Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
2 SUMÁRIO 1 IMPORTÂNCIA DA PSICOLOGIA JURÍDICA ............................................. 4 2 PSICOLOGIA JURÍDICA E AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA .......................... 6 3 A FAMÍLIA E A INFÂNCIA ........................................................................ 11 3.1 Definição de infância e adolescência ................................................. 13 3.2 O trabalho dos psicólogos com crianças e adolescentes ................... 16 3.3 O estatuto da criança e do adolescente ............................................. 19 3.4 Atuação do psicólogo nas varas da infância e juventude ................... 22 4 A ADOÇÃO NO BRASIL ........................................................................... 24 4.1 Os tipos de adoção no brasil .............................................................. 27 4.2 A atuação do psicólogo no contexto judiciário da adoção .................. 31 5 BREVE HISTÓRICO DA VIOLÊNCIA SEXUAL ........................................ 40 5.1 Aplicação em casos de abuso sexual infantil ..................................... 42 5.2 O dever do psicólogo.......................................................................... 42 5.3 A psicologia a serviço do atendimento das vítimas ............................ 46 5.4 Responsabilidade do Psicólogo ......................................................... 48 6 A DESTITUIÇÃO DO PODER FAMILIAR ................................................. 52 7 Alienação Parental .................................................................................... 61 7.1 O psicólogo jurídico e a alienação parental ........................................ 63 7.2 Perícia e Avaliação psicológica .......................................................... 64 8 ADOLESCENTES AUTORES DE ATOS INFRACIONAIS ........................ 66 8.1 O Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo – SINASE ....... 66 8.2 Aplicação das medidas socioeducativas: alguns achados empíricos . 67 8.3 Função e práticas do psicólogo na atuação com adolescentes em medida socioeducativa de internação .................................................................... 69 9 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................... 77 3 4 1 IMPORTÂNCIA DA PSICOLOGIA JURÍDICA Fonte: unifor.br Por “Psicologia”, se analisado no sentido etimológico da palavra, compreender- se-á como “a ciência que estuda a alma”, vez que o termo de origem grega abarca duas palavras: psique = alma e logos = ciência/estudo. (BARROS, 1993 apud LIMA J; 2019). A Psicologia surgiu ainda no séc. III a.c., em seus primórdios agregada à Filosofia, sendo encontrados inclusive estudos de Platão e Aristóteles inspirados na psique humana. De acordo com Cambaúva (1998, p. 214 apud LIMA J; 2019) “A psicologia se ‘desliga’ da filosofia e se configura enquanto ciência independente quando deixa de buscar a essência humana e passa a adotar métodos para não só conhecer, mas também intervir nesse ser humano. ” Ainda assim, apenas no final do século XIX, quando foram empregados métodos de observação sistemáticos e cautelosos, que a Psicologia foi considerada ciência; ao passo que ao longo do tempo foi tida por seus estudiosos como o estudo da mente e/ou do comportamento e, atualmente, para maioria deles, indica o estudo do comportamento dos organismos. (BARROS, 1993 apud LIMA J; 2019). A Psicologia Jurídica, por sua vez, é um ramo ainda muito recente desta ciência, afinal, sua origem provém ainda de outro ramo da Psicologia, a “Psicologia do Testemunho”. Esta última se deu dos trabalhos do psicólogo e pedagogo Alfred 5 Binet (1857-1911 apud LIMA J; 2019), analisando a sugestionabilidade da memória das crianças. Em paralelo, os estudos de Karl Marbe (1869 - 1953 apud LIMA J; 2019) e Hugo Munsterberg (1863-1912 apud LIMA J; 2019), também psicólogos, ressaltavam como a memória, a fiabilidade e a vulnerabilidade das testemunhas poderiam ser problemáticas ao processo. (HERRERA, 2015 apud LIMA J; 2019). Assim, a psicologia do testemunho ganhou força durante as três últimas décadas do século XX, sendo influenciada pela psicologia cognitiva onde, através dos estudos acerca da memória humana, obteve gradualmente participação efetiva em julgamentos, realizando perícias e, desta forma, assessorando os tribunais, principalmente na área forense. (HERRERA, 2015 apud LIMA J; 2019). Foi a partir desta atuação que a Psicologia do Testemunho progrediu para a matéria específica que hoje é conhecida por Psicologia Jurídica. No Brasil, a intersecção entre Psicologia e Direito se deu, justamente, da evolução dos métodos empírico-experimentais sobre testemunho e sua participação nos tribunais, extraídos da Psicologia do Testemunho, para uma utilização de estratégias de avaliação psicológica, com objetivos definidos, inicialmente identificada como uma prática voltada para a realização de exames e avaliações, buscando identificações por meio de diagnósticos (GROMTH-MARNAT apud LAGO, 2009 apud LIMA J; 2019). Estes diagnósticos eram feitos pelos psicólogos clínicos em participação com médicos psiquiatras em exames psicológicos legais, impulsionando o psicodiagnóstico de forma muito positiva, porém informal e, quase sempre, de forma voluntária. (AMATO, 2009 apud LIMA J; 2019). Estes trabalhos se deram ainda no reconhecimento da profissão no país, na década de 1960, e a inserção da Psicologia no Direito ocorreu de forma muito gradual e a passos curtos, de modo que, somente “a partir da promulgação da Lei de Execução Penal (Lei Federal nº 7.210/84), que o psicólogo passou a ser reconhecido legalmente pela instituição penitenciária (Fernandes, 1998 apud LIMA J; 2019). ” (LAGO, 2009, p. 484 apud LIMA J; 2019). Ao fim, restou comprovado “a partir de estudos comparativos e representativos, que os diagnósticos de Psicologia Forense podiam ser melhores que os dos psiquiatras (Souza, 1998 apud LIMA J; 2019). ” (LAGO, 2009, p. 484 apud LIMA J; 2019), ademais, para os juristas, um método mais matematicamente provável como 6 eram os dados fornecidos pelos psicodiagnósticos faziam melhor jus à orientação de que necessitavam. Apesar de inicialmente a importância à avaliação psicológica destinar-se em especial a área criminal, não é apenas a este ramo do Direito que se deve a aproximação destas matérias; dentro da área cível, a destacar-se o Direito da Infância e da Juventude, área em que o psicólogo iniciou sua atuação na perícia psicológica de processos do então denominado Juizado de Menores, também influenciou a psicologia jurídica em sua ascensão. (TABAJASKI; GAIGER; RODRIGUES apud LAGO, 2009 apud LIMA J; 2019). Com a implantação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), e dilatação da legislação destinada aos menores, em 1990, o trabalho do psicólogo também ampliou, envolvendo-o em atividades na perícia, acompanhamentos e aplicação das medidas de proteção ou medidas socioeducativas (TABAJASKI; GAIGER; RODRIGUES apud LAGO, 2009 apud LIMA J; 2019). Essa expansão do campo de atuação do psicólogo gerou um aumento do número de profissionais em instituições judiciárias mediante a legalização dos cargos pelos concursos públicos. [...] (Rovinski, 2002 apud LAGO, 2009, p. 485 apud LIMA J; 2019) [...] no estado de São Paulo, o psicólogo [...] fez sua entrada oficial em 1985, quando ocorreu o primeiro concurso público para admissão de psicólogos dentro de seus quadros (SHINE apud LAGO, 2009, p. 484-485 apud LIMA J; 2019). A institucionalização do psicólogo forense está intimamente atrelada, portanto, ao Direito Criminal e ao Direito da Criança e do Adolescente, conforme LIMA J; (2019). 2 PSICOLOGIA JURÍDICA E AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA Pode-se dizer que ainda é recente a prática do psicólogo no âmbito jurídico, cada vez mais esse profissional vem mostrando a importânciada sua prática em diversos contextos. Na área jurídica, o psicólogo atua como perito judicial e assistente técnico (LUZ; GELAIN; BENICÁ, 2014 apud FIGUEIREDO S; 2019). O psicólogo jurídico atua na área de família nas questões que envolvem guarda dos filhos, abuso sexual, regulamentação de visitas, exoneração de alimentos, separação, divórcio, alienação parental, adoção entras outras demandas. Seu trabalho depende da solicitação de uma intervenção especializada por parte do juiz (MENDES, 2013 apud FIGUEIREDO S; 2019). 7 O psicólogo enquanto perito, a partir das suas experiências e dotado de conhecimento técnico e científico, apresenta informações ao juízo, contribuindo com este para que o mesmo possa desenvolver uma sugestão mais clara e objetiva sobre um problema em questão (GUILHERMANO, 2012 apud FIGUEIREDO S; 2019). O perito atua como auxiliar do juiz, é um profissional que demonstra capacidade técnica de sua competência, apresenta habilidades e conhecimentos específicos, para executar de forma eficiente a função. O psicólogo nesta função necessita estar regularmente registrado em seu conselho, neste caso no CFP (conselho federal de psicologia) e seguir às regras estabelecidas por este (CHEFER; RADUY; MEHL, 2016 apud FIGUEIREDO S; 2019). Existem dois tipos de peritos, os que trabalham diretamente nos Tribunais de Justiça, que atuam nos fóruns e os que são contratados de forma particular, indicado pelo juiz. Esses profissionais trabalham nos casos que necessitam de um esclarecimento especializado (MENDES, 2013 apud FIGUEIREDO S; 2019). O psicólogo enquanto assistente técnico atua como um assessor garantindo o direito ao contraditório. O psicólogo nesta função deve atuar de forma separada da função do perito e vise versa, para que não interfira na qualidade do serviço de ambas as partes. O envolvimento entre estes profissionais deve prezar pelo respeito, cada um realizando suas competências, o assistente técnico tem o direito de esclarecer suas possíveis dúvidas a respeito do caso com o psicólogo perito (LUZ; GELAIN; BENICÁ, 2014 apud FIGUEIREDO S; 2019). É função do assistente técnico, produzir Parecer Crítico relacionado ao caso, dentro de um prazo de 10 (dez) dias logo após a exposição do laudo. Para isso é fundamental conhecer o Código do Direito Civil que fala sobre Direito de Família, é necessário também analisar o processo observando as questões psicológicas (GUILHERMANO, 2012 apud FIGUEIREDO S; 2019). Vale ressaltar, que este profissional não é obrigado a ser contratado pelas partes, seu papel é apenas prestar um auxílio ao caso. E para desenvolver a sua atividade o mesmo pode escutar as pessoas envolvidas no caso, requerer documentos das partes entre outros (CHEFER; RADUY; MEHL, 2016 apud FIGUEIREDO S; 2019). 