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Direito Agrário - Prof Scaff - Resumo

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Consolidação das anotações de Direito Agrário – Scaff – 1º sem. 2011 – SanFran180NI 
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Direito Agrário 
Prof. Fernando Campos Scaff 
Índice 
 
1 Aula de 22/02/2011 (Alonso) .......................................................................................................................... 4 
1.1 Avisos Gerais............................................................................................................................................ 4 
1.1.1 Provas ................................................................................................................................................ 4 
1.1.2 Livros E Manuais Sugeridos.............................................................................................................. 4 
1.2 Introdução ................................................................................................................................................. 4 
1.3 Contornos Históricos do Direito Agrário ................................................................................................. 5 
1.4 Elementos Condicionantes do Direito Agrário......................................................................................... 5 
1.5 Qualificações do Direito Agrário.............................................................................................................. 6 
1.6 Conclusão ................................................................................................................................................. 6 
2 Aula de 01/03/2011 (Alex) .............................................................................................................................. 7 
2.1 Elementos distintivos do Direito Agrário ................................................................................................. 7 
2.2 A empresa agrária ..................................................................................................................................... 9 
2.2.1 Requisitos da empresa ..................................................................................................................... 11 
2.2.1.1 Organização .............................................................................................................................. 11 
2.2.1.2 Economicidade ......................................................................................................................... 11 
2.2.1.3 Profissionalidade....................................................................................................................... 12 
2.2.2 Elementos da empresa ..................................................................................................................... 12 
2.2.3 Algumas relações entre os conceitos ............................................................................................... 12 
3 Aula de 15/03/2011 (Bernard) ....................................................................................................................... 14 
3.1 Elementos da empresa ........................................................................................................................... 14 
3.1.1 Atividade.......................................................................................................................................... 14 
3.1.2 Empresário ....................................................................................................................................... 16 
3.1.3 Estabelecimento rural ...................................................................................................................... 17 
4 Aula de 22/03/2011 (César)........................................................................................................................... 19 
4.1 Bens do direito agrário............................................................................................................................ 19 
4.1.1 Retomada da aula anterior ............................................................................................................... 19 
4.1.2 O estabelecimento no CC/02 ........................................................................................................... 19 
4.1.3 Teorias sobre o estabelecimento ...................................................................................................... 19 
4.1.3.1 Teoria atomística ...................................................................................................................... 19 
4.1.3.2 Teorias unitárias........................................................................................................................ 19 
4.1.3.2.1 Sujeito de direitos, destacado da pessoa do empresário. .................................................. 19 
4.1.3.2.2 Núcleo patrimonial autônomo ........................................................................................... 20 
4.1.3.2.3 Universalidade de fato ....................................................................................................... 20 
4.1.3.2.4 Conceito de estabelecimento agrário ................................................................................. 20 
4.1.4 Bens materiais.................................................................................................................................. 20 
4.1.4.1 Fundo rústico ............................................................................................................................ 20 
4.1.4.2 Instrumentos ............................................................................................................................. 21 
4.1.4.3 Produtos .................................................................................................................................... 21 
4.1.5 Bens imateriais................................................................................................................................. 21 
4.1.5.1 Marca ........................................................................................................................................ 21 
4.1.5.2 Firma......................................................................................................................................... 23 
4.1.5.3 Insígnia ..................................................................................................................................... 23 
4.1.6 Denominações de origem ................................................................................................................ 23 
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5 Aula de 29/03/2011 (Carol) ........................................................................................................................... 24 
5.1 Bens Imateriais Concorrentes do Estabelecimento Agrário ................................................................... 24 
5.2 Aviamento............................................................................................................................................... 25 
6 Aula de 05/04/2011 (Ed) ............................................................................................................................... 30 
6.1 Biotecnologia ......................................................................................................................................... 30 
6.1.1 Vantagens Dos Transgênicos........................................................................................................... 30 
6.1.2 Riscos Dos Transgênicos................................................................................................................. 30 
6.1.3 Tratamento Jurídico Dado aos Transgênicos................................................................................... 31 
7 Aula de 12/04/2011 – Não houve aula ..........................................................................................................33 
8 Aula de 26/04/2011 (Daniella) ...................................................................................................................... 34 
8.1 Contratos Agrários e Direito Real de Superfície .................................................................................... 34 
8.1.1 Escorço Histórico............................................................................................................................. 34 
8.2 Contratos Típicos.................................................................................................................................... 34 
8.2.1 Contratos Agrários em sentido estrito ............................................................................................. 34 
8.2.2 Contratos de Empresa ...................................................................................................................... 35 
8.2.3 Contratos de sociedade .................................................................................................................... 35 
8.2.4 Contratos Agroindústriais................................................................................................................ 35 
8.2.5 Contrato do agrobusiness................................................................................................................. 36 
8.3 Arrendamento e Parceria ........................................................................................................................ 36 
8.3.1 Arrendamento .................................................................................................................................. 36 
8.3.1.1 Partes......................................................................................................................................... 37 
8.3.1.2 Objeto ...................................................................................................................................... 37 
8.3.1.3 Remuneração ........................................................................................................................... 37 
8.3.1.4 Prazo mínimo............................................................................................................................ 37 
8.3.1.5 Forma........................................................................................................................................ 38 
8.3.1.6 Extinção do arrendamento ........................................................................................................ 38 
8.3.1.7 Ação judicial cabível para obter a retomada do imóvel no caso de inadimplemento............... 38 
8.3.1.8 Direito de preempção ou de preferência................................................................................... 38 
8.3.1.9 Direito de prelação ou preferencia dos herdeiros ..................................................................... 38 
8.3.2 Parceria ............................................................................................................................................ 38 
8.3.2.1 Modalidades.............................................................................................................................. 39 
8.3.2.2 Falsa parceria ............................................................................................................................ 39 
8.3.2.3 Diferença entre parceira e arrendamento .................................................................................. 39 
8.3.2.4 Prazo ......................................................................................................................................... 39 
8.3.2.5 Percentuais ................................................................................................................................ 39 
8.3.3 Superfície ......................................................................................................................................... 40 
8.3.3.1 Prazo ......................................................................................................................................... 40 
8.3.3.2 Causa......................................................................................................................................... 40 
8.3.3.3 Forma........................................................................................................................................ 40 
8.3.3.4 Direito de preferência ............................................................................................................... 41 
8.3.3.5 Uso do subsolo.......................................................................................................................... 41 
9 Aula de 03/05/2011 - Prova........................................................................................................................... 42 
10 Aula de 10/05/2011 (Deborah) .................................................................................................................... 43 
10.1.1 Ilegalidades do Processo Expropriatório ....................................................................................... 45 
11 Aula de 17/05/2011 – Não houve aula ........................................................................................................ 58 
12 Aula de 24/05/2011 (Ed) ............................................................................................................................. 59 
12.1 Usucapião ............................................................................................................................................. 59 
12.2 Direito agrário x ambiental ................................................................................................................... 60 
13 Aula de 31/05/2011 – Não houve aula ........................................................................................................ 62 
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14 Aula de 07/06/2011 (Elyson)....................................................................................................................... 63 
14.1 Segurança alimentar.............................................................................................................................. 63 
14.2 FAO e o Fome Zero .............................................................................................................................. 64 
14.2.1 FDA - U S Food and Drug Administration → é a ANVISA norte americana. Regula a questão 
de remédios e a liberação de alimentos (new food – geneticamente modificados).................................. 66 
14.3 Princípios na segurança alimentar ........................................................................................................ 66
 
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1 Aula de 22/02/2011 (Alonso) 
1.1 Avisos Gerais 
1.1.1 Provas 
Serão 2 provas, com mesmo peso, uma que será marcada pelo professor (intermediária) e outra 
no fim do semestre (final), que será marcada pela diretoria da faculdade. 
1.1.2 Livros E Manuais Sugeridos 
ALMEIDA, Paulo Guilherme; Aspectos Jurídicos da Reforma Agrária no Brasil. São Paulo : LTR, 
1.990. 
BALLARÍN MARCIAL, Alberto; Derecho Agrario. 2ª ed., Madri : Editorial Revista de Derecho 
Privado, 1.978. 
BARRETO FILHO, Oscar; Teoria do Estabelecimento Comercial. 2ª ed., São Paulo : Saraiva, 
1.988. 
BORGES, Paulo Torminn; Institutos Básicos de Direito Agrário. 6ª ed., São Paulo : Saraiva, 
1991. 
CARROZZA, Antonio; Lezioni di Diritto Agrario. Milão : Dott. A. Giuffrè, 1.988. 
__________ e ZELEDÓN, Ricardo Zeledón; Institutos de Derecho Agrario. Buenos Aires : 
Astrea, 1.990. 
DE-MATTIA, Fábio Maria; Especialidade do Direito Agrário. Tese apresentada no concurso para 
Professor Titular no Departamento de Direito Civil da Faculdade de Direito daUniversidade de São 
Paulo. 
_________, Generalidades sobre os Contratos Agrários. In Estudos em Homenagem ao 
Professor Silvio Rodrigues. São Paulo : Saraiva, 1989. 
GALLONI, Giovanni; Lezioni sul Diritto Dell’Impresa Agricola. 2ª ed., Liguori, 1.984. 
_________; Potere de Destinazione e Impresa Agricola. Milão : Dott. A. Giuffrè, 1.974. 
GERMANÒ, Alberto; Manuale di Diritto Agrario. Turim : G. Giappichelli, 1.997. 
GISCHCOW, Emílio Alberto Maya; Princípios de Direito Agrário. São Paulo : Saraiva, 1988 
GODOY, Luciano de Souza; Direito Agrário Constitucional. 2ª ed., São Paulo : Atlas, 1999. 
HIRONAKA, Giselda Maria Fernandes Novaes; Atividade Agrária e Proteção Ambiental: Simbiose 
Possível. São Paulo : Cultural Paulista, 1.997; 
REZEK, Gustavo Elias Kallás; Imóvel Agrário. Curitiba : Juruá, 2007. 
SCAFF, Fernando Campos; Aspectos Fundamentais da Empresa Agrária. São Paulo : Malheiros, 
1997. 
____________________ Teoria Geral do Estabelecimento Agrário. São Paulo : Revista dos 
Tribunais, 2001. 
1.2 Introdução 
O Direito Agrário tem como base institutos de Direito Civil. Os fundamentos que permitem 
qualificá-lo como disciplina autônoma, independente daquele, serão estudados neste curso. 
 
