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1 Felipe Altimari 5 – Distúrbios das Glândulas Suprarrenais Problema: Falta de tudo um pouco. Identificação: VSOV, 21 anos, sexo feminino, raça caucasiana, solteira, operaria fabril, natural e residente em Marco de Canaveses. QD: Astenia (perda de força), anorexia e emagrecimento há 2 meses HPMA: Paciente admitida em Hospital público com queixa de astenia, anorexia, emagrecimento de cerca de 5kg há 2 meses. Refere em associação quadro de hipotensão, dores abdominais e hiperpigmentação da face ISDA: nada digno de nota AP: Nega uso de álcool, drogas ilícitas ou qualquer medicação. Sem histórico de tuberculose, trauma ou cirugia. AF: Nada digno de nota EF: REG, afebril, prostada e emagrecida. Apresentava hiperpigmentação na face, linhas interdigitais de palma das mãos e nos lábios. PA 80 x 44 mmHg. FC 110 bpm. Ausculta cardíaca: ritmo cardíaco regular em 2 tempos, bulhas rítmicas e normofonéticas, sem sopros. Palpação abdominal: baço e fígado não palpáveis Exames complementares: Hemoglobina: 12.8 g/dL; Leucograma: 7.400 (42% de linfócitos e 49% neutrófilos, 5% de eosinófilos, 4% de monócitos e 05 de basófilos); Plaquetas: 264.000; Coagulograma normal; Proteína C: negativa; Na+: 135 mmol/L; K+ 6,8 mmol/L; Calcio: 10.1 mg/dL; Magnésio: 1,81 mg/dL; Fósforo: 6.66 mg/dL; Glicose: 80 mg/dL; Ureia 22.1 mg/dL; Creatinina 0,68 mg/dL; AST: 47 U/L; Bilirrubina total: 0,7 mg/dL. Parâmetros plasmáticos endócrinos: ACTH: 2302,0 pg/ml (normal 7,0 – 51); Cortisol (manhã e tarde): < 0,2 mg/dL (normal 4,3 – 22,4); aldosterona: indetectável (normal 10160 pg/ml); renina: 969.0 pg/ml (normal 3,6 – 20.1 pg/ml) A pesquisa de HbsAg, anti-HIV, Anti-CMV e VDRL foram negativas. A pesquisa de BK no suco gástrico e urina foram negativas, assim como o teste de tuberculina. A TC das suprarrenais revelou atrofia bilateral sem lesões expansivas nem calcificações. Evolução: Diante do diagnóstico, inicio TTO EV com hidrocortisona 100 mg 6/6 horas, com rápida melhoria da doentee normalização dos valores tensionais e electroliticos. Preocupada com os efeitos colaterais da medicação, a equipe optou pela redução gradual da hidrocortisona até 30 mg/dia (20 mg de manhã e 10 mg à noite) e a doente permanece sem queixas. Objetivos: 1- Fisiologia da supra-renal 2- Caracterizar doença de Addison 3- Caracterizar Sd. de Cushing 4- Insuficiência adrenal Intenção educacional: Descrever a morfologia e a vascularização das glândula tireóide e suprarrenal, fazendo correlação com distúrbios metabólicos endócrinos Objetivos e identificações: Tireóide e suprarrenais: - Anatomia e histologia; Vascularização e inervação; Topografia; Identificar os órgãos em exames por imagem 2 Felipe Altimari GLÂNDULAS SUPRARRENAIS/ADRENAIS INTRODUÇÃO A glândula suprarrenal desempenha papel na regulação da resposta adaptativa do organismo ao estresse, na manutenção do equilíbrio da água corporal, do sódio e do potássio, bem como no controle da pressão arterial. Os principais hormônios produzidos por essas glândulas nos seres humanos pertencem a duas famílias diferentes, com base em sua estrutura: Hormônios esteroides: Glicocorticoides, mineralocorticoides e androgênios Catecolaminas: Noradrenalina e adrenalina Figura 1. Glândulas suprarrenais. Anatomia e zonalizades funcionais Localizam-se acima dos rins, são pequenas e são constituídas pelo córtex e medula, tendo, cada um deles, uma origem embrionária distinta. Córtex externo: Deriva do tecido mesodérmico. Medula interna: Origina-se de uma subpopulação de células da crista neural. (por esse motivo produzem catecolaminas) O suprimento sanguíneo para essas glândulas provem das artérias suprarrenais superior, média e inferior. Ramos dessas artérias forma uma rede capilar organizada, de modo a propiciar o fluxo de sangue do córtex externo para a área central, com um sistema de sinusoides. A drenagem venosa envolve uma única veia renal de cada lado: a veia direita drena na VCI, enquanto a veia esquerda drena na veia renal esquerda. Hormônios do córtex suprarrenal O córtex suprarrenal consiste em três zonas: • Zona glomerulosa: contém um retículo endoplasmático liso em quantidade abundante e constitui a única fonte do minaralocorticoide aldosterona. Os mineralocorticóides, que regulam o equilíbrio do Na+ e do K+; • Zona fasciculada: possui quantidades abundantes de gotículas lipídicas e produzem os glicocorticoides, cortisol e corticosterona, bem como os androgênios, DHEA (desidroepiandrosterona) e sulfato de DHEA. Os glicocorticóides, que regulam o metabolismo da glicose e de outras moléculas orgânicas; • Zona reticular: desenvolve-se na vida pós-natal e também produz glicocorticoides e androgênios. Os esteróides sexuais, androgênios fracos (incluindo a desidroepiandrosterona ou DHEA) que suplementam os esteróides sexuais secretados pelas gônadas. QUÍMICA E BIOSSÍNTESE Os hormônios esteroides compartilham uma etapa inicial: Conversão do colesterol em pregnenolona pela enzima P450scc. Essa etapa é conhecida como etapa limitadora de velocidade e necessita da proteína reguladora de esteroides: A StAR. VIA DE SÍNTESE DOS HORMÔNIOS ESTEROIDES DA SUPRARRENAL E FISIOLOGIA ENDÓCRINA. COLESTEROL ↓ P450scc Pregnenolona Progesterona ↓ 11- desoxicorticosterona ↓ Corticosterona ↓ Aldosterona 17α-hidroxipregnenolana ↓ 17α-hidroxiprogesterona ↓ ↓ 11- desoxicortisol ↓ Cortisol Androstenediona ↓ Testosterona ↓ Estradiol-17β Mineralocorticoide 17α- hidroxiprogesterona ↓ 11-desoxicortisol ↓ Cortisol Glicocorticoide Desidroepiandrosterona ↓ Androgênios Androstenediona ↓ Testosterona ↓ Estradiol-17β 3 Felipe Altimari GLICOCORTICOIDES Síntese e liberação A liberação é estimulada diretamente pelo hormônio adrenocorticotrófico (ACTH), liberado na hipófise. O ACTH é sintetizado na forma de um grande precursor, a pró-opiomelanocortina (POMC). A estimulação da liberação do cortisol ocorre 15 minutos após o surto de ACTH. A liberação do cortisol é maior durante as primeiras horas de vigília, e os níveis declinem a média que o dia prossegue. Por sua liberação pulsátil, os níveis variam durante o dia. O ACTH estimula a liberação de cortisol por meio de sua ligação a um receptor de melanocortina 2 da membrana plasmática nas células adrenocorticiais. O ACTH aumenta e ativa a síntese de StAR, a enzima envolvida no transporte de colesterol para a membrana mitocondrial interna. A liberação de ACTH pela adeno-hipófise é regulada pelo peptídeo, o hormônio liberador de corticotrofina (CRH). O cortisol inibe a biossíntese e a secreção do CRH e ACTH. Metabolismo A maior parte do cortisol é ligado à α2-globulina de ligação dos glicocorticoides (CBG). A síntese hepática do CBG é estimulada pelo estrogênio e diminuída pela doença hepática (cirrose). O fígado e o rim constituem os dois principais locais de inativação e de eliminação hormonal e a inativação do cortisol em cortisona e em tetra-hidrocortisol e tetra- hidrocortisona é seguida de conjugação e excreção renal. O corticosteroide 11ẞ-hidroxiesteroide- desidrogenase tipo I é uma redutase de baixa afinidade, que converte a cortisona de volta a sua forma ativa, o cortisol. Essa enzima é expressa no fígado, no tecido adiposo, no pulmão, no MEE, músculo liso vascular, nas gônadas e no SNC. A conversão do cortisol em cortisona, seu metabólito menos ativo, é mediada pela enzima 11ẞ- hidroxiesteroide-desidrogenase tipo II, possuindo alta afinidade e sendo expressa nos túbulos contorcidos distais e nos ductos coletores dos rins. A conversão do cortisol em cortisona é de importância crítica para prevenir a atividade mineralocorticoide excessiva que resulta da ligação do cortisol ao receptor de mineralocorticoides. Efeitos específicos Os glicocorticoidesdesempenham papel importante na regulação da homeostasia da glicose: • Estimulam a proteólise e a gliconeogênese • Inibem a síntese de proteínas musculares • Aumentam a mobilização de ácidos graxos Seu efeito essencial consiste em aumentar os níveis de glicemia: No fígado, consiste em aumentar a expressão de enzimas gliconeogênicas. No músculo, interferem na translocação do transportador de glicose 4 para a membrana plasmática. No osso e cartilagem, diminui a expressão do IGF-1 e do hormônio do crescimento. A presença em níveis excessivos de glicocorticoides resulta em osteoporose e compromete o crescimento do esqueleto e a formação óssea ao inibir a síntese de osteoblastos e de colágeno. Os glicocorticoides são catabólicos e resultam em perda de massa corporal magra. Além disso, modulam a resposta imune ao aumentar a síntese de citocinas anti inflamatórias. Na vasculatura, modulam a reatividade a substâncias vasoativas como a angiotensina II e a noradrenalina. Em pacientes com deficiência, manifesta-se hipotensão e diminuição da sensibilidade à administração de vasoconstritores. No SNC, eles modulam a percepção e a emoção e podem produzir alterações acentuadas no comportamento. MAPA MENTAL- GLICOCORTICOIDES (São catabólicos) Síntese e liberação Liberação estimulada Hormônio ACTH Liberação do cortisol Sintetizado pela POMC Liberado na hipófise Regulada pelo CRH Liberação do cortisol Metabolismo 11β-hidroxiesteroidedesidrogenase tipo I CORTISOL CORTISONA 11β-hidroxiesteroidedesidrogenase tipoII Fígado e rim: inativação e eliminação Cortisol: Ligado a α2-globulina Efeitos específicos Aumento de ácidos graxos Proteólise Gliconeogênese Inibe síntese de proteína = ↑ da glicemia MINERALOCORTICOIDES Síntese e liberação A síntese e a liberação de aldosterona na zona glomerulosa são reguladas predominantemente pela angiotensina II e pelo K+ extracelular, bem como em menor grau, pelo ACTH. A aldosterona faz parte do SRAA, responsável pela preservação da homeostasia circulatória em resposta a uma perda de sal e de água. Tanto a angiotensina II quanto o K+ estimulam a liberação de aldosterona pelo aumento nas concentrações intracelulares de Ca2+. O principal estímulo fisiológico para a liberação de aldosterona consiste em uma redução do volume sanguíneo intravascular. A ocorrência da redução do volume sanguíneo leva a uma redução da pressão de perfusão renal, que é percebida pelo aparelho justaglomerular (barorreceptor), deflagrando a liberação de renina. A renina catalisa o 4 Felipe Altimari angiotensinogênio em angiotensina I. Essa angiotensina I é convertida pela ECA em angiotensina II. O aumento da angiotensina II promove: Vasoconstrição arteriolar direta Estimula células adrenocorticais da zona glomerulosa a sintetizar e liberar aldosterona. Estimula a liberação de arginina vasopressina pela neuro-hipófise. O potássio também constitui importante estimulo fisiológico para a produção de aldosterona. A aldosterona aumenta a excreção de K+ na urina, nas fezes, no suor e na saliva, impedindo o desenvolvimento de hiperpotassemia durante períodos de elevada ingestão de K+ ou após liberação de K+ do músculo esquelético durante exercício vigoroso. REGULAÇÃO DA LIBERAÇÃO DA ALDOSTERONA PELO SISTEMA RENINA-ANGIOTENSINA-ALDOSTERONA. ↓ Volume plasmático ↑ Angiotensina II Suprarrenais ↑ Liberação de aldosterona Vascularização ↑ Vasoconstrição Ductos coletores corticais ↑ Reabsorção de Na+ ↑ Secreção de K+ Restaurar o volume plasmático Metabolismo Pode ocorrer um aumento de 2 a 6x na secreção de aldosterona em consequência da depleção de sódio ou da redução do volume sanguíneo circulante efetivo, como ocorre na ascite. A aldosterona é metabolizada no fígado no derivado tetra-hidroglicuronídeo e excretada na urina. Efeitos específicos A principal função fisiológica da aldosterona consiste em regular o equilíbrio dos minerais (Na+ e K+), especificamente a excreção renal do potássio e a reabsorção de sódio. Os receptores são expressos na parte distal do néfron, incluindo o túbulo contorcido distal e o ducto coletor. Os efeitos específicos consistem em: Aumentar a síntese dos canais de sódio na membrana apical Aumentar a síntese e a atividade da ATPase na membrana basolateral O aumento da reabsorção de sódio leva a um aumento da reabsorção de água. MAPA MENTAL- MINERALOCORTICOIDES Síntese e liberação Zona glomerulosa: - Aldosterorna Liberada com a da volemia Regulação: Angiotensina II, K+ e ACTH Angiotensina II: - Liberação de arginina vaso pressina - Estimula células adrenocorticais - Vasoconstricção arteriolar direta Metabolismo Depleção de Na+ Liberação de aldosterona: metabolização no fígado Aldosterona: - Regula o equilíbrio dos minerais - Excreção de K+ - Reabsorção de Na+ ↑ reabsorção de água Aumenta síntese de canais de Na+: ↑ síntese e atividade da TPase ANDROGÊNIOS Síntese e liberação A 3ª classe produzida na zona reticular é constituída de androgênios como o DHEA e o DHEAS. O DHEA é o hormônio circulante abundante no corpo, facilmente conjugado a seu éster sulfato DHEAS. Sua produção é controlada pelo ACTH. Metabolismo Os androgênios são convertidos em androstenediona e a seguir em androgênios ou estrogênios potentes nos tecidos periféricos. A importância dos androgênios derivados das glândulas suprarrenais na produção global dos hormônios esteroides sexuais é ressaltada pelo fato de que cerca de 50% dos androgênios totais na próstata do homem adulto derivam de precursores esteroides suprarrenais. Os valores de DHEA E DHEAS diminuem conforme o aumento da idade, resultando em uma drástica redução na formação de androgênios e estrogênios. 5 Felipe Altimari Efeitos específicos Sua importância é evidente na hiperplasia suprarrenal congênita associada às deficiências de 21 hidroxilase ou de 11β-hidroxilase. Nas mulheres, os androgênios suprarrenais podem contribuir para a libido. Os conhecimentos atuais indicam que a presença de baixos níveis de DHEA está associada à doença cardiovascular nos homens e ao risco aumentado de cânceres de mama e de ovário em mulheres na pré menopausa. Por outro lado, os níveis elevados de DHEA podem aumentar o risco de câncer de mama após a menopausa. MAPA MENTAL- ANDROGÊNIOS Síntese e liberação Zona reticular: DHEA e DHEAS Produção controlada pelo ACTH DHEA é o hormônio circulante conjugado seu éster sulfatado Metabolismo Valores de DHEA e DHEAS diminuem com a idade Androgênios convertidos em androstenediona – estrogênios potentes Efeitos específicos Baixos níveis de DHEA: doença ♥ vascular (H) Hiperplasia suprarrenal congênita: deficiência de 21-hidroxilase ou de 11β-hidroxilase Mulheres: contribuem para a libido Hormônios da medula suprarrenal A medula pode ser considerada um gânglio do SN simpático, que, em resposta à estimulação dos neurônios simpáticos pré-ganglionares, à liberação de acetilcolina e a sua ligação a um receptor colinérgico nas células cromafins, estimula a produção e a liberação de catecolaminas. Ela é extremamente vascularizada e consiste em grandes células cromafins dispostas em uma rede. É constituída por dois tipos celulares denominados feocromócitos (células produtoras de adrenalina e noradrenalina). Sintetizam e secretam a adrenalina, noradrenalina e a dopamina. As catecolaminas são hormônios derivados de um aminoácido, sendo sintetizadas a partir do aminoácido tirosina. A tirosina é transportada ativamente nas células onde sofre 4 reações enzimáticas para sua conversão em adrenalina. A conversão da noradrenalina em adrenalina ocorre no citoplasma e, portanto, querer a saída da noradrenalina nos grânulos secretorespor um mecanismo de transporte passivo. A adrenalina produzida deve penetrar novamente nas vesículas secretoras por transporte ativo impulsionado pelo trifosfato de adenosina (ATP). No citoplasma, a adrenalina é convertida em metanefrina, e a noradrenalina, em normetanefrina. Figura 2. As catecolaminas adrenalina (Epi) e noradrenalina (Norepi) são sintetizadas nas células cromafins da medula suprarrenal, em resposta à liberação de acetilcolina (ACh) pelos neurônios pré-ganglionares do SN simpático. Liberação de catecolaminas: A liberação representa uma resposta direta à estimulação nervosa simpática da medula suprarrenal. A acetilcolina liberada liga-se a R colinérgicos nicotínicos (canais iônicos regulados por ligantes) na membrana plasmática das células cromafins, levando ao influxo de Na+ e despolarização da membrana celular. Essa despolarização das células leva ao influxo de Ca+ regulados por voltagem. O influxo de Ca+ desencadeia o processo de exocitose dos grânulos secretores, que liberam as catecolaminas no espaço intersticial, a partir do qual são transportadas na circulação até os órgãos-alvo. Transporte e metabolismo das catecolaminas: A meia- vida das catecolaminas circulantes é curta (<2min). A maior parte das liberadas circula ligada à albumina com baixa afinidade. As catecolaminas circulantes podem sofrer recaptação por locais extraneuronais, degradação nas células-alvo pela catecolamina-O-metiltransferase (COMT) ou pela monoaminoxidase (MAO) ou filtração direta na urina. A MAO catalisa a primeira etapa de desaminação oxidativa das catecolaminas. A COMT catalisa a conversão da adrenalina e da noradrenalina em metanefrina e normetanefrina. A ação conjunta da MAO, da COMT e do aldeído-desidrogenase sobre a noradrenalina e a adrenalina, produz o ácido vanililmandélico (VMA). A dopamina metabolizada por essa vida produz o ácido homovanílico. Efeitos celulares nos órgãos-alvo: As catecolaminas não atravessam facilmente a BHE, as catecolaminas liberadas exercem seus efeitos exclusivamente nos tecidos periféricos, e não no cérebro. Os receptores adrenérgicos são classificados em predominantemente estimuladores (α) ou em predominantemente inibitórios (β). MAPA MENTAL- CATECOLAMINAS (Derivados de Tirosina) Liberação - Estimulação simpática - Sintetizadas na cél cromafins da medula suprarrenal - Liberação de acetilcolina Influxo de cálcio e exocitose dos granulos Transporte e metabolismo Meia vida curta: a maior parte circula ligada a albumina Efeitos celulares Não atravessam facilmente a BHE Efeitos nos tecidos periféricos: receptores estimuladores e inibitórios 6 Felipe Altimari Receptores α-adrenérgicos Os receptores alfa-adrenérgicos exibem maior afinidade pela adrenalina do que noradrenalina. Eles são subdivididos em α-1 e α-2. Os R α-1 desempenha um importante papel na regulação de diversos processos fisiológicos, incluindo a contratilidade do miocárdio, o efeito cronotrófico (aceleração do ritmo cardíaco) e o metabolismo hepático da glicose. Os R α-2 foram caracterizados como pré-sinápticos, atuando na regulação da liberação de noradrenalina. Todavia, também estão envolvidos em funções pré sinápticas e desempenham um papel na homeostasia da PA. Receptores β-adrenérgicos Os receptores β-adrenérgicos foram classificados em β1, β2 e β3. Eles exibem maior afinidade pelo isoproterenol do que pela adrenalina ou noradrenalina. O receptor β1 desempenha papel importante na regulação da contração e do relaxamento dos miócitos cardíacos. O receptor β2 modula funções como vasodiltação, relaxamento do músculo liso brônquico e lipólise. O receptor β3 regula a termogênese e lipólise estimuladas pelas catecolaminas. Tabela 1. Efeitos fisiológicos das catecolaminas. MEDIADOS PELOS RECEPTORES α- ADRENÉRGICOS MEDIADOS PELOS RECEPTORES ẞ- ADRENÉRGICOS Vasoconstrição Vasodilatação Dilatação da Íris Cardioaceleração Relaxamento intestinal ↑ da força do miocárdio Contração dos esfíncteres intestinais Relaxamento das paredes