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AMINOGLICOSÍDEOS • Os aminoglicosídeos incluem estreptomicina, neomicina, canamicina, amicacina, gentamicina, tobramicina, sisomicina, netilmicina e outros. • Eles são mais usados em combinação com um antibiótico β-lactâmico em infecções graves por bactérias Gram-negativas, em combinação com a vancomicina ou com um antibiótico β-lactâmico para a endocardite por Gram-positivos e para tratamento de tuberculose. PROPRIEDADES GERAIS DOS AMINOGLICOSÍDEOS A. PROPRIEDADES FÍSICAS E QUÍMICAS • Os aminoglicosídeos possuem um anel de hexose, estreptidina (na estreptomicina) ou 2-desoxiestreptamina (nos outros aminoglicosídeos), ao qual diversos aminoaçúcares se conectam por ligações glicosídicas. • São hidrossolúveis, estáveis em solução e mais ativos em pH alcalino do que no ácido. B. MECANISMO DE AÇÃO • O modo de ação da estreptomicina foi mais estudado do que o de outros aminoglicosídeos, mas todos os aminoglicosídeos atuam de maneira similar. • Os aminoglicosídeos são inibidores irreversíveis da síntese proteica, mas não se conhece o mecanismo exato para a atividade bactericida. o O evento inicial consiste na difusão passiva por meio dos canais de porina através da membrana externa o Em seguida, o fármaco é transportado de maneira ativa através da membrana celular para dentro do citoplasma por meio de um processo dependente de oxigênio. o O gradiente eletroquímico transmembrana fornece a energia para esse processo, e o transporte está acoplado a uma bomba de próton. o O pH extracelular baixo e as condições anaeróbias inibem o transporte ao reduzirem o gradiente. o O transporte pode ser estimulado por fármacos ativos na parede celular, como penicilina ou vancomicina; este aumento pode ser a base do sinergismo desses antibióticos com os aminoglicosídeos. • Dentro da célula, os aminoglicosídeos se ligam a proteínas ribossomais específicas da subunidade 30S. • A síntese proteica é inibida por aminoglicosídeos pelo menos de três maneiras: o (1) interferência com o complexo de iniciação de formação do peptídeo; Highlight Highlight o (2) leitura errônea do mRNA, o que provoca a incorporação de aminoácidos incorretos no peptídeo e resulta em uma proteína afuncional ou tóxica; o (3) clivagem dos polissomos em monossomos não funcionais. Essas atividades ocorrem de modo mais ou menos simultâneo, e o efeito global é irreversível e letal para a célula. C. MECANISMOS DE RESISTÊNCIA • Foram definidos três mecanismos principais: • (1) produção de uma enzima transferase ou de enzimas que inativam o aminoglicosídeo por adenilação, acetilação ou fosforilação. o Esse é o principal tipo de resistência encontrado clinicamente (as enzimas transferases específicas serão discutidas adiante); • (2) impedimento da entrada do aminoglicosídeo na célula. o Esse mecanismo pode ser genotípico, resultando de mutação ou deleção de uma proteína porina ou de proteínas envolvidas no transporte e na manutenção do gradiente eletroquímico; ou fenotípico, decorrendo, por exemplo, de condições de crescimento em que o processo de transporte dependente de oxigênio não esteja funcional; • (3) a proteína receptora na subunidade ribossomal 30S pode ser deletada ou alterada em consequência de uma mutação. D. FARMACOCINÉTICA E DOSE ÚNICA DIÁRIA • Os aminoglicosídeos são muito mal absorvidos no trato gastrintestinal, e quase a totalidade da dose oral é excretada nas fezes após administração oral. o No entanto, os fármacos podem ser absorvidos quando há ulcerações. • Os aminoglicosídeos geralmente são administrados por via intravenosa em infusão por 30 a 60 minutos. • Após injeção intramuscular, os aminoglicosídeos são bem absorvidos, proporcionando concentrações máximas no sangue em 30 a 90 minutos. • Após uma breve fase de distribuição, as concentrações séricas máximas são idênticas àquelas encontradas após injeção intravenosa. • A meia-vida normal dos aminoglicosídeos no soro é de 2 a 3 horas, aumentando