O professor distribuiu o Programa da disciplina e o roteiro da primeira aula, que enviei a todos 
os colegas e remeto novamente junto com esta anotação. 
 
A perspectiva que o professor adotará do direito agrário é a da produção de riqueza, da 
atividade agrária como empresa (atividade entendida no sentido que o código civil prescreve, no livro 
do direito de empresa). Os elementos da empresa agrária serão analisados do ponto de vista dinâmico, 
no cumprimento de seu objetivo que é oferecer bens em mercado (suprir necessidades alimentares, 
em mercado) e gerar empregos. O direito civil estuda a propriedade do ponto de vista estático, como 
reserva de valor e como elemento de realização da personalidade. O direito agrário procura descrever a 
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propriedade sob ponto de vista dinâmico, funcional, isto é, a propriedade orientada para a produção de 
riqueza (a propriedade é analisada na sua perspectiva econômica). 
 
Estudaremos os elementos básicos da empresa (empresário, atividade e estabelecimento), 
procurando integrá-los na teoria da empresa como fenômeno poliédrico. No direito agrário os 
elementos de empresa são qualificados, como veremos. Estudaremos os elementos materiais e 
imateriais da propriedade agrária, as patentes, os cultivares (bioética, transgênicos e apropriação de 
royalties). Estudaremos a concorrência e o estabelecimento de barreiras comerciais agrárias. 
 
A questão da reforma agrária também será estudada, bem como os contratos agrários (típicos e 
atípicos – tal como a formação de preços em mercados futuros), a questão das terras devolutas, o 
georreferenciamento e a demarcação da propriedade agrária, os alimentos orgânicos, etc. 
 
O rol de temas que serão tratados é bem extenso, mas trata de revisão de institutos já 
estudados durante o curso de direito, porém, sob a ótica agrária (isto é, qualificados pela destinação 
agrária). 
1.3 Contornos Históricos do Direito Agrário 
O Direito Agrário inicia-se na Itália, na Escola Toscana (os principais autores do direito agrário 
são italianos, até os dias atuais). Decorre da reprodução do Código Napoleônico (1804), que serve de 
base ao Código Civil Italiano de 1865. Este prescrevia o regime jurídico da propriedade rural, lugar 
habitado pela maioria da população da época e poderia ser definido como protótipo de um código rural 
ou como uma carta da burguesia rural. 
 
A propriedade urbana era privilégio de poucos, a classe dominante (castelos etc). O Código 
Napoleônico (pós revolução francesa) prescreveu três elementos de grande importância para o 
momento histórico (fundamentais, básicos para a realização do liberalismo econômico e político): 
1. Respeito ao direito objetivo (positivismo jurídico); 
2. Previsão do contrato [que mudou o paradigma dos direitos subjetivos: antes fundados no 
status (condição de nascimento, posição social) e que passaram a se fundar no contrato] 
– o contrato permitia a transferência da propriedade rural; 
3. Respeito aos direitos de propriedade (na perspectiva de bens de reserva de valor, que 
conservam a riqueza acumulada – importante naquele momento histórico, em que não 
havia direito social algum, como p. ex., o direito previdenciário). A propriedade agrária 
insere num processo histórico de acúmulo e preservação de riquezas. 
 
O objeto clássico do direito de propriedade são os direitos de usar, fruir e dispor de coisa, além 
da faculdade de reavê-la. No contexto do Direito Agrário, porém, tal objeto é qualificado pela função 
da propriedade agrária, que é produzir bens de produção (ou, dizendo de outro modo, riquezas, 
mercadorias, tais como alimentos, combustíveis etc). Neste contexto vislumbra-se a função social da 
propriedade agrária, na medida em que a lei a prescreve como um poder-dever de produzir riquezas 
(bens de produção), ou seja, aquele que dela for titular (dimensão de poder), tendo em vista a 
extensão coletiva do instituto, deve orientá-la necessariamente à produção de riquezas (dimensão de 
dever). Assim, no Direito Agrário, a propriedade passa a ter uma definição dinâmica, não mais estática 
como ocorre no direito privado clássico. Tal dinamicidade define o conceito de agrariedade, conforme 
tese de Antonio Carrozza. 
1.4 Elementos Condicionantes do Direito Agrário 
O Direito agrário é condicionado por dois fatos externos ao direito (esferas extrajurídicas): 
 
(1) fato técnico: insere-se no controle do ciclo biológico da produção agrária, que o homem 
desenvolveu historicamente. Tal controle, a despeito do avanço tecnológico, não é completo, estando a 
produção de bens sujeita aos ciclos naturais. Assim, pode-se dizer que há uma sujeição do direito 
agrário aos ciclos naturais. Ex.: uma vaca leiteira produz de 20 a 30 litros por dia, em horários 
definidos; não se pode ultrapassar tal limite; 
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(2) fato político: na idade média a produção agrária dava-se no contexto de suzerania e 
vassalagem, modelo cuja superação se iniciou na Inglaterra, no limiar da era moderna. No Brasil, 
atualmente, há no Congresso Nacional a bancada ruralista, detentora de significativo poder legislativo e 
político, assim como a bancada ambientalista, que se forma e contrapõe os interesses da primeira. O 
componente político é altamente relevante para o Direito Agrário, como se nota, por exemplo, 
na diferença entre os conceitos de função social em ambiente urbano e em ambiente rural, no juro 
subsidiado colocado à disposição da atividade produtiva agrária etc. 
1.5 Qualificações do Direito Agrário 
Os autores costumam apresentar qualidades ao Direito Agrário, para especificá-lo. Os autores 
se dividem em grupos, conforme se segue: 
1. É o direito genérico da atividade agrária, que, embora não seja jurídica, condiciona os 
institutos jurídicos que a circundam (fato técnico/ciclo biológico); 
2. É o direito das coisas; 
3. É o ramo do direito civil que trata da propriedade agrária (de terras rurais); 
4. É o ramo do direito civil que trata dos contratos agrários; 
5. É o ramo do direito que trata da atividade agrária (cultivo de vegetais, criação de 
animais, comercialização e transformação dos produtos etc); 
6. Direito que zela pelos recursos naturais (preservação ambiental); 
7. Direito agro-alimentar (segurança alimentar, suficiência alimentar). 
 
São muitas as acepções, que usam variados institutos jurídicos, que têm como denominador 
comum a agrariedade. O qualificativo agrariedade engloba a produção de riquezas agrárias para oferta 
em mercado, sob condições especiais (condicionada pelo ciclo biológico e pelo fato político). 
1.6 Conclusão 
Qual o sentido do DireitoAgrário, então? Os institutos de direito agrário são fundamentalmente 
os institutos de direito privado: a empresa, a propriedade, bens materiais e imateriais e os contratos, 
isto é, basicamente os institutos já estudados em direito civil; porém, qualificados pela função (como 
prescrito na lei). Tal qualificação sujeita o Direito Agrário a certas peculiaridades, tais como as 
apresentadas nos exemplos: 
 
Ex. 1: o contrato agrário também é um acordo de vontades, bilateral, com obrigações recíprocas 
(sinalagmáticas), oneroso etc. Porém, mudam os detalhes do contrato, devido aos fatos externos ao 
direito, tal como o fato técnico (um contrato de arrendamento de terra pode durar anos; contrato de 
assistência técnica em colheita, cujo prazo é o término da mesma). 
 
Ex. 2: os limites da propriedade rural são, por vezes, imprecisos, pois os registros públicos são 
antigos e insuficientes (o geo-referenciamento, que atualmente é implementado, ajuda muito). 
 
