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Mód II - Fundamentos da Integração Regional: O Mercosul O curso de Fundamentos da Integração Regional: Mercosul tem carga horária de 40 horas/aula, duração de 60 dias, a contar da data da matrícula e foi concebido com o objetivo de instruir os alunos sobre os fundamentos de processos de integração regional em geral, com especial ênfase no Mercosul e no papel a ser desempenhado pelos Congressos Nacionais no contexto da conformação deste bloco econômico. Módulo I – Contextualizando a Integração: Módulo II – O Mercosul: Módulo III – A Dimensão Parlamentar do Mercosul: Módulo IV - Análise da trajetória e perspectivas para o Mercosul: Unidade 1 - Aspectos Introdutórios; Regionalismo e Multilateralismo; Os Blocos Econômicos; Unidade 2 - Teoria de Referência; Teoria da Integração Regional; e Etapas da Integração. Unidade 1 - Antecedentes; Cronologia da integração no Cone Sul; A ALALC e a ALADI; Unidade 2 - Análise dos marcos jurídicos constitutivos do Mercosul; Unidade 3 - Estrutura institucional do Mercosul; e Solução de Controvérsias. Unidade 1 - A norma Mercosul; Procedimentos de produção da norma Mercosul; Unidade 2 - O Parlamento do Mercosul; Definição. Unidade 1 - Sucessos e Debilidades; Unidade 2 - O Futuro do Mercosul. I - Contextualização a Integração Neste módulo, estudaremos o contexto internacional que veio a dar origem aos fenômenos da conformação de blocos econômicos, como o Mercosul e a União Europeia, e do multilateralismo comercial, que se traduz na criação da Organização Mundial do Comércio. Examinaremos, ademais, a teoria da integração regional, tanto do ponto de vista econômico como político, e discorreremos, finalmente, sobre os dois modelos de integração existentes hoje no cenário internacional: o intergovernamental e o supranacional. Aspectos introdutórios; Regionalismo e multilateralismo; Os blocos econômicos. Identificar, com base na análise do contexto internacional, como se deu a formação dos Blocos Econômicos e a criação da Organização Mundial do Comércio; Discutir a teoria da integração regional; Distinguir os dois modelos de integração existentes no cenário internacional. Regionalismo e multilateralismo O cenário internacional contemporâneo, caracterizado pelo fenômeno da globalização, apresenta duas tendências paralelas no que tange às negociações comerciais: por um lado, a regionalista, que tende à formação de blocoseconômicos, e por outro, a multilateralista, que prefere levar a cabo essas negociações em âmbito mais amplo e se expressa, sobretudo, no foro da Organização Mundial do Comércio (OMC). Ambas tendências despontam como resultado de certas condições que vieram a prevalecer no mundo a partir de meados do século XX. Algumas delas são condições de natureza política, outras referem-se a recentes avanços tecnológicos. Entre as primeiras, o fim da Guerra Fria e a queda da chamada "Cortina de Ferro" constituem as principais. O mundo, antes dividido em blocos antagônicos, passa a ser percebido e a funcionar como um todo. Com o consenso prevalecendo entre as superpotências, as relações internacionais fazem das trocas e dos investimentos o seu grande objetivo. Consequentemente, intensificam-se de forma exponencial os fluxos do comércio no mundo. Por outro lado, os recentes avanços no campo da tecnologia, com a descoberta de novos produtos e de novas técnicas de produção, a partir das vertiginosas transformações verificadas nos meios de comunicação, implicaram uma verdadeira 'reestruturação da economia mundial', com base nas duas tendências a que já nos referimos acima: a multilateralização das relações de comércio, que convive com a sua regionalização. Em outros termos, notamos que todos esses fenômenos vêm ocorrendo em um cenário de crescente globalização, a qual, vista de um prisma puramente econômico, consiste na internacionalização da produção, sendo que tanto a regionalização quanto a multilateralização são respostas encontradas pelos países para fazerem face à nova realidade internacional. O binômio 'pesquisa e desenvolvimento' (P&D) passou a constituir-se em fundamental componente nos custos de produção, superando mesmo, em importância, fatores mais tradicionais, como mão-de-obra e matéria-prima. Assim, a regionalização, além de viabilizar investimentos cada vez maiores em P&D, para a obtenção de produtos mais baratos e de melhor qualidade, permite ganhos em escala, o que também barateia a produção, favorecendo a colocação dos produtos no mercado. A integração econômica, portanto, não é um fim em si mesma, constituindo-se em instrumento para uma melhor inserção dos países do bloco no mercado internacional. Precursores da Integração - metodologia de Descartes para alcançar a certeza por meio da intuição e dedução. - as paixões controlam as ações da maior