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AN02FREV001/REV 3.0 1 PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA Portal Educação CURSO DE A GLOBALIZAÇÃO E O MERCOSUL Aluno: EaD - Educação a Distância Portal Educação AN02FREV001/REV 3.0 2 CURSO DE A GLOBALIZAÇÃO E O MERCOSUL MÓDULO ÚNICO Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização ou distribuição do mesmo sem a autorização expressa do Portal Educação. Os créditos do conteúdo aqui contido são dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas. AN02FREV001/REV 3.0 3 SUMÁRIO 1 A GLOBALIZAÇÃO E O MERCOSUL 1.1 O MUNDO GLOBALIZADO 1.1.1 A Globalização 1.1.2 Definição 1.1.3 Capitalismo Global e o Trabalho Informal 1.2 OS BLOCOS ECONÔMICOS 1.2.1 Cooperação Econômica da Ásia e do Pacífico (APEC) 1.2.2 Comunidade dos Estados Independentes (CEI) 1.2.3 Acordo de Livre Comércio da América do Norte (NAFTA) 1.2.4 Comunidade Econômica Europeia (CEE) 1.2.5 Grupo dos Oito 1.2.6 O Mercosul 1.3 A ALCA SOBRE O SISTEMA JURÍDICO BRASILEIRO 1.4 A IMPORTÂNCIA DO TRATADO DA UNIÃO EUROPEIA 1.4.1 A Relação entre a União Europeia e o Mercosul 1.4.2 Meios Financeiros da União Europeia e do Mercosul 1.5 OS DIREITOS HUMANOS E A GLOBALIZAÇÃO 1.5.1 Definição de Direitos Humanos 1.5.2 Os Direitos Humanos e o Avanço no Processo de Globalização 1.6 DIREITOS HUMANOS E O MERCOSUL 1.6.1 A Defesa dos Direitos Fundamentais e o Mercosul 1.6.2 A Eficácia da Proteção dos Direitos Humanos 1.6.3 Os Direitos Humanos como Instrumento Humanizador REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AN02FREV001/REV 3.0 4 MÓDULO ÚNICO 1 A GLOBALIZAÇÃO E O MERCOSUL 1.1 O MUNDO GLOBALIZADO 1.1.1 A Globalização As expressões mundialização (de origem francesa) ou globalização (anglo- saxã) não possuem significado jurídico. Trata-se de expressões oriundas do meio jornalístico, que traduzem um fenômeno econômico, consequência inevitável do liberalismo que faz emergir um mercado mundial interdependente. Assim, chama-se globalização ou mundialização o crescimento da interdependência de todos os povos e países. A globalização pode ser percebida como um instrumento de descrição de uma suposta realidade. Ela é percebida por alguns como valor ideológico. É, de fato, a etapa mais recente da história das relações entre os homens e suas organizações coletivas. É marcada pela expansão da liquidez do capital, que se tornou um ativo operado por fundos autônomos sem regularização do Estado, inclusive dos mais poderosos. A globalização coloca em evidência que, dentro de seus limites territoriais, o Estado tampouco dispõe da autonomia e independência consagrada pelo direito internacional. Trata-se de fato novo que foge ao costume, ou seja, internamente a globalização contesta a exclusividade do exercício da soberania do Estado sobre um território delimitado. Duas características de globalização devem ser ressaltadas: por um lado, é de sua própria essência que o processo desconheça fronteiras nacionais, introduzindo a desterritorialização das atividades de produção e de consumo. Por AN02FREV001/REV 3.0 5 outro, as decisões do mundo global decorrem de centros de interesses privados, independentes, autônomos e dotados de um poder real cuja natureza e intensidade transcende o tradicional poder dos Estados. 1.1.2 Definição Nos anos 80 surgiu uma ideia específica de globalização, cujo processo passou a questionar a ordem mundial. É a fase mais avançada do capitalismo, pois com a caída do socialismo o sistema capitalista se tornou predominante no mundo. Globalização é o conjunto de transformações econômicas e políticas que vem acontecendo nas últimas décadas. Arnaud salienta que “a globalização começou a ser debatida na década de 80 pelos anglo-saxões”. Assim, a popularização do termo globalização ocorreu em meados de 1980 e rapidamente passou a ser associado aos aspectos financeiros inerentes a esse processo. Esse termo designa um fenômeno de abertura das economias e das respectivas fronteiras em resultado do acentuado crescimento das trocas internacionais de mercadorias; da intensificação dos movimentos de capitais; da circulação de pessoas, do conhecimento e da informação. Sua principal característica é a integração dos mercados mundiais com a exploração de grandes empresas multinacionais. É um processo de integração social, política e econômica entre os países e as pessoas do mundo todo, em que os governos e as empresas trocam ideias. Esse processo de globalização ocorreu em razão das inovações tecnológicas, principalmente nas telecomunicações e na informática. A partir da televisão, da internet, do aparelho de fax, da telefonia fixa e móvel e outros meios de comunicação foi possível a difusão de informações entre as empresas e instituições financeiras, ligando os mercados do mundo. Com a evolução da microeletrônica deu-se uma das principais condições para que todo o desenvolvimento da informática e da telemática se processasse. Esse avanço permitiu o surgimento da sociedade em rede, que interliga pessoas, empresas em diferentes sociedades do mundo. AN02FREV001/REV 3.0 6 A evolução dos meios de comunicação não é um processo novo, pois desde o século XIX a melhoria dos meios de transportes proporcionou uma redução do custo das viagens e impulsionou os transportes de mercadorias. A globalização nada mais é do que um processo de integração que envolve razões políticas e econômicas, visando o crescimento global de todas as partes envolvidas. Esse processo passou a ser considerado como uma constante no mundo moderno. Possui pontos negativos e positivos. Como pontos negativos, podemos dizer que ela nos impõe uma série de fatores que nem sempre precisamos ou queremos, porém um ponto positivo é justamente a liberdade que temos de discutir esses fatores internamente. Também temos como fator negativo da globalização a imposição da ideia capitalista, que tenta nos fazer acreditar que o dinheiro é a riqueza maior do ser humano, e nós precisamos saber que isso não é verdade, sendo o dinheiro simplesmente a expressão simbólica da riqueza. 