para 24 a 48 horas nos pacientes com comprometimento significativo da função renal. • Os aminoglicosídeos são removidos de modo parcial e irregular por hemodiálise – por exemplo, 40 a 60% para a gentamicina – e, de maneira ainda menos efetiva, pela diálise peritonial. • Os aminoglicosídeos são compostos muito polarizados que não penetram de imediato nas células. • São em grande parte excluídos do sistema nervoso central (SNC) e dos olhos • A injeção intratecal ou intraventricular se faz necessária para obter níveis elevados no líquido cerebrospinal. • Mesmo após a administração parenteral, as concentrações dos aminoglicosídeos não são altas na maioria dos tecidos, excetuando-se o córtex renal. • A concentração na maioria das secreções também é baixa; na bile, pode alcançar 30% do nível sanguíneo. • Com terapia prolongada, a difusão para o interior do líquido pleural ou sinovial pode resultar em concentrações de 50 a 90% da concentração plasmática. • Os aminoglicosídeos apresentam a propriedade de morte dependente da concentração; então concentrações mais altas matam uma proporção maior de bactérias com maior velocidade. • Também apresentam um efeito pós-antibiótico significativo, de forma que a atividade antibacteriana persiste além do período em que o medicamento está presente em quantidade mensurável. o O efeito pós-antibiótico dos aminoglicosídeos pode durar várias horas. o Em razão dessas propriedades, uma determinada quantidade total de aminoglicosídeo pode ter maior eficácia quando administrada na forma de uma grande dose única do que como múltiplas doses menores. • Quando administrados com um antibiótico ativo contra a parede bacteriana (um β- lactâmico ou a vancomicina), os aminoglicosídeos apresentam um efeito de morte sinérgica contra determinadas bactérias. • O efeito combinado dos fármacos é maior do que o previsto para cada medicamento isoladamente • Os efeitos colaterais dos aminoglicosídeos dependem do tempo e da concentração. o É pouco provável que reações adversas ocorram antes que se alcance um determinado limiar de concentração, mas, uma vez atingida essa concentração, o tempo além desse limiar se torna crítico. o Em doses clinicamente relevantes, o tempo total acima do limiar é maior com múltiplas doses menores do fármaco do que com uma única dose maior. • Os aminoglicosídeos são depurados pelo rim, e a excreção é diretamente proporcional à depuração da creatinina. o Para evitar acúmulo e níveis tóxicos, geralmente se evita usar dose única diária de aminoglicosídeos quando a função renal está comprometida. o A modificação rápida da função renal, que pode ocorrer em caso de lesão renal aguda, também deve ser monitorada para evitar superdosagem ou subdosagem. • Com a posologia tradicional, devem ser feitos ajustes para prevenir acúmulo do medicamento e efeitos tóxicos em pacientes com insuficiência renal. O Assim, a dose é mantida constante e o intervalo entre as doses é aumentado, ou o intervalo é mantido e a dose, reduzida. E. EFEITOS COLATERAIS • Todos os aminoglicosídeos são ototóxicos e nefrotóxicos. • É mais provável a ocorrência de ototoxicidade e de nefrotoxicidade quando a terapia continua por mais de 5 dias, em doses mais elevadas, nos idosos e no quadro de insuficiência renal. • O uso concomitante com diuréticos de alça (p. ex., furosemida, ácido etacrínico) ou outros agentes antimicrobianos nefrotóxicos (p. ex., vancomicina ou anfotericina) pode potencializar a nefrotoxicidade, devendo ser evitado, quando possível. • A ototoxicidade pode manifestar-se como comprometimento auditivo, resultando, a princípio, em zumbido e perda da audição de alta frequência, ou como lesão vestibular, evidenciado por vertigem, ataxia e perda do equilíbrio. • A nefrotoxicidade resulta em níveis séricos crescentes de creatininaou em depuração reduzida da creatinina, embora a indicação mais precoce seja, com frequência, um aumento nas concentrações séricas mais baixas do aminoglicosídeo. • A