parte das pessoas. Portanto, para superar os motivos de interesse pessoal é necessário usar a violência para garantir a lei e a justiça. Quanto a isto, antecipou-se ao próprio Rousseau e à sua idéia do contrato social, pelo qual a sociedade tem por dever proteger o povo de sua própria violência. Os Blocos Econômicos A formação dos blocos econômicos é tendência representativa de um modelo de integração regional próprio do mundo globalizado, apresentando-se sob a forma de agrupamento de vários países de uma região com vinculação econômica e entendimento-base orientados para o desenvolvimento, a integração econômica e a liberalização econômica. Uma das principais características de um bloco econômico é a busca incessante de fórmulas ágeis de discussão e acordo entre seus parceiros, que lhes permitam negociar, entre si e com outros países, através de mecanismos multilaterais, a defesa de seus interesses econômicos, bem como a obtenção de vantagens comerciais que facilitem e fortaleçam a promoção integrada de seu desenvolvimento. Abade de Saint Pierre.pdf 18 kB Destacaremos, na linhas seguintes, alguns blocos econômicos do cenário globalizado. Cuidaremos apenas de poucos exemplos, com destaque para a formação da União Europeia, bloco em estágio mais avançado de integração. Ademais, por ora, nos absteremos de descrever sobre o Mercosul, tendo em vista que os módulos seguintes a ele se dedicarão de forma detalhada. ACORDO DE LIVRE COMÉRCIO DA AMÉRICA DO NORTE (NAFTA) O Acordo de Livre Comércio da América do Norte, o NAFTA (North America Free Trade Agreement), foi planejado para ser um instrumento de integração das economias dos EUA, do Canadá e do México. Iniciou em 1988, entre norte-americanos e canadenses, e por meio do Acordo de Liberalização Econômica, assinado em 1991, formalizou-se o relacionamento comercial entre os Estados Unidos e o Canadá. Em 13 de agosto de 1992, o bloco recebeu a adesão dos mexicanos, tendo entrado em vigor em janeiro de 1994. O NAFTA consolidou o intenso comércio regional no hemisfério norte do continente americano, beneficiando grandemente a economia mexicana, ao mesmo tempo em que aparece como concorrente ao bloco econômico europeu, à ascendente economia chinesa e à fortíssima economia japonesa. Este bloco não constitui uma organização internacional de cooperação econômica nos moldes clássicos. A meta essencial de seu acordo constitutivo é construir, em prazo específico, uma zona de livre comércio com ampla abrangência, se possível, atraindo outros países das Américas, regulando os investimentos, a propriedade intelectual e o comércio de bens e serviços entre os Países Membros do bloco. Para maiores informações consulte o site do NAFTA. https://www.nafta-sec-alena.org/ http://www.nafta-sec-alena.org/ https://www.nafta-sec-alena.org/ COMUNIDADE ANDINA (CAN) Em 26 de maio de 1969, pelo Acordo de Cartagena, foi criado o Pacto Andino, que recebeu depois o nome de Grupo Andino, mais tarde Comunidade Andina de Nações, e, enfim, Comunidade Andina. Era inicialmente formado pelos seguintes países: Colômbia, Peru, Venezuela, Equador, Bolívia e Chile. Criou-se, assim,uma União Aduaneira e Econômica para fazer restrições à entrada de capital estrangeiro, com base em estudos da Comissão Econômica para a América Latina (CEPAL), órgão da ONU. Com a subida ao poder do General Augusto Pinochet, em 1973, o Chile retirou-se do Pacto, abrindo sua economia ao mercado externo, principalmente ao norte-americano. A Venezuela desligou-se da Comunidade Andina para aderir ao Mercosul. Hoje, o grupo de países remanescentes objetiva criar um mercado comum em função do processo de globalização econômica, que exige sua formação em bloco para melhor defesa de seus interesses e promoção integrada do seu desenvolvimento. Com a Aliança do Pacífico, a Comunidade, abrangendo também o Chile e o México, e abrindo-se à adesão da Costa Rica e do Panamá, vem sendo concebida como instrumento voltado a promover uma maior inserção comercial de seus participantes em regiões consideradas estratégicas comercialmente, principalmente a Ásia. No momento, o Mercosul busca acelerar sua integração com a Aliança do Pacífico a partir da criação de uma zona de livre comércio. A atual onda de liberalização econômica reacende e atualiza no Continente, ainda que de forma incipiente e muitas vezes conflituosa, a realização do ideal panamericano. http://www.comunidadandina.org/ UNIÃO EUROPEIA (UE) A União Europeia representa o estágio mais avançado do processo de formação de blocos econômicos no contexto da globalização. Originada da Comunidade Econômica Europeia (CEE), fundada em 1957 pelo Tratado de Roma, até 2003 a União Europeia era formada por 15 países da Europa Ocidental, e sua população estimada em 374 milhões de habitantes. Hoje, após a incorporação de mais 13 