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1º ano da Licenciatura de Sociologia Mariana Esteves 46360 Construção do conhecimento em Ciências Sociais Metodologia das Ciências Sociais TRABALHO INDIVIDUAL MARIANA ESTEVES 46360 Segundo Lakatos, o primeiro passo ao falar em conhecimento científico consiste em distingui-lo de outros tipos de conhecimento. Os dois principais tipos de conhecimento são o popular, transmitido de geração em geração, através da educação, experiências pessoais e tradições, e o cientifico, obtido de modo racional, treinado e de conhecimento cientifico, de forma a conseguir explicar “porquê” e “como” ocorrem determinados fenómenos. A maior diferença apresentada entre o conhecimento vulgar, geralmente denominado de senso comum, e o conhecimento cientifico é a forma, o método e os instrumentos conhecedores, e não a sua veracidade. Desta forma, evidenciam-se dois aspetos: “a ciência não é o único caminho de acesso ao conhecimento e à verdade” e quer um objeto, quer um fenómeno, podem servir de objeto tanto para o homem comum como para um cientista. É a forma de observação de cada um que os leva a caminhos diferentes. O conhecimento popular é adquirido naturalmente através do contacto com as coisas e pessoas: “é o saber que preenche a nossa vida diária, (…) sem a aplicação de um método e sem haver refletido sobre algo”. Este tipo de conhecimento caracteriza-se sobretudo como sendo superficial, sensitivo, subjetivo, assistemático e acrítico. É caracterizado então como: valorativo, fundamenta-se em estados de ânimo e emoções; reflexivo, está limitado pela ligação com o objeto e não pode ser deduzido como uma “formulação geral”; assistemático, porque depende da organização das vivências do próprio sujeito; verificável, pois está limitado às perceções do quotidiano; falível e inexato, porque se resigna apenas à aparência e ao que se “ouviu dizer”. O conhecimento científico é: factual, “toda a forma de existência que se manifesta de algum modo”; contingente, pois as suas hipóteses constituem a sua veracidade através da experimentação e não apenas da razão; sistemático, porque forma um sistema de ideias logicamente organizado; verificável, pois qualquer hipótese que não possa ser comprovada não pertence à ciência; falível, por não ser definitivo ou absoluto; e aproximadamente exato, porque novas proposições ou técnicas podem reformular a teoria existente. Além destes dois tipos de conhecimento, existem ainda mais dois, o filosófico e o religioso. 2 2020/2021 TRABALHO INDIVIDUAL MARIANA ESTEVES 46360 O conhecimento filosófico é valorativo, consiste em hipóteses que não podem ser observáveis, “baseiam-se na experiência, portanto, este conhecimento emerge da experiência e não da experimentação”; não é verificável, visto que as hipótese filosóficas não podem ser confirmados nem rejeitados; é racional, consistindo num conjunto de hipóteses logicamente relacionados; é sistemático, porque as hipóteses apresentam uma realidade coerente, com visa a compreendê-la na sua integralidade; é infalível e exato, porque não é submetido ao processo de experimentação. O conhecimento religioso é valorativo, apoiado em doutrinas sagradas; é inspiracional, ao revelar uma componente sobrenatural; é sistemático, apoiando-se no ato de um criador divino; não é verificável, porque a fé se sobrepõe ao conhecimento cientifico e não é posto em duvida; é infalível, porque se fundamenta em ensinamentos de textos sagrados e o fiel não procura neles evidências; é exato, na sua veracidade infalível e indiscutível. Várias são as tentativas de definir o conceito de Ciência como uma “acumulação de conhecimentos sistemáticos”, o “conhecimento certo do real pelas suas causas” ou “forma sistematicamente organizada de pensamento objetivo” , que até agora se traduziram como insuficientes e incompletas. A ciência é um tipo de conhecimento que pode ser passado de geração em geração como uma herança, no entanto com o passar do tempo e até mesmo a sua evolução, tende a perder a sua força explicativa. Na