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1 Fundamentos de Proteção Radiológica 2017 Professor: Luiz Claudio Estudo dirigido: Grandezas e Unidades em Proteção Radiológica Em Proteção Radiológica ou radioproteção é de fundamental importância conhecer a quantidade de radiação que interage com o tecido vivo a fim de se avaliar os possíveis danos à saúde dos indivíduos. Existem diversas grandezas utilizadas para se quantificar as radiações. As quatro mais importantes no contexto da Proteção Radiológica são: a Exposição (X), a Dose Absorvida (D), a Dose Equivalente no Órgão (Hr) e a Dose Efetiva (E). No presente texto as quantidades diferenciais são aproximadas pelas frações equivalentes. EXPOSIÇÃO, X Fótons de raios-X ou gama, ao interagirem com os átomos de um meio material, irão arrancar elétrons dos átomos desse material, produzindo pares de íons: o elétron arrancado (íon negativo) e o átomo que ficou sem o elétron (íon positivo). A Exposição X é uma grandeza física que indica a quantidade de pares de íons produzidos pelos fótons X ou gama, em um volume de ar. Esta grandeza pode ser definida como a razão entre a soma de todas as cargas elétricas Q de mesmo sinal produzidas em um volume de ar pela massa m deste volume, ou seja: X = Q/m A unidade de exposição X no Sistema Internacional (SI) é o Coulomb por quilograma (C/kg). Antigamente se utilizava a unidade especial denominada Roentgen (R), que equivale à intensidade de radiação que produz 2,08×109 pares de íons em 1 cm3 de ar. Esta unidade está relacionada à unidade do SI, por: 1R = 2,58×10-4 C/ kg Note que a grandeza Exposição X é definida somente para raios-X e gama em interação com o ar. Podemos definir a Taxa de Exposição �̇� como a razão entre a Exposição X e o tempo t por: �̇� = 𝑋/𝑡 Exemplo 1: um feixe de raios-X produziu uma carga de 8×10-9 C em um volume de 0,002 kg de ar. Calcule a exposição X em Roentgen (R). A exposição X é dada por: X = Q/m = 8×10-9 C/0,002 kg = 4×10-6 C/kg Para determinar a exposição em Roentgen (R) basta dividir o valor anterior por acima por 2,58×10-4, ou seja: X = 4×10-6/2,58×10-4 = 15,5mR 2 Exemplo 2: uma medida realizada com detector de radiação num intervalo de tempo de 5s apresentou a leitura de 10mR. Qual a taxa de exposição em mR/s? A taxa de exposição é dada por: . X = X/t = 10/5 = 2mR/s DOSE ABSORVIDA, D As mudanças químicas e biológicas que ocorrem em um tecido biológico exposto a radiações ionizantes dependem da quantidade de energia que a radiação depositou nesse tecido. Assim, como a Exposição X é definida somente para fótons X ou gama interagindo com um volume de ar, esta quantidade não é adequada para descrever a deposição de energia de outros tipos de radiação (como alfa, beta e prótons) e em outros tipos de materiais (como água, tecido humano, madeira, etc.). Por esta razão, foi introduzida a grandeza dose absorvida D. A dose absorvida D é definida como a energia (E) absorvida da radiação (qualquer tipo de radiação) pela massa m do absorvedor (qualquer tipo de material absorvedor), ou seja: 𝐷 = 𝐸/m A unidade para dose absorvida no Sistema Internacional é o joule por quilograma (J/kg) e recebe o nome especial de Gray (Gy). Note que uma unidade antiga para dose absorvida, o rad ainda é utilizada principalmente devido a existência de equipamentos antigos calibrados nesta unidade. A relação para Gray é: 1 Gy = 100 rad. Podemos definir a Taxa de Dose Absorvida �̇� como a razão entre a Dose Absorvida D e o tempo t, ou seja: �̇� = 𝐷/𝑡 Exemplo 3: um paciente recebe em um tumor de 50g uma dose de radiação gama de 2Gy. Qual foi a energia depositada no tumor pela radiação gama? A dose absorvida é dada por: D = E/m Logo, a energia depositada será E = Dm = 2×0.05 = 0,1J Exemplo 4: uma gema foi irradiada com radiação gama durante cinco horas, recebendo uma dose de 500 Gy. Qual a taxa de dose a que essa