países do Leste Europeu, passou a contar com 28 Países Membros e uma população de aproximadamente 500 milhões de habitantes. http://www.comunidadandina.org/ A União Europeia negociou a adesão dos seguintes países ao bloco, quais sejam: Chipre, Eslováquia, Eslovênia, Estônia, Hungria, Letônia, Lituânia, Malta, Polônia e República Tcheca, já considerados aptos para adesão desde o início de 2003, com ingresso definitivo em 1º de maio de 2004. O décimo-primeiro país seria a Turquia, que, no entanto, ainda não preenche os critérios mínimos estabelecidos pela União Europeia para início das negociações com vistas à sua aceitação como país membro. A Bulgária e a Romênia concretizaram sua entrada na União Européia a partir de 2007. O órgão máximo da União Europeia é o Conselho Europeu. Agrupa os Chefes de Estado ou de Governo, além do Presidente da Comissão Europeia, sendo responsável pela definição das grandes orientações políticas e cabendo-lhe a responsabilidade de abordar os problemas da atualidade no âmbito internacional. O Conselho Europeu reúne-se, em princípio, quatro vezes por ano, ou seja, duas vezes por semestre. Em circunstâncias excepcionais, o Conselho Europeu pode reunir-se em sessão extraordinária. Outras instituições existem para que a União Europeia possa cumprir seus objetivos de integração. O Conselho de Ministros (Conselho da União Europeia, ou simplesmente Conselho) é o órgão que dispõe de poder de decisão, assumindo a coordenação geral das atividades da União. O Conselho, juntamente com o Parlamento Europeu, fixa a legislação da União Europeia, inicialmente proposta pela Comissão Europeia. O Parlamento Europeu, atualmente composto por delegados eleitos, atendidos por um secretariado formado por mais de quatro mil funcionários, possuí três tipos de poder: o orçamentário, o de controle da Comissão Europeia, e o legislativo. Este último é exercido diferentemente segundo a natureza da matéria em questão, indo de instância de consulta à co- decisão, quando divide o poder decisório com o Conselho. Uma das mais importantes funções do Parlamento Europeu consiste em aprovar e autorizar a indicação de projetos que consomem cerca de 45% do orçamento oficial da União Europeia. A contribuição de cada cidadão da União Europeia corresponde a 1,5 Euros por ano, significando apenas um por cento do montante total do orçamento comunitário. O Parlamento Europeu, com sede em Estrasburgo, na França, para sessões plenárias, é formado por parlamentares eleitos pelas populações dos Países Membros da União Europeia. Em Luxemburgo, funciona a Secretaria Administrativa, e em Bruxelas, na Bélgica, realizam-se reuniões das Comissões Temáticas. Lá se reúnem também o Conselho de Ministros da União Europeia e seu braço executivo, a Comissão Europeia. A Comissão Europeia é o órgão executivo e tem como função a iniciativa na elaboração da legislação em comum, controlando sua aplicação e coordenando a administração das políticas comuns. Além disso, conduz as negociações da União Europeia no plano das relações exteriores. Complementam as instituições da União Europeia: 1. Tribunal de Justiça; 2. Tribunal de Contas; 3. Comitê Econômico e Social; 4. Comitê das Regiões; 5. Provedor de Justiça Europeu; 6. Banco Central Europeu (BCE); e 7. Banco Europeu de Investimento (BEI). Em 1992 é consolidado o Mercado Comum Europeu, com a eliminação das últimas barreiras alfandegárias entre os países-membros. Pelo Tratado de Maastricht (cidade da Holanda), a União Europeia entra em funcionamento a partir de 1º de novembro de 1993. Três outros tratados complementam o Tratado de Maastricht: os Tratados de Amsterdam(1996), Nice(2001) e Lisboa(2007). O Euro é a moeda única criada pela União Europeia, sendo utilizada, desde 1º de janeiro de 2002, em substituição às demais moedas da maioria dos Países Membros, circulando em cédulas e moedas na comunidade financeira internacional. Já se consolidou e se afirma, a cada dia, como alternativa ao dólar norte-americano nas transações comerciais. Por temer as consequências da perda da sua soberania, três países ainda resistem ao fim da emissão de sua própria moeda: Reino Unido, Suécia e Dinamarca. Embora a crise econômica mundial, deflagrada no ano de 2009, tenha causado sérios impactos à estabilidade da Zona do Euro, não podemos negar a força desta moeda, lastreada em economias poderosas, que passa a competir com o dólar norte-americano em condições de igual aceitação no mercado internacional. Para admissão à União Econômica e Monetária, o país membro da União Europeia deve atender aos seguintes pré-requisitos: a. déficit público máximo de 3% do PIB; b. inflação baixa e controlada; c. dívida pública de no máximo 60% do PIB; d. moeda estável, dentro da banda de flutuação do Mecanismo Europeu de Câmbio; e, por último, e. taxa de juros de longo prazo controlada. ACONTECIMENTOS MARCANTES 1. Em 1º de julho de 2001, a União Europeia deu início as negociações sobre livre comércio com o Mercosul, estando previstos inúmeros acordos de intercâmbio comercial entre a UE e o Bloco Econômico do Mercado Comum do Sul, embora se tenha presente as dificuldades nas negociações que envolvam o setor agrícola, pois a União Europeia não admite abrir mão dos muitos instrumentos criados para proteger o agricultor europeu. 