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Resumos Metodologia

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Resumos Metodologia 
O Iluminismo e a Emergência Revolucionária da Modernidade: 
O Iluminismo (que abarcou o período dos finais do séc. XVII e todo o séc. XVIII – o Século das Luzes), foi 
um grande movimento de ideias que abriu as portas às diversas revoluções da Modernidade. As suas 
características fundamentais foram: 
 Inabalável confiança na Razão humana. 
 Veemente contestação das conceções tradicionais (nomeadamente da monarquia hereditária, 
do pensamento escolástico, da fé em Deus, da religião e das alianças entre o trono e o altar). 
 Afirmação convicta da vontade de transformar o mundo, inspirada nas capacidades do ser 
humano. 
Assiste-se à afirmação de um pensamento que não hesita em tudo contestar, tudo criticar (o passado e o 
presente não podem deixar de ser analisados criticamente): 
 A Religião é contestada e substituída pelo Racionalismo. 
 A Economia já não pertence ao domínio da Moral, afirmando-se como uma Ciência empírica e 
matemática 
 O Direito deixa de ser entendido como descendente das Leis Divinas, mas sim como um produto 
humano. 
 Afirma-se a igual dignidade de todos os seres humanos e promove-se uma conceção do indivíduo 
liberto dos poderes absolutos dos reis / dos Estados  Substituição do Absolutismo político pelo 
Liberalismo. 
 
Segundo Kant, o Iluminismo é «a saída do Homem da sua menoridade». 
 
 
 
 
 
 
O Iluminismo deve ser entendido como um movimento intelectual que afirma a sua crença na 
possibilidade de tudo entender, de tudo explicar, de tudo validar ou de tudo anular. 
 
“nada terá agora validade, se não conseguir justificar-se perante o tribunal da Razão” 
(Cabral de Moncada) 
 
Deve ter-se em conta que os ideais Iluministas se afirmavam nas elites intelectuais enquanto a 
esmagadora maioria da população continuava firmemente monárquica, conservadora e religiosa. Apenas 
com o tempo o Iluminismo se foi alargando a toda a população através da adoção progressiva dos seus 
valores, das suas crenças e das suas perspetivas: 
 O Racionalismo e o Empirismo deram origem a uma Revolução Científica que, por sua vez, se 
traduziu numa Revolução Tecnológica e esta deu lugar à Revolução Industrial; 
 Podemos igualmente falar de uma Revolução Axiológica no sentido em que se afirmou a 
substituição de valores tradicionais pelos valores da Modernidade (individualismo, Liberdade, 
Igualdade, Emancipação…); 
 Afirmou-se também através da Revolução Política (Rev. Francesa e Revoluções Liberais) que 
conduziu a Revoluções Sociais (Democracia, Liberalismo, abolição da escravatura, emancipação 
feminina…). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
John Locke 
Um dos mais importantes pensadores da sua época, ocupando-se de temas sobre a tolerância, a origem 
do poder e o Direito. 
Contesta a tese segundo a qual o poder dos monarcas tem origem divina ou decorre de um direito de 
governar o mundo resultante de uma herança política de Adão. 
De forma revolucionária para a época, Locke conclui que: 
A. Ou se admite que os reis governam como resultado de actos de força (seus ou dos seus 
ascendentes); 
B. Ou temos de procurar uma outra fonte de legitimidade quanto à origem do poder político que 
não decorra de um acto divino ou de uma herança adâmica. 
 
Tal como Hobbes, defende a ideia de que, na ausência de poderes políticos, o ser humano vive no estado 
de natureza; no entanto, ao contrário daquele, considera que esse estado não é necessariamente 
negativo; o estado da natureza será melhor ou pior em função da forma como os indivíduos exercerem a 
sua liberdade e se comportarem uns com os outros. Não será uma guerra de todos contra todos mas 
tenderá a ser uma guerra de alguns contra alguns e, como tal, prejudicial a todos. 
 
Locke foi o primeiro filósofo a defender a ideia de que, no estado de natureza, todo o homem é detentor 
de direitos individuais naturais, como o direito à vida, à propriedade, à liberdade e à saúde». «Todos os 
homens são naturalmente livres, iguais e independentes. 
Para Locke, o estado de natureza é insatisfatório porque, na ausência de leis, de governo ou de tribunais, 
os homens não têm assegurados os seus direitos, a sua vida, a sua liberdade ou as suas propriedades. 
Assim, todos aqueles que vivem em estado de natureza chegam à conclusão racional sobre a necessidade 
de passarem ao estado de sociedade, já que a arbitrariedade de cada um fazer o que entende conduz à 
disparidade de critérios, à insegurança e à injustiça. 
A passagem ao estado de sociedade implica a renúncia, por parte de cada homem, da liberdade de fazer 
justiça privada, delegando no Estado o poder de legislar, de executar as Leis, de julgar e de punir os 
criminosos  Apologia de um sistema de Justiça Pública (polícia, tribunais, prisões), distinto do modelo 
medieval. 
 
 
 
É pelo consentimento tácito de todos que o Estado é criado, resultando o mesmo da vontade contratual 
dos cidadãos. 
No entanto, Locke discorda de Hobbes, e considera que a cedência de poderes (dos cidadãos ao Estado) 
não é ilimitada, destinando-se apenas a possibilitar uma boa convivência social e a garantir a vida, a 
liberdade e a propriedade de cada homem. Assim, enquanto Hobbes defende uma alienação ampla e 
definitiva dos direitos individuais, Locke defende uma delegação limitada de poderes. 
Desta forma, o rei nunca é o titular da soberania, já que esta reside sempre no povo, limitando-se este a 
delegar o exercício de uma parte da mesma no rei; se o rei não desempenhar bem as suas funções, o povo 
tem o direito de revogar a delegação de poderes, revoltando-se contra a tirania. 
Para Locke, o Estado não deve invadir a vida privada dos cidadãos nas esferas familiar ou económica; o 
Estado deve limitar-se à vida pública e ao exercício da política, respeitando os direitos individuais  os 
poderes do Estado são limitados. 
 
Assim, enquanto Hobbes defende a necessidade de um Estado totalitário, absoluto, ilimitado e até 
tirânico, Locke faz a apologia de um Estado cujos poderes são relativos, legítimos e apropriadamente 
limitados: 
 Limitações quanto à finalidade do Estado: se o Estado é criado para proteger os direitos naturais 
dos indivíduos, não pode ele próprio (a não ser em casos excecionais) pô-los em causa; 
 Limitações decorrentes das funções legislativa e judicial: o Estado deve assumir a 
responsabilidade pela elaboração das leis e pela aplicação da justiça, isto é, deve cuidar do «bem 
público» sem interferir nas atividades privadas de cada um  Locke é o primeiro defensor do 
Liberalismo Político; 
 Limitações decorrentes da soberania popular: se a soberania reside no povo, este tem o direito 
de colocar entraves à ação governativa se o rei (ou o governo) não respeitar o contrato 
estabelecido. 
Locke inventa a ideia de que os poderes políticos são limitados e de que o governo decorre de um 
consentimento do povo: o poder político «tem a sua origem unicamente num pacto ou convenção, e no 
consentimento mútuo daqueles que constituem a sociedade», constituindo um grande perigo para os 
indivíduos a existência de um poder político absoluto e ilimitado. 
 
 
De forma a reduzir os efeitos perniciosos do exercício absoluto do poder, Locke faz a apologia do fim da 
concentração de poderes  Separação de poderes (divisão constitucional e social dos poderes dentro do 
Estado): 
 Poder Legislativo (Parlamento) – elemento democrático. 
 Poderes Executivo e Federativo (Rei e respetivo governo) – elementos monárquico e 
aristocrático. 
A Doutrina da Separação de Poderes impor-se-ia como evidente na Rev. Americana e na Rev. Francesa, 
passando a ser adotada pelos constitucionalismos liberais e democráticos, mantendo-se como um pilar 
da organização política moderna. 
 