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2 Aula de 01/03/2011 (Alex) 
2.1 Elementos distintivos do Direito Agrário 
Na semana passada foram dadas as justificativas para o estudo da matéria de maneira 
diferenciada e, hoje, seguindo esse assunto, vai falar sobre a qualificação dos institutos, bem como vai 
traçar os primeiros contornos de um instituto que vai permear toda a disciplina, que é o instituto da 
empresa. 
Semana passada, ele comentou que, dentro das várias definições de Direito Agrário, algumas 
vão se vincular a institutos de índole, fundamentalmente, patrimonial, como as questões da 
propriedade, de direitos materiais e imateriais, da reforma agrária, que, por sua vez, está vinculada a 
desapropriação, comportando um fato político. Neste sentido, frisou que o Direito Agrário é uma 
disciplina que se preocupa com o aspecto da produção, da satisfação de uma função social de 
determinados bens que tem nas suas qualidades, nas suas aptidões, a potencialidade de gerar algumas 
riquezas. O Direito Agrário, não apenas pensa esses bens sob o enfoque patrimonial, mas sob aquilo 
que eles possam servir a uma destinação determinada, sendo essa destinação determinada a geração 
de frutos, a geração de nova riqueza. 
Na aula passada, além de destacar os fatos técnicos e políticos do Direito Agrário, disse também 
que este ramo do direito será estudado com base em institutos determinados, isto é, pensar-se-á o 
Direito Agrário como matéria de Direito Privado comportando uma série de institutos jurídicos que, de 
alguma forma, sejam qualificados. O que o professor quer dizer com isso é que nessa disciplina, 
devemos pensar como matéria de Direito Privado os institutos que já estudamos e conhecemos. A 
propriedade aqui é aquela tal como já estudamos durante o curso, como o mais amplo dos direitos reais 
que comporta a faculdade de fruir, de usar, de dispor, de reaver de quem a injustamente detém, tendo 
os mesmos princípios. Mas não é exatamente a mesma propriedade que existe no direito comercial, no 
direito indústrial ou no direito de autor. O sentido de se estudar uma disciplina do Direito Agrário de 
maneira diferenciada, assim como acontece também avaliamos o Direito Comercial de forma também 
diferenciada, é encontrar um elemento de qualificação, aquilo elemento presente seja na propriedade, 
no contrato ou na empresa que vai distinguir, por exemplo, a propriedade rural de outras propriedades. 
O que é esse elemento de unificação ou de qualificação conjunta que distingue, no âmbito do 
Direito Agrário, a propriedade, o contrato, a empresa? Há um elo unificador para todos esses institutos, 
que é o chamado princípio da agrariedade, discutido e estudado primordialmente por autores 
italianos. É um elemento que vai qualificar uma série de institutos jurídicos nesta disciplina. Para defini-
lo há de se pensar que: o direito agrário é uma atividade produtiva que está vinculada ao 
desenvolvimento de um ciclo biológico. Esse ciclo biológico seria a transformação de uma semente em 
um fruto, de um filhote em um animal que será abatido ou, por exemplo, no fruto em elemento de 
consumo. Essa subordinação do ciclo biológico à atividade humana estaria neste conceito de 
agrariedade. Além disso, utilizando, desfrutando dos recursos naturais (água, clima, solo), ou seja, o 
controle desse ciclo biológico feito pelo homem está baseado na utilização de recursos naturais e o 
resultado dessa atividade é a produção dos frutos que vão se destinar ao consumo. Portanto, produtos 
animais e vegetais, idealizados pelo homem, utilizando-se de recursos naturais, com esse controle e 
interferência do ciclo biológico vai ser para muitos autores esse elemento qualificador, que vai, 
portanto, trazer especificidades a uma série de institutos jurídicos. 
 
Quais institutos? A propriedade pode ser propriedade agrária, desde que de alguma forma 
vinculada a esse ciclo biológico organizado. O contrato pode ser contrato agrário desde que se viabilize 
essa realização produtiva. A empresa, tal como atividade organizada, se ela for destinada à produção 
de animais e vegetais direcionados ao consumo, será empresa agrária. Os institutos são os mesmos, o 
contrato tal como negócio jurídico bilateral, a propriedade tal como direito real ou a empresa como 
atividade organizada destinada à produção subordinada a um poder de destinação do empresário são 
conceitos que vão servir ao Direito Privado, quiçá também ao Direito Público, como um todo. Porém, se 
estes institutos estiverem vinculados a um ciclo biológico destinados à produção de bens vão então 
receber o qualificativo de agrário. 
 
Uma vez recebido o qualificativo de agrário, o que isso muda? Há conseqüências e funções 
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diferenciadas. Exemplo: 
A propriedade não utilizada ou subutilizada, maior do que determinada área e menor do que 
outra, pode ser desapropriada desde que seja agrária, o que não acontece com a propriedade dita 
urbana. Quando for adquirida uma propriedade agrária serão exigidos alguns documentos que não são 
exigidos em relação à propriedade urbana. Isto acontece simplesmente porque o legislador quis assim? 
Não, há uma justificativa. Tal diferenciação está ancorada na idéia de que a propriedade rural serve, de 
algum modo, à realização de uma atividade produtiva de criação de animais ou de cultivo de vegetais, 
atividades primárias da economia necessárias e indispensáveis. A agrariedade, portanto, servirá para 
que o Estado organize as suas funções, como, por exemplo, para que ele diga que uma parte do 
orçamento vai ser destinada para subsidiar crédito agrícola, crédito este que será necessariamente 
utilizado para o fomento de atividades agrárias de baixa rentabilidade e enormes dificuldades de 
manutenção, de pouquíssimo valor agregado ao produto final e, por conta disso, haverá um subsídio ou 
o benefício do crédito. Subsídios estes que até podem ser diferenciados. O Brasil, por exemplo, nos 
painéis da OMC, já discutiu subsídios americanos do algodão, da laranja, enfim uma série de questões 
de natureza comercial vinculadas a facilidades ou não de crédito. Nesta semana, o professor leu 
notícias de que davam conta da existência de cartazes na Europa dizendo: “A carne é exclusivamente 
européia”, de forma a fomentar o consumo da carne européia na Europa. É uma característica de 
debate concorrencial. Os pecuaristas irlandeses são os mais agressivos nesta disputa de mercado, 
querendo impedir a entrada da carne brasileira na Europa, uma vez que o Brasil tem vantagens 
competitivas como gado não confinado, extensão de terras, pouca adubação, pouca interferência 
artificial e um produto de melhor qualidade, em tese. 
Sendo assim, o conceito de agrariedade tem o condão de influenciar o governo na concessão de 
privilégios (créditos, por exemplo) ou de fazer com que ele aja de maneira mais rígida com o 
proprietário que nãoqueira cumprir a função social da propriedade. 
 
A questão do ciclo biológico e dos recursos naturais é um elemento extrajurídico, não existe 
definição, nem deveria haver definição jurídica de agricultura, de pecuária, de recursos naturais, que 
são conceitos externos à ciência jurídica, mas que nela interferem. Isso gerou um debate. Na Itália, na 
primeira metade do século passado, houve um debate entre duas escolas que bem espelham essa 
discussão. 
De um lado, a Escola técnica: no Direito Agrário, a quantidade de elementos externos que 
interferem nessa disciplina jurídica é de tal modo, de tal sorte, que não posso, se quiser estudar o 
Direito Agrário, ficar muito apegado a princípios dogmático-jurídicos. Tenho que mudar a perspectiva de 
sistematização dos institutos jurídicos. 
O professor fez um aparte no tema, destacado nos próximos dois parágrafos: 
 
Já estudamos no primeiro ano a chamada jurisprudência dos interesses, uma forma de 
expressão piramidal das fontes do direito. Reconheço que existe a lei, a jurisprudência, os usos e 
costumes e a doutrina, mas havendo lei, em confronto com outra fonte do direito, ela há de prevalecer. 
Essa é a outra escola, em que a única fonte do direito é a lei. Quando consigo condensar o princípio 
numa norma escrita, chega-se à sofisticação máxima. Se o interesse a ser protegido é importante, ele 
deve estar fixado em lei, se não existir lei é porque tal interesse não é importante e não deve ser 
protegido pelo Direito. 
Um contraponto a chamada jurisprudência dos interesses (outra escola): a lei existe, mas se 
o juiz não quiser aplicá-la, ele resolve o assunto de qualquer jeito, se vale de outra fonte do direito e 
faz justiça ao caso concreto, o que seria, na verdade, dar ao juiz o papel de legislador. Outra forma 
para se fazer a mesma coisa: o juiz decide o que vai fazer e então “acha” uma lei para dar suporte a 
sua decisão. 
 
Feito o aparte, o professor prosseguiu: 
A Escola Técnica dizia que, no Direito Agrário, não é a lei que prevalece, existe nele 
uma estrutura de usos e costumes, que são de tal forma importantes que um elemento 
técnico e sua definição – extrajurídica por excelência - deve prevalecer sobre a disposição do 
sujeito que faz a lei. 
 