sequência de “A objetividade é a condição básica da ciência. O que vale não é o que algum cientista imagina ou pensa, mas aquilo que realmente é.”, a ciência traduz-se então num olhar crítico, objetivo e racional da realidade. A ciência é caracterizada sobretudo por estabelecer uma razão entre os fenómenos e as suas causas, exprimir esta mesma relação em enunciados gerais, aplicar na prática a pesquisa teórica, pela capacidade de atingir a realidade física com a evidencia factual e não apenas das ideias, encontrar conclusões rigorosamente fiáveis e evidenciar os factos experimentando-os. 3 2020/2021 TRABALHO INDIVIDUAL MARIANA ESTEVES 46360 A ciência é estabelecida de um método cientifico, que se traduz num conjunto de procedimentos, que através de uma técnica têm a finalidade de atingir um determinado resultado. É neste método, que as duvidas que vão surgindo e a exploração de evidencias, nos encaminham para a realidade dos factos. O método científico obedece a um conjunto de etapas: • Desenvolvimento/definição do problema: • Procurar conhecer o objeto rigorosamente; • Observar e identificar problemas; • Estabelecer os limites da observação. • Formulação de hipóteses: • Explicação provisória dos fenómenos até que surjam factos que possam confirmar ou negar; • As hipóteses servem de orientação para o investigador, de forma a que ele chegue às causas e têm uma função teórica de organizar os resultados obtidos, de forma a serem mais facilmente compreendidos. • Coleta de dados: • Processo de experimentação com o objetivo de verificar as hipóteses e evidenciar as relações de causa e efeito do fenómeno. • Análise/interpretação dos dados: • Verificação da satisfatoriedade das respostas obtidas. Esta última pode ser feita através do método dedutivo ou indutivo. Isto é, o método dedutivo funciona através de um facto geral que pode ser dividido e analisado em cada uma das suas partes. A síntese é obtida através de uma reconstrução da própria repartição da análise e revela uma característica particular da característica universal. Por exemplo, é possível deduzir, que se existe vida na terra, é possível que também exista noutros planetas. O método indutivo generaliza as propriedades em comum e os factos similares futuros de um conjunto de casos observados. Por exemplo, Marte, vénus e Neptuno são 4 2020/2021 TRABALHO INDIVIDUAL MARIANA ESTEVES 46360 planetas, mas não brilham com luz própria, logo, os planetas não brilham com luz própria. Apesar de não ser uma coisa tão recente assim, a investigação interdisciplinar tornou-se uma abordagem comum no ramo das ciências sociais, mas sobretudo no mundo académico. A interdisciplinaridade é um conceito que aborda questões mais superficiais, isto é, menos aprofundadas, com recurso a várias disciplinas. Quer os investigadores, estudantes ou professores que trabalhem na área da ciência, tendem a ter opiniões semelhantes acerca do tema: qualquer trabalho é indisciplinar quando integra várias disciplinas. A interdisciplinaridade tornou-se um conceito comum na ciência social entre finais do século XX e princípios do século XXI. Um dos argumentos conhecidos é que originalmente, todas as ciências eram interdisciplinares, mas formalmente, o conceito de ciência como a conhecemos hoje exclui por completo este conceito por não possuir bases sustentáveis para assim se designar. O outro argumento remete-se para o final do século XIX e inicio do século XX, quando as ciências sociais se distinguiram das ciências naturais. Assim como a própria palavra, interdisciplinaridade diz, a sua condição necessária é que integre disciplinas rigorosamente estabelecidas e reconhecidas. Segundo Lattuca, “as disciplinas são fenómenos complexos. Elas podem definir- se como um conjunto de problemas, métodos e práticas de investigação ou corpos de conhecimentoque são unificados por qualquer um dos critérios anterior. Podem também ser definidas como redes sociais de indivíduos interessados em problemas ou ideias relacionadas”, enaltecendo as infra-estruturas das disciplinas