independentemente daqueles 
que as utilizam, as práticas não podem ser 
estudadas sem se levar em consideração as 
condições nas quais agem os agricultores, sem uma 
análise do contexto social, econômico e ecológico 
da ação. Neste contexto, a agronomia é cada vez 
mais conectada às “questões do meio ambiente”, 
já que seu próprio objeto de estudo se encontra no 
centro de muitas questões ou problemas ligados à 
esta questão-maior. 
Para os estudantes que querem seguir uma carreira acadêmica, 
é preciso, desde cedo, procurar um orientador e iniciar sua 
formação científica, participando de pesquisas que possam lhe 
render habilidades práticas e publicação de resumos e artigos 
científicos, produtos pelos quais serão avaliados em seleções de 
provas e títulos. 
No Brasil, para se ter acesso a programas institucionais de 
fomento, os estudantes, professores, e pesquisadores devem ter 
seus currículos cadastrados na plataforma Lattes do Conselho 
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq 
(http://lattes.cnpq.br/). 
Os resumos científicos simples de uma página ou resumos 
expandidos de cinco páginas, por exemplo, encontram menos 
dificuldades para a sua publicação, geralmente, se publicam em 
encontros científicos, seminários, semanas acadêmicas, simpósios 
http://lattes.cnpq.br/
24 
 
e congressos, contudo, o seu peso em critério de avaliação de 
desempenho profissional é baixo. 
Artigos científicos são mais difíceis de serem publicados, 
principalmente em revistas mais bem ranqueadas, visto que exigem 
- além do pagamento de submissão, pagamento para publicação e 
para a versão do artigo em língua inglesa -, exigem ainda temas de 
repercussão amplos, capazes de atingir um elevado número de leitores, 
inclusive internacionais. 
Atualmente os estudantes realizam matrículas, empréstimo 
de livro, acessam programas de assistência estudantil e portal de 
notas com seus aparelhos de comunicação moveis (celular), um 
instrumento importante na vida moderna, quase indispensável. 
Porém, na “era dos celulares”, a tendência é a de que os 
melhores agrônomos serão aqueles que melhor souberem utilizar 
seus aparelhos celulares para comunicações indispensáveis, consultas 
a conhecimentos e uso de aplicativos que economizem tempo para 
dedicação aos estudos. 
Para obter uma formação científica de elevado nível é 
necessário escolher um orientador, que pode ser um professor da 
própria instituição de ensino superior (IES), de outra IES ou 
pesquisadores de instituições de pesquisa ou extensionistas. 
 
 
1.5.1 Escolha do orientador 
 
 Pela importância da pesquisa na formação profissional em 
ensino de nível superior, o olhar de um bom orientador é muito 
significativo nesta etapa. Por isso, o ideal é que o aluno tenha 
opções de escolha dentre muitos orientadores de alto nível; porém, 
dependendo da região, da universidade e/ou do curso, o estudante 
25 
 
pode possuir poucas alternativas e ter que optar por orientadores 
com menor capacidade de orientação. 
No entanto, nem sempre o aluno escolhe; ele também pode 
ser escolhido, já que os orientadores têm preferência por alunos 
criativos, inteligentes e - principalmente -, responsáveis e esforçados. 
 Quando o aluno possui opção de escolha, deve procurar 
orientadores dedicados à orientação em nível de iniciação científica, 
que possua criatividade e ao mesmo tempo “controle” a imaginação, 
seja aberto ao diálogo com possibilidade de aceitar teorias e os 
conhecimentos do aluno e que, sobretudo, zele pelo método 
científico e domine a técnica de pesquisa escolhida. 
Os orientadores com título de mestre e principalmente com 
título de doutor, teoricamente, reúnem as melhores características e 
habilidades para orientação por sua formação continuada e acúmulo 
de treinamento em redação científica, estatística e técnicas de pesquisa. 
 Também é importante escolher orientadores que tenham 
boa relação pessoal e profissional com seus colegas de trabalho da 
mesma instituição ou de diferentes instituições e, com isso, possa 
viabilizar pesquisas interdisciplinares. 
 Outro critério que não deveria ser observado pelo 
estudante é a capacidade do orientador de captar recursos externos. 
Por quê? Porque as instituições de ensino superior públicas ou 
privadas e as instituições de pesquisa deveriam ter recursos 
suficientes para todos os orientadores, mas esta não é uma 
realidade brasileira. Assim, os orientadores devem concorrer aos 
editais das agências de fomento (CNPq, FINEP e Fundações 
estaduais), que possuem recursos limitados e estes são aprovados 
apenas para os orientadores com melhores currículos, obedecendo 
ao modelo produtivista de captação de recurso. 
26 
 
 Estes orientadores produtivistas são poucos e podem conter 
moralmente desvios de conduta, como mal humor, arrogância, pouco 
senso crítico e egocentrismo, dentre outros, reduzindo as opções 
de escolha. 
 Como dito anteriormente, o estudante pode ser escolhido 
por um orientador e, muito possivelmente, pelos orientadores 
produtivistas, que possuem recursos para pesquisa e precisam 
manter alta sua produtividade em formação de recursos humanos, 
critério também utilizado pelas agências de fomento. 
Para o orientador manter a produtividade de artigos 
publicados, escolhem alunos com perfil de pesquisador, que em uma 
relação de troca, colaboram na pesquisa e recebem ensinamento 
individual não apenas do tema de pesquisa, mas de outros 
conhecimentos afins e muitas vezes de caráter ético e moral. 
 
 
1.5.2 Relação orientador-orientando 
 
A relação orientador-orientando não deve jamais ser de 
superioridade ou inferioridade, apesar dos níveis de titulação 
diferentes, a relação deve ser de professor e aluno, que devem 
realizar atividade de pesquisa em que ambos estejam abertos ao 
diálogo. Mesmo que a maior via de conhecimento siga na direção 
orientador-orientando há uma via importante de conhecimento do 
orientando para o orientador, mas, para isso, é preciso que exista o 
diálogo nesta relação. 
A teoria da dialogicidade de Paulo Freire ocorre pelo menos 
entre duas partes, agrônomo-agricultor, professor-estudante, médico-
-paciente, pai-filho, exigindo que as partes incorporemo papel de 
27 
 
educador-educando e ao mesmo tempo o de educando-educador 
(FREIRE, 1977). 
 O orientador não deve ensinar tudo para o estudante, mas 
possibilitar que ele descubra os fenômenos e os conhecimentos 
principais e secundários da pesquisa, para isso, Paulo Freire 
recomenda a problematização do conhecimento (FREIRE, 1977). 
 Além do relacionamento pedagógico, deve haver entre as 
partes, reconhecimento, respeito, cobrança, pontualidade, assiduidade, 
zelo pelo método de pesquisa, muita dedicação, dentre outras virtudes. 
 
