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Caderno 2 - Tutela Transindividuais

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Tutela Jurisdicional dos Interesses Transindividuais
Ricardo de Barros Leonel e Susana Henriques da Costa
01/03/2013 - Leonel
	Seminário - 19/04.
	1ª avaliação: 26/04 (4 questões de ordem prática). 
	Bibliografia: Hugo Mazzilli, Rodolfo Mancuso, Susana Costa, Manual do Processo Coletivo.
Processo coletivo no contexto do processo moderno. Evolução legislativa
	Exemplos de mecanismos de proteção aos interesses metaindividuais estão diariamente na nossa frente, nos jornais, ações coletivas. Exemplo de como um fenômeno do direito desenvolve rapidamente: a sociedade 50 anos atrás era uma sociedade já em desenvolvimento pós guerra, mas ainda acanhada. O tempo passou, hoje em dia praticamente não temos fronteiras, deslocamo-nos pelo mundo afora, doenças são transmitidas pelo mundo afora, tudo está entrelaçado nesse mundo globalizado; fenômenos de massa se verificam em velocidade avassaladora. Preocupação dos conflitos individuais, porque eram mais evidentes, mais presentes, ganhavam mais destaque comércio individual, questão de família, etc.. Depois com a globalização, as crises coletivas, conflito que vão alem do individual ganham peso, importância. 
 	Professor Cappelletti pesquisou e levantou problemas que afetavam acesso das pessoas às justiça, denominado Projeto Florença, "Acesso à Justiça”. Identificaram há 40 anos atrás dois problemas do acesso à justiça e chegaram à conclusão de que seriam necessárias três ondas de mudança para acesso à justiça. Seria preciso abrir o acesso da justiça aos pobres; seria preciso reaparelhar os serviços individuais e por último seria preciso reaparelhar a justiça coletiva (interesses que envolvem coletividades, pois estamos em franco caminhar para uma sociedade massificada). Muitas discussões ocorreram logo após as sugestões tentando encaminhar esse novo caminho na justiça (no Brasil alguns professores foram visionários, Ada, Kazuo Watanabe). Enquanto eles muito discutiram, aqui, agimos. Brincadeira: o legislador aprovou muitas leis do processo coletivo porque nem sabia o que estava aprovando. Se tivessem ideia, talvez não aprovassem. Hoje em dia, há algumas iniciativas legislativas para tentar restringir o processo coletivo. Embora o nosso sistema coletivo não seja perfeito, ele tem inúmeras virtudes (mais virtudes do que defeitos) e o nosso legislador foi mais rápido, o que faz com que nosso sistema sirva de exemplo para outros países. Pegamos um pouco da experiência do direito romano-germânico e também da Common Law, das ações de classe e da nossa tradição jurídica. Para chegar a esse ponto, houve uma evolução legislativa. A discussão que se travava no início da década de 1970 era como levar os interesses metaindividuais ao poder judiciário, considerando que o sistema processual da nossa tradição é totalmente voltado à tutela de interesses individuais. 
	A legitimação no processo tradicional é individual (art. 6º CPC – ninguém pode tutelar em juízo interesse alheio a não ser quando houver autorização do próprio interessado ou autorização legal). Vários autores chegaram até a fazer de modo jocoso uma reflexão a esse respeito, dizendo que eram interesses à procura de autor. Por outro lado, o processo tradicional é configurado para que as decisões individuais transitem em julgado. Como tratar de interesses coletivos que tivessem uma coisa julgada que não gerassem prejuízos circulares para os titulares desse direito? Legitimação e coisa julgada não teriam um tratamento adequado, pois, em conflitos coletivos.
	Além disso, o modo de ser do processo. O tradicional foi organizado pelo legislador para cuidar de problemas de natureza individual: quando falamos em devido processo legal, contraditório e ampla defesa, quando pensamos no processo individual a solução é fácil: aquele cujo direito está em disputa em juízo deve participar do processo para que ele seja válido e ele seja vinculado a ele. Como assegurar um processo coletivo no qual sem que estejam presentes todos os interessados, toda a coletividade de titulares desses direitos metaindividuais e seja respeitado em relação a eles o devido processo, o contraditório, a ampla defesa? Ex: litigioso de massa no caso de telefonia (aumento de tarifas, preços públicos). O passivo em casos assim é de milhares de pessoas. Se fosse necessário que elas estivessem presentes, o processo não suportaria, seria inviável, sob o aspecto da documentação, da organização do processo, do contraditório. Imagine 5000 recursos. Ou seja, quando essa discussão começou, a doutrina nas décadas de 70 e 80 constatava a necessidade de tratar desse problema, que havia conflitos metaindividuais, que pertencem a várias pessoas (titulares) e não encontravam via de acesso à justiça, e o processo judicial não dava vazão a esses interesses. A nossa doutrina foi muito criativa para encontrar soluções, principalmente nesta casa.
	A Lei da Ação Popular (4717/65) foi, ainda que de modo singelo e que isso não tenha sido desde logo percebido (e, curiosamente, percebendo que ela foi editada na época do regime militar), o ponto de implantação do processo coletivo brasileiro. A ação popular é uma ação pela qual o cidadão (aquele que está no gozo dos seus direitos políticos) pode provocar o sistema judiciário para provocar o interesse do patrimônio público. Essa concessão de legitimação do cidadão para tutelar o patrimônio público foi o primeiro passo para o direito coletivo. Depois, houve uma ampliação do objeto da lei de ação popular (moralidade administrativa e meio ambiente). 
	Muito tempo passou, pouco aconteceu (a lei da ação popular não deu os frutos esperados). O uso da ação popular foi muitas vezes distorcido. Pode ser mecanismo de provocação política contra o administrador. Só com a Lei da Política Anual do meio ambiente (6938/81) tivemos um outro passo importante para a sistematização do processo coletivo. Essa lei previu dois pontos fundamentais (está em vigor até hoje, pelo menos do ponto de vista do direito material, que criou órgãos ambientais): 1) responsabilidade objetiva em matéria ambiental. Art. 14: os atos lesivos ao meio ambiente são causa de responsabilidade objetiva. Não há necessidade de demonstração de culpa, basta demonstrar que ocorreu a conduta e o resultado lesivo e existiu nexo causal entre eles para imputar a reparação do dano causado ao meio ambiente. 2) Isso tem a ver com ação coletiva porque esse artigo deu ao Ministério Público legitimidade da ação de dano causado ao meio ambiente. Naquela ocasião, em 1981, o MP estava numa fase de crescimento e desenvolvimento institucional, que atingiu seu ápice com a CF/88, ali em 81 começou um certo dinamismo por parte do MP para fazer uso desse instrumento legal pela legitimidade que lhe foi conferida por essa lei. Foi um passo ainda tímido, mas importante porque, ao contrário do que aconteceu com a ação da lei popular, essa legitimação da 6938 foi usada, o MP começou a propor várias ações em defesa do meio ambiente. Caso da passarinhada do Embu. Problema de Cubatão da Serra do Mar. 
Num momento subsequente, embalado pela onda da redemocratização, veio o passo fundamental, que foi a edição da Lei da Ação Civil Pública (7347/85). O anteprojeto foi enviado pelos professores da faculdade. O substitutivo, do MP, foi aprovado mais rápido e se tornou a lei de ACP. Esse foi o marco para regular de modo completo o problema do processo coletivo. A lei não é perfeita, não sobrevive sozinha, precisamos do CPC, mas ela trata dos pontos fundamentais para o processo coletivo: legitimação, processo e coisa julgada. Ela tratou da legitimação de modo amplo ao manter a legitimidade do MP para propor ações coletivas, mas foi além e deu também legitimação a entidades de direito público da administração direta e indireta: o município, os estados, a união, as respectivas autarquias, as respectivas empresas públicas. As associações também têm a sua legitimidade, com um sistema de controle. Esses atores devem atuar em benefício do interesse coletivo. Na constelação dos interesses metaindividuais, só podemos atuarindividualmente nos interesses individuais que de certa forma podem receber tutela individualmente como interesses individuais homogêneos. Interesses difusos e coletivos em sentido estrito, somos titulares, mas não podemos atuar em defesa deles – poluição ambiental, informação ao consumidor – na perspectiva coletiva, os indivíduos não agem, deve ser na coletividade. A lei cuidou também da parte final do processo. Ela criou o regime de coisa julgada coletiva, que procura assegurar um equilíbrio entre a proteção ao interesse coletivo e a posição daquele que figura como réu na ação, assim como a posição daqueles que figuram como titulares, mas não estão na ação. A lei tratou do começo, do fim e do modo de ser do processo – sentença, (timidamente) modo de cumprimento da sentença, inquérito civil, compromisso de ajustamento de conduta (ou termo, TAC, lei 7347), que é um mecanismo extrajudicial. A lei, portanto, passou a configurar o que seria um sistema mais abrangente do processo coletivo. Na própria rubrica do capítulo primeiro da CF encontramos sustentação e, mais do que isso, passou a ser necessário que o sistema coletivo se constituísse e ampliasse. O objeto da ação popular foi alargado. Ao falar expressamente em ação civil pública e inquérito civil, ela falou que o MP, para proteger interesses difusos e coletivos, pode se valer do inquérito civil previsto em lei. Inquérito civil é extrajudicial, mas se faz a tutela de interesses coletivos. Não se encerrou em 1988 com a CF.
Há a lei de defesa das pessoas portadoras de deficiência (Lei n. 7853/59). Há também a lei de defesa dos investidores do mercado de valores mobiliários (Lei 7913/89). Depois veio o estatuto da criança e do adolescente (Lei 8069/90), que cuidou do sistema de proteção da criança e dos adolescentes, há tutela administrativa, tutela penal, tutela individual e também tutela coletiva (direito material coletivo e processo coletivo). Em 1990 veio também o CDC (Lei 8078/90). Com ele se fechou o ciclo que começou com a LACP. Ficou de modo muito claro e completo um verdadeiro sistema processual coletivo. Não é um sistema perfeito, ele pode ser fechado, mas a partir do CDC passamos a ser referência para outros países que querem aparelhar o seu sistema de tutela coletiva. 
O CDC cuida ao mesmo tempo do direito material e do direito processual; cuida de direitos individuais e coletivos. Avançou um pouco porque a LACP, quando foi editava, embora houvesse um desconhecimento por parte do Congresso Nacional, uma certa preocupação com esse potente sistema que estava sendo criado. O presidente Sarney vetou vários dispositivos da LACP. Poderão ser tutelados (...) e outros interesses difusos e coletivos. Era um rol exemplificativo. Esse dispositivo foi vetado. Passados alguns anos, o CDC, entre outras diretrizes, reintroduziu dispositivos que tinham sido vetados “e outros interesses difusos e coletivos” e cuidou de outros aspectos que não tinham sido expostos na LACP. A LDVM já permitia a tutela de interesse individual homogêneo, mas o CDC definiu o que é interesse individual homogêneo, coletivo e difuso. A lei não deve trazer definições, mas nesse caso é inegável que são muito úteis, pois ajudaram a balizar de modo claro os interesses que podem ser viabilizados através do processo coletivo. O CDC disciplinou de modo mais preciso a coisa julgada. Embora de modo insuficiente, tratou da liquidação e execução no processo coletivo. O CDC, mais do que tudo isso, criou um verdadeiro sistema coletivo porque trouxe no art. 90 que “aplica-se às ações coletivas fundadas nesta lei a disciplina legal prevista na LACP” e por outro lado introduziu o art. 21 na LACP, que diz que se aplica na LACP a disciplina processual do CDC. Esses dois artigos criaram com essas remissões recíprocas um verdadeiro sistema que hoje está consolidado na doutrina e na jurisprudência. Alguns exemplos de por que isso é importante: inquérito civil está na LACP mas pode ser aplicado em ações do consumidor. Compromisso de conduta está na LACP, mas pode ser aplicado nas ações de defesa do consumidor. Defesa dos direitos individuais homogêneos em juízo está no CDC, mas pode ser aplicado para o meio ambiente, para a saúde. Inversão do ônus da prova está no art. 6º, VIII do CDC, mas é um dispositivo misto (material e processual) e pode ser aplicado nas ações coletivas que não digam respeito a defesa do consumidor, como numa ação de defesa do meio ambiente. Regras de competência, art. 2º LACP e 93 CDC se complementam. 
Lei 8429/92 (LIA). Lei de defesa da ordem econômica (8.884/94). Estatuto das Cidades (10.257/01). Estatuto do Idoso (10.741/03). Lei 10.671 (Estatuto do Torcedor). Ou seja, o legislador pegou gosto, ele viu que realmente era necessário disciplinar a proteção desses interesses que são metaindividuais. O que aconteceu foi que todas essas leis foram sendo editadas, num fenômeno que Natalino Irti identificou de modo muito interessante como a época das decodificações. Todas essas leis fazem remissão ou à lei de ação civil pública ou ao CDC. Há dois eixos centrais nessas duas codificações que é circundada por leis de menor peso, que tratam mais do direito material e menos do direito processual coletivo.
Há vários estudos no sentido de aperfeiçoar esse sistema, como a elaboração de um código de direito coletivo. Em 2009, foi apresentado um projeto de nova regulamentação para a lei de ação civil pública. Às vezes há algumas incongruências entre as várias leis vigentes. As ideias dessas propostas eram: i) unificar a legislação em um único programa, ii) trazer o que está tranquilo na jurisprudência e iii) trazer aprimoramentos que são necessários, como, por exemplo, revisar leis que impeçam a resolução de problemas de grande extensão, como a revisão do FGTS, valores pagos a menor. Ou seja, a proibição de ação civil pública em alguns casos é a lógica de mau pagador do governo, a ação pública obrigaria o governo a desembolsar de uma vez, já as ações individuais pingam o passivo ao longo de vários anos.
08/03/2013 - Susana
Significado político dos interesses de direitos coletivos
	O processo coletivo é relativamente recente. As previsões legais estão no CDC mas há poucas aplicações práticas. A lei de ação civil pública é de 1985. O processo coletivo é uma reação, adaptação que o direito faz a um novo modelo de sociedade, que também é recente na história da humanidade – sociedade de massa. Multiplicidade de condutas. A sociedade tem essa característica da pluralidade e da semelhança – padronização. Muita gente vive comportamentos, situações muito padronizadas, semelhantes. A Revolução Industrial é o grande marco para o surgimento das sociedades de massas, porque ela foi o primeiro fenômeno que gerou esse padrão de conduta múltiplo, repetido. 
As primeiras normas de direito material a regulamentar as sociedades de massa foram as normas trabalhistas, porque a partir do momento em que se tem relações de massa, começam a haver conflitos. Esses conflitos precisam ser equacionados: em primeiro momento isso é tarefa do direito material, que precisa regulamentar essas relações, num primeiro momento, sob a perspectiva individual (regulamenta individualmente as condutas). Isso não é efetivo, porque as sociedades de massa demandam um tratamento uniforme para esses conflitos. O direito tem que abarcar os conflitos de massa e, depois de regulados, tem também que delinear um instrumento para aplicar esse direito – processo coletivo para resolver conflitos de massa.
Dissídio coletivo é uma das primeiras hipóteses de processo coletivo. A sociedade de massa se desenvolve e essa ideia é generalizada, ampliada para toda a sociedade. Meio ambiente: ele sempre existiu, mas a preocupação com ele é recente. Uma reação da natureza atingiria toda a coletividade. Bomba atômica no Japão foi o grande marco.
Há um momento em que o direito precisa resolver a relação jurídica. O CPC não pode ser utilizado para tutelar essas espécies de conflito. Ex: propaganda enganosa da Polishop para produtos contra celulite. O direitode tirar a propaganda de circulação é indivisível, não dá para tirar de circulação só para uma pessoa (ela não pode identificar a parte do direito que pertence só a ela). Litisconsórcio necessário por conta da unitariedade. O MP pode propor ação para anulação de casamento. Os réus são o marido e a mulher, não é possível cindir a relação jurídica (ou ambos estão casados, ou ninguém está casado). O resultado do processo tem que ser igual para todo mundo, e todos devem participar dessa decisão. É a lógica mais simples e democrática. As regras de legitimidade ordinária estão dentro dessa lógico, de que o processo tem que se desenvolver entre aqueles que vão se atingidos pela decisão. 
No processo coletivo, há uma relação fática incindível. Há casos em que é faticamente impossível a participação individual. É preciso um processo coletivo. O processo civil individual estabelece que para haver processo é necessário litisconsórcio, entretanto, essa coletividade só pode ser identificada, não é possível ao menos saber quem são os membros dela. Os impactos da sociedade são tão difusos que não é possível identificar o indivíduo, só a massa. O bem jurídico não permite processo individualmente considerado, ele é indivisível.
Da mesma forma, outro problema que se coloca é que é preciso escolher um “representante”. Há também problemas de técnicas, de execução, regras de competência, quem vai sofrer os efeitos da decisão, porque quem sofre os efeitos não é o representante, é a coletividade. Também se discute até quando os efeitos da decisão serão imutáveis (coisa julgada). A coletividade não esteve no processo, ela foi representada. O modelo do CPC, individual, estabelece que a partir do momento em que se decidiu, os efeitos são imutáveis. O processo individual não dá conta do processo coletivo, é preciso uma adaptação da técnica.
Meta, trans, supra, a ideia é que é para além do indivíduo, suplanta o individual. O sistema jurídico brasileiro optou por uma definição legislativa dos interesses transindividuais. Criticou-se a opção da positivação dos conceitos, porque a partir do momento que se positiva, impede-se a evolução do conceito. Mas, por outro lado, a partir do momento em que está na lei, não muda para mais nem para menos, não é mais possível admitir interpretações restritivas do conceito. A positivação traz segurança. Art. 81 CDC. Os difusos e os coletivos já existiam no ordenamento brasileiro (1985), mas não havia conceituação legal do que eles eram (1990). Os individuais são uma criação de 1990, que já cria e define.
Difusos e coletivos: essencialmente coletivos (Barbosa Moreira). A palavra coletivo pode ser utilizada no sentido lato (interesse metaindividual) ou estrito (interesses coletivos). Eles não admitem a apropriação individual, ou eles são tratados na forma coletiva ou eles não entram no processo. São indivisíveis por natureza. Os individuais homogêneos são acidentalmente coletivos. São um grande ajuntamento de interesses individuais – divisíveis. São tão múltiplos e parecidos que, embora o CPC dê conta deles, é melhor tratá-los de forma coletiva. Não é da essência deles a transindividualidade.
Art. 81, § único, I: 
Difusos são os transindividuais de natureza indivisível, de que sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato. Objetivamente, há interesse indivisível; subjetivamente, dentro da coletividade indivisível, há pessoas indeterminadas e indetermináveis. Ex: pessoas que iriam assistir a uma propaganda. Coletividade indeterminada, indeterminável e mutável. Ar de São Paulo: a coletividade atingida varia. O que une cada um dos membros dessa coletividade entre si, o que faz com que elas façam parte dessa coletividade são circunstâncias de fato, não há relações jurídicas entre essas pessoas.
Coletivo em estrito senso: os membros da coletividade já são mais próximos, porque há algo que os une para além de um mero fato. Grupo, categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou pela parte contrária por uma relação jurídica básica. A ideia é de coletividade também. Grupo, categoria e classe são espécies de coletividades, cujos membros estão mais próximos. Membros são indetermináveis, mas determináveis com o tempo, porque não é um mero fato aleatório que une esses membros, mas uma relação jurídica. Ex: índice de reajuste de mensalidade. Havia uma discussão sobre o caráter vinculante sobre esse índice ou não. O MP-SP entendeu que era vinculante. Aí entra o pulo do gato: é o pedido da ação que define o interesse. O MP ajuizava demandas buscando que uma escola fosse condenada a buscar o índice de reajuste da mensalidade. A coletividade representada são os alunos matriculados e todos os futuros alunos matriculados. Portanto, é uma coletividade indeterminada, porém determinável no tempo. Existe uma relação jurídica entre cada um dos alunos e a escola.
Individual homogêneo: aqueles decorrentes de uma origem comum. A lei não fala em transindividual, ou seja, não é incindível, são interesses individuais (mas com a mesma origem). Eles têm uma característica de homogeneidade – são parecidos. Nessa origem comum, nasce uma homogeneidade de incidências. Como eles são muitos, muito parecidos e têm origem comum, é permitido que sejam tratados coletivamente. Ex: bolacha afirma que no pacote tem 200g. O Inmetro confere e verifica que tem menos. Cada um individualmente pode ir reclamar direito seu.
O que define o interesse em jogo é o pedido do autor. Ex: indústria química que jogue resíduos tóxicos no rio local. Muitos serão prejudicados. Posso ajuizar uma ação pedindo para que a água seja limpa – difusos. Se o MP ajuíza uma ação pedindo ressarcimento de quem sofreu os danos – individual homogêneo. 
15/03/2013 - Leonel
Inquérito Civil, Termo de Ajustamento de Conduta e Fundo de Interesses Difusos
IC
	Fundamentos normativos: o IC está previsto expressamente no art. 129, III da CF, bem como é expressamente mencionado no art. 8º, §1º e art.9º §s da lei 7.087 (Lei de Ação Civil Pública). Lei 8625 (art. 126, I). Além disso, leis estaduais também mencionam.
	Natureza-finalidade: é um procedimento administrativo, tem natureza investigatória e foi outorgado pelo legislador ao MP, com a finalidade de esclarecer fatos aptos a justificar a propositura de uma ação civil pública, uma ação coletiva. Mas não é só para propor a ação, o IC serve para esclarecer o fato e isso pode significar fazer o arquivamento. Também serve, ainda que secundariamente, como um mecanismo de apoio à investigação criminal, porque muita vezes o fato que justifica a propositura de uma ACP também configura ilícito penal.
	Pressupostos
Tratando-se de um mecanismo legal de investigação, sua instauração tem que ocorrer em conformidade com a lei. Há pressupostos formais e materiais. 
Pressuposto material para instauração do IC é a notícia da existência de fatos que, em tese, dariam margem à propositura da ação coletiva. Não é correta a instauração do inquérito civil para saber se a pessoa tem um bom comportamento na vida dela, assim como no inquérito policial (e frequentemente se faz a analogia, porque ambos tem a destinação de investigação de fatos), sem um fato que desse ensejo à propositura da ação coletiva. Não é necessário, obviamente, que o fato esteja esclarecido, mas deve haver notícia de um fato que possa dar margem à instauração de uma ação coletiva, porque caracterizaria a hipótese de interesses metaindividuais. É preciso uma situação da vida que sinalize para lesão ou risco de interesses metaindividuais. 
Pressuposto formal: manifestação fundamentada por parte do Promotor de Justiça. Quem tem atribuição legal é só o MP. É uma decisão fundamentada instaurando o inquérito feita pelo Promotor, que tem competência para instaurar o IC e realizar investigação. A decisão fundamentada pode ser, por exemplo, uma portaria de instauração, pode ser um despacho feito (uma decisão administrativa) feito em uma representação encaminhada ao MP pelo particular, por alguma associação, por exemplo. Pode ser uma decisão feita a partirde cópias de processo administrativo encaminhada ao MP – ex: CPI que encaminha seus resultados ao MP; TC envia cópias de auditoria, autoridade administrativa conclui processo disciplinar ou sindicância, juiz criminal também. A instauração pode se dar de ofício, se o promotor tomar conhecimento dos fatos e resolve instaurar inquérito civil. Um ato fundamentado, numa portaria de representação, num despacho, cópia de processo é uma análise breve dos fatos comunicados a ele, a indicação da possível lesão ou ameaça ao interesse coletivo e a deliberação para instaurar o IC. A instauração indevida ou abusiva enseja constrangimento ilegal.
Características
Informalidade: o IC é um procedimento administrativo e, como tal, não possui as mesmas formalidades do processo judicial. É verdade, em razão disso, que não há rito a ser seguido como na ação judicial (fase postulatória, fase de saneamento, instrutória, decisória), que tem que ser seguido sob pena de nulidade. O IC é um procedimento administrativo, não é processo administrativo (procedimento administrativo disciplinar tem um procedimento a ser seguido), embora a lógica leve a uma boa sequência de atos: instauração, investigação, conclusão. A informalidade é uma marca do procedimento administrativo. 
Motivação: é uma atividade da administração. A administração se apresenta na feição do MP. É um requisito de validade dos atos da administração. Não bastasse isso, a CF, ao tratar do poder Judiciário, no art. 93, X, prevê a necessidade de motivação das decisões judiciais e administrativo. Isso se aplica ao MP, porque no art. 129, §4º afirma-se que o que se aplica ao judiciário aplica-se ao MP no que couber. Instauração, prorrogação de prazo, determinação de realização de diligências, promoção de arquivamento.
Publicidade: é atividade da administração, embora seja possível decretar o sigilo da investigação ou de documentos que sejam julgados, porque às vezes os inquéritos se deparam com informações sigilosas (ex: quebra de sigilo bancário, ao vir para o IC, continua sendo sigilosa, o juiz apenas autorizou que dela tomasse conhecimento e investigasse determinado fato). Pode também ser decretado o sigilo na decretação com um todo no caso de strepitus fori: todo envolvimento ou comoção causada pelo caso pode atrapalhar a investigação; é possível, motivadamente, decretar o sigilo da investigação, para preservar as pessoas investigadas, preservar a imagem, o reconhecimento social e também preservar o bom andamento da investigação. Súmula Vinculante 14: possibilidade de acesso do defensor às informações do caso, ainda que sigilosas.
Dispensabilidade: não é obrigatório instaurar IC. A instauração não é uma condição para propor a ACP. O IC também não é requisito para o processo penal. Ex: relatório do tribunal de contas detalhado (processo administrativo disciplinar comprova que um funcionário causou dano ao erário), CPI.
Poderes investigatórios: decorrem da CF – art. 129, VI e VIII falam no poder do MP de expedir notificação, requisições. Há uma infração penal a quem se nega a prestar informações para uma ACP. A LEI 8625, art. 26 (Lei orgânica do MP) reproduz com maior detalhamento esses poderes de investigação do MP previstos na constituição.
Nulidades: o IC não é processo, é um simples procedimento. Nele, não estão presentes as garantias constitucionais do processo. As garantias do processo – contraditório, ampla defesa – só se aplicam ao processo judicial ou administrativo. Processo é aquele no qual se forma relação processual e do qual pode ser extraída a aplicação direta de uma sanção. Ex: processos para punir o servidor que praticou uma falta funcional, processo do TC para aplicar uma multa prevista na lei do TC e mencionada na CF. Ao final deles, ocorre uma sanção. Sindicância, para esclarecer fato, IP, IC, CPI não é processo, é procedimento administrativo, por isso, para eles, não se aplicam as garantias do processo. Assim, não há nulidade no procedimento investigatório. Ainda que houvesse, ela não contamina a ação judicial, pois o processo judicial começa do zero. As nulidades do IP (e vale para o IC) não contaminam a ação penal. Quando se permite ao investigado participar de modo mais efetivo da investigação, o que se tem é um excelente resultado e é por isso que se deve franquear ao investigado a oportunidade de prestar esclarecimento aos fatos, acompanhar perícias, acompanhar oitiva de pessoas, isso dá maior credibilidade à prova indiciária feita na fase de investigação e não se quer sempre, não se instaura o IC querendo executar o investigado; O IC é instaurado para esclarecer o fato, é até melhor se evitar uma propositura de ação desnecessária.
Embora não haja nulidade no IC, não quer dizer que ele não seja passível de controle, pois ele é ato do Estado e o controle pode ser administrativo ou jurisdicional. Sem que haja fato, o ato de instauração é arbitrário. Controle interno: recurso contra instauração do Inquérito, previsto, aqui em SP, por exemplo, no art. 108 da LC 734/93. Resolução 23 2007 Conselho Nacional do MP. Mesmo que não houvesse previsão expressa, seria possível sustentar o cabimento de um recurso porque na administração os atos podem ser revistos. Prazo de 5 dias da ciência da instauração. Quem julga esse colegiado é o Conselho Superior do MP (CSMP). Controle jurisdicional: MS. IC sem portaria fundamentando a instauração ou fato determinado, há uma instauração ilegal, arbitrária, que viola direito líquido certo do investigado à existência de um ato fundamentado de instauração. Podemos falar no cabimento de HC quando há a notificação de comparecimento sob pena de condução coercitiva, mas o mais comum mesmo é o MS quando a instauração ocorre sem fundamentação ou sem que haja fato determinado. 
Possíveis conclusões do IC:
I) Arquivamento: não foi esclarecida a autoria da lesão ao interesse coletivo ou ficou esclarecido que não houve risco ou lesão ao interesse coletivo. Também há um mecanismo de controle pelo colegiado interno do MP - Conselho Superior do MPE e Câmaras de Coordenação e Revisão do MPU. O promotor faz um parecer e esse órgão homologa ou não o arquivamento. É um sistema análogo ao do Inquérito Policial, que é homologado pelo juiz, com a diferença que é feito internamente. No IP, pelo art. 18 do CPP, surgindo novas provas, novos indícios, o inquérito pode ser desarquivado. No Inquérito Civil, não há uma regra tratando disso, mas a doutrina tem privilegiado o entendimento de que é possível desarquivar, inclusive sem novas provas, primeiro porque não há regra que para desarquivar seja necessário que haja um nova ação, segundo porque, ao contrário do inquérito policial, não está em risco a liberdade da pessoa. Além disso, diferentemente do processo penal, o MP não é o único legitimado para propor ação civil pública, nada impede que um outro legitimado proponha ACP - negar a possibilidade de desarquivamento seria negar o que o próprio sistema permite. Por último, é preciso lembrar que, se não fosse possível o desarquivamento, seria comparar um simples procedimento investigatório a coisa julgada e, indo além, seria legitimar um dano contra o meio ambiente etc.
II) Propositura de ação.
III) TAC: solução extrajudicial do conflito.
TAC
É legitimado para elaborar qualquer órgão público legitimado à propositura da ACP. O IC só pode ser instaurado pelo MP, mas o TAC por qualquer órgão público legitimado, a autarquia, o município.
Fundamento: art. 5º, § 6º Lei de ACP. 
Natureza-finalidade: é um mecanismo extrajudicial de composição do conflito coletivo que, embora não possua natureza de transação, funciona como título executivo extrajudicial. Não é uma transação porque os órgãos públicos legitimados, quando fazem o TAC, não podem abrir mão da tutela do interesse coletivo. A lei concedeu ao MP, ao município, ao estado, à defensoria, ás autarquias etc., legitimação para agir em juízo defendendo interesses coletivo, não podem transigir em relação ao interesse coletivo. Os modos de composição são basicamente três: renúncia, submissão e a transação.A renúncia é aquela na qual o titular abre mão do direito. Na submissão ,o obrigado aceita integralmente o cumprimento da sua obrigação. Na transação, o obrigado e o credor cedem um pouco cada um para chegar a um meio-termo. O TAC é hipótese de submissão do obrigado. Aquele que praticou um ato de lesão ou risco para o interesse coletivo decide aceitar a sua responsabilidade, ele se submete. O legitimado só pode concordar com o TAC quando o obrigado aceita integralmente sua obrigação. O espaço para discussão é o modo do cumprimento da obrigação, o acordo se dá quanto ao modo de como a obrigação vai ser cumprida, o prazo, as sanções. Não se pode dispensar o obrigado de cumprir sua obrigação. Ex: lesão ambiental causou dano de 2 milhões, mas é possível pagar 100 mil – não é possível, pois seria transação. O TAC tem que prever o cumprimento integral da obrigação. O acordo se dá porque o investigado se compromete a cumprir integralmente, só o modo de cumprimento pode ser acordado. Para se tornar título executivo extrajudicial, deve ter os requisitos do CPC (580 e 585) – obrigação líquida, certa e exigível. É possível questionar o TAC – ele é um negócio jurídico, tem duas partes, um órgão público legitimado e uma pessoa que concordou cumprir a obrigação por criar risco ou lesão a interesse coletivo. NJ pode ser desconstituído sob fundamento do vício no NJ – fraude, por exemplo, O NJ pode ser desconstituído com ação anulatória.
FID
	Natureza/Conceito: A ideia do FID foi trazida para nós, de certo modo, aproveitando a experiência do direito americano. Lá, existe o chamado fundo fluído (Fluid Recovery) para casos em que não é possível identificar quem foi lesado e não é possível reparar individualmente o dano. Cidade de NY: cobrança de tarifa abusiva do táxi. Alguém resolveu propor uma class action para propor os danos causados aos consumidores. É evidente que, mesmo com o êxito da ação, não é possível reverter o êxito auferido para cada um dos lesados.
	Fundamento legal: art. 14 Lei ACP. O FID é um fundo de natureza institucional, de natureza contábil, fica vinculado ao poder público (existem fundos estaduais e também um fundo nacional para ações de competência da justiça federal), sem personalidade jurídica, que não tem, a rigor, natureza reparatória, mas sim natureza compensatória. Só poderíamos dizer que ele tem natureza reparatória se os recursos estivessem vinculados à reparação do dano especificamente vinculado. Os recursos não são aplicados para aquele dano verificado naquele processo, O comitê gestor analisa projetos apresentados ao fundo que tem projeto de prevenção, obras, do consumidor, por exemplo. A ideia é boa, mas ela não tem funcionado muito bem. Os recursos do fundo não têm sido bem utilizados; mais, tem sido subutilizados, não têm atendido à ideia originária. Em razão disso, existem propostas, de lege ferenda, de quebrar o rigor existente na lei atual, pelo qual todos os recursos auferidos na ação devem ser revertidos ao fundo (salvo quando for de interesse individual homogêneo, pois o prejudicado pode liquidar a sentença e obter a reparação). Possibilidade de o juiz decidir se será para o FID ou próprio local do dano. Ex: mortandade de peixes num rio, o juiz poderia numa ACP, após o êxito da ação, se os recursos vão para o fundo ou para a própria comunidade, em atividade vinculada àquele dano, ex: fazer um parque no rio, sistema de tratamento de esgotos. O que é possível na ACP é fazer qualquer tipo de pedido – reparação do dano moral, material, obrigação de fazer ou não fazer, pedido de natureza constitutiva, anulação de contrato, ato, tudo é possível, mas, hoje, com pedido condenatório, recursos têm que ir para o fundo.
22/03/2013 – Susana
Caracterização dos interesses metaindividuais
Art. 81, § único define os interesses metaindividuais – difusos, coletivos e individuais homogêneos. Os dois primeiros são essencialmente coletivos, enquanto o outro é acidentalmente coletivo. O que diferencia é que, nos dois primeiros, não é possível ter a fruição individual do direito, porque eles são bens jurídicos fruíveis em conjunto, eles são indivisíveis. Têm a natureza da indivisibilidade, permitiu-se a técnica do processo coletivo porque, sem ela, esses problemas ficavam sem a tutela do processo judicial (pelo problema da legitimidade). Ex: poluição de um rio por resíduos tóxicos. Não é possível despoluir a parcela de água que pertence a um indivíduo. Não é possível particularizar a parcela de água que lhe pertence. 
Já no acidentalmente coletivo, ele tem fruição individual integral, é possível identificar o direito subjetivo nele. Ex: colocação de um liquidificador defeituoso no mercado- é possível identificar e particularizar o que é de cada um, há a possibilidade de fruição individual, mas a técnica processual permite o processo coletivo. 
Os lesados pelo problema do rio não são identificáveis, porque os prejudicados são aqueles que bebem da água poluída, e mesmo que se conseguisse identificar, o direito processual civil individual não dá conta, teria de haver litisconsórcio ativo unitário necessário. Quantitativamente, é impossível, e ainda há o problema anterior da identificação. É, pois, necessário um tratamento que traga entes diferenciados, não são tutelados os integrantes da coletividade.
	O individual homogêneo não é essencialmente coletivo: nele, há vários interesses individuais que, por uma técnica jurídica, podem ser tratados como se coletivos fossem (se valem dessa técnica que foi desenvolvida para o coletivo stricto sensu). Ou seja no caso do individual homogêneo, o vetor não é o acesso à justiça, que poderia ser feito de qualquer forma, pois não padece do problema de legitimidade, mas por uma questão de eficiência permite-se o tratamento desses direitos como se eles fossem coletivos, é uma questão de técnica jurídica.
	Difusos - Características
Indivisibilidade. 
Aspecto objetivo: o que faz dizer que alguém faça parte da coletividade lesada? Ex: água poluída. O membro da coletividade é quem tem contato, utiliza a água de alguma forma. Ou seja, o requisito não é jurídico, é um fato. Em uma demanda em que se quer repor essa água e o réu condenado a despoluir o rio, o que tutela é um conceito difuso. Seus membros se ligam por circunstâncias de fato.
Aspecto objetivo: membros que compõem a coletividade são indeterminados e indetermináveis, é um interesse aleatório, mutável, a coletividade pode mudar. No exemplo, quem bebe a água varia, pode ser alguém que está passado, por exemplo.
 	O coletivo stricto sensu tem a mesma natureza de indivisibilidade, mas não é uma indivisibilidade fática, é jurídica, ao passo em que no individual homogêneo, sim, é uma ficção, interesses juridicamente e faticamente individuais são tratados como fossem coletivos. O jurídico às vezes “força a barra”, nem sempre a realidade se encaixa bem nesses conceitos. Há situações de zonas cinzentas, entre difuso e coletivo e entre coletivo e individual homogêneo.
 	O coletivo stricto sensu é indivisível, tem em comum com o difuso essa natureza, não é possível a fruição individual, mas o que une os membros da coletividade não é uma relação de fato, mas uma relação jurídica que os membros têm entre si ou com a parte contrária da demanda. É uma relação jurídica que, na lógica do processo, antecede o ato ilícito. