Buscar

TCC - História - FAVENI

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 15 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 15 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 15 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

CENTRO UNIVERSITÁRIO
FAVENI
CURSO DE HISTÓRIA 
ANA PAULA E SILVA
OS NEGROS NO BRASIL: A DESIGUALDADE RACIAL
SERRINHA, RN
2022
OS NEGROS NO BRASIL: A DESIGUALDADE RACIAL
Declaro que sou autor(a)¹ deste Trabalho de Conclusão de Curso. Declaro também que o mesmo foi por mim elaborado e integralmente redigido, não tendo sido copiado ou extraído, seja parcial ou integralmente, de forma ilícita de nenhuma fonte além daquelas públicas consultadas e corretamente referenciadas ao longo do trabalho ou daqueles cujos dados resultaram de investigações empíricas por mim realizadas para fins de produção deste trabalho.
Assim, declaro, demonstrando minha plena consciência dos seus efeitos civis, penais e administrativos, e assumindo total responsabilidade caso se configure o crime de violação aos direitos autorais. 
RESUMO
Esse estudo é uma revisão de literatura de natureza qualitativa e tem como objetivo evidenciar a desigualdade social, bem como os aspectos envolvidos nessa conjuntura. A história do negro brasileiro não teve início com o tráfico de escravos. É uma história bem mais antiga, anterior à escravidão. Vindos através de negociações entre os povos, o transporte se dava por meio de navios negreiros, em que as condições insalubres contribuíam para que os números de pessoas que atracavam nos navios fossem reduzidos quando chegassem ao destino. O negro era submetido a trabalhos extenuantes, e um regime de vigília constante, em que a condição de rebeleação, era punida de formas estarrecedoras, inclusive, todos eram obrigados a assistir, sendo esse um modo de incitar a obediência. No entano mesmo frente a contribuição e diante dos diferentes acontecimentos, mesmo após diferentes situações na história, ainda nos dias atuais, é possível observar a descriminação racial. 
PALAVRAS-CHAVE: Discriminação Racial. História do Negro. Desigualdade.
INTRODUÇÃO
A história do negro é uma configuração que antecede e perpassa a história do Brasil. Os negros antes de serem escravizados no território brasileiro, possuíam a sua história, cultura, características próprias que forneciam a esse grupo sua importância e espaço não apenas na história, mas também no mundo. A história do negro esta presente na história do Brasil, não há como contar a história de um sem contar do outro. A desigualdade racial é uma situação que perdurou como uma herança dispensável para a sociedade, visto que os afrodescendentes foram a população que, mas contribuíram para a construção da nossa sociedade.
Diante dessas considerações esse estudo tem como objetivo evidenciar a desigualdade social, bem como os aspectos envolvidos nessa conjuntura. A pesquisa se justifica por reconhecer que se trata de uma temática que atravessa a história e por mais que existam discussões acerca da mesma, nunca serão suficientes. Portanto, trata-se de uma revisão de literatura qualitativa composta por estudos disponíveis nas bases Do Google Acadêmico e Livros.
1. DESENVOLVIMENTO
1.1 Breve Caracterização Histórica do Negro no Brasil
A história do negro brasileiro não teve início com o tráfico de escravos. É uma história bem mais antiga, anterior à escravidão nas Américas, à vida de cativo no Brasil (ALBUQUERQUE, 2006). Trata-se de uma saga que se cruza com a aventura dos navegadores europeus, principalmente os portugueses, e com a formação do Brasil como país. Conhecer a história da África é fundamental para entender como foi possíveis que milhões de homens, mulheres e crianças fossem aprisionados e trazidos nos porões de navios destinados às Américas (AMARAL, 2011).
Quando, no século XV, Boris (1995) cita que os europeus desembarcaram na África eles se deram conta de que estavam diante de modos de vida bem distintos dos seus. Entre os africanos Gomes (1995) refere que a organização social e econômica girava em torno de vínculos de parentesco em famílias extensas, da coabitação de vários povos num mesmo território, da exploração tributária de um povo por outro (HOFBAUER, 2006). Isto quer dizer que o lugar social das pessoas era dado pelo seu grau de parentesco em relação ao patriarca ou à matriarca da linhagem familiar.