 
1.5.3 Programas de iniciação científica 
 
 Para iniciar na pesquisa, o estudante não precisa estar inserido 
formalmente em nenhum programa de pesquisa ou extensão, porém, 
é importante sua inserção formal, pois geralmente ele precisará de 
comprovante de participação em programa de pesquisa e extensão 
para compor seu currículo, que poderá ser utilizado em momentos de 
concorrência em concursos públicos ou em seleções para ingresso 
na pós-graduação. 
 E é indispensável para o desenvolvimento de pesquisas: 
equipamentos, laboratórios e recursos financeiros disponíveis para 
os professores e à disposição à seus programas de pesquisa e extensão. 
 No Brasil, o Conselho Nacional de Desenvolvimento 
Científico e Tecnológico (CNPq) possui vários programas de 
iniciação científica e tecnológica. Dentre os quais podemos 
destacar: o Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica 
(PIBIC) e o Programa Institucional de Bolsas de Iniciação em 
Desenvolvimento Tecnológico e Inovação (PIBITI). 
28 
 
O PIBIC tem a modalidade PIBIC-AF (ações afirmativas), 
destinado aos estudantes que ingressaram na Instituição Federal de 
Ensino Superior (IFES) pelo Sistema de Seleção Unificada – SISU, 
nas vagas reservadas para estudantes que se autodeclaram pretos, 
pardos ou indígenas, conforme Lei nº. 12.711 de 2012: 
Art. 3º Em cada instituição federal de ensino 
superior, as vagas de que trata o art. 1º desta Lei 
serão preenchidas, por curso e turno, por 
autodeclarados com deficiência na população da 
unidade da Federação onde está instalada a 
instituição, segundo o último censo da Fundação 
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - 
IBGE (BRASIL, 2012) 
Esses programas são administrados pelas instituições de 
ensino e pesquisa, com bolsas de iniciação científica e tecnológica 
pagas pelo CNPq e parte delas pela instituição proponente. 
Na UFAC, há a modalidade de pesquisa para estudantes 
voluntários em iniciação científica (PIVIC), sendo o aluno obrigado 
a cumprir todas as exigências dos estudantes bolsistas para que possa 
receber o certificado de participação. 
Tais programas não são estendidos a todos os estudantes e 
orientadores. As cotas são distribuídas por meio de edital, público 
lançado pela instituição proponente, em que o orientador deve 
elaborar o projeto de pesquisa com plano de trabalho para cada 
bolsista que - junto com o currículo do orientador - são os critérios 
utilizados para a seleção. 
 
 
 
 
29 
 
1.6 Salário do agrônomo 
 
O piso salário do agrônomo foi estabelecido pela pelo 
CONFEA, por maio da Resolução nº 397, DE 11 AGO 1995. 
Salário Mínimo Profissional para execução das 
atividades e tarefas classificadas na alínea "a" do 
Art. 4º da Resolução é de 06 (seis) vezes o 
Salário Mínimo comum, vigente no País, para os 
profissionais... Engenharia, de Arquitetura, de 
Agronomia, de Geologia, de Geografia, de 
Meteorologia e afins com curso universitário de 
04 (quatro) anos ou mais (CONFEA, 1995). 
A Constituição Brasileira em seu artigo 7º, veda a vinculação 
do salário mínimo como indexador para qualquer fim: 
Art. 7° - São direitos dos trabalhadores urbanos e 
rurais, além de outros que visem à melhoria de 
sua condição social: (...) IV - salário-mínimo, fixado 
em lei nacionalmente unificado, capaz de atender 
às suas necessidades vitais básicas e às de sua 
família com moradia, alimentação, educação, 
saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e 
previdência social, com reajustes periódicos que lhe 
preservem o poder aquisitivo, sendo vedada sua 
vinculação para qualquer fim (BRASIL, 2019a). 
Em levantamento realizado a respeito do salário do 
agrônomo, verificou-se que entre outubro de 2018 e maio de 2019, 
o salário médio foi de R$7.023,21/mês, no mercado de trabalho 
brasileiro, para uma jornada de trabalho de 42 horas semanais3. 
 
3 (https://www.salario.com.br/profissao/engenheiro-agronomo-cbo-222110/) 
https://www.salario.com.br/profissao/engenheiro-agronomo-cbo-222110/
30 
 
1.7 O doutor do campo 
 
Apesar de o agricultor ter conhecimento acerca de solos 
férteis e pobres, saber diferenciar os problemas fitossanitários (se são 
causados por bactéria, fungo, vírus, inseto ou nematoide), saber castrar 
animais, ter um bom palpite sobre a quantidade de água e nutrientes 
a ser aplicada à sua lavoura, conhecer as plantas contendo princípios 
ativos para cura de doenças humanas, o agrônomo quem era tratado 
como “doutor”, mesmo tendo apenas o título de Bacharel. 
Atualmente, o bacharel em agronomia já não é denominado 
de doutor. A partir do currículo do curso de agronomia e da 
necessidade do mercado, foram criados cursos de graduação como: 
Zootecnia, Veterinária, Engenharia Agrícola, Engenharia Florestal, 
Agroecologia, Ciência do Alimento e Entomologia, todos 
contemplado na agronomia em outrora. 
Apesar dos Projetos Pedagógicos dos Cursos (PPCs) de 
agronomia terem especificidades locais e regionais, esses são 
delimitados por diretrizes do Ministério da Educação (MEC), que 
exigem carga horárias com disciplinas básicas (física, química, cálculo), 
essenciais e profissionalizantes, que ainda abrangem os campos da 
veterinária, zootecnia, engenharia agrícola, engenharia florestal, 
ciência de alimentos e outros. 
Deste modo, cabe a questão: como deve ser um PPC que 
proporcione uma formação do agrônomo competitiva no mercado 
e sem conflitos com as demais profissões? 
 
 
 
 
31 
 
2 Diretrizes curriculares nacionais para a agronomia 
 
As Diretrizes Curriculares Nacionais para os cursos de 
graduação em Engenharia Agronômica ou Agronomia, foram 
instituídas pela Resolução nº 1, de 2 de fevereiro de 2006 (BRASIL, 
2006a). 
Em seu artigo 2º, ficam claros os objetivos dessas diretrizes, 
como segue: 
As Diretrizes Curriculares para o curso de 
Engenharia Agronômica ou Agronomia indicarão 
claramente os componentes curriculares, 
abrangendo a organização do curso, o projeto 
pedagógico, o perfil desejado do formando, as 
competências e habilidades, os conteúdos 
curriculares, o estágio curricular supervisionado, as 
atividades complementares, o acompanhamento e 
a avaliação bem como o trabalho de conclusão de 
curso como componente obrigatório ao longo do 
último ano do curso, sem prejuízo de outros 
aspectos que tornem consistente o projeto 
pedagógico. 
A orientação estabelecida pelas diretrizes é a de uma 
formação profissional com capacidade crítica e criativa para a 
resolução dos problemas da sociedade, relacionados à agricultura e ao 
atendimento das expectativas humanas, utilizando de forma racional 
os recursos naturais disponíveis. 
Essas diretrizes devem nortear o PPC e caracterizar o perfil 
do egresso em engenharia agronômica. 
32 
 