intestinal e vesical Contração pilomotora Relaxamento do útero Contração do esfíncter vesical Broncodilatação Broncoconstrição Calorigênese Contração do ML uterino Glicogenólise Contratilidade cardíaca Lipólise Produção hepática de glicose ↑ da liberação de renina da liberação de insulina ↑ da liberação de glucagon Efeitos fisiológicos das catecolaminas A liberação das catecolaminas são fundamentais na resposta de estresse a uma agressão física ou psicológica, como perda grave de sangue, diminuição do nível de glicemia, lesão traumática, intervenção traumática, cirúrgica ou experiência desagradável. Seus efeitos fisiológicos consistem em alerta, dilatação das pupilas, piloereção, sudorese, dilatação brônquica, taquicardia, inibição da atividade do ML e constrição dos esfíncteres no trato gastrintestinal. As catecolaminas asseguram a mobilização de substrato do fígado, do músculo e da gordura, estimulando a degradação do glicogênio (glicogenólise) e da gordura (lipólise). Alguns dos efeitos mais importantes das catecolaminas são exercidos no sistema cardiovascular, onde ↑ FC (taquicardia), produzem vasoconstrição periférica e elevam a resistência vascular. SUPRARRENAL (EIXO HIPOTÁLAMO-HIPÓFISE-ADRENAL) O córtex suprarrenal e a medula suprarrenal são diferentes do ponto de vista estrutural e funcional. A medula suprarrenal secreta hormônios catecolaminas, que complementam o SN simpático na reação de “luta ou fuga”. O córtex suprarenal secreta hormônios esteroides que participam da regulação do equilíbrio mineral e energético. As glândulas suprarrenais são órgãos pareados localizados nos pólos superiores dos rins. Cada supra-renal é constituída por um córtex externo e por uma medula interna que atuam como glândulas separadas. Como consequências de sua origem embrionária, a medula suprarrenal secreta hormônios catecolaminas (sobretudo a adrenalina, e uma quantidade de noradrenalina) na corrente sanguínea em resposta à estimulação pelas fibras nervosas simpáticas préganglionares. O córtex suprarrenal não recebe inervação neural e, por essa razão, deve ser estimulado por hormônios (pelo ACTH secretado da hipófise anterior). O córtex constitui-se de três zonas: zona glomerulosa externa, zona fasciculada média e zona reticular interna. Funções do Córtex Suprarenal O córtex suprarenal secreta hormônios esteróides denominados corticóides. Existem três categorias funcionais de corticosteróides: Os mineralocorticóides, que regulam o equilíbrio do Na+ e do K+; A aldosterona é o mineralocorticóide mais potente. Os mineralocorticóides são produzidos na zona glomerulosa e estimulam os rins a reter Na+, Cl e água e a excretar K+ na urina. Essas ações ajudam a ↑ volemia e a PA, e a regular o equilíbrio eletrolítico do sangue. Os glicocorticóides, que regulam o metabolismo da glicose e de outras moléculas orgânicas O glicocorticóide predominante nos humanos é o cortisol (hidrocortisona), o qual é secretado pela zona fasciculada e pela zona reticular. A secreção do cortisol é estimulada pelo ACTH da hipófise anterior. O cortisol e outros glicocorticóides exercem muitos efeitos sobre o metabolismo. Eles estimulam a gliconeogênesse (produção de glicose a partir de aminoácidos e do ácido lático); inibem a utilização da glicose, ajudando a elevar a sua concentração sérica; e promovem a lipólise (decomposição de gorduras) e a consequentemente liberação de ácidos graxos livres no sangue. Glicocorticóides exógenos (sob a forma de comprimidos, injeções, sprays ou cremes tópicos) são utilizados clinicamente para suprimir a resposta imune e inibir a 7 Felipe Altimari inflamação. Por essa razão, essas drogas são muito úteis no tratamento de doenças inflamatórias como a asma e a artritereumatóide. Como poderia se prever, baseando-se em suas ações metabólicas, os efeitos colaterais dos glicocorticóides incluem a hiperglicemia e a da tolerância à glicose. Outros efeitos colaterais negativos incluem a redução da síntese de colágeno e de outras proteínas da matriz extracelular e o aumento da reabsorção óssea, levando à osteoporose. Os esteróides sexuais, androgênios fracos (incluindo a desidroepiandrosterona ou DHEA) que suplementam os esteróides sexuais secretados pelas gônadas. Fig. Ativação do eixo hipofisário-suprarenal por um estresse inespecífico. O controle por retroalimentação negativa do córtex suprarrenal. Funções da Medula Supra-renal As células da medula suprarrenal secretam adrenalina e noradrenalina numa proporção aproximada de 4 para 1, respectivamente. Os efeitos das catecolaminas são similares aos causados pela estimulação do SN simpático, exceto pelo fato do efeito hormonal durar 10 vezes mais. Os hormônios da medula suprarrenal ↑ DC e a FC, dilatam os vasos sanguíneos coronarianos, aumentam o estado de alerta mental e a FR e elevam a taxa metabólica. A medula suprarrenal é inervada por axônios simpáticos pré-ganglionares e secreta seus hormônios sempre que o SN simpático é ativado durante uma resposta de “luta ou fuga”. Esses efeitos simpáticos suprarrenais são suportados pelas ações metabólicas da adrenalina e da noradrenalina, causando: ↑ da glicemia devido à estimulação da glicogenólise hepática (decomposição do glicogênio), e elevação da concentração de ácidos graxos no sangue em razão do estimulo à lipólise (decomposição de gorduras). ESTRESSE E AS SUPRA-RENAIS Segundo Selye, o estresse é a reação de um organismo a estimulo denominados estressores, os quais podem produzir efeitos deletérios. O padrão de alterações por ele observado representava uma resposta especifica a qualquer agente estressante. Posteriormente, descobriu-se que os estressores produziam esses efeitos porque estimulavam o eixo hipotálamo-suprarenal. Sob condições estressantes, ocorre aumento da secreção de ACTH da hipófise anterior e, por conseguinte, há aumento da secreção de glicocorticóides pelo córtex suprarenal. A partir disso, Selye afirmou que existe “uma resposta inespecífica do organismo para reajustar-se após 8 Felipe Altimari qualquer demanda imposta”. Em resposta às demandas dos estressores, ocorre elevação da concentração plasmática de glicocorticoides. Selye denominou essa resposta inespecífica de síndrome da adaptação geral (SAG). Em outras palavras, o estresse produz a SAG. A resposta ao estresse possui 3 estágios: 1. A reação de alarme, quando as suprarrenais são ativadas; 2. O estágio de resistência, em que ocorre o reajuste; e 3. O estágio de exaustão, quando o reajuste não é completo, podendo levar à doença e, possivelmente, à morte. Essas investigações demonstram que o sistema simpático-suprarenal é ativado, aumentando a secreção de adrenalina e noradrenalina, em resposta a estressores que desafiam o organismo a responder fisicamente. Contudo, diferentes emoções são acompanhadas por diferentes respostas endócrinas. O eixo hipófise-suprarenal, com a elevação da concentração dos glicocorticoides, torna-se mais ativo quando o estresse é de natureza crônica e quando a pessoa é mais passiva e sente que possui um controle menor. Eixo: Estimulação de neurônios hipotalâmicos induz a liberação de hormônio coticotrófico (CRH) na hipófise que libera na corrente sanguínea o hormônio ACTH. Estes agindo em receptores acoplados à proteína G estimula a síntese e liberação de cortisol e pequenas quantidades de andrógenos. O cortisol atuando sobre o hipotálamo e hipófise anterior inibe a liberação de ACTH. A este mecanismo de controle é dado o nome de retroalimentação negativa. Pense que forma inteligente de controle – quando tem muito cortisol – é passada a informação para produzir menos. O rompimento deste controle significa um estado patológico. O córtex da adrenal é formado por 3 zonas concêntricas – reticular, fasciculata e glomerulosa. Na primeira, são sintetizados os andrógenos; na segunda, o cortisol; e na terceira, a mais externa, o mineralocorticoide aldosterona. Esta, na realidade, é a fonte de andrógenos das mulheres. A medula pertence ao SN simpático e sintetiza e libera catecolaminas – adrenalina e noradrenalina. A intermediária compõe a maior parte do córtex, suas células formam colunas e estão repletas de gotículas de lipídeos (colesterol). É nesta camada que é sintetizado o cortisol. A camada reticular contém células que se dispõe irregularmente e são pobres em lipídeos – é nesta camada que são sintetizados os andrógenos. O controle de síntese e liberação de cortisol é realizado pelo SNC – quer por uma via neural direta, quer por uma via hormonal, ativando o Eixo Hipotálamo-Hipófise-Adrenal. A ativação neural está ligada ao processo do despertar, enquanto a via hormonal está ligada ao controle do estresse. O pico de cortisol gerado pela ativação simpática é breve, enquanto o pico de cortisol gerado pelo eixo Hipotálamo-Hipófise-Adrenal é mais longo. Neste caso, o CRF (fator de liberação de corticotrofina) é liberado pelo hipotálamo a partir do núcleo paraventricular. Este peptídeo, de 41 aminoácidos, atua como liberador de ACTH e βendorfina. O ACTH atua sobre a zona fasciculata da adrenal, levando à liberação de cortisol. Finalmente, o cortisol, atuando sobre o SNC, diminui a liberação de CRF, e inibe a síntese de ACTH quando atua diretamente na hipófise. Portanto, a administração de altas concentrações de medicamentos que contêm cortisol leva a uma inibição da função adrenal. A este processo de controle dá-se o nome de retroalimentação negativa. Em circunstâncias fisiológicas, ou seja, quando o indivíduo não está exposto a situações de estresse, a secreção do cortisol é regulada pelo ciclo circadiano. Ao longo do dia, o cortisol apresenta concentrações elevadas pela manhã, com pico 30 minutos após acordar, seguindo com queda progressiva no restante do dia e concentrações mais baixas no começo da noite. Este padrão típico de secreção é fundamental para o funcionamento dos demais sistemas do organismo. Figura 5. Concentrações sanguíneas de cortisol ao longo do dia. O cortisol tem efeitos genômicos e não genômicos, controlando humor, resposta imunológica, metabolismo de carboidratos, lipídios e proteico. Altera de forma importante o metabolismo ósseo e concentrações altas estão associadas à osteoporose. Os glicocorticoides também aumentam a função cardíaca e o tônus vascular periférico. Este é o hormônio do alerta, do estresse e da defesa, tendo, portanto, efeito sobre diferentes funções biológicas. A adrenal também é controlada pelo SN Simpático. Todo o circuito é neural e a medula da adrenal, que produz o hormônio adrenalina, funciona como um grande gânglio autonômico. Este é um circuito importante, que prepara os animais para acordar. Todo o organismo é aquecido e energizado, para que o despertar seja confortável e revigorante. 