8 De acordo com a Resolução do Conselho Federal de Psicologia N. º 007/2003 o profissional psicólogo tem como função elaborar documentos que resulta na avaliação psicológica, sendo uma prática exclusiva desse profissional (LUZ; GELAIN; BENICÁ, 2014 apud FIGUEIREDO S; 2019). A avaliação psicológica, é uma prática exclusiva do psicólogo, trata-se de um processo técnico e científico que coleta dados para estudar e interpretar informações relacionadas aos fenômenos psicológicos da interação do sujeito com a sociedade, fazendo o uso de métodos, instrumentos e técnicas (MENDES, 2013 apud FIGUEIREDO S; 2019). Laudo é uma exposição minuciosa relacionada a fatos ou condições psicológicas, a partir das situações impostas pelos fatores políticos, sociais, históricos e culturais investigados na avaliação psicológica. Devem ser elaborados também, a partir de informações extraídas e analisadas com base em técnicas, como entrevista, testes psicológicos entre outras (LUZ; GELAIN; BENICÁ, 2014 apud FIGUEIREDO S; 2019). Serve para apresentar desde o procedimento até a conclusão do processo de avaliação psicológica, descrevendo tudo sobre as intervenções, encaminhamento, prognóstico, diagnóstico e a evolução do caso, se necessário, solicitação de acompanhamento psíquico, fornecendo apenas as informações essenciais da demanda, solicitação ou petição. Após a realização da perícia, é papel do perito elaborar este documento, para auxiliar o juiz na decisão da sentença (GUILHERMANO, 2012 apud FIGUEIREDO S; 2019). O estudo psicossocial é uma forma de perícia, que pode ser feito pelo psicólogo junto ao assistente social, que investigam a relação familiar e as consequências para as partes que estão vivenciando o conflito, se difere do laudo por que analisa a situação de forma relacional e não individual. Para escolher a melhor forma de perícia é necessário avaliar de forma individual, as pessoas envolvidas e as possíveis técnicas para atuar onde ocorre a situação (CHEFER; RADUY; MEHL, 2016 apud FIGUEIREDO S; 2019). Outro documento que pode ser produzido pelo psicólogo é o parecer, trata-se de um resumo sobre o foco principal das questões psicológicas, no qual o resultado deste pode ser conclusivo ou indicativo. Sua finalidade é esclarecer as informações de uma avaliação especializada de um problema, com o intuito de eliminar as possíveis dúvidas do caso (MENDES, 2013 apud FIGUEIREDO S; 2019). O assistente 9 técnico não emite laudo e estudo psicossocial de acordo com o Conselho Federal de Psicologia, ele elabora parecer que irá contribuir com o advogado da pessoa que o contratou, auxiliando também na decisão do juiz (LUZ; GELAIN; BENICÁ, 2014 apud FIGUEIREDO S; 2019). Quando se trata de casos de alienação parental, se houver a necessidade o juiz irá solicitar a perícia psicológica ou biopsicossocial. O laudo irá conter, entrevista individual com as partes envolvidas, exames, levantamento histórico do relacionamento do casal e do processo de divórcio, avaliação da personalidade das pessoas envolvidas e analisar a forma, de como a criança ou o adolescente apresenta os comportamentos de acusação com o genitor (GUILHERMANO, 2012 apud FIGUEIREDO S; 2019). De fato, não é fácil diagnosticar a síndrome de alienação parental, pois requer um amplo conhecimento prático e cientifico dos profissionais perito e assistente técnico. Por mais que a lei 12318/10 aponte os possíveis atos, existem várias outras formas de alienação parental, muitas crianças e adolescentes não desprezam o genitor alienado e demostram sofrimento psicológico tal e qual de uma pessoa alienada (CHEFER; RADUY; MEHL, 2016 apud FIGUEIREDO S; 2019). Com isso, só pode ser considerado alienação parental se o ato for reconhecido pelo poder judiciário. Então, o juiz poderá solicitar a realização de uma perícia biopsicossocial ou psicológica. O laudo será produzido por perito habilitado, podendo ser o profissional psicólogo ou a junção de uma equipe multidisciplinar, este documento tem um prazo de até 90(noventa) dias para ser entregue (MENDES, 2013 apud FIGUEIREDO S; 2019). Dependendo do grau de alienação que o adolescente ou a criança de se encontre, poderá haver inúmeras atitudes no processo decisório da guarda, que pode ser tomada pelo juiz da causa, podendo inclusive adiar para decidir de forma mais eficiente (LISBOA, 2013 apud FIGUEIREDO S; 2019). As intervenções realizadas pelo psicólogo para diagnosticar a síndrome de alienação parental podem ser: entrevista pessoal com as partes envolvidas, análise do histórico da dinâmica familiar do casal, constatação do término do relacionamento, análise do caráter dos envolvidos, incluindo as manifestações de acusação do filho contra o genitor (LISBOA, 2013 apud FIGUEIREDO S; 2019). 10 Necessita-se então, tomar todas as medidas cabíveis, para que haja a proteção da integridade psicológica do sujeito alienado, (criança ou adolescente) buscando garantir o direito à convivência familiar, e estabelecer uma reaproximação do filho com genitor no qual houve o distanciamento,devido os atos de alienação parental (LUZ; GELAIN; BENICÁ, 2014 apud FIGUEIREDO S; 2019). Ao ser julgada a alienação parental, torna-se inviável a guarda compartilhada, ou seja, os pais não poderão mais dividir as responsabilidades para com o filho, então a guarda passará a ser unilateral onde apenas um dos genitores irá assumir tal responsabilidade e será decretada de forma preferencial ao genitor que na prática, possa garantir ao seu filho uma melhor relação familiar com o outro (GUILHERMANO, 2012 apud FIGUEIREDO S; 2019). As intervenções judiciais são diversas para reestabelecer o vínculo, métodos de aproximação com o filho, por meio de visitas supervisionadas por uma terceira pessoa, a fim de garantir que não haverá comportamentos de alienação durante a visita. Quanto ao alienador existem sansões, que irá depender do grau de alienação parental em que o menor se encontre, entre elas estão: pagamento de multa diária enquanto o alienador emitir comportamentos inadequados, imposição de tratamento psicológico, alteração da guarda do menor, em casos extremos é decretado prisão do alienador (CHEFER; RADUY; MEHL, 2016 apud FIGUEIREDO S; 2019). Existe também a possibilidade de requerer indenização por danos morais na presença do alienador, pois a regra define que quando há a alienação parental existe um “abuso moral” contra a criança ou adolescente (FACCINI, 2011 apud FIGUEIREDO S; 2019). O tratamento da SAP consiste em reconstruir o vínculo entre filho e genitor alienado e reduzir ao máximo os danos causados pela quebra desse vínculo. Sendo de extrema importância os psicólogos buscarem métodos de intervenção que amenizem os efeitos que surgiram por conta do tal fenômeno (MENDES, 2013 apud FIGUEIREDO S; 2019). A mediação é uma forma de solucionar conflitos extrajudiciais, é basicamente uma tentativa de diálogo entre as partes junto com um mediador. No caso da alienação parental, será discutida a vontade das pessoas envolvidas no processo, em busca de uma solução amigável, e mais adequada para o caso (LUZ; GELAIN; BENICÁ, 2014 apud FIGUEIREDO S; 2019). O psicólogo enquanto mediador irá facilitar o diálogo entre as partes, para que os mesmos possam buscar a melhor alternativa de resolução para o caso em questão. Para solucionar a alienação parental é necessário que o 11 psicólogo faça com que o alienador se coloque no lugar no alienado para que o mesmo perceba o seu sofrimento diante de suas ações, e possa enxergar também o mal que está causando aos seus filhos. Ao tomar consciência dos seus atos aos poucos os comportamentos alienadores irão se reduzindo até chegar ao fim (BARBIERI; LEÃO, 2013 apud FIGUEIREDO S; 2019). Para obter sucesso na mediação, é imprescindível que psicólogo enquanto mediador possua competências, que possa fazer com que as partes reflitam sobre seus sentimentos e emoções, ajudá-los a clarificar os fatos, auxiliando-os a falarem o verdadeiro significado do que desejam expressar, interpretando as questões, fornecendo explicações para aumentar a compreensão dos fatos e por fim resumir o que foi dito no geral para obter uma melhor percepção (TOSTA, 2013 apud FIGUEIREDO S; 2019). Superar a alienação parental é uma tarefa difícil por parte dos pais, os mesmos devem desenvolver um equilíbrio emocional diante da separação, possuir afeto para com os filhos, compreendendo a situação em que se encontram como um todo, para facilitar a solução do problema vivenciado por eles (CHEFER; RADUY; MEHL, 2016 apud FIGUEIREDO S; 2019). 