neomicina, a canamicina e a amicacina são os agentes mais ototóxicos. • A estreptomicina e a gentamicina são os mais vestibulotóxicos. • Neomicina, tobramicina e gentamicina são os mais nefrotóxicos. • Em doses muito altas, os aminoglicosídeos podem produzir um efeito semelhante ao do curare, com bloqueio neuromuscular que resulta em paralisia respiratória. o Normalmente essa paralisia é reversível com o uso de gliconato de cálcio (administrado de imediato) ou de neostigmina. • A hipersensibilidade não é frequente. F. APLICAÇÕES CLÍNICAS • Os aminoglicosídeos são utilizados em sua maioria contra bactérias aeróbias Gram-negativas, em particular quando existe a possibilidade de o isolado ser resistente ao medicamento e quando há suspeita de sepse. • São quase sempre utilizados em combinação com um antibiótico β-lactâmico para estender a cobertura a fim de incluir potenciais patógenos Gram-positivos com a vantagem do sinergismo entre as duas classes de fármacos. • As combinações de penicilina-aminoglicosídeo também são empregadas para obter atividade bactericida no tratamento da endocardite enterocócica e para encurtar o tratamento em caso de estreptococo viridans e de alguns pacientes com endocardite estafilocócica. • O aminoglicosídeo a ser empregado e a dose a ser utilizada dependem da infecção a ser tratada e da suscetibilidade do isolado. ESTREPTOMICINA • A estreptomicina foi isolada a partir de uma cepa de Streptomyces griseus. • A atividade antimicrobiana da estreptomicina é típica daquela de outros aminoglicosídeos, assim como os mecanismos de resistência. • A resistência ribossomal à estreptomicina desenvolve-se com rapidez, limitando sua função como agente isolado. USOS CLÍNICOS A. INFECÇÕES POR MICOBACTÉRIAS • A estreptomicina é usada principalmente como agente de segunda linha para tratamento da tuberculose. • Deve ser empregada apenas em combinação com outros agentes de modo a impedir o surgimento da resistência. B. INFECÇÕES NÃO TUBERCULOSAS • Na peste, na tularemia e, por vezes, na brucelose, a estreptomicina, é administrada por via intramuscular em combinação com tetraciclina oral. • A penicilina associada à estreptomicina é eficaz para endocardite enterocócica e para teratamento por duas semanas da endocardite por estreptococos viridans. • A gentamicina substituiu em grande parte a estreptomicina nessas indicações. • A estreptomicina permanece sendo útil no tratamento das infecções enterocócicas, porque alguns dos isolados enterocócicos resistentes à gentamicina (e, portanto, resistentes à netilmicina, tobramicina e amicacina) serão sensíveis à estreptomicina. EFEITOS COLATERAIS • Febre, erupções cutâneas e outras manifestações alérgicas podem resultar de hipersensibilidade à estreptomicina. o Isto ocorre com maior frequência nos cursos prolongados de tratamento (p. ex., para tuberculose). • A dor no local da injeção é comum, mas, em geral, não é intensa. O • efeito tóxico mais grave é o distúrbio da função vestibular – vertigem e perda do equilíbrio. • A frequência e a gravidade dos distúrbios são proporcionais à idade do paciente, aos níveis sanguíneos do fármaco e à duração da administração. • A disfunção vestibular pode ocorrer depois de algumas semanas de níveis sanguíneos incomumente altos (p. ex., nos indivíduos com função renal prejudicada) ou meses com níveis sanguíneos relativamente baixos. • A toxicidade vestibular tende a ser irreversível. • A estreptomicina administrada durante a gravidez pode causar surdez no neonato e, por conseguinte, está relativamente contraindicada. GENTAMICINA • A gentamicina é uma mistura de três componentes intimamente relacionados, os isolados C1, C1A, e C2 do Micromonospora purpurea. • É eficaz contra organismos Gram-positivos e Gram-negativos, sendo que muitas de suas propriedades se assemelham às de outros aminoglicosídeos. ATIVIDADE ANTIMICROBIANA • O sulfato de gentamicina, inibe in vitro muitas cepas de estafilococos e coliformes e outras bactérias