Contra essa escola técnica, existia um professor, mais contemporâneo, chamado Argeu 
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Arcangeli. Para ele propriedade é propriedade, empresa é empresa, são institutos jurídicos, de tal forma 
que aquele que legisla o direito agrário não pode resolver inovar e, em geral, essas espontaneidades no 
Direito não levam a resultados satisfatórios. Deve-se fixar conceitos já cristalizados, que já trazem 
segurança jurídica e tentar identificar de alguma forma as pequenas peculiaridades que podem existir, 
mas não podem desmerecer todo arcabouço jurídico. 
 
Para onde isso vai? Qual é o certo? Difícil dizer. 
Exemplo: certa vez o professor emitiu um parecer. Historinha: sujeito praticou um dano agrário 
ambiental e estava sendo submetido a uma ação civil pública. Detalhando: o sujeito cometeu uma 
irregularidade em um contrato celebrado com a Administração Pública no valor de 10 milhões e, como 
foi irregular, de acordo com o argumento do MP, não teve contratação válida, o ato seria nulo e o 
sujeito teria de devolver o valor integral para o Poder Público. Bom, mas o serviço foi prestado, algo foi 
feito, então o argumento do professor era o de que não seria possível indenizar um dano hipotético. 
Ninguém entendeu, então o professor melhor explicou: uma mera irregularidade pode ter diversas 
conseqüências, ou seja, aquele que andou com o carro a 150 km/h, o radar pegou e será multado, mas 
mesmo que tenha cometido essa irregularidade, mas se nada aconteceu, ele pode ser condenado da 
mesma forma que aquele que matou pessoas 15 velhinhas, 10 crianças, 3 cachorros e fez um grande 
estrago no trânsito? Quer dizer, mesmo o ato irregular pode gerar danos diferenciados, mas nas ações 
civis públicas o argumento do MP é o de que ato nulo não produz efeito então se devolve todo o 
dinheiro ao Estado. Em resumo, parece ao professor que não poderia haver reparação de dano 
hipotética, o dano tem que ser provado, cabe ao autor da ação prová-lo. 
 
No Direito Agrário, pelo menos na sua vertente ambiental, a questão é um pouco diferente e tem 
sido assim avaliado pelo MP em alguns julgados: não preciso só causar o dano, se eventualmente se 
gerar uma potencialidade de dano, aquele que causou risco de dano ambiental, mesmo que o dano não 
ocorra, a ele deveria ser atribuída a responsabilidade de tomar medidas, inclusive de natureza 
preventiva, para diminuição do risco e, eventualmente, limitação de um prejuízo meramente hipotético. 
Isso, na opinião do professor, se tivermos uma visão mais conservadora, conforme o estudado em 
Direito Civil, foge um pouco do senso comum. Como vou reparar o que não aconteceu? Em que medida 
vou reparar o que não aconteceu, se ao final, nem sei quantificar esse potencial dano. Só para ilustrar: 
o professor recebeu, para defender, uma ação civil pública contra um sujeito que tinha uma fazenda no 
Pará. A fazenda havia sido invadida. O MP entrou com um pedido de reparação de dano ambiental, 
dano que, aliás, havia sido causado por terceiros, mas mesmo assim ingressou contra o fazendeiro 
proprietário. Uma parte da fazenda foi supostamente devastada por terceiros e o valor da indenização 
pedido na ação civil pública era de 12 milhões. O MP pegou uma área, fez uma contagem em metro 
cúbico de madeira de lei que supostamente poderia existir naquela área e fez várias contas malucas e 
achou 12 milhões. O fazendeiro já tinha recebido multas administrativas no valor de 5 ou 6 milhões e 
hoje havia recebido uma carta que essa multa do IBAMA tinha aumentado 50%. Somado tudo, deveria 
pagar mais de 20 milhões por uma área que não vale isso, que teve invasão de terceiros e que o dano 
ambiental tinha afetado 5% ou 6% de toda a área. Se entendermos que, aqui, existe um elemento 
extrajurídico, isso daria suporte a uma intervenção do Estado, mas do ponto de vista pragmático e 
dogmático do Direito, de reparação do dano causado, que é o que, na verdade, o judiciário brasileiro 
adota, não se pode ter dano moral punitivo no Brasil. Nos EUA existe o dano moral punitivo, norteador 
de conduta, mas no Brasil não. Porém, todavia, entretanto, contudo, ressalta o professor, nesse campo 
do Direito Agrário, especialmente em questões ambientais, isso acontece, infelizmente. Por exemplo, 
sujeito no Paraná entrou com ação civil pública contra a Souza Cruz e outras fabricantes em função de 
pessoas que jogavam cigarros no chão. Ao invés de punir a pessoa que jogava no chão o cigarro, queria 
punir a empresa. Essas questões de dano ambiental geram um bom debate. 
 
Enfim, o professor passou em seu resumo o seguinte conceito: A Especialidade da Disciplina: o 
estudo através da identificação dos institutos (“conjunto de normas coordenadas em direção a um fim 
comum e as relações que elas visam regular” – VICENTE RÁO). A propriedade, o contrato e a empresa 
são institutos que podem ser qualificados dentro do Direito Agrário. 
Consolidação das anotações de Direito Agrário – Scaff – 1º sem. 2011 – SanFran180NI 
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2.2 A empresa agrária 
Observação: A explicação do professor nesta aula sobre este assunto vai se pautar muito mais 
sobre institutos genéricos das empresas do que especificamente sobre a empresa agrária que, imagino, 
será detalhado nas próximas aulas. 
 
Estamos tratando de um Direito que tem no elemento produção o seu aspecto principal, 
naturalmente não a produção sob qualquer risco, custo ou forma. Se olharmos os artigos 184 e 1861 da 
Constituição, a função social da propriedade agrária só vai ocorrer se, concomitantemente, forem 
observados 4 valores fundamentais (o professor falou em 4 valores, mas na aula só citou esses 3): 
• produção racional adequada,• preservação dos recursos ambientais, 
• preservação das relações sociais (das pessoas que estão vinculadas à relação de emprego 
com determinada propriedade ou empresa). 
 
Havendo um interesse imediato o resultado imediato seria a desapropriação da propriedade para 
fins da reforma agrária. Isso foi um pouco alterado pela própria Constituição, o que aconteceu é que foi 
feita uma Emenda Constitucional, em que se estabeleceu que a propriedade produtiva não seria 
expropriada para fins de reforma agrária. No processo legislativo estabeleceu-se uma imunidade, 
portanto. 
No Direito Agrário vou priorizar a avaliação a partir do fenômeno de produção de bens. Direito 
ambiental preservação dos recursos ambientais, Direito do Trabalho preservação das relações ditas 
sociais de trabalho, no Direito Agrário é a questão da produção. Se a idéia é priorizar o elemento 
“produção”, qual o instituto jurídico, dentre aqueles que conhecemos, que tem como foco, como 
princípio, como função maior, regular esse fenômeno da atividade produtiva? A “empresa”, que hoje é 
um conceito jurídico previsto e inserido no nosso ordenamento jurídico nos artigos 966 e seguintes do 
CC brasileiro, que reproduzem disposição do Código Civil italiano que, em boa medida, copiamos, foi o 
primeiro que formalizou e internalizou essa idéia de empresa em 42 e, além disso, teve o papel de 
unificação do Direito Privado. Quanto a esse papel unificador do CC italiano, havia antes o Código 
Comercial que tratava de uma série de questões, como a venda mercantil, prazo diferenciado. Ele 
 
1
 Art. 184. Compete à União desapropriar por interesse social, para fins de reforma agrária, o imóvel rural que não esteja 
cumprindo sua função social, mediante prévia e justa indenização em títulos da dívida agrária, com cláusula de preservação do 
valor real, resgatáveis no prazo de até vinte anos, a partir do segundo ano de sua emissão, e cuja utilização será definida em lei. 
 § 1º - As benfeitorias úteis e necessárias serão indenizadas em dinheiro. 
 § 2º - O decreto que declarar o imóvel como de interesse social, para fins de reforma agrária, autoriza a União a propor 
a ação de desapropriação. 
 § 3º - Cabe à lei complementar estabelecer procedimento contraditório especial, de rito sumário, para o processo judicial 
de desapropriação. 
 § 4º - O orçamento fixará anualmente o volume total de títulos da dívida agrária, assim como o montante de recursos 
para atender ao programa de reforma agrária no exercício. 
 § 5º - São isentas de impostos federais, estaduais e municipais as operações de transferência de imóveis desapropriados 
para fins de reforma agrária. 
 
 Art. 185. São insuscetíveis de desapropriação para fins de reforma agrária: 
 I - a pequena e média propriedade rural, assim definida em lei, desde que seu proprietário não possua outra; 
 II - a propriedade produtiva. 
 Parágrafo único. A lei garantirá tratamento especial à propriedade produtiva e fixará normas para o cumprimento dos 
requisitos relativos a sua função social. 
 
 Art. 186. A função social é cumprida quando a propriedade rural atende, simultaneamente, segundo critérios e graus de 
exigência estabelecidos em lei, aos seguintes requisitos: 
 I - aproveitamento racional e adequado; 
 II - utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente; 
 III - observância das disposições que regulam as relações de trabalho; 
 IV - exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores. 
 