3 A FAMÍLIA E A INFÂNCIA Gomes (2008 apud CVIATKOVSKI A; et al., 2014) ressalta que cabe à família, a sociedade e ao estado garantir às crianças e aos adolescentes o direito à vida, a moradia a saúde, a alimentação adequada, a educação de qualidade, o lazer, o acesso aos meios para ingressar na vida profissional. Garantem também direitos relacionados ao respeito, a cultura, a liberdade e a dignidade, protegendo as crianças e adolescente da discriminação, da violência, da exploração, da crueldade, da negligencia e da opressão. Segundo o Art. 25. Do Estatuto da Criança e do Adolescente, se entende por família natural, aquela que é constituída pelos pais e seus descendentes. Já a família extensa seria aquela formada pela família natural e por mais parentes que convivem no mesmo ambiente. Sendo assim, ambas as formações familiares têm o dever de proteger e preservar os direitos assegurados pelo ECA, conforme CVIATKOVSKI A; et al., (2014). 12 Tanto a família como o estado devem oportunizar as crianças e adolescentes, proteção física, social e cognitivo e que possam ter desenvolvimento integral para a vida profissional, social e familiar, entre outros. Para efeito de todas as leis consideram-se crianças até 12 anos incompletos e adolescentes aqueles que possuem idade entre 12 e 18 anos. Tendo preferência quando se trata de proteção ou em atendimentos em serviços públicos, conforme CVIATKOVSKI A; et al., (2014). De acordo com Gomes (2008 apud CVIATKOVSKI A; et al., 2014), as crianças devem ter acesso a tratamentos médicos e psicológicos, e em caso de abandono têm direito a um abrigo ou ainda, se a criança foi destituída de sua família natural deverá ser inserida em uma família substituta. Segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente (2014 apud CVIATKOVSKI A; et al., 2014) após os 18 anos os adolescentes atingem a maioridade civil, onde ele passa a responder judicialmente pelos seus atos. Em casos de negligencia, violência ou qualquer outra forma de violação de direito, serão aplicado medidas protetivas a este segmento e sua família. E em caso de ato infracional também será aplicada ao adolescente uma medida protetiva denominada socioeducativa. São direitos fundamentais da criança e do adolescente, o direito à vida e a saúde. Essa medida de proteção se dá por meio de políticas sociais públicas que permitam o nascimento e o desenvolvimento sadios em condições dignas. O direito à liberdade, ao respeito e a dignidade, como sujeitos de direitos civis as crianças e adolescentes em processo de desenvolvimento devem ter seus direitos assegurados, sendo dever de todos zelarem pela dignidade e liberdade, não permitindo que sofram violações físicas, psíquicas e sociais, conforme CVIATKOVSKI A; et al., (2014). O Estatuto da Criança e do Adolescente (2014 apud CVIATKOVSKI A; et al., 2014) assegura também o direito a convivência familiar e comunitária, sendo que a criança deve ser educada e criada no seio de sua família, cabendo aos pais o dever de sustento, educação e guarda. As crianças e os adolescentes também possuem a garantia do direito ao esporte, a educação, lazer e cultura visando principalmente o desenvolvimento de sua pessoa preparando-os para exercícios de cidadania. Subsequentemente as crianças e os adolescentes têm direitos garantidos de proteção ao trabalho e de profissionalização, ressaltando, porém, a proibição de trabalho para crianças com idade inferior a quatorze anos exceto na condição de aprendiz, respeitando sempre a condição de desenvolvimento. Gomes (2008 apud CVIATKOVSKI A; et al., 2014) ressalta que desde a sua criação, o ECA apresenta grandes avanços no processo de formulação e implantação de políticas para crianças e adolescentes como a erradicação do 13 trabalho infantil, o Plano Nacional de Convivência Familiar e Comunitária, Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo e enfrentamento da violência sexual, concomitante a dos conselhos de diretos e tutelares. O ECA deve ser compreendido como um instrumento de inclusão infanto-juvenil em toda a sua diversidade etária, étnica, sexual e cultural, de uma maneira democrática, sendo que seu dever é proteger a infância e adolescência, conforme CVIATKOVSKI A; et al., (2014). 3.1 Definição de infância e adolescência Segundo Berger (2013 apud PAES T; et al, 2019), desde o nascimento,as crianças expressam angústia, tristeza e contentamento, o prazer é expresso com um primeiro sorriso social em até seis semanas, o medo também se manifesta cedo, e a cautela com estranhos e outros sinais de medo são evidentes por volta dos seis meses, quando os avanços cognitivos possibilitam a diferenciação entre o familiar e o inesperado, geralmente o comportamento temeroso atinge o auge por volta dos quatorze meses, o contexto social ensina às crianças quando e como se expressar suas emoções, a referência social em relação aos pais inicia por volta dos seis meses. A autoconsciência desenvolve-se no segundo ano de vida e possibilita um novo conjunto de emoções, a criança torna-se menos previsível e menos submissa. Dos dois aos seis anos de idade muitas habilidades cognitivas são adquiridas como memória e resolução de problemas, o contexto social tem o papel essencial de fornecer apoio, conforme PAES T; et al, (2019). As crianças começam a desenvolver raciocínio abstrato, a interação social, especialmente na participação dirigida, auxiliando no processo cognitivo. Ao mesmo tempo, contudo, o pensamento das crianças pode ser ilógico e egocêntrico. As capacidades de linguagem se desenvolvem rapidamente; aos seis anos, a criança média conhece 10.000 palavras e demonstra conhecimentos em gramática. Aprendem a ajustar sua comunicação às pessoas e utilizam a linguagem para ajudar a si mesmas e aprender, conforme PAES T; et al, (2019). A educação pré-escolar ajuda as crianças a desenvolverem a linguagem e a se expressarem, bem como a se prepararem para a educação. Na medida em que são elogiadas por seus esforços elas iniciam novas atividades como organizar 14 brincadeiras que as ajudam a controlar habilidades físicas e intelectuais e que as ensinem ou aperfeiçoem os papéis sociais, conforme PAES T; et al, (2019). Nessa fase, as crianças aprendem a refletir sobre as consequências de suas ações surgindo também os castigos físicos e técnicas disciplinares para mudar os comportamentos indesejáveis, agressão e negligência podem trazer, alterações no desenvolvimento desses pequenos seres como comportamento antissocial, que poderá levar à agressividade e a conflitos com a lei. Técnicas disciplinares adequadas são aquelas em que não é preciso bater na criança, como por exemplo, deixá-la sozinha em algum canto para "pensar na vida", procedimento de correção disciplinar na hora são adequados e uma boa estratégia para as crianças agressivas se acalmarem (BERGER, 2013 apud PAES T; et al, 2019). Outra correção pertinente seria tirar os privilégios, proibi-la de fazer algo que gosta, a ideia é de devolver à criança um determinado privilégio assim que a criança admitir que errou, porém, o ideal é que o período não seja muito longo. Também é indicado, se possível consertar o erro, fazê-la reparar o que fez de errado para só então poder realizar outra atividade, conforme PAES T; et al, (2019). Não é indicado gritar e dar broncas constantemente nas crianças, pois desta forma os adultos passam a imagem que estão fora do controle e o próprio filho pode sentir-se estimulado a testar o genitor. Crianças que levam palmadas, surras e castigos severos tendem a se sentir mais inseguras e ter baixa autoestima, tornando- se excessivamente tímidas ou demasiadamente agressivas, além de ser tênue a linha entre medidas não agressivas e as agressões efetivas aumentando o risco para a vida e integridade desta criança (RIBEIRO et al. 2007 apud PAES T; et al, 2019). Na idade dos sete aos onze anos ocorre a expansão do mundo social, abandonam a total autossatisfação para ajustar seu próprio comportamento e interagir adequadamente com outras pessoas. O grupo de amigos torna-se cada vez mais importante à medida que a criança fica menos dependente de seus pais e mais dependente de seus amigos, em termos de ajuda, lealdade e compartilhamento de interesses mútuos. Começam a ter interesse pelos jogos competitivos e por artistas da televisão, internet, esportistas e cantores. Muitas crianças apresentam necessidade de aprendizagem especial, conforme PAES T; et al, (2019). Nessa fase podem surgir conflitos como a separação dos pais e geralmente mudam de comportamento podendo ficar: deprimidas, hostis, desobedientes, irritáveis, sozinhas, etc., perdendo o interesse pela escola e vida social. Nos casos de maus tratos a criança pode manifestar prejuízos na aprendizagem, autoestima, nas 15 relações sociais e no controle emocional. Alguns desses efeitos podem marcar a pessoa por toda a vida, crianças maltratadas tendem a se tornar adultos agressivos (BERGER, 2013 apud PAES T; et al, 2019). Para Rangel, Torman e Focesi (2012 apud PAES T; et al, 2019) a adolescência é o período de transição da infância para a idade adulta, no qual os adolescentes precisam se adaptar ao tamanho e à forma do corpo que se modifica, o despertar da sexualidade e às novas maneiras de pensar. A adolescência é uma crise de identidade e confusão de papéis. Em termos ideais, os adolescentes resolvem a crise desenvolvendo sua própria exclusividade e seu relacionamento com a sociedade, estabelecendo nesse processo uma identidade sexual, política, moral e vocacional. O pensamento do adolescente é marcado, e às vezes obstruído, pelo egocentrismo, exemplificado pelo mito da invencibilidade e pelo mito pessoal. O egocentrismo também é amplificado pela autoconsciência durante essa fase. É também um período onde eles se sentem ansiosos por estímulos intelectuais, mas estão altamente vulneráveis à falta de confiança em si mesmos. A puberdade se inicia pela produção de hormônios no cérebro, enquanto esses hormônios executam funções biológicas podem tornar o humor desses adolescentes mais instáveis. Ambos os sexos passam por mudanças nas características sexuais que são alterações nos órgãos sexuais além de modificações nos seios, voz, pelos faciais e corporais (RODRIGUES; MELCHIORI, 2014 apud PAES T; et al, 2019). De acordo com Oliveira (2006 apud PAES T; et al, 2019), esse processo ocorre em um momento em que a criança está sendo confrontada com as mudanças físicas da puberdade e seu impacto psicológico, o abuso sexual na adolescência pode ser especialmente danoso. Os efeitos do abuso sexual dependem da natureza do abuso, da sua duração e do relacionamento do adolescente com o agressor. Os adolescentes sexualmente molestados podem se tornar deprimidos, viciados em drogas ou agressores sexuais também. O uso ou experimentação de drogas ocorre com a maioria dos adolescentes, e quase todos eles sabem como obter cigarros, bebidas alcoólicas e outras drogas. O contexto familiar e o apoio dos pais podem reduzir a incidência da atividade sexual prematura, o comportamento sexual de risco e a gravidez precoce, porém poucos pais são educadores sexuais e bem informados para seus filhos. 