Gram-negativas. • Ela é ativa isoladamente, mas também tem efeito sinérgico com antibióticos b- lactâmicos, contra bastonetes Gram-negativos que podem ser multirresistentes. • Como todos os aminoglicosídeos, a gentamicina não tem atividade contra anaeróbios. RESISTÊNCIA • Os estreptococos e os enterococos são relativamente resistentes à gentamicina em razão de sua incapacidade de penetrar na célula. o Mas, a gentamicina em combinação com a vancomicina ou com penicilina produz um potente efeito bactericida que se deve, em parte, ao aumento na captação do fármaco que ocorre com a inibição da síntese da parede celular. • A resistência à gentamicina surge rapidamente nos estafilococos durante monoterapia em razão da seleção de mutantes de permeabilidade. • A resistência ribossomal é rara. • Entre as bactérias Gram-negativas, a resistência se deve mais comumente a enzimas modificadoras do aminoglicosídeo codificadas por plasmídeo. • As bactérias Gram-negativas resistentes à gentamicina comumente são sensíveis à amicacina, que é muito mais resistente à atividade da enzima modificadora. • A enzima enterocócica que modifica a gentamicina é uma enzima bifuncional que também inativa a amicacina, a netilmicina e a tobramicina, mas não a estreptomicina. • A última é modificada por outra enzima. Isso acontece porque alguns enterococos resistentes à gentamicina são sensíveis à estreptomicina. USOS CLÍNICOS A. ADMINISTRAÇÃO INTRAMUSCULAR OU INTRAVENOSA • A gentamicina é usada principalmente nas infecções graves causadas por bactérias Gram-negativas com probabilidade de serem resistentes a outros fármacos, em especial Pseudomonas aeruginosa, Enterobacter sp., Serratia marcescens, Proteus sp., Acinetobacter sp., e Klebsiella sp. • Geralmente, ela é empregada em combinação com um segundo agente já que um aminoglicosídeo isolado pode não ser efetivo para infecções fora do trato urinário. • A gentamicina, em combinação com um antibiótico ativo contra a parede celular, também está indicada no tratamento da endocardite provocada por bactérias Gram- positivas (estreptococos, estafilococos e enterococos). • Com o efeito sinérgico de eliminação da terapia combinada pode-se obter a atividade bactericida necessária à cura ou permitir reduzir a duração da terapia B. ADMINISTRAÇÃO TÓPICA E OCULAR • Cremes, pomadas e soluções com sulfato de gentamicina de 0,1 a 0,3% têm sido empregados para o tratamento de queimaduras, feridas ou lesões cutâneas infectadas e na tentativa de evitar infecções por cateter intravenoso. • A efetividade das preparações tópicas para essas indicações é incerta. • A gentamicina tópica é parcialmente inativada por exsudatos purulentos. • Podem ser injetados na região subconjuntival para tratamento de infecções oculares. C. ADMINISTRAÇÃO INTRATECAL • A meningite causada por bactérias Gram-negativas tem sido tratada com injeção intratecal do sulfato de gentamicina o Mas, nem a gentamicina intratecal nem a intraventricular foram benéficas nos neonatos com meningite; a gentamicina intraventricular foi tóxica, levantando dúvidas sobre a utilidade dessa terapia. • Além disso, a disponibilidade das cefalosporinas de terceira geração para tratamento da meningite por Gram-negativos tornou a gentamicina obsoleta na maioria dos casos. EFEITOS COLATERAIS • A nefrotoxicidade geralmente é reversível. • Ocorre em 5 a 25% dos pacientes tratados com gentamicina por mais de 3 a 5 dias. • A toxicidade requer, no mínimo, o ajuste da posologia e deve levar à reconsideração imediata da necessidade do fármaco, sobretudoquando há um agente alternativo menos tóxico. • A determinação dos níveis séricos de gentamicina é essencial. • A ototoxicidade, que tende a ser irreversível, manifesta-se principalmente na forma de disfunção vestibular. • Também é possível haver perda da audição. • A ototoxicidade é, em parte, geneticamente determinada, tendo sido ligada a mutações puntiformes no DNA mitocondrial, ocorrendo em 1 a 5% dos pacientes