9 Felipe Altimari INSUFICIÊNCIA ADRENAL DEFINIÇÃO A insuficiência adrenal é uma síndrome clínica decorrente da deficiência de produção de cortisol. Pode ser classificada em primária ou secundária de acordo sua origem. 1ªria (adrenal) A insuficiência adrenal primária ocasiona a deficiência de glicocorticoides, mineralocorticoides e andrógenos, oriunda de patologias que destroem o córtex adrenal, que alteram o seu desenvolvimento ou que interferem na síntese de esteroides adrenais, determinando um déficit em todos os seus hormônios (mineralocorticoides, glicocorticoides e androgênios). Nesses casos o ACTH encontra-se elevado (pois não há produção de cortisol para fazer o feedback –). A doença primaria autoimune é conhecida como doença de Addison (DA), para que a DA manifeste-seclinicamente é preciso que pelo menos 90% do tecido adrenocortical seja destruído 2ªria Na insuficiência adrenal secundária, a deficiência é apenas de glicocorticoides e ocorre devido uma produção reduzida do hormônio adrenocorticotrófico (ACTH), resultante de uma patologia hipofisária ou hipotalâmica (com do CRH). A deficiência crônica de ACTH decorre principalmente de sua supressão pelo uso crônico de corticoides, resultando em atrofia dos córtices adrenais, sobretudo da camada fasciculada e reticulada. A aldosterona (zona glomerulosa) é regulada principalmente pelo SRAA, por isso não sofre influencias nesses patologias FISIOLOGIA O córtex da glândula suprarrenal produz três classes de hormônios corticosteroides: os glicocorticoides (cortisol), os mineralocorticoides (aldosterona) e os precursores androgênicos suprarrenais (desidroepiandrosterona- DHEA). Os glicocorticoides e os mineralocorticoides atuam por meio de receptores nucleares específicos, que regulam aspectos da resposta fisiológica ao estresse, bem como a PA e a homeostase dos eletrólitos. Já os precursores androgênicos suprarrenais são convertidos nas gônadas e nas células-alvo periféricas em esteroides sexuais, que atuam por meio de receptores nucleares de androgênios e de estrogênios. Figura 1. Zonas da glândula suprarrenal. Fonte: Guyton & Hall. 13. Ed. 2017. O córtex da adrenal apresenta três camadas distintas. A zona glomerulosa é constituída por uma camada de células localizadas imediatamente abaixo da cápsula que envolve a adrenal. Essas células são capazes de secretar quantidade significativa de aldosterona. A zona fasciculada é a camada do meio e a mais larga. Ela secreta os glicocorticoides cortisol e corticosterona principalmente. A camada mais profunda é a zona reticular, responsável pela secreção dos androgênios adrenais DHEA e androstenediona. A produção dos glicocorticoides e dos androgênios suprarrenais encontra-se sob o controle do eixo hipotálamo hipófise-suprarrenal (HHSR), enquanto os mineralocorticoides são regulados pelo SRAA. A síntese de glicocorticoides é controlada de maneira inibitória por meio de retroalimentação do hipotálamo e da hipófise. A liberação hipotalâmica do hormônio de liberação da corticotrofina (CRH) ocorre em resposta ao estresse endógeno ou exógeno. O CRH estimula a clivagem da pró-opiomelanocortina (POMC) por enzima específica, o que resulta na produção do hormônio adrenocorticotrófico (ACTH). O ACTH é, então, liberado pelas células corticotróficas da adeno-hipófise e atua como regulador central da síntese de cortisol, com efeitos adicionais de curto prazo sobre a síntese de mineralocorticoides e de androgênios suprarrenais. A liberação de CRH e, subsequentemente, de ACTH, ocorre de modo pulsátil, seguindo o ritmo circadiano sob controle do hipotálamo, mais especificamente de seu núcleo supraquiasmático (NSQ), com regulação adicional por uma rede de genes circadianos específicos de suas células. Refletindo o padrão de secreção do ACTH, a secreção suprarrenal de cortisol exibe um ritmo circadiano distinto, com níveis máximos pela manhã e baixos no final da tarde. 10 Felipe Altimari Figura 2. Fisiologia do Eixo hipotálamo-hipófise-suprarrenal. EPIDEMIOLOGIA A insuficiência adrenal primária (40% dos casos) possui prevalência estimada entre 100 a 140 casos por 1 milhão de habitantes e incidência de 4 por milhão ao ano, sendo considerada uma condição incomum. É predominante no sexo feminino, na proporção de 2,6:1, sendo habitualmente diagnosticada entre a 3ª e a 5ª década de vida. Apesar de incomum, deve-se estar atento ao seu diagnóstico, já que se trata de uma condição potencialmente fatal, cujos sintomas são geralmente inespecíficos e frequentemente encontrados em outras condições comuns, como infecções virais, fadiga crônica e depressão. Já a insuficiência adrenal secundária corresponde a 60% dos casos, apresentando uma prevalência de 150 a 280 casos por milhão. É mais comum seu diagnóstico na 6ª década de vida. ETIOLOGIA A insuficiência adrenal primária é mais comumente causada por adrenalite autoimune. A adrenalite autoimune isolada (Doença de Addison) responde por 30 a 40% dos casos, enquanto 60 a 70% desenvolvem insuficiência adrenal como parte das síndromes poliglandulares autoimunes (SPA). Duas SPA são particularmente importantes nesse contexto. A síndromes poliglandulares autoimunes (SPA) do tipo 1 é herdada como padrão autossômico recessivo e resulta de mutações no gene AIRE. É uma síndrome rara, manifestando-se, habitualmente na infância (90% dos casos), porém também pode ocorre na vida adulta (10% dos casos). A proporção varia entre 0,8:1 Mulheres a 2,4:1 Homens e podem ocorrer de forma esporádica ou familial. Também é denominada poliendocrinopatia autoimune candidíase-distrofia ectodérmica (APECED), uma vez que caracteriza-se pela tríade de hipoparatireoidismo (HPT), Doença de Addison (DA) e candidíase mucocutânea crônica (CMC), além de ceratoconjuntivite, distrofia ungueal e formação defeituosa do esmalte dentário. A candidíase é a manifestação inicial na maioria das vezes. Outras manifestações autoimunes vistas na SPA-1 são hipogonadismo primário, doenças tireoidianas, DM 1, anemia perniciosa, hepatite crônica ativa, síndrome de má absorção, queratite e lipodistrofia generalizada. A síndromes poliglandulares autoimunes (SPA) do tipo 2, também conhecida como síndrome de Schmidt, é herdada de forma autossômica dominante, com penetrância incompleta, acompanhada de outras condições auto- imunes: Aplótipos associados HLA DR3 e DR$ Insuficiência suprarrenal Associação do tireoidite de Hashimoto, DM 1 e falência ovariana precoce, Tem prevalência de 1,4 a 2,0 por 100.000 habitantes e predomina do sexo feminino na proporção de 2 a 3,7: 1. Ocorre sobretudo em adultos em geral entre 20 a 40 anos, sendo rara na infância. Os três principais componentes são Doença Addison (DA) (ocorrem em 100% dos casos), doença autoimune tireoidiana (DAT) (75 a 83% dos casos) e DM 1 (28 a 50% dos casos). Esses distúrbios tendem a se manifestar em uma ordem específica. O DM1 geralmente precede a Doença de Addison, enquanto a tireoidite de Hashimoto, ou menos comumente, a doença de Graves (DAT) desenvolve-se, antes, concomitante ou após a Doença de Addison. A Falência na produção hormonal na insuficiência adrenal primária também pode ocorrer por: Hiperplasia suprarrenal congênita Ausência da enzima C-21- hidroxilase (faz parte da via do cortisol), logo há carência de cortisol e ↑ do ACTH. Porém, como as outras camadas continuam funcionantes, o ACTH acaba por hiperestimula a zona reticula a produzir androgênios, determinando sinais de viralização em crianças. – é a causa mais comum de Doença de Addison. Ainda sobre a insuficiência adrenal primária vale a pena destacar as etiologias infecciosas, tais como: tuberculose, infecções fúngicas como histoplasmose, paracoccidioidomicose, coccidioidomicose e criptococose, além de infecção por citomegalovírus. A tuberculosa constitui, de modo geral, a 2ª causa mais comum de Doença de Addison de causa infecciosa. Apesar disso, na região sudeste, sul e centro-oeste do Brasil são áreas endêmicas para paracoccidioidomicose, portanto deve-se atentar a esse fato quando se considera causas de insuficiência adrenal primária nessas regiões. Outra importante etiologia infecciosa é a síndrome da imunodeficiência adquirida (SIDA) em que as adrenais são as glândulas endócrina mais afetadas. Os principais fatores que podem levar à insuficiência adrenal, por hemorragia ou por trombose da veia renal, são meningoccemia, coagulação intravascular 11 Felipe Altimari disseminada (CIVD), síndrome do anticorpo antifosfolípide e trauma ao nascimento. Quando há choque séptico causado por infecção por meningococo configurar-se a síndrome deWaterhouse-Friderichsen (Hemorragia bilateral/uso de anticoagulantes). Drogas que inibem a síntese dos esteroides adrenais, como metirapona, mitotano, cetoconazol, etomidato ou drogas que aumentam a depuração do glicocorticoide, como rifampicina, fenitoína e fenobarbital podem causar insuficiência adrenal primária. No entanto, isso só ocorrerá se administradas doses elevadas ou na presença de disfunção adrenal parcial devido à patologia adrenal subjacente. Neoplasias de mama e pulmão são as que mais frequentemente produzem metástases nas adrenais (até 70% dos casos). Porém, linfomas, melanoma, neoplasias de estômago, colón e rim também podem acometer as adrenais e causar insuficiência adrenal primária quando o comprometimento é extenso e bilateral. Doenças genéticas como adrenoleucodistrofia, hipoplasia adrenal congênita e hiperplasia adrenal congênita também podem ser importantes etiologias no contexto da insuficiência adrenal primária. Insuficiência adrenal primária Síndromes poliglandulares autoimunes (SPA) do tipo 1 Autossômica recessiva Candidíase mucocutânea crônica DA hipoparatireoidismo (HPT) Adrenalite autoimune isolada (DA) Doenças genéticas Adrenoleucodistrofia Hipo/Hiperplasia adrenal congênita Síndromes poliglandulares autoimunes (SPA) do tipo 2 Autossômica dominante DM1 DAT: Tireoidite de Hashimoto; Doença de Graves DA Infecciosa Tuberculose Paracoccidioidomicose Histoplasmose Criptococose Citomegalovírus SIDA Hemorragia /trombose Menincoccemia Coagulação intravascular disseminada (CIVD) Sd. do AC antifosfolipide Trauma ao nascimento Drogas Metirapona Mitotano Cetoconazol Rifampicina Fenitoína Neoplasias Mama/pulmão Linfoma/melanoma TB: pode causar a DA quando ocorre disseminação hematogênica durante uma infecção ativa, onde a medula da adrenal é destruída (comumente a região do córtex), por motivos desconhecido. Nesse processo as glândulas ficam aumentadas por conta do infiltrado celular inflamatório, além dos granulomas que são formados na infecção inicialmente. Com o tempo, nódulos caseosos e tecido fibrótico começam a substituir o tecido glandular normal. Se a infecção for tratada, há chance recuperação da função adrenal. Paracoccidiodomicose: é outra causa infecciosa importante em áreas endêmicas na América do Sul. É uma micose progressiva de pele, mucosa, linfonodos e órgãos internos causada por Paracoccidioides brasiliensis. Nessa condição a glândula se torna aumentada e com áreas de calcificações. O retorno da função adrenal pode ocorrer com o TTO com antifúngico. Considerando a insuficiência adrenal secundária, a suspensão abrupta do uso crônico de glicocorticoides exógenos é a principal etiologia. O uso prolongado de glicocorticoides inibe o eixo HHSR com consequente atrofia adrenal. Isso geralmente ocorre em indivíduos que ingeriram doses elevadas de glicocorticoide, como por exemplo 30 mg de prednisona ou equivalente por mais de 3 semanas. Outras causas de insuficiência secundária incluem tumores de hipófise e hipotálamo, cirurgia e irradiação de hipófise, apoplexia hipofisária, doenças granulomatosas, como tuberculose e sarcoidose, hipofisite linfocítica e síndrome de Sheehan – necrose hipofisária pós-parto. Principais etiologias da insuficiência adrenal secundária Iatrogênica: glicocorticoterapia (causa mais comum) Doenças granulomatosas (Tuberculosse, Sarcoidose) Tumores de hipófise e hipotálamo Cirurgia e irradiação de hipófise Hipofisite linfocítica Apoplexia hipofisária Síndrome de Sheehan Insuficiência adrenal primária (doença de Addison) 1- Destruição anatômica da glandula: - Atrofia adrenal idiopática: adrenalite auto-imune (associada ou não à síndrome poliglandular) - Infecções: Tuberculose, Paracoccidioidomicose, Histoplasmose, Criptococose, infecções virais – Citomegalovírus na AIDS. - Doenças infiltrativo-neoplásicas: metástases (Mama, pulmão, rim), Linfoma, melanoma - Doenças infiltrativo-metabólicas: amiloidose e hemocromatose - Hemorragia adrenal: trauma, cirurgia, uso de antigoagulantes, Sd. do AC antifosfolipide priméria, sepse, metástase, etc. - Remoção cirúrgica: adrenalectomia bilateral 2-Falência metabólica da produção Hormonal - Hiperplasia suprarrenal congênita - Inibidores enzimáticos (metirapona, cetoconazol, aminoglutetimida, etomidato) - Agentes citotóxicos 3- AC antirreceptores do ACTH 4- Mutação no gene do R ACTH 5-Causas genéticas hipoplasia adrenal congênita, adrenoleucodistrofia, Sd. Kearms-Sayre, Sd, de Smith-Lemil-Opitz Insuficiência adrenal primária Secundária 1-Supressão do Eixo Hipotálamo-hipofisário (Uso de glicocorticoides exógenos) 2-Hipopituitarismo - Congênito - Adquirido (Sd. de Sheehan, tumores hipofisários e hipotalâmicos, apoplexia hipofisária, hipósfisite linfocítica, etc) 12 Felipe Altimari FISIOPATOLOGIA A fisiopatologia da insuficiência adrenal primária é marcada por destruição de mais de 90% do córtex da adrenal, cursando com queda de glicocorticoides, mineralocorticoides e andrógenos. Pela falta do feedback destes hormônios com seus reguladores, ocorre consequente ↑ do ACTH e da renina na tentativa de estimular a produção adrenal de cortisol e aldosterona, respectivamente. O déficit de aldosterona ainda reflete sobre a retenção de K+ e excreção de Na+. Efeitos patológicos de podem ocasionar hipercalemia grave e depleção de fluidos. Figura 4. Fisiopatologia da insuficiência adrenal. Na insuficiência adrenal secundária há a redução da produção de ACTH e/ou de hormônio liberador de corticotrofina (CRH) devido a patologias do eixo hipotálamo- hipofisário, que são frequentemente associadas ao uso crônico de glicocorticoides. O déficit crônico de ACTH gera atrofia das camadas fasciculada (produtoras de cortisol) e reticulada (produtora de andrógenos), mas a camada glomerulosa (produtora de aldosterona), por estar sob o comando principal do SRAA e não do ACTH, se mantém intacta. Observam-se, geralmente, baixos níveis de cortisol e DHEA, com renina e aldosterona normais nos casos de insuficiência adrenal secundária. Obs: O setor mineralocorticóide é preservado na ISR 2ªária QUADRO CLÍNICO Insuficiência Adrenal Primária Muitas vezes a instalação dessa patologia é crônica, com sintomas inespecíficos, o que ocasiona retardo no diagnóstico. Os sintomas ocorrem, em geral, quando há destruição de mais de 90% da glândula. Inicialmente, ocorre uma resposta anormal às situações de estresse, como na presença de trauma e infecções. Em seguida há uma progressão da destruição do córtex e as manifestações surgem mesmo na ausência de situações de estresse. Os sintomas mais comuns relacionados à deficiência de glicocorticoides são: fadiga, fraqueza, anorexia, perda de peso, tontura, náusea e vômito. Nas mulheres, amenorreia pode estar presente entre as queixas, principalmente se houver perda de peso importante ou associação com ooforite autoimune. A deficiência de mineralocorticoide resulta em hipovolemia, desidratação, hipotensão postural e avidez por sal. Em mulheres, a deficiência de andrógenos provoca diminuição de pelos axilares e pubianos, além de perda de libido. Dentre as manifestações mais específicas de falência adrenal primária está a hiperpigmentação cutânea, ocasionada pelo aumento da concentração plasmática de ACTH e MSH, ambos compostos derivados da molécula de POMC, que possuem afinidade pelo receptor MC1 na pele e estimulam a produção de melanina. Mais frequentemente, a hiperpigmentação é observada em áreas expostas ao sol, nos pontos de pressão, dobras cutâneas e mucosa oral Figura 5. Hiperpigmentação cutânea Insuficiência Adrenal Secundária Diferente da falência primária, as manifestações da insuficiência adrenal secundária não apresentam hiperpigmentação cutaneomucosa, e comonão há deficiência de mineralocorticoide, não se observam depleção de volume, desidratação, avidez por sal e hipercalemia. As manifestações gastrintestinais e a crise adrenal são menos comuns. Podem ser observados sintomas relacionados à deficiência de outros hormônios hipofisários, como LH, FSH, TSH e GH. Insuficiência Adrenal Aguda ou Crise Addisoniana Desde 1929 já se sabia que os extratos do córtex da adrenal são essenciais para a vida, visto que prolongam indefinidamente a sobrevida de pacientes com síndrome de Addison. CONCEITO! A doença de Addison é insidiosa, em geral por hipofunção progressiva do córtex adrenal. Produz vários sintomas, incluindo hipotensão e hiperpigmentação, e pode causar crise adrenal com colapso cardiovascular. O 13 Felipe Altimari diagnóstico é clínico e encontrando altas concentrações de hormônio adrenocorticotrófico (ACTH) e baixas concentrações de cortisol no plasma. O tratamento depende da causa, mas em geral é feito com hidrocortisona e, algumas vezes, outros hormônios. A crise addisoniana é bem mais comum na insuficiência adrenal primária do que na secundária e é considerada uma emergência médica. Pode ser resultado de situações de estresse em pacientes com insuficiência adrenal crônica, na presença ou não de tratamento, ou ainda de acometimento agudo da função adrenal (como nos casos de hemorragia adrenal bilateral relacionada à septicemia, uso de anticoagulantes ou trauma). Caracteriza-se pelo agravamento dos sintomas específicos, como náuseas, vômitos, anorexia, fraqueza, febre e dor abdominal, podendo até simular um quadro de abdome agudo e frequentemente é acompanhada por hipotensão, hipercalemia, convulsões e colapso circulatório. Insuficiência Adrenal 1ªária Deficiência de glicocorticoid e Fadiga Náusea Fraqueza Vômito Perda de peso Hiperpigmentação cutânea Tontura Amenorreia Deficiência de mineralocorti coide Hipovolemia Desidratação Hipotensão postural Hiponatremia Deficiência de androgênios (mulheres) de