Em seu artigo 4º, a resolução orienta a elaboração de PPCs 
com atividades interdisciplinares, modos de integração entre teoria e 
prática; o incentivo à pesquisa, como uma forma de ampliação da 
atividade de ensino, regulamentações para as atividades relacionadas 
ao trabalho de conclusão de curso (TCC), atividades complementares 
e estágios curriculares supervisionados. 
O Trabalho de Conclusão de Curso passa a ser obrigatório e 
deve ser realizado nos últimos anos de integralização do curso. 
Em seu artigo 6º, a resolução orienta a elaboração de PPCs 
com as seguintes competências e habilidadesesperadas para um 
egresso em Engenharia Agronômica: 
a) projetar, coordenar, analisar, fiscalizar, 
assessorar, supervisionar e especificar técnica e 
economicamente projetos agroindustriais e do 
agronegócio, aplicando padrões, medidas e 
controle de qualidade; 
b) realizar vistorias, perícias, avaliações, 
arbitramentos, laudos e pareceres técnicos, com 
condutas, atitudes e responsabilidade técnica e 
social, respeitando a fauna e a flora e promovendo 
a conservação e/ou recuperação da qualidade 
do solo, do ar e da água, com uso de tecnologias 
integradas e sustentáveis do ambiente; 
c) atuar na organização e gerenciamento 
empresarial e comunitário interagindo e 
influenciando nos processos decisórios de agentes 
e instituições, na gestão de políticas setoriais; 
d) produzir, conservar e comercializar alimentos, 
fibras e outros produtos agropecuários; 
33 
 
e) participar e atuar em todos os segmentos das 
cadeias produtivas do agronegócio; 
f) exercer atividades de docência, pesquisa e 
extensão no ensino técnico profissional, ensino 
superior, pesquisa, análise, experimentação, 
ensaios e divulgação técnica e extensão; 
g) enfrentar os desafios das rápidas transformações 
da sociedade, do mundo, do trabalho, adaptando-
se às situações novas e emergentes. 
 
Para isso, o currículo dos PPCs deve conter três núcleos 
estruturantes e - de preferência -, com interdisciplinaridade entre eles. 
 
 I - O núcleo de conteúdos básicos será 
composto dos campos de saber que forneçam o 
embasamento teórico necessário para que o 
futuro profissional possa desenvolver seu 
aprendizado. Esse núcleo será integrado por: 
Matemática, Física Química, Biologia, Estatística, 
Informática e Expressão Gráfica. II - O núcleo de 
conteúdos profissionais essenciais será composto 
por campos de saber destinados à caracterização 
da identidade do profissional. O agrupamento 
desses campos gera grandes áreas que caracterizam 
o campo profissional e agronegócio, integrando 
as subáreas de conhecimento que identificam 
atribuições, deveres e responsabilidades. Esse 
núcleo será constituído por: Agrometeorologia e 
Climatologia; Avaliação e Perícias; Biotecnologia, 
Fisiologia Vegetal e Animal; Cartografia, 
34 
 
Geoprocessamento e Georeferenciamento; 
Comunicação, Ética, Legislação, Extensão e 
Sociologia Rural; Construções Rurais, 
Paisagismo, Floricultura, Parques e Jardins; 
Economia, Administração Agroindustrial, Política 
e Desenvolvimento Rural; Energia, Máquinas, 
Mecanização Agrícola e Logística; Genética de 
Melhoramento, Manejo e Produção e Florestal. 
Zootecnia e Fitotecnia; Gestão Empresarial, 
Marketing e Agronegócio; Hidráulica, Hidrologia, 
Manejo de Bacias Hidrográficas, Sistemas de 
Irrigação e Drenagem; Manejo e Gestão 
Ambiental; Microbiologia e Fitossanidade; 
Sistemas Agroindustriais; Solos, Manejo e 
Conservação do Solo e da Água, Nutrição de 
Plantas e Adubação; Técnicas e Análises 
Experimentais; Tecnologia de Produção, Controle 
de Qualidade e Pós-Colheita de Produtos 
Agropecuários. III - O núcleo de conteúdos 
profissionais específicos deverá ser inserido no 
contexto do projeto pedagógico do curso, visando 
a contribuir para o aperfeiçoamento da habilitação 
profissional do formando. Sua inserção no 
currículo permitirá atender às peculiaridades 
locais e regionais e, quando couber, caracterizar 
o projeto institucional com identidade própria. 
IV - Os núcleos de conteúdos poderão ser 
ministrados em diversas formas de organização, 
observando o interesse do processo pedagógico e 
a legislação vigente. V - Os núcleos de conteúdos 
35 
 
poderão ser dispostos, em termos de carga horária 
e de planos de estudo, em atividades práticas e 
teóricas, individuais ou em equipe, tais como: 
a) participação em aulas práticas, teóricas, 
conferências e palestras; b) experimentação em 
condições de campo ou laboratório; c) utilização 
de sistemas computacionais; d) consultas à 
biblioteca; e) viagens de estudo; f) visitas técnicas; 
g) pesquisas temáticas e bibliográficas; h) projetos 
de pesquisa e extensão; i) estágios 
profissionalizantes em instituições credenciadas 
pelas IES; j) encontros, congressos, exposições, 
concursos, seminários, simpósios, fóruns de 
discussões, etc. 
Os PPCs dos cursos de graduação no Brasil, em geral, não 
cumprem em parte as diretrizes estabelecidas pelo MEC, 
principalmente no que diz respeito a interdisciplinaridade e a condução 
de estudos práticos. 
Os estágios obrigatórios devem ser realizados durante o curso 
e não possuem conteúdos mínimos que confiram as competências e 
habilidades determinadas pela resolução. 
A carga horária mínima para os cursos de agronomia deve ser 
de 3.600 h e é definida pela Resolução nº 2, de 18 de junho de 2007. 
A resolução nº 7, de 18 de dezembro de 2018, que estabelece 
as diretrizes para a extensão na educação superior brasileira, inclui, 
obrigatoriamente, a extensão universitária como componente 
curricular dos cursos superiores: 
[...] Art. 4º As atividades de extensão devem 
compor, no mínimo, 10% (dez por cento) do 
total da carga horária curricular estudantil dos 
36 
 
cursos de graduação, as quais deverão fazer parte 
da matriz curricular dos cursos (BRASIL, 2018). 
[...] Art. 7º São consideradas atividades de extensão 
as intervenções que envolvam diretamente as 
comunidades externas às instituições de ensino 
superior e que estejam vinculadas à formação do 
estudante, nos termos desta Resolução, e 
conforme normas institucionais próprias 
(BRASIL, 2018). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
37 
 