1.1.3 Capitalismo Global e o Trabalho Informal A partir da década de 1980 observamos uma intensificação do processo de internacionalização das economias capitalistas que se convencionou chamar de globalização. Algumas das características distintivas desse processo são a enorme integração dos mercados financeiros mundiais e um crescimento singular do comércio internacional, viabilizado pelo movimento de queda generalizada de barreiras protecionistas, principalmente dentro dos grandes blocos econômicos. Um de seus traços mais marcantes, e que foi crucial, é a crescente presença de empresas transnacionais. Estas se diferem bastante das corporações multinacionais típicas dos anos 60 e 70, constituindo um fenômeno novo. Nesse contexto de internacionalização das decisões e de incrível mobilidade de grandes massas de capitais, que têm em larga medida lógicas autônomas em relação às decisões dos Estados nacionais, o espaço para a operação de políticas públicas vê- se sensivelmente diminuído. AN02FREV001/REV 3.0 7 A manipulação das próprias políticas monetárias foi afetada pela imensa massa de recursos que circulavam no mercado financeiro internacional, cruzando as fronteiras nacionais. As políticas fiscais e os gastos governamentais, por sua vez, encontraram novos limites, por ocasionarem efeitos inflacionários que poderiam minar a competitividade dos produtos nacionais. O contínuo avanço da economia global nãopareceu garantir que as sociedades futuras gerassem postos de trabalho, mesmo os flexíveis, compatíveis em qualidade e renda com as necessidades mínimas dos cidadãos. A lógica da globalização e do fracionamento das cadeias produtivas, muito oportuna para a vitalidade do capitalismo contemporâneo, incorporava os balões de trabalho barato mundiais sem elevar-lhes a renda. Os postos formais cresciam menos que os investimentos diretos. Com o surgimento de oportunidades bem remuneradas no trabalho flexível, o setor informal também acumulou o trabalho muito precário e a miséria. Especialmente nos países mais pobres, os governos comprometidos com a estabilidade não tinham orçamento suficiente nem estruturas eficazes para garantir a sobrevivência dos novos excluídos. Segundo a OIT, a internacionalização da economia provoca um claro impacto nas relações industriais, contribuindo diretamente para o enfraquecimento do poder dos sindicatos. A grande possibilidade de transferir atividades produtivas de uma região para outra, as novas tecnologias e as possibilidades de comunicação são processos cruciais nas mudanças que estavam acontecendo no cenário econômico e social. Para a OIT, o setor informal é, quase por definição, precário. Encontrava-se fora das redes de regulação estatal e de controle, incluindo trabalhos heterogêneos e fragmentados. Os trabalhadores têm poucas condições de organização. O setor informal adquiriu um enorme peso nos países em desenvolvimento. A expansão do setor informal está relacionada ao lento crescimento do setor formal, dizia a OIT. É certo que a ausência de alternativas de outras oportunidades de emprego mantém os trabalhadores no setor informal, mas, por outro lado, muitos trabalhadores formais complementam sua renda com atividades no setor informal. Outra possibilidade é de que um membro da família trabalhe no setor formal enquanto os outros permaneçam no setor informal. As mulheres, por exemplo, AN02FREV001/REV 3.0 8 representam uma fração majoritária no setor informal, devido à flexibilidade desse setor e à ausência de oportunidades nas atividades formais da economia. Em muitos países esse setor expandiu. Isso comprova a existência de vários problemas estruturais. Os trabalhadores do setor informal apresentam uma grande variedade de situações, mostrando diferentes graus de conformidade com as regulações de trabalho, seguridade, saúde e pagamento de impostos, refletindo um grau de necessidades e interesses não facilmente captados pelos sindicatos tradicionais, segundo a OIT. Os desajustes causados pela exclusão de parte crescente da população mundial dos benefícios da economia global e a progressiva concentração de renda constituíram o grande problema das sociedades atuais, seja pobres ou ricas. O fato é que a exclusão social tem aumentado. Ela significa a concretização da ameaça de contínua marginalização de grupos até recentemente integrados ao padrão de desenvolvimento. Para complicar, a revolução nas tecnologias de informação e comunicação elevou as aspirações de consumo de grande parte da população mundial, inclusive dos excluídos. O processo de globalização também constrangeu o poder dos Estados, restringindo sua capacidade de operar seus principais instrumentos discricionários. As fronteiras nacionais são a todo tempo transpostas, passando a ser encaradas como obstáculos à livre ação das forças de mercado. É bom lembrar que os impactos do processo de globalização não são iguais, mesmo no âmbito dos vários países desenvolvidos, pois diferentes padrões de desenvolvimento ou estratégias de ajuste estrutural têm tido efeitos diferentes no que concerne ao padrão de exclusão social, já que a mesma taxa de crescimento econômico pode levar a distribuições muito distintas de benefícios. A pobreza, que é entendida como a incapacidade de satisfazer as necessidades básicas, foi a escolhida como elemento central de definição de exclusão social em países que não possuem um Estado de bem-estar social que garanta, minimamente, a sobrevivência de seus cidadãos. Ao definir pobreza, este autor mostrar a dificuldade de acesso aos bens de serviços mínimos adequados a uma sobrevivência digna. Isso inclui as necessidades físicas, como a nutrição, AN02FREV001/REV 3.0 9 vestimenta e saúde. Mas não podemos esquecer as questões mais complexas, da educação, cuidar dos filhos, dos inválidos, etc. A natureza do emprego disponível na economia global foi e sempre será a chave para o entendimento do problema de exclusão. À medida que se excluem progressivamente postos formais de mercado de trabalho, o processo de globalização estimula a flexibilização e incorpora a precarização como parte de sua lógica. A questão de determinar, porém, como a nova lógica das cadeias globais afeta a qualidade e a quantidade da oferta global de empregos é extremamente complexa. Parecem claramente evidenciadas, no entanto, algumas tendências empíricas. Em primeiro lugar, a redução da geração de empregos qualificados e formais por investimento direto adicional. Em segundo lugar, a de contínua flexibilização da mão de obra em todos os níveis, no sentido de transformá-la, sempre que possível, em componente cada vez mais variável do custo final dos produtos globais. E, finalmente, a de clara inter-relação de agentes econômicos formais e informais na medida em que se caminha para a base dessas cadeias produtivas, o que permite incorporar crescentes espaços para a utilização de trabalho informal e de baixos salários. As décadas de 80 e 90 foram bastante ruins para o crescimento das economias de boa parte dos grandes países da periferia capitalista, como era o caso do Brasil, México e Argentina. Essas três nações mergulhavam em grandes crises nesse período e tiveram, em média, um desempenho econômico medíocre. Nessa época explodiu o trabalho urbano informal e flexível, especialmente a partir da abertura econômica. No Brasil, a renda média do setor informal cresceu muito a partir do Plano Real, alterando positivamente o perfil dessa massa salarial, quando os trabalhadores perderam um posto no setor formal. Sintetizando as várias correntes de reflexão que têm analisado a globalização e a exclusão social, observa-se que eles variam de enfoque, mas têm apreciações semelhantes sobre a questão da precarização. O certo é que o mundo tem aprendido que a economia global apresenta riscos muito maiores do que todos poderiam imaginar, pois os postos formais crescem menos rapidamente que os investimentos diretos. E como foi visto, surgem oportunidades bem remuneradas no trabalho flexível, o setor informal aumenta. AN02FREV001/REV 3.0 10 O capitalismo global irá depender de uma profunda revisão de seus conceitos de modo a tentar compatibilizá-lo com uma distribuição mais justa dos resultados de sua acumulação. 