Consolidação das anotações de Direito Agrário – Scaff – 1º sem. 2011 – SanFran180NI 
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estabelecia regras particulares para uma classe social extinta, era o estatuto dos comerciantes, que a 
eles atribuía alguns privilégios. Em 1942, na Itália, unificaram os Códigos, o que foi o que aconteceu 
aqui em 2002. Existe o Código Comercial hoje no Brasil? Sim, mas trata fundamentalmente do 
comércio marítimo, transporte marítimo. 
Houve a incorporação no CC de vários princípios do Direito Comercial e de várias questões do 
direito da sociedade, especialmente do direito de empresa. Antes do CC/02 existiam algumas 
referências sobre a idéia de empresa ou de empreendedor, de empresário, mas de maneira vaga e 
difusa no CTN, CLT, mas na verdade, o CC criou um livro novo que não havia. 
A definição de empresa segue o padrão do CC italiano que não define empresa por si, define 
empresa a partir da idéia de empresário, considerando empresário quem exerce profissionalmente 
atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou serviços. 
A primeira idéia desse conceito de empresa, que hoje é um conceito legal, previsto no Código, 
tem origem econômica. Os economistas já falavam do fenômeno da empresa há muito tempo, que 
tinha sob a perspectiva econômica a empresa como uma organização de capital e trabalho destinada à 
produção ou mediação de bens ou serviços para o mercado, isto é, não é para o auto-consumo, não é 
para conservação, coordenada pelo empresário, o cabeça dessa organização, que só vai ter essa 
qualificação se ele assumir os riscos e os resultados. Isto é o que diferencia o empresário, sob essa 
perspectiva econômica, do trabalhador subordinado, porque este não assume os riscos do bom ou mau 
sucesso da empresa. 
O conceito de empresa do ponto de vista econômico foi transportado para o CC italiano, alguns 
falam de dois artigos do Código Comercial Francês, 632 e 633, como origem do conceito, mas o que se 
afirmou mesmo foi essa perspectiva econômica. 
2.2.1 Requisitos da empresa 
O que se pensa da idéia de empresa? Há 3 requisitos fundamentais, pelo menos, para que a 
empresa exista. (o professor não disse quais seriam os 3 requisitos ainda, citando primeiramente os 
perfis da empresa de Asquini) 
Nas aulas de Comercial vimos os perfis da empresa de Asquini: empresa como empresário, 
empresa como estabelecimento, empresa como atividade e empresa como instituição. 
Empresa como instituição: a empresa representaria algo mais do que as pessoas que nela 
trabalham, do que a atividade. 
O CC italiano é de 1942, feito no meio da Segunda Guerra Mundial, prevalecendo na Itália o 
movimento fascista. Confrontavam-se a perspectiva marxista (conflito insuperável de classes) e a 
perspectiva “alternativa”, em que a empresa deveria servir como elemento de conciliação, de criação de 
novos pólos de discussão e de entendimento, numa perspectiva de superação do conflito, a empresa 
seria vista como instituição em si. Por conta dessa última visão, deveria prevalecer o interesse da 
empresa sobre o interesse individual. Isso foi admitido até certa época. 
Citou o professor que as Juntas de Trabalho no Brasil tinham uma configuração interessante: o 
juiz togado (juiz de carreira) e os chamados juízes classistas, que eram indicados pelos sindicatos dos 
empregados e pelos sindicatos dos empregadores. Seu nome, na verdade, era Junta de Conciliação e 
Julgamento, tendo a perspectiva de criar um movimento de debate construtivo entre empregado e 
empregador, promovendo a conciliação. A inspiração desse tipo de sistema idealizado e utópico era a 
perspectiva da empresa como instituição. 
2.2.1.1 Organização 
O primeiro requisito de uma empresa, qualquer que seja ela, é a questão da organização. 
Empresa pressupõe organização da atividade, dos instrumentos para a realização da atividade e da 
atuação do empresário. Isso não se faz de maneira aleatória, a organização com vistas à obtenção do 
resultado final previsto. Empresa e organização são conceitos inseparáveis, não posso imaginar uma 
empresa que não pressupõe um nível qualquer de organização. Mas que organização? Precisa ser uma 
multinacional, empresa ligada a pressupostos capitalistas, socialistas? Não, grande parte dos estudos 
sobre empresa agrária tem modelos soviéticos, essa questão da planificação da organização está, 
inclusive, de acordo com a própria estrutura econômica socialista, como nos planosqüinqüenais das 
economias planificadas. Esta questão da organização vale para todas as empresas, portanto. 
Consolidação das anotações de Direito Agrário – Scaff – 1º sem. 2011 – SanFran180NI 
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2.2.1.2 Economicidade 
O segundo requisito: economicidade. O que significa isso? Estamos falando de uma atividade 
agrária, atividade de produção de riqueza. Entre os elementos empregados nos resultados obtidos, 
tenho que ter uma equação racionalmente adequada sobre os pressupostos de criação de riqueza, Não 
crio uma empresa para quebrar, para falir. Toda atividade humana é destinada à criação de riqueza? 
Não necessariamente. Economicidade não significa lucratividade, lucratividade é fenômeno da empresa 
comercial, isso vale para o ato comercial. No ato agrário não necessariamente, pois pode ser que a 
riqueza seja gerada, mas seja utilizada internamente. Pode ser que o fazendeiro prefira produzir os 
insumos que os trabalhadores vão utilizar, como arroz, feijão e carne, do que ter de comprá-los. É 
economicamente aceitável, tem economicidade, embora não vise ao lucro. 
2.2.1.3 Profissionalidade 
O terceiro requisito é a profissionalidade, que significa, fundamentalmente, a não 
ocasionalidade. Não precisa atuar o tempo todo, pode ser em parte do expediente, nos finais de 
semana, mas de maneira regular, estável e não aleatória. Não é um dia, um momento, que vai criar o 
fenômeno da empresa. 
Sem esses 3 requisitos (organização, economicidade e profissionalidade) não há empresa, não 
há condições para a criação da empresa. 
2.2.2 Elementos da empresa 
São 3. 
O primeiro deles é o da atividade, que é a sequência de atos com uma destinação comum. Toda 
empresa pressupõe uma atividade, não pressupõe o estático, pressupõe algo dinâmico, um conjunto de 
atos dirigidos à realização ou produção de algo. No caso do Direito Agrário, deve haver criação de 
animais ou cultivo de vegetais. Se houver isso, essa atividade será agrária. 
O segundo elemento é o empresário, o titular do poder de destinação, aquele que pode 
coordenar os fatores de produção, tanto a atividade como os bens, que vai organizá-los e dispô-los de 
maneira a que eles possam alcançar os objetivos pretendidos, que vai assumir os riscos tanto os 
resultados positivos como os prejuízos. Não existe empresa sem essa pessoa, que pode ser física ou 
jurídica. 
O terceiro elemento é o estabelecimento. A imagem do estabelecimento é a de projeção 
patrimonial da empresa, ou seja, todo aquele conjunto de bens móveis, imóveis, materiais e imateriais, 
que sejam empregados ou obtidos a partir da atividade compõem o estabelecimento. O que se 
reconhece nisso é a chamada universalidade de direitos, conjunto de bens de natureza variável, mas 
todos eles empregados numa destinação comum, para viabilizar a existência da empresa, seja ela 
comercial, agrária ou indústrial. 
2.2.3 Algumas relações entre os conceitos 
Empresa e propriedade: propriedade de bens agrários aptos a gerar ou a desenvolver uma 
atividade. Num primeiro momento que se coloca, o titular original do poder de destinação, aquele que 
tem a capacidade de transformar aqueles bens em relação aos quais ele tem alguma relação de 
domínio como elemento da empresa é justamente o proprietário. Dentre as faculdades da propriedade 
de usar, fruir e dispor, seria a origem de empregar aqueles bens naqueles que constituem uma 
empresa. Só pode ser um empresário o proprietário? Eu posso ter um empresário que não seja 
diretamente o proprietário daqueles bens? Como faço para fazer essa dissociação? Como faço a 
transferência do poder de destinação originário do proprietário para esse poder derivado? Qual o 
elemento jurídico que permite essa transferência? Aluno responde que é a procuração, mas o professor 
diz que não. Outro aluno responde que seria o aluguel. Professor diz que pode ser uma resposta, mas 
como poderia ser qualificado? Na verdade, um contrato de aluguel no Direito Agrário é o arrendamento. 
Há outra possibilidade, pergunta o professor? Qual seria outro contrato típico? Ninguém responde. 
Continua o professor dizendo que, independentemente dessas modalidades típicas, o que vai permitir 
essa transferência do poder de destinação do proprietário ao empresário, de uma maneira legítima, é a 
celebração de um contrato, de um negócio jurídico bilateral, de um instrumento jurídico cuja finalidade 
principal é a de dar um revestimento jurídico a operações econômicas. O contrato não é a operação 
Consolidação das anotações de Direito Agrário – Scaff – 1º sem. 2011 – SanFran180NI 
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econômica, mas é o instrumental jurídico que permite que a operação econômica se dê. O empresário, 
portanto, pode ser o próprio proprietário ou outra pessoa mediante um contrato celebrado, um 
instrumento de legitimação dessa transferência de poder. 
 