A expansão de reinos, a migração de grupos, o trânsito de caravanas de mercadores, a disputa pelo acesso aos rios, o controle sobre estradas ou rotas podiam implicar em guerra e subjugação de um povo a outro. Nesses confrontos era comum que os vitoriosos fizessem alguns escravos dentre os membros de um vilarejo vencido em luta armada (GOMES, 1995). Era a chamada escravidão doméstica, que consistia em aprisionar alguém para utilizar sua força de trabalho, em geral, na agricultura de pequena escala, familiar (SILVA, 2014; MUNANGA, 2013).
Não era só na guerra que se corria o risco de ser escravizado. Munanga (2013) refere que em muitas sociedades africanas, o cativeiro era a punição para quem fosse condenada por roubo, assassinato, feitiçaria e, às vezes, adultério. A penhora, o rapto individual, a troca e a compra eram outras maneiras de se tornar escravo. As pessoas podiam ser penhoradas como garantia para o pagamento de dívidas. Nesta situação, caso seus parentes saldassem o débito, extinguia-se o cativeiro (NEGRO; GOMES, 2006).
Desse modo, Domingues (2008) a escravidão doméstica africana foi dando lugar à escravização em larga escala. A partir do século XV, com a presença européia na costa da África, esse processo ganhou dimensão intercontinental e fez da África a principal região exportadora de mão-de-obra do mundo moderno (HOFBAUER, 2006). Todas as grandes nações européias de então se envolveram no tráfico e disputaram acirradamente sua fatia nesse lucrativo negócio. Holandeses, franceses, ingleses, espanhóis e, principalmente, portugueses lançaram-se na conquista dos mercados africanos.
Entre os séculos 15 e 16, Munanga (2013) evidencia que espanhóis e portugueses se aventuravam em navegações nos oceanos Atlântico, Indico e Pacífico, e alcançaram o contorno da a África, conseguiram passar do Oriente e localizaram a América, sendo esse um momento considerado o berço da iniciação da relação mundial entre os diferentes povos. Esse foi um passo dado pela humanidade, Negro e Gomes (2006) considerado por um lado promissor e do outro gerador de consequências que atravessam a história até os dias atuais. As motivações para tais expedições e explorações foi o desejo de adquirir especiarias consideradas um recurso valioso tais como cravo, pimenta, canela, etc, além disso, almejava-se conquistar territórios novos para obtenção de matéria prima como metais preciosos e/ou produtos indisponíveis na colônia.
No ano de 1492, apesar de milhares seres humanos estarem presentes naquele território, Cristóvão Colombo “descobriu” a América. Nesse local houve a identificação de diferentes matérias primas, além das belezas naturais, e a exploração era realizada através dos nativos, ou melhor, índios que quando não satisfaziam os mesmos eram punidos pela ganância (HOFBAUER, 2006). Colombo acreditava que havia chegado às Índias orientais; contudo, o cartógrafo e navegador italiano Américo Vespúcio, no início no século 16, desvendou que ele havia descoberto na realidade outro continente, e por essa razão esse local foi batizado como America, em homenagem a cartógrafo (DOMINGUES, 2008).
Em abril de 1500, no dia 22, Negro e Gomes (2006) citam que Pedro Álvares Cabral se afastou das costas africanas e, conseguiu chegar ao território que atualmente denomina-se Brasil, foi verificado que nas matas havia uma árvore cuja denominação era pau-brasil e sua madeira convinha para a fabricação de móveis de qualidade e de um corante de coloração avermelhada de grande estimação para a sociedade, tendo a finalidade de tingir tecidos. 