3 As titulações de agrônomo e engenheiro agrônomo 
 
A titulação do profissional formado em Agronomia ou 
Engenharia Agronômica, foi denominada inicialmente como 
Agrônomo pelo decreto 5.957 de 23 de junho de 1875, seguindo 
a matriz do ensino agrícola francês de 1848. Naquela época, o 
profissional da agronomia tinha formação sólida em produção vegetal. 
Em 1910, o Brasil regulamentou o ensino agrícola brasileiro 
pelo decreto 8.319 de 20 de outubro, denominando de engenheiro 
agrônomo o egresso dos cursos de agronomia, apesar de que a 
formação ainda era voltada para a produção vegetal e animal. Em 
1925, a Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ), 
reformulou seu currículo, acrescentando as cadeiras de engenharia 
rural, matemática, desenho e outras, reforçando a área de engenharia e 
consolidando a titulação de engenheiro agrônomo. Essa denominação 
foi reforçada pelo decreto 23.937 de 08 de março de 1934. 
Porém, ainda em 1934, o Ministério da Agricultura - 
responsável pelo ensino agrícola nacional na época -, alterou a titulação 
de engenheiro agrônomo para simplesmente agrônomo, instigando 
a revolta nos estudantes de agronomia do Rio de Janeiro (UFRRJ) e 
de Piracicaba (ESLAQ). 
Posteriormente, foi publicado o decreto 9.585 de 15 de 
agosto de 1946, determinando a impressão de novos diplomas e a 
reimpressão dos diplomas antigos com a titulação de engenheiro 
agrônomo. 
Atualmente, as diretrizes curriculares para o curso de 
Agronomia, em vigor desde 2006, continuam apresentando a mesma 
duplicidade (BRASIL, 2006a). 
Independentemente da titulação, as atribuições do engenheiro 
agrônomo são determinadas pelo Conselho Federal de Engenharia 
38 
 
e Agronomia (CONFEA) por meio do CREA de cada estado onde 
atua o profissional. 
Nem o saber, nem o salário dependem da denominação dessa 
titulação, pois os cursos das diferentes instituições devem seguir e 
cumprir as diretrizes curriculares - com pequenas diferenças entre 
si a depender das especificações locais e regionais -. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
39 
 
4 A formação da consciência crítica do agrônomo 
 
O homem, com seus sentidos naturais - no cotidiano, e em 
contato com o ambiente -, espontaneamente formauma consciência 
ingênua, por meio da apreensão da realidade. A partir dessa 
consciência, o homem passa a refletir, na tentativa de compreender e 
manejar os fenômenos, desenvolvendo, assim, a consciência crítica 
necessária para a sua própria sobrevivência ou prosperidade. 
Essa consciência crítica é considerada por Schimidt e Garcia 
(2005) como real, honesta e justa e, para isso, faz-se necessária a 
busca incessante pela justiça, procurando eliminar e combater 
qualquer forma de injustiça. Com isso, o homem tem sua história 
reconhecida, cria massas críticas, muda sociedades inteiras e muitas 
vezes torna-se imortal como Madre Tereza de Calcutá4, Nelson 
Mandela5, Oskar Schindler6 e, mais recentemente, a jovem 
muçulmana Malala Yousafzai7. 
 
4 De família Albanesa, Madre Tereza conseguiu nacionalidade indiana, visitou famílias 
em favelas, lavou as feridas de crianças, começou uma escola ao ar livre e cuidou 
de pobres, doentes e famintos. 
5 Nelson Mandela foi o líder do movimento contra o Apartheid - legislação que 
segregava os negros na África do Sul. Condenado em 1964 à prisão perpétua, 
foi liberto em 1990, depois de grande pressão internacional. Recebeu o 
“Prêmio Nobel da Paz” em dezembro de 1993, pela sua luta contra o regime 
de segregação racial. 
6 O alemão Oskar Schindler viu na mão de obra judia uma solução barata e viável 
para lucrar com negócios durante a guerra. Com sua forte influência dentro 
do partido nazista, conseguiu as autorizações para a abertura de uma fábrica. 
O que poderia parecer uma atitude de um homem não muito bondoso, 
transformou-se em um dos maiores casos de amor à vida da História, pois o 
alemão abdicou de toda sua fortuna para salvar a vida de mais de mil judeus 
em plena luta contra o extermínio nazista. 
7 Mulher militante dos direitos das crianças, uma jovem paquistanesa que foi 
vítima de um atentado por defender o direito das meninas de ir à escola. 
Com 17 anos, foi a mais jovem ganhadora do Prêmio Nobel da Paz. 
40 
 
No campo da agronomia, são reconhecidas como pessoas 
notáveis que contribuíram para uma consciência crítica ao modelo 
dominante de agricultura (poluidor, explorador e energeticamente 
ineficiente), Ana Primavesi8, Sebastião Pinheiro9 e Carlos Armênio 
Khatounian10. 
O conhecimento e a formação crítica como formas de 
resistência ao pensamento único e a um único entendimento do 
sujeito e dos fatos é considerado como uma racionalidade dialética, 
hermenêutica e ético-política, sendo de responsabilidade da 
universidade (CULLEN, 2014). 
Para Freire (1977), o homem é o único ser que está em 
constante reflexão e transformação de sua realidade, mas para 
isso, é preciso conhecê-la de forma questionadora por meio 
da consciência crítica. 
Segundo Freire (2014, p. 52) as características da consciência 
ingênua dos indivíduos são: 
 
1. Revela uma certa simplicidade, tendente a um 
simplismo, na interpretação dos problemas. Não 
se aprofunda na casualidade do próprio fato. 
2. Há também uma tendência a considerar que o 
passado foi melhor. 
 
8 Ana Maria Primavesi (1920-2020) foi uma engenheira agrônoma naturalizada 
brasileira nascida na Áustria em 03 de outubro de 1920. Responsável por 
avanços no campo de estudo das ciências do solo, em especial ao manejo 
ecológico do solo. 
9 Sebastião Pinheiro é engenheiro agrônomo e engenheiro florestal. Brasileiro e 
gaúcho, dedica parte de sua vida no combate ao uso de agrotóxicos e em defesa 
da agricultura ecológica. 
10 Carlos Armênio Khatounian é brasileiro, engenheiro agrônomo e desenvolve 
pesquisas, extensão e ensino no campo da agroecologia. 
https://pt.wikipedia.org/wiki/Agronomia
https://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%81ustria
https://pt.wikipedia.org/wiki/Ci%C3%AAncias_do_solo
https://pt.wikipedia.org/wiki/Manejo_sustent%C3%A1vel
https://pt.wikipedia.org/wiki/Manejo_sustent%C3%A1vel
https://pt.wikipedia.org/wiki/Solo
41 
 
3. Tende a aceitar formas gregárias ou 
massificadoras de comportamento. Esta tendência 
pode levar a uma consciência fanática. 
4. Subestima o homem simples. 
5. É impermeável à investigação. Satisfaz-se 
com as experiências. Toda concepção científica 
para ela é jogo de palavras. Suas explicações 
são mágicas. 
6. É frágil na discussão dos problemas. O 
ingênuo parte do princípio que sabe tudo. 
Pretende ganhar a discussão com argumentações 
frágeis. É polêmico, não pretende esclarecer. 
Sua discussão é feita mais de emocionalidades 
que de criticidades: não procura a verdade; trata 
de impô-la e procurar meios históricos para 
convencer com suas ideias. É curioso ver como 
os ouvintes se deixam levar pela manhã, pelos 
gestos e pelo palavreado. 
7. Tem forte conteúdo passional. Pode cair no 
fanatismo ou sectarismo. 
8. Apresenta fortes compreensões mágicas. 
9. Diz que a realidade é estática e não mutável. 
 