tratados com gentamicina por mais de 5 dias. • As reações de hipersensibilidade à gentamicina são incomuns. TOBRAMICINA • Este aminoglicosídeo possui espectro antibacteriano semelhante ao da gentamicina. • Embora seja possível haver algum grau de resistência cruzada entre gentamicina e tobramicina, ela é imprevisível em cepas específicas. o Consequentemente, há necessidade de testes de sensibilidade individualizados. • As propriedades farmacocinéticas da tobramicina são quase idênticas às da gentamicina. • A monitoração dos níveis sanguíneos na insuficiência renal é um guia essencial para uma posologia apropriada. • A tobramicina tem quase o mesmo espectro antimicrobiano que a gentamicina, com algumas exceções. A gentamicina é um pouco mais ativa contra Serratia marcescens, ao passo que a tobramicina é um pouco mais ativa contra a Pseudomonas aeruginosa; o Enterococcus faecalis é suscetível à gentamicina e à tobramicina, mas o Enterococcus faecium é resiste à tobramicina. • A gentamicina e a tobramicina são, por conseguinte, clinicamente intercambiáveis. • Como outros aminoglicosídeos, a tobramicina é ototóxica e nefrotóxica. • A nefrotoxicidade da tobramicina pode ser um pouco menor do que a da gentamicina. • A tobramicina também é formulada em solução inalante (300 mg em 5 mL) para tratamento de infecções respiratórias baixas por Pseudomonas aeruginosa que complicam a fibrose cística. • Deve ter cautela quando se administra a tobramicina a pacientes com distúrbios renais, vestibulares ou auditivos preexistentes. AMICACINA • A amicacina é um derivado semissintético da canamicina; é menos tóxica do que a molécula original. • Resiste a muitas enzimas que inativam a gentamicina e a tobramicina; consequentemente, pode ser utilizada contra alguns microrganismos resistentes a esses fármacos. • Muitas bactérias Gram-negativas, inclusive cepas de Proteus, Pseudomonas, Enterobacter, e Serratia, são inibidas in vitro • As cepas de Mycobacterium tuberculosis multirresistentes, inclusive à estreptomicina, são geralmente suscetíveis à amicacina. • As cepas resistentes à canamicina podem apresentar resistência cruzada à amicacina. • Como todos os aminoglicosídeos, a amicacina é nefrotóxica e ototóxica (principalmente para a porção auditiva do oitavo nervo). • As concentrações séricas devem ser monitoradas. NETILMICINA • A netilmicina compartilha muitas das características da gentamicina e da tobramicina. o Mas, a adição de um grupamento etila na posição 1-amino do anel 2- desoxiestreptamina protege estericamente a molécula da netilmicina contra a degradação enzimática nas posições 3-amino (anel II) e 2-hidroxila (anel III). o Consequentemente, a netilmicina pode ser ativa contra algumas bactérias resistentes à gentamicina e à tobramicina. • A posologia (5 a 7 mg/kg/dia) e as vias de administração são idênticas às da gentamicina. • A netilmicina é intercambiável em grande parte com a gentamicina e com a tobramicina. NEOMICINA E CANAMICINA • A neomicina e a canamicina estão intimamente relacionadas. • A paromomicina é outro membro deste grupo. • Todas têm propriedades similares. ATIVIDADE ANTIMICROBIANA E RESISTÊNCIA • Os fármacos do grupo da neomicina são ativos contra bactérias Gram-positivas e Gram-negativas e contra algumas micobactérias. • Em geral, a Pseudomonas aeruginosa e os estreptococos são resistentes. o Os mecanismos de ação antibacteriana e de resistência são idênticos aos de outros aminoglicosídeos. • O uso disseminado desses medicamentos na preparação intestinal para cirurgia eletiva resultou na seleção de organismos resistentes e em alguns surtos de enterocolite em hospitais. • A resistência cruzada entre canamicina e neomicina é completa. FARMACOCINÉTICA • Os medicamentos do grupo da neomicina são mal absorvidos no trato gastrintestinal. • Após administração oral, a flora intestinal é suprimida ou modificada e o fármaco é excretado nas fezes. • A excreção de qualquer quantidade absorvida do fármaco