Antes de investir maciçamente no tráfico africano, os portugueses se voltaram inicialmente para exploração dos povos indígenas que residiam na costa brasileira. Nesse aspecto, a escravidão foi um formato de trabalho de natureza forçada imposta para às populações nativas. Em geral, considera queo índio que era escravizado era conhecido como “negro da terra”, diferenciando desse modo do “negro da guiné”, forma como o escravo africano era identificado nos séculos XVI e XVII (ALBUQUERQUE, 2006; HOFBAUER, 2006). Diante do aumento do trabalho na exploração do pau-brasil e em seguida nos engenhos, os colonos começaram a preparar expedições tendo como objetivo a captura de índios que estavam acomodados em regiões mais distantes, realizada por meio das “guerras justas” (SILVA, 2014; MUNANGA, 2013).
Por volta da segunda metade do século XVI, Domingues (2008) a oferta de escravos indígenas começou a declinar e os africanos começaram a chegar em maior quantidade para substituí-los. Diversos fatores levaram à substituição do índio pelo africano. As epidemias para Santos (2021) dizimaram grande número dos que trabalhavam nos engenhos ou que viviam em aldeamentos organizados pelos jesuítas. A fuga dos índios para o interior do território provocou aumento dos custos de captura e transporte de cativos até aos engenhos e fazendas do litoral (SILVA, 2014).
A preferência pelos africanos fez com que os portugueses se voltassem para o tráfico na África. Na segunda metade do século XVI, com o aumento da procura por escravos no Brasil, o tráfico passou a condição de grande negócio e fonte de vultosos lucros nas duas margens do Atlântico. A partir de então, o tráfico deixou de ser apenas uma entre as várias atividades ultramarinas iniciadas com os “descobrimentos” para se transformar no negócio mais lucrativo do Atlântico Sul (MAESTRI, 2022).
A igreja católica segundo Maestri (2022) apoiava a escravidão africana e combatia a indígena porque o índio possuía uma alma pura, não tinha pecado, por isso havia grande interesse em catequizá-los de modo a conseguir mais fiéis e propagar o Catolicismo no mundo recém-descoberto, pois a Europa estava vivenciando a contrarreforma. O africano por sua vez, já estava condenado (DOMINGUES, 2008).
O tráfico de africanos para o Brasil para Munanga (2013) tornou-se um negócio altamente lucrativo para comerciantes dos dois lados do Atlântico ainda no século XVI. Primeiramente, Santos (2021) o tráfico era realizado por comerciantes portugueses, que foram sendo substituídos por brasileiros até que, no século XVIII, estes passaram a ter o domínio sobre os negócios do tráfico.
Os números não são precisos, mas estima-se que, entre o século XVI e meados do século XIX, mais de 11 milhões de homens, mulheres e crianças africanos foram transportados para as Américas. Esse número não inclui os que não conseguiram sobreviver ao processo violento de captura na África e aos rigores da grande travessia atlântica. A maioria dos cativos, cerca de 4 milhões, desembarcou em portos do Brasil. Por isso nenhuma outra região americana esteve tão ligada ao continente africano por meio do tráfico como o Brasil. O dramático deslocamento forçado, por mais de três séculos, uniu para sempre o Brasil à África (ALBUQUERQUE, 2006, p.39).
No Brasil, a condição jurídica dos escravizados seguia a mesma norma do direito romano, a de “coisa”. E também como o direito romano, a escravidão seguia o ventre, o que significava dizer que todo o filho de escrava nascia escravo. Por serem juridicamente “coisas”, os homens e mulheres escravizadas podiam ser doados, vendidos, trocados, legados nos testamentos de seus senhores e partilhados, como quaisquer outros bens (SANTOS, 2021). Na condição de “coisa” eles não podiam possuir e legar bens, constituir poupança, nem testemunhar em processos judiciais (MAESTRI, 2022).
É necessário ressaltar que a coisificação do escravo era uma ideologia senhorial, não refletia a visão de homens e mulheres escravizados. Estes nunca perderam a sua humanidade: amaram, buscaram constituir suas famílias, valorizaram os laços de parentesco e de amizade, cultuaram seus deuses, lutaram por melhores condições de vida e não se conformaram com a escravidão (HOFBAUER, 2006).