pelos axilares/pubianos Perda de libido Avidez por sal Secundária Sintomas relacionados à deficiência de outros hormônios hipofisários Crise addisoniana Hipotensão Choque hipovolêmico Dor abdominal Vômito Febre Convulsões por hipoglicemia Resumindo... Deficiência de glicocorticoides: na ausência de cortisol, há formação insuficiente de carboidratos a partir de proteínas, resultando em hipoglicemia e do glicogênio hepático. Assim o paciente apresenta: astenia, mal-estar, náuseas, vômitos, hipotensão, inapetência e perda ponderal (perda ponderal relacionada aos altos níveis de CRH) Deficiência de mineralocorticoides: como os mineralocorticoides estimulam a reabsorção de Na+ e excreção de K+, sua deficiência resulta em ↑ da exceção de Na+ e excreção de K+, principalmente na urina (mas também no suor e TGI). Assim há a manifestação de avidez por sal, hipovolemia, hipotensão, hiponatremia, hipercalemia e acidose metabólica. Deficiência de androgênios adrenais: da pilificação em mulheres. A hiperpigmentação de pele e mucosas é um sinal característico da doença de Addison, isso ocorre porque a do cortisol no sangue resulta em aumento da produção de ACTH pela hipófise e ↑β-lipotrofina, que possui atividades estimulante de melanócitos. Assim na insuficiência adrenal 2ª este sinal não está presente. Nos exames laboratoriais é evidenciada a HIPONATREMIA, hipercalemia, tendência a hipoglicemia, anemia normocítica normocrômica, eosinofilia, basofilia e linfocitose relativa. DIAGNÓSTICO O cortisol sérico basal, coletado entre 8 e 9h, deve ser o 1º exame a ser solicitado. Valores < 3 mg/dL confirmam o diagnóstico de insuficiência adrenal, Assim como valores > 18 mg/dL praticamente excluem este diagnóstico. O valor normal do cortisol sérico é de 5 a 25 mg/dL. No entanto, muitas vezes, o cortisol sérico basal está entre esses valores, o que não permite um diagnóstico conclusivo. Nessa situação, é recomendado o teste de estímulo com ACTH sintético (teste da Cortrosina) SUSPEITA CLÍNICA Colher cortisol entre 7 – 8 horas da manhã Cortisol ≤ 3 μg/dL Diagnóstico de Insuficiência Suprarrenal 3 μg/dL < Cortisol < 18 μg/dL Teste da cortrosina (ACTH sintético) Cortisol ≥ 18 μg/dL Exclui Insuficiência Suprarrenal Os valores do ACTH plasmático na insuficiência adrenal primária estão elevados e usualmente ultrapassam 100 pg/ ml (valor normal de 10 a 60 pg/mL), podendo inclusive estar acima de 4.000 pg/mL. Na insuficiência adrenal secundária, tais valores encontram-se baixos ou no limite inferior da normalidade: < 20 pg/mL. ACTH (cortrosina) 250 μg ou 1 μg Insulina regular 0,05 a 0,15 U/kg Cortisol basal ≤ 3 ug/dL ou estimulado ≤ 18 ug/dL ↓ Glucagon 1 mg ACTH (valor de normalidade: 10 a 60 pg/ml) ↓ ↓ ≥ 100 pg/mL Insuficiência adrenal primária nl/baixo Insuficiência adrenal secundária Teste da Cortrosina: Amostras para dosagens de cortisol sérico são coletadas antes e após administração de 250 mg via IV ou IM de ACTH exógeno, nos tempos 0, 30 ou 60 minutos. Valores de pico de cortisol > a 18 mg/dL indicam função adrenal normal, enquanto Um pico de < 18 mg/dL é indicativo de insuficiência adrenal, porém não discriminado se é primária ou secundária. 14 Felipe Altimari No entanto o teste da Cortrosina não exclui a presença de insuficiência adrenal secundária parcial ou baixa reserva de ACTH. Nesse caso, o teste de tolerância à insulina deve ser realizado se não houver contraindicações clínicas, tais como pacientes com idade avançada, portadores de doença cardiovascular ou epilepsia. Teste de tolerância à insulina: É considerado padrão-ouro para o diagnóstico de insuficiência adrenal secundária de início recente, situação em que o teste da Cortrosina pode apresentar resposta normal. O teste baseia-se no fato de que a hipoglicemia é um potente estimulador do eixo HHSR. Consiste na administração de 0,1 unidade/Kg/IV de insulina regular e dosagens de cortisol nos tempos basal, 60 e 90 minutos. A glicemia deve atingir o valor de 40 mg/dL ou menos para o teste ser considerado efetivo. Considera-se a resposta normal do cortisol um pico > 18 mg/dL. Outros exames: DHEAS: Baixo Aldosterona baixa e renina elevada: insuficiência suprarrenal primária Investigar doenças autoimunes: TSH, T4L, Vitamina B12, Hemograma, Glicemia, Hb glicada Anticorpo anti-21OH: positivo em 85% dos casos de adrenalite autoimune Dosagem de ácidos graxos de cadeia longa: investigar adrenoleudistrofia ECG: é importante complementar durante a investigação de insuficiência adrenal. São comuns alterações devido os distúrbios hidroeletrolíticos. Destacam-se como alterações: a baixa na voltagem, eixo QRS veticalizado e anormalidades inespecíficas do ST. A hipercalemia com K+ a partir de 6 – 6,5 mEq/L leva a um aumento da amplitude e perda da assimetria da onda T (onda T em tenda). Se o nível continuar elevado, pode haver alargamento do intervalo PR e do complexo QRS Diagnóstico diferencial A insuficiência adrenal deve ser diferenciada de todas as condições que produzem hiperpigmentação cutâneas, distúrbios gastrintestinais e fadiga crônica. A hiperpigmentação da hemocromatose não envolve as membranas mucosas e se caracteriza por hemossiderina nas glândulas sudoríparas. A presença de porfiria cutânea tardia é facilmente reconhecida pela grande quantidade de uroporfirina na urina, nas fezes e no plasma. Metais pesados, como zinco e mercúrio, podem pigmentar a margem gengival, mas não causam pigmentação bucal. Anorexia e perda de peso podem simular quadros de anorexia nervosa. TRATAMENTO DA INSUFICIÊNCIA ADRENAL CRÔNICA Reposição de Glicocorticoides O principal objetivo no tratamentoda insuficiência adrenal é tentar mimetizar a nossa produção endógena de glicocorticoides, que consiste em cerca de 5 a 10 mg/m2 de superfície corporal de cortisol ao dia (média de 7 mg/m2 ao dia, geralmente equivalente a algo entre 10 e 25 mg de hidrocortisona/dia). Quando a reposição é feita por via oral, as doses de reposição muitas vezes precisam ser maiores, uma vez que pode haver degradação gástrica do glicocorticoide. Desse modo, dependendo do tipo de glicocorticoide utilizado, e da forma de administração utilizada, as doses podem ser diferentes, variando conforme a área de superfície corporal do paciente. A hidrocortisona é um hormônio estruturalmente igual e com a mesma potência do cortisol, que é o hormônio naturalmente produzido pelo nosso organismo. Muitas vezes, no entanto, pode-se fazer essa reposição com outros tipos de glicocorticoides, ajustando a dose conforme sua potência. Para melhor mimetizar a produção fisiológica, deve-se repor a primeira dose de corticoide sempre ao acordar. Os pacientes costumam ter melhora clínica mais significativa quando a dose é mais fracionada. A alimentação retarda a absorção do corticoide. Por isso, é importante orientar o paciente a toma-lo antes das refeições. Tabela 2. Modos de repor glicocorticide. PARA ADULTOS 1) Prednisona 5 mg ao acordar, associada ou não a uma dose de 2,5 mg às 16 h 2) Hidrocortisona 15 a 25 mg/dia, em 2 ou 3 vezes. Usam-se 20 a 25 mg/dia na insuficiência adrenal primária, e 15 a 20 mg/dia na secundária. Esquemas possíveis: 15/10/5, 15/10/0, 10/10/0, 10/5/5, 10/5/0 3) Acetato de cortisona manipulada 25 a 50 mg/dia. Esquemas possíveis: 25/12,5/12,5, 25/12, 5/0, 12,5/12,5/0 4) Dexametasona 0,5 mg 1 vez/dia PARA CRIANÇAS 1) Prednisolona 3 a 5 mg/m2/dia VO 2) Hidrocortisona 7 a 12 mg/m2/dia IM ou IV ou 10 a 24 mg/m2/dia VO 3) Acetato de cortisona 9 a 16 mg/m2/dia IM ou IV ou 13,5 a 32 mg/m2/dia VO 4) Dexametasona 0,5 mg/m2/dia VO. Seguimento Clínico Deve-se atentar para sinais e sintomas de hipercortisolismo (aumento do peso, estrias, fácies cushingoide, DM, HAS, equimoses, osteoporose). Pode- se tentar obter medidas de curva de cortisol (p. ex., 8 h, 12 h, 18 h) e cortisol urinário 24 h para verificar se a reposição está sendo excessiva Procura-se manter ACTH < 80 mg/ dℓ Monitora-se densitometria óssea pelo menos a cada 2 anos 15 Felipe Altimari Observa-se se não há sintomas de déficit de hormônio, como todos os sinais e sintomas de insuficiência adrenal. Reposição de mineralocorticoides A reposição de mineralocorticoide é necessária apenas na insuficiência adrenal primária. Pode-se administrar fludrocortisona 25 a 200 μg/dia, iniciando-se com 50 a 100 μg/dia e ajustando-se a dose de 50/50 μg até encontrar a dose adequada. Seguimento Clínico Observa-se a PA. Hipertensão sugere dose excessiva, e hipotensão postural, com queda > 20 mmHg na PAS ou > 10 mmHg na PAD, sugere dose insuficiente. A avidez por sal sugere necessidade de aumentar a dose. Sódio e potássio devem se manter normais; na falta de mineralocorticoide ocorre queda do sódio e aumento do potássio. Edema pode indicar dose excessiva de mineralocorticoide. O ideal é manter a Atividade Plasmática de Renina (APR) < 5 ng/mℓ/h em pé. Valores maiores podem indicar dose insuficiente de mineralocorticoide. Em situações em que o paciente esteja usando dose equivalente a ≥ 50 mg/dia de hidrocortisona, a reposição de mineralocorticoide torna-se desnecessária, pois o glicocorticoide nessa dose passa a ter efeito no receptor de mineralocorticoide - Dexametasona e β-metasona não têm, atividade mineralocorticoide. Reposição de androgênios A reposição de andrógenos pode ser considerada em pacientes com má qualidade de vida, humor deprimido, pouca libido e pele seca. Parece ajudar em humor, depressão, hostilidade, bem-estar, cognição, memória, libido, pensamentos, desejos e satisfação sexual. A reposição pode ser feita com DHEA 25 a 100 mg, via oral (VO) 1 vez/dia. Geralmente a dose é de 50 mg/dia. Não está disponível no Brasil, mas pode ser importada dos EUA. É