Aspetos centrais em Locke: 
 A origem e o fundamento do poder político residem no povo; 
 Os poderes Legislativo e Executivo não podem ficar nas mesmas mãos; 
 O principal poder do Estado (o poderLegislativo) tem de ser formado por representantes eleitos 
do povo; 
 As decisões políticas são tomadas por maioria e todos lhes devem obediência, ainda que 
discordando; 
 O Estado existe para promover o bem comum (defender o interesse público) e está limitado pelo 
respeito devido aos direitos fundamentais dos cidadãos (estes podem recorrer aos tribunais 
perante arbitrariedades). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Montesquieu 
Procurou fundar uma verdadeira Ciência Política e defendeu a reforma do sistema político francês. 
Defende o fim da Monarquia Absoluta e a sua substituição por uma República Liberal baseada: 
 A legitimidade democrática (que resulta do consentimento popular); 
 O primado da lei (segundo o qual as decisões e os actos do Estado e da Administração Pública se 
encontram sujeitos à Lei); 
 A Separação de Poderes (Legislativo, Executivo e Judicial). 
 
Para que ninguém possa abusar do exercício do poder, é fundamental que o poder trave o poder, a 
Constituição deverá ser tal que ninguém seja obrigado a fazer coisas que a lei o não obrigue, ou a deixar 
de fazer aquelas que a lei lhe consinta. Montesquieu é um defensor da liberdade individual  Liberalismo. 
Em escassas décadas, a principal doutrina de Montesquieu (a da separação de poderes) influenciou 
inúmeros revolucionários e foi amplamente adotada. 
 
Jean-Jacques Rosseau 
Tal como uma boa parte das elites intelectuais da época, Rousseau opunha-se à Monarquia absoluta, à 
Igreja Católica e à aristocracia feudal; era um adepto da República, do ateísmo e da democracia. 
«O homem nasceu livre, mas em toda a parte se acha em ferros». 
É objetivo de Rousseau Explicar como se chegou à atual situação de injustiça e propor soluções para a 
construção de uma sociedade justa. 
Tal como Hobbes e Locke, Rousseau também defende a passagem de um estado de natureza, através de 
um contrato social, a um estado de sociedade, mas vê, no processo, mais do que três fases. São seis as 
fases, de acordo com Rousseau: 
A. estado de natureza primitivo (homens naturalmente livres, bons e inofensivos - «bom 
selvagem»); 
B. estado de natureza em degradação espontânea (emergência da propriedade privada); 
C. primeiro «contrato social», fraudulento (contrato social que só na aparência é igual, sério, 
honesto); 
D. estado social corrupto (a injustiça, a pobreza, a desigualdade e a escravatura institucionalizadas); 
E. revolução democrática (todos voltam a ser iguais se todos são escravos de um tirano  
regicídio); 
F. segundo Contrato Social, desta vez, honesto (garantia de liberdade e de igualdade para todos). 
 
Mais do que olhar para o passado, Rousseau está interessado em defender a mudança do regime e do 
sistema político através de uma Revolução. Quais são os elementos da sua nova Constituição, do seu novo 
Estado? 
 Terá de haver uma república: já que a monarquia hereditária fere o princípio da igualdade e a 
monarquia absoluta reduz as liberdades individuais; 
 Terá de ser democrático: porque se todos os homens nascem livres e iguais, o poder político 
reside em todos eles e só eles podem celebrar o contrato social; 
 Terá de assegurar a liberdade individual: “cada um, unindo-se a todos, não obedecerá senão a 
si próprio, e permanece tão livre como antes”  O Estado é uma pessoa moral, cujas leis 
expressam a vontade geral; 
 Terá de assegurar a igualdade entre todos os cidadãos: a lei, sendo geral e abstrata, garante a 
igualdade jurídica dos cidadãos. Rousseau também condena as desigualdades sociais. 
 Terá de pôr termo à aliança entre o trono e o altar: a religião deve ser reduzida a um fenómeno 
privado, ficando circunscrita às convicções interiores de cada indivíduo. 
 
Rosseau critica a democracia representativa e faz a apologia da democracia direta. 
Após Rousseau, nada será o mesmo: à antiga querela autoridade VS liberdade, junta-se agora o problema 
da (in)compatibilidade da liberdade VS igualdade. 
 
 
 
 
 
 
 
 
Adam Smith 
Figura insigne do Iluminismo liberal escocês, é considerado o fundador da moderna Ciência Económica. 
Teoria da mão invisível: O mercado livre assegura o funcionamento mais eficaz de qualquer Economia 
baseada na iniciativa privada, porque este é guiado por uma mão invisível que promove, de forma 
inteligente, o aumento da produção, a boa circulação dos bens, a melhoria das atividades comerciais e 
uma boa formação dos preços. 
 
“Não é da benevolência do carniceiro, do vinhateiro ou do padeiro que podemos esperar o nosso 
jantar, mas da prossecução dos respetivos interesses próprios. Nós temos de lhes falar, não à sua 
humanidade, mas ao seu amor próprio, e não lhes mencionar as nossas necessidades, mas as 
vantagens deles” 
 
Apologia do princípio da cooperação voluntária entre os homens: 
Se a maioria dos homens é egoísta por natureza, é preciso aproveitar e estimular o interesse de cada um 
para o colocar ao serviço da comunidade (o bem comum resulta da soma dos interesses particulares)  
Se o bem comum resulta da prossecução do bem individual, esbate-se a oposição entre o indivíduo e a 
sociedade, já que deixa de existir uma verdadeira oposição entre interesses individuais e coletivos. 
 
Saint Simon 
Participou na Guerra da Independência dos EUA  regressou a França, prescindiu dos seus títulos 
nobiliárquicos  tornou-se um apologista republicano. 
Na esteira de Rousseau, é um socialista utópico, embora liberal sob o ponto de vista político. 
Favorável aos ideais da Rev. Francesa (mas não aos seus excessos), preocupava-se especialmente com a 
justiça social através da distribuição da riqueza (aplicação do princípio da fraternidade). 
Proposta de sociedades mais justas a partir da aplicação da racionalidade científica das elites à 
organização política e ao trabalho, tornando-as mais justas, rigorosas e racionais pela eliminação dos 
privilégios dos nobres ou do ócio dos desocupados. 
Surge, portanto, a primeira ruptura epistemológica na área das Ciências Sociais, já que se propõe a 
emergência de uma «Física Social» capaz de analisar a realidade social de forma independente das esferas 
da política e do senso comum. 
 
Considera que a felicidade do ser humano depende, acima de tudo, do bem-estar material de cada um; 
e, para isso, a História prova-o, é necessário produzir bens e serviços, cada vez mais e cada vez melhor: 
“A produção é o fim essencial da atividade humana”; de tal forma que a sociedade se divide em 
produtores e não produtores, isto é, em “homens ativos e úteis, e homens inativos e inúteis”. 
Mais preocupado com as desigualdades sociais do que com a liberdade, critica a transmissão hereditária 
de bens e as classes ociosas (parábola de Saint-Simon): os ociosos (nobreza, clero, políticos, funcionários 
públicos) não fazem falta à sociedade pelo que devem ser convertidos em trabalhadores na sociedade 
científica utópica por ele idealizada. 
Acredita na transformação social resultante de uma evolução inexorável do devir histórico; todas as 
racionalidades sociais e políticas seriam superadas pela nova racionalidade económica industrial, levando 
ao surgimento de novos tipos de crenças e de ações simbólicas numa nova sociedade: o Sistema Industrial. 
 
O Sistema Industrial estava utopicamente destinado a pôr fim à miséria, iria melhorar a vida coletiva e 
assegurar as necessidades gerais dos indivíduos através do trabalho de todos. Saint-Simon preconiza o 
desenvolvimento de uma ciência positiva destinada a organizar o sistema industrial, a melhorar as 
condições de vida e a reduzir as desigualdades sociais. 
Criticando a primazia da política sobre a Economia, defende que, pelo contrário, deve ser a Economia a 
ser preponderante sobre a política, pelo que propõe a substituição do governo (o “domínio dos homens 
sobre os homens”) por uma administração científica das coisas (“domínio dos homens sobre as coisas”), 
onde os mais fortes têm a obrigação moral de dirigire de proteger os mais fracos. 
Defende uma espécie de Socialismo de Estado, de cariz tecnocrático, industrial e racional, com o objetivo 
de eliminar as classes ociosas, fazendo-as trabalhar. O principal objetivo do Estado é o desenvolvimento 
da produção industrial e a organização científica da nova sociedade. 
 
O trabalho é entendido como uma forma de inclusão social, como uma forma de promover a integração 
social. A participação no trabalho, que é entendida como uma promessa de prosperidade e de felicidade 
geral, iguala os indivíduos. 
Todos, independentemente do seu estatuto socioprofissional, possuem igual dignidade pois o verdadeiro 
estatuto de cidadania decorre da participação no trabalho. O Estado Industrial inclui todas as categorias 
de pessoas, das mais simples e ignorantes, às mais esclarecidas, numa organização científico-religiosa da 
sociedade baseada no trabalho. A ociosidade (exploração) é moralmente inaceitável. 
 