A retirada violenta conforme Munanga (2013) de africanos de suas comunidades, conduzidos para trabalhar como escravo em terras distantes foi à solução encontrada pelas potências coloniais européias para povoar e explorar as riquezas tropicais e minerais das colônias no Novo Mundo. A colônia portuguesa (o Brasil) dependia de grande suprimento de africanos para atender às necessidades crescentes de uma economia carente de mão-de-obra. 
A migração transatlântica forçada para Santos (2021) foi à principal fonte de renovação da população cativa no Brasil, especialmente nas áreas ligadas à agricultura de exportação. Submetida a péssimas condições de vida e maus-tratos, a população escrava não se reproduzia na mesma proporção da população livre. Era alto o índice de mortalidade infantil e baixíssima a expectativa de vida. Além dos que morria, o tráfico repunha os que saíam do sistema através da alforria ou da fuga para os quilombos. Assim, havia demanda constante de escravos africanos, algo que se intensificava nos períodos de crescimento econômico (NEGRO; GOMES, 2006).
Essas embarcações Domingues (2008) eram compostas por diversas nações africanas que partiriam para formar um contingente de pessoas único. Com outras palavras, pode-se afirmar que o tráfico de negros compreendeu apenas o apogeu de todos os diferentes atos de abuso suportados por mulheres, homens e crianças que fizeram parte dessa trágica e comovente história.
Até a sua proibição, em 1850, o tráfico transatlântico fez grandes fortunas no Brasil. Foi através do tráfico africano que os portugueses puderam colonizar o território que mais tarde passaria a se chamar Brasil. Sem a participação dos africanos dificilmente os portugueses conseguiriam ocupar as terras descobertas no processo de expansão marítima (SANTOS, 2021). Foram os africanos e seus descendentes, juntamente com os indígenas escravizados, que desbravaram matas, ergueram cidades e portos, atravessaram rios, abriram estradas que conduziam aos locais mais remotos do território (NEGRO; GOMES, 2006).
A abolição do tráfico teve várias conseqüências. Para Maestri (2022) desde então não havia como renovar a população escrava. Logicamente, o número de africanos tendeu a diminuir enquanto o número de crioulos (negros nascidos no Brasil) tendeu a crescer na população cativa. O preço dos cativos aumentou rapidamente depois de 1850 e isso teve como conseqüência a concentração dos escravos em mãos de um número cada vez mais reduzido de proprietários. Os menos afortunados vendiam seus escravos para os mais ricos
Mais tarde, Munanga (2013) relativo ao trabalho escravo, grande parte era desenvolvida nas lavouras dos grandes proprietários de terras. O trabalho era realizado de sol a sol em caldeiras, moendas e canaviais. Encontravam-se presentes nas oficinas de sapateiros; na criação do gado; nos serviços domésticos; no comércio ambulante; nas manufaturas de açúcar, etc (HOFBAUER, 2006). Os que viviam na zona urbana tinham uma cera liberdade quando comparado aos vivia no campo. Tinha-se o escravo de ganho, era assim chamado por possui autorização do seu dono para sair em busca de um emprego. As mulheres também podiam ser para prestar serviços como vendas de doces ou sendo encarregadas (ALBUQUERQUE, 2006).
Ocorre que os escravos possuíam uma vida sofrida, determinada pelo trabalho árduo, maus tratos, a precariedade da alimentação, as doenças, a falta de moradias adequadas e roupas, todas essas condições favoreciam para que a taxa de mortalidade fosse elevada. Além disso, era bastante comum a punição frente a algum deslize por parte do escravo (NEGRO; GOMES, 2006).
O escravo não era um ser passivo cuja obediência podia ser mantida exclusivamente através do chicote. Em suas lutas cotidianas, os escravos impuseram limites à dominação escravista e jamais se acomodaram. Em todos os lugares em que existiu escravidão, os senhores buscaram temperar a política de domínio com incentivos ao trabalho (HOFBAUER, 2006).
Os negros sempre foram vigiados pelos capatazes, Santos (2021) que usavam a força física com forma de domínio. A recriminação maisconhecida é o tronco, onde o prisioneiro permanecia preso através das canelas, estando de costas, enquanto era açoitado com um chicote chamado bacalhau, totalmente nu, o que favorecia a abertura de fendas que sangravam abundantemente. E sobre a carne viva eles passavam um coquetel composto de pimenta, urina, sal que além de causar dor, queimava e acabava desencadeando inflamação. Os outros escravos eram obrigados a assistir, para conhecer os métodos que seriam aplicados caso desobedecessem. 
Segundo Albuquerque (2006), a sociedade colonial encontrava-se dividida entre o senhor de engenho que detinha o poder e a autoridade integral; os escravos que formavam a base econômica, sendo responsável pela maioria dos serviços executados na colônia, a distinção entre os dois se afirmavam pela possibilidade da posse de armas pelo senhor de engenho o que fazia com que todos fossem obedientes a eles. A pirâmide social fica composta então por escravos e homens livres, e no topo o senhor de engenho e os aristocratas.
A escravidão foi muito mais do que um sistema econômico. Ela moldou condutas, definiu desigualdades sociais e raciais, for ou sentimentos, valores e etiquetas de mando e obediência (MUNANGA, 2013). A partir dela instituíram-se os lugares que os indivíduos deveriam ocupar na sociedade, quem mandava e quem devia obedecer. Os cativos representavam o grupo mais oprimido da sociedade, pois eram impossibilitados legalmente de firmar contratos, dispor de suas vidas e possuir bens, testemunhar em processos judiciais contra pessoas livres, escolher trabalho e empregador (DOMINGUES, 2008).
As comunidades negras no Brasil foram formadas em meio à desagregação familiar resultante do tráfico e às adversidades da vida escrava. A condição escrava dificultou a formação e consolidação de famílias e comunidades, já que amigos e parentes podiam ser separados pela venda para proprietários diferentes. Para sobreviver sob o cativeiro, os escravos e escravas buscaram acionar relações sociais aprendidas na África e as aqui inventadas. Os vínculos formados a partir do trabalho, da família, dos grupos de convívio e da religião foram fundamentais para a sobrevivência e para a recriação de valores e referências culturais (MAESTRI, 2022).
Na tentativa de resistência Santos (2021) os escravos africanos se revoltavam incendiando e destruindo plantações, envenenamento, furtando, fugindo, formando quilombos, cometendo suicídio, etc. sendo essas algumas maneiras utilizadas para se rebelar. Além disso, havia outro tipo de resistência silenciosa e sutil, que era a recusa, o escravo se retirava e ali ficava até a morte. Mais tarde, essa ação foi descrita como banzo, uma doença causada pela saudade que sentiam de casa. 
A fuga representou para Maestri (2022) um modo significativo no processo de resistência ao cativeiro e de auto-afirmação da condição humana do escravizado em oposição ao sistema escravista. Em primeiro plano provocava um abalo do ponto de vista econômico, tanto de posse quanto de produção, por vários motivos: porque o escravizado deixava de trabalhar enquanto estava fugido, deixando, portanto, de gerar lucro para o seu senhor; também por não haver garantia de que o escravizado fosse ser apreendido e, caso não fosse, o senhor perdia o capital nele investido.
Em segundo plano, a fuga não era apenas um simples ato de rebeldia, significava a tentativa de usufruir de um espaço de liberdade, ainda que, na maior parte das vezes, efêmero. A formação de quilombos pressupõe um tipo específico de fuga, a fuga rompimento, cujo objetivo maior era a liberdade. Essa não era uma alternativa fácil a ser seguida, pois significava viver sendo perseguido não apenas como um escravo fugido, mas como criminoso (NEGRO; GOMES, 2006).
O nome dado aos acampamentos de escravos fugitivos conforme Negro e Gomes (2006) era quilombo, ficava localizado bem longe dos homens brancos. Com o tempo, com uma vida social e econômica própria se transformavam em aldeias. O mais famoso foi o Quilombo dos Palmares, em Alagoas que se formou na Serra da Barriga, no meio dos rios e da mata. Devido a dificuldade do acesso, ficam responsáveis pela produção de banana, cana-de-açúcar, milho, mandioca, chegando até a comercializar.