gema esteve exposta? . . D = D/t = 500/5 D = 100Gy/h 3 DOSE EQUIVALENTE NO ÓRGÃO, HT A dose absorvida média em um órgão ou tecido é um indicador de probabilidade de efeitos ou danos futuros. Esta probabilidade dependente do tipo da radiação, pois para uma mesma dose absorvida os diferentes tipos de radiação podem produzir diferentes efeitos biológicos. Em função desta peculiaridade foi criada uma nova grandeza, chamada dose equivalente no órgão HT, a qual considera além da energia depositada a influência do tipo da radiação no detrimento ou dano biológico ao Homem. A dose equivalente no órgão HT é o valor médio da dose absorvida obtida sobre todo o órgão ou tecido DT devido à radiação, ou seja, é a energia depositada pela radiação no tecido ou órgão de massa m, multiplicado por um fator de peso wR que leva em consideração o tipo da radiação. 𝐻𝑇 = 𝑤𝑅𝐷𝑇 A unidade da dose equivalente no orgão HT no SI é o joule por quilograma, que recebe o nome especial de Sievert (Sv), a fim de evitar que seja confunda com a dose absorvida D. Existe uma unidade antiga que ainda é encontrada que é o rem, sendo que 1 Sv = 100 rem. Os fatores de peso wR não dependem do tecido ou órgão irradiado. Depende apenas do tipo da radiação. Os fatores de peso são mostrados na Tabela-I: Tabela I: Fatores de ponderação para diferentes tipos de radiação. Tipo de radiação Fator wR Raios X e gama 1 Beta e elétrons 1 Nêutrons 10 Prótons 5 Alfa 20 Exemplo 4: Um trabalhador designado T1 recebeu uma dose de radiação gama de 15mGy na região onde se localiza o fígado durante suas atividades profissionais. Um segundo trabalhador, T2, foi exposto a um feixe de nêutrons, também na região do fígado, e recebeu uma dose de 5mGy. Em qual dos trabalhadores estima-se que o dano biológico tenha sido maior? T1: HFígado = wR(gama) × DFígado = 1× 15 = 15mSv T2: HFígado = wR(nêutrons) × DFígado = 10× 5 = 50mSv O dano biológico do trabalhador T2 foi maior que o dano no trabalhador T1. A dose absorvida maior não corresponde necessariamente a um dano maior. 4 DOSE EFETIVA, E A probabilidade de ocorrer danos futuros à saúde de uma pessoa irradiada depende não só da dose e características da radiação, mas também do órgão ou tecido irradiado. Por exemplo, se uma pessoa recebeu uma dose de radiação gama somente na região do fígado e outra recebeu a mesma dose de radiação gama somente na pele, é razoável considerar que a pessoa que recebeu a dose na região do fígado poderá apresentar um dano para a saúde muito mais grave que a pessoa que recebeu a mesma dose na pele. Tendo em vista esta linha de pensamento, foi definida a grandeza Dose Efetiva E a qual indica o risco à saúde devido à exposição dos diferentes órgãos ou tecidos do corpo às radiações ionizantes. Considerando, como aproximação, que apenas um órgão tenha sido irradiado, a dose efetiva será dada pelo produto da dose equivalente nesse órgão por um fator de peso wT do órgão. 𝐸 = 𝑤𝑇𝐻𝑇 A unidade da dose efetiva no SI também é o J/kg ou Sievert (Sv). O fator de peso wT (chamado fator de ponderação para o tecido T) está associado à sensibilidade do órgão à radiação. Trata-se de um fator adimensional que indica relativamente qual órgão, ao ser irradiado, causaria maior dano à saúde do indivíduo. Assim, por exemplo, o fígado apresenta um fator wT maior que o fator para ossos, pois a irradiação do fígado causaria maior dano à saúde da pessoa que a mesma irradiação nos ossos. Os fatores de ponderação wT para os diferentes órgãos ou tecidos são mostrados na tabela-II. Tabela II: Fatores de ponderação para diferentes tecidos ou órgãos. Órgão Fator wT (ICRP 1991) Gônadas 0,20 Mama 0,05 Medula óssea 0,12 Pulmões 0,12 Tireoide 0,05 Superfície óssea 0,01 Cólon 0,12 Estômago 0,12 Fígado 0,05 Bexiga 0,05 Esôfago 0,05 Pele 0,01 Restante do corpo*0,05 Para fins de cálculo, o restante do corpo inclui os seguintes tecidos e órgãos: suprarrenais, intestinos, rins, músculos, pâncreas, baço, timo e útero. 