Mais uma distinção: contratos para a empresa são aqueles que permitem sua criação e 
existência, já os contratos da empresa, para a empresa criar o seu relacionamento externo. 
 
Outra diferenciação, empresa e sociedades são sinônimas? (aluno falou algo, mas não ouvi). Daí 
o professor então comentou: o instituto que ampara a sociedade, do ponto de vista jurídico, é o 
contrato, o que está na lei, no artigo 981 do CC. 
 
“Art. 981. Celebram contrato de sociedade as pessoas que reciprocamente se obrigam a contribuir, com bens 
ou serviços, para o exercício de atividade econômica e a partilha, entre si, dos resultados. 
Parágrafo único. A atividade pode restringir-se à realização de um ou mais negócios determinados.” 
 
A sociedade é contrato ou acordo multilateral? Contrato, para alguns, pressupõe contraposição 
de interesses e na sociedade, na verdade, haveria interesses convergentes, mas ainda assim prevalece 
a idéia contratual, conforme dispõe o Código Civil. 
Se eu pensar simplesmente numa atividade organizada, economicamente adequada, com 
princípios de racionalidade econômica, mas se ela estiver à margem da formalidade, há empresa ou não 
do ponto de vista jurídico? Sim. Exemplo: abriu escritório de advocacia, mas não tem inscrição na OAB, 
há empresa ou não se há algum tipo de prestação de serviço? Se é uma atividade organizada, 
economicamente adequada, profissional é uma empresa. 
 
Já a sociedade é um contrato entre duas pessoas ou mais, são pouquíssimas as exceções de 
sociedades unipessoal. Outro elemento da sociedade é que há atribuição de personalidade jurídica 
àquela sociedade, mas isto só vai acontecer se for constituída de acordo com os requisitos da lei e que 
tenha sido levado a registro. Vai se criar uma nova pessoa ficta sujeito de direitos e de obrigações. No 
entanto, uma sociedade pode existir sem isso. 
Posso abrir empresa sem sociedade e pode haver, inclusive, sociedade sem empresa. Por 
exemplo, para este último caso: celebro um contrato, constituo uma pessoa jurídica, mas ela fica 
paralisada sem atividade, sem organização e sem fazer absolutamente nada, ou seja, não tem 
empresa, mas há pessoa jurídica. 
 
Em geral, quando pensamos na atividade agrária vamos colocar como elemento principal o 
imóvel rural, mas não na empresa zootécnica. Na empresa zootécnica, o elemento principal são os 
semoventes, os animais. Exemplo: criação de frango em indústrial. Se visitarmos uma granja os 
frangos ficam confinados num espaço muito pequeno, altamente estressados, serão mortos de 40 a 45 
dias. Passou o professor então a falar do gado, dos peixes e do mau trato dos animais confinados 
nestas empresas zootécnicas. Tudo isso para dizer que, nessas empresas, o elemento principal não é 
um bem material. 
Estamos falando de empresa agrária como elemento genérico. Porém, o estatuto da terra traz o 
instituto denominado de empresa rural. Outras leis não trazem essa denominação, mas existe ainda 
essa classificação. 
A empresa agrária é um elemento jurídico, num certo sentido, sem atribuição de valor, tal como 
o contrato e a propriedade. Mas a empresa rural é um elemento qualificado pelo estatuto daterra. A 
propriedade neste estatuto é uma medida determinada de 1 a 600 módulos rurais, que produzisse 
racionalmente de maneira adequada, atendendo a função social. Se tem 601 módulos já é latifúndio por 
dimensão, segundo o estatuto da terra. Essa qualificação foi abandonada pela legislação posterior. 
Empresa agrária não é necessariamente uma empresa rural. 
 
 
Consolidação das anotações de Direito Agrário – Scaff – 1º sem. 2011 – SanFran180NI 
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3 Aula de 15/03/2011 (Bernard) 
3.1 Elementos da empresa 
Na semana passada falamos da questão da empresa e o professor tinha mencionado os 
requisitos da empresa: a organicidade, a profissionalidade e a economicidade, Estas condições para que 
uma empresa, qualquer que seja ela, se apresente como um instituto jurídico. Ainda, para que uma 
empresa surja, o professor mencionou e existência de elemento, que são a atividade, o empresário e o 
estabelecimento. Nesta aula o professor pretende tratar de cada um destes elementos da empresa e 
identificar os caracteres de especificidade que permitam caracterizar uma empresa como agrária. 
 
Este instituto jurídico (empresa) está presente entre nós desde o Código Civil de 2002, que 
recepcionou este fenômeno econômico adotando toda a sistemática do código civil italiano de 1942. 
 
Para relembrar a aula passada, o professor falou sobre a organização, que toda empresa 
pressupõe uma disposição coordenada, tanto de atos quanto de bens, gerida pelo empresário. Falou da 
economicidade, ou seja, esforços, valores, matérias-primas e recursos empregados devem ser 
ajustados numa relação racional visando agregação de riqueza. Também falou da profissionalidade, que 
significa fundamentalmente estabilidade, continuidade. Estes são requisitos da empresa e valem para 
qualquer modalidade dela. 
 
Quanto aos elementos da empresa, o professor aponta que a dinâmica dos 3 elementos 
(atividade, empresário e estabelecimento) é um princípio trinário que acompanha o Código Civil 
(personae, actione e res). 
3.1.1 Atividade 
Para começar a tratar destes elementos, o professor retoma algumas coisas de direito civil do 
nosso primeiro ano. Por exemplo, o ‘fato jurídico’. O fato jurídico é um fato da natureza no qual inexiste 
a vontade humana. Apesar dele não ter, em si, a interferência de uma atividade humana, ele gera 
efeitos jurídicos. Por exemplo, a tempestade, o terremoto, o incêndio podem gerar a possibilidade de 
desoneração de uma obrigação. 
 
Retoma a classificação de Pontes de Miranda, sobre ato e fato jurídico, em que pode existir 
algum ato humano no cerne de uma relação de conseqüência e que a vontade é desconsiderada, é 
irrelevante (usa exemplos clássicos da criança que acha um tesouro, ou do louco que pinta um quadro). 
Nestes casos, a vontade não é relevante. 
 
A terceira classificação, o ato jurídico em sentido amplo, em sentido estrito e o negócio jurídico, 
em que no sentido estrito existe a vontade, mas como assimilação a um modelo pré-existente. Por 
exemplo, a adoção de um domicílio qualquer ou o reconhecimento de paternidade. Nestes casos, a 
manifestação de vontade significa simplesmente aderir a um modelo já definido, acabado, limitado. No 
negócio jurídico, a vontade é mais relevante e ele pode ser unilateral ou bilateral (por exemplo, 
testamento e contrato, respectivamente). 
 
Essa retomada tem o sentido de discutir o elemento da empresa denominado atividade. Quando 
pensamos em atividade, pensamos em um conjunto de atos jurídicos, atos estes em que a vontade é 
relevante para a sua realização e caracterização. A atividade não é um ato só, é um conjunto de atos 
vinculados a uma finalidade única. Quando pensarmos em empresa, qualquer que seja ela, um dos seus 
elementos será este conjunto de atos destinados a uma finalidade única, específica, e isso serve para 
qualquer empresa. Uma empresa comercial terá um conjunto de atos jurídicos voltados à compra de 
produtos destinados à revenda com o objetivo de lucro. Atos de comércio, simplesmente considerados, 
em progressão, em coordenação, geram a atividade comercial. 
 
A transformação de matéria-prima em um produto acabado, alterando sua forma, agregando 
valor, transformando aquele insumo em um outro tipo de bem, conduz ao que chamamos de atividade 
Consolidação das anotações de Direito Agrário – Scaff – 1º sem. 2011 – SanFran180NI 
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industrial. E a atividade agrária? Estaremos focando este conjunto de atos numa finalidade específica, 
determinada. Podemos já ter uma idéia desta finalidade e o professor retoma um conceito trabalhado 
na primeira aula, a agrariedade, o controle do ciclo biológico pelo homem visando a obtenção de 
produtos destinados ao consumo (produtos animais e vegetais). 
 
Se existe emprego, existe atividade coordenada e existe finalidade, reconhecemos a empresa e 
depois, determinando qual seja a atividade, podemos qualificá-la como sendo de prestação de serviço, 
industrial, comercial, agrária, financeira etc. 
 
O que podemos verificar quanto ao elemento ‘atividade’? É o elemento qualificador da 
empresa. Os demais elementos, o empresário e o estabelecimento, são neutros, enquanto a atividade 
não é neutra, é ela quem qualifica a empresa. Um empresário não nasce com um ‘carimbo na testa’, já 
destinado a uma determinada atividade. É a determinação da atividade que ele vier a exercer que vai 
qualificar sua empresa. Da mesma forma, o estabelecimento, os bens. Um escritório no centro de São 
Paulo pode servir a um comércio, a uma prestação de serviços etc. Ele não é em si qualificador da 
empresa como a atividade o é. Através da identificação da atividade, podemos identificar de qual 
empresa estaremos tratando. Esta é a primazia do elemento ‘atividade’. 
 
