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PSICOLOGIA-DA-CRIANÇA-E-DO-ADOLESCENTE

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2 
 
SUMÁRIO 
1 IMPORTÂNCIA DA PSICOLOGIA JURÍDICA ............................................. 4 
2 PSICOLOGIA JURÍDICA E AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA .......................... 6 
3 A FAMÍLIA E A INFÂNCIA ........................................................................ 11 
3.1 Definição de infância e adolescência ................................................. 13 
3.2 O trabalho dos psicólogos com crianças e adolescentes ................... 16 
3.3 O estatuto da criança e do adolescente ............................................. 19 
3.4 Atuação do psicólogo nas varas da infância e juventude ................... 22 
4 A ADOÇÃO NO BRASIL ........................................................................... 24 
4.1 Os tipos de adoção no brasil .............................................................. 27 
4.2 A atuação do psicólogo no contexto judiciário da adoção .................. 31 
5 BREVE HISTÓRICO DA VIOLÊNCIA SEXUAL ........................................ 40 
5.1 Aplicação em casos de abuso sexual infantil ..................................... 42 
5.2 O dever do psicólogo.......................................................................... 42 
5.3 A psicologia a serviço do atendimento das vítimas ............................ 46 
5.4 Responsabilidade do Psicólogo ......................................................... 48 
6 A DESTITUIÇÃO DO PODER FAMILIAR ................................................. 52 
7 Alienação Parental .................................................................................... 61 
7.1 O psicólogo jurídico e a alienação parental ........................................ 63 
7.2 Perícia e Avaliação psicológica .......................................................... 64 
8 ADOLESCENTES AUTORES DE ATOS INFRACIONAIS ........................ 66 
8.1 O Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo – SINASE ....... 66 
8.2 Aplicação das medidas socioeducativas: alguns achados empíricos . 67 
8.3 Função e práticas do psicólogo na atuação com adolescentes em 
medida socioeducativa de internação .................................................................... 69 
9 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................... 77 
 
3 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
4 
 
1 IMPORTÂNCIA DA PSICOLOGIA JURÍDICA 
 
Fonte: unifor.br 
Por “Psicologia”, se analisado no sentido etimológico da palavra, compreender-
se-á como “a ciência que estuda a alma”, vez que o termo de origem grega abarca 
duas palavras: psique = alma e logos = ciência/estudo. (BARROS, 1993 apud LIMA J; 
2019). 
A Psicologia surgiu ainda no séc. III a.c., em seus primórdios agregada à 
Filosofia, sendo encontrados inclusive estudos de Platão e Aristóteles inspirados na 
psique humana. De acordo com Cambaúva (1998, p. 214 apud LIMA J; 2019) “A 
psicologia se ‘desliga’ da filosofia e se configura enquanto ciência independente 
quando deixa de buscar a essência humana e passa a adotar métodos para não só 
conhecer, mas também intervir nesse ser humano. ” 
Ainda assim, apenas no final do século XIX, quando foram empregados 
métodos de observação sistemáticos e cautelosos, que a Psicologia foi 
considerada ciência; ao passo que ao longo do tempo foi tida por seus 
estudiosos como o estudo da mente e/ou do comportamento e, atualmente, 
para maioria deles, indica o estudo do comportamento dos organismos. 
(BARROS, 1993 apud LIMA J; 2019). 
A Psicologia Jurídica, por sua vez, é um ramo ainda muito recente desta 
ciência, afinal, sua origem provém ainda de outro ramo da Psicologia, a “Psicologia 
do Testemunho”. Esta última se deu dos trabalhos do psicólogo e pedagogo Alfred 
 
5 
 
Binet (1857-1911 apud LIMA J; 2019), analisando a sugestionabilidade da memória 
das crianças. Em paralelo, os estudos de Karl Marbe (1869 - 1953 apud LIMA J; 2019) 
e Hugo Munsterberg (1863-1912 apud LIMA J; 2019), também psicólogos, 
ressaltavam como a memória, a fiabilidade e a vulnerabilidade das testemunhas 
poderiam ser problemáticas ao processo. (HERRERA, 2015 apud LIMA J; 2019). 
Assim, a psicologia do testemunho ganhou força durante as três últimas 
décadas do século XX, sendo influenciada pela psicologia cognitiva onde, através dos 
estudos acerca da memória humana, obteve gradualmente participação efetiva em 
julgamentos, realizando perícias e, desta forma, assessorando os tribunais, 
principalmente na área forense. (HERRERA, 2015 apud LIMA J; 2019). Foi a partir 
desta atuação que a Psicologia do Testemunho progrediu para a matéria específica 
que hoje é conhecida por Psicologia Jurídica. 
No Brasil, a intersecção entre Psicologia e Direito se deu, justamente, da 
evolução dos métodos empírico-experimentais sobre testemunho e sua participação 
nos tribunais, extraídos da Psicologia do Testemunho, para uma utilização de 
estratégias de avaliação psicológica, com objetivos definidos, inicialmente identificada 
como uma prática voltada para a realização de exames e avaliações, buscando 
identificações por meio de diagnósticos (GROMTH-MARNAT apud LAGO, 2009 apud 
LIMA J; 2019). 
Estes diagnósticos eram feitos pelos psicólogos clínicos em participação com 
médicos psiquiatras em exames psicológicos legais, impulsionando o 
psicodiagnóstico de forma muito positiva, porém informal e, quase sempre, 
de forma voluntária. (AMATO, 2009 apud LIMA J; 2019). 
Estes trabalhos se deram ainda no reconhecimento da profissão no país, na 
década de 1960, e a inserção da Psicologia no Direito ocorreu de forma muito gradual 
e a passos curtos, de modo que, somente “a partir da promulgação da Lei de 
Execução Penal (Lei Federal nº 7.210/84), que o psicólogo passou a ser reconhecido 
legalmente pela instituição penitenciária (Fernandes, 1998 apud LIMA J; 2019). ” 
(LAGO, 2009, p. 484 apud LIMA J; 2019). 
Ao fim, restou comprovado “a partir de estudos comparativos e representativos, 
que os diagnósticos de Psicologia Forense podiam ser melhores que os dos 
psiquiatras (Souza, 1998 apud LIMA J; 2019). ” (LAGO, 2009, p. 484 apud LIMA J; 
2019), ademais, para os juristas, um método mais matematicamente provável como 
 
6 
 
eram os dados fornecidos pelos psicodiagnósticos faziam melhor jus à orientação de 
que necessitavam. 
Apesar de inicialmente a importância à avaliação psicológica destinar-se em 
especial a área criminal, não é apenas a este ramo do Direito que se deve a 
aproximação destas matérias; dentro da área cível, a destacar-se o Direito da Infância 
e da Juventude, área em que o psicólogo iniciou sua atuação na perícia psicológica 
de processos do então denominado Juizado de Menores, também influenciou a 
psicologia jurídica em sua ascensão. (TABAJASKI; GAIGER; RODRIGUES apud 
LAGO, 2009 apud LIMA J; 2019). 
Com a implantação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), e dilatação 
da legislação destinada aos menores, em 1990, o trabalho do psicólogo também 
ampliou, envolvendo-o em atividades na perícia, acompanhamentos e aplicação das 
medidas de proteção ou medidas socioeducativas (TABAJASKI; GAIGER; 
RODRIGUES apud LAGO, 2009 apud LIMA J; 2019). 
Essa expansão do campo de atuação do psicólogo gerou um aumento do 
número de profissionais em instituições judiciárias mediante a legalização dos 
cargos pelos concursos públicos. [...] (Rovinski, 2002 apud LAGO, 2009, p. 
485 apud LIMA J; 2019) [...] no estado de São Paulo, o psicólogo [...] fez sua 
entrada oficial em 1985, quando ocorreu o primeiro concurso público para 
admissão de psicólogos dentro de seus quadros (SHINE apud LAGO, 2009, 
p. 484-485 apud LIMA J; 2019). 
A institucionalização do psicólogo forense está intimamente atrelada, portanto, 
ao Direito Criminal e ao Direito da Criança e do Adolescente, conforme LIMA J; (2019). 
2 PSICOLOGIA JURÍDICA E AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA 
Pode-se dizer que ainda é recente a prática do psicólogo no âmbito jurídico, 
cada vez mais esse profissional vem mostrando a importânciada sua prática em 
diversos contextos. Na área jurídica, o psicólogo atua como perito judicial e assistente 
técnico (LUZ; GELAIN; BENICÁ, 2014 apud FIGUEIREDO S; 2019). 
O psicólogo jurídico atua na área de família nas questões que envolvem guarda 
dos filhos, abuso sexual, regulamentação de visitas, exoneração de alimentos, 
separação, divórcio, alienação parental, adoção entras outras demandas. Seu 
trabalho depende da solicitação de uma intervenção especializada por parte do juiz 
(MENDES, 2013 apud FIGUEIREDO S; 2019). 
 
7 
 
O psicólogo enquanto perito, a partir das suas experiências e dotado de 
conhecimento técnico e científico, apresenta informações ao juízo, contribuindo com 
este para que o mesmo possa desenvolver uma sugestão mais clara e objetiva sobre 
um problema em questão (GUILHERMANO, 2012 apud FIGUEIREDO S; 2019). 
O perito atua como auxiliar do juiz, é um profissional que demonstra capacidade 
técnica de sua competência, apresenta habilidades e conhecimentos específicos, para 
executar de forma eficiente a função. O psicólogo nesta função necessita estar 
regularmente registrado em seu conselho, neste caso no CFP (conselho federal de 
psicologia) e seguir às regras estabelecidas por este (CHEFER; RADUY; MEHL, 2016 
apud FIGUEIREDO S; 2019). 
Existem dois tipos de peritos, os que trabalham diretamente nos Tribunais de 
Justiça, que atuam nos fóruns e os que são contratados de forma particular, indicado 
pelo juiz. Esses profissionais trabalham nos casos que necessitam de um 
esclarecimento especializado (MENDES, 2013 apud FIGUEIREDO S; 2019). O 
psicólogo enquanto assistente técnico atua como um assessor garantindo o direito ao 
contraditório. 
O psicólogo nesta função deve atuar de forma separada da função do perito e 
vise versa, para que não interfira na qualidade do serviço de ambas as partes. O 
envolvimento entre estes profissionais deve prezar pelo respeito, cada um realizando 
suas competências, o assistente técnico tem o direito de esclarecer suas possíveis 
dúvidas a respeito do caso com o psicólogo perito (LUZ; GELAIN; BENICÁ, 2014 apud 
FIGUEIREDO S; 2019). 
É função do assistente técnico, produzir Parecer Crítico relacionado ao caso, 
dentro de um prazo de 10 (dez) dias logo após a exposição do laudo. Para isso é 
fundamental conhecer o Código do Direito Civil que fala sobre Direito de Família, é 
necessário também analisar o processo observando as questões psicológicas 
(GUILHERMANO, 2012 apud FIGUEIREDO S; 2019). 
Vale ressaltar, que este profissional não é obrigado a ser contratado pelas 
partes, seu papel é apenas prestar um auxílio ao caso. E para desenvolver a 
sua atividade o mesmo pode escutar as pessoas envolvidas no caso, 
requerer documentos das partes entre outros (CHEFER; RADUY; MEHL, 
2016 apud FIGUEIREDO S; 2019). 
 