2. A Comissão Europeia adotou o RIP, programa que conta com significativos recursos provenientes da União e que se destina a ajudar na conclusão do Mercado Interno do Mercosul, a seu fortalecimento institucional e à efetiva participação da sociedade civil no processo de integração interna do Mercosul e birregional com a União Europeia. São Países Membros da UE: Alemanha, Áustria, Bélgica,Bulgária, Dinamarca, Espanha, Finlândia, França, Grécia, Holanda (Países Baixos), Irlanda, Itália, Luxemburgo, Portugal, Reino Unido, Suécia, Chipre, Eslováquia, Eslovênia, Estônia, Hungria, Letônia, Lituânia, Malta, Polônia, Romênia e República Tcheca e Croácia. Site da União Europeia http://europa.eu/ https://europa.eu/european-union/index_pt Não é intenção deste trabalho – e nem poderia ser – esgotar o estudo sobre os blocos econômicos existentes. Assim, apenas a título de curiosidade, citamosoutros blocos, tais como Mercado Comum Centro-Americano (MCCA), Mercado Comum e Comunidade do Caribe (CARICOM), Comunidade dos Estados Independentes (CEI), Associação Europeia de Livre Comércio (EFTA), Fórum Econômico da Ásia e do Pacífico (APEC), Associação de Nações do Sudeste Asiático (ASEAN), Acordo Comercial sobre Relações Econômicas entre Austrália e Nova Zelândia (ANZCERTA), Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC). A Organização Mundial do Comércio (OMC): a participação do Brasil no contencioso comercial da OMC Criada em 1º de janeiro de 1995, a Organização Mundial do Comércio tem por objetivo geral formular as regras de comércio no mundo globalizado. A Organização foi criada para cumprir as seguintes metas: A OMC é sucessora do GATT - o Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio -, criado em 1948, logo após a Segunda Grande Guerra. Ao longo do período entre 1948 e 1994, foram as regras do comércio multilateral estabelecidas no âmbito do Acordo, uma Contribuir para a liberalização gradual do comércio multilateral, mediante rodadas de negociações; Desencorajar a discriminação no comércio, evitando cláusulas como a da "nação mais favorecida"; Estabelecer um órgão para a solução de conflitos comerciais. http://www.europa.eu/ http://europa.eu/ https://europa.eu/european-union/index_pt vez que a Carta de Havana, que criava uma Organização Internacional do Comércio, jamais logrou ser ratificada pelos Estados Partes. Nos primeiros anos de existência do GATT, suas rodadas de negociações buscaram basicamente a redução de tarifas comerciais. A Rodada Kennedy, realizada de 1964 a 1967, produziu um Acordo Anti-Dumping e a Rodada Tóquio, que se estendeu de 1973 a 1979, constituiu-se na mais importante tentativa já encetada para lograr a eliminação das barreiras não-tarifárias. Da Rodada Uruguai, iniciada em 1986, e que alcançou o seu final em 1994, nasceria a Organização Mundial do Comércio. Sua especificidade em relação ao GATT reside no fato de que, enquanto o GATT debruçava-se apenas sobre o comércio de bens, a OMC inclui em sua agenda, entre outros temas, serviços, compras governamentais, propriedade intelectual e meio ambiente. Também não se pode deixar de lembrar que um diferencial relevante entre o antigo GATT e a OMC se refere ao fato de esta última contar com um mecanismo de solução de controvérsias sensivelmente mais efetivo que aquele com que contava o antigo GATT. A OMC realizou duas grandes reuniões ministeriais: em Cingapura, em 1996, e em Genebra, em 1998. A terceira, que marcou o início da "Rodada do Milênio", foi realizada em Seattle, nos Estados Unidos, entre os dias 30 de novembro e 3 de dezembro de 1999. Posteriormente, em 2001, foi lançada a “Agenda de Doha para o Desenvolvimento”, conhecida como Rodada de Doha, cujas negociações ainda estão em curso. Para os 159 países membros da OMC, as tarifas que aplicarão às suas importações, registradas no âmbito da Organização, revestem-se de efeito vinculante e não podem ser desrespeitadas. Caso um dos membros se sinta prejudicado em virtude de iniciativa tomada por outro Estado Parte no Acordo, a ele caberá acionar o sistema de solução de controvérsias da OMC. Países membros da OMC O Brasil, ativo cliente do sistema de solução de controvérsias da organização, tende a ampliar sua litigiosidade, seja pelo que tem a defender, seja pelo que tem a conquistar. Embora não cheguemos a participar em 1% do comércio mundial, já