Uma dúvida que surge em relação a esta finalidade única que define a atividade deriva do fato 
de que é comum observarmos a existência de múltiplas atividades. No nosso caso específico, o controle 
do ciclo biológico visando produzir bens de consumo, é comum que um sujeito não produza milho, por 
exemplo, para deixar estocado (muitas vezes são, inclusive, produtos perecíveis). Depois do movimento 
de produção, deve haver, naturalmente, um movimento de comercialização e pode até haver um 
movimento de transformação (beneficiamento do arroz, produção de queijo e manteiga a partir do leite, 
maturação de carne etc.). 
 
Quando há essa cumulação de atividades em uma empresa, como fazer para qualificá-la como 
comercial, industrial ou agrária? O critério é o da prevalência, o da atividade predominante. Mas, qual a 
relevância jurídica de determinar isso? O professor diz que há implicações jurídicas e exemplifica com o 
crédito agrícola. Enquanto a taxa cobrada em diversas linhas de crédito pode variar entre 1,5 a 9% ao 
mês, a taxa no crédito agrícola é de 8% ao ano. Isso tem justificativa? Sim. A atividade agrária possui 
uma rentabilidade baixa, historicamente. 
 
Um outro exemplo de relevância é a distinção entre imóvel urbano e rural. Conforme o Estatuto 
da Terra, a consideração de se um imóvel é urbano ou rural depende da sua destinação, independente 
da localização do imóvel. Já para o CTN, a definição obedece a um critério geográfico, de localização. O 
imóvel urbano está sujeito à tributação pelo município (IPTU) enquanto o imóvel rural é tributado pela 
União (ITR). Além disso, a desapropriação também encontra diferenças. Há no direito agrário um tipo 
de desapropriação por interesse social para fins de reforma agrária, que tem regras diferentes. 
Enquanto a desapropriação de imóvel urbano é mediante indenização em dinheiro, à vista, a preço 
justo e prévio, a desapropriação de imóvel rural para fins de reforma agrária é feita em TDA (Títulos da 
Dívida Agrária), que é resgatável em 2 a 20 anos. Também em relação ao imposto de renda, diversos 
procedimentos realizados durante a atividade agrária são passíveis de abatimento. 
 
Os contratos agrários têm também suas peculiaridades, seus favorecimentos(prorrogação do 
contrato até o final da safra, por exemplo). 
 
Assim, o reconhecimento da atividade agrária qualifica a empresa como agrária e isso traz 
conseqüências em diversos campos do direito, para melhor ou para pior. 
 
O que a doutrina exclui, considerando que não é atividade agrária? Processos de física e química 
inorgânicos, procedimentos com microorganismos. Este último não é considerado atividade agrária, 
mas é atividade relevante e, no Brasil, isso é muito mal cuidado. Ainda não se identificou os limites e os 
efeitos disso. Nos EUA, já se pensa melhor isso e o professor vai tratar melhor do assunto quando 
tratar de patentes vegetais. Um caso clássico dos EUA foi o de um pesquisador indiano que desenvolveu 
uma linhagem de bactérias com finalidades específicas, como a de quebrar determinadas moléculas, e 
Consolidação das anotações de Direito Agrário – Scaff – 1º sem. 2011 – SanFran180NI 
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que poderiam ser usadas na limpeza de vazamentos de petróleo. O caso diz respeito ao patenteamento 
desse desenvolvimento de microorganismo, o que permitiria ao indiano receber um royalty de cada um 
que utilizasse o produto. No nosso caso, há uma ausência de melhores estudos sobre cultivares, como é 
o caso do milho transgênico. Este tipo de milho permite uma produção maior e um menor uso de 
pesticidas, mas o custo é grande, pois é remunerado o milho e é feito o pagamento de royalty para 
quem desenvolveu o processo. 
 
Outra coisa que não é considerada atividade agrária é o cultivo ornamental (plantas 
ornamentais, peixes ornamentais). Não faz sentido dar incentivos para atividades de pouca relevância 
social. O mesmo acontece com criação de cavalos de corrida. 
 
Outra exclusão é a atividade extrativa (pesca ou coleta de frutos). A razão é que o produto se 
desenvolve sem a interferência humana, não há controle do ciclo biológico. Para os europeus isso 
claramente não é atividade agrária, mas aqui no Brasil isso não é tão pacífico. Pela importância social 
da atividade, alguns consideram atividade agrária e o professor acha que não deveria ser considerada, 
pelo menos como atividade agrária principal. Aqui ele menciona outra classificação: atividade agrária 
principal, que está presente em todas as empresas agrárias e que consiste fundamentalmente em 
criação de animais e cultivo de vegetais. Isso é rol taxativo. O código civil italiano fala ainda em 
silvicultura, que é o cultivo de árvores, ligado ao reflorestamento. 
 
As exclusões da atividade agrícola têm uma explicação mais ligada às conseqüências, em geral, 
conseqüências de favorecimento da produção. Em regra, na Europa e no Japão isso se faz com doses 
cavalares de subsídio à atividade agrícola. 
 
O professor fala, além das exclusões e das atividades agrárias principais, de atividades agrárias 
por conexão. Algumas delas ele já comentou, que são a comercialização e industrialização, e acrescenta 
o desenvolvimento de novas espécies vegetais ou animais. Isso não se faz necessariamente com 
técnicas avançadas de manipulação genética. Isso pode se fazer com técnicas de seleção, de 
cruzamento, de enxertia. Mesmo a atividade extrativa pode ser pensada como atividade agrária por 
conexão. O rol destas atividades por conexão é exemplificativo. Os critérios para enquadrá-las são: o 
vínculo objetivo com a atividade agrária principal (na mesma empresa); um vínculo subjetivo (ambas 
atividades serem desenvolvidas pelo mesmo empresário; critério de normalidade (constância). 
3.1.2 Empresário 
O segundo elemento da empresa, o empresário, é caracterizado como o titular da gestão 
produtiva de determinados bens (bens aptos a gerar riqueza). O empresário é uma pessoa física ou 
jurídica (de direito público ou privado), ou, ainda, um ente não personificado (entidade familiar), que 
realiza de forma profissional e mediante os instrumentos contidos no estabelecimento o cultivo de 
vegetais ou a criação de animais destinados ao consumo. 
 
O que o empresário tem como específico é o poder de destinação, que congrega a escolha e o 
exercício da destinação econômica de bens. Tal poder surge originalmente da propriedade, que é mais 
amplo dos poderes reais. Essa é a visão do direito civil, que atribui poderes de fruição da propriedade 
como uma faculdade. No âmbito da empresa, não se trata só de uma faculdade, mas de um poder-
dever, já que realiza a riqueza não só em benefício próprio, mas também por imposição social. No caso 
da propriedade agrária, o proprietário deve utilizar os bens para gerar riqueza e se não o fizer fica 
sujeito a uma forma específica de desapropriação (para reforma agrária). 
 
Esse poder de destinação, que surge originariamente da propriedade, pode ser transferido por 
meio de contrato, que transfere a propriedade de domínio. O professor se lembra que o contrato de 
locação transfere o poder de usar e de fruir, bem como o de comodato. No direito agrário temos esta 
transferência nos contratos de arrendamento e de parceria. Também o usufruto e o direito real de uso 
podem transferir o poder de destinação. 
 
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Quando pensarmos neste titular do poder de destinação, esta figura vai estar ligada à 
continuidade, a não ocasionalidade. Essa não ocasionalidade não significa exclusividade. Alguém pode 
ser empresário e exercer outra atividade ao mesmo tempo. A continuidade está ligada não só à não 
ocasionalidade, mas também aos fins econômicos. Não é empresário quem exerce com habitualidade 
uma atividade com fins de diletantismo. 
 
Também caracteriza o empresário a imputabilidade dos riscos e dos resultados. Isso significa 
que essa figura, a do empresário, deve suportar os riscos individualmente, bem como receber os 
benefícios. Isso é o que distingue a figura do empresário da do trabalhador subordinado. 
 
O professor retoma o conceito de capacidade jurídica. O nascimento com vida gera 
personalidade jurídica. Já a capacidade jurídica é a medida de personalidade, a possibilidade de fazer 
valer por si mesmo os seus direitos previstos ou reconhecidos pela personalidade. A prática de atos 
negociais tem como pressuposto a capacidade jurídica. Isso para dizer que o empresário pode ser 
pessoa física capaz, além de pessoa jurídica. A pessoa jurídica pode ser de direito público, além de 
direito privado. O professor comenta uma reportagem recente no The Economist que traz os motivos da 
evolução da agricultura brasileira. Um deles é a introdução do calcário no solo, que era muito ácido. A 
segunda razão foi a introdução de um tipo de capim africano, que é mais resistente e dura o ano 
inteiro. A terceira foi a criação de uma empresa estatal que promove o desenvolvimento e a adaptação 
de espécies vegetais e animais (EMBRAPA). Este é um exemplo de empresa pública desenvolvendo 
atividade agrária. 
 
