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Metodologia para Determinação de Descargas na Bacia Hidrográfica do Córrego Ipiranga em Juiz de Fora, MG Methodology for Determining Discharges in the Ipiranga Stream Hydrographic Basin in Juiz de Fora, MG VINÍCIUS MARTINS GALIL Graduando em Engenharia Civil pelo Centro Universitário Estácio-JF Instituição: Centro Universitário Estácio-JF Endereço: Avenida Presidente João Goulart, 600 – Bairro: Cruzeiro do Sul – Juiz de Fora/MG E-mail: vingalil@gmail.com HENRIQUE DA SILVA PIZZO Doutor em Engenharia Civil pela Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP Instituição: Centro Universitário Estácio-JF Endereço: Avenida Presidente João Goulart, XX – Bairro: Cruzeiro do Sul – Juiz de Fora/MG E-mail: hpizzo@gmail.com WEVERTON GABRIEL DE OLIVEIRA FERNANDES Graduando em Engenharia Civil pelo Centro Universitário Estácio-JF Instituição: Centro Universitário Estácio-JF Endereço: Avenida Presidente João Goulart, 600 – Bairro: Cruzeiro do Sul – Juiz de Fora/MG E-mail: wevertonmega@hotmail.com VINÍCIUS FOSSATI CALCATERRA Graduando em Engenharia Civil pelo Centro Universitário Estácio-JF Instituição: Centro Universitário Estácio-JF Endereço: Avenida Presidente João Goulart, 600 – Bairro: Cruzeiro do Sul – Juiz de Fora/MG E-mail: viniciusfosassati10@gmail.com RESUMO Este trabalho de conclusão de curso tem como proposta de apresentar uma metodologia válida para a mensuração vazões hidrológicas. O estudo servirá de base de partida para futuras soluções de engenharia em uma das regiões mais críticas da cidade de Juiz de Fora, a bacia do Córrego Ipiranga, localizada ao longo dos bairros Santa Efigênia, Santa Luzia e no bairro homônimo. Para tanto, o estudo se valeu de uma cuidadosa elaboração e análise dos hidrogramas da região, além da verificação histórica das precipitações. Como objeto principal do tema, discorre-se sobre o Método Racional, importante processo pelo qual é possível calcular tais volumes correntes de água. Uma vez gerada a vazão crítica de cheia, será possível dimensionar entre outras características, o hidrograma total, reservatórios, pontes entre muitas outras soluções de engenharia que necessitam dessa informação como premissa. Para isso, será lançado mão de estudos sobre a delimitação da área de contribuição da bacia e identificação do ponto crítico de cheia (alagamento). Palavras chaves: drenagem urbana, método racional, bacia do Paraibuna, enchente, vazão máxima. 2 ABSTRACT This course conclusion work aims to present a valid methodology for measuring hydrological flows. The study will serve as a starting point for future engineering solutions in one of the most critical regions of the city of Juiz de Fora, the Ipiranga River basin, located along the Santa Efigênia, Santa Luzia neighborhoods and the homonymous neighborhood. To this end, the study made use of a careful elaboration and analysis of the region's hydrographs, in addition to the historical verification of rainfall. As the main object of the theme, the Rational Method is discussed, an important process by which it is possible to calculate such tidal volumes of water. Once the critical flood flow has been generated, it will be possible to dimension, among other characteristics, the total hydrograph, reservoirs, bridges, among many other engineering solutions that need this information as a premise. To this end, studies will be carried out on the delimitation of the contribution area of the basin and identification of the critical flood point (flooding). Keys words: urban drainage, rational method, Paraibuna basin, flood, maximum flow. 3 1. INTRODUÇÃO Este trabalho trata de um entre muitos assuntos enumerados sobre problemas urbanos. Naquilo que tange sobre engenharia existe um rol de situações que podem deixar um gestor municipal ou setorial perdido e sem saber por onde começar. Apesar do Brasil sofrer com desigualdades sociais há anos, sabe-se que o número de imóveis e automóveis aumenta de forma sensível no país levando a um crescimento desordenado nos grandes centros, à ocupação desordenada do espaço urbano e maior impermeabilização do solo. Esses fatores, aliados aos maus hábitos da população relativos à dispensa dos resíduos