16 Pode surgir conflitos entre os pais e filhos nesse período sobre coisas como cabelo, aparência e roupas, porém é importante nessa fase que os pais procurem ter comunicação, apoio, ligação e controle. Nessa época a depressão e a ideia de suicídio é bastante comum principalmente entre os rapazes. Assim como a violação da lei é mais comum na adolescência do que em qualquer outro período da vida. Grande parte se envolve em algum tipo de transgressão, mas relativamente poucos são presos e nem todos se tornam criminosos vitalícios assim também frequentemente são vítimas de crimes (BERGER, 2013 apud PAES T; et al, 2019). Porém, Aberastury e Knobel (1981 apud PAES T; et al, 2019), consideraram que nesta fase o adolescente vive uma ameaça constante de ruptura das relações, fator que pode ocasionar maior incidência de mecanismos de defesa de natureza psicótica como onipotência, egocentrismo, cisão, negação e projeção com tendência a se consolidar como modo de funcionamento psíquico. Os autores acrescentam aindaque neste período para alcançar a consolidação da personalidade o adolescente tem de utilizar-se de conduta superficialmente patológica. Sendo assim, comportamentos conhecidos como transgressões são reverberações dos conflitos internos, decorrentes desse processo. A ocorrência dos principais sintomas nesta fase são: A busca de si mesmo e da identidade; tendência grupal; necessidade de intelectualizar e fantasiar; crises religiosas, deslocalização temporal; evolução sexual manifesta; atitude social reivindicatória; contradições nas manifestações de conduta; separação progressiva dos pais e flutuação de humor, conforme PAES T; et al, (2019). O processo de busca de identidade pode fazer com que o adolescente a encontre de forma incorreta, fundamentada em figuras negativas, na qual é preferível uma identidade perversa a não possuir nenhuma. Portanto, a prevenção da criminalidade na adolescência inclui a identificação de crianças em risco, que consome substâncias precocemente, que são autoritárias, que são maltratadas ou negligenciadas, conforme PAES T; et al, (2019). 3.2 O trabalho dos psicólogos com crianças e adolescentes Em 2002, o Conselho Federal de Psicologia (CFP) publicou uma cartilha visando à atualização dos psicólogos que trabalham com a população adolescente no Brasil. Bastos (2002 apud BRAMBILLA B; et al., 2010), nessa cartilha, inicia sua reflexão com a exposição sobre a normatização da prática do psicólogo. O autor 17 afirma que o psicólogo é um profissional da saúde, especificamente da saúde mental, independentemente da área de atuação. Saúde mental compreendida como o processo de otimização da qualidade de vida das pessoas, através da consideração dos fatores emocionais que agem contra ou a favor do seu bem-estar psíquico e da vida como um todo. Ao compreendermos a psicologia como uma ciência da saúde, Paes Ribeiro (1998 apud BRAMBILLA B; et al., 2010) discute aspectos ligados ao binômio saúde doença, relatando a nova compreensão em relação a esse binômio, cujo foco é a saúde ao invés da doença, no campo político e científico da saúde. Conforme argumenta o autor, há o surgimento de uma psicologia da saúde, que recorre aos diferentes conhecimentos no domínio da psicologia, visando à promoção e proteção da saúde, à prevenção e ao tratamento de doenças e disfunções associadas, à análise e melhoria do sistema de cuidados à saúde e ao aperfeiçoamento da política de saúde. A saúde é aqui entendida não apenas como ausência de sintomas ou de doenças. Destaca-se uma preocupação com o indivíduo em sua totalidade. Segundo Paes Ribeiro (1998 apud BRAMBILLA B; et al., 2010), há um movimento da saúde enquanto um modelo ecológico e uma compreensão holística. O modelo ecológico possibilita uma compreensão diferenciada acerca do ser humano e da saúde, na medida em que não há dicotomias entre mente-corpo e as relações que o indivíduo estabelece com o mundo, ocupando uma esfera saudável ao não separar a relação indivíduo-coletividade. Essa união retrata as possibilidades de os indivíduos vivenciarem suas experiências de maneira mais integral e autêntica, aproximando-se de melhores condições de vida. Esta noção de saúde converge com as concepções de Bleger (1984 apud BRAMBILLA B; et al., 2010) que reflete sobre a postura de esperar que a pessoa adoeça para curá-la, em lugar de evitar a doença e promover um melhor nível de saúde. O autor propõe uma aquisição da dimensão social da profissão de psicólogo, com consciência do lugar que ocupa dentro da saúde pública e da sociedade. Em relação à psicologia, o autor acima citado, afirma que se deve inseri-la, penetrá-la cada vez mais na realidade social e em círculos mais amplos, incluindo estudos de grupos, das instituições e da comunidade, já que a dimensão psicológica se faz presente em tudo, visto que o ser humano atua em tudo. 18 Nesse outro paradigma proposto por Bleger, no que tange o trabalho com crianças e adolescentes, requer-se uma compreensão sobre a dimensão da infância e da juventude; segundo Cruz, Hillesheim e Guareschi (2005 apud BRAMBILLA B; et al., 2010), precisa-se contextualizá-la em uma noção datada geográfica e historicamente e não apenas como uma etapa natural da vida. Implica em refletir as questões relativas à família, aos vínculos mães/pais/filhos/filhas, à escola, à maternidade/paternidade e às formas de criação dos filhos. Quando se fala em infância e adolescência não se pode remeter a uma abstração, mas a uma construção discursiva que institui determinadas posições, não só das crianças e dos adolescentes, mas também da família, dos pais, das mães, das instituições escolares, entre outros, caracterizando determinados modos de ser e viver a infância. Essa compreensão materializa-se no cotidiano e, segundo Salles (2005 apud BRAMBILLA B; et al., 2010), as condições históricas, políticas e culturais diferentes produzem transformações não só na representação social da criança e do adolescente, mas também na sua interioridade. Identifica-se uma correspondência entre a concepção de infância presente em uma sociedade, as trajetórias de desenvolvimento infantil, as estratégias dos pais para cuidar de seus filhos e a organização do ambiente familiar e escolar. As crianças e os adolescentes não podem ser fadados a tornarem- se apenas adultos. As crianças constituem identidade e subjetividade na relação com o outro e num tempo e num espaço social específico. A criança e o adolescente demonstram modos específicos de se comportar, agir e sentir, e só podem ser compreendidos a partir da relação que constroem. Essa relação se concretiza de acordo com as condições objetivas da cultura na qual se inserem. Segundo Bock (2004 apud BRAMBILLA B; et al., 2010), vivemos hoje numa cultura caracterizada pela existência de uma indústria da informação, de bens culturais, de lazer e de consumo onde a ênfase está no presente, na velocidade, no cotidiano, no aqui e no agora, e na busca do prazer imediato. Além disto, segundo Cruz, Hillesheim e Guareschi (2005 apud BRAMBILLA B; et al., 2010), ao afirmar as crianças como seres em desenvolvimento, a infância é tomada a partir da ótica adulta, isto é, como uma etapa de vida a ser superada e que necessita proteção integral, na medida em que é compreendida como frágil e incapaz. 19 Essa compreensão de infância e adolescência construída e a atuação do psicólogo, como profissional da saúde, contribuíram para o surgimento de técnicas que possibilitem a atenção em relação à demanda de promoção e proteção, prevenção e tratamento das pessoas. No que compete ao manejo do psicólogo com crianças e adolescentes, as práticas variam de acordo com a situação em que estão inseridos. Independentemente de qual seja a práxis, há princípios legais que oferecem subsídios para o trato das crianças e adolescentes. Este subsídio é o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), conforme BRAMBILLA B; et al., (2010). 