Além das pessoas físicas e jurídicas, temos como empresário a entidade familiar. São chamados 
de entes não personificados, mas que aqui tem relevância. O professor retoma algo que já falou 
anteriormente, que é o módulo rural. O módulo rural corresponde a uma área mínima e suficiente para 
que uma família média possa sobreviver e progredir. Por ser área mínima, uma propriedade 
correspondente a um módulo rural é indivisível e essa indivisibilidade não se dá por natureza, mas por 
lei. É uma área que varia conforme regiões no país e é definida por lei. 
 
O módulo foi criado com base na idéia de entidade familiar. Família média é definida como 
composta por 4 pessoas. 
3.1.3 Estabelecimento rural 
O terceiro elemento da empresa é o estabelecimento rural. O estabelecimento não é a empresa, 
é elemento da empresa. Corresponde a uma projeção patrimonial da empresa. Isso está no art. 1.142 e 
seguintes do CC. Ele é um complexo de bens organizado pelo empresário, bens que podem ser 
materiais e imateriais, móveis e imóveis. É um complexo de bens, não é um só. 
 
Em uma empresa agrária,o bem mais evidente e relevante é a terra nua (fundo rústico). Apesar 
disso, este bem em si não representa muito. Os romanos já tinham um conceito do fundus estrutius, 
que era o fundo aparelhado, ou seja o bem imóvel instrumentalizado com o acréscimo de outros bens 
materiais. O professor fala dos bens acessórios e de bens incorporados. O plantio, a construção, 
máquinas agrícolas, cercas etc são bens acessórios que integram a terra nua, perfazendo as chamadas 
pertenças, e constituindo o fundo rústico (terra nua) em um fundo aparelhado. O professor lembra a 
expressão comum de venda de ‘porteira fechada’, que trata da venda deste fundo aparelhado. 
 
Quando pensarmos em estabelecimento agrário, pensamos não só nos bens materiais (fundos 
rústico com os bens acessórios e pertenças), mas em bens imateriais, intangíveis. Que bens imateriais 
estudamos em direito comercial? Marcas, patentes, insígnias e firmas. 
 
No direito agrícola temos as marcas de origem, as patentes vegetais, as cultivares, que muitas 
vezes tem valor maior que os bens materiais. 
 
Bens imateriais que anteriormente eram vistos como propriedade hoje significam agregação de 
valor. O professor exemplifica com a Associação dos Produtores de Nelore, que exerce atividade de 
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desenvolvimento e acompanhamento. A colocação de uma marca desta associação em um produto 
agrega valor, atesta origem. 
 
 
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4 Aula de 22/03/2011 (César) 
4.1 Bens do direito agrário 
4.1.1 Retomada da aula anterior 
(Nota do relator- não sei se é de praxe, mas o professor iniciou a aula vomitando tudo o que ele 
deu na aula anterior. Por isso, diante de alguma inconsistência entre este trecho da aula e a anterior, 
pautem-se pela anterior.) 
 
(Nota do relator 2- olhando agora enquanto digito essa aula, percebo que os resuminhos de aula 
que ele manda pelo Alonso são muito bons. Recomendo para que na prova, além do nosso caderno, 
eles sejam consultados, por serem bem sintéticos) 
 
Entre os bens importantes para o direito agrário, o mais importante sem dúvida é a terra, mas 
existem outros bens, que ele chamou de fundo aparelhado. 
O conjunto dos bens materiais e imateriais recebe o nome de coletividade. 
4.1.2 O estabelecimento no CC/02 
Ele citou os artigos 1142 e seguintes, mas expressamente só o 1142 e o 1143, que reproduzo 
abaixo: 
 
Art. 1.142. Considera-se estabelecimento todo complexo de bens organizado, para exercício da empresa, por 
empresário, ou por sociedade empresária. 
Art. 1.143. Pode o estabelecimento ser objeto unitário de direitos e de negócios jurídicos, translativos ou 
constitutivos, que sejam compatíveis com a sua natureza. 
 
No 1142 tem-se a definição de estabelecimento. O 1143 ele mencionou porque neste está 
disposto que o estabelecimento pode ser objeto de contratos que transfiram a propriedade. Disse ainda 
que para que um contrato exista é necessário: objeto lícito, partes capazes e consenso (ou vontade 
livre). 
Pois então, no caso do 1143, o objeto unitário do contrato é o estabelecimento em seu conjunto, 
como projeção patrimonial da empresa. 
4.1.3 Teorias sobre o estabelecimento 
Finda a revisão da aula anterior, iniciou o Scaff dizendo que para explicar o estabelecimento 
existem duas vertentes. 
4.1.3.1 Teoria atomística 
A primeira recebe o nome de teoria atomística. Para ela, cada elemento do conjunto que é 
negociado no contrato deve ser analisado individualmente. Essa doutrina nega a unicidade do 
estabelecimento, de modo que se for transferida uma fábrica de A para B, cada máquina da fábrica 
deve ser transferida individualmente. 
Essa teoria não foi reconhecida por nosso sistema jurídico. 
4.1.3.2 Teorias unitárias 
Um segundo grupo de teorias (são quatro) recebe o nome de teorias unitárias. 
4.1.3.2.1 Sujeito de direitos, destacado da pessoa do empresário. 
A primeira delas é um pouco artificial segundo o professor. Ela reconhecerá o estabelecimento 
como sujeito de direitos. O CC também não recepcionou essa teoria. Personalidade só tem a pessoa 
física e as jurídicas (sociedades, associações e fundações). No caso das últimas não basta o contrato ou 
estatuto para aquisição de personalidade jurídica. Precisa também do registro público. 
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4.1.3.2.2 Núcleo patrimonial autônomo 
É o patrimônio destacado. Quando se reconhece essa figura, ela é de natureza transitória. São o 
espólio e a massa falida. 
 
OBS: colega questionou se o condomínio não se encaixa nessa definição. Ele afirmou que não, 
apesar do condomínio ser uma figura meio estranha no nosso direito. 
 
Retomando, ele falou o que acontece na sucessão do espólio. Aí, quem administra é o 
inventariante, mas tende o espólio à dissolução. O mesmo ocorre com a massa falida. 
Essa hipótese não serve para o nosso estudo porque enquanto houver empresa, haverá 
estabelecimento. 
4.1.3.2.3 Universalidade de fato 
Nas universalidades de fato, a lei não procurou criar ou dar especificadores. Sua universalidade é 
comum, esperada (ex: biblioteca, rebanho). 
Essa noção não nos serve, porque num estabelecimento eu não preciso registrar bem a bem (o 
que é de se esperar numa biblioteca, p. ex.). 
4.1.3.2.4 Conceito de estabelecimento agrário 
Ele leu o que estava na folhinha da aula do dia 15 e depois comentou. Consultei a folhinha e 
reproduzi um pedaço dela, como outras coisas também. Nela consta o seguinte (em itálico): 
 
Estabelecimento agrário- elemento da empresa. É a projeção patrimonial da empresa. 
- É um complexo de bens organizado. 
- Evolução dos conceitos: 
- terra nua; 
- fundo aparelhado, que é a terra produtiva, acrescida de acessórios tais como animais de 
trabalho, máquinas e demais pertenças; 
- estabelecimento, que representa o acréscimo, ao fundo aparelhado, dos bens imateriais. 
- Constitui um objeto de direitos. 
 
Destacou ele que o estabelecimento agrário é nome que se dá a um conjunto de bens que 
podem ser móveis ou imóveis; materiais ou imateriais. Quanto ao “agrário”, isso vai depender da 
atividade que será desenvolvida naquele estabelecimento. 
Finda a exposição de que o estabelecimento engloba bens materiais e imaterias, ele passou a 
tratar de cada uma das categorias. 
4.1.4 Bens materiais 
São o fundo rústico, os instrumentos e os produtos. 
4.1.4.1 Fundo rústico 
É o pedaço de terra nua. Normalmente é o mais importante. Essa relevância é tal, que a 
doutrina fala em conformação concêntrica do estabelecimento (ou seja, os demais bens estão ao redor 
da terra, o principal bem). 
Esse entendimento é relevante, porque hoje na prestação de serviços e na indústria é muitas 
vezes difícil saber qual é o bem principal. Numa indústria, p. ex., pode ser uma máquina, as patentes 
ou o acesso à matéria-prima. 
Para a atividade agrária, a terra é fonte de insumos, de recursos naturais para atividade. 
Porém, é claro, algumas culturas prescindem da terra como elemento material (ex: criação de 
cogumelos, peixes em tanque, criação de frango- nas granjas modernas o frango não cisca, é tudo 
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artificial para que o animal engorde o quanto antes). Nesses exemplos dados, o substrato é irrelevante, 
mas são exceções, e não a regra. 
4.1.4.2 Instrumentos 
Essa é a terminologia adotada pela doutrina, que a usa para distinguir instrumentos dos bens 
acessórios (ou, no CC/02, das pertenças)2. 
As pertenças estão numa relação de subordinação. Já os instrumentos não necessariamente. A 
relação é de coordenação (ex: máquinas agrícolas e animais, que são bens móveis destinados à 
realização da atividade). 
4.1.4.3 Produtos 
O resultado da atividade (animais e plantas) também constitui o estabelecimento.

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