sólidos, acabam por acarretar o colapso do sistema de drenagem pluvial de uma determinada região devido ao aumento dos fluxos hidráulicos dentro dos sistemas de drenagem existentes e às reduções das seções de escoamento dos mesmos, geradas principalmente pelo acúmulo de lixo jogado pelos moradores. Com o objetivo de eliminar ou, ao menos, mitigar o problema das enchentes, passa-se a considerar a implementação de obras de engenharia que permitam o maior controle das cheias. Este trabalho trata justamente do uso de uma metodologia para a determinação de uma vazão máxima de cheia, em particular, da micro bacia do Córrego Ipiranga. Essa informação é imprescindível para que os vários estudos e projetos na área de engenharia possam ser executados possam ser feitos. Para isso foi realizada uma explanação sobre as premissas do Método Racional alinhando seus cálculos e assim traçando o ponto de vazão máxima compatibilizando-o para que possa ser usado, futuramente, em dimensionamentos de pontes e reservatórios, por exemplo. 1.1. JUSTIFICATIVA Enchentes são fenômenos naturais, mas podem ser amplificados pela ação humana, principalmente dentro do espaço urbano. Quando isto ocorre, pode-se enumerar uma lista extensa de perdas materiais e de vidas humanas. De forma geral as cheias são divididas em dois tipos: as naturais, geradas ou intensificadas sem a ação humana, e as antrópicas, ampliadas ou totalmente provocadas pela ação do homem. Segundo Pena (2020), infelizmente, o mau uso do espaço urbano, representado aqui pelos elevados índices de poluição gerados pela baixa consciência da população e pela inexistência ou ineficácia dos serviços de coleta de lixo e de distribuição de coletores, são os principais responsáveis pelos entupimentos dos sistemas de microdrenagem1, além disso, ressalta-se a necessidade do planejamento constante da rede de drenagem, tanto de vista de manutenção e conservação, quanto em ampliação volumétrica do seu sistema coletor. Todas as causas elencadas anteriormente são de difícil correção/implementação, uma vez que ou dependem de mudanças de hábitos de uma população, ou de uma reestruturação e atualização integral do sistema de drenagem de uma bacia, o que poderá trazer custos elevadíssimos. De acordo com Vendrame (2005) “O impacto mais elevado pela urbanização é o aumento do pico de vazão de cheia aliado a antecipação do tempo desta vazão...”. A elaboração deste trabalho justifica-se como projeto de base para identificação dos valores de vazão máxima afluentes da Micro Bacia do Córrego Ipiranga (MBCI) e a posterior obtenção das premissas necessárias à execução dos cálculos prévios para o dimensionamento de projetos de controle de cheias naquela região de Santa Luzia (e adjacências) resolvendo ou, ao menos, mitigando os problemas de alagamentos. 1 Segundo (IAP 2020), microdrenagem é o sistema de condutos pluviais utilizados no âmbito de arruamentos, que propicia a ocupação do espaço urbano por uma forma artificial de drenagem, adaptando-se ao sistema de circulação viária. 4 2. DESENVOLVIMENTO 2.1. ESTUDOS INICIAIS Uma vez definida a bacia, iniciou-se o trabalho realizando uma série de visitas técnicas no local, coletando informações com os moradores, comerciantes e transeuntes, procurando definir, de forma bem clara, quais são os pontos críticos de alagamento, de extravasamento da calha e os limites entre os bairros participantes da bacia. Logo após a etapa de visitação, tornou-se necessário identificar o seu exutório2. Para isso lançou-se mão de algumas ferramentas digitais. Adotou-se o Google Earth como aplicativo utilizado para delimitar a área primária de estudo, ressaltando-se aqui a facilidade e a navegação intuitivaque são marcas dessa aplicação. Com a área já delimitada, Figura 1, gerou-se um arquivo de intercâmbio digital de dados tipo KML. A primeira etapa foi concluída com êxito. figura 1 – Delimitação da área da Bacia do Córrego Ipiranga Para a próxima etapa, Gribbin (2015) deixa claro que: Ao calcular a vazão de um curso d’água resultante de um evento de chuva, devemos, primeiro, determinar o tamanho da área sobre a qual a chuva incide... Uma área bem definida intercepta a chuva e a transporta até os cursos d’água. Essa