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Victoria Chagas 1 NEUROPATIAS PERIFÉRICAS E SD. GUILLAIN-BARRÉ NEUROPATIAS PERIFÉRICAS (NP) O QUE É? - Neuropatia periférica (NP) é um termo geral para transtornos que afetam os nervos periféricos (nervos cranianos, nervos espinais, gânglios e terminações nervosas). - O sistema nervoso periférico consiste em neurônios motores, sensitivos e autonômicos que se estendem para fora do SNC e são revestidos por bainha de células de Schwann ou células satélites ganglionares - Esses nervos são responsáveis por encaminhar informações do cérebro e da medula espinhal para o restante do corpo. - Sendo assim, as neuropatias periféricas podem comprometer a função sensorial, motora ou autonômica de forma isolada ou simultânea. EPIDEMIO - Aproximadamente 2 a 4% dos adultos são afetados por neuropatias periféricas - Essa incidência aumenta junto com idade, tendo a diabetes e o alcoolismo como causas mais comuns → acima de 55 anos aumenta para 8% a prevalência - Mundialmente, a hanseníase é a principal causa tratável de NP - No Brasil, a dor crônica é condição clínica bastante frequente, acometendo entre 28 e 41% ETIOFISIO PATOLO GIA - Os aparecimentos das NP são variáveis e suas causas são inúmeras e nem sempre é fácil identificar, tendo em vista que diversos fatores podem estar por trás do problema. ➢ FIBRAS NERVOSAS E NERVOS - As fibras nervosas são prolongamentos finos dos neurônios, em especial dos axônios e seus invólucros gliais e a camada de mielina. - São importantes pois realizam a condução do impulso nervoso para o SNC e vice versa - Elas se organizam em feixes/fascículos e cada conjunto de feixes forma um nervo - O endoneuro circunda cada fibra nervosa e é composto por tecido conjuntivo frouxo produzido pelas células de Schwann, composto por colágeno reticular tipo lll e fibroblastos. Além disso, possui capilares em seu interior - Há 3 tipos de fibras nervosas: o Fibras motoras - Controlam os movimentos - São geralmente grandes e mielinizadas de rápida condução - Quando danificada pode causar fraqueza, atrofia e fasciculações (contrações visíveis, finas e rápidas, algumas vezes vermiculares, espontâneas e intermitentes das fibras) - Pode causar alterações reflexos osteotendíneos Victoria Chagas 2 ETIOFISIO PATOLO GIA o Fibras sensitivas - Transmitem as sensações, dor e tato - Quando danificadas apresentam alterações na sensibilidade • Fibras Finas → dor e temperatura • Fibras grossas → vibração, tato de pressão e propriocepção o Fibras autonômicas - Inervam os órgãos e glândulas - Quando acometidas podem acarretar em hipotensão postural, disfunção erétil, gastroparesia e alterações na motilidade intestinal (constipação ou diarreia) ➢ ETIOLOGIA • Adquiridas (mais comum em adultos): diabéticas, metabólicas, etílico-carenciais, carências vitamínicas, amiloidose, desmielinizantes, vasculites, infecciosas, tóxicas, sarcoidóticas, paraneoplásicas, medicamentos (isoniazida, cisplatina) • Hereditárias (mais comum em crianças - até 20 anos): doença de Charcot-MarieTooth (neuropatia hereditária sensitivomotora), porfiria, doença de Fabry, de Tangier, leucodistrofia metacromática, doenças mitocondriais ➢ FISIOPATOLOGIA • Axonais → decorrentes da lesão do axônio → pode ocorrer mononeuropatias, múltiplas (mais proximal) ou polineuropatias (predomínio de sintomas motores em MI distal, que evolui para MS com padrão “em luvas e bota” e, ao alcançar os cotovelos, inclui alterações em região abdominal, com “padrão em avental”) → padrão ascendente • Desmielinizantes → comprometimento da bainha da mielina → pode ser homo (principalmente nas doenças hereditárias) ou heterogênea (segmentar) → afeta MI e MS em porções distais/proximais (sem padrões) • Mistas → comprometimento de axônios e da bainha da mielina ➢ CLASSIFICAÇÃO - De acordo com o padrão de comprometimento dos nervos periféricos, são classificadas em: radiculopatias, plexopatias, mononeuropatias (MN), mononeuropatias múltiplas (MNM), polineuropatias (PNs) e poliganglionopatias (PGN) Nutricionais (falta de B12) Endócrina (DM) Ureica Reumatológica Oncológica Porfiria Amiloidose Trauma Infecciosa (hanseníase, HIV) Alcoólica Síndrome de Guillain-Barré Victoria Chagas 3 ETIOFISIO PATOLO GIA ▪ RADICULOPATIAS - Compressão de uma raiz nervosa - As radiculopatias podem ser anteriores ou posteriores (mais comum) - Causas mais comuns: • Herpes-zoster • Hérnia de disco – mais comum na lombar ou cervical • Diabetes mellitus ▪ PLEXOPATIAS - Afeta plexo braquial (mais afetado) ou sacral - Causas comuns: • Traumáticas • Actínicas • Tumores • Paracirúrgicas • Síndrome do desfiladeiro torácico • Síndrome do ombro caído • Vasculite • Diabetes mellitus ▪ MONONEUROPATIA/MONONEURITE - Acometimento de um único nervo - Causadas por compressão ou traumas - Causas mais comuns nos MMSS: • Compressão do nervo radial - Pode ocasionar paralisia do sábado à noite que se apresenta em pessoas que bebem em excesso e dormem no braço - “Mão em pêndulo/mão caída” • Síndrome do túnel do carpo - Compressão nervo mediano - “Mão em benção” • Compressão do nervo ulnar - Compressão de nervos no cotovelo ou punho - Uma das mais comuns - O nervo mais acometido na Hanseníase - “Mão Em Garra” ▪ MONONEUROPATIA MÚLTIPLA - Afeta 2 ou mais nervo não contíguos (diferentes partes do corpo) - Acontecem ao acaso e em diferentes graus, sendo simétrica e assíncronas - Suas etiologias são variadas e incluem: • Processos inflamatórios infecciosos (hanseníase, AIDS); • Processos inflamatórios não infecciosos (sarcoidose) • Vasculites sistêmicas ou isoladas do SNP; • Depósito de material amiloide (amiloidose) • Doenças hereditárias (neuropatia hereditária por suscetibilidade à pressão [HNPP]); • Doenças metabólicas (diabetes melittus); • Neuropatia motora multifocal com bloqueio de condução; • Neuropatias inflamatórias desmielinizantes sensitivo-motoras (síndrome de Lewis-Sumner) • Doença de Tangier • Lúpus Victoria Chagas 4 ETIOFISIO PATOLO GIA ▪ POLINEUROPATIA (maioria das NP) - Comprometimento simultâneo e simétrico dos nervos - A alteração sensitiva típica tem distribuição “bota e luva” sendo mais distais que proximais - Afeta mais os membros inferiores que os superiores, exceto em casos de deficiência de b12, intoxicação pelo chumbo e porfiria - Podem ser adquiridas ou hereditárias, - Causas comuns: • Síndrome de Guillain-Barré • Diabetes mellitus • Deficiência de B12 • Abuso crônico de álcool • Exposição a toxinas • Medicamentos • Amiloidose ➢ EVOLUÇÃO - Aguda (<4 semanas): principal exemplo é Guillain-Barré - Subaguda (4-8 semanas): causas variadas como vasculites, paraneoplásicas, DM, tóxicas, etc - Crônica (>8 semanas): a mais ampla variedade de etiologia CLÍNICA - Possui manifestações que variam muito ➢ SINAIS E SINTOMAS MOTORES - Consiste na ocorrência de fraqueza de predomínio na musculaturadistal, que pode ser acompanhada por atrofia - Por vezes pode haver comprometimento simultâneo da musculatura proximal, principalmente nos membros inferiores. - Os enfermos descrevem como peso nas pernas, dificuldade para andar, falta de destreza para exercer uma tarefa específica (abrir uma porta, segurar uma chave e outras). - Nas NPs axonais a atrofia costuma ser mais acentuada do que nas desmielinizantes. - Os reflexos tendinosos estão reduzidos ou abolidos, ao contrário do que ocorre nas miopatias ou doenças da ponta anterior, em que os reflexos podem ser preservados até estágios avançados. - Podem ocorrer fasciculações - contrações musculares espontâneas visíveis - As mioquimias (tremores em forma de onda dos músculos) podem ocorrer em qualquer grupo muscular, sendo a localização palpebral frequente → mais em doenças com lesão axônio motor. - Câimbras são contrações musculares dolorosas que podem ocorrer nas PNs. - Outros sinais e sintomas motores: tremor, minipolimioclonias, mioclonias, discinesias, rigidez muscular (síndrome de Scwhartz-Jampel) e espasmo hemifacial. A diabetes pode causar todos os tipos de neuropatias periféricas, por isso sempre devemos lembrar dela quando falamos em neuropatias periféricas Victoria Chagas 5 CLÍNICA ➢ SINAIS E SINTOMAS SENSITIVOS - Diversas podem ser as descrições dos sintomas: dor, pontada, queimação, quentura, formigamento, dormência, “frieza”, angústia, sensação de meia apertada, e outros termos e expressões. - Sintomas podem ser positivos ou negativos. • Sintomas positivos: dores neuropáticas e parestesias ou disestesias • Sintomas negativos: redução ou perda da sensibilidade - Hipoestesias costumam ser distal, predominando nos MMII (“em meias ou em luvas”) - Conforme o padrão de comprometimento da sensibilidade é possível separar em 2 grupos: • Fibras finas → diminuição ou abolição das sensibilidades álgica e térmica dos pés. - Força muscular, reflexos profundos, tátil e proprioceptiva costumam estar preservadas - Cada vez mais frequentes, tendem a ter seu diagnóstico postergado por meses ou anos. - ENMG pode estar normal - Com frequência são relatadas dor neuropática e alterações autonômicas. - Principais causas: DM, vasculites, SGB, HIV, Hanseníase... • Fibras grossas → atáxicas ou pseudotábidas – envolve tato e propriocepção - Os indivíduos