Sob a orientação dos produtores de riqueza (empresários e trabalhadores), o Estado deve adotar uma 
nova formulação política, social e económica: 
 Combater o egoísmo individual e assumir o dever coletivo da filantropia a favor dos mais pobres 
(não se trata, segundo Saint-Simon, de suprimir a riqueza, mas sim de suprimir a pobreza); 
 Impedir a anarquia resultante de uma Economia Liberal, devendo proceder à organização de uma 
Economia «dirigida» e dotada de diversos «órgãos reguladores» das atividades económicas; 
 Limitar a transmissão de heranças aos descendentes e favorecer o Estado como legítimo 
herdeiro. 
 
Entre outros ideólogos e socialistas utópicos, Saint-Simon procura ultrapassar as antigas explicações 
metafísicas e religiosas, típicas do Antigo Regime, assim como as explicações emergentes da Psicologia, 
impróprias para a sociedade contemporânea. 
Foi o primeiro intelectual a captar a essência da Revolução Industrial dos finais do Séc. XVIII e princípios 
do Séc. XIX, destacando a importância das novas sociedades industriais; salienta a maior utilidade social 
dos agentes económicos (produtores industriais) do que dos políticos e a necessidade de uma intervenção 
forte do Estado de forma a corrigir e a regular os efeitos anárquicos do sistema liberal. 
Faz a apologia de sociedades mais justas cujo projeto de construção se baseia no suporte e no contributo 
das ciências e da racionalidade científica das elites. 
Saint-Simon evidencia fortes inclinações socialistas, a saber: 
 Valorização do Materialismo (só os interesses económicos contam na vida de um homem ou de 
um país); 
 Crença nas virtudes de uma Economia organizada e dirigida pelo Estado; 
 Defesa da nacionalização dos principais meios de produção, em nome de uma boa gestão da 
Economia. 
 
 
 
 
 
Marx e Engels foram buscar, ao pensamento de Saint-Simon, algumas das mais célebres expressões hoje 
consideradas tipicamente marxistas: 
 “abolição da exploração do homem pelo homem”; 
 “substituição do governo dos homens pela administração das coisas”; 
 “de cada um segundo as suas capacidades, a cada um segundo o seu trabalho”. 
Podemos encontrar, no pensamento de Saint-Simon, as bases e os fundamentos para as políticas de 
Estado-Providência (Estado de Bem-Estar Social ou Welfare State) implementadas em muitas sociedades 
europeias (e não só) ao longo do século XX. 
Saint-Simon é um dos principais precursores das Ciências Sociais, ao produzir uma primeira rutura 
epistemológica com a política e com o senso comum, criando as condições para o surgimento de uma 
«física social», de uma ciência dedicada ao estudo do social, como alternativa à visão comum e popular 
do mundo. 
 
Alexis Tocqueville 
Apesar de ter sido sempre antirrevolucionário e antissocialista, foi um pensador iluminista apologista da 
democracia liberal, privilegiando o valor da absoluta liberdade do indivíduo em detrimento do valor da 
igualdade. Defende a ideia de que os acontecimentos históricos não surgem do nada e, como tal, haveria 
um encadeamento causal dos fenómenos que se desenrolariam enquanto processo histórico. 
Perspetiva teleológica (destino histórico pré-determinado): crença numa irreprimível direccionalidade 
dos acontecimentos históricos, considerando inelutável a emergência da liberdade e da igualdade na 
História. 
Defendeu, desde logo, a ideia de algum determinismo social de tipo coercivo que se sobreporia à vontade 
dos atores. Para Tocqueville, o ser humano é já um homo sociologicus (no sentido em que entende que 
existe um processo histórico que, de algum modo, se sobrepõe à vontade dos indivíduos  a democracia 
seria o resultado desse processo). 
 
 
 
 
 
Para Tocqueville, as ações dos indivíduos dão origem a situações sociais cujos resultados ou 
consequências não coincidem, inúmeras vezes, com as intenções dos atores que as levariam a cabo. 
Utiliza o método comparativo com a finalidade de estudar as sociedades europeias modernas e 
industrializadas, concluindo que as mesmas valorizam mais a igualdade do que a liberdade. Enquanto 
liberal convicto, considera negativa a preocupação excessiva com o valor da igualdade, vendo aí um risco 
para a liberdade individual e para a própria democracia. A paixão pela igualdade pode conduzir à 
emergência da democracia, mas também pode conduzir a novas desigualdades e a novos problemas 
sociais (menor espiritualidade, mais materialismo, mais individualismo, destruição dos laços sociais, 
ficando o indivíduo afastado dos seus pares e isolado e indefeso perante o Estado-todo-poderoso ou pela 
tirania da maioria). 
Estes problemas podiam ser controlados e o regime político podia aperfeiçoar-se com o auxílio de “uma 
nova ciência política para um mundo novo”. 
 
Se a liberdade e a igualdade não forem devidamente geridas e doseadas, a democracia pode transformar-
se num novo despotismo ou numa nova tirania, onde o Estado herda as prerrogativas, as liberdades e os 
direitos dos cidadãos, deixando-os isolados, impotentes e fracos perante um poder tendencialmente 
uniformizador, centralizador e hegemónico. Assim, conclui pela necessidade de limitar o poder central 
(mesmo quando este é eleito pelo povo) e de não sacrificar a Liberdade à Igualdade. 
Numa época em que o direito de oposição, a objeção de consciência e os direitos das minorias não 
estavam consagrados, Tocqueville chama a atenção para os riscos da Democracia, decorrentes de uma 
sociedade onde a vontade de uma maioria se impõe de forma tirânica sobre as liberdades individuais, 
reduzindo o conjunto de cidadãos a uma massa informe, a uma multidão de homens semelhantes e iguais, 
cuja existência se reduz à satisfação de pequenos prazeres vulgares, seres isolados (com as suas famílias 
e amigos) do resto da sociedade, sentindo-se estranhos aos sentimentos e ao destino dos outros 
indivíduos. 
De forma a regular, enquadrar e moderar os riscos de uma democracia tirânica, onde a maioria impõe a 
sua vontade às minorias, Tocqueville propõe: 
 Um pacto de não agressão entre crentes e não-crentes; 
 Descentralizações administrativas (municipais e regionais); 
 Independência dos poderes judiciais; 
 O respeito geral pelos «costumes» (tradições, práticas, crenças, e formas de ser do povo) 
 Valorização da tolerância e respeito pela liberdade de imprensa, pela educação popular. O 
Iluminismo e a emergência revolucionária da Modernidade 
O que mais importa na sua obra, para além da sua invulgar perspicácia e da sua profundidade analítica, é 
a substituição dos métodos clássicos da Ciência Política (filosófico, teológico e jurídico) por um método 
sociológico, com o qual penetra bem fundo na análise histórico-comparativa das sociedades inglesa, 
francesa e norte-americana. 
Porque explica fenómenos sociais a partir de outros fenómenos sociais e porque trata a democracia como 
um fenómeno social, o pensamento de Tocqueville é considerado, por alguns autores, como um 
pensamento sociológico.Aceitando a democracia liberal, tendencialmente igualitária, não deixou de advertir para o facto de esta 
também ter defeitos e inconvenientes. Não há nenhuma fatalidade histórica que garanta o melhor, ou 
imponha o pior, a cada país. Tudo depende das leis e dos costumes de cada um. Depende das nações que 
a igualdade as conduza à servidão ou à liberdade, às luzes ou à barbárie, à prosperidade ou à miséria. 
 