área é chamada de microbacia. Gribbin (2015) ainda discorre sobre a forma de delimitar tal bacia, porém foi necessário levantar outros dados para realizar tal feito. Iniciou então com a procura de uma aplicação geoprocessada, gratuita, de baixo custo ou, ao menos, de avaliação, que permitisse calcular os dados topométricos e hidrográficos daquele local. Seguindo essas premissas, um software chamado Global Mapper, leve e, ao mesmo tempo, robusto, este aplicativo com sua paleta variada de ferramentas, forneceu 2 importantíssimas informações que atenderam os critérios. A primeira delas foram as curvas de nível citadas por Gribbin (2015) e a segunda, os cursos d’água contribuintes em conjunto com o talvegue3. As duas informações foram essenciais para iniciar a delimitação “fina” da bacia. 2 Segundo Andrade, exutório é todo ponto de um curso d’água que recebe toda a contribuição daquela bacia estudada 3 Principal curso d´água de uma bacia 5 Para isso tomou-se o zelo de seguir alguns princípios: • Desenhar os divisores4 ao longo das cristas de elevação • Nunca desenhar divisores dentro do talvegue e ao longo dos contribuintes • Desenhar o divisor entre curvas de nível de mesma cota O Global Mapper também permite a exportação das informações geradas em formato de intercambio KML assim como formatos de vetor, tipo DWG, para Autocad. Com esses recursos foi possível importar os dados para o Google Earth e editá-los complementando-os com outros tópicos como pontos de inundação por exemplo. A figura 2 consegue mostrar a área da bacia, delimitada e com seus cursos d’água contribuintes em seu interior. figura 2 – Bacia do Córrego Ipiranga e seus contribuintes 2.2. CONCEITOS BÁSICOS Segundo Reis (2018) para se escolher o método correto para o cálculo da vazão, faz- se necessário entender alguns conceitos fundamentais e posteriormente colher alguns dados essenciais. O primeiro deles é o de hidrograma, ou seja, um gráfico que demonstra a evolução da intensidade da chuva no decorrer do tempo. Canholi (2014) afirma que: “A adequada definição dos hidrogramas de projetos nos diversos pontos notáveis do sistema de drenagem é uma atividade essencial para o sucesso da medida proposta”, grifo nosso. Em nosso país, muitas localidades carecem de dados hidrológicos atuais ou precisos, desta forma, adota-se modelos matemáticos do tipo chuva x vazão para a concepção do “hidrograma de projeto”. Uma vez entendida a importância e o significado dos hidrogramas a pesquisa encaminha para outro conceito base, o tempo de concentração (tc). Reis discorre como tc sendo “O tempo necessário para que toda bacia estuda possa contribuir para um ponto da seção estudada”. Alguns fatores podem influenciar diretamente nesse cálculo, entre eles destacam-se: comprimento do talvegue e declividade. Mais à frente serão apresentados dados sobre as diversas fórmulas de cálculo do tc. 4 Pontos mais altos, localizados no perímetro de uma bacia que são utilizados para delimitá-la 6 Outras premissas que merecem atenção são os conceitos de declividade e diferença entre cotas. Como os próprios nomes já revelam, diferença entre cotas é variação altimétrica entre duas cotas, medidas por exemplo, com altímetro. Já o conceito de declividade ou inclinação é o quociente da diferença entre cotas pelo comprimento do trecho de talvegue estudado, é uma medida adimensional expressa de forma percentual ou fracionária. É importante mencionar que para este trabalho utilizou-se as curvas nível geradas digitalmente pelos aplicativos já mencionados. Outro conceito que não se pode deixar de mencionar é o de vazão. Azevedo Netto (2015) conceitua como vazão ou descarga, o volume de fluido que escoa por uma seção transversal em um determinado período. A vazão pode ser expressa da forma conceitual (eq. 1) e de forma alternada, através da Equação da Continuidade (eq. 2), assim: 𝑄𝑄 = 𝑉𝑉 𝑡𝑡 (Equação 1) - Equação da vazão 𝑄𝑄 = v × A (Equação 2) - Equação da continuidade 2.2.1. TEMPO DE CONCENTRAÇÃO - tc Sobre o tempo de concentração Reis (2013) cita uma série de estudiosos que discorreram vários estudos acerca do tema. Porém é sabido que cada bacia tem sua particularidade e por isso realizou-se um estudo comparativo entre eles. Em todas