1.2 OS BLOCOS ECONÔMICOS O primeiro bloco econômico surgiu na Europa em 1957, com a criação da Comunidade Comum Europeia, mas as tendências de regionalização de economia só se fortaleceram nos anos 90. Blocos Econômicos são reuniões de países que têm como objetivo a integração econômica e social. Um dos aspectos mais importantes na formação dos blocos econômicos é a redução ou a eliminação de alíquotas de importação, com vistas à criação de livre comércio. Os principais blocos atualmente são: A NAFTA (acordo de Livre Comércio da América do Norte) EU (União Europeia) MERCOSUL (Mercado Comum do Sul) APEC (Cooperação Econômica da Ásia e do Pacífico) Em menor grau, temos: PACTO ANDINO CARICOM (Comunidade do Caribe e Mercado Comum) ASEAN (Associação das Nações do Sudeste Asiático) CEI (Comunidade dos Estados Independentes) SADC (Comunidade da África Meridional para o Desenvolvimento) Importante frisar que no plano mundial as relações comerciaissão reguladas pela Organização Mundial do Comércio, que substituiu o GATT (Acordo Geral de Tarifas e Comércio), foi criado em 1947. AN02FREV001/REV 3.0 11 1.2.1 Cooperação Econômica da Ásia e do Pacífico (APEC) Foi criada em 1989 na Austrália, como um fórum de conversação entre os países membros da ASEAN (Associação das Nações do Sudeste Asiático) e seis parceiros econômicos da região do Pacífico, como EUA e Japão. Mas somente em 1994 adquiriu características de um bloco econômico na Conferência de Seattle, quando os membros se comprometeram a transformar o Pacífico em uma área de livre comércio. Surgiu em decorrência de um intenso desenvolvimento econômico ocorrido na região da Ásia e do Pacífico, propiciando assim uma abertura de mercado entre 20 países mais Hong Kong, além da transformação da área do sudeste asiático em uma área de livre comércio nos anos que antecederam a criação da APEC, causando um grande impacto na economia mundial. 1.2.2 Comunidade dos Estados Independentes (CEI) É uma organização criada em 1991 que integra 12 das 15 repúblicas que formavam a URSS. Ficam de fora apenas os três Estados bálticos: Estônia, Letônia e Lituânia. Sediada em Minsk, capital da Belarus, organiza-se em uma confederação de Estados, preservando a soberania de cada um. Em sua estrutura abriga dois conselhos, um formado pelos chefes de Estados e outro pelos chefes de Governo, que se encontram de três em três meses. A comunidade prevê a centralização das Forças Armadas e o uso de uma moeda comum como o Rublo. Somente em 1997 todos os membros, exceto a Geórgia, assinam um acordo para estabelecer uma união alfandegária e dobrar o comércio interno até o ano de 2000. AN02FREV001/REV 3.0 12 1.2.3 Acordo de Livre Comércio da América do Norte (NAFTA) É um instrumento de integração entre a economia dos EUA, do Canadá e do México. Sua criação se deu por intermédio do tratado de livre comércio assinado por norte-americanos e canadenses em 1988, onde os mexicanos somente aderiram em 1992. Foi ratificada em 1993 e essa ratificação veio para consolidar o intenso comércio regional já existente na América do Norte e para enfrentar a concorrência representada pela União Europeia. Entrando em vigor em 1994, estabelecendo o prazo de 15 anos para a total eliminação das barreiras alfandegárias entre os três países. O resultado mais importante até hoje foi a ajuda financeira prestada pelos EUA ao México durante a crise cambial de 1994, que teve grande repercussão na economia global. 1.2.4 Comunidade Econômica Europeia (CEE) O bloco econômico formado por 15 países da Europa Ocidental passou a ser chamada a partir de 1993 de UNIÃO EUROPEIA. É o segundo maior bloco econômico do mundo em termos de PIB, com uma população muito grande. Seus membros são: França, Itália, Luxemburgo, Holanda, Bélgica, Alemanha (1957), Dinamarca, Irlanda, Reino Unido (1973), Grécia, Espanha, Portugal (1981/1986), Áustria, Suécia e Finlândia. E em 2004 ingressaram mais 10 países como a Letônia, Estônia, Lituânia, Eslovênia, República Tcheca, Eslováquia, Polônia, Hungria, Malta e Chipre. 1.2.5 Grupo dos Oito O G-8 é formado pelos oito países mais industrializados do mundo e tem como objetivo coordenar a política econômica e monetária mundial. Esse grupo AN02FREV001/REV 3.0 13 nasceu em 1975 por meio da iniciativa do então primeiro-ministro alemão Helmut Schmidt e do presidente francês Valéry Giscard d'Estaign. Eles se reuniram com líderes dos EUA, do Japão e da Grã-Bretanha para discutir a situação da política econômica internacional. A partir de 1980 esses países passaram a discutir também temas gerais, como drogas, democracia e corrupção. O G-8 realiza três encontros anuais, sendo o mais importante a reunião de chefes de governo e de Estado, quando os dirigentes assinam um documento final que deve nortear as ações dos países membros. 1.2.6 O Mercosul A criação e evolução do Mercosul insere-se no processo de integração regional desenvolvido na América Latina e veio responder aos desafios suscitados pela Internacionalização da economia e aos desejos dos países do Cone Sul deste continente. O processo de integração no Continente Latino-Americano começou a ser vislumbrado no final da década de 50, quando esta região experimentava um período de redução da taxa de crescimento, entrando em uma fase de grandes dificuldades para equilibrar as suas balanças de pagamentos e comercial. E desenvolveu-se por razões de ordem interna e externa, inerentes ao processo de industrialização, que começou a acentuar-se na década de 60. A exiguidade dos mercados nacionais aparecia, então, como um dos principais obstáculos à promoção do desenvolvimento e a integração entre as economias da região latino-americana tornava-se um projeto estratégico capaz de incrementar o crescimento econômico e de promover o desenvolvimento e o bem-estar social. O Mercado Comum do Sul (Mercosul) foi criado pelo tratado de Assunção, de 26 de março de 1991. É composto por Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai, países sul-americanos que adotam políticas de integração econômica e aduaneira. Assim, o objetivo desse acordo é a realização progressiva de um mercado comum entre as nações mencionadas. Um quadro institucional, de caráter provisório, foi instaurado por este tratado constitutivo, prevendo apenas quatro órgãos, são eles: AN02FREV001/REV 3.0 14 Conselho do Mercado Comum (CMC) Grupo Mercado Comum (GMC) Comissão Parlamentar Conjunta (CPC) Secretaria do Mercosul (SM) – apoio técnico Desde a sua origem, o Mercosul é uma organização de caráter intergovernamental. Em dezembro de 1994 o quadro institucional foi aperfeiçoado pelo Protocolo de Ouro Preto, que criou uma estrutura considerada doravante como definitiva. Guardou-se os órgãos do quadro provisório e manteve-se a natureza intergovernamental, preservando o sistema decisório do consenso. O protocolo de Ouro Preto acrescentou dois novos órgãos: Comissão de Comércio do Mercosul (CCM) e Foro Consultivo Econômico Social (FCES). O Mercosul dispõe ainda de um sistema autônomo de solução de conflitos, criado pelo Protocolo de Brasília, de 17 de dezembro de 1991. Este sistema prevê duas modalidades: primeiramente, as negociações diplomáticas no seio das instituições, especialmente no âmbito do Grupo Mercado Comum e da Comissão de Comércio. Em segundo lugar, o recurso à arbitragem, por meio de tribunais ad hoc, cujos árbitros são nomeados a partir das listas propostas pelos Estados-Membros. O Mercosul surgiu com o propósito de criação de um mercado comum, mas esse propósito contrasta com as finalidades do Tratado de Assunção, cujas regras tinham muito mais em mente a criação de uma união aduaneira. União aduaneira caracteriza-se pela existência de uma política comercial comum adotada em relação aos Estados que não fazem parte do bloco e que se expressa por uma tarifa externa que todos aplicam em relação aos demais. A criação do Mercosul coincidiu com o fim dos regimes autoritários nos países que o integram, sem dúvida um dos melhores frutos do processo de redemocratização. Passou a ser um importante fator na estabilidade política dos países envolvidos, sobretudo pelo compromisso firme de seus governantes com o respeito aos direitos fundamentais, a busca da justiça social e a defesa da democracia. AN02FREV001/REV 3.0 15 O Mercosul nasceu simplesmente como um tratado e não como uma organização internacional, que previa um sistema deliberativo baseado no conselho do mercado comum (presidentes dos países) e o grupo do mercado comum (ministros de relações exteriores). O conselho tinha função eminentemente decisória e o grupo, executiva. O Tratado de Assunção, o Protocolo de OuroPreto e o Protocolo de Brasília constituem as fontes originárias do direito do MERCOSUL, eis que asseguram a existência autônoma do bloco, definem sua natureza e sua estrutura, além de estabelecer regras de funcionamento das instituições comunitárias. Diz o preâmbulo do Tratado de Assunção: “são objetivos gerais do MERCOSUL o desenvolvimento econômico, a melhoria das condições de vida e o fortalecimento da união entre os povos dos seus países membros”. Dessa forma, a criação do Mercosul, decidida pela aprovação do Tratado de Assunção, foi a forma encontrada pelos Estados-Membros para promoverem e intensificarem entre si relações multilaterais de cooperação, coordenação e integração, a fim de melhor responderem aos desafios colocados pela globalização dos mercados e formação de grandes espaços econômicos, de acelerarem o desenvolvimento econômico, com justiça social e preservação do ambiente, de melhorarem as condições de vida dos seus habitantes e de estabelecerem as bases para uma união cada vez mais estreita entre os seus povos. Segundo cláusula de 1996, só integram o bloco nações com instituições políticas democráticas. O Mercosul promoveu um enorme crescimento no comércio entre esses quatro países-membros, sendo o mais importante mercado comum da América Latina e provavelmente de todo o sul do planeta. Tem como nações associadas a Bolívia e o Chile, os quais deverão logo fazer parte como membro do bloco. Assim, Chile e Bolívia são membros associados e assinam tratados para a formação da zona de livre comércio, mas não entram na união aduaneira. O Mercosul também conta com a participação da Venezuela desde 2006, mas depende de aprovação dos congressos nacionais para que sua entrada seja aprovada, mais especificamente do parlamento paraguaio, já que Argentina e Uruguai já manifestaram voto favorável. Outras nações latino-americanas manifestaram interesse em entrar para o grupo, mas, até o momento, somente a AN02FREV001/REV 3.0 16 Venezuela levou adiante sua candidatura, embora sua incorporação ao Mercosul ainda dependa da aprovação citada. O Mercosul vem mantendo, nesses últimos anos, uma agenda particularmente intensa de contatos e negociações comerciais com terceiros países ou grupos de países, como resultado de sua própria concepção de iniciativa aberta ao exterior e do crescente interesse que seus êxitos despertam em outras regiões do mundo. Como exemplo temos as negociações com o México e a ALCA e com outras regiões e países como a União Europeia, Japão, África do Sul, Índia, Rússia, Organização de Cooperação Econômica do Mar Negro, Israel, etc. Quando o Mercosul foi implantado causou uma série de polêmicas, já que grande parte dos empresários não acreditava em sua viabilização e, principalmente, em sua continuidade. Aqueles que acreditavam, diziam que o sucesso se daria somente nos segmentos de alimentação e cultura. Hoje a realidade se mostra bem diferente, pois novas empresas foram abertas, empregos foram gerados, conquistando, assim, novos mercados, tecnologias modernas e, principalmente, a credibilidade e igualdade de condições nas concorrências internacionais. 