Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
REP ÚBLIC A FEDER ATIVA DO BRASIL TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5ª REGIÃO GABINETE DO DESEMBARGADOR FEDERAL RIDALVO COSTA (ng) HC Nº 2.737 - PE fls. 1/10 HABEAS CORPUS Nº 2.737 - PE IMPTTE : ADÃO LUIZ ALVES DA SILVA IMPTDO : JUÍZO DA 8ª VARA FEDERAL DE PERNAMBUCO (PETROLINA) PACTE : ANTONIO PASSOS FERREIRA RELATOR: DESEMBARGADOR FEDERAL RIDALVO COSTA E M E N T A: HABEAS CORPUS. PRISÃO PREVENTIVA PARA GARANTIA DA ORDEM PÚBLICA, CONVENIÊNCIA DA INSTRUÇÃO CRIMINAL E APLICAÇÃO DA LEI PENAL. DECRETO COM FUNDAMENTAÇÃO PROVISÓRIA RAZOÁVEL. - Paciente denunciado como co-autor de estelionato contra a Previdência Social, exploração de prestígio para influenciar decisões judiciais e tentativa de apropriação de bens ou rendas de pessoas idosas. - Decisão fundamentada em indícios apurados no inquérito, na necessidade de impedir a reiteração dos crimes objeto da apuração e para impedir a influência do denunciado na produção da prova. - Instrução criminal ainda não concluída. - Denegação do habeas corpus. A C Ó R D Ã O Vistos, etc. REP ÚBLIC A FEDER ATIVA DO BRASIL TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5ª REGIÃO GABINETE DO DESEMBARGADOR FEDERAL RIDALVO COSTA (ng) HC Nº 2.737 - PE fls. 2/10 DECIDE a Terceira Turma do Tribunal Regional Federal da 5ª Região, por unanimidade, denegar a ordem de habeas corpus, nos termos do relatório e voto anexos, que passam a integrar o presente julgamento. Recife, 14 de maio de 2007. (data do julgamento) Des. Federal Ridalvo Costa Relator REP ÚBLIC A FEDER ATIVA DO BRASIL TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5ª REGIÃO GABINETE DO DESEMBARGADOR FEDERAL RIDALVO COSTA (ng) HC Nº 2.737 - PE fls. 3/10 HABEAS CORPUS Nº 2.737 - PE R E L A T Ó R I O DESEMBARGADOR FEDERAL RIDALVO COSTA: Trata-se de habeas corpus, com pedido liminar, impetrado em favor do paciente ANTÔNIO PASSOS FERREIRA, contra ato do MM. Juiz Federal da 8a Vara da Seção Judiciária de Pernambuco, que mantém o paciente preso preventivamente desde o dia 15.03.2007, pela prática, em tese, dos crimes previstos nos arts. 171, § 3º, 304 e 357, do CP, e no art 102 da Lei nº 10.741/2003 (Estatuto do Idoso). O impetrante alega que o paciente não possui antecedentes criminais, tem residência fixa, onde mora há mais de quinze anos com sua família, profissão definida, sendo Presidente do SITAAP - Sindicato dos Trabalhadores Aposentados e Aposentáveis de Petrolina/PE, além de não pretender ausentar-se do distrito de culpa ou criar obstáculos à instrução criminal, restando ausentes os requisitos previstos no art. 312 do CPP, salientando que a continuidade da prisão configura constrangimento ilegal, a ser sanado pelo habeas corpus. Indeferi a liminar - fls. 26. As informações prestadas pela autoridade impetrada sustentam a necessidade da prisão preventiva do paciente para garantia da ordem pública, por conveniência da instrução criminal e para a aplicação da lei penal, porque ele, mesmo advertido pelos representantes da FACAPE (Faculdade de Ciências Aplicadas e Sociais de REP ÚBLIC A FEDER ATIVA DO BRASIL TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5ª REGIÃO GABINETE DO DESEMBARGADOR FEDERAL RIDALVO COSTA (ng) HC Nº 2.737 - PE fls. 4/10 Petrolina) da ilicitude da sua conduta de cobrar taxas de idosos para iniciar ações judiciais gratuitas, declarou que continuaria a prática por não ser crime, chegando a coagir testemunhas, acompanhando-as quando elas iam prestar depoimentos em Juízo. Esclarecem que a denúncia fora recebida em 16.04.2007 e os interrogatórios marcados para o dia 18.04.2007 – fls. 99/102. Manifestou-se a douta PRR pela denegação da ordem, argumentando que, embora o crime de documento falso usado para a prática de estelionato contra particulares seja da competência da Justiça Estadual, o paciente ao solicitar dinheiro a pretexto de influir em funcionário da justiça teria praticado o crime de exploração de prestígio em detrimento da Administração Pública Federal, restando definida a competência da Justiça Federal para julgar o crime do art. 357, do CP e o crime de documento falso, em face da conexão existente entre eles. Salienta, ainda, que, além dos indícios de materialidade e autoria do delito, persistem a necessidade de garantir de ordem pública e a conveniência da instrução criminal, em face da periculosidade do paciente, consubstanciada