as fórmulas, sem exceção, as informações de comprimento e declividade, ou diferença entre cotas são utilizadas. Mas antes de entrar na apresentação destes dados, necessita-se de um vocativo. Todos os autores afirmam que a área de contribuição deve ser pequena, no entanto há muita discordância sobre o termo “pequena”, a exemplo, Wilken (apud Reis) afirma que área de estudo deverá ser de 500ha (5km2), já Akan (Apud Reis) cita um valor de 1300ha (13km2). Sem pacificação sobre o tema, optou-se em dividir a bacia em 6 microbacias contribuintes em áreas variando entre 0,17km2 e 3km2. Em seguida realizou-se o cálculo com as fórmulas de David, de Pickering, de Kirpich, Carter, Ven Te Chow, Temez e USCE (United States Corp of Engineers). A tabela 1 exemplifica muito bem os dados iniciais e a informação gerada a partir dele. Pode-se perceber que houve uma amplitude considerável entre os valores calculados nos métodos, sendo assim optou-se por gerar médias aritméticas dos métodos e adiante, foi calculado o desvio padrão entre o valor do método analisado e a média dos métodos. Assim usando como critério o menor valor do desvio, elegeu-se o método a ser usado para o tc. A preocupação nessa etapa foi de garantir um valor de tempo de concentração gerado que se aproximasse, de forma espontânea, da média todos os métodos. O quadro 2 mostra os valores de médias assim como os desvios padrão. A numeração de cada microbacia também pode ser verificada na figura 3. Ao fim obteve-se os valores dos tempos de concentração de cada microbacia e o respectivo método usado para isso. Como último critério de refinamento, elegeu-se o método com maior frequência entre os resultados gerados. 7 8 No gráfico 1 abaixo, são apresentados os diferentes tempos de concentração. Este gráfico permite analisar com clareza a amplitude das diferenças entre os resultados e ajuda a justificar o emprego do desvio padrão na decisão de qual equação é a mais indicada. Gráfico 1 – Comparação dos valores das equações de tempo de concentração Já o gráfico 2 mostra o resultado do cálculo do desvio padrão em relação à média aritmética dos tempos de concentração. Vale lembrar aqui que o desvio foi calculado desta forma devido ao fato de estar comparando desvios padrões de um mesmo registro em séries diferentes (vide Quadro 2). Gráfico 2 – Comparação entre os desvios padrões por microbacias 2.3. O MÉTODO RACIONAL Vale ressaltar que, de acordo com os dados extraídos, tanto o Global Mapper, quanto o Google Earth acusam uma área de bacia de 8.874km2 e 8,86km2 respectivamente, ou seja, 887ha aproximadamente. Azevedo Netto (2015) afirma que o método Racional pode ser usado em áreas até quatro vezes maiores do que a pacificada pela maioria dos autores, ou seja, (2000ha ou 20km2). Optou-se por trabalhar com cautela, partindo da premissa das Microbacias, 9 calculando, de forma mais segura, suas vazões por esse método. Optou pelas microbacias também devido a vasta capilarização da Bacia do Ipiranga, o que facilitaria o cálculo. O método Racional é explicitado (eq. 3) da seguinte maneira: 𝑄𝑄 = 𝐶𝐶 × 𝑖𝑖× 𝐴𝐴 3,6 (Equação 3) – Equação do Método Racional Onde: Q = vazão [m3/s] C = coeficiente de escoamento superficial - runoff [adimensional] i = Intensidade de chuva na região estudada (Juiz de Fora) [mm/h] A = área de estudo [km2] Por sua vez a intensidade foi calculada pela equação COPASA/UFV/INMET (eq. 4). 𝑖𝑖 = 3000 × 𝑇𝑇0,173 (𝑡𝑡 + 23,965)0,960 (Equação 4) – Equação de Intensidade, duração e frequência (IDF) Onde: T = tempo de recorrência [anos] t = tempo de chuva [min] Em algumas etapas do cálculo fez-se necessário lançar mão do cálculo do tempo de percurso necessário para que a “onda de enchente” se deslocasse de um determinado ponto ao outro. Para essa conta, foram usadas as seguintes equações. 