somos autores ou réus em cerca de 8% dos famosos "panels" genebrinos, atualmente tão citados quanto desconhecidos. Nas vitais relações comerciais entre Estados, a consolidação da OMC representa importante momento de sobreposição do poder jurídico sobre o poder político. Adotando um inusitado aparato jurídico, já testado e comprovado em sua efetividade, o organismo internacional aplica um modelo racional de solução de controvérsias, mediante sugestão de sanções - ou seja, sem ser impositivo - sob medida para as peculiaridades de conflitos entre Estados soberanos. Fomenta, ademais, um pluralismo jurídico ordenado, com os Estados comprometendo-se a abster-se de medidas unilaterais de retaliações e medidas abruptas indesejáveis ao equilíbrio e harmonia internacionais. Fruto da experiência obtida no direito do comércio internacional, somada aos melindres e limites do direito internacional público, o "panel" propõe uma original forma de decisão vinculante, em que inexistindo a pacificação do conflito pelos meios político-diplomáticos, profere-se, ao fim de um sumário processo de conhecimento, relatório com prescrições elaboradas por juristas a serviço da OMC. O relatório final do "panel" comina sanções compensatórias a quem violou as regras do comércio internacional, causando prejuízo a outrem, expressas em valores monetários. De natureza impositiva sob condição, já que podem ser negociadas interpartes, em busca da construção do consenso, sempre declaratórias e eventualmente constitutivas, tais decisões conformam algo inusitado no direito tanto interno como internacional, não se tratando de laudo arbitral e tampouco de simulacro de sentença judicial. Sujeitos ainda a uma cautela política francamente assumida pela OMC, os relatórios finais dos "panels" não serão implementados se vetados pelo querer de todos os Estados Partes, na dialética forma do consenso invertido, o que não constitui novidade no direito internacional, haja vista, por exemplo, o poder de veto do Conselho de Segurança das Nações Unidas. Na prática, contudo, o consenso invertido é extremamente difícil de ser alcançado, o que facilita a aprovação dos relatórios finais. Há que se ter presente que a âncora contratualista da relação entre Estados - pacta sunt servanda - permanece incólume, com o consentimento sendo determinante para que se integre e permaneça na OMC, submetendo-se ao seu sistema de solução de controvérsias. E mais: só os Estados, blocos econômicos (atualmente apenas a Comunidade Europeia) e territórios aduaneiros com autonomia para conduzir relações comerciais externas têm legitimidade ad causam, embora saibamos que no mais das vezes são as empresas que conflitam (Bombardier x Embraer, Kodak x Fuji), sendo representadas pelos Estados, blocos econômicos ou os citados territórios aduaneiros, através das fórmulas ordinárias do direito internacional público. Com uma legislação específica - o "Dispute Settlement Understanding", DSU, aprovado no bojo da Rodada Uruguai, em sua manifestação jurídica por excelência, o Encontro de Marraquesh, no primeiro semestre de 1994 -, a OMC tende a transformar-se no grande fórum mundial, onde se estima serem pacificados os macroconflitos comerciais internacionais, agravados pelas duras contendas de manutenção e acesso a mercados. O Órgão de Solução de Controvérsias, sempre que provocado, passará a buscar solução consensual, observando um calendário rígido, sem procrastinações unilaterais. Passando pela fase de conhecimento e do contraditório, em que os Estados expressam livremente suas razões, formando a prova na forma ordinária dodue process of law, chega-se ao relatório final, que indica condutas e comina sanções comerciais na forma de direitos a serem ou não exercidos pela parte vencedora, aqui bem ao sabor das relações flexíveis do direito internacional. O exercício facultativo dos direitos concedidos à parte vencedora é, de fato, prática de difícil percepção, senão àqueles habituados à realidade do direito do comércio internacional. Nele, em especial no contencioso comercial, ganhar não significa simplesmente aplicar-se a decisão. Há, em verdade, toda uma gama de circunstâncias que condicionam o que se fará. Está-se claramente em um outro espectro de prestação jurídica, onde a coação continua essencial ao direito, conquanto empregando meios muito mais sofisticados. De toda sorte, e em que pese seu breve período de vigência, não há mais como duvidar da eficácia e efetividade do sistemade solução de controvérsias da OMC, como se aufere do grande respaldo internacional que vem recebendo. Considerados os vinte e sete países signatários do GATT, em 1947, primeira tentativa de ordenar- se o comércio internacional, aos atuais signatários da OMC, e com especial significado para a adesão da China, não há mais espaço para qualquer tipo de