Pierre-Joseph Proudhon 
Autor que se destacou por ter feito a primeira apologia de um socialismo anarquista. Foi um célebre 
pensador socialista que via a sociedade do seu tempo dividida em duas classes: a burguesia ou classe 
capitalista, que dispunha de dinheiro e necessitava de trabalhadores, e o proletariado ou classe 
trabalhadora, que não tinha dinheiro e precisava de trabalhar para os capitalistas. Três ideias-chave se 
destacam no seu pensamento: 
 A ilegitimidade do capitalismo: «a propriedade é um roubo», o capitalismo é um sistema ilegítimo 
e os capitalistas nunca pagam o verdadeiro valor do esforço coletivo dos trabalhadores (1000 
homens a trabalhar durante 20 dias produzem mais do que um homem a trabalhar durante 55 
anos, ou seja, o capitalismo remunera apenas o esforço individual, mas não o coletivo); 
 A apologia de uma revolução proletária: o capitalismo, forte e organizado, sob a proteção de uma 
ditadura burguesa e de um Estado policial, tudo faz para impedir a emergência do socialismo, 
pelo que só pode ser derrotado por uma Revolução empreendida pelo proletariado; a classe 
trabalhadora deve tomar o poder político pela força a fim de demolir o Estado e de eliminar a 
burguesia; 
 O esboço de uma sociedade anarquista: Acreditando na bondade natural do ser humano, quando 
não se encontra oprimido pelo Estado, defende um sistema anárquico (ausência de governo) 
baseado nos ideais da Liberdade, da Igualdade e da Fraternidade e assente na propriedade 
comunitária dos bens. 
Ao contrário de outros intelectuais utópicos (Platão ou T. More, por ex.), Proudhon dispensa o Estado e a 
disciplina por este imposta. O seu anarquismo é o primeiro a considerar como nefasto ou dispensável o 
Estado e as suas funções de dominação, de repressão e de controlo sociais. De acordo com o seu 
pensamento, as leis, a polícia, os tribunais, as prisões e as Forças Armadas são desnecessárias, inúteis ou 
mesmo contraproducentes. 
A sociedade anárquica (sem Estado, sem governo, sem leis, sem forças policiais ou militares, sem tribunais 
ou prisões), será coordenada mediante federações voluntárias de indivíduos (propriedade comunitária de 
bens, organização da produção de bens em pequenas cooperativas, assistência social em mutualidades, 
administração pública à escala municipal…). 
Proudhon acredita na autogestão dos operários e dos camponeses, a partir da qual surgirá a «República 
Industrial», não repressiva e não exploradora, mas, pelo contrário, humana, racional, igualitária, justa. 
Se a sociedade atual é injusta impõe-se a necessidade de passar a ser justa. Como? Para Proudhon, 
mediante uma Revolução que beneficie os proletários e os pobres. 
Deve essa Revolução dar origem a um Estado totalitário, policial e repressivo, com a finalidade de eliminar 
as classes privilegiadas e defender a nação do ataque do mundo capitalista? Segundo Proudhon, não! 
Neste aspeto em particular, o seu pensamento irá divergir radicalmente do de Karl Marx. 
Proudhon foi o grande inspirador do Movimento Sindical francês e é tido, no campo do socialismo radical, 
um dos grandes rivais de Marx já que este defende a necessidade de um período de transição após a 
revolução, com um Estado forte sob a ditadura do proletariado, enquanto aquele entende que, após a 
revolução, o Estado deixa de ser necessário. 
Se excluirmos as sociedades tribais, o ideal anarquista é utópico nas sociedades modernas, já que tem 
sido o Estado e o Direito a garantir a defesa dos direitos e das liberdades dos indivíduos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Karl Marx 
Autor profícuo de obras extensas e numerosas, com um pensamento vasto e profundo, cujas influências 
permanecem evidentes, quer em termos políticos, económicos, sociais, culturais, intelectuais e 
filosóficos, quer em termos sociológicos, onde o seu pensamento deu origem a uma das principais linhas 
teóricas, conceptuais e analíticas (Teorias Marxistas ou Teorias do Conflito). 
Temas abordados por Marx: 
 Análise rigorosa da Rev. Ind. e dos seus efeitos, em termos históricos, económicos e sociais, 
recusando o deslumbramento tecnológico de Saint-Simon ou as razões éticas e de compaixão 
romântica de Proudhon; 
 Materialismo histórico (tudo o que de fundamental existe no mundo e na vida é a matéria e não 
o espírito, pelo que é a evolução da matéria (das condições materiais / económicas de vida) que 
determina a evolução das ideias, das leis, das formas políticas, e não o inverso; a História evolui 
a partir do choque entre forças contrárias, que dão origem a novas sínteses enriquecedoras e 
progressivas; só a luta, a oposição ou o conflito podem gerar novidades, mudanças, progressos; 
 Proposta de abolição do sistema económico vigente, o capitalismo liberal, e substituição 
revolucionária do mesmo por um sistema socialista coletivista, i.e., apologia da abolição da 
propriedade privada; 
 A ideia de que a luta de classes (entre opressores e oprimidos) é o motor da História; «a história 
de todas as sociedades até aqui existentes é a história das lutas de classes»; «Homem livre e 
escravo, patrício e plebeu, senhor e servo, mestre de corporação e jornaleiro, numa palavra, 
opressor e oprimido, sempre estiveram em constante oposição um contra o outro, ambos em 
luta». 
 A introdução de conceitos analíticos como «modo de produção», «meios de produção», 
«relações de produção», «infraestrutura», «superestrutura» ou «alienação» entre outros…; ao 
destruir as relações feudais, patriarcais e idílicas, o capitalismo reduziu as relações humanas a 
meros cálculos egoístas (o pagamento em dinheiro entre seres humanos) e simplificou os 
antagonismos de classe, criando duas grandes classes que se enfrentam diretamente, a 
burguesia e o proletariado; 
 Evolução Histórica: Comunismo primitivo  Esclavagismo  Feudalismo  Capitalismo  
Comunismo; 
 O trabalhador é submetido, involuntariamente, ao fenómeno da alienação por parte do 
capitalismo e da industrialização; 
 O capitalismo é mais do que um sistema económico (infraestrutura); é, também, um fenómeno 
político, jurídico, religioso e moral (superestrutura – conjunto de ideologias que justificam, 
legitima, e protegem os interesses da classe opressora / dominante); 
 O Estado, o Direito e a Religião vigentes, são vistos como mecanismos ou instrumentos de 
dominação que garantem a adesão dos explorados aos interesses e às lógicas dos exploradores; 
 O Estado é visto, não como uma entidade neutra que zela pelo interesse coletivo, mas sim como 
um instrumento de dominação e de exploração de uma classe sobre a outra; 
 O Direito é concebido como a expressão da vontade da classe dominante (o Direito é visto, desta 
forma, como a forma através da qual uma classe dominante regula e institucionaliza as condições 
de opressão, tornando-as «naturais» aos olhos dos oprimidos); valores como a Liberdade ou a 
Propriedade não são mais do que direitos formais que expressam os interesses dos capitalistas, 
ao mesmo tempo que os direitos substanciais (ao emprego, ao trabalho, ao salário justo, à 
habitação, à educação ou à saúde – direitos sociais e económicos) são preteridos, negligenciados 
ou negados pelo capitalismo; 
 A Religião é vista como «o ópio do povo», como um instrumento ao serviço da classe dominante, 
com a finalidade de alienar o povo das degradantes condições materiais de vida, consolando-o e 
atenuando-lhe o sofrimento, levando-o a aceitar a exploração de que é alvo e as profundas 
desigualdades sociais e económicas em que seencontra imerso; a religião enfraquece (embriaga, 
droga) o povo, tira-lhe a força e a energia para lutar pelos seus direitos; a religião ensina os 
direitos aos ricos e os deveres aos pobres. 
 
Friedrich Nietzsche 
Um dos mais importantes filósofos e intelectuais do século XIX, tendo o seu pensamento influenciado 
significativamente as sociedades contemporâneas. 
Não sendo um autor especialmente relevante para a Sociologia, importa destacar a sua declaração sobre 
a «morte de Deus» e o significado que a mesma tem no âmbito de uma Modernidade que oscila entre o 
aprofundamento da secularização e o retorno de Deus à esfera pública. 
 
 
 
 
 
Precursores da Sociologia (Montesquieu, Saint-Simon, Tocqueville, entre outros) 
Para G. Bachelard, a rutura epistemológica constitui o primeiro dos três passos tidos como indispensáveis 
à produção do conhecimento científico: rutura, construção e verificação. 
Entende-se por Rutura Epistemológica a crítica e a desconstrução do pensamento, das lógicas e das ideias 
do senso comum presentes na mente de todos os cientistas quando observam a realidade. Bachelard 
entende que o conhecimento científico só pode ser alcançado se, em primeiro lugar, nos alienarmos dos 
nossos preconceitos e de todas as nossas pré-noções, para depois construirmos, por via racional e 
metodológica, um conjunto de conceitos científicos depurados da espontaneidade do saber comum e 
acrítico resultante da experiência da vida. 
Bachelard separa, desta forma, a experiência vivida (senso comum) da experiência científica sujeita a um 
controlo metodológico  conhecimento estruturado, lógico, racional, metódico, organizado, sistemático, 
rigoroso, empírico, objetivo, verificável, replicável, comunicável, cumulativo. 
 