3.3 O estatuto da criança e do adolescente Santos (2007 apud CVIATKOVSKI A; et al., 2014) refere que houve na história vários momentos que marcaram a luta pelos direitos da criança e do adolescente. Em 1923, uma organização não-governamental, chamada International Union for Children Welfare, promulgou as primeiras leis de proteção à infância, que foram agrupadas na primeira Declaração dos Direitos da Criança de 1924, em Genebra. Apesar de em 1948 ser elaborada uma lei que garantia os direitos dos cidadãos chamados de Declaração Universal dos direitos do homem, houve a necessidade de criar outro documento que abordasse unicamente os direitos das crianças. Desta forma em 1959 fora aprovada na Assembleia Geral das Nações Unidas a Declaração dos Direitos da Criança, tornando a criança um sujeito de direitos. (SANTOS, 2007 apud CVIATKOVSKI A; et al., 2014). Segundo Gomes (2008 apud CVIATKOVSKI A; et al.,2014) no Brasil a luta pelos direitos da criança e do adolescente passou a ter notoriedade em 1978, com a instituição do Ano Internacional da Criança, mas foi com a Constituição de 1988 que passa a garantir alguns direitos à criança, como por exemplo, o direito da criança de 0 a 6 anos de frequentar a educação infantil. Conhecido como uma conquista histórica dos direitos da criança e do adolescente a criação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), passou a garantir todos os direitos fundamentais a estes. A partir da criação do ECA através da lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990, as crianças e os adolescentes são considerados sujeitos com direitos, sendo assegurados a esses mediante políticas públicas governamentais. Esta é a primeira legislação criada em defesa da infância e juventude, sendo colocada em prática para 20 a efetivação dos direitos pertencentes às crianças e adolescentes, conforme CVIATKOVSKI A; et al., (2014). Siqueira e Dell’ Aglio (2006 apud CVIATKOVSKI A; et al., 2014) comentam que depois do Estatuto da Criança e do Adolescente, esses sujeitos deixam de serem apenas objetos de tutela e passam a ter direitos e deveres como os demais integrantes da sociedade. Mas a ideia de que as crianças e adolescentes seriam sujeitos de direitos, por muito tempo a sociedade não compartilhava da mesma opinião, já que, a infância não era priorizada pelas políticas sociais e públicas. Segundo art. 3º do Estatuto da Criança e do adolescente (2014 apud CVIATKOVSKI A; et al., 2014), as crianças e adolescentes gozam de todos os direitos oferecidos para as pessoas humanas, sendo lhes assegurados por leis e/ou outros meios, a oportunidade de um desenvolvimento físico, moral, mental, espiritual e social, deixando a criança em liberdade para escolher o é melhor, podendo viver com dignidade. Portanto, no Brasil, diversas medidas com caráter assistencialista aconteceram até a formulação da Constituição Federal de 1988, que visava garantir de forma integra os direitos das crianças e adolescentes e ainda viabilizando a criação do Estatuto da Criança e do Adolescente de 1990, Lei nº 8.069/1990. Anteriormente, o UNICEF - Fundo das Nações Unidas para a Infância, que é um órgão de defesa dos direitos das crianças e adolescentes, colaborou com campanhas fundamentais e impulsionou a aprovação do artigo 227 da Constituição Federal e ainda o ECA por garantias dos direitos de meninos e meninas, conforme SALGADO I; (2018). De acordo SALGADO I; (2018), a garantia dos direitos de crianças e adolescentes de apoio de interesses e necessidades de titulares juridicamente tuteláveis foi também garantida pela Constituição Federal de 88, de forma integra: Art. 227 É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão (Brasil,1988 apud SALGADO I; 2018). Ficou ainda garantido que toda criança tem direito à vida, saúde, alimentação, educação, liberdade, convivência família e etc. (Artigo 4º do ECA), estabelecendo que todas crianças e adolescentes tenham prioridade especial em aspectos do direito, 21 sendo assistidas em todas as necessidades. Pela garantia da lei, toda criança e adolescente também tem seu princípio de condição peculiar de pessoa em desenvolvimento, que significa que todo indivíduo nessa fase de formação precisa de condições integras do Estado, da família para se tornar um adulto completo, conforme SALGADO I; (2018). Sabe-se também que alguns direitos são imprescindíveis a todos os indivíduos, ficou estabelecido pelo ECA alguns deles como, Art 7º, Direito à vida: “A criança e o adolescente têm direito a proteção à vida e à saúde, mediante a efetivação de políticas sociais públicas que permitam o nascimento e o desenvolvimento sadio e harmonioso, em condições dignas de existência” (Brasil, 1990, p.20 apud SALGADO I; 2018). O Direto a Educação, também garantido pelo ECA (1990 apud SALGADO I; 2018): Art. 53. A criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho, assegurando-se lhes: I - Igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; II - Direito de ser respeitado por seus educadores; III - direito de contestar critérios avaliativos, podendo recorrer às instâncias escolares superiores; IV - Direito de organização e participação em entidades estudantis; V - Acesso à escola pública e gratuita próxima de sua residência. (Brasil, 1990, p.46). O Direito a Convívio Familiar, pelo artigo 19º do ECA: “É direito da criança e do adolescente ser criado e educado no seio de sua família e, excepcionalmente, em família substituta, assegurada a convivência familiar e comunitária, em ambiente que garanta seu desenvolvimento integral” (Redação dada pela Lei nº 13.257, de 2016). (Brasil, 1990, p27 apud SALGADO I; 2018). Por fim, de SALGADO I; (2018), alguma Medidas de Proteção à Criança e ao Adolescente são estabelecidas pelo ECA sempre que houver qualquer violação dos direitos desses indivíduos, formuladas sendo: Art. 101. Verificada qualquer das hipóteses previstas no art. 98, a autoridade competente poderá determinar, dentre outras, as seguintes medidas: I - Encaminhamento aos pais ou responsável, mediante termo de responsabilidade; II - Orientação, apoio E acompanhamento temporários; III - Matrícula e frequência obrigatórias em estabelecimento oficial de ensino fundamental; IV - Inclusão em programa comunitário ou oficial de auxílio à família, à criança e ao adolescente; 22 IV - Inclusão em serviços e programas oficiais ou comunitários de proteção, apoio e promoção da família, da criança e do adolescente; (Redação dada pela Lei nº 13.257, de 2016) V - Requisição de tratamento médico, psicológico ou psiquiátrico, em regime hospitalar ou ambulatorial (Brasil, 1990, p.67 apud SALGADO I; 2018). O ECA ainda está ligado ao SUS sobre defender os direitos básicos das crianças e adolescentes, como é mostrado na cartilha de orientação para gestores e profissionais da saúde, que o ECA enviou um mandato ao SUS para fins de promoção a vida e saúde de crianças e adolescentes, sobre a atenção completa de saúde, que presume acesso universal e igual aos três níveis de atenção. Exigindo uma tarefa que desenvolvem ações de promoção à saúde, prevenção de doenças, atenção humanizada (Brasil, 2010 apud SALGADO I; 2018). O Ministério da Saúde é o gestor federal do SUS que segue as recomendações da OMS (Organização Mundial da Saúde) feitas na Assembleia Geral das Organizações das Nações Unidas (ONU). Em 1996, ficou determinado que a violência era um problema que se constituía para saúde pública. O MS publicou ainda a Política Nacional de Redução de Morbimortalidade por Acidentes e Violência (Portaria nº737/2001) sendo este instrumento de notificação, as autoridades competentes, de casos que existir suspeita ou confirmação de violência contra crianças e adolescentes (Portaria MS/GM nº 1.968, de 25 de outubro de 2001). (Brasil, 2010 apud SALGADO I; 2018). 3.4 Atuação do psicólogo nas varas da infância e juventude De acordo com Conselho Federal de Psicologia (2010 apud PAES T; et al, 2019), o psicólogo que atua em Varas da Infância e Juventude ou que realiza trabalhos a ela encaminhados desenvolve práticas próprias à área da Psicologia Jurídica. Entende-se como psicólogos jurídicos não só aqueles que exercem sua prática profissional nos tribunais, mas também os que trabalham com questões diretamente relacionadas ao sistema de Justiça. SegundoLago et al. (2009 apud PAES T; et al, 2019), destacam-se os psicólogos jurídicos que integram equipes multidisciplinares nos Tribunais de Justiça nas Varas da Infância e Juventude, atendendo separada ou cumulativamente as Varas de Família. Entre os psicólogos que realizam trabalhos encaminhados às Varas de Família ou por solicitação destas, recebem encaminhamentos da Justiça, 23 geralmente para a confecção de avaliações ou diagnósticos, com solicitação para envio dos resultados ao Poder Judiciário. Tem sido comum encontrar psicólogos que atuam em consultórios clínicos e, por vezes, são convidados ou solicitados a emitir pareceres que serão anexados a processos. Tal fato requer extremo cuidado ético, devido, principalmente, à quebra de sigilo que pode ocorrer nesses casos. As diversas possibilidades que levam o profissional a encaminhar resultados de seus trabalhos às Varas de Família apontam, inicialmente, para a importância de o psicólogo ter clareza do papel a desempenhar naquele contexto, conforme PAES T; et al, (2019). As atribuições do psicólogo são: Avaliar as condições intelectuais, emocionais, relacionais e psíquicas de partes envolvidas em processos judiciais de habilitação para adoção, guarda, tutela e medidas de proteção, atuar em diversos tipos de processos judiciais, ligados a proteção da criança e do adolescente, como perito, elaborando laudos e pareceres, quando designado, efetivar acompanhamento psicológico aos adotantes e às crianças ou adolescentes que estejam em período de convivência à família substituta, até a finalização do processo de adoção; desempenhar acompanhamento psicológico de crianças, adolescentes e famílias que estejam envolvidos em processos judiciais e situação de risco, quando necessário e solicitado; realizar palestras ou grupos de reflexão para habilitação à adoção, adotantes e famílias; praticar visitas, acompanhamento e avaliação psicológica de crianças e adolescentes abrigadas, quando necessário ou quando designado pelo Juiz (ALBERTO et al. 2008 apud PAES T; et al, 2019). Participar, quando determinado, de audiências para esclarecer aspectos técnicos em psicologia, realizar acompanhamento psicológico de adolescentes inseridos em programas ligados a Vara da Infância e Juventude, quando solicitado executar visitas domiciliares e visitas institucionais, quando necessário ou designado pelo juiz, assessorar autoridades judiciais no encaminhamento a práticas psicológicas e médicas específicas, quando necessário. Assim como atuar de reuniões de equipe para discussão de casos e procedimentos técnicos quando necessário (ALBERTO et al. 2008 apud PAES T; et al, 2019). Lago et al. (2009 apud PAES T; et al, 2019) salienta ainda que o profissional de psicologia deve contribuir para criação de mecanismos que venham agilizar e melhorar a prestação do serviço, proceder na elaboração e execução de programas 24 socioeducativos, destinado a crianças em situação de risco. Um dos desafios do Poder Judiciário é o de se estruturar para lidar com a complexidade do mundo contemporâneo, considerando, as mudanças na composição das entidades familiares, as relações de gênero e de geração, que redefinem a própria família. Tais mudanças exigem novas organizações do aparelho judiciário como uma ferramenta do Estado Democrático de Direito. Nesse sentido entende-se que as equipes interdisciplinares são indispensáveis ao Sistema de Justiça. 