𝑣𝑣 = C × �𝑅𝑅ℎ × 𝐼𝐼 (Equação 5) – Fórmula de Chézy 𝐶𝐶 = 1 𝑛𝑛 × 𝑅𝑅ℎ 1 6� (Equação 6) – Coeficiente de Manning 𝑄𝑄 = v × A (Equação 7) – Equação da Continuidade 𝑄𝑄 = 1 𝑛𝑛 × A × 𝑅𝑅ℎ 2 3� × 𝐼𝐼1 2� (Equação 8) – Equação de Manning 𝑅𝑅ℎ = A𝑚𝑚 𝑝𝑝𝑚𝑚 (Equação 9) – Equação do Raio Hidráulico Onde: v = velocidade [m/s] Rh = Raio hidráulico [m] n = Coeficiente de rugosidade de Manning I = Declividade do fundo do canal [m/m] A = Área [m2] Q = Vazão [m3/s] Am = Área molhada [m2] pm = Perímetro molhado [m] 2.4. CÁLCULO DA CAPACIDADE LIMITE DE ESCOAMENTO – CLE Como um complemento importante a esse trabalho, não se podia deixar de mencionar e explicar a CLE. 10 A CLE – Capacidade Limite de Escoamento nada mais é que a vazão máxima que o canal consegue drenar em condições específicas. Essas condições são ofertadas pela equação 7 (Equação da Continuidade) que por sua vez, possui seus argumentos preenchidos pela equação de Manning. Abaixo é mostrado o cálculo da CLE • Altura do conduto: 3,0m • Largura do conduto: 6,85m • Coeficiente de rugosidade : 0,018 Com os dados levantados, obtém-se o valor de 1,6m A seguir se faz necessário o uso das equações 6, 7 e 8, respectivamente, equação do coeficiente de Manning, equação da Continuidade e Equação de Manning. Trabalhando com as equações 6 e 7 foi possível se chegar com a velocidade do fluxo, dentro do canal. Partindo dessa premissa, possuindo velocidade do fluxo e a área da seção a ser estudada calcula-se a vazão de transbordo ou capacidade máxima de vazão do conduto, neste caso o entre a UPA – Santa Luzia e a convergência Ibitiguaia/Santa Luzia, que é de 97,5m3/s. Essa vazão é demostrada nos gráficos 3, 4 e 5 como uma linha paralela ao eixo das abcissas (tempo). 2.5. ESTUDO COM MICROBACIAS – OS NÓS A principal ferramenta para elaboração do método racional é o Diagrama Unitário Triangular (DUT). Como mencionado anteriormente, o DUT caracteriza-se por um único ponto de extrema vazão (z) onde o tempo de concentração (tc) e o tempo de chuva (t) são equiparados. No entanto, devido a divisão da bacia em porções menores, houve a necessidade de se criar pontos de congruências entre elas com o talvegue principal (Córrego Ipiranga). Esses pontos, mostrados na figura 3, serviram como “pontos de avalição” de tempo de concentração no encontro das microbacias. figura 3 – Microbacias do Córrego Ipiranga Era necessário um tempo de chuva que alcançasse toda a bacia ao mesmo tempo, isto para que em cada ponto pudesse ser realizada uma avaliação do tempo de chegada da onda de enchente com o tempo de concentração do encontro de uma bacia respectiva. Exemplificando, era necessário calcular o tempo que a onda de enchente proveniente das bacias 1-2 demorava para chegar no nó B e comparar esse período com o tempo de concentração da Bacia 4 neste mesmo nó. nó A nó B nó C nó D nó E 11 Esse procedimento foi adotado em toda a extensão do talvegue até a seção do nó E. Criou- se uma tabela onde foi adotada, por critério, o maior tempo de concentração entre as bacias 1 e 2 (bacias mais a montante) como tempo inicial. Assim: Quadro 2 – Levantamento do tempo de chuva necessário para a bacia do Ipiranga Referências das Bacias tc Explicação CURVA 1 22,93 CURVA 2 22,93 NOA 22,93 Entre 22,9 e 22,9 o maior é 22,9 PERCURSO A-B 2,80 + CURVA 1-2 25,73 = CURVA 4 10,60 NOB 25,73 Entre 25,7 e 10,6 o maior é 25,7 PERCURSO B-C 1,05 + CURVA 1-2-4 26,78 = CURVA 5 10,40 NOC 26,78 Entre 26,8 e 10,4 o maior é 26,8 PERCURSO C-D 1,44 + CURVA 1-2-4-5 28,22 = CURVA 3 28,20 NOD 28,22 Entre 28,2 e 28,2 o maior é 28,2 PERCURSO D-E 2,64 + CURVA 1-2-4-5-3 30,86 = CURVA 6 10,00 NOE 30,86 Entre 30,86 e 10 o maior é 30,86 fonte – autores O quadro 2, anterior, mostra qual o tempo mínimo de chuva necessário para que todas as bacias 1, 2, 3, 4, 5 e 6 possam estar contribuindo com suas vazões máximas. Reforça-se aqui que, para o cálculo isolado do tempo de concentração, lançou-se mão do tempo máximo de 22,93 minutos nas bacias 1 e 2. No quadro 1, pode-se notar também a variação do tempo de chuva em cada microbacia. Esse tempo de chuva é gerado também na tabela acima. Percebe-se que a cada NÓ, um tempo de chuva é calculado. Esse tempo é fundamental para a determinação da intensidade de chuvas, que por sua vez é elemento necessário ao cálculo da sub-vazão5. Outro conceito a ser elucidado é o coeficiente de escoamento superficial, ou Runoff, identificado pelo “C” na equação racional. Uma série de autores enumeram várias maneiras para classificar esse coeficiente. Nas avaliações, trabalhou-se com um coeficiente de 0,65, significando que 65% da água precipitada escoava superficialmente. 