A Mudança Social e as Revoluções da Modernidade 
A Emergência da Modernidade: A Modernidade resulta de um conjunto intrincado de mudanças sociais 
(em sentido lato: políticas, económicas, sociais, culturais, axiológicas, científicas…) que se manifestaram 
através de grandes Revoluções. 
As Revoluções da Modernidade irão operar uma transformação profunda, em primeiro lugar nas 
sociedades europeias / ocidentais e, posteriormente, em sociedades de outras regiões do mundo, 
propiciando uma realidade que, em muitos aspetos, se apresentava como oposta, dicotómica, ou, no 
mínimo, radicalmente distinta da realidade observada nas sociedades pré-modernas. 
Essas transformações ocorreram essencialmente nos domínios Económico (revolução Industrial), Social 
(afirmação do individualismo, abolição da escravatura, emancipação feminina), Político (emergência das 
Democracias Liberais, do Estado de Direito e do Estado-Nação), mas também nos planos Cultural 
(massificação da cultura) e axiológico (secularização, racionalização). 
As Mudanças Sociais operadas na Modernidade foram radicais ao ponto de deixar perplexos os cientistas 
e os intelectuais que as presenciaram, conduzindo os mesmos à necessidade de encontrarem respostas 
científicas (racionais, analíticas e críticas) capazes de as explicar, de as interpretar, de as compreender. 
Assim se dá a emergência da Sociologia, enquanto disciplina científica filha da Modernidade e empenhada 
em “dar sentido” à Modernidade, em explicar os seus processos, as suas dinâmicas, as suas mudanças 
sociais, as suas estruturas. 
As Revoluções da Modernidade não ocorreram em simultâneo em todas as sociedades e tão pouco 
seguiram os mesmos passos ou as mesmas lógicas; no entanto, é possível discernir grandes tendências ou 
mudanças que seguem um padrão simultaneamente estrutural / estruturante. 
O resumo que a seguir se apresenta deve ser encarado como um esforço de simplificação e de 
sistematização de algumas das transformações revolucionárias operadas pela Modernidade. 
 
NOTA: Ver tabela imprimida para a frequência anterior. 
 
Pensamento não científico 
A vida quotidiana leva-nos, muitas vezes, a obter conclusões erradas a partir dos mais variados vieses que 
influenciam as nossas observações. Para evitar esse tipo de resultados, a ciência desenvolve formas 
particulares de observação, de recolha e de análise de dados, reflectindo sobre as evidências e, dessa 
forma, minimizando a possibilidade de se alcançar um resultado enviesado, tendencioso, errado ou 
preconceituoso. 
De forma a ilustrar alguns dos erros mais comuns, apresentamos de seguida dez exemplos de pensamento 
NÃO científico ou de lógicas falaciosas típicas ao nível do senso comum: 
 «A canja de galinha ajuda a curar constipações; funcionava com os meus avós e funciona para 
mim.»  Tipo de conhecimento baseado na tradição; embora a tradição possa suportar 
conhecimentos válidos, nem sempre assim é. A ciência serve para separar o conhecimento válido 
do conhecimento não válido. 
 «Ímanes fracos podem ser utilizados para curar muitas doenças; eu li tudo sobre isso no 
jornal.»  Afirmação baseada num argumento de autoridade; muitas fontes de informação, 
incluindo peritos e até cientistas, podem estar errados quanto à validade daquilo que 
proclamam. A ciência deve sempre questionar as fontes de autoridade, não aceitando algo como 
válido pelo simples facto de ser enunciado por alguém. 
 «O carro que atropelou o peão era cinzento; eu estava a dar um passeio ontem à noite quando 
vi o acidente.»  Conhecimento baseado numa observação casual; muitas vezes, somos 
observadores descuidados e desatentos. A ciência procura reduzir os níveis de incerteza através 
do registo de observações cuidadas, conscientes e deliberadas. 
 «Se você trabalhar muito, pode chegar longe; sei isso porque muitos amigos dos meus pais 
começaram pobres, mas agora fazem parte da classe média.»  Tipo de conhecimento baseado 
na generalização abusiva; o facto de algumas pessoas pobres terem chegado longe, não quer 
dizer que isso suceda com todas as pessoas em idênticas condições; é importante evitar a falácia 
que confunde a exceção com a regra. A Sociologia trabalha com dados estatísticos e com 
amostras mais amplas do que aquelas que resultam da experiência comum ou quotidiana, o que 
faz com que se evitem generalizações abusivas; por outro lado, as pesquisas científicas tendem 
a ser repetidas ou reproduzidas, garantindo a fiabilidade dos resultados alcançados. 
 «Estou certo porque não posso pensar em nenhum caso contrário.»  Afirmação baseada num 
conhecimento suportado em observações seletivas. Frequentemente, negligenciamos ou 
ignoramos (ainda que de forma inconsciente) tudo aquilo que desafia, contesta ou refuta as 
nossas crenças mais profundas. Podemos conhecer pessoas que trabalharam muito, mas, ainda 
assim, ficaram pobres; no entanto, preferimos ignorar esse facto de forma a manter ativa a nossa 
convicção de que o trabalho empenhado se traduz necessariamente em riqueza. A Sociologia 
produz evidências científicas a partir de amostras representativas, pelo que se evitam vieses 
resultantes de observações seletivas. 
 «O João trabalha muito e é pobre; mas é deficiente; as pessoas deficientes são a exceção à 
regra segundo a qual o trabalho árduo leva à riqueza.»  Conhecimento baseado numa 
exceção à regra. Na vida quotidiana, as exceções à regra são aceites como explicações válidas. A 
Sociologia, pelo contrário, exige um exame criterioso à luz das evidências. 
 «Entre 1914 e 2001, o Brasil venceu a Argentina em 15% dos jogos de futebol realizados em 
anos pares e em 13% das vezes em que jogaram em anos ímpares; assim, há uma maior 
probabilidade de o Brasil derrotar a Argentina se jogar num ano par.»  Afirmação baseada 
num raciocínio ilógico e falacioso já que é irracional assumir que a diferença entre anos pares e 
ímpares se deve a algo mais do que o mero acaso. A Sociologia evita este tipo de erros 
socorrendo-se de técnicas estatísticas que permitem distinguir eventos que se devem ao acaso 
daqueles que, com alguma probabilidade, resultam de relações causais. 
 «Eu não posso estarerrado.»  Afirmação baseada numa defesa do ego. Os cientistas não estão 
isentos de erros pelo que podem defender as conclusões dos seus trabalhos de forma 
apaixonada, devido ao facto de terem investido muito tempo, energia e recursos nas suas 
investigações. No entanto, na ciência em geral, assim como na Sociologia em particular, são os 
outros cientistas (a comunidade científica e as instituições científicas) que têm a missão de 
analisar, criticar, rever, avaliar e, no final, aceitar ou refutar as conclusões das pesquisas 
apresentadas pelos investigadores, colocando, dessa forma, um limite à defesa do ego. 
 «O assunto está definitivamente resolvido.»  Esta afirmação conduz ao fecho prematuro da 
investigação científica e, como tal, não é científico já que nenhuma pesquisa tem o condão de 
reunir todas as evidências relevantes para explicar um determinado fenómeno. A ciência assume 
por defeito que o seu conhecimento é provisório e incompleto, pelo que se compromete com a 
ideia de manter uma posição de abertura face a novas explicações; o conhecimento teórico é 
temporariamente verdadeiro e as questões nunca se encontram definitivamente resolvidas ou 
encerradas. 
 «De certeza que há forças sobrenaturais a exercer a sua influência por aqui.»  Esta sentença 
baseia-se na mistificação. É frequente, ao nível do senso comum, inventar explicações quando 
nos confrontamos com a ausência de uma explicação racional imediata, lógica ou objetiva; no 
entanto, a ausência de uma explicação não justifica nem legitima o recurso a explicações não 
coerentes com a natureza das coisas. A ciência procura explicações direta ou indiretamente 
baseadas na observação e nas relações entre os diferentes fenómenos presentes. Ainda que 
possam existir forças sobrenaturais, a ciência mantém-se cética em relação às mesmas, 
mantendo um compromisso de descoberta das causas pelas quais se pode explicar a realidade. 
«Alegações extraordinárias requerem evidências extraordinárias.» (Carl Sagan) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Pensamento Crítico – Definição e aspetos fundamentais 
Em 1987, Robert Ennis, um dos principais investigadores nesta área, definiu o Pensamento Crítico como 
«um pensamento racional e reflexivo que visa decidir em que acreditar ou o que fazer». O Pensamento 
Crítico visa, portanto, ajudar-nos a tomar decisões sobre aquilo a que devemos dar crédito ou aquilo 
devemos ou não fazer. Nesse sentido, é valorativo, já que a tomada de decisões sobre o crédito a conceder 
aos factos, assim como sobre as ações a empreender dependem do que valorizamos. Também é um 
pensamento racional, já que implica a adoção de métodos e de critérios, assim como boas razões para a 
tomada de decisões. É, ainda, reflexivo, no sentido em que analisa, divide e pensa sobre a melhor forma 
de resolver um problema. 
O Pensamento Crítico implica muito mais do que acumular ou processar informações. Implica observar, 
interpretar, explicar, analisar, sintetizar, argumentar, reconhecer evidências, questionar, fazer 
inferências, identificar pressupostos e avaliar informações, de forma a gerar conhecimentos úteis que se 
traduzam numa melhor resolução de problemas e numa tomada de decisões mais eficazes. 
O que é um bom pensador crítico? Alguém que gosta de investigar, que é honesto na elaboração dos seus 
juízos e na avaliação dos dados à sua disposição, que tem uma mente aberta e flexível e uma predisposição 
para questionar e analisar, tendo de possuir, ainda, competências e disposições de pensamento crítico. 
 