4 A ADOÇÃO NO BRASIL Fonte: mpgo.mp.br No Brasil, no segundo e terceiro séculos de colonização as crianças concebidas fora do casamento e ou filhas de moças brancas e solteiras, de família de classe média alta, eram abandonadas em calçadas, florestas, terrenos baldios e praias, esse tipo de abandono chamado de abandono selvagem teve um número considerável de ocorrências, conforme SILVA R; (2011). Para controlar o abandono selvagem a igreja católica instaurou a Roda dos Expostos. As crianças eram depositadas na Roda dos Expostos e eram acolhidas pelas Santas Casas de Misericórdia, garantindo o sigilo sobre as mães biológicas das crianças, normalmente as brancas solteiras de classe média. Neste período os preceitos e as regras que orientavam a organização familiar, eram os do cristianismo. A procriação fora do casamento era recriminada e ficavam sujeita a sanções, tanto religiosas como sociais, conforme SILVA R; (2011). 25 Se na época colonial as crianças eram abandonadas porque eram geradas fora dos preceitos da moral cristã, hoje, ao abandono somaram-se novos motivos - a inexistência de programas sociais que orientem sobre planejamento familiar, a falta de instrução sobre o uso de métodos anticonceptivos, ou ainda a falta de auxílio de qualquer espécie, seja moral, afetivo ou econômico, às famílias. O Código Civil Brasileiro, de 1916, estipulou que somente poderia adotar o maior de 50 anos, sem descendentes legítimos ou legitimados, e desde que fosse, pelo menos, 18 anos mais velho que o adotado (art. 368 e seguintes), conforme SILVA R; (2011). A adoção internacional, por sua vez, aparece como prática regular, após a Segunda Guerra Mundial, em face da existência de multidões de crianças órfãs, sem qualquer possibilidade de acolhimento em suas próprias famílias. Crianças da Alemanha, Itália, Grécia, do Japão, da China e de outros países foram adotadas por casais norte-americanos e europeus. Segundo o Serviço Internacional de Adoção, milhares de crianças foram encaminhadas para o exterior sem que tivessem os documentos indispensáveis à regularização de sua cidadania. Das crianças adotadas na Itália, entre 1985 e 1990, quase 80% eram provenientes da América Latina. Já na França, das 5.348 crianças adotadas, entre 1990 e 1992, 21% eram brasileiras (COSTA, 1998 apud SILVA R; 2011). O descontrole, os abusos verificados, especialmente a venda e o tráfico internacional de crianças, no país de origem e no de acolhida, fez nascer à necessidade de serem estabelecidas normas eficazes de garantia das adoções e de proteção aos infantes. A criança e o adolescente têm direito a proteção à vida e a saúde; mediante a efetivação de políticas sociais públicas que permitam o nascimento e o desenvolvimento sadio e harmonioso, em condições dignas de existência. (ECA, Art. 7, Cap. I apud SILVA R; 2011). De acordo com SILVA R; (2011), na América Latina, as mudanças legislativas tiveram início no final da década de 1980, buscando atender aos princípios da Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos da Criança, adotada pela Assembleia Geral das Nações Unidas, em 20.11.89. Passou-se a considerar a criança como sujeito de direitos, afirmando o seu direito a ter um nome, a partir do nascimento, assim como o direito a ter uma nacionalidade; o direito de conhecer e conviver com seus pais, a não ser quando incompatível com seu melhor interesse; afirmando o caráter excepcional da adoção internacional, entre tantas outras disposições que vêm elencadas em seus 56 artigos, dos quais destaco dois dos artigos da I Parte do Documento: 26 Art.1 Para efeitos da presente convenção considera-se como criança todo ser humano com menos de 18 anos de idade, a não ser que, em conformidade com a lei aplicável à criança, a maioridade seja alcançada antes. Art.2 1 – Os Estados Partes respeitarão os direitos enunciados na presente Convenção e assegurarão sua aplicação a cada criança sujeita à sua jurisdição, sem distinção alguma, independentemente de sexo, idioma, crença, opinião política ou de outra natureza, origem nacional, étnica ou social, posição econômica, deficiências físicas, nascimento ou qualquer outra condição da criança, de seus pais ou de seus representantes legais. Questões referentes ao abandono e a adoção de crianças e adolescentes deveriam fazer parte das reflexões e proposições acerca da política social brasileira. Desde que o Brasil foi descoberto, eainda durante o período de colonização portuguesa, ações referentes à prática do abandono e da adoção começaram a surgir. Contudo, as ações do Estado em relação a tais práticas, sobretudo em relação à adoção e/ou colocação de crianças e adolescentes em famílias substitutas, sempre atenderam aos interesses daqueles que não poderiam gerar biologicamente seus próprios filhos em detrimento dos interesses das crianças e adolescentes disponibilizadas para adoção, conforme SILVA R; (2011). Pode-se dizer que a Roda dos Expostos oficializou e institucionalizou o abandono no Brasil. A fundação de instituições-abrigo de níveis federal e estadual como a FUNABEM e a FEBEM, tornaram ainda mais degradante a situação das crianças e adolescentes abandonados que, uma vez institucionalizados, passaram por processos de subjetivação extremamente comprometedores. A subjetivação ocorre quando há uma ruptura do indivíduo com a sua história não só transgeracional, mas também com a história humana, diz Roberto da Silva (2003 apud SILVA R; 2011). A situação da criança brasileira pobre é ainda mais agravada pela circunstância de sua história revelar um processo de contínuo maus tratos, abandono, brutalidade, violência, fome, abuso sexual, exploração no trabalho, privação de lazer, perambulação por ruas e praças, extermínio, mortalidade precoce. Afirma João Clemente de Souza Neto (2003, p.73 apud SILVA R; 2011). Esses fatos, para nós, caracterizam um quadro de política de genocídio. Alguns autores têm constatado que tanto a criança quanto o adolescente são as principais vítimas do processo de acumulação capitalista. Sua condição não é melhor do que a dos trabalhadores, com o agravante de serem pessoa em desenvolvimento. A falta de políticas sociais bem fundamentadas para assegurar os direitos sociais da infância e da adolescência, acaba tendo por consequência uma política de genocídio. Em busca de soluções para a situação da criança brasileira, o governo cria Leis ou altera as existentes, assim como cria programas de ação social, porém, não 27 são suficientes para resolver todas as questões a que estão sujeitas as crianças oriundas de famílias de baixa renda, conforme aponta Souza Neto (2003, p.74 apud SILVA R; 2011), provavelmente a primeira grande Lei que procurou defender os direitos das crianças tenha sido a Lei do Ventre Livre, de 28 de setembro de 1871. [...]... iniciou um processo de libertação e essa é sua peculiar importância. Segundo Roberto da Silva (2003 apud SILVA R; 2011), os Códigos dos Menores de 1927 e o de 1979, ao darem ao juiz pleno poderes os direitos de pátrio poder, de tutela, de legitimação dos filhos ilegítimos, constituíram-no como figura responsável por normatizar e intermediar as relações de pais e filhos de famílias desestruturadas e precárias com o Estado. E devido ao grande índice de abandono o Código Penal, datado de 1940, ainda em vigor, estabeleceu penas de detenção de seis meses a três anos ao genitor que abandonasse crianças, aumentando a pena de reclusão de um a cinco anos, se do abandono resultassem lesões corporais de natureza grave, e se o abandono causasse a morte da criança, a pena era de quatro a doze anos, agravada se o abandono ocorresse em lugar deserto onde não fosse possível o socorro da criança, conforme SILVA R; (2011). Repensar a questão do abandono e da adoção de crianças e adolescentes, hoje, significa dar passos no sentido de re-significar valores, desmitificar crenças limitantes e reconsiderar, acima de tudo, o interesse da criança e do adolescente, conforme SILVA R; (2011). ECA - Lei nº 8.069 de 13 de julho de 1990 - Art. 19. É direito da criança e do adolescente ser criado e educado no seio de sua família e, excepcionalmente, em família substituta, assegurada a convivência familiar e comunitária, em ambiente que garanta seu desenvolvimento integral. Nos termos do ECA - Estatuto da Criança e do Adolescente (Cap. III, Art. 19) assiste às crianças e aos adolescentes o direito de serem criados e educados “no seio de sua família e, excepcionalmente, em família substituta”, conforme SILVA R; (2011). 