ceticismo. teoria de referência; teoria da integração regional; etapas da integração.. Teoria da Integração Regional Além das considerações de ordem econômica, faz-se necessária também uma discussão do papel dos fatores políticos, não apenas no que concerne aos processos decisórios que levam certos países a optar por um processo integracionista, como também no que diz respeito à continuidade e aprofundamento dessa integração. O caso da Europa é paradigmático para a ilustração de processos de integração determinados por motivos de caráter político. Entre estes, cabe lembrar a necessidade de se evitar futuras guerras no continente europeu e a criação de uma terceira força na política mundial mediante o fortalecimento da Europa Ocidental, em um quadro, então, de polarização entre a União Soviética e os Estados Unidos. Nesse cenário, ressurge o Movimento Federalista Europeu após o final da I Guerra Mundial, que se baseava nas ideias de precursores como o abade de Saint- Pierre (1658-1743), Immanuel Kant (1724-1804) e Victor Hugo (1802-1885), entre outros. Porém, os federalistas do século XX são impulsionados pelos horrores sofridos pelo continente europeu por força das duas guerras mundiais que o assolaram no intervalo de apenas 25 anos. Vários políticos posicionam-se a favor da criação dos "Estados Unidos da Europa", postura fortalecida pelo apoio dos Estados Unidos e pela pressão das crescentes ameaças de Moscou. Foi o temor de uma terceira guerra mundial, decorrente do expansionismo soviético, que levou Winston Churchill a proferir memorável discurso em Zurique, em 1946, quando apresenta o projeto de "Recriar a família europeia em uma estrutura regional tal que venha a chamar-se Estados Unidos da Europa". Sem dúvida alguma, as ideias federalistas permearam toda a trajetória da integração europeia, muitas vezes por meio de figuras políticas presentes no Parlamento Europeu, como Altiero Spinelli, autor do famoso Manifesto de Ventotene (1941), que defendia a união dos países da Europa em uma Federação Europeia. Outra vertente da teoria da integração deve-se ao cientista político David Mitrany, formulador da teoria funcionalista. Embora Mitrany tenha formulado a sua teoria com vistas à unidade mundial, e não apenas europeia, suas ideias influenciaram fortemente os primeiros militantes pela união da Europa e teóricos da integração, dando origem, mais tarde, à teoria neofuncionalista. A "alternativa funcional" de Immanuel Kant.pdf 16 kB Victor Hugo.pdf 17 kB Mitrany vislumbra uma ampla teia de agências internacionais, onde tecnocratas de países diversos se dedicariam, em conjunto, de maneira racional, pragmática e flexível, ao desenvolvimento de atividades vinculadas a vários setores voltados ao bem-estar público. A soberania dos Países Membros de tais agências seria, gradualmente, transferida para tais reuniões intergovernamentais. Exemplo paradigmático desse sistema é o Tratado de Paris (1951), que cria a Comunidade Europeia do Carvão e do Aço (CECA) e uma Alta Autoridade destinada a administrar a sua produção e comercialização nos Estados Partes. A soberania passa a ser então compartilhada para determinadas decisões, por um ato de vontade dos próprios Estados envolvidos. Mais tarde, Ernst Haas elabora a teoria neofuncionalista, que enfatiza o aprendizado, pelas elites de um país, dos benefícios da integração. Esta se estenderia a outros setores, em consequência de uma percepção favorável dos seus resultados. É o célebre efeito spill over, identificado por Haas como o principal propulsor de um projeto integracionista. O Mercosul oferece interessantes exemplos de spill over, na medida em que foi incorporando novos setores ao processo de integração que antes se encontravam alijados do mesmo, como relações trabalhistas, turismo e meio ambiente. Em sua análise da integração do ponto de vista político, afirma Karl Deutsch, por sua vez, que a integração é um processo pelo qual se obtém determinado tipo de relacionamento entre as partes componentes, capaz de alterar o comportamento destas relativamente ao que este seria, se essas partes componentes não estivessem integradas. Etapas da integração Antes de mais nada, caberia definirmos alguns termos relacionados à formação de blocos econômicos. Segundo Bela Balassa, a integração econômica é um processo que implica medidas destinadas à abolição de discriminações em uma determinada área. Assim, de início, um processo de integração econômica caracteriza-se por um conjunto de medidas que têm por objetivo promover a aproximação e a união entre as economias de dois ou mais países. O grau de profundidade dos vínculos que se criam entre as economias dos países envolvidos em um processo de integração econômica permite que se visualize, ou determine, as fases ou etapas do seu desenvolvimento. A teoria do comércio internacional registra a classificação de cinco tipos de associação entre países que decidem integrar suas economias: 1) A Zona de Preferência Tarifária é o mais elementar dos processos de integração, apenas assegurando níveis tarifários preferenciais para o grupo de países que conformam a Zona. Assim, uma ZPT estabelece que as tarifas incidentes sobre o comércio entre os Países Membros do grupo são inferiores às tarifas cobradas de países não membros. A ALALC, por exemplo, procurou estabelecer preferências tarifárias entre seus onze membros, ou seja, entre todos os Estados da América do Sul que aderiram à tentativa de integração comercial, excluídos apenas a Guiana e o Suriname, e incluindo-se ainda o México. 