 
8 
 
De acordo com a Resolução do Conselho Federal de Psicologia N. º 007/2003 
o profissional psicólogo tem como função elaborar documentos que resulta na 
avaliação psicológica, sendo uma prática exclusiva desse profissional (LUZ; GELAIN; 
BENICÁ, 2014 apud FIGUEIREDO S; 2019). A avaliação psicológica, é uma prática 
exclusiva do psicólogo, trata-se de um processo técnico e científico que coleta dados 
para estudar e interpretar informações relacionadas aos fenômenos psicológicos da 
interação do sujeito com a sociedade, fazendo o uso de métodos, instrumentos e 
técnicas (MENDES, 2013 apud FIGUEIREDO S; 2019). 
Laudo é uma exposição minuciosa relacionada a fatos ou condições 
psicológicas, a partir das situações impostas pelos fatores políticos, sociais, históricos 
e culturais investigados na avaliação psicológica. Devem ser elaborados também, a 
partir de informações extraídas e analisadas com base em técnicas, como entrevista, 
testes psicológicos entre outras (LUZ; GELAIN; BENICÁ, 2014 apud FIGUEIREDO S; 
2019). 
Serve para apresentar desde o procedimento até a conclusão do processo de 
avaliação psicológica, descrevendo tudo sobre as intervenções, encaminhamento, 
prognóstico, diagnóstico e a evolução do caso, se necessário, solicitação de 
acompanhamento psíquico, fornecendo apenas as informações essenciais da 
demanda, solicitação ou petição. Após a realização da perícia, é papel do perito 
elaborar este documento, para auxiliar o juiz na decisão da sentença 
(GUILHERMANO, 2012 apud FIGUEIREDO S; 2019). 
O estudo psicossocial é uma forma de perícia, que pode ser feito pelo psicólogo 
junto ao assistente social, que investigam a relação familiar e as consequências para 
as partes que estão vivenciando o conflito, se difere do laudo por que analisa a 
situação de forma relacional e não individual. Para escolher a melhor forma de perícia 
é necessário avaliar de forma individual, as pessoas envolvidas e as possíveis 
técnicas para atuar onde ocorre a situação (CHEFER; RADUY; MEHL, 2016 apud 
FIGUEIREDO S; 2019). 
Outro documento que pode ser produzido pelo psicólogo é o parecer, trata-se 
de um resumo sobre o foco principal das questões psicológicas, no qual o resultado 
deste pode ser conclusivo ou indicativo. Sua finalidade é esclarecer as informações 
de uma avaliação especializada de um problema, com o intuito de eliminar as 
possíveis dúvidas do caso (MENDES, 2013 apud FIGUEIREDO S; 2019). O assistente 
 
9 
 
técnico não emite laudo e estudo psicossocial de acordo com o Conselho Federal de 
Psicologia, ele elabora parecer que irá contribuir com o advogado da pessoa que o 
contratou, auxiliando também na decisão do juiz (LUZ; GELAIN; BENICÁ, 2014 apud 
FIGUEIREDO S; 2019). 
Quando se trata de casos de alienação parental, se houver a necessidade o 
juiz irá solicitar a perícia psicológica ou biopsicossocial. O laudo irá conter, entrevista 
individual com as partes envolvidas, exames, levantamento histórico do 
relacionamento do casal e do processo de divórcio, avaliação da personalidade das 
pessoas envolvidas e analisar a forma, de como a criança ou o adolescente apresenta 
os comportamentos de acusação com o genitor (GUILHERMANO, 2012 apud 
FIGUEIREDO S; 2019). 
De fato, não é fácil diagnosticar a síndrome de alienação parental, pois requer 
um amplo conhecimento prático e cientifico dos profissionais perito e assistente 
técnico. Por mais que a lei 12318/10 aponte os possíveis atos, existem várias outras 
formas de alienação parental, muitas crianças e adolescentes não desprezam o 
genitor alienado e demostram sofrimento psicológico tal e qual de uma pessoa 
alienada (CHEFER; RADUY; MEHL, 2016 apud FIGUEIREDO S; 2019). 
Com isso, só pode ser considerado alienação parental se o ato for reconhecido 
pelo poder judiciário. Então, o juiz poderá solicitar a realização de uma perícia 
biopsicossocial ou psicológica. O laudo será produzido por perito habilitado, podendo 
ser o profissional psicólogo ou a junção de uma equipe multidisciplinar, este 
documento tem um prazo de até 90(noventa) dias para ser entregue (MENDES, 2013 
apud FIGUEIREDO S; 2019). 
Dependendo do grau de alienação que o adolescente ou a criança de se 
encontre, poderá haver inúmeras atitudes no processo decisório da guarda, que pode 
ser tomada pelo juiz da causa, podendo inclusive adiar para decidir de forma mais 
eficiente (LISBOA, 2013 apud FIGUEIREDO S; 2019). As intervenções realizadas pelo 
psicólogo para diagnosticar a síndrome de alienação parental podem ser: entrevista 
pessoal com as partes envolvidas, análise do histórico da dinâmica familiar do casal, 
constatação do término do relacionamento, análise do caráter dos envolvidos, 
incluindo as manifestações de acusação do filho contra o genitor (LISBOA, 2013 apud 
FIGUEIREDO S; 2019). 
 
10 
 
Necessita-se então, tomar todas as medidas cabíveis, para que haja a proteção 
da integridade psicológica do sujeito alienado, (criança ou adolescente) buscando 
garantir o direito à convivência familiar, e estabelecer uma reaproximação do filho com 
genitor no qual houve o distanciamento,devido os atos de alienação parental (LUZ; 
GELAIN; BENICÁ, 2014 apud FIGUEIREDO S; 2019). Ao ser julgada a alienação 
parental, torna-se inviável a guarda compartilhada, ou seja, os pais não poderão mais 
dividir as responsabilidades para com o filho, então a guarda passará a ser unilateral 
onde apenas um dos genitores irá assumir tal responsabilidade e será decretada de 
forma preferencial ao genitor que na prática, possa garantir ao seu filho uma melhor 
relação familiar com o outro (GUILHERMANO, 2012 apud FIGUEIREDO S; 2019). 
As intervenções judiciais são diversas para reestabelecer o vínculo, métodos 
de aproximação com o filho, por meio de visitas supervisionadas por uma terceira 
pessoa, a fim de garantir que não haverá comportamentos de alienação durante a 
visita. Quanto ao alienador existem sansões, que irá depender do grau de alienação 
parental em que o menor se encontre, entre elas estão: pagamento de multa diária 
enquanto o alienador emitir comportamentos inadequados, imposição de tratamento 
psicológico, alteração da guarda do menor, em casos extremos é decretado prisão do 
alienador (CHEFER; RADUY; MEHL, 2016 apud FIGUEIREDO S; 2019). 
Existe também a possibilidade de requerer indenização por danos morais na 
presença do alienador, pois a regra define que quando há a alienação parental existe 
um “abuso moral” contra a criança ou adolescente (FACCINI, 2011 apud 
FIGUEIREDO S; 2019). O tratamento da SAP consiste em reconstruir o vínculo entre 
filho e genitor alienado e reduzir ao máximo os danos causados pela quebra desse 
vínculo. Sendo de extrema importância os psicólogos buscarem métodos de 
intervenção que amenizem os efeitos que surgiram por conta do tal fenômeno 
(MENDES, 2013 apud FIGUEIREDO S; 2019). 
A mediação é uma forma de solucionar conflitos extrajudiciais, é basicamente 
uma tentativa de diálogo entre as partes junto com um mediador. No caso da alienação 
parental, será discutida a vontade das pessoas envolvidas no processo, em busca de 
uma solução amigável, e mais adequada para o caso (LUZ; GELAIN; BENICÁ, 2014 
apud FIGUEIREDO S; 2019). O psicólogo enquanto mediador irá facilitar o diálogo 
entre as partes, para que os mesmos possam buscar a melhor alternativa de resolução 
para o caso em questão. Para solucionar a alienação parental é necessário que o 
 
11 
 
psicólogo faça com que o alienador se coloque no lugar no alienado para que o mesmo 
perceba o seu sofrimento diante de suas ações, e possa enxergar também o mal que 
está causando aos seus filhos. Ao tomar consciência dos seus atos aos poucos os 
comportamentos alienadores irão se reduzindo até chegar ao fim (BARBIERI; LEÃO, 
2013 apud FIGUEIREDO S; 2019). 
Para obter sucesso na mediação, é imprescindível que psicólogo enquanto 
mediador possua competências, que possa fazer com que as partes reflitam sobre 
seus sentimentos e emoções, ajudá-los a clarificar os fatos, auxiliando-os a falarem o 
verdadeiro significado do que desejam expressar, interpretando as questões, 
fornecendo explicações para aumentar a compreensão dos fatos e por fim resumir o 
que foi dito no geral para obter uma melhor percepção (TOSTA, 2013 apud 
FIGUEIREDO S; 2019). 
Superar a alienação parental é uma tarefa difícil por parte dos pais, os mesmos 
devem desenvolver um equilíbrio emocional diante da separação, possuir afeto para 
com os filhos, compreendendo a situação em que se encontram como um todo, para 
facilitar a solução do problema vivenciado por eles (CHEFER; RADUY; MEHL, 2016 
apud FIGUEIREDO S; 2019). 
3 A FAMÍLIA E A INFÂNCIA 
Gomes (2008 apud CVIATKOVSKI A; et al., 2014) ressalta que cabe à família, 
a sociedade e ao estado garantir às crianças e aos adolescentes o direito à vida, a 
moradia a saúde, a alimentação adequada, a educação de qualidade, o lazer, o 
acesso aos meios para ingressar na vida profissional. Garantem também direitos 
relacionados ao respeito, a cultura, a liberdade e a dignidade, protegendo as crianças 
e adolescente da discriminação, da violência, da exploração, da crueldade, da 
negligencia e da opressão. 
Segundo o Art. 25. Do Estatuto da Criança e do Adolescente, se entende por 
família natural, aquela que é constituída pelos pais e seus descendentes. Já a família 
extensa seria aquela formada pela família natural e por mais parentes que convivem 
no mesmo ambiente. Sendo assim, ambas as formações familiares têm o dever de 
proteger e preservar os direitos assegurados pelo ECA, conforme CVIATKOVSKI A; 
et al., (2014). 
 