na sua vertente social, cultural e histórica. No entanto, Turner, por sua vez designa o conceito de disciplina como grandes coletividades de pessoas, especializadas na mesma área e organizadas em unidades. Outras análises, à própria palavra, como “um ramo particular do ensino” e “manutenção à ordem e controlo entre grupos subordinados”. Na análise Brewer este acredita, que as instituições académicas limitam os campos de investigação de forma a multiplicar os seus departamentos e que grade parte dos problemas sociais seriam 5 2020/2021 TRABALHO INDIVIDUAL MARIANA ESTEVES 46360 facilmente resolvidos através da interdisciplinaridade. Com tudo isto, verifica-se que é a própria cultura disciplinar, o obstáculo da produção de conhecimento. As disciplinas especializaram-se em prol dos problemas que aspiravam compreender. Existe ainda uma ortodoxia de volta das universidades, centros de investigação e revistas cientificas, por serem estes, informalmente, a regular os métodos, pressupostos ontológicos e julgamentos epistemológicos. Esta relação Dialética reflete as normativas disciplinares das instituições sociais ao funcionarem com base nos mercados de trabalho. Apesar da sua popularidade, ainda existe uma certa dificuldade em definir o conceito. Sendo um termo tão utilizado, quer no mundo académico quer na ciência, torna-se importante distinguir as duas abordagens. Enquanto na primeira o termo é convocado apenas para a produção de trabalhos científicos a fim de comercializar a instituição, a segunda interessa-se pelos métodos, teorias e qualquer abordagem teórica ou empírica que faz referência à interdisciplinaridade. A investigação cientifica e os seus agentes resistem, mesmo até fora do mundo académico, através do sucesso dos seus trabalhos e da sua viabilidade. Então, a interdisciplinaridade não se resume apenas às diferentes formações académicas dos autores , nem dos projetos científicos, com base nas várias disciplinas. O conceito de interdisciplinaridade abrange quer objetos, como métodos, teorias ou problemas que estabelecem na epistemologia, as variantes a considerar num trabalho interdisciplinar e que delimita os limites das disciplinas . Segundo Pohl e Hadorn, os objetivos de uma investigação interdisciplinar são: • Identificar, analisar, estruturar e resolver problemas, de forma a compreender a complexidade dos mesmos; • Considerar as diversidades biológicas e sociais e a perceção cientifica dos problemas: • Interligar conhecimentos; • Desenvolver domínios e práticas de bem comum. Enquanto Porter et al manifestam a interdisciplinaridade como um tipo de investigação coletivo que engloba teorias/conceitos e técnicas/dados de pelo menos 6 2020/2021 TRABALHO INDIVIDUAL MARIANA ESTEVES 46360 duas especialidades/práticas de investigação, dando ênfase ao aprofundar de conhecimentos ou resolução de problemas, os quais as soluções vão além das capacidades de uma só disciplina. Já Brewer defende que a interdisciplinaridade resulta da combinação de conhecimentos de várias disciplinas vocacionadas para resolver os problemas atuais. Refere ainda que se trata de um novo campo de investigação que liga a política e a ciência para abordar questões mais atuais, como a degradação ambiental, saúde pública, novas tecnologias e as constantes mudanças sociais. Mesmo que se possa considerar excessivo atribuir à interdisciplinaridade o estatuto de novo modelo padrão das ciências sociais, não se lhe deverá retirar a importância de algo superior. Apesar do ceticismo que recai sobre a abordagem interdisciplinar, é evidente o desejo de promover a relação entre as diferentes disciplinas e as instituições académicas, fazendo visa à melhoria e veracidade do conhecimento de forma a aperfeiçoar a nossa compreensão acerca do mundo que nos rodeia. 7 2020/2021 TRABALHO INDIVIDUAL MARIANA ESTEVES 46360 Bibliografia Documento “Ciência e Conhecimento Científico” Documento “Interdisciplinaridade em ciências sociais – passado, presente ou futuro?” 8 2020/2021
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