1.3 A ALCA SOBRE O SISTEMA JURÍDICO BRASILEIRO A ALCA significa Área Livre de Comércio das Américas e visa exclusivamente à exploração dos países subdesenvolvidos, tornando-os submissos aos Estados Unidos, com perda das suas soberanias. Surgiu em 1994, em Miami, no governo de Bill Clinton, o qual presidiu a primeira Cúpula das Américas, composta por 33 países do continente americano, com exceção de Cuba, vetada pelos EUA, em virtude de seu regime socialista, radicalmente contra o imperialismo norte-americano e qualquer proposta que vise interferência nos países soberanos. O principal objetivo da ALCA é conseguir controlar todo o comércio da América Latina e Caribe e reforçar as vantagens que tanto as empresas de importação como as de exportação dos EUA já têm sobre as empresas do subcontinente. Também são objetivos da ALCA: AN02FREV001/REV 3.0 17 Consolidar a influência norte-americana sobre os maiores Estados da região, garantindo seu apoio na disputa com outras potências, como a Rússia, a União Europeia e a China; Estabelecer um território econômico único nas Américas, com livre circulação de bens, serviços e capitais, porém sem livre circulação da mão de obra, em especial a menos qualificada, dentre outros objetivos; Colocar sob protetorado militar norte-americano os estados da América Latina, por meio de acordos que dificultem ou impossibilitem o desenvolvimento de tecnologias avançadas, muitas vezes de uso militar e civil, além de reduzir seu armamento convencional. No processo de introdução das regulamentações, a elaboração da ALCA está sendo precedida por reuniões preparatórias, realizadas segundo o procedimento consagrado nas conferências diplomáticas multilaterais, com a novidade de que os grupos de trabalho que estão preparando os textos que serão discutidos pelos delegados, na sua maior parte, não são compostos por funcionários, mas pelos setores da sociedade a que os franceses se referem como lês millieux d` affaires, e por organismos internacionais como a OEA e o BIRD. A tarefa que esses grupos de trabalho assumiram foi a de relacionar e catalogar, sistematizando-as, todas as normas aplicáveis nas áreas de seus respectivos interesses. Essa catalogação tem por objetivo definir quais deveriam ser alteradas ou poderiam ser mantidas, sob o prisma do interesse de quem as analisa. Os grupos de trabalho que foram criados para preparar os tratados da ALCA representam um esboço de institucionalização de uma prática que vem se desenvolvendo, cada vez mais, nos últimos tempos. A proposta da ALCA é criar uma zona de livre comércio. A sugestão de formação de uma Área de Livre Comércio Americana (ALCA) e o lugar que o Brasil poderá vir ou não ocupar dentro dela tornaram-se temas relevantes do debate nacional, mesmo que sua irradiação e visibilidade na sociedade sejam ainda limitadas. AN02FREV001/REV 3.0 18 A discussão tem-se centrado no impacto econômico que a ALCA terá para o Brasil, questão que ganha mais importância em função das aceleradas transformações porque passa o mundo e o período de transição que atravessa a economia brasileira. A proposta do governo dos Estados Unidos de formação da ALCA é, antes de qualquer coisa, um projeto político. Ela se insere em uma estratégia internacional global daquele país, redesenhada a partir dessas transformações pelas quais o mundo passou a partir dos anos 80. O debate sobre a ALCA é mais problemático na medida em que ocorre em um momento em que o país se vê confrontado com a necessidade de realizar uma profunda discussão sobre o que se convencionou chamar de novo projeto de desenvolvimento. Qual o impacto para o Brasil? Teria como evitar o aprofundamento da dependência política e cultural e a consequente perda acelerada da soberania nacional, inclusive, o dólar, que passaria ser a moeda de convenção continental? A ALCA, entrando em vigor, implantada no Brasil, correrá o risco de perder a soberania? 1.4 A IMPORTÂNCIA DO TRATADO DA UNIÃO EUROPEIA A União Europeia, como já vimos, é a pessoa jurídica de direito público internacional, dispondo, portanto, de personalidade jurídica própria e distinta dos estados que a compõe. A estrutura orgânica da Comunidade Europeia foi sofrendo alterações desde a criação da CECA até a aprovação e entrada em vigor do Tratado de Maastricht. O tratado de Maastricht, também denominado de Tratado da União Europeia, foi um dos mais importantes marcos normativos do direito comunitário, o ato que, no seu texto, figuraria uma vinculação entre o espaço de integração econômica europeia e as normas e princípios constantes da Convenção Europeia dos Direitos Humanos, porém pelavia da construção de um pilar diferente e concomitante com àquele que sempre sustentou a citada integração regional europeia. AN02FREV001/REV 3.0 19 O Tratado de Maastricht se caracteriza como um corpus juris bastante complexo, constituído de três pilares: O primeiro consiste na consolidação e aprofundamento da experiência histórica até então vivenciada na Europa Comunitária, tendo se instituído a Comunidade Europeia, que engloba três comunidades: Comunidade Econômica Europeia (CEE), Comunidade Europeia do Carvão e do Aço (CECA) e a Comunidade Europeia da Energia Atômica (CEEA), as quais conservam suas personalidades jurídicas distintas dentro da União. O segundo se denomina Política Exterior e de Segurança Comum (PESC), em que os Estados-Membros buscam coordenar suas políticas nacionais de defesa e segurança com as mesmas da União Europeia, em relação ao resto do mundo. O terceiro pilar, a Cooperação nos Âmbitos da Justiça e Assunto do Interior (CAJAI), que conferiu ao espaço comunitário a dimensão de um ambiente de liberdade, segurança e justiça, responsável pela introdução na temática da integração econômica regional europeia e também a questão da rediscussão da pena de morte, dos problemas dos asilados, dos refugiados políticos e econômicos, do combate ao terrorismo e ao narcotráfico, da lavagem internacional de dinheiro, dentre outros. Desta forma, a União respeita os direitos fundamentais, tais quais se encontram garantidos pela Convenção Europeia de Proteção dos Direitos do Homem e das Liberdades Fundamentais, assinalada em Roma em 1950. Esse tratado foi firmado pelos 12 chefes de governos da União Europeia. Estabeleceu uma política exterior e monetária comum e projetou a criação de um banco central, etc. AN02FREV001/REV 3.0 20 1.4.1 A Relação entre a União Europeia e o Mercosul Os objetivos prosseguidos pela União Europeia e pelo MERCOSUL estão especificados nos seus tratados constitutivos e nos documentos fundamentais como acordos, protocolos, declarações. Assim, a relação entre a União Europeia e o Mercosul fundamentam-se no texto do Acordo-Quadro de Cooperação Inter-regional, assinado em Madri no dia 15 de dezembro de 1995. Em vigor desde julho de 1999, o documento estabelece as bases das negociações de um futuro Acordo de Associação entre a União Europeia e o Mercosul, além de levar à liberalização do comércio de bens e serviços, conforme as regras estabelecidas pela OMC. Um acordo de associação permitirá também fortalecer a cooperação e o diálogo político entre os dois blocos. Após uma fase de trabalhos preparatórios que se estendeu por três anos, o processo negociador propriamente dito foi lançado em junho de 1999 pelos Chefes de Estado e de Governo da União Europeia e do Mercosul. Por decisão do Conselho de Ministros da União Europeia, coube à Comissão iniciar, de imediato, a negociação referente às questões não tarifárias, ficando estabelecido que as negociações relativas a tarifas e serviços seriam iniciadas em 1° de julho de 2001. Até essa data, a