12 
 
Tanto a família como o estado devem oportunizar as crianças e adolescentes, 
proteção física, social e cognitivo e que possam ter desenvolvimento integral para a 
vida profissional, social e familiar, entre outros. Para efeito de todas as leis 
consideram-se crianças até 12 anos incompletos e adolescentes aqueles que 
possuem idade entre 12 e 18 anos. Tendo preferência quando se trata de proteção ou 
em atendimentos em serviços públicos, conforme CVIATKOVSKI A; et al., (2014). 
De acordo com Gomes (2008 apud CVIATKOVSKI A; et al., 2014), as crianças 
devem ter acesso a tratamentos médicos e psicológicos, e em caso de abandono têm 
direito a um abrigo ou ainda, se a criança foi destituída de sua família natural deverá 
ser inserida em uma família substituta. 
Segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente (2014 apud CVIATKOVSKI 
A; et al., 2014) após os 18 anos os adolescentes atingem a maioridade civil, onde ele 
passa a responder judicialmente pelos seus atos. Em casos de negligencia, violência 
ou qualquer outra forma de violação de direito, serão aplicado medidas protetivas a 
este segmento e sua família. E em caso de ato infracional também será aplicada ao 
adolescente uma medida protetiva denominada socioeducativa. 
São direitos fundamentais da criança e do adolescente, o direito à vida e a 
saúde. Essa medida de proteção se dá por meio de políticas sociais públicas que 
permitam o nascimento e o desenvolvimento sadios em condições dignas. O direito à 
liberdade, ao respeito e a dignidade, como sujeitos de direitos civis as crianças e 
adolescentes em processo de desenvolvimento devem ter seus direitos assegurados, 
sendo dever de todos zelarem pela dignidade e liberdade, não permitindo que sofram 
violações físicas, psíquicas e sociais, conforme CVIATKOVSKI A; et al., (2014). 
O Estatuto da Criança e do Adolescente (2014 apud CVIATKOVSKI A; et al., 
2014) assegura também o direito a convivência familiar e comunitária, sendo que a 
criança deve ser educada e criada no seio de sua família, cabendo aos pais o dever 
de sustento, educação e guarda. As crianças e os adolescentes também possuem a 
garantia do direito ao esporte, a educação, lazer e cultura visando principalmente o 
desenvolvimento de sua pessoa preparando-os para exercícios de cidadania. 
Subsequentemente as crianças e os adolescentes têm direitos garantidos de 
proteção ao trabalho e de profissionalização, ressaltando, porém, a proibição 
de trabalho para crianças com idade inferior a quatorze anos exceto na 
condição de aprendiz, respeitando sempre a condição de desenvolvimento. 
Gomes (2008 apud CVIATKOVSKI A; et al., 2014) ressalta que desde a sua 
criação, o ECA apresenta grandes avanços no processo de formulação e 
implantação de políticas para crianças e adolescentes como a erradicação do 
 
13 
 
trabalho infantil, o Plano Nacional de Convivência Familiar e Comunitária, 
Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo e enfrentamento da 
violência sexual, concomitante a dos conselhos de diretos e tutelares. 
O ECA deve ser compreendido como um instrumento de inclusão infanto-juvenil 
em toda a sua diversidade etária, étnica, sexual e cultural, de uma maneira 
democrática, sendo que seu dever é proteger a infância e adolescência, conforme 
CVIATKOVSKI A; et al., (2014). 
3.1 Definição de infância e adolescência 
Segundo Berger (2013 apud PAES T; et al, 2019), desde o nascimento,as 
crianças expressam angústia, tristeza e contentamento, o prazer é expresso com um 
primeiro sorriso social em até seis semanas, o medo também se manifesta cedo, e a 
cautela com estranhos e outros sinais de medo são evidentes por volta dos seis 
meses, quando os avanços cognitivos possibilitam a diferenciação entre o familiar e o 
inesperado, geralmente o comportamento temeroso atinge o auge por volta dos 
quatorze meses, o contexto social ensina às crianças quando e como se expressar 
suas emoções, a referência social em relação aos pais inicia por volta dos seis meses. 
A autoconsciência desenvolve-se no segundo ano de vida e possibilita um novo 
conjunto de emoções, a criança torna-se menos previsível e menos submissa. Dos 
dois aos seis anos de idade muitas habilidades cognitivas são adquiridas como 
memória e resolução de problemas, o contexto social tem o papel essencial de 
fornecer apoio, conforme PAES T; et al, (2019). 
As crianças começam a desenvolver raciocínio abstrato, a interação social, 
especialmente na participação dirigida, auxiliando no processo cognitivo. Ao mesmo 
tempo, contudo, o pensamento das crianças pode ser ilógico e egocêntrico. As 
capacidades de linguagem se desenvolvem rapidamente; aos seis anos, a criança 
média conhece 10.000 palavras e demonstra conhecimentos em gramática. 
Aprendem a ajustar sua comunicação às pessoas e utilizam a linguagem para ajudar 
a si mesmas e aprender, conforme PAES T; et al, (2019). 
A educação pré-escolar ajuda as crianças a desenvolverem a linguagem e a se 
expressarem, bem como a se prepararem para a educação. Na medida em que são 
elogiadas por seus esforços elas iniciam novas atividades como organizar 
 
14 
 
brincadeiras que as ajudam a controlar habilidades físicas e intelectuais e que as 
ensinem ou aperfeiçoem os papéis sociais, conforme PAES T; et al, (2019). 
Nessa fase, as crianças aprendem a refletir sobre as consequências de suas 
ações surgindo também os castigos físicos e técnicas disciplinares para 
mudar os comportamentos indesejáveis, agressão e negligência podem 
trazer, alterações no desenvolvimento desses pequenos seres como 
comportamento antissocial, que poderá levar à agressividade e a conflitos 
com a lei. Técnicas disciplinares adequadas são aquelas em que não é 
preciso bater na criança, como por exemplo, deixá-la sozinha em algum canto 
para "pensar na vida", procedimento de correção disciplinar na hora são 
adequados e uma boa estratégia para as crianças agressivas se acalmarem 
(BERGER, 2013 apud PAES T; et al, 2019). 
Outra correção pertinente seria tirar os privilégios, proibi-la de fazer algo que 
gosta, a ideia é de devolver à criança um determinado privilégio assim que a criança 
admitir que errou, porém, o ideal é que o período não seja muito longo. Também é 
indicado, se possível consertar o erro, fazê-la reparar o que fez de errado para só 
então poder realizar outra atividade, conforme PAES T; et al, (2019). 
Não é indicado gritar e dar broncas constantemente nas crianças, pois desta 
forma os adultos passam a imagem que estão fora do controle e o próprio filho pode 
sentir-se estimulado a testar o genitor. Crianças que levam palmadas, surras e 
castigos severos tendem a se sentir mais inseguras e ter baixa autoestima, tornando-
se excessivamente tímidas ou demasiadamente agressivas, além de ser tênue a linha 
entre medidas não agressivas e as agressões efetivas aumentando o risco para a vida 
e integridade desta criança (RIBEIRO et al. 2007 apud PAES T; et al, 2019). 
Na idade dos sete aos onze anos ocorre a expansão do mundo social, 
abandonam a total autossatisfação para ajustar seu próprio comportamento e interagir 
adequadamente com outras pessoas. O grupo de amigos torna-se cada vez mais 
importante à medida que a criança fica menos dependente de seus pais e mais 
dependente de seus amigos, em termos de ajuda, lealdade e compartilhamento de 
interesses mútuos. Começam a ter interesse pelos jogos competitivos e por artistas 
da televisão, internet, esportistas e cantores. Muitas crianças apresentam 
necessidade de aprendizagem especial, conforme PAES T; et al, (2019). 
Nessa fase podem surgir conflitos como a separação dos pais e geralmente 
mudam de comportamento podendo ficar: deprimidas, hostis, desobedientes, 
irritáveis, sozinhas, etc., perdendo o interesse pela escola e vida social. Nos casos de 
maus tratos a criança pode manifestar prejuízos na aprendizagem, autoestima, nas 
 
15 
 
relações sociais e no controle emocional. Alguns desses efeitos podem marcar a 
pessoa por toda a vida, crianças maltratadas tendem a se tornar adultos agressivos 
(BERGER, 2013 apud PAES T; et al, 2019). 
Para Rangel, Torman e Focesi (2012 apud PAES T; et al, 2019) a adolescência 
é o período de transição da infância para a idade adulta, no qual os adolescentes 
precisam se adaptar ao tamanho e à forma do corpo que se modifica, o despertar da 
sexualidade e às novas maneiras de pensar. A adolescência é uma crise de identidade 
e confusão de papéis. Em termos ideais, os adolescentes resolvem a crise 
desenvolvendo sua própria exclusividade e seu relacionamento com a sociedade, 
estabelecendo nesse processo uma identidade sexual, política, moral e vocacional. O 
pensamento do adolescente é marcado, e às vezes obstruído, pelo egocentrismo, 
exemplificado pelo mito da invencibilidade e pelo mito pessoal. 
O egocentrismo também é amplificado pela autoconsciência durante essa fase. 
É também um período onde eles se sentem ansiosos por estímulos intelectuais, mas 
estão altamente vulneráveis à falta de confiança em si mesmos. A puberdade se inicia 
pela produção de hormônios no cérebro, enquanto esses hormônios executam 
funções biológicas podem tornar o humor desses adolescentes mais instáveis. Ambos 
os sexos passam por mudanças nas características sexuais que são alterações nos 
órgãos sexuais além de modificações nos seios, voz, pelos faciais e corporais 
(RODRIGUES; MELCHIORI, 2014 apud PAES T; et al, 2019). 
De acordo com Oliveira (2006 apud PAES T; et al, 2019), esse processo ocorre 
em um momento em que a criança está sendo confrontada com as mudanças físicas 
da puberdade e seu impacto psicológico, o abuso sexual na adolescência pode ser 
especialmente danoso. Os efeitos do abuso sexual dependem da natureza do abuso, 
da sua duração e do relacionamento do adolescente com o agressor. Os adolescentes 
sexualmente molestados podem se tornar deprimidos, viciados em drogas ou 
agressores sexuais também. O uso ou experimentação de drogas ocorre com a 
maioria dos adolescentes, e quase todos eles sabem como obter cigarros, bebidas 
alcoólicas e outras drogas. O contexto familiar e o apoio dos pais podem reduzir a 
incidência da atividade sexual prematura, o comportamento sexual de risco e a 
gravidez precoce, porém poucos pais são educadores sexuais e bem informados para 
seus filhos. 
 