5 Chamou-se aqui de sub-vazão, a vazão gerada por uma sub-bacia, ou micro bacia. 12 13 Quadro 4 – Coeficiente de Escoamento “C” Característica da bacia C em % Superfícies impermeáveis 90-95 Estéril montanhoso 80-90 Estéril ondulado 60-80 Estéril plano 50-70 Prados, campinas e terrenos ondulados 40-65 Matas decíduas e folhagens caducas 35-60 Matas coníferas e folhagem permanente 25-50 Pomares 15-40 Terrenos cultivados em zonas altas 15-40 Terrenos cultivados em vales 10-30 Fonte: Colorado Highways Department Após o ajuste verificou-se valores mais compatíveis com a realidade local de cheias, lembrando ainda que o processo de adequação levou em consideração a ponderação entre tipos de cobertura de solo e as respectivas áreas das bacias 2.6. CURVAS DAS MICROBACIAS E CURVA SOBREPOSTA 2.6.1. CÁLCULO DOS VALORES E ORGANIZAÇÃO DA TABELA Uma vez calculados os tempos de concentração, intensidade, duração da chuva, frequência e vazão formaram-se todos os elementos necessários para a constituição da tabela das curvas de sub-vazões. Segundo Wilken (apud REIS, 2013), o método racional exige igualar o tempo de chuva (t) ao tempo de concentração (tc). Em se tratando de microbacias interligadas pelo talvegue central, foi necessário inicialmente identificar os pontos (t0, tc e tf) respectivamente, tempo de início da contribuição, tempo de concentração e tempo final de contribuição. Uma vez identificados os três pontos de cada bacia, foi necessário fazer uma integração de todos os pontos de cada microbacia entre elas mesmas. Pode-se verificar no quadro 5, a seguir. É possível perceber que as sete colunas à esquerda do tempo de chuva dizem respeito ao tempo de concentração, relembrando, é o tempo necessário para que a bacia possa contribuir em sua vazão máxima na seção estudada. Observa-se ainda que a vazão (Q) de cada bacia conserva-se máxima entre o tempo de concentração (tc) e o tempo de chuva (t) para, somente depois, começar a descender ao nível de início, o que pode ser percebido nas 7 colunas posteriores ao tempo de chuvas. Segundo Wilken, a razão t0/tf é igual a 1/1,5, ou seja, um minuto de subida para 1,5 minutos de descida, calculada como visto, por exemplo entre 10 e 45,9. Note: 𝑡𝑡0 → 𝑡𝑡𝑐𝑐 = 10 (tempo de subida) 𝑡𝑡c → 𝑡𝑡𝑓𝑓 = 15 (tempo de descida) 𝑡𝑡 = 30,9 (tempo de chuva) 𝑡𝑡f = 30,9 + 15 ∴ 𝑡𝑡f = 45,9 (Tempo final) Tucci(2004 apud ALMEIDA, 2017, p.46) traz como elemento constituinte do hidrograma unitário o tempo de recessão (tr). Na mesma obra, Chow (1988, apud Almeida 2017, p 47) descreve o conceito de (tr) como sendo: “[...] o tempo necessário para a vazão baixar até o ponto em que acaba o escoamento superficial. “, grifo nosso. A equação de tr segundo chow é indicada abaixo: 14 𝑡𝑡𝑟𝑟 = 1,67 × ta (Equação 10) – Equação do tempo de recessão de Chow Onde: ta = tempo de ascenção Uma vez conceituado tr e, apresentada a equação 10, e ainda que Almeida (2017, p 46- 47) retrata comportamento do hidrograma unitário como não sendo necessariamente triangular, considerando ainda que Wilken (apud Reis REIS2013) descreve uma proporcionalidade de 1,5 ta, optou-se por trabalhar com essa razão ao invés da razão apresentada pela fórmula de Chow. No entanto, é importante ressaltar que, como este trabalho trata da mensuração da vazão máxima, o cálculo do tempo de recessão é mero coadjuvante para apresentação dos resultados. 15 16 2.7. GRÁFICO DE VAZÕES O gráfico 3 adiante conclui os cálculos deste estudo, apresentando, além das vazões de cada microbacia, a curva de sobreposição (soma) das mesmas. Este gráfico também apresenta a curva de escoamento da calha do córrego facilitando a identificação do momento correto em que a vazão afluente de cheia ultrapassa a capacidade de escoamento gerando o colapso da drenagem e, consequentemente, o seu transbordamento. 17 18 2.8. ESTUDO COM BACIA UNIFICADA Para ratificar mais este estudo, resolveu-se realizar a mesma análise, com a diferença de usar o maior comprimento do talvegue, entre o mais à montante e o ponto de seção no nó 6. A figura 4 mostra a nova configuração de estudo. figura 4 – Apresentação do talvegue da bacia unificada Para esta avaliação calculou-se novamente o tc no ponto mais à montante. Procedeu-se com a mesma marcha de cálculo usando, inclusive lançando mão da mesma metodologia de Ven Te Chow. A diferença principal ficou por conta da área da bacia, maior. Para os requisitos deste cálculo, utilizou-se: • Área: 8,86km2 • Comprimento do talvegue: 5.130m • Diferença de cotas: 83m (808-725) => Declividade ≅ 2% • Tempo de Recorrência de 20 anos • Duração da chuva (t): 30,9min • Vazão calculada: 107,84m3/s Estes argumentos permitiram calcular um tempo de concentração de 34,02min junto à seção do nó E, segundo Ven Te Chow. Uma diferença de 9,17% no tc em relação ao método das microbacias. Vale lembrar que foi usado um projeto detalhado de nivelamento topográfico do córrego, no trecho entre a UPA-Santa Luzia e a convergência da Av Ibitiguaia com Av Santa Luzia. Esse projeto permitiu definir precisamente o desnível neste trecho. No item posterior é explicado o porquê de tanta importância. A seguir é mostrado o gráfico 4, onde pode ser visualizado a hidrógrafa triangular gerada pela equação de Ven Te Chow. É importantíssimo salientar que este ponto se trata do nó E, ou seja, o ponto escolhido para estudo e que, frequentemente, sofre com as inundações. 19 Para ratificar mais os resultados desse trabalho e a postura de dividir a bacia unificada em microbacias, correlacionou-se as duas curvas, o gráfico 5 apresenta um comparativo da hidrógrafa gerada pela curva de sobreposição com a hidrógrafa triangular do método com bacia unificada, ambos equacionados por Ven Te Chow. 20 21 O gráfico anterior facilita muito a análise comparativa das duas curvas. No que tange ao tempo de concentração, nota-se uma pequena variação entre os dois métodos. O método das curvas sobrepostas chamado aqui de MCS apresentou um tc de 28,2min enquanto o método da bacia unificada (MBU) apresentou um tc de 34min. Com relação a vazão máxima de descarga, o MCS resulta em 175,17m3/s, já o MBU o resultado ficou em 174,3m3/s. A diferença mais sensível ficou por conta do escoamento residual pós tempo de chuva. Percebe-se no MCS que o escoamento desacelera em um ritmo mais rápido do que no MBU, atingindo o limite de extrapolamento em um momento próximo dos 44min, já no MBU isso ocorre aos 57min. Essa diferença pode ser explicada pela proporção declinada do fluxo, descrita por Wilken, de 1/1,5 incidente em cada tc. Além disso, no caso do MCS os tempos de concentração de cada microbacia influenciam no cálculo final da curva de uma hidrógrafa triangular “perfeita. 3. CONCLUSÕES Diante das análises apresentadas pode-se concluir que existe uma grande vazão afluente na calha do talvegue. De acordo com os registros realizados fica claro que existem uma série de medidas, mais fáceis de implementar, que poderiam afetar sensivelmente o resultado da vazão de pico. 3.1. VAZÃO DE ESCOAMENTO DO TALVEGUE O primeiro ponto é a velocidade da vazão efluente. Utilizando o coeficiente de Manning chega-se à conclusão de que a velocidade do trecho imediatamente anterior ao Nó E é de 4,74m/s. Considerando a área da seção (área molhada) de 20,55m2, constata-se que a capacidade máxima de escoamento é de 97,5m3/s. Focando isoladamente a vazão de calha e a hidrológica e ainda, que a vazão de hidrológica é maior que a capacidade de drenagem, pode- se chegar à conclusão de que há possibilidade de extrapolamento do leito, porém vale ressaltar que este resultado pode ser mais lapidado em estudos futuros. 3.2. DECLIVIDADE Utilizou-se de um estudo de nivelamento topográfico anterior onde fico clara uma declividade mínima, variando entre 0,27% e 0,50%. Esse estudo ainda contemplava uma média ponderada dessa declividade por trechos onde o resultado obtido foi de 0,39%, sendo essa a informação que foi utilizada para este trabalho. 3.3. RUGOSIDADE EXTREMAMENTE VARIÁVEL E LIMPEZA Considerou-se um coeficiente médio de rugosidade de Manning de 0,018, no entanto é fato que ao logo do córrego sua rugosidade se altera drasticamente podendo assumir valores de até 0,055. O que altera significativamente sua velocidade e consequentemente sua vazão. Aliado a esse fator, a falta de conscientização da população, que é um grande problema social, acaba gerando outro problema grave. O entupimento dos bueiros acaba por direcionar um grande fluxo de água para outras regiões do trecho do talvegue que não foram calculadas nem executadas para receber este fluxo adicional de água. As figuras 5, 6, 7 e 8 respectivamente mostram detalhes do atual estado de conservação do conduto. 