2) A Zona de Livre Comércio (ZLC), uma segunda modalidade, consiste na eliminação das barreiras tarifárias e não-tarifárias que incidem sobre o comércio entre os países que constituem a ZLC. O NAFTA (North America Free Trade Area), ou Acordo de Livre Comércio da América do Norte, firmado entre os Estados Unidos, o México e o Canadá, é um exemplo de ZLC. 3) A União Aduaneira é uma Zona de Livre Comércio que adota também uma Tarifa Externa Comum (TEC). Nessa fase do processo de integração, um conjunto de países aplica uma tarifa para suas importações provenientes de países não pertencentes ao grupo, qualquer que seja o produto, e, por fim, prevê a livre circulação de bens entre si com tarifa zero. O exemplo mais conhecido desse tipo de integração foi a Zollverein (União Aduaneira, em alemão), idealizada e impulsionada por Otto von Bismarck, o grande líder responsável pela unificação política da Alemanha, em 1850. AZollverein foi criada em 1835 e dissolvida em 1866. 4) O Mercado Comum, quarto estágio de integração econômica, difere fundamentalmente da União Aduaneira porque, além da livre circulação de mercadorias, requer a circulação de serviços e fatores de produção, ou seja, de capitais e pessoas. Porém, deve-se ressaltar que, além da livre circulação de bens, serviços e fatores de produção,todos os Países Membros de um Mercado Comum devem seguir os mesmos parâmetros para fixar a política monetária (fixação de taxas de juros), a política cambial (taxa de câmbio da moeda nacional) e a política fiscal (tributação e controle de gastos pelo Estado), ou seja, os Países Membros devem concordar com o avanço integrado da coordenação das suas políticas macroeconômicas. A União Europeia, até 1992, foi um exemplo acabado de integração pela via do Mercado Comum, quando, então, prosseguiu para o estágio mais avançado, passando a se constituir em uma União Econômica e Monetária. 5) A União Econômica Monetária é a etapa mais avançada dos processos de integração econômica, até agora alcançada apenas pelaUnião Europeia. A União Econômica e Monetária ocorre quando existe uma moeda comum e uma política monetária com metas unificadas e reguladas por um Banco Central comunitário. Desde 2002, a União Europeia tem como moeda corrente o Euro, cuja emissão, controle e fiscalização dependem do Banco Central Europeu. De acordo com a classificação exposta nos parágrafos anteriores, o Mercosul é, desde 1º de janeiro de 1995, uma União Aduaneira, mas o objetivo dos países que o integram, e que está consubstanciado no primeiro artigo do Tratado de Assunção, é a construção de um Mercado Comum. Assim, de modo resumido, pode-se afirmar que o Mercosul é um projeto de construção de um Mercado Comum, cuja execução encontra-se na fase de União Aduaneira imperfeita. Além das cinco etapas de integração, entendemos que uma sexta fase deve ser acrescentada à teoria sobre a qual nos apoiamos, que será a União Política. A União Política poderá ser a etapa conclusiva de um processo de integração regional. Ao alcançá-la, o modelo intergovernamental, típico instrumento de cooperação internacional sempre liderado pelo Executivo, terá sido substituído pelo chamado modelo supranacional, que implica a existência de órgãos, no seio da estrutura institucional da integração, independentes dos Estados Membros e encarregados de zelar pelos interesses da região em sua totalidade. A união política poderá tomar a feição de uma federação, assentada sobre um pacto federativo, isto é, sobre uma constituição. A União Europeia assinou, em 29 de outubro de 2004, o Tratado da Constituição Europeia, que, no entanto, ainda não logrou a sua aprovação em todos os Estados Membros, tendo sido rejeitado pelo voto popular por ocasião de referendos realizados na França (29 de maio de 2005) e na Holanda (1º de junho de 2005). Ressalte-se, entretanto, que até o presente momento 15 Países Membros já ratificaram o Tratado: Áustria, Bélgica, Chipre, Estônia, Alemanha, Grécia, Hungria, Itália, Letônia, Lituânia, Luxemburgo, Malta, Eslováquia, Eslovênia e Espanha. Após a tentativa fracassada do Tratado da