ocorre principalmente na urina por meio da filtração glomerular. USOS CLÍNICOS • A neomicina e a canamicina estão limitadas ao uso tópico e oral. • A neomicina é muito tóxica para uso parenteral, a administração parenteral da canamicina também foi em grande parte abandonada. • Recentemente, demonstrou-se que a paromomicina é eficaz contra a leishmaniose visceral quando administrada por via parenteral, o que talvez consista em um uso novo e relevante desse medicamento. • A paromomicina pode ser usada para tratar infecção intestinal por Entamoeba histolytica e algumas vezes é usada em infestação intestinal por outros parasitas. A. ADMINISTRAÇÃO TÓPICA • Empregam-se soluções em superfícies infectadas ou para infiltração em articulações, cavidade pleural, espaços teciduais ou cavidades de abscessos onde haja infecção. • Há dúvida sobre se há vantagens com a aplicação tópica adicional ao tratamento sistêmico apropriado da infecção ativa. • As pomadas, com frequência formuladas como uma combinação de neomicina- polimixina-bacitracina, podem ser aplicadas em lesões cutâneas infectadas ou nas narinas para a supressão de estafilococos, mas, em grande parte, não são eficazes. B. ADMINISTRAÇÃO ORAL • Na preparação para cirurgia intestinal eletiva, administra-se neomicina por via, normalmente combinada com eritromicina base. o Com isso, reduz-se a flora intestinal aeróbia com pouco efeito sobre os anaeróbios. • Na encefalopatia hepática, a flora coliforme pode ser suprimida, em associação à redução na ingestão de proteínas, diminuindo assim a produção de amônia. • O uso da neomicina para encefalopatia hepática foi superado em grande parte pela lactulose e por outros medicamentos menos tóxicos. EFEITOS COLATERAIS • Todos os membros do grupo da neomicina apresentam nefrotoxicidade e ototoxicidade significativos. • A função auditiva é afetada mais do que a vestibular. • Ocorreu surdez principalmente nos adultos com função renal comprometida e elevação prolongada dos níveis dos fármacos. • A absorção súbita da canamicina instilada no pós-operatório a partir da cavidade peritonial (3 a 5 g) resultou em bloqueio neuromuscular semelhante ao curare e parada respiratória. • O gliconato de cálcio e a neostigmina podem agir como antídotos. • Embora a hipersensibilidade não seja comum, a aplicação prolongada de pomadas com neomicina na pele e nos olhos resultou em reações alérgicas graves. VANCOMICINA • A vancomicina é um antibiótico produzido pelo Streptococcus orientalis e Amycolatopsis orientalis. É ativa apenas contra bactérias Gram-positivas. • É hidrossolúvel e muito estável. MECANISMOS DE AÇÃO E BASE DA RESISTÊNCIA • A vancomicina inibe a síntese da parede celular por meio de sua ligação firme à extremidade terminal d-Ala-d-Ala do pentapeptídeo peptoglicano • Essa ligação inibe a transglicosilase, impedindo o alongamento do peptidoglicano e a ligação cruzada. • Em consequência, o peptidoglicano fica enfraquecido, e a célula torna-se suscetível à lise. • A membrana celular também é danificada, contribuindo para o efeito antibacteriano. • A resistência à vancomicina nos enterococos deve-se a uma modificação d-Ala-d-Ala da unidade de formação do peptidoglicano, em que a d-Ala terminalé substituída por d-lactato. • Essa alteração resulta na perda de uma ligação de hidrogênio crítica, que facilita a ligação de alta afinidade da vancomicina a seu alvo, com perda da atividade. • Esse mecanismo também é observado em cepas de Staphylococcus aureus resistentes à vancomicina, que adquiriram os determinantes de resistência dos enterococos. o O mecanismo subjacente na redução da sensibilidade à vancomicina em cepas de Staphylococcus aureus de resistência intermediária não está totalmente elucidado. o Todavia, essas cepas apresentam uma alteração do metabolismo da parede celular, que resulta em espessamento dessa parede, com número aumentado de resíduos de d-Ala-d-Ala, que atuam como sítios de ligação de extremidade fechada para