importante manter DHEA, s-DHEA 24 h após a última dose, testosterona (somente em mulheres), androstenediona e globulina ligadora do hormônio sexual (SHBG) dentro do limite da normalidade. Os principais efeitos colaterais da reposição de DHEA são acne, oleosidade, sudorese, aumento de transaminases, pilificação facial, axilar e pubiana, calvície, ganho de peso, rash, aumento de hematócrito, insônia e mastalgia. TRATAMENTO DA INSUFICIÊNCIA ADRENAL AGUDA (CRISE ADDISONIANA) A crise adrenal é uma condição grave e potencialmente fatal. Portanto, o início do tratamento não deve ser adiado para realização de testes diagnósticos, os quais poderão ser feitos após a estabilização do quadro. Veja abaixo as principais condutas: Tabela 4. TTO da crise addisoniana HIDRATAÇÃO COM SOLUÇÃO SALINA Hidrocortisona 100 mg IV, seguida de 25 a 50 mg IV 6/6 h (150 mg/dia) Correção de distúrbios hidroeletrolíticos e hipoglicemia Tratamento da causa precipitante Redução da dose da hidrocortisona progressivamente após 2 a 3 dias até atingir a dose fisiológica de reposição (após reversão do quadro agudo) Uso de mineralocorticoides só é necessário na insuficiência adrenal primária e quando a dose de hidrocortisona for < 50 mg/dia. Prevenção da Crise Addisoniana Na prevenção de uma crise adrenal, os pacientes devem ser orientados quanto à necessidade de tomar os medicamentos prescritos constantemente e, sobretudo, ao ajuste da dose do glicocorticoide em situações de estresse. É fundamental, também, que levem sempre consigo um bracelete, ou cartão de identificação, com nome, telefone de contato, nome e telefone do médico, diagnóstico e fármacos utilizados, a fim de agilizar seu tratamento, caso sejam atendidos em serviços de urgência. Na presença de infecções sistêmicas graves, o paciente deve aumentar a dose habitual de corticoide em 2 a 3 vezes. Em casos de cirurgias eletivas, recomenda-se o uso de hidrocortisona IV, na dose de 100 mg na indução anestésica, seguida de 50 a 100 mg a cada 8h, com redução progressiva a partir do segundo dia, a depender da recuperação do paciente. Insuficiência adrenal Definição Comprometimento da síntese dos esteroides adrenais Etiologia Primária: Autoimune; doença de Addison; Infecciosa; Medicamentosa ↑ACTH, ↓ aldosterona, ↑ renina, ↑ K+ Secundária: Tumores hipofisários; Glicocorticoide em excesso Hipotálamo: ↓CRH/ ↓ACTH Hipófise: ↑CRH/ ↓ACTH Quadro clínico Náusesas e vômitos Fadiga Mialgia e artralgia Perda ponderal Hiperpigmentação cutânea ↑ TSH Deficiência de andrógenos Febre Hipercalcemia e hiponatremia, hipotensão Forma aguda: ↓ PA, vômito, febre, dor abdominal, convulsão por hipoglicemia Diagnóstico Investigar doença autoimune aldosterona, ↑ Renina Coleta de cortisol e ACTH 7-8h da manhã DHEAs TC de suprarrenal sem contraste TTO Reposição com glicocorticoide (hidrocortisona) Reposição de aldosterona de DHEAs - mineralocorticoide, se necessário Crise addisoniana: Hidrocortisona, reversão da hipotensçao, desidratação e hipoglicemia. . 16 Felipe Altimari SÍNDROME DE CUSHING DEFINIÇÃO CONCEITO: A Síndrome de Cushing, também denominada hipercortisolismo, é um complexo de sinais e sintomas que resulta da excessiva exposição dos tecidos ao cortisol. A Síndrome de Cushing (SC) ou hipercortisolismo foi descrita pela primeira vez em 1932 por Harvey Cushing, como uma síndrome caracterizada por manifestações sérias consequentes aos efeitos sistêmicos da exposição crônica ao cortisol encontrado em uma de suas autópsias sendo associado com um adenoma hipofisário. Pouco depois, Walters e colaboradores identificaram a contribuição adrenal na etiologia dessa síndrome. Na década de 70, Lewinsky descreveu os tumores adrenocorticais clinicamentesilenciosos e o conceito de síndrome pré-clínica (“Cushing subclínico”) foi introduzido no início dos anos 80 por Charbonnel. A SC é tida na comunidade científica como uma doença neuroendocrinológica causada pela interrupção do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal levando à exposição crônica a glicocorticoides, cuja fonte tanto pode ser endógena quanto exógena, resultando em aspectos clínicos de distribuição anormal de gordura (obesidade centrípeta), disfunção gonadal, hipertensão, entre outras. Na maioria das séries de hipercortisolismo endógeno, o adenoma hipofisário (doença de cushing) corresponde a aproximadamente 70% das causas de SC enquanto os adenomas adrenais são responsáveis por cerca de 10% dos casos. A distribuição por idade e sexo varia de acordo com a causa sendo que a faixa etária de maior incidência ocorre entre os 25 e 50 anos. Exceto pela secreção ectópica de ACTH, a SC é mais frequente em mulheres do que em homens. FISIOPATOLOGIA A glândula pituitária (hipófise) é uma estrutura endócrina pequena (cerca de 0,5 g de peso), porém complexa, situada na base do prosencéfalo. Possui um componente epitelial denominado adeno-hipófise e uma estrutura neural chamada de neuro-hipófise. A adeno-hipófise é composta de 5 tipos de células que secretam 6 hormônios. A neuro-hipófise libera vários neuro-hormônios. Todas as funções endócrinas da glândula pituitária são reguladas pelo hipotálamo e por alças de retroalimentação positiva e negativa. A adeno-hipófise secreta vários hormônios tróficos que fazem parte de eixos endócrinos. Entram na constituição de um eixo endócrino (hipotálamo, a hipófise e uma glândula endócrina periférica). O ponto de equilíbrio de um eixo é em grande parte controlado pelo hormônio periférico que exerce uma retroalimentação negativa, ou feedback negativo, sobre a hipófise e o hipotálamo. As adrenais são glândulas localizadas sobre os rins, por isso também são chamadas suprarrenais. Estas glândulas têm 2 funções muito distintas, uma relacionada com o córtex, que produz os glicocorticoides, e outra com a medula, que produz adrenalina e noradrenalina. A medula da adrenal atua como um grande gânglio simpático, e seus hormônios adrenalina e noradrenalina são liberados na circulação por estimulação dos nervos simpáticos que saem da medula espinhal. 17 Felipe Altimari Figura 6. Ações do cortisol. Ações anti-inflamatórias e imunossupressivas CORTISOL Resposta ao estresse – manutenção do tônus vascular. Aumento da mobilização de aminoácidos no tecido esquelético e muscular Aumento da lipólise em células adiposas Aumento de gliconeogênese, glicogênese, estoque de glicogênio e atividade de glicose-6-fosfato (fígado) Aumento da mobilização de glicerol e ácidos graxos Compreendendo a ação do CORTISOL, é possível entender que em condições onde suas concentrações estiverem elevadas, cronicamente, resultará em uma constelação de anormalidades clínicas que constitui a síndrome de Cushing. ETIOLOGIAS A síndrome pode ter causas exógenas ou endógenas. Exógenas Caracterizado como Síndrome de Cushing (SC) iatrogênica, a desordem é provocada pelo uso excessivo ou prolongado de corticosteroides, como a prednisona. Endógena A SC endógena pode ser classificada em relação à etiologia em dois grandes grupos, de acordo com as concentrações plasmáticas de ACTH em: SC ACTH dependente: se relacionam a doenças do eixo hipotálamo-hipofisário, ou tumores diversos secretores de ACTH/CRH. ACTH-independente: ocorrem em consequência a doenças primárias da suprarrenal. ETIOLOGIA DA SÍNDROME DE CUSHING ENDÓGENA PREVALÊ NCIA Síndrome de Cushing ACTH-dependente 80% Doença de Cushing 70% Secreção ectópica de ACTH 10% Secreção de CRH < 1% Carcinoma de hipófise produtor de ACTH Raro Secreção ectópica de CRH/ACTH Raro Síndrome de Cushing ACTH-independente 20% Adenoma suprarrenal produtor de cortisol 10% Carcinoma suprarrenal produtor de cortisol 5% Hiperplasia macronodular suprarrenal primária (PMAH) < 2% Doença suprarrenal nodular primária (PPNAD) < 2% Síndrome de McCune-Albright Raro Secreção ectópica de cortisol Raro Síndrome de hipersensibilidade ao cortisol Raro Doença de cushing Quanto à Doença de Cushing (DC) refere-se ao hipercortisolismo causado pela secreção excessiva de hormônio adrenocorticotrófico (ACTH) por lesão hipofisária, sendo essa a causa mais frequente de SC endógena. O principal glicocorticoide produzido pelo córtex da glândula suprarrenal é o cortisol. Em excesso, pode conduzir a uma gama de sintomas, podendo, inclusive, apresentar sinais neuropsiquiátricos de ansiedade, depressão, psicose, instabilidade emocional e apatia. Em indivíduos saudáveis, a homeostase fisiológica dos corticotróficos é ajustada por fatores hipotalâmicos estimulatórios e inibitórios e pelo ciclo de feedback negativo dos glicocorticoides das glândulas suprarrenais. No entanto, o tumor produtor de ACTH presente na DC é insensível às inibições que ocorreriam normalmente, resultando, assim, em um sistema incapaz de se autorregular e, consequentemente, em níveis aumentados de glicocorticoides causando o hipercortisolismo. O diagnóstico da DC pode ser um desafio clínico. Alguns pacientes apresentam alguns dos sinais e sintomas característicos, como mal-estar generalizado, obesidade e fraqueza muscular, porém o diagnóstico pode ser lento pois parte da sua manifestação ainda permanece ampla e não específica. Outros sintomas, incluindo suor excessivo, pelos no corpo, ansiedade, depressão, facilidade de obter hematomas e irritabilidade, são difíceis de diagnosticar, e não são inicialmente alarmantes aos pacientes ou se apresentam de forma gradativa o suficiente para serem notados apenas em retrospecto. Além disso, o diagnóstico laboratorial não é totalmente preciso, por vezes é demorado e incômodo ao paciente e pode apresentar resultados inicialmente confusos. Em paralelo a isto, vê-se que a doença está associada ao aumento da mortalidade e a complicações