16 
 
Pode surgir conflitos entre os pais e filhos nesse período sobre coisas como 
cabelo, aparência e roupas, porém é importante nessa fase que os pais 
procurem ter comunicação, apoio, ligação e controle. Nessa época a 
depressão e a ideia de suicídio é bastante comum principalmente entre os 
rapazes. Assim como a violação da lei é mais comum na adolescência do que 
em qualquer outro período da vida. Grande parte se envolve em algum tipo 
de transgressão, mas relativamente poucos são presos e nem todos se 
tornam criminosos vitalícios assim também frequentemente são vítimas de 
crimes (BERGER, 2013 apud PAES T; et al, 2019). 
Porém, Aberastury e Knobel (1981 apud PAES T; et al, 2019), consideraram 
que nesta fase o adolescente vive uma ameaça constante de ruptura das relações, 
fator que pode ocasionar maior incidência de mecanismos de defesa de natureza 
psicótica como onipotência, egocentrismo, cisão, negação e projeção com tendência 
a se consolidar como modo de funcionamento psíquico. Os autores acrescentam 
aindaque neste período para alcançar a consolidação da personalidade o adolescente 
tem de utilizar-se de conduta superficialmente patológica. 
Sendo assim, comportamentos conhecidos como transgressões são 
reverberações dos conflitos internos, decorrentes desse processo. A ocorrência dos 
principais sintomas nesta fase são: A busca de si mesmo e da identidade; tendência 
grupal; necessidade de intelectualizar e fantasiar; crises religiosas, deslocalização 
temporal; evolução sexual manifesta; atitude social reivindicatória; contradições nas 
manifestações de conduta; separação progressiva dos pais e flutuação de humor, 
conforme PAES T; et al, (2019). 
O processo de busca de identidade pode fazer com que o adolescente a 
encontre de forma incorreta, fundamentada em figuras negativas, na qual é preferível 
uma identidade perversa a não possuir nenhuma. Portanto, a prevenção da 
criminalidade na adolescência inclui a identificação de crianças em risco, que 
consome substâncias precocemente, que são autoritárias, que são maltratadas ou 
negligenciadas, conforme PAES T; et al, (2019). 
3.2 O trabalho dos psicólogos com crianças e adolescentes 
Em 2002, o Conselho Federal de Psicologia (CFP) publicou uma cartilha 
visando à atualização dos psicólogos que trabalham com a população adolescente no 
Brasil. Bastos (2002 apud BRAMBILLA B; et al., 2010), nessa cartilha, inicia sua 
reflexão com a exposição sobre a normatização da prática do psicólogo. O autor 
 
17 
 
afirma que o psicólogo é um profissional da saúde, especificamente da saúde mental, 
independentemente da área de atuação. Saúde mental compreendida como o 
processo de otimização da qualidade de vida das pessoas, através da consideração 
dos fatores emocionais que agem contra ou a favor do seu bem-estar psíquico e da 
vida como um todo. 
Ao compreendermos a psicologia como uma ciência da saúde, Paes Ribeiro 
(1998 apud BRAMBILLA B; et al., 2010) discute aspectos ligados ao binômio saúde 
doença, relatando a nova compreensão em relação a esse binômio, cujo foco é a 
saúde ao invés da doença, no campo político e científico da saúde. Conforme 
argumenta o autor, há o surgimento de uma psicologia da saúde, que recorre aos 
diferentes conhecimentos no domínio da psicologia, visando à promoção e proteção 
da saúde, à prevenção e ao tratamento de doenças e disfunções associadas, à análise 
e melhoria do sistema de cuidados à saúde e ao aperfeiçoamento da política de saúde. 
A saúde é aqui entendida não apenas como ausência de sintomas ou de 
doenças. Destaca-se uma preocupação com o indivíduo em sua totalidade. Segundo 
Paes Ribeiro (1998 apud BRAMBILLA B; et al., 2010), há um movimento da saúde 
enquanto um modelo ecológico e uma compreensão holística. O modelo ecológico 
possibilita uma compreensão diferenciada acerca do ser humano e da saúde, na 
medida em que não há dicotomias entre mente-corpo e as relações que o indivíduo 
estabelece com o mundo, ocupando uma esfera saudável ao não separar a relação 
indivíduo-coletividade. Essa união retrata as possibilidades de os indivíduos 
vivenciarem suas experiências de maneira mais integral e autêntica, aproximando-se 
de melhores condições de vida. 
Esta noção de saúde converge com as concepções de Bleger (1984 apud 
BRAMBILLA B; et al., 2010) que reflete sobre a postura de esperar que a pessoa 
adoeça para curá-la, em lugar de evitar a doença e promover um melhor nível de 
saúde. O autor propõe uma aquisição da dimensão social da profissão de psicólogo, 
com consciência do lugar que ocupa dentro da saúde pública e da sociedade. 
Em relação à psicologia, o autor acima citado, afirma que se deve inseri-la, 
penetrá-la cada vez mais na realidade social e em círculos mais amplos, incluindo 
estudos de grupos, das instituições e da comunidade, já que a dimensão psicológica 
se faz presente em tudo, visto que o ser humano atua em tudo. 
 
18 
 
Nesse outro paradigma proposto por Bleger, no que tange o trabalho com 
crianças e adolescentes, requer-se uma compreensão sobre a dimensão da infância 
e da juventude; segundo Cruz, Hillesheim e Guareschi (2005 apud BRAMBILLA B; et 
al., 2010), precisa-se contextualizá-la em uma noção datada geográfica e 
historicamente e não apenas como uma etapa natural da vida. Implica em refletir as 
questões relativas à família, aos vínculos mães/pais/filhos/filhas, à escola, à 
maternidade/paternidade e às formas de criação dos filhos. Quando se fala em 
infância e adolescência não se pode remeter a uma abstração, mas a uma construção 
discursiva que institui determinadas posições, não só das crianças e dos 
adolescentes, mas também da família, dos pais, das mães, das instituições escolares, 
entre outros, caracterizando determinados modos de ser e viver a infância. 
Essa compreensão materializa-se no cotidiano e, segundo Salles (2005 apud 
BRAMBILLA B; et al., 2010), as condições históricas, políticas e culturais diferentes 
produzem transformações não só na representação social da criança e do 
adolescente, mas também na sua interioridade. Identifica-se uma correspondência 
entre a concepção de infância presente em uma sociedade, as trajetórias de 
desenvolvimento infantil, as estratégias dos pais para cuidar de seus filhos e a 
organização do ambiente familiar e escolar. 
As crianças e os adolescentes não podem ser fadados a tornarem- se apenas 
adultos. As crianças constituem identidade e subjetividade na relação com o outro e 
num tempo e num espaço social específico. A criança e o adolescente demonstram 
modos específicos de se comportar, agir e sentir, e só podem ser compreendidos a 
partir da relação que constroem. Essa relação se concretiza de acordo com as 
condições objetivas da cultura na qual se inserem. Segundo Bock (2004 apud 
BRAMBILLA B; et al., 2010), vivemos hoje numa cultura caracterizada pela existência 
de uma indústria da informação, de bens culturais, de lazer e de consumo onde a 
ênfase está no presente, na velocidade, no cotidiano, no aqui e no agora, e na busca 
do prazer imediato. 
Além disto, segundo Cruz, Hillesheim e Guareschi (2005 apud BRAMBILLA B; 
et al., 2010), ao afirmar as crianças como seres em desenvolvimento, a infância é 
tomada a partir da ótica adulta, isto é, como uma etapa de vida a ser superada e que 
necessita proteção integral, na medida em que é compreendida como frágil e incapaz. 
 
