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Dissertação crítica sobre a Abolição da Escravidão no Brasil

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Para falar da abolição da escravidão, deve-se primeiro citar alguns
antecedentes, como desde o ano de 1831, o governo brasileiro declarou que todos
os escravos que chegasse a partir daquele período seriam livres, tal declaração não
surtiu efeito e somente foi feita por conta das pressões inglesas - tais que cometiam
punições severas com navios brasileiros suspeitos do tráfico de escravos. Pode-se
dizer, também, que a adiação da abolição da escravidão no Brasil ocorreu
principalmente pelo medo da monarquia brasileira de ferir os interesses dos grandes
propietários de terra, que dominavam o território brasileiro e a economia.
Ademais, as Leis do Ventre Libre e Saraiva-Cotegipe, que foram leis criadas
não com o intuito de “melhorar a vida” dos escravos - se é que se pode falar isso -,
mas sim como uma tentativa de frear a abolição e aliviar a pressão dos outros
países, sendo vistas como medidas paliativas, já que para que essas leis
acontecerem de fato existiam uma série de fatores e empecilhos que
impossibilitavam a sua vigência na prática.
Com a abolição do tráfico negreiro em 1831, a economia cafeeira estava num
processo de expansão crescente, porém, também aumentaram o preço dos
escravos, tal fato não prejudicava o lucro dos fazendeiros e os escravos ainda
representavam a principal força de trabalho dos grandes latifundiários.
A partir da década de 1870, com a crescente imigração européia, os senhores
de escravos já não se preocupavam mais com a abolição da escravatura, e alguns
enxergavam esse sistema escravista um empecilho para tal imigração.
Os escravizados não tiveram uma participação efetiva na luta pelo fim da
escravidão, pois ficavam marginalizados em relação ao que acontecia fora da
fazenda e não até então não tinham um pensamento crítico ao sistema servil - fato
que mudou a partir da propaganda abolicionista- e muitos se achavam uma classe
inferior ao homem branco - justamente o que eles queriam.
Ainda em 1870, a opinião internacional para o fim da escravidão utilizava tais
argumentos: a escravidão trazia efeitos ruins para industrialização e competia com o
trabalho livre, era vista também como um desrespeito ao cristianismo, entre outros
argumentos, portanto os ideias dos fazendeiros finalmente começaram a perder
força e não surtiam mais efeito. Porém um acontecimento fundamental para o
sucesso do movimento abolicionista foi a criação da nova “classe média”, que não
estava presa e dependente dos interesses ligados à terra e aos fazendeiros, foi
formada essencialmente devido ao fim do tráfico. A partir disso, juntaram-se os
estudantes, jornalistas, médicos, professores, classes populares imigrantes e negros
livres apoiando o fim da escravidão. Ademais, nessa época já se fundavam clubes e
associações que estavam à favor da abolição.Todos esses fatores contribuíram para
o fim desse sistema errôneo e hostil, que infelizmente se perpetua até os dias atuais
de uma maneira diferente e mais silenciosa e acobertada.
Embora a mídia “embeleze” a Princesa Isabel por ter assinado a Abolição da
Escravatura, e muitos livros citam que a princesa Isabel com sua “incrível bondade”
se aproveitou de que o pai estava viajando para acabar com a escravidão sem que
ele soubesse, artigos e evidências da história mostram ao contrário, visto que
“retirar” abruptamente a escravidão de um país que viveu isso por quase 4 séculos é
ilusório e utópico, visto que a escravidão era uma das principais fontes da economia.
A abolição da escravatura, então, criou uma falsa liberdade, ademais, não foi
assinada por bondade ou bom senso, mas sim por pressão dos outros países que
nas suas sociedades não viam mais legitimidade na escravidão, alem disso, a
Princesa Isabel só assinou a lei para preservar a monarquia e legitimar o seu
reinado de herdeira - que fracassou com a Proclamação da República no ano
seguinte.
É importante destacar que a abolição da escravatura aconteceu em 1888 - porém
não sua abolição definitiva - e foi marcada pelo com o aumento da resistência dos
escravos e pressão dos países para eliminar a escravidão, - sendo que o Brasil foi o
último país da América a abolir a escravidão - visto que outros meios trabalhistas
estavam sendo implementados. Posto isso, a pressão por parte desses países fez
com que o Brasil também adotasse a abolição. Ressalto ainda que a abolição da
escravidão não deve ser vista pela bondade de uma princesa branca, é que deve-se
celebrar a luta dos negros no dia 20 de novembro, que marca a luta de um dos
muitos negros - Zumbi dos Palmares - que batalharam para ter dignidade e direitos
básicos de vida.
Sem oportunidades de socialização e muito menos ajuda dos seus antigos
senhores, alguns negros se subterrânea a continuar na servidão, outros foram
dispensados sem moradia, dinheiro ou instruções, o que ocasionalmente foram
praticamente obrigados a seguir o caminho da criminalidade para obtenção de
sustento , além disso, foi assim que as favelas surgiram, por não terem onde morar,
tiveram que improvisar. Todos esses fatores concominaram para que os negros
ficassem a parte da sociedade, e os antigos donos de escravo optavam por contratar
imigrantes à negros, mas sem perder os costumes de tratá-los como posses
humanas, sendo opressores.
Visto isso, pode-se dizer que os 300 anos de escravidão no Brasil e o ilusório
ato da abolição com certeza moldou a sociedade brasileira nos dias atuais,
evidenciando o racismo e a marginalização da população negra. Tais fatos podem
ser vistos nas favelas, nas oportunidades de trabalhos com condições análogas à
escravidão para negros e até mesmo no estudo e lazer, posto que até nos dias
atuais a desigualdade dessa população é muito grande, além das diversas tentativas
de apagar a memória da escravidão (queima de documentos que eram prova da
escravidão anos depois da abolição da mesma) e dos escravos com o mito da
democracia racial. O racismo ainda sobrevive à passagem do tempo, com ideias de
‘o branco é belo e o negro é feio’, ‘o cabelo do branco é bom e o do negro é ruim’, ‘a
cultura dos negros é bárbara e a dos brancos é civilizada’, fazendo com que tais
adjetivos se tornem a própria definição do negro, gerando um racismo estrutural.
Além disso, a cor ainda marca desigualdades intensas nas taxas de mortalidade em
hospitais, na criminalidade, nas mortes por policiais entre muitas outros elementos
que não deveriam existir nos dias de hoje, se não fosse a demora na abolição por
parte do Brasil, que foi o último país a se desprender da escravidão, tal circustância
é vergonhosa visto que fazem apenas 134 anos da assinatura da Lei Aúrea.
REFERÊNCIAS
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em:
https://www.epsjv.fiocruz.br/noticias/reportagem/o-racismo-em-tres-seculos-de-escra
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Salles, RicardoA ABOLIÇÃO REVISITADA: ENTRE CONTINUIDADES E
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2316-9141. https://doi.org/10.11606/issn.2316-9141.rh.2017.139880.
MEDEIROS, Leonardo Figueiredo Monteiro de. ABOLIÇÃO DA ESCRAVIDÃO E
IMIGRAÇÃO ESTRANGEIRA: O PROCESSO E AS CONSEQUÊNCIAS
ECONÔMICAS EM SÃO PAULO E NO RIO DE JANEIRO (1850-1930). 2019. 61 f.
Tese (Doutorado) - Curso de Economia, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio
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https://doi.org/10.11606/issn.2316-9141.rh.2017.139880

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