União Europeia e o Mercosul mantiveram um diálogo frequente sobre tarifas, serviços e agricultura, entre outros temas. As negociações foram iniciadas, na prática, em Bruxelas, em novembro de 1999, por intermédio do Comitê de Negociações Birregional (CNB), União Europeia e Mercosul. A primeira rodada de negociações do CNB ocorreu em Buenos Aires, nos dias 6 e 7 de abril de 2000 e levou ao estabelecimento de posições comuns no que concerne ao diálogo político, à cooperação, às questões comerciais e aos princípios gerais de livre comércio, inclusão de todos os setores, conformidade com as regras da OMC. A segunda rodada de negociações ocorreu entre os dias 13 e 16 de junho de 2000 em Bruxelas. Os três principais temas tratados foram o intercâmbio de informações, a identificação de obstáculos não tarifários e a definição de objetivos específicos para cada área da negociação. A terceira rodada de negociações foi realizada no Brasil em novembro de 2000. Em Brasília aconteceram reuniões do AN02FREV001/REV 3.0 21 comitê de negociações, dos grupos técnicos, dos subgrupos sobre cooperação e do subcomitê sobre cooperação. 1.4.2 Meios Financeiros da União Europeia e do Mercosul Os meios financeiros indispensáveis ao funcionamento das instituições, à aplicação de medidas e ao desenvolvimento de ações constam dos orçamentos das respectivas organizações. Orçamentos esses que são completamente distintos de uma organização para a outra, como a seguir se pode verificar. O Tratado de Assunção de 1991 não faz uma única referência ao orçamento do Mercosul. E o Protocolo de Ouro Preto, de 1994, apenas se refere ao art. 45: “a Secretaria Administrativa do Mercosul contará com o orçamento para cobrir os seus gastos de funcionamento e aqueles que determinem o Grupo Mercado Comum”. Tal orçamento será financiado em partes iguais por contribuição dos Estados-Partes. Assim, o orçamento do Mercosul comporta as características dos orçamentos das organizações internacionais clássicas de cooperação. Apenas apresenta uma característica diferente dos orçamentos de outras organizações, que é o fato de contribuir com montantes iguais para cobrir as despesas orçamentadas. Já no caso da União Europeia, ao contrário do Tratado de Assunção e do protocolo de Ouro Preto, os Tratados de Paris e de Roma dedicam vários artigos às questões financeiras e à matéria orçamental. O orçamento da União Europeia diferencia-se do orçamento das outras organizações internacionais, tanto pelo seu volume como pela natureza das receitas, pois a União Europeia é financiada por recursos próprios, que os Estados-Membros aceitaram que fossem direcionadas diretamente à comunidade (União), a fim de cobrir as despesas de funcionamento e de intervenção. A previsão anual, explícita e discriminada, das receitas e das despesas constitui o objeto do orçamento comunitário. De onde vem o dinheiro da comunidade? Sabemos que é o contribuinte quem, ao fim e ao cabo, paga a conta. Assim, a partir de 1979 uma parte de todos os impostos sobre o valor acrescentado AN02FREV001/REV 3.0 22 cobrados na comunidade (população) é paga diretamente à organização para financiar o seu orçamento. 1.5 OS DIREITOS HUMANOS E A GLOBALIZAÇÃO 1.5.1 Definição de Direitos Humanos A expressão direitos humanos significa que são os direitos do homem, ou seja, são direitos que visam resguardar os valores mais preciosos da pessoa humana, que resguarda a solidariedade, a igualdade, a fraternidade, a liberdade, a dignidade da pessoa. De acordo com Alexandre Morae, Direitos humanos são uma ideia política com base moral e estão intimamente relacionados com o conceito de justiça, igualdade e democracia. Eles são uma expressão do relacionamento que deve prevalecer entre os membros de uma sociedade e entre os indivíduos e os Estados. Os direitos humanos devem ser reconhecidos em qualquer Estado, grande ou pequeno, pobre ou rico, independentemente do sistema social e econômico que essa nação adota. João Baptista Herkenhoff define os direitos humanos como: Direitos humanos ou direitos do homem são, modernamente, entendidos aqueles direitos fundamentais que o homem possui pelo fato de ser homem, por sua própria natureza, pela dignidade que a ela é inerente. São direitos que não resultam de uma concessão da sociedade política. Pelo contrário, são direitos que a sociedade política tem o dever de consagrar e garantir. Portanto, direitos humanos são direitos sem os quais não se podem exercer muitos outros e, certamente, tampouco se poderia falar em cidadania. São direitos que dão fundamento a todos os demais. Devem ser reconhecidos em qualquer Estado, grande ou pequeno, pobre ou rico, independente do sistema social e econômicoque essa nação adota. Desta forma, direitos humanos compreendem: Os direitos individuais fundamentais, relativos à educação, trabalho, lazer, entre outros; AN02FREV001/REV 3.0 23 Os direitos econômicos relativos ao pleno emprego, meio ambiente e consumidor; Os direitos políticos relativos às formas de realização da soberania popular. Foi em decorrência da Segunda Guerra Mundial e com o intuito de proteger os seres humanos das atrocidades do Holocausto e das barbaridades cometidas pelos nazistas contra os judeus, na Alemanha, que surgiram as mais profundas preocupações à proteção internacional dos direitos humanos. 1.5.2 Os Direitos Humanos e o Avanço no Processo de Globalização A partir da Declaração Universal de Direitos Humanos de 1948 começa a ser delineado o chamado Direito Internacional dos Direitos Humanos, mediante a adoção de importantes tratados de proteção dos direitos humanos, de alcance global (emanados da ONU) e regional (emanados dos sistemas europeu, interamericano e africano). Inspirados pelos valores e princípios da Declaração Universal, o sistema global e regional compõe o universo instrumental de proteção dos direitos humanos no plano internacional. Em face deste complexo aparato normativo, cabe ao indivíduo, que sofreu violação de direito, a escolha do aparato mais favorável. Nesta ótica, os diversos sistemas de proteção de direitos humanos interagem em benefício dos indivíduos protegidos. Ao adotar o valor da primazia da pessoa humana, estes sistemas se complementam, somando-se ao sistema nacional de proteção, a fim de proporcionar a maior efetividade possível na tutela e promoção de direitos fundamentais. Assim, os avanços que vêm se processando nessas últimas décadas manifestam-se por meio de novas conquistas e pela ampliação do conceito de direitos humanos, abrangendo novas aspirações coerentes com o mundo moderno. Os direitos humanos surgem como uma reação ao absolutismo, visando delimitar o poder de controle do Estado. Algumas declarações e constituições, lançadas nos séculos XVII e