19 
 
Essa compreensão de infância e adolescência construída e a atuação do 
psicólogo, como profissional da saúde, contribuíram para o surgimento de técnicas 
que possibilitem a atenção em relação à demanda de promoção e proteção, 
prevenção e tratamento das pessoas. No que compete ao manejo do psicólogo com 
crianças e adolescentes, as práticas variam de acordo com a situação em que estão 
inseridos. Independentemente de qual seja a práxis, há princípios legais que oferecem 
subsídios para o trato das crianças e adolescentes. Este subsídio é o Estatuto da 
Criança e do Adolescente (ECA), conforme BRAMBILLA B; et al., (2010). 
3.3 O estatuto da criança e do adolescente 
Santos (2007 apud CVIATKOVSKI A; et al., 2014) refere que houve na história 
vários momentos que marcaram a luta pelos direitos da criança e do adolescente. Em 
1923, uma organização não-governamental, chamada International Union for Children 
Welfare, promulgou as primeiras leis de proteção à infância, que foram agrupadas na 
primeira Declaração dos Direitos da Criança de 1924, em Genebra. 
Apesar de em 1948 ser elaborada uma lei que garantia os direitos dos cidadãos 
chamados de Declaração Universal dos direitos do homem, houve a necessidade de 
criar outro documento que abordasse unicamente os direitos das crianças. Desta 
forma em 1959 fora aprovada na Assembleia Geral das Nações Unidas a Declaração 
dos Direitos da Criança, tornando a criança um sujeito de direitos. (SANTOS, 2007 
apud CVIATKOVSKI A; et al., 2014). 
Segundo Gomes (2008 apud CVIATKOVSKI A; et al.,2014) no Brasil a luta 
pelos direitos da criança e do adolescente passou a ter notoriedade em 1978, com a 
instituição do Ano Internacional da Criança, mas foi com a Constituição de 1988 que 
passa a garantir alguns direitos à criança, como por exemplo, o direito da criança de 
0 a 6 anos de frequentar a educação infantil. Conhecido como uma conquista histórica 
dos direitos da criança e do adolescente a criação do Estatuto da Criança e do 
Adolescente (ECA), passou a garantir todos os direitos fundamentais a estes. 
A partir da criação do ECA através da lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990, as 
crianças e os adolescentes são considerados sujeitos com direitos, sendo 
assegurados a esses mediante políticas públicas governamentais. Esta é a primeira 
legislação criada em defesa da infância e juventude, sendo colocada em prática para 
 
20 
 
a efetivação dos direitos pertencentes às crianças e adolescentes, conforme 
CVIATKOVSKI A; et al., (2014). 
Siqueira e Dell’ Aglio (2006 apud CVIATKOVSKI A; et al., 2014) comentam que 
depois do Estatuto da Criança e do Adolescente, esses sujeitos deixam de serem 
apenas objetos de tutela e passam a ter direitos e deveres como os demais integrantes 
da sociedade. Mas a ideia de que as crianças e adolescentes seriam sujeitos de 
direitos, por muito tempo a sociedade não compartilhava da mesma opinião, já que, a 
infância não era priorizada pelas políticas sociais e públicas. 
Segundo art. 3º do Estatuto da Criança e do adolescente (2014 apud 
CVIATKOVSKI A; et al., 2014), as crianças e adolescentes gozam de todos os direitos 
oferecidos para as pessoas humanas, sendo lhes assegurados por leis e/ou outros 
meios, a oportunidade de um desenvolvimento físico, moral, mental, espiritual e social, 
deixando a criança em liberdade para escolher o é melhor, podendo viver com 
dignidade. 
Portanto, no Brasil, diversas medidas com caráter assistencialista aconteceram 
até a formulação da Constituição Federal de 1988, que visava garantir de forma 
integra os direitos das crianças e adolescentes e ainda viabilizando a criação do 
Estatuto da Criança e do Adolescente de 1990, Lei nº 8.069/1990. Anteriormente, o 
UNICEF - Fundo das Nações Unidas para a Infância, que é um órgão de defesa dos 
direitos das crianças e adolescentes, colaborou com campanhas fundamentais e 
impulsionou a aprovação do artigo 227 da Constituição Federal e ainda o ECA por 
garantias dos direitos de meninos e meninas, conforme SALGADO I; (2018). 
De acordo SALGADO I; (2018), a garantia dos direitos de crianças e 
adolescentes de apoio de interesses e necessidades de titulares juridicamente 
tuteláveis foi também garantida pela Constituição Federal de 88, de forma integra: 
Art. 227 É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, 
ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, 
à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à 
dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, 
além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, 
exploração, violência, crueldade e opressão (Brasil,1988 apud SALGADO I; 
2018). 
Ficou ainda garantido que toda criança tem direito à vida, saúde, alimentação, 
educação, liberdade, convivência família e etc. (Artigo 4º do ECA), estabelecendo que 
todas crianças e adolescentes tenham prioridade especial em aspectos do direito, 
 
21 
 
sendo assistidas em todas as necessidades. Pela garantia da lei, toda criança e 
adolescente também tem seu princípio de condição peculiar de pessoa em 
desenvolvimento, que significa que todo indivíduo nessa fase de formação precisa de 
condições integras do Estado, da família para se tornar um adulto completo, conforme 
SALGADO I; (2018). 
Sabe-se também que alguns direitos são imprescindíveis a todos os indivíduos, 
ficou estabelecido pelo ECA alguns deles como, Art 7º, Direito à vida: “A criança e o 
adolescente têm direito a proteção à vida e à saúde, mediante a efetivação de políticas 
sociais públicas que permitam o nascimento e o desenvolvimento sadio e harmonioso, 
em condições dignas de existência” (Brasil, 1990, p.20 apud SALGADO I; 2018). 
O Direto a Educação, também garantido pelo ECA (1990 apud SALGADO I; 
2018): 
Art. 53. A criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao pleno 
desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e 
qualificação para o trabalho, assegurando-se lhes: 
 I - Igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; 
 II - Direito de ser respeitado por seus educadores; 
III - direito de contestar critérios avaliativos, podendo recorrer às instâncias 
escolares superiores; 
IV - Direito de organização e participação em entidades estudantis; 
V - Acesso à escola pública e gratuita próxima de sua residência. (Brasil, 
1990, p.46). 
O Direito a Convívio Familiar, pelo artigo 19º do ECA: “É direito da criança e do 
adolescente ser criado e educado no seio de sua família e, excepcionalmente, em 
família substituta, assegurada a convivência familiar e comunitária, em ambiente que 
garanta seu desenvolvimento integral” (Redação dada pela Lei nº 13.257, de 2016). 
(Brasil, 1990, p27 apud SALGADO I; 2018). 
Por fim, de SALGADO I; (2018), alguma Medidas de Proteção à Criança e ao 
Adolescente são estabelecidas pelo ECA sempre que houver qualquer violação dos 
direitos desses indivíduos, formuladas sendo: 
Art. 101. Verificada qualquer das hipóteses previstas no art. 98, a autoridade 
competente poderá determinar, dentre outras, as seguintes medidas: 
 I - Encaminhamento aos pais ou responsável, mediante termo de 
responsabilidade; 
 II - Orientação, apoio E acompanhamento temporários; 
III - Matrícula e frequência obrigatórias em estabelecimento oficial de ensino 
fundamental; 
IV - Inclusão em programa comunitário ou oficial de auxílio à família, à criança 
e ao adolescente; 
 
22 
 
IV - Inclusão em serviços e programas oficiais ou comunitários de proteção, 
apoio e promoção da família, da criança e do adolescente; (Redação dada 
pela Lei nº 13.257, de 2016) 
V - Requisição de tratamento médico, psicológico ou psiquiátrico, em regime 
hospitalar ou ambulatorial (Brasil, 1990, p.67 apud SALGADO I; 2018). 
O ECA ainda está ligado ao SUS sobre defender os direitos básicos das 
crianças e adolescentes, como é mostrado na cartilha de orientação para gestores e 
profissionais da saúde, que o ECA enviou um mandato ao SUS para fins de promoção 
a vida e saúde de crianças e adolescentes, sobre a atenção completa de saúde, que 
presume acesso universal e igual aos três níveis de atenção. Exigindo uma tarefa que 
desenvolvem ações de promoção à saúde, prevenção de doenças, atenção 
humanizada (Brasil, 2010 apud SALGADO I; 2018). 
O Ministério da Saúde é o gestor federal do SUS que segue as recomendações 
da OMS (Organização Mundial da Saúde) feitas na Assembleia Geral das 
Organizações das Nações Unidas (ONU). Em 1996, ficou determinado que a violência 
era um problema que se constituía para saúde pública. O MS publicou ainda a Política 
Nacional de Redução de Morbimortalidade por Acidentes e Violência (Portaria 
nº737/2001) sendo este instrumento de notificação, as autoridades competentes, de 
casos que existir suspeita ou confirmação de violência contra crianças e adolescentes 
(Portaria MS/GM nº 1.968, de 25 de outubro de 2001). (Brasil, 2010 apud SALGADO 
I; 2018). 
3.4 Atuação do psicólogo nas varas da infância e juventude 
De acordo com Conselho Federal de Psicologia (2010 apud PAES T; et al, 
2019), o psicólogo que atua em Varas da Infância e Juventude ou que realiza trabalhos 
a ela encaminhados desenvolve práticas próprias à área da Psicologia Jurídica. 
Entende-se como psicólogos jurídicos não só aqueles que exercem sua prática 
profissional nos tribunais, mas também os que trabalham com questões diretamente 
relacionadas ao sistema de Justiça. 
SegundoLago et al. (2009 apud PAES T; et al, 2019), destacam-se os 
psicólogos jurídicos que integram equipes multidisciplinares nos Tribunais de Justiça 
nas Varas da Infância e Juventude, atendendo separada ou cumulativamente as 
Varas de Família. Entre os psicólogos que realizam trabalhos encaminhados às Varas 
de Família ou por solicitação destas, recebem encaminhamentos da Justiça, 
 
23 
 
geralmente para a confecção de avaliações ou diagnósticos, com solicitação para 
envio dos resultados ao Poder Judiciário. 
Tem sido comum encontrar psicólogos que atuam em consultórios clínicos e, 
por vezes, são convidados ou solicitados a emitir pareceres que serão anexados a 
processos. Tal fato requer extremo cuidado ético, devido, principalmente, à quebra de 
sigilo que pode ocorrer nesses casos. As diversas possibilidades que levam o 
profissional a encaminhar resultados de seus trabalhos às Varas de Família apontam, 
inicialmente, para a importância de o psicólogo ter clareza do papel a desempenhar 
naquele contexto, conforme PAES T; et al, (2019). 
As atribuições do psicólogo são: Avaliar as condições intelectuais, emocionais, 
relacionais e psíquicas de partes envolvidas em processos judiciais de habilitação 
para adoção, guarda, tutela e medidas de proteção, atuar em diversos tipos de 
processos judiciais, ligados a proteção da criança e do adolescente, como perito, 
elaborando laudos e pareceres, quando designado, efetivar acompanhamento 
psicológico aos adotantes e às crianças ou adolescentes que estejam em período de 
convivência à família substituta, até a finalização do processo de adoção; 
desempenhar acompanhamento psicológico de crianças, adolescentes e famílias que 
estejam envolvidos em processos judiciais e situação de risco, quando necessário e 
solicitado; realizar palestras ou grupos de reflexão para habilitação à adoção, 
adotantes e famílias; praticar visitas, acompanhamento e avaliação psicológica de 
crianças e adolescentes abrigadas, quando necessário ou quando designado pelo 
Juiz (ALBERTO et al. 2008 apud PAES T; et al, 2019). 
Participar, quando determinado, de audiências para esclarecer aspectos 
técnicos em psicologia, realizar acompanhamento psicológico de adolescentes 
inseridos em programas ligados a Vara da Infância e Juventude, quando solicitado 
executar visitas domiciliares e visitas institucionais, quando necessário ou designado 
pelo juiz, assessorar autoridades judiciais no encaminhamento a práticas psicológicas 
e médicas específicas, quando necessário. Assim como atuar de reuniões de equipe 
para discussão de casos e procedimentos técnicos quando necessário (ALBERTO et 
al. 2008 apud PAES T; et al, 2019). 
Lago et al. (2009 apud PAES T; et al, 2019) salienta ainda que o profissional 
de psicologia deve contribuir para criação de mecanismos que venham agilizar e 
melhorar a prestação do serviço, proceder na elaboração e execução de programas 
 