Constituição Europeia, foi assinado, em 2007, o Tratado de Lisboa, que pretendia, com algumas alterações, reviver o primeiro tratado. A população irlandesa, no entanto, rejeitou o Tratado de Lisboa e pôs em dúvida o modelo de expansão institucional e normativa da União Europeia. Parece certo que novas formas precisam surgir para que o projeto integracionista europeu não se estagne. Modelo supranacional x intergovernamental Segundo a visão intergovernamentalista, os Estados soberanos, principais atores no cenário internacional, lançam-se à integração a partir do reconhecimento de que as vantagens da cooperação e da identificação de interesses comuns superam os custos da situação de conflito. Mas, em linhas gerais, na perspectiva intergovernamental os Estados devem esforçar-se por fazer valer, acima da visão regional, o interesse nacional. Desta noção decorre, naturalmente, o raciocínio segundo o qual a preservação da soberania nacional constitui um princípio essencial a ser observado ao longo das negociações da integração. O modelo intergovernamental constitui, portanto, típico instrumento de cooperação internacional, pautando-se pelos princípios do direito internacional clássico, tais como a igualdade dos Estados e o direito de veto. Cabe assinalar a pronunciada importância conferida pelos países da América Latina ao conceito da soberania nacional absoluta, que emerge indissoluvelmente ligado às suas raízes históricas e que até hoje permanece como princípio basilar de sua cultura política. O modelo supranacional implica a inclusão de um ou mais órgãos, no seio da estrutura institucional da integração, independentes dos Estados Partes e encarregados de zelar pelos interesses da região em seu conjunto. No caso da União Europeia, o órgão supranacional por excelência é a Comissão Europeia (chamada pelo Tratado de Paris, que criou a Comunidade Europeia do Carvão e do Aço, de "Alta Autoridade"), apresentando também o Parlamento e o Tribunal de Justiça (bem como o Tribunal de Primeira Instância) aspectos de supranacionalidade. A Comissão tem o poder de emitir "Diretivas" e "Resoluções", sendo que estas últimas se sobrepõem ao ordenamento jurídico interno dos Estados Partes, nos quais têm aplicação direta e imediata. Contudo, é inegável a centralidade dos Estados nacionais nas formulações que determinam os destinos da integração. As negociações que conduzem às revisões dos tratados ocorrem em âmbito intergovernamental, e as entidades supranacionais são criadas pelos próprios governos, que lhes delimitam as competências. Paulo Roberto de Almeida, em artigo escrito em 1994, aponta os seguintes aspectos de supranacionalidade no modelo comunitário europeu: Como mencionamos, o referido artigo data de 1994, momento em que o Mercosul preparava a arquitetura institucional que figuraria no Protocolo de Ouro Preto, firmado em 17 de dezembro de 1994, e que acompanharia a implantação da união aduaneira. Segundo o autor, não se poderia impulsionar no Mercosul, sem consideráveis riscos políticos, inclusive e principalmente de perda de credibilidade internacional, um processo de definição supranacional de instituições e métodos como os anteriormente enumerados. presença de instituições independentes dos Estados Membros (Comissão, Parlamento, Tribunal de Justiça); métodos decisórios supranacionais (possibilidade de votação no Conselho segundo o princípio majoritário, superando eventuais oposições de Estados individuais); sistema próprio de recursos e transferência de certas competências à Comunidade; normas que vinculam diretamente os indivíduos, agentes econômicos e empresas. Assim, o Protocolo de Ouro Preto veio a reiterar a natureza intergovernamental do Mercosul e a metodologia do consenso para os seus processos decisórios. Neste Módulo, estudamos os movimentos paralelos em curso no cenário mundial, de multilateralização do comércio e de formação de blocos econômicos. No que se refere ao multilateralismo, examinamos a Organização Mundial do Comércio e seu inédito mecanismo de solução de controvérsias, com destaque para a participação do Brasil nos contenciosos. Estudaremos, em seguida, a teoria da integração e suas diversas correntes, as etapas da integração e os modelos de que se podem revestir os blocos econômicos. O Mercosul Neste módulo, estudaremos o Mercosul (Mercado Comum do Sul) detendo-nos em seus antecedentes históricos e tratados fundadores. Em seguida, analisaremos a estrutura institucional adotada pelos negociadores do bloco para impulsionar o processo de integração. Também será objeto de nosso estudo o sistema de solução de controvérsias adotado pelo Mercosul. Identificar os antecedentes históricos e os tratados fundadores do Mercado Comum do Sul; Analisar o processo de integração do Mercosul.
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