XVII, constituíram verdadeiros marcos na história dos AN02FREV001/REV 3.0 24 direitos humanos. Muitos foram os avanços desde a Declaração Universal dos Direitos do Homem, multiplicando-se as convenções, pactos e os tratados para a aplicação e defesa dos direitos humanos, tais como: a convenção contra tortura e outros tratamentos cruéis, a Declaração Interamericana dos Direitos do Homem, além de dispositivos estabelecidos nas cartas constitutivas das Organizações Internacionais, como a ONU, OEA, OIT, etc. Na evolução do movimento dos direitos humanos houve não só ampliação do conteúdo do conceito como também uma evolução que vai da conquista de novos direitos à criação de instrumentos que assegurem, efetivamente, a observância dos direitos conquistados. No Brasil, o movimento dos Direitos Humanos surge no final dos anos 60, consolidando-se na década de 70 como luta contra a repressão política, protesto contra o arbítrio e pelo restabelecimento do Estado de direito. Com o fim do regime militar e decretada a anistia em 1979, muitas das organizações não governamentais redirecionaram seus objetivos, encaminhando sua luta para a conquista dos direitos negados àqueles carentes de cidadania e excluídos socialmente. As organizações não governamentais nacionais e internacionais têm tido atuação importante na defesa e promoção dos direitos humanos. Reivindicam participação nos processos de decisão e na elaboração de políticas públicas em nível local e estão sempre presentes nos foros paralelos das grandes conferências. Com a redemocratização e o retorno ao Estado de Direito, o Brasil se insere no sistema internacional e interamericano de proteção dos direitos humanos, ao aderir e ratificar os tratados internacionais e regionais. A Constituição de 1988 constituiu um marco importante na luta pela defesa e promoção dos direitos humanos. O grande desafio proposto aos direitos humanos em relação à globalização refere-se ao fato de que, pela primeira vez na história, os Direitos Humanos deixaram de ser um direito restrito à realidade interna, uma vez que cabia somente aos estados regularem tais questões. A tese da indivisibilidade dos direitos humanos passou a ser defendida nas últimas décadas principalmente pelos juristas que atuam na área do direito internacional público. Mas se tornou insustentável diante dos efeitos da globalização, máxime em razão da diferente eficácia dos direitos fundamentais, econômicos e AN02FREV001/REV 3.0 25 sociais. Alguns internacionalistas, como Celso Mello (1997), passaram a expressar o entendimento de que os direitos humanos são indivisíveis e compreendem os fundamentais, os econômicos e os sociais, mas ressalva que a eficácia dos direitos sociais é mitigada pela carência de justicialismo, restando ainda um longo caminho a percorrer. No final do século XX os direitos fundamentais conheceram, excepcionalmente, efetividade. E também ocorre o incremento das garantias dos direitos econômicos, motivado pelo processo de globalização e pela necessidade de prevenção dos riscos econômicos, ambientais e políticos por ele acusados. Ou seja, os direitos econômicos, entendidos como aqueles vinculados à livre iniciativa do cidadão e das empresas no mercado local ou global, ganham nova rede de proteção. Enquanto os direitos fundamentais e os econômicos exigem do Estado a abstenção ou a mera regulação e têm financiamento baseado nos impostos, os direitos sociais vivem sob a reserva do orçamento e dependem de recursos específicos alocados às políticas públicas. Enfim, alguém deve pagar a conta necessária à adjudicação dos direitos sociais. Daí o enorme déficit na eficácia de tais direitos tanto no plano nacional como no internacional, agravado pelo processo de globalização. Em tese, o processo de globalização trouxe extraordinário avanço na efetivação dos direitos fundamentais e dos direitos econômicos e melancólico déficit na garantia dos direitos sociais. 1.6 DIREITOS HUMANOS E O MERCOSUL O tema da proteção dos direitos humanos tem escassa bibliografia no contexto do Mercosul. Doutrinadores afirmam trata-se de uma experiência de integração meramente econômica, sendo a problemática da proteção dos direitos humanos verdadeiro tema político, desconectado da esfera de interesse comum dos quatro membros que compõem o bloco. AN02FREV001/REV 3.0 26 De fato, os objetivos comerciais e econômicos imperam em todos os dois tratados formativos do Mercosul, a saber, o Tratado de Assunção e o Protocolo de Ouro Preto, porém podemos observar que a cooperação entre os países não pode ser compartimentalizada, já que mesmo o mais fiel defensor da soberania dos estados reconhece a necessidade da existência de formas de convivência pacífica entre estes entes soberanos em todos os campos da atividade humana, incluindo o tema da proteção dos direitos humanos. Assim, após a eclosão de processos de integração econômica e política da pós-Segunda Guerra, esta necessidade de tratamento ao tema dos direitos humanos passou a ser um verdadeiro imperativo, pois os objetivos maiores de formação de mercados comuns e mesmo de uniões mais profundas só foram atingidos com o desenvolvimento de uma cooperação que tratasse de temas considerados antes políticos. Diante disso, o tema da proteção de direitos humanos passou a se constituir também em tema essencial para o desenvolvimento de uma integração entre os países do globo. Assim, os temas meramente nacionais passaram a levar em consideração as normas internacionais existentes. Com isso, devemos perceber que a proteção internacional dos direitos humanos transcende a esfera do Mercosul. Então, em busca de um mercado comum entre os países-membros deve ser levada em consideração pelosoperadores do direito a necessidade de introduzir o debate da proteção dos direitos humanos. A proteção dos direitos humanos insere-se, assim, na ótica de uma integração mais ampla e profunda entre os países do Mercosul, auxiliando na construção do mercado comum almejado. 1.6.1 A Defesa dos Direitos Fundamentais e o Mercosul Tendo em vista a relevância da proteção dos direitos fundamentais em todas as Constituições dos países-membros, veremos o grau de importância dado ao tema pelo ordenamento incipiente do Mercosul. A crise econômica dos anos 80 agravou o fosso existente entre os países industrializados e em desenvolvimento, no plano AN02FREV001/REV 3.0 27 internacional, e entre diferentes setores da sociedade no plano interno de nações como o Brasil. A situação de crise não era privilégio brasileiro, mas sim espalhado por todos os membros atuais do MERCOSUL. Para combater tal situação estabeleceram o processo de integração regional que contornaria os aspectos mais urgentes da crise econômica, ao estimular o comércio e os investimentos na região, ao mesmo tempo em que fortalece a economia de Brasil e Argentina, países líderes do processo em possíveis choques com outros blocos econômicos do planeta. Esses dois países líderes, Argentina e Brasil, encontraram neste processo de integração um modo de fortalecer a manutenção dos regimes democráticos instaurados em ambos. Com isso, a onda de redemocratização em várias nações subdesenvolvidas assegurou apenas conquistas em relação a direitos políticos, sem ter tido êxito quanto aos problemas sociais de países de primeiro mundo. Assim, com o processo de redemocratização ocorrido nos países do Mercosul, a partir dos anos 80, a situação dos direitos humanos registrou considerável melhora. 