A partir da Independência do Brasil, em 1822, Munanga (2013) ficou claro que seria impossível construir um país livre contando com classes tão opostas. A Inglaterra aboliu a escravidão nas colônias em 1833 e transformou-se na maior defensora do fim do comércio escravista. Diante, também, da Revolução Industrial, o capitalismo se consolidou, e era necessário, portanto, que o trabalhador fosse assalariado, 
Também, a Lei Eusébio de Queirós, criada em 1850, proibia o tráfico de escravos para o Brasil, o tráfico, então, despencou gradativamente. Em 1865, com a abolição nos Estados Unidos, restavam somente dois países ocidentais a manter a escravidão: Cuba e Brasil, sendo o nosso país o último a abolir a escravatura (MAESTRI, 2022).
Antes de a Princesa Isabel assinar a Lei Áurea, Maestri (2022) cita que teve duas leis que a antecederam. Foram elas: a Lei do Ventre Livre, de 1871, declarando livres os filhos de escravas a partir daquela data, e a Lei dos Sexagenários, de 1885, que concedia liberdade aos escravos maiores de 60 anos. Finalmente, em 13 de maio de 1888, foi assinada a Lei Áurea, que declarava extinta a escravidão no Brasil. Contudo, esse ato não partiu somente da vontade do governo de extinguir a escravidão. Os donos de escravos, por exemplo, alegavam que o escravo não teria condições e nem estava preparado para essa liberdade (MUNANGA, 2013).
Após esse longo trajeto que marcou a História do país em razão da experiência da escravidão no Brasil colonial, percebe-se que um dos principais objetivos dos europeus era o de obter lucros econômicos, e foi por meio das atividades agrícolas e domésticas nos engenhos que as nações européias foram enriquecendo e se desenvolvendo (MAESTRI, 2022). Inicialmente os índios tiveram sua mão de obra empregada na extração do pau-brasil e, mais tarde, os negros africanos foram arrancados à força de sua terra natal para serem cativos em uma terra estranha e desconhecida (ALBUQUERQUE, 2006).
1.2 Desigualdade Racial
A desigualdade racial é a distribuição desigual de recursos, poder e oportunidades econômicas entre raças em uma sociedade. Embora a discussão seja frequentemente focada na desigualdade econômica, também se manifesta de várias maneiras que, sozinhas e juntas, afetam o bem-estar de todos os indivíduos (ZAMORA, 2012). Isso inclui disparidades raciais em riqueza, educação, emprego, moradia, mobilidade, saúde, taxas de encarceramento e muito mais (MADEIRA; GOMES, 2018).
As aquisições pelos direitos para Silva (2014) e Heringuer (2002) tem o objetivo a proteção dos grupos étnico-raciais vulneráveis no território brasileiro, apesar de conceberem um avanço ínfimo, são insuficientes e recentes para auxiliar na eliminação da desigualdade de raça no Brasil. Todo o contexto histórico evidenciado no capitulo anterior resultou em implicações que são sentidas ainda nos dias atuais.
Para o entendimento adequado da desigualdade racial, Osorio (2021) reflete que é necessária a compreensão do significado do termo raça, bem como as origens, utilização e o desenvolvimento do racismo. A terminologia “raça” foi utilizada ao longo da história possuindo distintas conotações. Nos dias atuais, passou a ser usada para ter referencia a categorias de seres humanos diferentes.
Para tanto, a raça atua a partir de dois assentamentos básicos que se transpõem. O primeiro se refere a raça como uma característica de cunho biológico ( atribuída a cor da pele, traço físico, etc) e o segundo como predicado étnico-cultural, se referindo a à origem ou costumes (OSORIO, 2021).