a vancomicina. o A vancomicina é sequestrada dentro da parede celular pelos alvos falsos e talvez não alcance seu local de ação. ATIVIDADE ANTIBACTERIANA • A vancomicina é bactericida para bactérias Gram-positivas, • A vancomicina mata os estafilococos de modo relativamente lento e apenas se as células estiverem em divisão ativa; a taxa é inferior à das penicilinas tanto in vitro como in vivo. • A vancomicina é sinérgica in vitro com a gentamicina e estreptomicina contra cepas de Enterococcus faecium e Enterococcus faecalis, que não exibem altos níveis de resistência aos aminoglicosídeos. • A vancomicina é ativa contra numerosos anaeróbios Gram-positivos, incluindo Clostridioides difficile. FARMACOCINÉTICA • A vancomicina é pouco absorvida pelo trato intestinal e administrada apenas por via oral para o tratamento da colite causada por Clostridioides difficile. • As doses parenterais devem ser administradas por via intravenosa. • O fármaco distribui-se amplamente pelo corpo. • Se houver inflamação das meninges, são obtidos níveis no líquido cerebrospinal de 7 a 30% das concentrações séricas simultâneas. • Ocorre excreção de 90% do fármaco por filtração glomerular. • Na presença de insuficiência renal, pode ocorrer acúmulo acentuado de vancomicina • Em pacientes funcionalmente anéfricos, a meia-vida da vancomicina é de 6 a 10 dias. • Uma quantidade significativa (cerca de 50%) da vancomicina é removida durante uma sessão de hemólise convencional quando se utiliza uma membrana de alto fluxo moderna. USOS CLÍNICOS • As principais indicações da vancomicina parenteral consistem em infecções da corrente sanguínea e endocardite causada por estafilococos resistentes à meticilina. o Mas, a vancomicina não é tão efetiva quanto uma penicilina contra os estafilococos para o tratamento de infecções graves, como endocardite causada por cepas sensíveis à meticilina. • A vancomicina em associação com a gentamicina constitui um esquema alternativo para o tratamento da endocardite enterocócica em pacientes com alergia grave à penicilina. • A vancomicina (em associação à cefotaxima, ceftriaxona ou rifampicina) também é recomendada para o tratamento da meningite suposta ou reconhecidamente causada por uma cepa de pneumococo resistente à penicilina • A depuração da vancomicina é diretamente proporcional à da creatinina, e deve-se reduzir a dose em pacientes com insuficiência renal. • Em virtude da emergência de enterococos resistentes à vancomicina e da pressão seletiva potencial da vancomicina oral para esses microrganismos resistentes, o metronidazol vem sendo a terapia inicial preferida nas últimas duas décadas. o Entretanto, o uso da vancomicina oral não parece constituir um fator de risco significativo para a aquisição de enterococos resistentes à vancomicina. Além disso, dados clínicos recentes sugerem que a vancomicina está associada a uma resposta clínica mais satisfatória do que o metronidazol nos casos mais graves de colite por Clostridioides difficile. • Por conseguinte, a vancomicina oral pode ser usada como tratamento de primeira linha para casos graves ou que não respondem ao metronidazol. EFEITOS COLATERAIS • São observadas reações adversas em cerca de 10% dos casos. • As reações são, em sua maioria, relativamente menores e reversíveis. • A vancomicina é irritante para os tecidos, resultando em flebite no local de injeção. • Podem ocorrer calafrios e febre. • A ototoxicidade é rara, e a nefrotoxicidade, incomum com o uso das preparações atuais. • Mas, a administração da vancomicina com outro fármaco ototóxico ou nefrotóxico, como um aminoglicosídeo, aumenta o risco dessas toxicidades. • Entre as reações mais comuns, destaca-se a denominada síndrome do “homem vermelho”. Essa ruborização relacionada à infusão é causada pela liberação de histamina. • Pode ser evitada, em grande parte, pelo prolongamento do período de infusão para 1 a 2 horas ou por meio de pré-tratamento com anti-histamínico, como difenidramina.