1.6.2 A Eficácia da Proteção dos Direitos Humanos Podemos ver que a efetividade dos direitos humanos esbarra na incapacidade de alguns estados latino-americanos de fazer com que se cumpra o disposto nas leis. De fato, a questão maior da proteção dos direitos humanos está a capacidade do Estado em exigir o respeito a estes direitos, tanto por parte de agentes públicos quanto privados. A integração pretendida por meio do Mercosul pode possibilitar o auxílio mútuo dos estados no tocante à administração da tutela dos direitos humanos. A ação só reforçaria o desejo de integração entre os povos dos países- membros, já que o tema dos direitos humanos é verdadeira carga legitimadora de um ordenamento jurídico. As comunidades de excluídos logo perceberam que o processo de integração não as atinge, e mais, as exclui. Há mais de 300 anos, os direitos civis e políticos encontram-se protegidos por uma série de garantias, que variam de um sistema jurídico para outro, pois o indivíduo ofendido em seus direitos AN02FREV001/REV 3.0 28 pode recorrer ao Judiciário, invocando um remédio jurídico-processual apropriado para cessar a violação. Existem hoje, diferentes níveis de integração e de institucionalização regional, como o Nafta, a União Europeia e o Mercosul. Os quatros países que integram o Mercosul, como também o Chile, experimentaram nos últimos 50 anos sérias conturbações. Na Argentina, a partir da eleição do coronel Juan Domingo Perón à presidência, e o golpe militar; a repressão sistemática aos oposicionistas com o general Rafael Videla; e a derrota para as tropas inglesas na Guerra das ilhas Malvinas, com o general Leopoldo Galtiere. No Brasil, com o regime militar de 1964 a 1985, marcado pela supressão das garantias constitucionais, a censura dos meios de comunicação, a prisão, a tortura e eliminação física dos opositores, ações de guerrilha rural e de terrorismo urbano. No Paraguai, de 1959 a 1964, o regime ditatorial, com o presidente Stroessner, caracterizado pela repressão aos oposicionistas, bem como pela corrupção institucionalizada. No Uruguai, após sucessivos governos, marcados pela instabilidade institucional, o Congresso, temendo a instalação de uma ditadura, extinguiu a função de presidente em 1951, passando o Poder Executivo a ser exercido por um Conselho de Administração, até 1966. No Chile, com o Golpe militar, assume o poderoso general Augusto Pinochet, que dissolveu os partidos políticos e instaurou uma bruta repressão política que deixou milhares de mortos e desaparecidos. Em 1980, os militares promulgam uma nova Constituição que institucionalizou o regime ditatorial. 1.6.3 Os Direitos Humanos como Instrumento Humanizador Visto que a cidadania se exerce por intermédio dos direitos, parece hora de reinserir seu discurso num sentido diferente do que vem sendo empregado, mais acorde com o consenso de Viena. Tendo por alvo o laissez-faire imperante no AN02FREV001/REV 3.0 29 processo de globalização atual com o objetivo de humanizá-lo, a atuação necessária exigiria mobilização muito maior. Seu foco seriam os direitos humanos na própria maneira enviesada em que se acham incorporados no discurso contemporâneo, com ênfase nos direitos “de primeira geração”: à vida, à liberdade e à segurança da pessoa. Pode-se invocar igualmente o direito de não ser torturado, lembrando que a fome conscientemente causada é uma forma de tortura. De tudo isto, poderíamos realçar os seguintes temas com que a humanidade vai sempre se confrontar: O discurso dos direitos humanos é pouco imediatista, mas tem derrubado ditadores. Os direitos sociais como direitos humanos, em um cenário de globalização econômica e de integração regional. O trabalho e o direito em uma economia globalizada. Os direitos ganharam em concretude ao se enriquecerem com a prerrogativa da exigibilidade jurídica, mas perderem em abrangência. Puderam ser protegidos pela ordem jurídica, mas somente dentro do Estado que os proclama. Com a Declaração Universal de 1948 ganhou impulso a tendência de universalização da proteção dos direitos dos homens. À Declaração das Nações Unidas seguiram-se várias convenções internacionais, de escopo mundial ou regional, acentuando a vocação dos direitos fundamentais de expandir fronteiras. É importante salientar a íntima vinculação entre os direitos fundamentais, aí necessariamente incluídos os direitos humanos, com as noções de Constituição e de Estado de Direito. --------------------FIM DO MÓDULO ÚNICO------------------------ AN02FREV001/REV 3.0 30 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARNAUD, André Jean. Globalização e Direito. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2005. CASELLA, Paulo Borba. MERCOSUL (integração Regional e Globalização). Rio de Janeiro: Renovar, 2000. DOLINGER, Jacob. Direito Internacional Privado (parte geral). Rio de Janeiro: Renovar, 2003. FARIA, J. E. Direito e Globalização Econômica. São Paulo: Malheiros, 1996. LEAL, Rogério Gesta. Perspectivas hermenêuticas dos direitos humanos e fundamentais no Brasil. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2000. MACHADO, J. B. M. MERCOSUL: processo de integração, origem evolução e crise. São Paulo: Aduaneira, 2000. MELLO, Celso de Albuquerque. Direitos Humanos e Conflitos Armados. Rio de Janeiro: Renovar, 1997. PIOVESAN, Flávia. Direitos Humanos e o Direito Constitucional Internacional. 4. ed. São Paulo: Max Limonad, 2000. PIOVESAN, Flávia. Direitos Humanos, Globalização Econômica e Integração Regional. São Paulo: Max Limonad, 2002. REZEK, José Francisco. Direito Internacional Público. Curso Elementar. 8. ed. Rio de Janeiro: Saraiva, 2000. SARLET, Ingo Wolfgang Sarlet. A Eficácia dos Direitos Fundamentais. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2001. p. 64. AN02FREV001/REV 3.0 31 STRENGER, Irineu. Contratos Internacionais do Comércio. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1992. -----------------------FIM DO CURSO!-----------------------
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