24 
 
socioeducativos, destinado a crianças em situação de risco. Um dos desafios do 
Poder Judiciário é o de se estruturar para lidar com a complexidade do mundo 
contemporâneo, considerando, as mudanças na composição das entidades 
familiares, as relações de gênero e de geração, que redefinem a própria família. Tais 
mudanças exigem novas organizações do aparelho judiciário como uma ferramenta 
do Estado Democrático de Direito. Nesse sentido entende-se que as equipes 
interdisciplinares são indispensáveis ao Sistema de Justiça. 
4 A ADOÇÃO NO BRASIL 
 
Fonte: mpgo.mp.br 
No Brasil, no segundo e terceiro séculos de colonização as crianças concebidas 
fora do casamento e ou filhas de moças brancas e solteiras, de família de classe média 
alta, eram abandonadas em calçadas, florestas, terrenos baldios e praias, esse tipo 
de abandono chamado de abandono selvagem teve um número considerável de 
ocorrências, conforme SILVA R; (2011). 
Para controlar o abandono selvagem a igreja católica instaurou a Roda dos 
Expostos. As crianças eram depositadas na Roda dos Expostos e eram acolhidas 
pelas Santas Casas de Misericórdia, garantindo o sigilo sobre as mães biológicas das 
crianças, normalmente as brancas solteiras de classe média. Neste período os 
preceitos e as regras que orientavam a organização familiar, eram os do cristianismo. 
A procriação fora do casamento era recriminada e ficavam sujeita a sanções, tanto 
religiosas como sociais, conforme SILVA R; (2011). 
 
25 
 
Se na época colonial as crianças eram abandonadas porque eram geradas fora 
dos preceitos da moral cristã, hoje, ao abandono somaram-se novos motivos - a 
inexistência de programas sociais que orientem sobre planejamento familiar, a falta 
de instrução sobre o uso de métodos anticonceptivos, ou ainda a falta de auxílio de 
qualquer espécie, seja moral, afetivo ou econômico, às famílias. O Código Civil 
Brasileiro, de 1916, estipulou que somente poderia adotar o maior de 50 anos, sem 
descendentes legítimos ou legitimados, e desde que fosse, pelo menos, 18 anos mais 
velho que o adotado (art. 368 e seguintes), conforme SILVA R; (2011). 
A adoção internacional, por sua vez, aparece como prática regular, após a 
Segunda Guerra Mundial, em face da existência de multidões de crianças órfãs, sem 
qualquer possibilidade de acolhimento em suas próprias famílias. Crianças da 
Alemanha, Itália, Grécia, do Japão, da China e de outros países foram adotadas por 
casais norte-americanos e europeus. Segundo o Serviço Internacional de Adoção, 
milhares de crianças foram encaminhadas para o exterior sem que tivessem os 
documentos indispensáveis à regularização de sua cidadania. Das crianças adotadas 
na Itália, entre 1985 e 1990, quase 80% eram provenientes da América Latina. Já na 
França, das 5.348 crianças adotadas, entre 1990 e 1992, 21% eram brasileiras 
(COSTA, 1998 apud SILVA R; 2011). 
O descontrole, os abusos verificados, especialmente a venda e o tráfico 
internacional de crianças, no país de origem e no de acolhida, fez nascer à 
necessidade de serem estabelecidas normas eficazes de garantia das 
adoções e de proteção aos infantes. A criança e o adolescente têm direito a 
proteção à vida e a saúde; mediante a efetivação de políticas sociais públicas 
que permitam o nascimento e o desenvolvimento sadio e harmonioso, em 
condições dignas de existência. (ECA, Art. 7, Cap. I apud SILVA R; 2011). 
De acordo com SILVA R; (2011), na América Latina, as mudanças legislativas 
tiveram início no final da década de 1980, buscando atender aos princípios da 
Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos da Criança, adotada pela 
Assembleia Geral das Nações Unidas, em 20.11.89. Passou-se a considerar a criança 
como sujeito de direitos, afirmando o seu direito a ter um nome, a partir do nascimento, 
assim como o direito a ter uma nacionalidade; o direito de conhecer e conviver com 
seus pais, a não ser quando incompatível com seu melhor interesse; afirmando o 
caráter excepcional da adoção internacional, entre tantas outras disposições que vêm 
elencadas em seus 56 artigos, dos quais destaco dois dos artigos da I Parte do 
Documento: 
 
26 
 
Art.1 Para efeitos da presente convenção considera-se como criança todo ser 
humano com menos de 18 anos de idade, a não ser que, em conformidade 
com a lei aplicável à criança, a maioridade seja alcançada antes. 
 Art.2 1 – Os Estados Partes respeitarão os direitos enunciados na presente 
Convenção e assegurarão sua aplicação a cada criança sujeita à sua 
jurisdição, sem distinção alguma, independentemente de sexo, idioma, 
crença, opinião política ou de outra natureza, origem nacional, étnica ou 
social, posição econômica, deficiências físicas, nascimento ou qualquer outra 
condição da criança, de seus pais ou de seus representantes legais. 
Questões referentes ao abandono e a adoção de crianças e adolescentes 
deveriam fazer parte das reflexões e proposições acerca da política social brasileira. 
Desde que o Brasil foi descoberto, eainda durante o período de colonização 
portuguesa, ações referentes à prática do abandono e da adoção começaram a surgir. 
Contudo, as ações do Estado em relação a tais práticas, sobretudo em relação à 
adoção e/ou colocação de crianças e adolescentes em famílias substitutas, sempre 
atenderam aos interesses daqueles que não poderiam gerar biologicamente seus 
próprios filhos em detrimento dos interesses das crianças e adolescentes 
disponibilizadas para adoção, conforme SILVA R; (2011). 
Pode-se dizer que a Roda dos Expostos oficializou e institucionalizou o 
abandono no Brasil. A fundação de instituições-abrigo de níveis federal e estadual 
como a FUNABEM e a FEBEM, tornaram ainda mais degradante a situação das 
crianças e adolescentes abandonados que, uma vez institucionalizados, passaram por 
processos de subjetivação extremamente comprometedores. A subjetivação ocorre 
quando há uma ruptura do indivíduo com a sua história não só transgeracional, mas 
também com a história humana, diz Roberto da Silva (2003 apud SILVA R; 2011). 
A situação da criança brasileira pobre é ainda mais agravada pela 
circunstância de sua história revelar um processo de contínuo maus tratos, 
abandono, brutalidade, violência, fome, abuso sexual, exploração no 
trabalho, privação de lazer, perambulação por ruas e praças, extermínio, 
mortalidade precoce. Afirma João Clemente de Souza Neto (2003, p.73 apud 
SILVA R; 2011). Esses fatos, para nós, caracterizam um quadro de política 
de genocídio. Alguns autores têm constatado que tanto a criança quanto o 
adolescente são as principais vítimas do processo de acumulação capitalista. 
Sua condição não é melhor do que a dos trabalhadores, com o agravante de 
serem pessoa em desenvolvimento. 
A falta de políticas sociais bem fundamentadas para assegurar os direitos 
sociais da infância e da adolescência, acaba tendo por consequência uma política de 
genocídio. Em busca de soluções para a situação da criança brasileira, o governo cria 
Leis ou altera as existentes, assim como cria programas de ação social, porém, não 
 
27 
 
são suficientes para resolver todas as questões a que estão sujeitas as crianças 
oriundas de famílias de baixa renda, conforme aponta Souza Neto (2003, p.74 apud 
SILVA R; 2011), provavelmente a primeira grande Lei que procurou defender os 
direitos das crianças tenha sido a Lei do Ventre Livre, de 28 de setembro de 1871. 
[...]... iniciou um processo de libertação e essa é sua peculiar importância. 
Segundo Roberto da Silva (2003 apud SILVA R; 2011), os Códigos dos 
Menores de 1927 e o de 1979, ao darem ao juiz pleno poderes os direitos de pátrio 
poder, de tutela, de legitimação dos filhos ilegítimos, constituíram-no como figura 
responsável por normatizar e intermediar as relações de pais e filhos de famílias 
desestruturadas e precárias com o Estado. 
E devido ao grande índice de abandono o Código Penal, datado de 1940, ainda 
em vigor, estabeleceu penas de detenção de seis meses a três anos ao genitor que 
abandonasse crianças, aumentando a pena de reclusão de um a cinco anos, se do 
abandono resultassem lesões corporais de natureza grave, e se o abandono causasse 
a morte da criança, a pena era de quatro a doze anos, agravada se o abandono 
ocorresse em lugar deserto onde não fosse possível o socorro da criança, conforme 
SILVA R; (2011). 
Repensar a questão do abandono e da adoção de crianças e adolescentes, 
hoje, significa dar passos no sentido de re-significar valores, desmitificar crenças 
limitantes e reconsiderar, acima de tudo, o interesse da criança e do adolescente, 
conforme SILVA R; (2011). 
ECA - Lei nº 8.069 de 13 de julho de 1990 - Art. 19. É direito da criança e do 
adolescente ser criado e educado no seio de sua família e, excepcionalmente, 
em família substituta, assegurada a convivência familiar e comunitária, em 
ambiente que garanta seu desenvolvimento integral. 
Nos termos do ECA - Estatuto da Criança e do Adolescente (Cap. III, Art. 19) 
assiste às crianças e aos adolescentes o direito de serem criados e educados “no seio 
de sua família e, excepcionalmente, em família substituta”, conforme SILVA R; (2011). 
4.1 Os tipos de adoção no brasil 
Conforme mostra a Cartilha da Associação dos Magistrados Brasileiros AMB - 
existem alguns tipos de adoção mais conhecidos, a adoção tardia que se refere à 
adoção de crianças maiores ou de adolescentes. O que nos faz pensar que a adoção 
 