4.1 Os tipos de adoção no brasil Conforme mostra a Cartilha da Associação dos Magistrados Brasileiros AMB - existem alguns tipos de adoção mais conhecidos, a adoção tardia que se refere à adoção de crianças maiores ou de adolescentes. O que nos faz pensar que a adoção 28 seja uma prerrogativa de recém-nascidos e bebês e de que as crianças maiores seriam adotadas fora de um tempo ideal. Desconsidera-se, com isso, que grande parte das crianças em situação de adoção tem mais de 2 anos de idade e que nem todos pretendentes à adoção desejam bebês como filhos. O termo Adoção tardia tem uma desigualdade de interpretações sobre idades. Há quem fale em 2 anos como idade limite, e há quem fale em a partir de 5 ou 6, conforme SILVA R; (2011). A adoção pronta e direta, ou Intuitu Personae é aquela em que a mãe biológica decide para quem deseja entregar o seu filho. Na maioria dos casos, a mãe procura a Vara da Infância e da Juventude, acompanhada do pretendente à adoção, para legalizar um convívio que já esteja acontecendo de fato. É um tema bastante polêmico, há juízes que entendem que a adoção pronta é sempre desaconselhável, pois é difícil avaliar se a escolha da mãe é voluntária ou foi induzida ou se os pretendentes à adoção são adequados, além da possibilidade de uma situação de tráfico de crianças, conforme SILVA R; (2011). Esse tipo de adoção, também é muito comum no Brasil visto que as maiorias dos casais que não podem ter filhos querem adotar crianças recém-nascida, branca e com boa saúde. E muitas mulheres, no final da gravidez, desvendam a intenção de confiar seu filho à adoção, pelo fato de não terem condições de criar e educar seus filhos, ou mesmo, por não se acharem em condições de assumir a responsabilidade de serem mães, estabelece contato com casais, que manifestam o desejo de adotar a criança e, passam a dar às futuras mães toda a assistência necessária, para que tenham um bom parto e a criança nasça saudável, conforme SILVA R; (2011). E depois do parto a mãe biológica entrega seu filho ao casal adotante, que, pode iniciar a pratica da “adoção à brasileira”, em muitos casos os pais adotantes buscam, por meios legais, a adoção do seu filho, que correm o risco, sem saber, de ver a criança confiscada e levada para alguma instituição, onde esperará os tramites da adoção, fato esse que tem ocorrido repetidas vezes. Os trâmites legais visam atender casais e/ou pessoas, em obediência quanto à ordem cronológica dos inscritos no Cadastro Único dos Adotantes, que previamente, se habilitam à adoção, pois já fizeram a sua inscrição junto à Vara da Infância e Juventude tornando-se pretendentes à adoção, conforme SILVA R; (2011). 29 Com efeito, já no § 1º, da Nova Lei da Adoção, afirma que a intervenção estatal visa à orientação, apoio e promoção social da família natural, “junto à qual a criança e o adolescente devem permanecer”. A adoção, segundo esse mesmo parágrafo, é a última medida a se tomar, na “absoluta impossibilidade” de ficar com a família. A lei garante a adoção burocrática determinada pelo Estado, sem qualquer condição de os detentores do poder familiar escolherem uma família ideal para o filho que não podem criar, cabendo ao Estado e não aos pais biológicos dizer quem deve adotar a criança, conforme SILVA R; (2011). Adoção à brasileira é a expressão utilizada para designar uma forma de procedimento, que desconsidera os trâmites legais do processo de adoção. Este procedimento consiste em registrar como filho biológico uma criança, sem que ela tenha sido concebida como tal. O que as pessoas que assim procedem em geral desconhecem é que a mãe biológica tem o direito de reaver a criança se não tiver consentido legalmente com a adoção ou se não tiversido destituída do Poder Familiar, conforme SILVA R; (2011). A adoção ideal é aquela que possibilita a vida em família, para as crianças e os adolescentes, de qualquer faixa etária, que não tem lar tenham qualidade de vida e obtenham o seu desenvolvimento psicofísico, como explicita SILVA, ROBERTO (2003 apud SILVA R; 2011). Essa uma das mais tocantes definições para a luta contra o abandono de crianças no Brasil. A adoção necessária - crianças que possuem perfis geralmente rejeitados pelos pretendentes à adoção, como as crianças que apresentam idade mais avançada e/ou problemas de saúde. A criança, que sofreu ruptura com as figuras às quais esteve vinculada, pode reconstruir o seu eu primário a partir das novas representações dela própria, das quais participará, fundamentalmente, a interiorização das novas imagens parentais. (MALDONADO, 1998 apud SILVA R; 2011). A Adoção Internacional – ou adoção transnacional é qual acontece quando os pais adotivos são domiciliados em um país e o adotado domiciliado em outro. Adoção por pessoa jurídica - Esse tipo de adoção é mais utilizada para auxiliar financeiramente as pessoas envolvidas, não tem nada a ver com a adoção paterno ou materno-filial, uma relação de pai e/ou mãe e filho. Pela adoção se um vínculo familiar, que dá origem a sentimentos só existentes entre seres humanos. O que não está presente nas chamadas pessoas jurídicas, conforme SILVA R; (2011). 30 A Adoção de embriões – nos tempos atuais com a evolução da ciência e da engenharia genética a questão da fertilização humana assistida está presente, caminhando para uma necessidade governamental em legislar a questão de adoção de embrião humano. O tema atualíssimo e de delicada discussão tem movido estudiosos que implantam debates que visam estabelecer critérios para continuidade de pesquisas. Tais técnicas conceptivas resolvem a questão da esterilidade do casal, que terá seu filho, mas, por outro lado, causam graves problemas jurídicos, sociais, psicológicos, bioéticos e de ordem médica, conforme SILVA R; (2011). A Adoção por homoafetiva - O homossexualismo pode abarcar a união entre dois homens, ou o relacionamento entre duas mulheres, envolvendo o âmbito sexual. Essa união, atualmente, é denominada homoafetiva, portanto adoção acontece por dois pais ou duas mães, conforme SILVA R; (2011). Antes de adentrar de fato a questão relativa à adoção por famílias homoafetivas, necessário discorrer brevemente sobre seu conceito e sua natureza jurídica para que se entenda melhor como este procedimento funciona. A adoção, no Direito Civil, é um ato jurídico no qual uma pessoa ou um casal, que não são os pais biológicos da criança ou do adolescente, assumem permanentemente um indivíduo como filho, adquirindo todas as responsabilidades e direitos em relação ao adotado, conforme DIAS P; (2020). O artigo 227, da Constituição Federal e o artigo 19 do ECA, trazem que deverá ser assegurado à criança e ao adolescente o convívio familiar, independentemente de quem exercerá o poder familiar. Não há nenhuma especificação no ordenamento jurídico que impossibilite a doção de crianças e adolescentes por casais homoafetivos. Certo é que, tanto no Estatuto da Criança e do Adolescente, quanto no Código Civil de 2002, não está exposto nenhuma condição quanto a opção sexual para que se proceda à adoção, encontrando-se em harmonia com a Constituição Federal que proíbe qualquer forma de discriminação, dentre elas, inclusive, a opção sexual, conforme DIAS P; (2020). Entretanto, a omissão na própria Lei quanto a esta possibilidade de adoção afeta o direito de inúmeras crianças e adolescentes que aguardam ansiosamente por um lar, bem como o direito de muitos casais homossexuais que sonham em construir uma família. Desta forma, de início, não há que se falar em impedimentos na possibilidade de adoção por casais homossexuais, isso porque é um procedimento 31 moldado de afeto, amor, carinho, do qual independe do sexo das pessoas envolvidas. Ademais, reconhecida a possibilidade da união estável homoafetiva como estrutura familiar, cabível também enfrentar o seu direito à adoção, conforme DIAS P; (2020). A homoafetividade vem adquirindo transparência e aos poucos obtendo aceitação social. Cada vez mais gays e lésbicas estão assumindo sua orientação sexual e buscando a realização do sonho de estruturar uma família com a presença de filhos. Vã é a tentativa de negar ao par o direito à convivência familiar ou deixar de reconhecer a possibilidade de crianças viverem em lares homossexuais (MARIA BERENICE DIAS, 2005 apud DIAS P; 2020). 