na reiteração criminosa e da possibilidade de o paciente inibir as testemunhas, pois na fase inquisitorial ele as acompanhou até o interrogatório, esclarecendo que o fato de ele ser primário e de bons antecedentes não lhe dá o direito automático de responder ao processo em liberdade. É o relatório. REP ÚBLIC A FEDER ATIVA DO BRASIL TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5ª REGIÃO GABINETE DO DESEMBARGADOR FEDERAL RIDALVO COSTA (ng) HC Nº 2.737 - PE fls. 5/10 HABEAS CORPUS Nº 2.737 - PE V O T O DESEMBARGADOR FEDERAL RIDALVO COSTA: O paciente, Presidente e mais dois outros empregados do Sindicato dos Aposentados e Aposentáveis de Petrolina – SITAAP, presos preventivamente ainda na fase do inquérito policial, foram denunciados perante a 8ª Vara Federal por estelionato previdenciário, uso de documento falso, exploração de prestígio para influenciar decisões da Justiça Federal e tentativa de apropriação de bens ou rendas de pessoas idosas. Ao decidir o pedido liminar, pareceu-me obscura a competência da Justiça Federal para a hipótese, porque a cobrança indevida pelo Sindicato dos serviços prestados aos sindicalizados não configura crime contra bens ou serviços federais para atração da competência federal, nos limites do inciso V, do art. 109 da CF. A juntada de cópia da denúncia na fase de informações, veio a esclarecer a acusação de estelionato previdenciário e a de exploração de prestígio perante a Justiça Federal, inseridos na competência do juízo em que proposta a ação penal: “ 2º SUPORTE FÁTICO – ESTELIOANTO QUALIFICADO DE FORMA CONTINUADA Inobstante a má conduta de induzir os idosos a passar-lhes taxas e papéis em branco, os denunciados também apropriaram- se de cartão de benefício de pessoa morta, persuadindo, por meio de engodo, a Sra. REP ÚBLIC A FEDER ATIVA DO BRASIL TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5ª REGIÃO GABINETE DO DESEMBARGADOR FEDERAL RIDALVO COSTA (ng) HC Nº 2.737 - PE fls. 6/10 Alcina Maria da Conceição a não requerer a certidão de óbito de seu cônjuge para que não fosse informado ao INSS o óbito e, conseqüentemente, não cessasse o pagamento do benefício previdenciário. Consta dos autos que GERÔNCIO, ao receber a Sra. Alcina no “sindicato’, ludibriando-a, apossou-se do cartão magnético de saque e da senha bancária relativos ao benefício do seu esposo que havia falecido e informou a ela, falsamente, que o cartão havia sido destruído. Todavia, o cartão magnético foi utilizado para retirada do aludido benefício por dois meses. Assim agindo, incorrem os acusados nos tipos penais descritos nos arts. 171, § 3 c/c art. 71 (por duas vezes), ambos do Código Penal. 3º SUPORTE FÁTICO – EXPLORAÇÃO DE PRESTÍGIO Os denunciados solicitaram e receberam valores a pretexto de influir judicialmente na obtenção de benefícios previdenciários e assistenciais. A forma pela qual TONINHO, como dirigente sindical, e seus comparsas, induz as pessoas em erro, isto é, a promessa de conseguir aposentadorias e outros benefícios para idosos, pessoas carentes, incapazes e de pouca instrução e muitas vezes em estado de necessidade, dando-lhes certeza quanto à obtenção, alardeia deter prestígio perante a Justiça Federal, aponto de influir na decisão judicial em favor deles, buscando, com isso, obter injusta vantagem das vítimas que neles confiaram. REP ÚBLIC A FEDER ATIVA DO BRASIL TRIBUNALREGIONAL FEDERAL DA 5ª REGIÃO GABINETE DO DESEMBARGADOR FEDERAL RIDALVO COSTA (ng) HC Nº 2.737 - PE fls. 7/10 As condutas dos denunciados encontra adequação típica no art. 357 do Código Penal, uma vez que solicitaram e receberam dinheiro para influenciar, mesmo que de forma imaginária, em decisão judicial” – fls. 111/112. Quanto à tentativa de apropriação de renda ou de rendimento de idoso, crime descrito no art. 102 da Lei nº 10.741/2003, também objeto da denúncia, na qual é apontado fato concreto sobre depósito no UNIBANCO proveniente de benefício previdenciário bloqueado pela justiça há necessidade de exame da prova tanto para exame da existência ou não de conexão com os crimes federais, para incidência da Súmula 122, do STJ, e se havia possibilidade de tentativa do crime em face o bloqueio judicial do depósito. O paciente encontra-se privado de sua liberdade de locomoção em face da prisão preventiva decretada para garantir a ordem pública, aplicação da lei penal e por conveniência da instrução criminal. Em