Na história do Brasil para Zamora et al (2012) e de outras sociedades, pessoas e grupos sociais difundiram a vivência de raças, enfatizando algumas como superiores biologicamente e outras como inferiores. Desse modo, origina a percepção de dominância que perpetua ateos tempos atuais. Uma parcela dessa população ainda visualiza o negro como inferior e o indígena como selvagem. Ou seja, a desigualdade racial é resultado e consequência de um processo político e histórico que possui variação conforme a sociedade como se deu o processo de construção. No caso do Brasil, a desigualdade está ligada diretamente à escravidão e a colonização.
Sabe-se que a escravidão foi um desfecho histórico que deu um novo sentido para o país. Muitos acontecimentos do passado influenciam ainda hoje seja social, cultural ou politicamente, como também as concepções e idéias que são formuladas a partir disso, o que torna possível o conhecimento acerca da origem e a identidade do pais, bem como reconhecer o passado do Brasil nesse episódio de intensa exploração (ALBUQUERQUE, 2006).
A abolição da escravidão, só ocorreu no Brasil somente em 1888, através da Lei Áurea, sendo que o pais foi o último a extinguir de forma legal esse sistema de organização e produção econômica (HERINGUER, 2002). Só após esse período, em 1889, com a Proclamação da República e da Constituição de 1891 que isso ocorreu. Entretanto, apesar de ter conquistado a liberdade, não houve garantia de direitos fundamentais pela nova Constituição e, portanto, não havia garantia do reconhecimento como cidadãos (OSORIO, 2021).
Ou seja, para Albuquerque (2006) os negros não tinham direitos políticos e nem civis, e por não possuir a permissão do voto, não tinha acesso à justiça, saúde e educação, garantidas por lei. Desse modo, a abolição não teve como resultado a inserção dos afrodescendentes de forma desprotegida na sociedade, que acabaram submetendo-os aos preconceitos sociais e discriminação sendo esses fundamentados pelo racismo. Apenas no século XX, através da elaboração da Constituição por Getulio Vargas em 1934, que alguns direitos direcionados a grupos étnico-raciais passaram a ser reconhecidos no Brasil pela primeira vez (OSORIO, 2021).
Para tanto, diante dessas considerações, determina-se que a desigualdade racial é o produto de uma composição de poder que deposita uma raça ou etnia acima das outras de forma hierarquizada. No Brasil, país marcado por anos de escravidão e o último a aboli-la, a existência da desigualdade racial é reflexo do racismo estrutural e traz diversas consequências aos grupos sociais que estão envolvidos (OSORIO, 2021).
Estamos inseridos em uma sociedade multicultural, isto é, vivemos em um país que possui culturas misturadas e distintas, que abriga cidadãos de diferentes crenças religiosas, raças, classe social, gosto musical, opção sexual, etc. Isso ocorre desde os tempos da colonização portuguesa no Brasil, período em que houve a miscigenação de culturas entre o branco (europeu), o índio e o negro (MADEIRA; GOMES, 2018). É por isso que o Brasil é considerado um país de grande diversidade cultural. A partir desse pressuposto, a sociedade “segue” uma dinâmica, se inova, atualiza, desenvolve e se transforma, agregando novos pensamentos, conceitos e valores éticos. Dessa forma, somos influenciados e influenciamos outras nações (ZAMORA et al., 2012).
Apesar disso, Madeira e Gomes (2018) desde o século 19, mesmo com a abolição da escravatura, imperavam teorias que valorizavam a raça branca. E a ciência era utilizada para provar a “inferioridade” dos negros. Em consonância, as teorias do branqueamento defendiam que a sociedade só poderia avançar geneticamente e culturalmente se diminuísse o excesso de negros, através da mistura das raças. Toda essa conjuntura histórica, política e social contribuiu para que o racismo perpetuasse e se estruturasse. 
Existem três concepções de racismo, de acordo com Osório (2021) a saber: estrutural, institucional e individualista. A concepção estrutural que aponta que o racismo é uma consequência da estrutura social, que inclui relações políticas, econômicas, jurídicas e até familiares. Há toda uma estrutura que vai culminar na desigualdade. Segundo a concepção individualista, é visto como uma espécie de anormalidade ou patologia. Essa pode até não admitir a existência do racismo, considerando que exista apenas um preconceito. 