5 Quando ocorre a exposição de vários órgãos ao mesmo tempo, que corresponde ao que geralmente ocorre, a Dose Efetiva E é dada pela soma ponderada das doses equivalentes em todos os tecidos e órgãos do corpo ou a soma das doses equivalentes encontradas para cada órgão HT multiplicada pelos fatores de peso wT de cada órgão. Exemplo 5: Um trabalhador durante suas atividades profissionais recebeu uma dose de radiação gama de 5mGy na região onde se localiza o fígado e uma dose de 10mGy principalmente na pele. Determine: a. A dose equivalente no fígado; HFígado = wR(gama) × Dfígado = 1× 5 = 5mSv b. A dose equivalente na pele; HPele = wR(nêutrons) × Dpele = 10× 10 = 100mSv c. A dose efetiva, considerando que somente o fígado tenha sido irradiado; E = wT(fígado) × Hfígado = 0,05× 5 = 0,25mSv d. A dose efetiva, considerando que somente a pele tenha sido irradiada; E = wT(pele) × Hpele = 0,01× 100 = 1mSv e. A dose efetiva, considerando que os dois órgãos tenham sido irradiados. E = 0,25+1 = 1,25mSv Exercício 1. Defina a grandeza exposição X e correlacione a unidade cgs com a unidade SI. 2. Defina a grandeza dose absorvida D e correlacione a unidade cgs com a unidade SI. 3. Um feixe de raios X produziu uma carga de 7,8 × 10-10C em um volume de ar cuja massa é de 1g. Determine a exposição X. 4. Em um procedimento médico, um feixe de raios X depositou uma dose de 0,03J de energia numa região da pele de um paciente. Estimou-se em 5g a massa de pele exposta. Calcule dose absorvida na pele do paciente. 5. Calcule a energia absorvida em 20g de ar exposto a 50mGy de radiação X. 6. Um trabalhador recebeu acidentalmente uma dose de corpo inteiro de 1Gy durante 30s. Calcule a taxa de dose. Qual seria a dose que ele receberia se permanecesse no local por 5 minutos? 7. Considere um detector de radiação posicionado a 1,5 m de uma fonte de 137Cs. O detector registrou após 10 minutos uma dose acumulada de 50mGy. Determine a taxa de dose a esta distância. Qual o valor da dose que o detector registraria se permanecesse na mesma posição por mais 50 minutos? 8. Defina a grandeza dose equivalente no órgão HT e correlacione a unidade cgs com a unidade SI. 9. O trabalhador Cleverson Carlos recebeu uma dose de 10mGy na região do fígado ao ser exposto a um feixe de nêutrons. Adelaide Catarina recebeu uma dose de 10mGy na região do fígado, porém ela foi exposta a um feixe de elétrons. Quem sofreu maior dano à saúde. Por quê? 10. Defina a grandeza dose efetiva E e correlacione a unidade cgs com a unidade SI. 11. O que representa o fator wT? Este fator é maior para a pele ou para as gônadas? 6 12. Arlindo Orlando recebeu as seguintes doses de raios X: 2mGy na região dos pulmões, 5mGy na região do fígado e 3 mGy na região do estômago. Determine a dose equivalente em cada um dos órgãos afetados. Calcule a dose efetiva recebida. 13. Três indivíduos ocupacionalmente expostos (IOE) receberam doses de diferentes tipos de radiação e em diferentes partes do corpo. O indivíduo 1 recebeu uma dose de 20mGy de radiação gama na região das gônadas. O indivíduo 2 recebeu uma dose de 30mGy de radiação beta na região da bexiga. O indivíduo 3 recebeu uma dose de 10mGy de nêutrons na região do esôfago. Coloque em ordem crescente o risco à saúde para cada um dos IOEs. 14. Converta as seguintes unidades: a. 1kGy = rad; b. 0,25mR = nC/kg; c. 500mrad = mGy; d. 5C/kg = kR; e. 20nSv = µrem. Referências bibliográficas 1. Apostila de Proteção Radiológica, Lacerda, M. A. S., CDTN; 2. Tauhata, L., et al., Radioproteção e Dosimetria: Fundamentos. 5ª Revisão Agosto de 2003. Instituto de Radioproteção e Dosimetria, 3. NE581. Disponível na internet em https://courses.ecampus.oregonstate.edu/ne581/one/index.htm, Acessado em 05/06/2014. https://courses.ecampus.oregonstate.edu/ne581/one/index.htm