época, como a presente, de abertas e às vezes injustas críticas ao Judiciário como responsável pela impunidade refletida na curva crescente de violência criminal, agiganta-se a responsabilidade do juiz para manter o equilíbrio e aplicar corretamente a Constituição: não se pode combater criminalidade com sacrifício do direito à liberdade, o maior de todos os bens. A prisão preventiva constitui exceção e como tal deve restringir-se o quanto possível, a fim de que sejam compatibilizadas a presunção de inocência, protegida pelo art. 5º, LVII, da CF (“ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado da sentença penal condenatória”) com a REP ÚBLIC A FEDER ATIVA DO BRASIL TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5ª REGIÃO GABINETE DO DESEMBARGADOR FEDERAL RIDALVO COSTA (ng) HC Nº 2.737 - PE fls. 8/10 norma inserida no inciso LXI, do mesmo art. 5º (“ ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada de autoridade competente, salvo nos casos de transgressão militar ou crime propriamente militar, deferidos em lei”). Com efeito, os indícios de materialidade e da autoria dos crimes previstos nos arts. 171, § 3º, 304, c/c o art. 71, do CP e 357, também do CP, e art 102, da Lei nº 10.741/2003 (Lei do Idoso), c/c o art. 14, do CP estão presentes, e como bem salientou o Ministério Público, há necessidade de dilação probatória para a verificação do alcance da culpabilidade do paciente e das alegações do impetrante. Advertido pessoalmente pelos representantes da FACAPE (Faculdade de Ciências Aplicadas e Sociais de Petrolina) da ilicitude da sua conduta de cobrar taxas de idosos para iniciar ações judiciais gratuitas, o paciente declarou que continuaria a prática – fls 99/102 e 140/151. O ato de prisão preventiva do paciente está devidamente fundamentado, não sendo suficientes a primariedade e os bons antecedentes para afastar a incidência da prisão preventiva quando presente algum dos requisitos do art. 312 do CPP, conforme precedente do Col. STJ: “HABEAS CORPUS. FURTO TRIPLAMENTE QUALIFICADO. PRISÃO EM FLAGRANTE. LIBERDADE PROVISÓRIA. GRAVIDADE DO DELITO. PERSONALIDADE DEFEITUOSA. NECESSIDADE DO ENCARCERAMENTO DEMONSTRADA. ORDEM DENEGADA. 1. A inafiançabilidade do delito é expressão legal, no sistema normativo processual penal em vigor, de custódia cautelar de necessidade presumida juris tantum, cuja desconstituição admitida REP ÚBLIC A FEDER ATIVA DO BRASIL TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5ª REGIÃO GABINETE DO DESEMBARGADOR FEDERAL RIDALVO COSTA (ng) HC Nº 2.737 - PE fls. 9/10 reclama prova efetiva da desnecessidade da medida, a demonstrar seguras a ordem pública, a instrução criminal e a aplicação da lei penal, sendo desenganadamente do réu o ônus de sua produção (Código de Processo Penal, artigo 310, parágrafo único, 323 e 324). 2. Trata-se de hipótese legal diversa daqueloutra do artigo 594 do Código de Processo Penal, em que, em se cuidando de primário e de bons antecedentes, a necessidade da custódia do réu deve emergir dos elementos existentes nos autos e ser demonstrada pelo Juiz. 3. Daí por que a liberdade provisória, no caso de prisão em flagrante, está subordinada à certeza da inocorrência de qualquer das hipóteses que autorizam a prisão preventiva (Código de Processo Penal, artigo 310, caput e parágrafo único), decorrente dos elementos existentes nos autos ou de prova da parte onerada. 4. Fundamentado não apenas na gravidade do delito, em tese, cometido pelos pacientes, mas, sobretudo, no desrespeito dos agentes aos valores morais da sociedade e à própria credibilidade do Poder Judiciário, evidenciadores de periculosidade concreta, não há falar em constrangimento sanável via habeas corpus, sendo, pois, de rigor, a manutenção da custódia cautelar. 5. Ordem denegada.” (HC 19.844/ES, 6ª Turma, Rel. Min. Hamilton Carvalhido, julg. 9.4.2002, pub. 27.5.2002, DJU, pág. 201) As testemunhas ouvidas até a audiência realizada no dia 27 de abril não confirmam ameaça pelo paciente, mas não consta ter sido concluída a instrução. REP ÚBLIC A FEDER ATIVA DO BRASIL TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5ª REGIÃO GABINETE DO DESEMBARGADOR FEDERAL RIDALVO COSTA (ng) HC Nº 2.737 - PE fls. 10/10 Isso posto, por não haver prova efetiva de segurança da ordem pública e por conveniência da instrução criminal, denego a ordem. É como voto. Des. Federal Ridalvo Costa Relator
Compartilhar