O racismo institucional é a de que a desigualdade racial existente na sociedade não é causada por indivíduos e grupos de forma isolada, mas também pelas instituições que são dominadas por determinados grupos (brancos) com certos interesses políticos e econômicos. Essa concepção é um avanço nos estudos das relações raciais por entender que o racismo não está só no âmbito individual, mas ainda não explica todas as questões. Por fim, em suma, a sociedade racista faz com que as instituições também sejam racistas e isso destina os privilégios e a prosperidade somente a um grupo da sociedade. Ocorre que a desigualdade racial se manifesta de forma alarmante na disparidade de oportunidades em relação à distribuição de renda, cultura, educação, entre outros fatores nos dias atuais (OSORIO, 2021).
2. CONCLUSÃO
Diante das considerações aqui apresentadas, observa-se que desde o período colonial são observadas a discriminação de grupos étnico-raciais, manifestada nesse período por meio da imposição de um modelo cultural e principalmente pela escravidão, que na atualidade ainda se manifesta as diferentes desigualdades raciais sofridas por esses grupos, com ênfase nos índios e negros. 
Dessa forma observa-se que é inegável a vulnerabilidade entre indígenas e negros nos diferentes aspectos no Brasil. Essa condição é resultado de uma junção de um período histórico de escravização e exploração, aliado a perpetuação de um preconceito social. Por essa razão é impossível a discussão da democracia, sem enfatizarmos a igualdade, discriminação e racismo. 
3. REFERÊNCIAS
ALBUQUERQUE, W.R. Uma história do negro no Brasil. Salvador: Centro de Estudos Afro-Orientais; Brasília: Fundação Cultural Palmares, 2006. 320p.
AMARAL, S.P. História do negro no Brasil. Brasília: Ministério da Educação. Secretária de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade; Salvador: Centro de Estudos Afro Orientais, 2011.
BÓRIS, F. História do Brasil. Editora Edusp. 1995. 664p.
GOMES, F.S. Histórias de quilombolas: mocambos e comunidades de senzalas no Rio de Janeiro, século XIX. Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 1995.
DOMINGUES, P. Movimento negro brasileiro: história, tendências e dilemas contemporâneos. Dimensões, n. 21, 2008.
HERINGER, R. Desigualdades raciais no Brasil: síntese de indicadores e desafios no campo das políticas públicas. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 18(suplemento): p. 57-65, 2002.
HOFBAUER, A. Uma história de branqueamento ou o negro em questão. Unesp, 2006.
MADEIRA, Z.; GOMES, D.D.O. Persistentes desigualdades raciais e resistências negras no Brasil contemporâneo. Serviço Social & Sociedade, p. 463-479, 2018.
MAESTRI, M. História da África negra pré-colonial. Clube de Autores, 2022.
MUNANGA, K. Educação e diversidade étnico-cultural: a importância da história do negro e da África no sistema educativo brasileiro. Müller, Tânia Mara Pedroso; COELHO, Wilma de Nazaré Baía.(Org. s). Relações étnico-raciais e diversidade. Niterói: Editora da UFF, Alternativa, p. 21-33, 2013.
NEGRO, A.L.; GOMES, F. Além de senzalas e fábricas: uma história social do trabalho. Tempo social, v. 18, p. 217-240, 2006.
OSORIO, Rafael Guerreiro. A desigualdade racial no Brasil nas três últimas décadas. Texto para Discussão, 2021.
SANTOS, J.R. Saber do negro. Pallas Editora, 2021.
SILVA, V.C.P. DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA NO BRASIL: ALGUMAS REFLEXÕES. Revista de História Bilros: História (s), Sociedade (s) e Cultura (s), v. 2, n. 03, 2014.
ZAMORA, M.H.R.N. Desigualdade racial, racismo e seus efeitos. Fractal: Revista de Psicologia, v. 24, p. 563-578, 2012.

Continue navegando