3.4. CONSIDERAÇÕES FINAIS Dentro das limitações do trabalho chegou-se à conclusão de que as chuvas temporais analisadas isoladamente são capazes de gerar sozinhas o extravasamento da calha nos pontos de alagamento costumeiramente notados. Outros fatores como a rugosidade variada e detritos em seu interior assim como no seu entorno, contribuem de forma massiva para que estes eventos 22 ocorram de forma potencializada. Sendo assim, há de se considerar em tempo, um estudo mais aprofundado sobre a viabilidade das obras de mitigação de cheias. Não obstante, conseguiu-se implementar com sucesso o método Racional gerando assim o objetivo geral deste trabalho, ou seja, apresentando o valor de pico de vazão afluente, no “nó E”, de 175,17m3/s e ainda, um comparativo com a vazão máxima de escoamento da calha de 97,5 m3/s fornecendo subsídios para estudos futuros, e provando que o dimensionamento do conduto não atente a demanda atual nem a futura. 4. AGRADECIMENTOS O segundo autor agradece ao Centro Universitário Estácio Juiz de Fora a bolsa de orientação de Iniciação Científica, no âmbito do programa PIBIC/ESTÁCIO JUIZ DE FORA, do qual o presente trabalho tem origem. 5. BIBLIOGRAFIA Apostila de hidrologia; Notas de aula. Disponivel em: http://paginapessoal.utfpr.edu.br/fandrade/teaching/files/aula_2_bacia_hidrografica.pdf. Acessado em 02/10/2020. Almeida, Gustavo Henrique Tonelli Dutra de; Masini, Letícia Santos; Malta, Luiz Ricardo Santos. Hidrologia e Drenagem. Editora e Distribuidora.2017 Azevedo Netto, Azevedo. Manual de Hidráulica; Blucher, 9ª Edição, 2015. Canholi, Aluísio Pardo. Drenagem Urbana e Controle de Enchentes; Oficina de Textos, 2ª Edição, 2014. Enchentes; PENA, Rodolfo F. Alves. Brasil Escola. Disponível em: http://brasilescola.uol.com.br/geografia/enchentes.htm. Acesso em 07/09/2020. Gribbin, John E. Introdução a Hidráulica, Hidrologia e Gestão de Água Pluviais; Cengage Learning, 4ª Edição, 2015. Mendes, Carlos André Bulhões; CIRILO, José Almir. Geoprocessamento em recursos hídricos: Princípios, Integração e Aplicação; Oficina de Textos, 2ª Edição, 2013. Metodologia para delimitação de bacias hidrográficas; INPE. Disponível em: http://marte.sid.inpe.br/attachment.cgi/dpi.inpe.br/marte/2011/07.22.17.43/doc/p1373.pdf. Acessado em 09/2020 Moraes, Maria Eugênia de; LORANDI, Reinaldo. Métodos e Técnicas de Pesquisa em Bacias Hidrográficas; Editus, 1ª Edição, 2016. Pizzo, Henrique da Silva. Notas de aula de Hidrologia e Saneamento. Pizzo, Henrique da Silva. Reservatórios de amortecimentos de cheias em bacias urbanas. Dissertação de Mestrado. 1997. Plano de Drenagem do Alto Iguaçu; IAT – Instituto Água e Terra. Disponível em: http://www.iat.pr.gov.br/Pagina/Plano-de-Drenagem-do-Alto-Iguacu. Acessado em 10/2020 http://marte.sid.inpe.br/attachment.cgi/dpi.inpe.br/marte/2011/07.22.17.43/doc/p1373.pdf 23 Reis, Flávio. Método Racional; Hidromundo. Disponivel em: http://www.hidromundo.com.br/tag/metodo-racional/. Acessado em 12/09/2020. Vendrame, I. F. LOPES W. A. B. Análise do crescimento urbano e seus efeitos na mudança da dinâmica de escoamento superficial da bacia do Pararangaba. Anais XII Simpósio Brasileiro de sensoriamento Remoto. Goiânia, INPE, 2005. 1. Introdução 1.1. Justificativa 2. Desenvolvimento 2.1. Estudos iniciais 2.2. Conceitos básicos 2.2.1. Tempo de Concentração - tc 2.3. O Método Racional 2.4. Cálculo da Capacidade Limite de Escoamento – CLE 2.5. Estudo com Microbacias – Os nós 2.6. Curvas das Microbacias e Curva Sobreposta 2.6.1. Cálculo dos valores e organização da tabela 2.7. Gráfico de vazões 2.8. Estudo com bacia unificada 3. Conclusões 3.1. Vazão de escoamento do talvegue 3.2. Declividade 3.3. Rugosidade extremamente variável e limpeza 3.4. Considerações Finais 4. Agradecimentos O segundo autor agradece ao Centro Universitário Estácio Juiz de Fora a bolsa de orientação de Iniciação Científica, no âmbito do programa PIBIC/ESTÁCIO JUIZ DE FORA, do qual o presente trabalho tem origem. 5. Bibliografia
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