Disposições do Pensamento Crítico 
As competências determinam a forma como se realiza uma tarefa; as disposições referente à componente 
motivacional do pensamento crítico e remetem para a predisposição, o desejo, a vontade e a tendência 
para utilizar as competências que cada um detém. 
 
 
Padrões do Pensamento Crítico 
Pensar criticamente implica o domínio de certos padrões intelectuais universais. 
 
Obstáculos ao desenvolvimento do Pensamento Crítico e Criativo 
O desenvolvimento do pensamento crítico pode ser afetado por atitudes e pelo contexto em que se vive. 
 
 
 
 
Corte Epistemológico e Conhecimento Científico 
Recordemos dois conceitos-chave para Gaston Bachelard: 
 Obstáculo epistemológico: conjunto de representações, científicas ou não, que impedem uma 
determinada ciência, num dado momento, de colocar corretamente os problemas; 
 Rutura epistemológica: ato intelectual mediante o qual uma ciência ultrapassa os seus 
obstáculos epistemológicos, refazendo os seus princípios explicativos. 
Bachelard considera que é necessário superar uma série de obstáculos epistemológicos ou entraves à 
aprendizagem, para que a construção do espírito científico se efetive; a não superação dos obstáculos 
epistemológicos causam a estagnação ou mesmo o retrocesso do conhecimento científico. 
O conhecimento científico não se distingue de outras formas de conhecimento (teológico ou religioso, 
senso comum ou popular, filosófico ou especulativo) pela veracidade ou pela natureza do objeto 
conhecido, mas sim pelas formas, modos, métodos ou instrumentos que usa para alcançar o 
«conhecimento». 
A Ciência é uma forma de conhecimento que, através de uma linguagem rigorosa e apropriada, tem como 
objetivo formular leis que regem os fenómenos, permitindo a descrição dos mesmos, a sua comprovação 
através da observação e da experimentação e ainda prever (ainda que de forma probabilística) 
acontecimentos futuros. 
 
Obstáculos ao Conhecimento Epistemológicos 
A confusão entre Sujeito e Objeto: tudo começa pelo facto de o sociólogo fazer, ele próprio, parte da 
realidade que pretende estudar; o sociólogo é um agente social, dotado de crenças e de valores, que 
interage com outros agentes sociais, pelo que se confunde o seu papel de observador e de observado. 
O senso comum: o sociólogo não é imune ao senso comum; pelo contrário, coexiste nele, tal como outros 
saberes (científicos, filosóficos, teológicos, artísticos, poéticos, etc.), pelo que facilmente se pode cair no 
erro de explicar a realidade por aquilo que parece evidente aos olhos do senso comum. 
A familiaridade com o social: os indivíduos, incluindo os sociólogos, tendem a sentir que a realidade social 
lhes é particularmente familiar, próxima, natural, evidente, pelo que esta não carece de melhores 
interpretações ou de explicações mais profundas. 
A ilusão da transparência da realidade social: resultante de uma aparência de facilidade e de apreensão 
imediata dos fenómenos sociais, já que neles nos encontramos imersos. 
O naturalismo/biologismo: tendência para considerar a realidade social como natural, imanente ou inata 
e não como uma construção social. 
O etnocentrismo: tendência para considerar a nossa cultura como superior às demais culturas; tendência 
para classificar outras culturas como bizarras, estranhas ou inferiores. 
O individualismo: tendência para reduzir a ação humana à vontade exclusiva dos indivíduos, como se a 
realidade social fosse um produto exclusivo de lógicas psicologizastes. 
 
Características da Ciência e Áreas do Conhecimento 
Características essenciais da Ciência, enquanto produtora de conhecimento: 
 Objectivo porque descreve a realidade independentemente dos caprichos do investigador; 
 Racional porque se socorre do uso da razão e não de sensações ou de impressões; 
 Sistemático porque constrói sistemas de ideias organizadas, integrando conhecimentos 
particulares ou parciais em formulações teóricas mais amplas; 
 Geral porque obtém leis ou normas gerais que permitem a universalização dos fenómenos; 
 Verificável porque permite a demonstração da veracidade das suas informações; 
 Falível porque reconhece e reavalia constantemente a sua capacidade de errar. 
 
 
 
 
 
 
 
Características do Conhecimento do Senso Comum 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Características do Conhecimento FilosóficoCaracterísticas do Conhecimento Teológico 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Características do Conhecimento Científico 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Conhecimento Científico 
A Ciência apresenta um pensamento: 
 Racional; 
 Objetivo; 
 Lógico; 
 Confiável. 
 
A Ciência apresenta as particularidades da: 
 Sistematização; 
 Exatidão; 
 Falibilidade. 
 
A Ciência não apresenta conhecimentos definitivos ou finais pelo que deve ser verificável (submetido à 
experimentação). 
 
A Sociologia cumpre, segundo Ogburn e Nimkoff, três critérios de cientificidade: 
 A confiabilidade do seu corpo de conhecimentos; 
 A sua organização; 
 O seu método. 
 
 
 
 
 
 
 
Componentes da Ciência 
As Ciências possuem as seguintes componentes: 
Finalidade: preocupação em distinguir a característica comum ou as leis gerais que regem determinados 
eventos ou fenómenos. Tem foco na identificação de padrões e de regularidades que permitam entender 
as causas, os fatores e as dinâmicas dos fenómenos. 
Função: traduzida no aperfeiçoamento da relação entre o ser humano e o mundo, através da acumulação 
de conhecimentos. 
Objetos Materiais: aquilo que, de modo geral, se pretende estudar, analisar, interpretar ou verificar. 
Objetos Formais: o foco particular de cada ciência face ao mesmo objeto material que partilha com outras 
ciências. 
 
Classificação e Divisão da Ciência 
Para ser eficaz, a Ciência deve focar-se em segmentos particulares da realidade. Surge, assim, a 
necessidade de compartimentar e de delimitar cada ciência, o que nos leva, em primeiro lugar, à 
Classificação e Divisão da Ciência. Adotamos a classificação que foi apresentada por Marconi e 
Lakatos, a partir de uma classificação delineada por Mario Bunge em 1976. 
 