4.2 A atuação do psicólogo no contexto judiciário da adoção A atuação do psicólogo no contexto judiciário, incluindo da adoção, tem oscilado entre uma postura mais pericial-avaliativa e uma atuação mais construcionista com foco na promoção das condições para o bem-estar e a saúde psicossocial das pessoas assistidas pela Justiça (Brito, 1993; Cassin, 2000; Paiva, 2004; Reppold, Chaves, Nabinger e Hutz, 2005; Fávero e col., 2005; Weber, 2005 apud GALVÃO I; 2008). Esta variação encontra raízes na dupla inserção do psicólogo na instituição judiciária, já que “duas instâncias interpelam nosso saber: a do assessoramento ao magistrado e a consequente produção escrita sobre a adoção e a da intervenção com os sujeitos do campo da adoção” (Alvarez, 1996, p. 136 apud GALVÃO I; 2008). Tal inserção envolve uma série de questões éticas, que demandam contínua reflexão. Apesar de prevalecer no imaginário social e dos estudantes de Psicologia o estereótipo do atendimento clínico em consultório como imagem fundamental da intervenção dos psicólogos (Magalhães e col., 2001 apud GALVÃO I; 2008), desde a institucionalização da Psicologia como ciência (Wundt, 1879 apud GALVÃO I; 2008), o fenômeno psicológico foi reconhecido como algo típico do entrecruzamento entre aspectos naturais (biológicos), culturais e sociais (antropológicos, sociológicos, filosóficos). Entre esses pólos existe um vasto espectro de abordagens, teorias e possibilidades de atuação. De fato, muitas vezes pode ser mais fácil um psicólogo, por exemplo, adepto da Psicofisiologia, estabelecer consenso com um biólogo que com outro psicólogo, por exemplo, de orientação organizacional (Figueiredo e Santi, 1999 apud GALVÃO I; 2008). Além disso, o próprio conhecimento psicológico tem sofrido reformulações e refinamentos constantes, sendo influenciado e influenciando a dinâmica da História e das relações sociais e subjetivas. Diferentemente do campo das ciências naturais, o campo das ciências humanas e sociais tem revelado a característica de ser composto 32 de fenômenos que se modificam em progressão geométrica e não se submetem ao reducionismo dos cânones do Positivismo, conforme GALVÃO I; (2008). A própria superação do paradigma positivista pode ser vista como alimentada pelos avanços possibilitados a partir dos estudos sobre a subjetividade (Santos, 2001 apud GALVÃO I; 2008). De fato, o caráter processual e dinâmico do objeto da Psicologia, que é um objeto sujeito, promove progressivamente novos modos de perceber e interpretar a realidade. Com isso, não se deve estranhar que existam diferentes interpretações sobre o fenômeno da adoção dentro da própria Psicologia e mesmo em relação a um mesmo autor. Aquilo que no paradigma anterior era considerado como uma fraqueza científica a subjetividade, a dificuldade de matematização de um evento, a variabilidade, a não- replicabilidade, a imprevisibilidade, hoje é compreendido como aquilo que mais se aproxima da complexidade da experiência humana. Mesmo o conhecimento sobre os fenômenos físicos tem passado a se fundamentar na relatividade e na incerteza (Einstein, 1956; Heisenberg, 1958; Demo, 2000 apud GALVÃO I; 2008). Os aspectos psicológicos não encontram uma única forma de serem definidos e abordados, vistocoexistirem várias teorias e práticas dentro da Psicologia, derivadas de diferentes concepções de mundo e de ser humano. Nesse sentido, Garcia-Roza (1973 apud GALVÃO I; 2008) compreende a Psicologia como um espaço de dispersão de saberes, pois se constitui de diversas escolas, teorias, metodologias, técnicas e objetivos diferentes. Assim, pode fazer mais sentido falar em Psicologias que em Psicologia no singular (Bock, Furtado e Teixeira, 2000 apud GALVÃO I; 2008). Tal diversidade no campo da Psicologia, segundo os autores retrocitados, pode decorrer do fato de se tratar de uma ciência ainda muito nova. Contudo, a diversidade parece afirmar-se cada vez mais nas discussões pós-modernas e têm passado a ser vista como uma riqueza em vez de uma fraqueza, como algo que talvez não se dilua apesar do ‘crescimento’ dessa ciência, pois reflete uma característica do próprio fenômeno ao qual se refere: o ser humano (Santos, 2001 apud GALVÃO I; 2008). De fato, essa área, enquanto ciência e profissão, tem progressivamente se subdividido em muitas subáreas: Psicologia Clínica, Psicologia Escolar ou Educacional, Psicologia da Saúde ou Hospitalar, Psicologia Social e Comunitária, Psicologia Organizacional ou do Trabalho, Psicologia Jurídica, Psicologia Ambiental, 33 Psicologia do Trânsito, Psicologia do Esporte, Psicologia do Consumidor, Psicologia da Religião, entre outras. Apesar disso, no senso comum, observa-se a predominância da representação do psicólogo como psicoterapeuta, inclusive com poderes de “adivinhar” sentimentos e pensamentos, como alguém que localiza a solução do problema psicológico “dentro” do indivíduo e que é capaz de manipular o comportamento alheio e “consertar” as pessoas (Magalhães e cols., 2001 apud GALVÃO I; 2008). Além disso, existe associada à imagem da Psicologia a noção da “busca por um ‘verdadeiro eu’ em detrimento da história coletiva, das relações de grupo, do compromisso social do cidadão” (Santos, 1994, p. 40 apud GALVÃO I; 2008). Essa mesma autora, em relação a isso, cita a obra de Sennet (1989 apud GALVÃO I; 2008), intitulada: “O declínio do homem público: as tiranias da intimidade”, em que se discute o problema de a sociedade atual corromper as relações humanas em função da ênfase no narcisismo, que “tem a dupla qualidade de ser uma voraz introjeção nas necessidades do eu e o bloqueio de sua satisfação”, pois impossibilita o reconhecimento da alteridade e, portanto, de uma relação humana autêntica e não mercantilizada nem reificada. Essas questões não são sem importância para a compreensão da atuação do psicólogo no contexto jurídico da adoção, pois muitas vezes é a partir dessa imagem que os vários atores formulam demandas ao psicólogo, configurando o risco de se incorrer em um serviço descontextualizado, que confunda subjetividade com individualismo, conforme GALVÃO I; (2008). Gomes (2003, p. 7 apud MORAIS W; 2019) enfatiza que a adoção, [...] está bastante ligada à realidade psicológica e social no mundo onde representa um projeto de vida personalizado para a criança que deve ter por base, sempre que possível, um estudo da situação psicológica, social, espiritual, clínica, cultural e legal referente ao filho e a sua família. Sendo assim, a adoção ultrapassa os limites de um procedimento burocrático, configurando-se como um mecanismo legal com vistas a uma ação consciente, aceita e planejada no âmbito familiar por parte de todos os seus membros (GOMES, 2003 apud MORAIS W; 2019). 34 Diante do exposto, dos aspectos legais e subjetivos que envolvem a adoção, o psicólogo, entre outros profissionais, é requisitado a atuar mediante interpretações, teorias, metodologias e direcionamentos éticos e políticos em contextos institucionais, em questões psicossociais e jurídicas a fim de reduzir possíveis danos de toda ordem ao adotado e à nova família (GHESTI-GALVÃO, 2008 apud MORAIS W; 2019). De acordo com Lago et al. (2009, p. 484 apud MORAIS W; 2019), “A história da atuação de psicólogos brasileiros na área da Psicologia Jurídica tem seu início no reconhecimento da profissão, na década de 1960 [...] de forma gradual e lenta, muitas vezes de maneira informal, por meio de trabalhos voluntários”. Atualmente, a profissão já possui uma consistência reconhecida, pois suas contribuições são inúmeras. Nesse sentido, Maia (2015, p. 3 apud MORAIS W; 2019) explicita que, a psicologia jurídica é uma área emergente da ciência psicológica, quando comparada às áreas tradicionais de atuação da psicologia, e tem como característica sua interface com o Direito. A psicologia e o direito possuem um destino comum, pois ambos lidam com o comportamento humano [...]. Lago et al. (2009 apud MORAIS W; 2019) apontam que os psicólogos que integram o processo de adoção, o fazem assessorando constantemente as famílias antes e após a integração da criança no seio familiar. Num primeiro momento, a equipe técnica dos Juizados da Infância e da Juventude recrutam candidatos para a adoção e os auxiliam na aquisição da capacidade de corresponder às necessidades do filho adotivo, garantindo que estes candidatos estejam de acordo com as disposições legais vigentes. No segundo momento, inicia-se um programa de trabalho com os candidatos admitidos, no sentido de assessorar, informar e avaliar os mais aptos. “[...] Como a adoção é um vínculo irrevogável, o estudo psicossocial torna-se primordial para garantir o cumprimento da lei, prevenindo assim a negligência, o abuso, a rejeição ou a devolução” (LAGO et al., 2009, p. 487 apud MORAIS W; 2019). Maia (2015 apud MORAIS W; 2019) esclarece que nos primeiros anos da década de 1990, os psicólogos iniciaram uma batalha nos Estados e Conselhos de Classe brasileiros solicitando a criação do cargo de psicólogo jurídico. Na atualidade, o trabalho do psicólogo jurídico não se resume apenas à elaboração de psicodiagnósticos e identificação de patologias, sendo assim, mediante os parâmetros de sua especialidade, respondem às intervenções junto à justiça, desnudando a visão errônea de que o seu exercício na referida área é rigorosamente de cunho pericial e reafirmando que as questões humanas no contexto judiciário são complexas e 35 necessitam de outros olhares. Ressalta, ainda, que devido à carga enorme de subjetividades no processo de adoção, o acompanhamento psicológico é imprescindível. Para Ghesti-Galvão (2008 apud MORAIS W; 2019), a intervenção no ato da adoção, entendida na premissa de Medida Protetiva à criança privada de convivência ou vínculo familiar suscita não apenas conhecimentos e procedimentos no âmbito do Direito, sendo o Serviço Social, a Psicologia e a Pedagogia reconhecidas por suas relevâncias pelo ECA. A complexidade de uma adoção perpassa pela mediação, que não é somente uma técnica dotada de procedimentos, mas rica em princípios que abordam de forma estruturada todos os envolvidos na adoção. Além disso, deve-se considerar os aspectos empáticos, enfrentando a problemática da lacuna de uma família, de não culpabilizar, de respeitar as razões e emoções, de saber escutar e saber falar, de identificar as necessidades do outro e partilhar as suas e, acima de tudo, buscar estratégias para saber perceber as minúcias e construir, em conjunto, posturas e objetivos comuns que contribuam efetivamente para a adoção. A autora enfatiza, ainda, que “[...] o conhecimento atual do sistema da adoção e mesmo o papel do psicólogo no contexto judiciário, como mediador entre a demanda afetiva e a lei é ainda embrionário [...]” (GHESTI-GALVÃO, 2008, p. 322 apud MORAIS W; 2019). Reis, Leite e Mendanha (2017 apud MORAIS W; 2019) afirmam que alguns casos de adoção são mais difíceis em relação às questões emocionais e, portanto, percebe-se a necessidade de o judiciário agir em conformidade com o psicólogo e o assistente social, multidisciplinarmente. E ressaltam
Compartilhar