28 
 
seja uma prerrogativa de recém-nascidos e bebês e de que as crianças maiores 
seriam adotadas fora de um tempo ideal. Desconsidera-se, com isso, que grande 
parte das crianças em situação de adoção tem mais de 2 anos de idade e que nem 
todos pretendentes à adoção desejam bebês como filhos. O termo Adoção tardia tem 
uma desigualdade de interpretações sobre idades. Há quem fale em 2 anos como 
idade limite, e há quem fale em a partir de 5 ou 6, conforme SILVA R; (2011). 
A adoção pronta e direta, ou Intuitu Personae é aquela em que a mãe biológica 
decide para quem deseja entregar o seu filho. Na maioria dos casos, a mãe procura a 
Vara da Infância e da Juventude, acompanhada do pretendente à adoção, para 
legalizar um convívio que já esteja acontecendo de fato. É um tema bastante polêmico, 
há juízes que entendem que a adoção pronta é sempre desaconselhável, pois é difícil 
avaliar se a escolha da mãe é voluntária ou foi induzida ou se os pretendentes à 
adoção são adequados, além da possibilidade de uma situação de tráfico de crianças, 
conforme SILVA R; (2011). 
Esse tipo de adoção, também é muito comum no Brasil visto que as maiorias 
dos casais que não podem ter filhos querem adotar crianças recém-nascida, branca e 
com boa saúde. E muitas mulheres, no final da gravidez, desvendam a intenção de 
confiar seu filho à adoção, pelo fato de não terem condições de criar e educar seus 
filhos, ou mesmo, por não se acharem em condições de assumir a responsabilidade 
de serem mães, estabelece contato com casais, que manifestam o desejo de adotar 
a criança e, passam a dar às futuras mães toda a assistência necessária, para que 
tenham um bom parto e a criança nasça saudável, conforme SILVA R; (2011). 
E depois do parto a mãe biológica entrega seu filho ao casal adotante, que, 
pode iniciar a pratica da “adoção à brasileira”, em muitos casos os pais adotantes 
buscam, por meios legais, a adoção do seu filho, que correm o risco, sem saber, de 
ver a criança confiscada e levada para alguma instituição, onde esperará os tramites 
da adoção, fato esse que tem ocorrido repetidas vezes. Os trâmites legais visam 
atender casais e/ou pessoas, em obediência quanto à ordem cronológica dos inscritos 
no Cadastro Único dos Adotantes, que previamente, se habilitam à adoção, pois já 
fizeram a sua inscrição junto à Vara da Infância e Juventude tornando-se pretendentes 
à adoção, conforme SILVA R; (2011). 
 
 
29 
 
Com efeito, já no § 1º, da Nova Lei da Adoção, afirma que a intervenção estatal 
visa à orientação, apoio e promoção social da família natural, “junto à qual a criança 
e o adolescente devem permanecer”. A adoção, segundo esse mesmo parágrafo, é a 
última medida a se tomar, na “absoluta impossibilidade” de ficar com a família. A lei 
garante a adoção burocrática determinada pelo Estado, sem qualquer condição de os 
detentores do poder familiar escolherem uma família ideal para o filho que não podem 
criar, cabendo ao Estado e não aos pais biológicos dizer quem deve adotar a criança, 
conforme SILVA R; (2011). 
Adoção à brasileira é a expressão utilizada para designar uma forma de 
procedimento, que desconsidera os trâmites legais do processo de adoção. Este 
procedimento consiste em registrar como filho biológico uma criança, sem que ela 
tenha sido concebida como tal. O que as pessoas que assim procedem em geral 
desconhecem é que a mãe biológica tem o direito de reaver a criança se não tiver 
consentido legalmente com a adoção ou se não tiversido destituída do Poder Familiar, 
conforme SILVA R; (2011). 
A adoção ideal é aquela que possibilita a vida em família, para as crianças e 
os adolescentes, de qualquer faixa etária, que não tem lar tenham qualidade 
de vida e obtenham o seu desenvolvimento psicofísico, como explicita SILVA, 
ROBERTO (2003 apud SILVA R; 2011). Essa uma das mais tocantes 
definições para a luta contra o abandono de crianças no Brasil. 
A adoção necessária - crianças que possuem perfis geralmente rejeitados pelos 
pretendentes à adoção, como as crianças que apresentam idade mais avançada e/ou 
problemas de saúde. A criança, que sofreu ruptura com as figuras às quais esteve 
vinculada, pode reconstruir o seu eu primário a partir das novas representações dela 
própria, das quais participará, fundamentalmente, a interiorização das novas imagens 
parentais. (MALDONADO, 1998 apud SILVA R; 2011). 
A Adoção Internacional – ou adoção transnacional é qual acontece quando os 
pais adotivos são domiciliados em um país e o adotado domiciliado em outro. Adoção 
por pessoa jurídica - Esse tipo de adoção é mais utilizada para auxiliar financeiramente 
as pessoas envolvidas, não tem nada a ver com a adoção paterno ou materno-filial, 
uma relação de pai e/ou mãe e filho. Pela adoção se um vínculo familiar, que dá 
origem a sentimentos só existentes entre seres humanos. O que não está presente 
nas chamadas pessoas jurídicas, conforme SILVA R; (2011). 
 
30 
 
A Adoção de embriões – nos tempos atuais com a evolução da ciência e da 
engenharia genética a questão da fertilização humana assistida está presente, 
caminhando para uma necessidade governamental em legislar a questão de adoção 
de embrião humano. O tema atualíssimo e de delicada discussão tem movido 
estudiosos que implantam debates que visam estabelecer critérios para continuidade 
de pesquisas. Tais técnicas conceptivas resolvem a questão da esterilidade do casal, 
que terá seu filho, mas, por outro lado, causam graves problemas jurídicos, sociais, 
psicológicos, bioéticos e de ordem médica, conforme SILVA R; (2011). 
A Adoção por homoafetiva - O homossexualismo pode abarcar a união entre 
dois homens, ou o relacionamento entre duas mulheres, envolvendo o âmbito sexual. 
Essa união, atualmente, é denominada homoafetiva, portanto adoção acontece por 
dois pais ou duas mães, conforme SILVA R; (2011). 
Antes de adentrar de fato a questão relativa à adoção por famílias 
homoafetivas, necessário discorrer brevemente sobre seu conceito e sua natureza 
jurídica para que se entenda melhor como este procedimento funciona. A adoção, no 
Direito Civil, é um ato jurídico no qual uma pessoa ou um casal, que não são os pais 
biológicos da criança ou do adolescente, assumem permanentemente um indivíduo 
como filho, adquirindo todas as responsabilidades e direitos em relação ao adotado, 
conforme DIAS P; (2020). 
O artigo 227, da Constituição Federal e o artigo 19 do ECA, trazem que deverá 
ser assegurado à criança e ao adolescente o convívio familiar, independentemente de 
quem exercerá o poder familiar. Não há nenhuma especificação no ordenamento 
jurídico que impossibilite a doção de crianças e adolescentes por casais homoafetivos. 
Certo é que, tanto no Estatuto da Criança e do Adolescente, quanto no Código Civil 
de 2002, não está exposto nenhuma condição quanto a opção sexual para que se 
proceda à adoção, encontrando-se em harmonia com a Constituição Federal que 
proíbe qualquer forma de discriminação, dentre elas, inclusive, a opção sexual, 
conforme DIAS P; (2020). 
Entretanto, a omissão na própria Lei quanto a esta possibilidade de adoção 
afeta o direito de inúmeras crianças e adolescentes que aguardam ansiosamente por 
um lar, bem como o direito de muitos casais homossexuais que sonham em construir 
uma família. Desta forma, de início, não há que se falar em impedimentos na 
possibilidade de adoção por casais homossexuais, isso porque é um procedimento 
 
31 
 
moldado de afeto, amor, carinho, do qual independe do sexo das pessoas envolvidas. 
Ademais, reconhecida a possibilidade da união estável homoafetiva como estrutura 
familiar, cabível também enfrentar o seu direito à adoção, conforme DIAS P; (2020). 
A homoafetividade vem adquirindo transparência e aos poucos obtendo 
aceitação social. Cada vez mais gays e lésbicas estão assumindo sua 
orientação sexual e buscando a realização do sonho de estruturar uma família 
com a presença de filhos. Vã é a tentativa de negar ao par o direito à 
convivência familiar ou deixar de reconhecer a possibilidade de crianças 
viverem em lares homossexuais (MARIA BERENICE DIAS, 2005 apud DIAS 
P; 2020). 
4.2 A atuação do psicólogo no contexto judiciário da adoção 
A atuação do psicólogo no contexto judiciário, incluindo da adoção, tem 
oscilado entre uma postura mais pericial-avaliativa e uma atuação mais 
construcionista com foco na promoção das condições para o bem-estar e a saúde 
psicossocial das pessoas assistidas pela Justiça (Brito, 1993; Cassin, 2000; Paiva, 
2004; Reppold, Chaves, Nabinger e Hutz, 2005; Fávero e col., 2005; Weber, 2005 
apud GALVÃO I; 2008). Esta variação encontra raízes na dupla inserção do psicólogo 
na instituição judiciária, já que “duas instâncias interpelam nosso saber: a do 
assessoramento ao magistrado e a consequente produção escrita sobre a adoção e 
a da intervenção com os sujeitos do campo da adoção” (Alvarez, 1996, p. 136 apud 
GALVÃO I; 2008). Tal inserção envolve uma série de questões éticas, que demandam 
contínua reflexão. 
Apesar de prevalecer no imaginário social e dos estudantes de Psicologia o 
estereótipo do atendimento clínico em consultório como imagem fundamental 
da intervenção dos psicólogos (Magalhães e col., 2001 apud GALVÃO I; 
2008), desde a institucionalização da Psicologia como ciência (Wundt, 1879 
apud GALVÃO I; 2008), o fenômeno psicológico foi reconhecido como algo 
típico do entrecruzamento entre aspectos naturais (biológicos), culturais e 
sociais (antropológicos, sociológicos, filosóficos). Entre esses pólos existe um 
vasto espectro de abordagens, teorias e possibilidades de atuação. De fato, 
muitas vezes pode ser mais fácil um psicólogo, por exemplo, adepto da 
Psicofisiologia, estabelecer consenso com um biólogo que com outro 
psicólogo, por exemplo, de orientação organizacional (Figueiredo e Santi, 
1999 apud GALVÃO I; 2008). 
Além disso, o próprio conhecimento psicológico tem sofrido reformulações e 
refinamentos constantes, sendo influenciado e influenciando a dinâmica da História e 
das relações sociais e subjetivas. Diferentemente do campo das ciências naturais, o 
campo das ciências humanas e sociais tem revelado a característica de ser composto 
 