variadas devido à adiposidade visceral, resistência à insulina, hipertensão e hipercoagulabilidade, levando a riscos como doença cardíaca isquêmica, doença cerebrovascular, DM (2ª ao hipercortisolismo), osteoporose e infecções (devido ao estado de imunossupressão). Alguns destes riscos podem persistir mesmo após a remissão da doença. A DC apresenta-se principalmente pelo ganho de peso em obesidade central, fadiga com miopatia proximal, afinamento da pele com estrias arroxeadas e hematomas difusos. Alguns pacientes apresentam menores picos de hipercortisolismo, com diagnóstico alcançado depois de muitos anos e consultas médicas. As manifestações do hipercortisolismo incluem hipertensão, distribuição anormal de gordura, pele fina sensível a hematomas, fraqueza muscular, osteoporose, hirsutismo e disfunção gonadal. Os pacientes com DC também podem apresentar uma ampla variedade de sintomas psiquiátricos, incluindo depressão, 18 Felipe Altimari instabilidade emocional, deficiências cognitivas, apatia, ansiedade e psicose. No caso de pseudocushing, definida pela condição na qual os pacientes apresentam o quadro clínico e níveis de cortisol anormais, porém não é causado por disfunções eixo hipotálamo-hipófise-adrenal, a manifestação se dá de maneira parcial apresentando obesidade, estresse, diabetes mellitus descontrolado e síndrome do ovário policístico (SOP). Dessa forma, diferenciação do que é DC e pseudocushing nem sempre é muito precisa. A DC em crianças acontece muito raramente apresentando sintomas insidiosos com características relacionadas à falha do crescimento, obesidade, puberdade e aparência facial. Os desafios para diagnosticar tal doença se dão, em parte, pela ampla manifestação. O termo “cushingóide” existe para demonstrar alguns dos sintomas clássicos da doença, porémalguns deles se mostram presentes também em outros distúrbios, como é o caso da obesidade, fraqueza muscular e mal-estar generalizado. A doença de Cushing é a síndrome de Cushing que resulta de excesso de produção do hormônio adrenocorticotrófico (ACTH), geralmente secundária a adenoma hipofisário. Secreção ectópica Os pacientes portadores da síndrome ectópica de ACTH (SEA), particularmente aqueles com doenças malignas como o carcinoma pulmonar de pequenas células, podem apresentar quadro clínico atípico predominando o estado consumptivo (35%) e maior frequência de hipopotassemia (>70%), hiperpigmentação, osteopenia/osteoporose e alterações metabólicas, como a intolerância à glicose. Além do carcinoma do pulmão, a SEA pode ainda ser secundária a tumores no timo ou no pâncreas, e em casos mais raros carcinoma medular da tireoide ou feocromocitoma. Nos doentes com doença maligna, particularmente no carcinoma de pequenas células do pulmão, os sintomas de hipercortisolismo clássicos – obesidade central, estrias, hipertensão, fácies em “lua-cheia” – não são os mais prevalentes, devido ao estado consumptivo muitas vezes induzido pela rápido turnover tumoral; ao invés, estão presentes sintomas de “wasting”, como perda ponderal e de massa muscular, hiperpigmentação, miopatia, hipocalemia, osteoporose. Ainda são possíveis outras manifestações da SC, como as formas ectópicas de fontes não hipofisárias, podendo ocorrer de 2 maneiras já descritas na literatura: Síndrome de Cushing Ectópica (SCE) associada a neoplasias agressivas e SCE com tumores indolentes e ocultos. A SCE é considerada uma síndrome paraneoplásica. As síndromes paraneoplásicas referem-se a distúrbios clínicos que não podem ser diretamente atribuídos aos efeitos físicos do tumor primário ou metastático. Podem ser causados por: 1. Produção de substâncias pelas células tumorais responsáveis por efeitos sistémicos; 2. Diminuição de substâncias habitualmente presentes no organismo, que leva ao aparecimento de sintomas; e 3. Resposta imunitária do hospedeiro ao tumor. Dessa forma, as neoplasias que secretam quantidades excessivas de ACTH geralmente se diferenciam a partir de células neuroendócrinas e podem se apresentar em forma de lesões benignas e indetectáveis a tumores com metástases múltiplas. Cerca de 50% dos tumores ectópicos causadores da Síndrome de Cushing são pulmonares; se mostrando, em alguns casos, indistinguíveis das características da Doença de Cushing, sendo, portanto, muitas vezes impossível estabelecer diferenciações. A Síndrome de Cushing cíclica é outra forma de manifestação da SC menos frequente, caracterizada por momentos de hipercortisolismo intercalados com outros de normocortisolismo. Tais ciclos podem ser tanto regulares como não; podendo os momentos de cortisol normal durarem por dias ou anos. Tumores adrenocorticais A síndrome de Cushing ACTH-independente é habitualmente causada por uma doença suprarrenal unilateral. De acordo com os diferentes relatos da literatura, a ocorrência de adenoma e carcinoma de suprarrenal pode ser semelhante ou com predomínio dos adenomas. Em crianças, as causas primárias ocorrem em 65% dos pacientes com síndrome de Cushing, sendo a frequência de carcinoma 3 a 4 vezes maior do que a de adenomas. Os carcinomas adrenocorticais são tumores raros, com incidência de 1-2 por milhão de pessoas por ano. Os pacientes com carcinomas adrenocorticais tendem a apresentar uma evolução rápida e progressiva dos sinais clínicos de hipercortisolismo, muitas vezes coexistindo com sinais de virilização (tumores de secreção mista). Além do quadro clínico secundário à hipersecreção hormonal, queixas de dor e desconforto abdominal, acompanhado ou não de massa palpável, são frequentes. A distribuição etária é bimodal, com um primeiro pico na infância e um segundo pico entre a 4ª e 5ª décadas da vida. A maioria dos pacientes com carcinoma da suprarrenal apresenta-se com doença metastática no momento do diagnóstico, o que caracteriza um prognóstico reservado da doença. A TC apresenta ótima resolução da anatomia da glândula suprarrenal, com cortes entre 5 mm e 3 mm preferencialmente. Podem-se identificar as asas das glândulas suprarrenais, sem o contraste intravenoso, entretanto, o contraste pode ser útil para avaliação de áreas de necrose, hemorragia e excluir invasão de trombo ou processo tumoral da veia cava nos carcinomas das suprarrenais. Não é possível, entretanto, distinguir com segurança adenomas e carcinomas secretores de cortisol, baseando-se somente nos critérios morfológicos da lesão. 19 Felipe Altimari Alguns autores consideram que as lesões maiores de 3,0 cm são suspeitas de malignidade. CARACTERÍSTICA DAS IMAGENS DE TC E RNM DOS TUMORES ADRENAIS Adenomas do córtex adrenal Carcinoma do córtex adrenal • Nódulo < 3 cm, arredondado • Nódulo > 6 cm, lobulado • Margens regulares • Margens irregulares • Homogêneo na TC • Heterogêneo na TC (áreas de necrose, calcificação e hemorragia) • Isosinal em relação ao fígado em T1 e T2 na RM • 77% são nódulos unilaterais e únicos • Isosinal em T1 e discreto hipersinal em T2 na RM • Não há incremento de tamanho em pelo menos um ano de seguimento • Invasão local ou sinais de metástases (fígado e pulmão) Figura 8. Etiologias da síndrome de Cushing. QUADRO CLÍNICO Os sinais considerados mais específicos da SC são: pletora facial, fácies de lua cheia, fraqueza muscular proximal, estrias cutâneas largas e avermelhadas/violáceas (> 1 cm), pele atrófica e fragilidade capilar/equimoses espontâneas num paciente que apresenta ganho de peso ou redistribuição do peso. Figura 9. Paciente com Síndrome de Cushing apresentando faces em lua cheia e pletora facial, além de depósito aumentado de gordura em pescoço e face. Figura 10. Paciente com síndrome de Cushing apresentando fácies pletórica de lua cheia com eritema e telangiectasias das bochechas e da fronte. A face e o pescoço mostram deposição aumentada de gordura. Uma pista clínica importante para a presença de excesso de glicocorticoide é o desenvolvimento simultâneo e a gravidade crescente de vários desses sintomas. As manifestações clínicas da síndrome de Cushing podem ser categorizadas em reprodutivas, dermatológicas, metabólicas, cardiovasculares, musculoesqueléticas, neuropsiquiátricas e infecciosas. Além da considerável morbimortalidade causada pelo hipercortisolismo. Reprodutivo ◊ Irregularidades menstruais: devido a correlação com o aumento do cortisol sérico e a diminuição das concentrações séricas de estradiol, mas não com as concentrações séricas de androgênio. ◊ Sinais de excesso de andrógeno adrenal. Mulheres com alguns tipos de síndrome de Cushing apresentam sinais de excesso de andrógeno (mais comumente carcinoma adrenal). As glândulas suprarenais são a principal fonte de andrógenos nas mulheres. Por outro lado, os testículos são a principal fonte de andrógenos nos homens. Assim, homens com síndrome de Cushing não apresentam sinais de excesso de androgênio, porque o cortisol não possui atividade androgênica. O excesso de andrógeno nas mulheres afetadas pode causar os seguintes sintomas: hirsutismo, pele facial oleosa e acne no rosto, pescoço ou ombros e virilização. Dermatológica ◊ Estrias violáceas: ocorrem quando a pele frágil se estende devido ao aumento do tronco, seios e abdômen. As estrias aparecem como estrias largas, roxo- avermelhadas, porque a pele cada vez mais fina não esconde a cor do sangue venoso na derme subjacente. ◊ Atrofia de pele há perda de gordura subcutânea a um grau suficiente para que os vasos sanguíneos subcutâneos possam ser vistos. A pele eventualmente se torna frágil devido a essas alterações ◊ Infecções fúngicas, especialmente tinea versicolor, são frequentemente encontradas no tronco. ◊ Hiperpigmentação induzida pelo aumento da
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