Para Freire (2014, p. 53) as características da consciência 
crítica dos indivíduos são: 
1. Anseio de profundidade na análise de 
problemas. Não se satisfaz com as aparências. 
2. Reconhece que a realidade é mutável. 
3. Substitui situações ou explicações mágicas 
por princípios autênticos de causalidade. 
42 
 
4. Procura verificar ou testar descobertas. Está 
sempre disposta às revisões. 
5. Ao se deparar com um fato, faz o possível 
para livrar-se de preconceitos. Não somente na 
captação, mas também na análise e na resposta. 
6. Repele posições quietistas. É intensamente 
inquieta. O essencial para parecer algo é ser algo; 
é a base da autenticidade. 
7. Repele toda transferência de responsabilidade 
e de autoridade e aceita a delegação das mesmas. 
8. É indagadora, investiga, força, chora. 
9. Ama o diálogo, nutre-se dele. 
10. Face ao novo, não repele o velho, nem aceita 
o novo por ser novo, mas aceita-os na medida 
em que são válidos. 
 
A maioria dos egressos de agronomia possui consciência 
ingênua pela deficiência do processo de ensino-aprendizagem. 
Porém, a sociedade – representada pelas empresas de comercialização 
e as cooperativas ligadas ao agronegócio que contratam agrônomos 
– não busca profissionais com consciência crítica, mas meramente 
profissionais “repassadores” e vendedores dos conhecimentos já 
produzidos, que trarão retorno econômico para as empresas, 
dentro da lógica da agricultura capitalista (GNOATTO et al., 
2009). 
O pensamento crítico também pode ser entendido como o 
estudo daquela parte da atividade de nossa vida mental (cognitiva 
ou intelectual, que lida com ideias) em que procuramos meios 
(métodos e orientações) para saber como chegar a boas razões pelas 
quais conseguimos sustentar, fundamentar e justificar: pontos 
43 
 
de vista e teorias (filosófica, científica, de senso comum, religiosa, etc.) 
ou mesmo as afirmações que fazemos na vida cotidiana e profissional 
(CANAL, 2013). 
A habilidade cognitiva do pensamento crítico serve para 
avaliar corretamente os argumentos feitos por outros e construir bons 
argumentos por si mesmo (RAINBOLT, 2010), como desconfiar de 
propagandas enganosas, descobrir a real intenção dos grupos políticos, 
escolher o caminho mais rápido mesmo que seja mais longo, etc. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
44 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
45 
 
5 História da agricultura mundial 
 
O homem faz agricultura há cerca de 10 a 12 mil anos, 
momento em que deixou de ser nômade, estabelecendo, assim, 
as primeiras comunidades e povoados e caracterizando o início 
da vida moderna. 
 
 
5.1 Conceitos e nomenclaturas 
 
A palavra agricultura vem do latim agricultūra, que significa, 
no sentido estrito, o “cultivo da terra para produção vegetal”. Este 
é o principal sentido da palavra em língua portuguesa, embora, pela 
influência do inglês e do francês, agriculture se refira a “todas as 
atividades do campo” de uma maneira mais genérica, cultivo de 
plantas, criação e domesticação de animais,processamento de 
alimentos e extrativismo de área de reserva na mesma propriedade. 
Em português, a palavra agropecuária e, mais recentemente, 
agronegócio, são termos mais apropriados para se referir as atividades 
múltiplas no campo, como o cultivo de vegetais, criação de animais e 
suas atividades secundárias. 
O termo camponês é utilizado simplesmente como sinônimo 
de agricultor, mas pode ser entendido como uma categoria de 
agricultor que não utiliza a terra apenas para produção, mas como 
forma de vida, e não coloca o capital como única lógica de produção. 
O termo colono veio da Europa com os imigrantes que 
designavam os meeiros ou famílias agregadas dos latifúndios como 
colonos. No Brasil, o termo é empregado também para designar 
os agricultores proprietários de terra dos programas de colonização 
do INCRA. 
46 
 
O termo produtor, muito usado no Brasil, se refere a quem 
produz, embora, cada atividades de produção tenha sua própria 
denominação, como: ferro-ferreiro, roupa-alfaiate, alimentos-chefe, 
arte-artista, pintura-pintor, alvenaria-pedreiro, móveis-marceneiro etc. 
Para denominar o produto de material prima no campo, exige-
se o adjetivo rural - produtor rural, portanto, o termo agricultor já 
define claramente quem produz no campo, este é o termo preferido 
por este autor e adotado neste livro. 
O termo fazenda considera-se propriedade rural de dimensões 
consideráveis, de lavoura ou de criação de gado; herdade. Dependendo 
do lugar, tem seus significados próprio. No Norte do Brasil, por 
exemplo, pode significar grandes áreas de terra com criação de 
bovinos, e o dono é considerado um fazendeiro. No polo frutífero 
de Mossoró-Assú-Baraúna, estado do Rio Grande do Norte, pode 
significar grande área de terra para produção de frutas, neste caso, 
o dono não é denominado de produtor. 
 
 
5.2 Origem da agricultura 
 
A data do início da agricultura não é muito precisa, podendo 
variar de 10 a 12 mil anos, no período do neolítico ou período da 
pedra polida, em todas as regiões onde viviam os seres humanos. 
Os sistemas muito variados de obtenção de alimentos (coleta, 
caça e pesca) foram autotransformados de maneira diversificada, 
porém, perto de moradias e aluviões das vazantes dos rios, em terras 
fertilizadas naturalmente sem a exigência de grandes desmatamentos 
(MAZOYER; ROUDART, 2010). 
Com o aumento da população mundial (que dobrou), 
passando de 50 para 100 milhões de indivíduos aproximadamente 
entre os anos 3.000 e 1.000 a.C., e, principalmente, pelo avançado 
https://pt.wikipedia.org/wiki/Neol%C3%ADtico
47 
 
desenvolvimento das grandes sociedades agrárias dos Indus, da 
Mesopotâmia e do Nilo, foi necessária a expansão dos cultivos em 
terras altas, intensificando a abertura de novas áreas, no sistema de 
derrubada-queimada (MAZOYER; ROUDART, 2010), em clareiras, 
com fertilização dos solos realizada principalmente por meio de pousio 
(descanso da terra com vegetação, para recuperação da fertilidade 
mediante ciclagem de biomassa e nutrientes). 
Essas clareiras eram rodeadas por terras virgens com toda sua 
biodiversidade e aliada aos cultivos diversificados, havia diversidade 
suficiente para promover homeostase do ambiente e evitar o 
surgimento de pragas e doenças que causassem perdas a níveis 
significativos. 
 
 
5.3 Como fazer agricultura sem as escolas de agronomia? 
 
O homem, por si só, possui capacidade de raciocínio para 
criar suas próprias condições de vida e sobrevivência. Assim, os 
conhecimentos necessários para o desenvolvimento humano e para 
a agricultura foram construídos a partir da percepção dos fenômenos 
naturais - que ocorrem até hoje -, sendo potencializados pelas escolas 
de agronomia, centros de pesquisas e todo o aparelhamento moderno 
investigativo que existe hoje. 
A agricultura surgiu a partir da construção dos primeiros 
conhecimentos humanos sobre a lavoura, com a descoberta de que 
as sementes oriundas das plantas germinavam e transformavam-se 
em plantas semelhantes. 
Em seguida, na agricultura empírica, o homem alcançou os 
conhecimentos de uma genética simples e passou a selecionar 
plantas mais produtivas (seleção massal), de modo que houvesse 
cultivos com a produtividade e a qualidade desejada. Assim, em um 
48 
 
processo de domesticação das plantas foram criados muitos dos 
alimentos que consumimos hoje, como por exemplo, a seleção de 
banana sem sementes. 
A domesticação ocorreu em cada região com as espécies 
adaptadas ao clima e solo, em seguida, as principais espécies 
domesticadas (Tabela 1). 
 
Tabela 1 - Espécies vegetais domesticados em diferentes regiões. 
Região Espécies domesticadas 
América do Norte ameixa; girassol e mirtilo. 
Mesoamérica 
milho; mandioca; batata doce; tomate; feijão 
comum; mamão; cacao e abacate. 
América do Sul - 
terras altas 
feijão comum; batata; amendoim e algodão. 
América do Sul - 
terras baixas 
inhame; algodão; abacaxi; mandioca; batata 
doce; maracujá e goiaba. 
Europa beterraba açucareira; uva; oliveira e aveia. 
África 
sorgo; café; melancia; algodão; inhame; feijão 
vigna e quiabo. 
Ásia central fava. 
China soja; repolho; alho e pêssego. 
Índia melão; algodão; gergelim e berinjela. 
Sudoeste da Ásia 
arroz oriental; taro; cana de açúcar; banana; 
citros; inhame e manga. 
Pacífico Sul cana de açúcar; coco e fruta pão. 
Austrália macadame. 
 
No entanto, com essa domesticação aliada à especialização 
da agricultura de mercado, houve redução significativa do número 
de espécies alimentares: 50% da alimentação mundial se restringe 
a três espécies - trigo, milho e arroz -, apesar de serem cultivadas mais 
de 120 espécies e de existirem mais de 30 mil espécies de plantas 
comestíveis. 
49 
 
Além de reduzir o número de espécies comestíveis, a seleção 
de plantas com elevada produtividade levou a redução de qualidade 
nutricional, com menos vitaminas, antioxidantes, proteínas e minerais 
e para espécies de grãos, maiores teores de amido e glúten. 
Uma descoberta importante que o homem fez para 
impulsionar a agricultura em pouco tempo, foi o fogo. O fogo é 
utilizado como técnica de limpeza da área (roçado) a baixo custo e 
em pouco tempo, porém, atualmente é proibido ou restrito por causar 
contaminação do ar e perigo à vida humana, animal, vegetal e edáfica. 
No período neolítico, o domínio dos metais, tais como o 
cobre, o estanho e o ferro, forjados com fogo, possibilitou a 
construção de ferramentas de trabalho, sendo a mais importante 
delas o arado à tração humana e depois animal (FELDENS, 2018). 
O arado foi importante na Europa, que o utilizava para 
tombar a terra e promover o desgelo e aquecimento, propiciando 
condições para germinação das sementes (Figura 3). 
 
Figura 3 – Arado de aiveca à tração animal. 
 
 
 
A irrigação, outra técnica de artificialização da agricultura, 
possibilitou maior controle sobre o ambiente e possibilidade de cultivo 
50 
 
em épocas de baixa precipitação pluviométrica, garantindo alimento 
durante maior período de tempo, alterando a sazonalidade alimentar. 
Assim, a evolução da humanidade levou o homem a criar e 
inventar cada vez mais, melhorando suas técnicas agrícolas, como 
a conservação de grãos e a construção de ferramentas cada vez 
mais eficientes. 
 
 
5.4 O início da agricultura “moderna” 
 
No século XIX os cientistas Saussure (1797 - 1845), 
Boussingault (1802 - 1887) e Liebig (1803 - 1873) derrubaram a teoria 
do húmus, de que as plantas não se desenvolviam a partir do húmus 
da terra e sim de elementos químicos contidos na terra e que poderiam 
ser sintetizados e aplicados para melhorar a fertilidade química do 
solo, potencializando a produção vegetal. Assim, surgiu a química 
agrícola e atualmente o cultivo sem solo (hidroponia e aeroponia). 
Com o aumento dos aglomerados urbanos, a agricultura foi 
mais intensificada e os agricultores se especializaram em determinadasespécies de plantas e animais para melhor competir no mercado. 
Esta intensificação e especialização levou ao uso intensivo de 
fertilizantes, agrotóxicos, sementes melhoradas e monocultivo, 
criando ambiente favorável para os organismos patogênicos (fungos, 
bactérias, vírus e nematoides) e insetos-praga, promotores de perdas 
nas lavouras. 
Apesar dos problemas causados, a agricultura é importante 
para alimentação e economia dos países pouco industrializados como 
Brasil e Argentina, que não podem romper com a exportação de 
matéria prima (comodities) de forma abrupta, antes de fortalecer 
outras atividades econômicas que garantam o desenvolvimento de 
suas nações. 
51 
 
Com o desenvolvimento humano, a agricultura passou a 
produzir não apenas alimento, mas também uma infinidade de 
produtos como flores, plantas ornamentais e medicinais, insumos 
agrícolas, látex, etanol, óleos essenciais, fibras (algodão, linho, seda, 
cânhamo, sisal, juta, piaçava), combustível (madeira para lenha, etanol, 
metanol, biodiesel), aguardente e eletricidade (biodigestor, hidráulica, 
eólica e solar11). 
Uma proposta de classificar a agricultura (e a agronomia) 
no tempo foi proposta por Almeida (2000): 
Primeira fase: período de “sobrevivência” humana 
na terra, da prática da coleta, da caça, do cultivo 
primitivo sobre queimadas e desmatamentos 
sumários; 
Segunda fase: desde o neolítico, aparece uma 
agricultura mais ou menos organizada, para 
proveito de um pequeno número de nobres e do 
clero. Os operários da época, cujo trabalho era a 
condição de sobrevivência social, são os escravos 
ou servos ligados a essas glebas; 
Terceira fase: pouco a pouco, ainda na Idade 
Média, os verdadeiros agricultores se diferenciam 
no interior das populações de escravos e se 
organizam as primeiras unidades agrícolas mais ou 
menos independentes em áreas periféricas aos 
feudos, concedidas pela igreja ou pelos senhores 
feudais. A Revolução Francesa, em 1789, acelera 
este processo na França e na Europa. Dois 
sistemas se caracterizam nesta fase: um, baseado 
 
11 As empresas de energia solar e eólica pagam mensalmente pelo uso da área 
dos agricultores, situadas em regiões com alta radiação solar e ventos forte e 
constantes, constituindo a principal renda desses agricultores. 
52 
 
na tração bovina e, outro, na tração por cavalos, 
tradição esta retomada da Antiguidade, com 
grande importância durante a Renascença e 
atingindo seu apogeu no século XIX; 
Quarta fase: no fim do século XIX e durante todo 
o século XX, as teorias econômicas substituem, 
gradativamente, a então “economia rural”, 
implantando a lógica do rendimento financeiro 
(regimes capitalistas) ou político (regimes 
socialistas). O objetivo de uma exploração agrícola 
deste tipo é o da acumulação de capital através da 
sustentação de uma economia de consumo de 
massa. A modernização agrícola aparece como 
um processo científico e técnico de “libertação” da 
atividade produtiva dos contratempos do meio 
físico; e 
Quinta fase: No final do século XX surge um 
ideário agronômico novo, que transforma a 
agricultura de nível nuclear, familiar, em outra de 
abrangência do Estado e, se possível, do global. 
Trata-se da gestão, conservação e recuperação do 
meio ambiente global. O termo ecologia recobre 
em parte esta concepção da ação do homem sobre 
seu meio ambiente. Trata-se, de fato, de algo muito 
mais amplo: pode-se falar de uma “agronomia 
global”, que aborda as relações das pessoas com 
seu ambiente natural. 
 
Hoje, há um forte paradigma da produção de alimentos com 
métodos antigos e realizados pela mão de obra da família (agricultura 
53 
 
familiar) ou a produção intensificada com moto-mecanização, 
automação, irrigação, fertilização química e controle tóxico de pragas 
e doenças. Este paradigma fundamenta-se muito mais no campo 
político do que em razão de rendimentos físicos e econômicos e pela 
conservação ambiental, e sim, movido pelo capitalismo de consumo 
em massa, concentração de capital e terra (Figura 4). 
Para analisar detalhadamente este paradigma é preciso sair da 
visão conservadora, simplista e reducionista e ir para o campo da 
análise visão sistêmica. 
Na ótica conservadora, a agricultura consiste em ciclos 
produtivos que se utilizam de capital para a compra de insumos, 
máquinas e pagamento de mão de obra, para no final do processo 
produtivo se obter mais capital, dando pouca importância aos 
problemas ambientais e sociais que causam. 
 
Figura 4 - Campos agrícolas do agronegócio brasileiro à esquerda e 
cultivo tradicional como na agricultura familiar à direita. 
 
Fonte: IMEA (2019) Fonte Hentz (2019) 
 
Na ótica sistêmica, mais que objetivar os rendimentos físicos 
de produtividade e rentabilidade, deve-se considerar o fluxo de energia, 
a manutenção da fertilidade da terra a longo prazo, o tempo natural de 
54 
 
plantio, colheita, pousio (descanso da terra) e os aspectos sociais e 
culturais das famílias e comunidades envolvidas com esta agricultura. 
As pequenas propriedades, mesmo utilizando técnicas antigas 
como a tração animal, o monjolo, o moinho de pedra, dentre outras, 
possuem maior conservação ambiental, pois os agricultores 
geralmente moram na terra e por ela adquirem uma relação de 
bem-querer, preservando suas nascentes e vegetação nativa. 
Do ponto de vista econômico, as propriedades pequenas são 
mais produtivas, proporcionando, por isso, maior renda por unidade 
de área e unidade de mão de obra, visto que áreas pequenas são mais 
bem cuidadas (SIMONETTI et al., 2013). 
Por outro lado, de acordo com o modelo agroexportador 
adotado hoje pelo Brasil e por outros países, este só é possível pela 
produção e a venda em grandes volumes, com o uso intensivo da 
terra, de motomecanizados e de insumos, apesar de ser uma agricultura 
insustentável, do ponto de vista econômico, energético, ambiental, 
social e alimentar. 
O uso intensivo de insumos, a venda de produto primário 
- sem agregação de valor -, e a terceirização da comercialização, 
reduzem significativamente a receita do agricultor, que fica 
aproximadamente com 15% do valor total da produção para deduzir 
deste a mão de obra, de modo que é comum que a receita líquida 
seja negativa na atividade agrícola em condições hostis (Figura 5). 
A grande quantidade de energia utilizada na forma de 
sementes, combustível, fertilizantes, agrotóxicos, secagem, transporte, 
máquinas e eletricidade torna esta agricultura intensiva pouco 
eficiente energeticamente (Tabelas 2 e 3). 
 
 
 
55 
 
Figura 5 - Participação do agricultor na receita de seu produto em 
cem anos. 
 
1.900 d.C. 2.000 d.C. 
Fonte: Adaptado de Pinheiro (2001). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Comercialização 
 
Trabalho 
 
Insumos 
56 
 
 
Tabela 2 - Comparação da eficiência energética em calorias de 
combustível fóssil transformados na produção das 
principais culturas americanas. 
Cultura 
Sistema de 
cultivo 
Produtividade 
(t.ha-1) 
Mao 
de 
obra 
(h/ha) 
Energia 
utilizada 
(kcalx106) 
Eficiência 
Saída/Entrada 
Milho Orgânico1 7,7 14 3,6 7,7 
Milho Convencional2 7,4 12 5,2 5,1 
Milho Convencional3 8,7 11,4 8,1 4,0 
Soja Convencional4 2,7 12 2,1 4,6 
Soja Orgânica5 2,4 14 2,3 3,8 
Soja Convencional6 2,7 7,1 3,7 3,2 
Arroz Convencional 7,4 24 11,8 2,2 
Trigo Convencional 2,7 7,8 4,2 2,1 
Batata Convencional 40,7 35 17,7 1,3 
Repolho Convencional 27,3 60 11,0 1,3 
Laranja Convencional7 46,0 210 23,0 1,0 
Maçã Convencional8 55,0 385 50,2 0,61 
Tomate Convencional 41,8 363 32,3 0,26 
1 - Media de dois sistemas orgânicos com 20 anos de idade na Pennsylvania. 
2 - Media de sistemas convencionais de milho com 20 anos de idade na 
Pennsylvania. 
3 - Média da produção de milho dos Estados Unidos. 
4 - Media de sistemasconvencionais de soja com 20 anos de idade na 
Pennsylvania. 
5 - Media de dois sistemas orgânicos com 20 anos de idade na Pennsylvania. 
6 - Média da produção de soja dos Estados Unidos. 
7 - Media do sistema de produção de laranja na Flórida. 
8 - Media do sistema de produção de maçã. 
Fonte: Pimentel (2006). 
Ao analisar a produção animal, Pimentel (2006) destaca 
que para produzir 1 kcal em forma de carde suína, gastam se 14 
57 
 
kcal, um consumo de energia maior que a energia contida nos 
alimentos de origem animal. 
 
Tabela 3 - Comparação da média de gasto energético de sistema 
orgânico e convencional de produção de milho por 
hectare nos Estados Unidos. 
Entrada de 
energia 
Orgânico Convencional Orgânico Convencional 
(Itens) Uso energético (kcl x 100) 
Mao de obra 15 h 11,4 h 600 462 
Implementos 55 kg 55 kg 1.018 1.108 
Diesel 90 L 88 L 1.026 1.003 
Gasolina 40 L 40 L 405 405 
Nitrogênio 0 153 kg 0 2.448 
Fósforo 48 kg 65 kg 200 270 
Potássio 57 kg 77 kg 186 251 
Calcário 1,120 kg 1.120 kg 315 315 
Sementes de 
milho 
21 kg 21 kg 520 520 
Sementes, 
ervilhaça 
14 kg 0 930 0 
Eletricidade 13,2 kwh 13,2 34 34 
Transporte 204 kg 204 kg 169 169 
Herbicida 0 6,2 kg 0 620 
Inseticida 0 2,8 kg 0 280 
Total 5,377 
Produtividade 8.700 kg.ha-1 8.700 kg.ha-1 
Eficiência do 
sistema 
convencional 
Entrada/saída 
= 1:5,79 
Entrada/saída 
= 1:3,99 
 
Fonte: Pimentel (2006). 
Produtos produzidos pela agricultura convencional com 
agroquímicos possuem resíduos tóxicos, maiores concentrações de 
nitrato e menores teores de substâncias fenólicas, vitaminas, minerais 
58 
 
e antioxidantes, constituindo-se em alimentos de baixo valor biológico 
(SILVA et al., 2011; MDITSHWA et al., 2017). 
A agricultura intensiva promove degradação ambiental, tendo 
como consequência o assoreamento, as voçorocas, a contaminação 
da água e do solo por substâncias químicas, a poluição do ar com 
partículas químicas e sólidas e a seca de nascentes e rios (Figura 6). 
 
Figura 6 - Processos intensivos de erosão e assoreamento de rio 
entre as cidades de Oliveira e São Tiago no estado de 
Minas Gerais. 
 
Fonte: Foto de Sebastião Elviro de Araújo Neto. 
 
Recentemente, houve o caso do esgotamento das águas do 
Rio Urubu no estado do Tocantins (Figura 7) pelo uso para 
irrigação, acima da capacidade de reposição. Outro caso foi a 
poluição das águas dos rios Prata e Formoso, do município de 
Bonito, MS, causado pelas enxurradas dos campos arados (Figura 8). 
59 
 
Esta agricultura intensiva de baixo grau de sustentabilidade, 
com contaminação e degradação ambiental, uso intensivo do solo e 
grandes aplicações de fertilizantes e agrotóxicos, é o agronégocio, 
palavra que muitas pessoas se orgulham em pronunciar, mas poucos 
a conhecem profundamente. Não é apenas um negócio agrícola; é 
um grande negócio mundial de compra e venda de commodity, 
máquinas, sementes e insumos e concentração de capital e terra 
a qualquer custo ambiental e social. 
É possível fazer agricultura em larga escala minimizando os 
danos ao ambiente, com melhor qualidade do alimento e com 
desenvolvimento humano autêntico? 
 
Figura 7 - Rio Urubu no estado do Tocantins, com vazão baixa 
decorrente do uso da água para irrigação. 
 
Fonte: (JM Notícia, 2018). 
 
 
 
60 
 
Figura 8 - Poluição das águas dos rios Prata, do município de 
Bonito, MS. 
 
Fonte: Paschoal (2019). 
 
 
 
 
 
 
 
61 
 
6 História da agricultura e da agronomia no Brasil 
 
Antes do desembarque dos europeus, nos anos 1.500, os 
indígenas brasileiros - em diversas regiões, cultivavam mandioca, 
amendoim, tabaco, batata-doce, milho e extraíam da natureza o 
babaçu, o pequi, o umbu, o pinhão, as castanhas, as plantas medicinais, 
as frutas e hortaliças, entre outras. 
A agricultura praticada por eles não era muito diferente da 
praticada por indígenas de outros países. Além do cultivo nos solos 
aluviões, faziam seus roçados a partir da derrubada das florestas, 
seguido pela secagem natural e queima da biomassa pelo fogo, 
transformando tudo em cinzas (fertilizante). O cultivo era realizado 
por curto período de tempo – de um a três anos -, e a área era 
abandonada para regeneração de sua biomassa e biodiversidade 
(pousio) até novo ciclo. Todas as operações eram manuais, com o 
auxílio de ferramentas. 
Os roçados eram abertos em clareiras, constituindo-se de ilhas 
na floresta. Assim, a biodiversidade natural aliada à diversificação das 
plantas cultivadas era responsável pela manutenção de baixas 
populações de insetos-praga e microrganismos patogênicos. 
Para suas outras necessidades, os nativos utilizavam madeira, 
palhas, cipós e envireiras para a construção de casas e galpões, sendo 
que parte da proteína consumida vinha da caça de animais silvestres 
e pescados, abundantes na época. 
A partir de 1.500 d.C., com a chegada dos exploradores 
europeus, o primeiro produto de exploração econômico foi o pau-
brasil da mata atlântica. 
No Brasil, a colonização durou da primeira metade do século 
XVI até a primeira metade do século XIX. O monocultivo de cana-
de-açúcar na zona da mata da região Nordeste (Sergipe, Alagoas, 
62 
 
Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte) e em São Paulo, com 
utilização inicialmente da mão de obra escrava, se constituiu no 
principal produto agrícola da economia. 
O açúcar produzido no Brasil tinha custo 30% menor que 
o açúcar produzido em outros países. Este sistema econômico gerou 
concentração de renda e terra e a formação dos grandes latifúndios. 
Seu declínio ocorreu na segunda metade do século XVII, obrigando 
os “coronéis” a diversificarem seus sistemas de cultivo com outras 
culturas, como algodão em Pernambuco e tabaco e cacau na Bahia. 
No Brasil império (1822 a 1889), outro produto passou a 
ocupar espaço de destaque na economia: o café, produzido pelos 
“Barões do Café” e utilizando inicialmente mão de obra escrava e 
posteriormente mão de obra da imigração europeia e japonesa - 
principalmente Italianos no estado de São Paulo e Paraná e os alemães 
no Rio Grande do Sul-. Além do café, açúcar, cacau, fumo e borracha 
eram os produtos de exportação. 
O ciclo da borracha natural proveniente da seringueira (Hevea 
brasilienses) na Amazônia durou de 1879 a 1912, revigorando-se por 
pouco tempo entre 1942 e 1945, tendo entrado em posterior declínio 
pelo uso da borracha sintética, pela produção de borracha natural da 
Malásia e pela borracha de cultivo no centro do Brasil. 
A grande oferta mundial de café no começo do século XX 
causou uma crise interna devido aos baixos preços e consequente 
abandono da atividade. Os governadores do Rio de Janeiro, São 
Paulo e Minas Gerais, pressionados pelos “Barões do Café”, 
acordaram com o governo federal do presidente Afonso Pena, em 
comprar o excedente de café, reduzir as exportações e com isso, 
equilibrar o preço internacional. 
Este fenômeno ficou batizado de “Convênio de Taubaté” 
(1906). Além disso, houve fixação da taxa cambial a favor do Brasil. 
63 
 
O estoque era comprado com recursos de empréstimos externos. 
O café exportado era taxado com a finalidade de pagamento da dívida. 
Após a crise de 1929, com a queda da bolsa de valores de Nova York, 
houve queima de estoques de café e a dívida dos Estados foi 
nacionalizada pelo governo de Getúlio Vargas em 1930 (RIBEIRO, 
2011; PINTO, 2020). 
Assim, com o surgimento de problemas mais complexos na 
agricultura, surgiram as primeiras escolas de agronomia. A primeira 
delas surgiu na Europa com a fundação francesa Instituto Nacional 
Agronômico de Versailles, em 1848 (ALMEIDA, 2000). 
A atividade agrícola, até então caracterizada pelo monocultivo, 
pela pouca diversidade, mão de obra escrava, extensas áreas de terras 
férteis disponíveis e baixo nível tecnológico, dispensava maiores 
cuidados com o plantio e manejo das lavouras, de modo que qualquer

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