desenvolvem ataxia proprioceptiva com apaletesia, abatiestesia (perda das sensibilidades vibratórias e da noção de posição segmentar, respectivamente), sinal de Romberg, marcha talonante e alterações nas provas de coordenação, principalmente nos MMII - Quando envolvem os membros superiores, os pacientes, ao estender esses membros, apresentam posições diferentes dos dedos, que habitualmente se movimentam involuntariamente (trata-se da pseudoatetose). - Os reflexos tendinosos estão reduzidos ou abolidos. - As principais causas são DM, pós-diftérica, etílico-carencial e variante atáxica da SGB ➢ SINAIS E SINTOMAS AUTONÔMICOS - Diversos são os sintomas que refletem o comprometimento autonômico → hipotensão postural, labilidade pressórica, bradi ou taquicardia, alterações da sudorese, boca seca, olhos secos, síncope, pré-síncope, constipação intestinal, diarreia noturna, impotência, controle anormal da micção e distúrbios pupilares. - Não é comum o comprometimento isolado do sistema nervoso autonômico, na maioria das vezes, esse comprometimento está associado a distúrbios sensitivos ou motores. ➢ COMPROMETIMENTO DOS NERVOS CRANIANOS - Os nervos cranianos nada mais são do que nervos periféricos que nascem no tronco cerebral. - Podem, portanto, estarem comprometidos em algumas PN ➢ HIPERTROFIA DE TRONCOS NERVOSOS - Em algumas PN os nervos periféricos tornam-se espessados, sendo facilmente palpáveis. - Os nervos de mais fácil palpação são o ulnar no cotovelo, o fibular na cabeça da fíbula, o auricular posterior e o radial. - As neuropatias que mais se acompanham de espessamento dos troncos nervosos são as devidas à hanseníase, CMT1, amiloidose, PDIC, acromegalia e neurofibromatose. Victoria Chagas 6 DIAGNÓS TICO - Através da combinação do quadro clínico + eletroneuromiografia + exames laboratoriais ➢ ELETRONEUROMIOGRAFIA (ENMG) - Associa a medida da neuro condução sensitiva e motora ao estudo dos potenciais musculares. - Serve para o discrime diagnóstico de doenças medulares, da placa motora e dos músculos. - O exame também informa se a PN é do tipo axonal ou desmielinizante, além de auxiliar na determinação do prognóstico das NP. ➢ EXAMES LABORATORIAIS - Outros exames podem ser necessários: glicemia de jejum e pós-prandial na suspeita de PN diabética, hemograma e velocidade de hemossedimentação (VHS) nas inflamatórias. - Avaliar conforme suspeita etiológica → função renal (suspeita de PN urêmica), dosagem de vitamina B12, homocisteína e ácido metilmalônico (carência de vitaminas), hormônios da tireoide, pesquisa de HIV, HTLV 1, reação para doença de Lyme, dosar substâncias tóxicas que podem levar os nervos (no sangue, urina e pelos pubianos), pesquisa de porfirinas e metabólitos no sangue e urina, pesquisa de anticorpos (PNs paraneoplásicas), testes genéticos (PNs hereditárias) ➢ EXAME DO LÍQUIDO CEFALORRAQUIDIANO (LCR) - PNs desmielinizantes proteínas costumam estar ↑ e infecciosas cursam c/ alterações específicas. - Células neoplásicas podem ser vistas nas infiltrações nervosas ➢ BIÓPSIA DO NERVO - É realizada em nervo sensitivo superficial, sendo o sural o mais biopsiado. - Deve ser realizada quando outros exames não invasivos não esclarecem o diagnóstico. - Somente deve ser feita em centros especializados, pois requer tecnologia adequada. - É mandatória para o diagnóstico de vasculite, hanseníase, amiloidose e outras afecções raras ➢ BIÓPSIA DE PELE - A biópsia de pele vem sendo usada para avaliar fibras finas sensitivas (amielínicas) e mielínicas - É útil para o diagnóstico de PNFF, assim como, para comparar tratamentos dessa afecção, realizando-se a biópsia antes e após o tratamento. ➢ RESSONÂNCIA MAGNÉTICA - A imagem dos nervos tem sido bem visualizada pelo exame da RM. - Com técnicas específicas, pode-se ver o trajeto de nervos maiores (neurografia), assim como a impregnação de contraste em plexos, ajudando a fazer o diagnóstico diferencial TRATA MENTO - Descobrir a etiologia para tratar a causa de base - NP como as hereditárias, degenerativas, paraneoplásicas e outras menos frequentes, deve-se instituir tratamento fisioterápico, evitar procedimentos que possam agravá-las e tentar explicar aos enfermos e seus familiares a evolução da doença - Nas NP de natureza hereditária, o aconselhamento genético torna-se indispensável - Podemos usar para controle da dor neuropática: gabapentinoides (pregabalina, gabapentina), anticonvulsivantes (fenitoína, carbamazepina, oxcarbamazepina, lamotrigina), antidepressivos (ADT, IRSN, ISRS, bupropiona), corticoides Victoria Chagas 7
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