32 
 
de fenômenos que se modificam em progressão geométrica e não se submetem ao 
reducionismo dos cânones do Positivismo, conforme GALVÃO I; (2008). 
A própria superação do paradigma positivista pode ser vista como alimentada 
pelos avanços possibilitados a partir dos estudos sobre a subjetividade (Santos, 2001 
apud GALVÃO I; 2008). De fato, o caráter processual e dinâmico do objeto da 
Psicologia, que é um objeto sujeito, promove progressivamente novos modos de 
perceber e interpretar a realidade. 
Com isso, não se deve estranhar que existam diferentes interpretações sobre 
o fenômeno da adoção dentro da própria Psicologia e mesmo em relação a um mesmo 
autor. Aquilo que no paradigma anterior era considerado como uma fraqueza científica 
a subjetividade, a dificuldade de matematização de um evento, a variabilidade, a não-
replicabilidade, a imprevisibilidade, hoje é compreendido como aquilo que mais se 
aproxima da complexidade da experiência humana. Mesmo o conhecimento sobre os 
fenômenos físicos tem passado a se fundamentar na relatividade e na incerteza 
(Einstein, 1956; Heisenberg, 1958; Demo, 2000 apud GALVÃO I; 2008). 
Os aspectos psicológicos não encontram uma única forma de serem definidos 
e abordados, vistocoexistirem várias teorias e práticas dentro da Psicologia, 
derivadas de diferentes concepções de mundo e de ser humano. Nesse sentido, 
Garcia-Roza (1973 apud GALVÃO I; 2008) compreende a Psicologia como um espaço 
de dispersão de saberes, pois se constitui de diversas escolas, teorias, metodologias, 
técnicas e objetivos diferentes. 
Assim, pode fazer mais sentido falar em Psicologias que em Psicologia no 
singular (Bock, Furtado e Teixeira, 2000 apud GALVÃO I; 2008). Tal diversidade no 
campo da Psicologia, segundo os autores retrocitados, pode decorrer do fato de se 
tratar de uma ciência ainda muito nova. Contudo, a diversidade parece afirmar-se 
cada vez mais nas discussões pós-modernas e têm passado a ser vista como uma 
riqueza em vez de uma fraqueza, como algo que talvez não se dilua apesar do 
‘crescimento’ dessa ciência, pois reflete uma característica do próprio fenômeno ao 
qual se refere: o ser humano (Santos, 2001 apud GALVÃO I; 2008). 
De fato, essa área, enquanto ciência e profissão, tem progressivamente se 
subdividido em muitas subáreas: Psicologia Clínica, Psicologia Escolar ou 
Educacional, Psicologia da Saúde ou Hospitalar, Psicologia Social e Comunitária, 
Psicologia Organizacional ou do Trabalho, Psicologia Jurídica, Psicologia Ambiental, 
 
33 
 
Psicologia do Trânsito, Psicologia do Esporte, Psicologia do Consumidor, Psicologia 
da Religião, entre outras. Apesar disso, no senso comum, observa-se a 
predominância da representação do psicólogo como psicoterapeuta, inclusive com 
poderes de “adivinhar” sentimentos e pensamentos, como alguém que localiza a 
solução do problema psicológico “dentro” do indivíduo e que é capaz de manipular o 
comportamento alheio e “consertar” as pessoas (Magalhães e cols., 2001 apud 
GALVÃO I; 2008). 
Além disso, existe associada à imagem da Psicologia a noção da “busca por 
um ‘verdadeiro eu’ em detrimento da história coletiva, das relações de grupo, do 
compromisso social do cidadão” (Santos, 1994, p. 40 apud GALVÃO I; 2008). Essa 
mesma autora, em relação a isso, cita a obra de Sennet (1989 apud GALVÃO I; 2008), 
intitulada: “O declínio do homem público: as tiranias da intimidade”, em que se discute 
o problema de a sociedade atual corromper as relações humanas em função da 
ênfase no narcisismo, que “tem a dupla qualidade de ser uma voraz introjeção nas 
necessidades do eu e o bloqueio de sua satisfação”, pois impossibilita o 
reconhecimento da alteridade e, portanto, de uma relação humana autêntica e não 
mercantilizada nem reificada. 
Essas questões não são sem importância para a compreensão da atuação do 
psicólogo no contexto jurídico da adoção, pois muitas vezes é a partir dessa imagem 
que os vários atores formulam demandas ao psicólogo, configurando o risco de se 
incorrer em um serviço descontextualizado, que confunda subjetividade com 
individualismo, conforme GALVÃO I; (2008). 
Gomes (2003, p. 7 apud MORAIS W; 2019) enfatiza que a adoção, [...] está 
bastante ligada à realidade psicológica e social no mundo onde representa 
um projeto de vida personalizado para a criança que deve ter por base, 
sempre que possível, um estudo da situação psicológica, social, espiritual, 
clínica, cultural e legal referente ao filho e a sua família. 
Sendo assim, a adoção ultrapassa os limites de um procedimento burocrático, 
configurando-se como um mecanismo legal com vistas a uma ação consciente, aceita 
e planejada no âmbito familiar por parte de todos os seus membros (GOMES, 2003 
apud MORAIS W; 2019). 
 
 
 
34 
 
Diante do exposto, dos aspectos legais e subjetivos que envolvem a adoção, o 
psicólogo, entre outros profissionais, é requisitado a atuar mediante interpretações, 
teorias, metodologias e direcionamentos éticos e políticos em contextos institucionais, 
em questões psicossociais e jurídicas a fim de reduzir possíveis danos de toda ordem 
ao adotado e à nova família (GHESTI-GALVÃO, 2008 apud MORAIS W; 2019). 
De acordo com Lago et al. (2009, p. 484 apud MORAIS W; 2019), “A história 
da atuação de psicólogos brasileiros na área da Psicologia Jurídica tem seu início no 
reconhecimento da profissão, na década de 1960 [...] de forma gradual e lenta, muitas 
vezes de maneira informal, por meio de trabalhos voluntários”. Atualmente, a profissão 
já possui uma consistência reconhecida, pois suas contribuições são inúmeras. 
Nesse sentido, Maia (2015, p. 3 apud MORAIS W; 2019) explicita que, a 
psicologia jurídica é uma área emergente da ciência psicológica, quando 
comparada às áreas tradicionais de atuação da psicologia, e tem como 
característica sua interface com o Direito. A psicologia e o direito possuem 
um destino comum, pois ambos lidam com o comportamento humano [...]. 
Lago et al. (2009 apud MORAIS W; 2019) apontam que os psicólogos que 
integram o processo de adoção, o fazem assessorando constantemente as famílias 
antes e após a integração da criança no seio familiar. Num primeiro momento, a 
equipe técnica dos Juizados da Infância e da Juventude recrutam candidatos para a 
adoção e os auxiliam na aquisição da capacidade de corresponder às necessidades 
do filho adotivo, garantindo que estes candidatos estejam de acordo com as 
disposições legais vigentes. No segundo momento, inicia-se um programa de trabalho 
com os candidatos admitidos, no sentido de assessorar, informar e avaliar os mais 
aptos. “[...] Como a adoção é um vínculo irrevogável, o estudo psicossocial torna-se 
primordial para garantir o cumprimento da lei, prevenindo assim a negligência, o 
abuso, a rejeição ou a devolução” (LAGO et al., 2009, p. 487 apud MORAIS W; 2019). 
Maia (2015 apud MORAIS W; 2019) esclarece que nos primeiros anos da 
década de 1990, os psicólogos iniciaram uma batalha nos Estados e Conselhos de 
Classe brasileiros solicitando a criação do cargo de psicólogo jurídico. Na atualidade, 
o trabalho do psicólogo jurídico não se resume apenas à elaboração de 
psicodiagnósticos e identificação de patologias, sendo assim, mediante os parâmetros 
de sua especialidade, respondem às intervenções junto à justiça, desnudando a visão 
errônea de que o seu exercício na referida área é rigorosamente de cunho pericial e 
reafirmando que as questões humanas no contexto judiciário são complexas e 
 
35 
 
necessitam de outros olhares. Ressalta, ainda, que devido à carga enorme de 
subjetividades no processo de adoção, o acompanhamento psicológico é 
imprescindível. 
Para Ghesti-Galvão (2008 apud MORAIS W; 2019), a intervenção no ato da 
adoção, entendida na premissa de Medida Protetiva à criança privada de convivência 
ou vínculo familiar suscita não apenas conhecimentos e procedimentos no âmbito do 
Direito, sendo o Serviço Social, a Psicologia e a Pedagogia reconhecidas por suas 
relevâncias pelo ECA. A complexidade de uma adoção perpassa pela mediação, que 
não é somente uma técnica dotada de procedimentos, mas rica em princípios que 
abordam de forma estruturada todos os envolvidos na adoção. 
 Além disso, deve-se considerar os aspectos empáticos, enfrentando a 
problemática da lacuna de uma família, de não culpabilizar, de respeitar as razões e 
emoções, de saber escutar e saber falar, de identificar as necessidades do outro e 
partilhar as suas e, acima de tudo, buscar estratégias para saber perceber as minúcias 
e construir, em conjunto, posturas e objetivos comuns que contribuam efetivamente 
para a adoção. A autora enfatiza, ainda, que “[...] o conhecimento atual do sistema da 
adoção e mesmo o papel do psicólogo no contexto judiciário, como mediador entre a 
demanda afetiva e a lei é ainda embrionário [...]” (GHESTI-GALVÃO, 2008, p. 322 
apud MORAIS W; 2019). 
Reis, Leite e Mendanha (2017 apud MORAIS W; 2019) afirmam que alguns 
casos de adoção são mais difíceis em relação às questões emocionais e, portanto, 
percebe-se a necessidade de o judiciário agir em conformidade com o psicólogo e o 
assistente social, multidisciplinarmente. E ressaltam

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