 
 
Factuais 
Características das Ciências Factuais/Investigação Científica 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Características das Ciências Factuais/Investigação Científica 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Investigação Científica 
A investigação científica é sistemática porque o seu conhecimento é organizado e porque se baseia num 
sistema em que as ideias se encontram logicamente ordenadas. Esta organização resulta da adoção de 
procedimentos e de estratégias fiáveis suportados em planos metodológicos rigorosos, pelo que podemos 
dizer que a investigação científica possui um carácter metódico. 
Devido ao seu carácter metódico, a investigação assume também a capacidade de ser replicável, ou seja, 
a possibilidade de ser reproduzida por parte de outros membros da comunidade científica. 
A investigação científica é racional porque assenta na razão e na lógica dedutiva e indutiva. A lógica 
dedutiva parte de uma ou de várias alternativas teóricas com o objetivo de explicar um determinado 
fenómeno particular, parte do geral para o particular. Pelo contrário, a lógica indutiva parte da análise de 
dados e de resultados inerentes a um fenómeno particular com a finalidade de alcançar a sua 
generalização teórica, ou seja, parte-se do particular para o geral. 
A investigação científica é empírica porque assenta em dados reais e testáveis, o que significa que tudo o 
que se teorize sobre um determinado fenómeno tem de ser necessariamente confrontado com a 
realidade. 
 
 
 
 
Características da Investigação Científica 
A investigação científica é objetiva porque procura analisar os dados de forma clara e isenta de 
subjetividade com a finalidade de responder a um problema. A investigação científica descreve a realidade 
como ela é, fornece uma explicação para os fenómenos com base nessa realidade e apresenta os 
resultados com rigor, imparcialidade e objetividade. 
Uma outra característica da investigação científica diz respeito ao facto de esta ser comunicável, já que 
promove a transferência de conhecimento. Os resultados alcançados devem ser divulgados junto da 
comunidade científica em particular e da sociedade em geral. Devido à especificidade da linguagem 
científica (e até ao carácter hermético que esta comporta), é frequente os resultados só terem interesse 
para a comunidade científica, pelo que são divulgados apenas em revistas da especialidade. Quando existe 
interesse em divulgar os resultados junto da população em geral, publicam-se os mesmos nos órgãos de 
comunicação social sendo que, nestes casos, se procede a uma adaptação da linguagem de forma a 
comunicar de forma eficaz junto do grande público. 
Finalmente, a investigação científica possui um carácter cumulativo devido ao facto de esta ser planeada, 
construída, consolidada e estruturada a partir de conhecimentos teóricos previamente alcançados. A 
Teoria orienta e alimenta a Investigação Empírica e esta, por sua vez, reforça e reconstrói a Teoria. 
Importa salientar ainda que o cumprimento de todas as características enunciadas só pode ser validado 
através do escrutínio da própria comunidade científica. Ou seja, os resultados finais da produção científica 
dependem da validação dos resultados alcançados por parte dos pares, destacando-se aqui o facto de a 
ciência progredir mediante processos de colaboração e de competição num sistema coletivo de vigilância 
recíproca. 
 
Dos Níveis das Estruturas Sociais às Origens da Imaginação Sociológica 
Os padrões de relações sociais dizem respeito aos níveis de solidariedade social que caracterizam os 
grupos sociais que integramos. Esses padrões de relações sociais afetam, influenciam ou condicionam os 
nossos pensamentos, sentimentos e comportamentos, pelo que têm um papel na formação da nossa 
própria identidade. 
Os sociólogos designam como Estruturas Sociais os padrões estáveis de relações sociais. 
Uma das principais missões do sociólogo reside na tentativa de explicar a relação entre os problemas 
pessoais dos indivíduos e as estruturas sociais em que estes se encontram inseridos. Essa missão é 
dificultada pela natureza da existência humana, já que esta tende a experienciar as coisas de um ponto 
de vista pessoal e exclusivo, sendo as estruturas sociais percebidas de forma remota, distanciada e 
impessoal. Para entender os efeitos das estruturas sociais sobre os indivíduos, é necessário desenvolver 
uma habilidade intelectual em particular: a Imaginação Sociológica. 
Esta foi designada pelo sociólogo C. Wright Mills, como a habilidade de perceber a conexão existente 
entre problemas pessoais e estruturas sociais, tendo ele chamado a atenção para a dificuldade associada 
ao desenvolvimento desta habilidade intelectual. A Imaginação Sociológica é uma forma de pensamento 
muito particular e singular que, no fundo, permite perceber como as ações, as atitudes, os sentimentos e 
os pensamentos das pessoas são afetados pelos contextos históricos, políticos, económicos, culturais e 
sociais em que vivem. 
A Imaginação sociológica é uma aquisição recente do repertório humano. Na Antiguidade Clássica, assim 
como na Idade Média, os filósofos escreveram sobre as sociedades e sobre os problemas sociais das 
mesmas. No entanto, não eram sociólogos porque as suas perspetivas não eram sociológicas: acreditavam 
que Deus e a Natureza controlavam a sociedade, preocupavam-se com o esboço de modelos ideais de 
sociedade pedindo às pessoas que os adotassem, apesar de baseados na mera especulação e não na 
evidência. 
A Imaginação Sociológica nasce como consequência das grandes Revoluções Modernas, conduzindo a 
interrogações e reflexões sobre as mudanças sociais da Modernidade: 
 A Revolução Científica desenvolveu a perspetiva segundo a qual as explicações para o 
funcionamento da sociedade se devem basear em evidências sólidas e não em especulações; a 
ciência é menos uma coleção de ideias do que um método de investigação e, no cerne do método 
científico encontra-se o uso de evidências para demonstrar um ponto de vista particular; quando 
a Sociologia emerge no Séc. XIX, o compromisso com o Método Científico já é umabase sólida 
da imaginação sociológica; 
 A Revolução Democrática colocou em evidência o facto de serem os seres humanos, e não Deus 
ou a natureza, os responsáveis pela organização, mudança e destino da sociedade; 
 A Revolução Industrial gerou uma gama amplificada de novos problemas sociais propiciando 
todo um manancial de questões para a investigação sociológica; a Revolução Industrial deu 
origem a um laboratório amplificado de problemas a carecerem de explicações/soluções. 
 
De forma a expandir a consciência sociológica, importa reconhecer a existência de três níveis de estruturas 
sociais que rodeiam e permeiam a existência individual: 
Microestruturas: padrões de relações sociais íntimas formados em contextos de interacção face-a-face. 
Relações familiares, círculos de amizade e colegas de trabalho são, entre outros, os exemplos mais 
notórios a destacar neste nível de estruturas sociais; 
 
 
Macroestruturas: padrões de relacionamento social que se encontram «fora», «acima» ou «para além» 
dos círculos de intimidade; são estruturas sociais externas, que «ultrapassam» o indivíduo mas que 
exercem condicionamentos sobre o mesmo (ex.: as lógicas patriarcais que impõem, em termos sociais, 
políticos e económicos, desigualdades de género que se traduzem num menor acesso a cargos de poder 
e de autoridade para as mulheres, com uma consequente remuneração média inferior à dos homens, ao 
mesmo tempo que impõe às mesmas responsabilidades acrescidas ao nível das tarefas domésticas e dos 
cuidados com crianças e/ou idosos  aumento da conflitualidade conjugal, de separações e de divórcios); 
Estruturas globais: padrões de relacionamento social que decorrem das dinâmicas globais ou 
internacionais (ex.: organizações internacionais, padrões de comunicação, turismo global, viagens 
internacionais, relações económicas entre países, etc.); estas estruturas sociais têm adquirido uma 
relevância acrescida num mundo sujeito a um intenso fluxo de informações, comunicações e transações 
culturais, sociais e económicas (ex.: políticas de ajuda externa a países em desenvolvimento  embora a 
caridade seja insuficiente para superar as estruturas que geram e que sustentam a desigualdade entre 
países). 
 
Características do Método Científico 
O método científico possui, entre outras, as seguintes características fundamentais: 
 É fáctico, ou seja, tem uma referência empírica; 
 Transcende os factos, apesar de partir de factos, transcende-os; 
 Recorre à verificação empírica de forma a formular respostas aos problemas colocados e apoiar 
as suas próprias afirmações, pelo que implica uma confrontação constante com a realidade; 
 É autocorretivo (porque rejeita, ajusta ou corrige as suas próprias conclusões) e progressivo 
(porque não toma as suas conclusões como absolutas, dogmáticas, infalíveis, definitivas ou finais, 
estando aberto a novas contribuições e também à utilização de novos procedimentos e/ou 
técnicas); 
 As suas formulações são de tipo geral; 
 É objetivo, não de um «objetivismo ingénuo» segundo o qual seria possível isolar completamente 
o investigador da sua cultura e dos seus valores, mas na medida em que, realizando-se um 
esforço sério nesse sentido, se consegue alcançar a verdade possível dos factos. 
 
 
 
 
Elementos básicos do Método Científico 
O método científico possui, entre outros, os seguintes elementos básicos: 
Conceitos: Os conceitos não devem ser confundidos com fenómenos, sendo uma abstração ou uma 
construção lógica que «adquire o seu significado dentro do esquema de pensamento no qual é colocado», 
viabilizando a apreensão e a comunicação de um determinado facto. O sistema conceptual é 
imprescindível na estruturação de qualquer investigação científica, mas a sua construção exige uma 
atenção particular devido às dificuldades inerentes à mesma. Se o rigor ao nível da operacionalização 
conceptual facilita a compreensão dos fenómenos em análise, a imprecisão na elaboração do sistema 
conceptual dificulta ou impede todo e qualquer resultado válido. 
Definições: O sistema conceptual de uma investigação impõe a exigência de uma rigorosa, exata e clara 
delimitação do sentido de todos os elementos que integram o acervo teórico. Definições que não 
apresente as características enunciadas levantam dificuldades adicionais à pesquisa, a começar pela 
formulação de hipóteses. A precisão em relação às definições e aos conceitos é fundamental, não apenas 
para a prossecução da investigação, mas também para a compreensão da mesma por parte da 
comunidade científica. 
Hipóteses: São proposições construídas com a finalidade de explicar ou compreender um determinado 
fenómeno de forma antecipada e provisória, sendo linhas de orientação que apontam direções para 
aquilo que se pretende demonstrar. De notar que nem todas as pesquisas científicas carecem da 
formulação de hipóteses, nomeadamente aquelas que se socorrem de metodologias qualitativas de tipo 
descritivo. 
Variáveis: Toda a investigação científica impõe a necessidade de uma seleção criteriosa de variáveis a 
controlar ao longo do estudo. Independentemente do seu tipo (variáveis quantitativas, qualitativas 
explicativas, dependentes ou independentes), desempenham um papel-chave na pesquisa científica. 
Descobrir as variáveis relevantes ou significativas para a realização de um estudo é uma tarefa igualmente 
complexa e exigente, que impõe a necessidade de um grande esforço e de rigor na descoberta das 
mesmas. 
Indicadores: Estes devem ser entendidos como subdimensões ou segmentos específicos das variáveis, 
constituindo os elementos fundamentais da construção das mesmas. Os indicadores são, no contexto da 
investigação, instrumentos que permitem classificar os fenómenos observados no que se refere às suas 
diferentes dimensões em estudo. 
 
 
 
 
Classificação dos Métodos Científicos 
Podemos classificar os Métodos Científicos de acordo com diversos critérios. 
Quanto à generalização: 
 
 
 
 
 
Quanto ao foco no objeto de estudo: 
 
 
 
Quanto à obtenção e ao tratamento de dados: 
 
 
 
Quanto aos quadros teóricos de referência (exemplos): 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Erros a evitar no início da Investigação Científica 
Antes de qualquer investigação, devemos tomar consciência de alguns erros a evitar: 
A. A gula livresca ou estatística – traduzida numa atitude de consumo desenfreado de dados e de 
literatura científica sobre o problema, facto que pode impedir, decorrente do excesso de 
informação, a uma confusão de ideias e a uma incapacidade de colocar devidamente o problema; 
deve-se evitar, portanto, a leitura apressada e não integrada da literatura sobre o tema em 
estudo, «digerindo-a» aos poucos; é preferível ler em profundidade e refletir sobre as leituras 
em vez de devorar uma quantidade pouco criteriosa de textos. 
B. Passar por cima das hipóteses – manifesta na precipitação de recolher e analisar dados antes de 
se terem formulado as hipóteses de investigação; a realização de técnicas de investigação, para 
efeitos de recolha de dados, implica a formulação anterior de hipóteses onde se conjugam 
elementos teóricos, conceptuais e analíticos; partir para o terreno, sem uma base teórica e 
conceptual devidamente traduzida em hipóteses, é uma forma comum de arruinar 
precocemente uma investigação. 
C. A ênfase que obscurece – visível pela adoção de discursos e de raciocínios pomposos, 
rebuscados, obscuros e, frequentemente, ininteligíveis; impõe-se a necessidade de corrigir estes 
discursos ocos, de superar preconceitos e crenças firmadas e de adotar uma postura de clareza, 
de simplicidade e de precisão; desconstruir as nossas crenças, preconceitos e convicções é um 
passo fundamental para dar os primeiros passos numa investigação científica. 
 
Etapas do Procedimento de Investigação Científica 
Cada investigação tem as suas características particulares e únicas. No entanto, nenhumainvestigação 
pode resultar da intuição, das oportunidades momentâneas ou da ausência de procedimentos. Toda e 
qualquer investigação científica pressupõe a adoção de um conjunto de procedimentos orientados por 
princípios gerais de trabalho científico e pelo respeito por um conjunto coerente de etapas de trabalho. 
Gaston Bachelard distinguiu três atos epistemológicos, cuja ordem hierárquica deve ser respeitada: 
 Rutura; 
 Construção; 
 Verificação (ou experimentação). 
 
 
Podemos dividir estes três atos epistemológicos em sete etapas, correspondentes a uma conceção 
dedutiva do procedimento metodológico. No procedimento dedutivo, a construção teórica precede a 
observação no terreno e a recolha de dados, o particular deduz-se a partir do geral. 
A adoção de um procedimento dedutivo obriga o investigador principiante a explicitar, de forma mais 
clara, as diferentes fases do seu trabalho e dos seus progressos, evitando falhas ao nível da estruturação, 
da coerência, do rigor ou da articulação entre o suporte teórico, o questionamento, a observação no 
terreno e a análise dos dados recolhidos. 
 
Etapas do Procedimento de Investigação Científica 
A rutura implica a adoção de um distanciamento reflexivo face ao tema que desejamos estudar. Esta 
rutura pressupõe a necessidade de abandonarmos as nossas convicções, crenças, representações, 
preconceitos e esquemas de explicação prévios, normalmente oriundos da esfera do senso comum e que 
impedem uma abordagem cientificamente correta ao tema que pretendemos investigar. 
O distanciamento reflexivo concretiza-se positivamente na construção. Ao reconsiderarmos o fenómeno 
a estudar à luz das categorias teóricas e dos quadros conceptuais já firmados pelas ciências sociais em 
geral e pela Sociologia em particular. Assim, depois de um processo de desconstrução, de desmistificação 
e de desilusão, face às explicações superficiais do senso comum, impõe-se a necessidade de “reconstruir” 
a questão à luz dos enquadramentos teórico-conceptuais das Ciências Sociais. A partir deste 
enquadramento teórico e conceptual de referência, torna-se possível a construção de um novo «edifício» 
capaz de suportar as proposições explicativas para o fenómeno em estudo e definir o plano de pesquisa 
mais adequado. 
Finalmente, é na verificação, que as nossas proposições podem adquirir um estatuto científico, na medida 
em que as mesmas possam ser verificadas, através da experimentação, pelos factos. 
Ato Epistemológico Etapas 
Distinção entre Investigações Quantitativas e Qualitativas 
 
A Reflexividade das Ciências Sociais 
Importa chamar a atenção para o carácter Reflexivo das Ciências Sociais em geral, e da Sociologia em 
particular. 
As Ciências Sociais não se limitam a produzir conhecimento sobre os seus objetos de estudo já que, em 
última instância, esse conhecimento não se destina apenas à comunidade científica, sendo divulgado 
junto dos indivíduos, das comunidades e das sociedades que aquelas investigam. 
Ao dar a conhecer os seus resultados e as suas conclusões, as Ciências Sociais produzem um efeito de 
reflexividade (espelhamento) sobre os seus objetos de estudo já que estes podem alterar, adaptar e 
ajustar os seus pensamentos, valores, crenças, sentimentos, atitudes e comportamentos em função dos 
conhecimentos que, entretanto, adquiriram. 
Esta característica coloca em evidência uma característica particular das Ciências Sociais: a sua capacidade 
de produzir mudanças sociais no seu próprio objeto de estudo decorrente da assimilação que este faz do 
conhecimento produzido. 
 
 
 
 
 
Considerações Éticas/Deontológicas nas Ciências Sociais 
Nas Ciências Sociais em geral e da Sociologia em particular, os investigadores devem ter o cuidado de 
respeitar os direitos dos seus objetos de estudo (individual e coletivamente considerados). Eis alguns dos 
direitos a considerar:

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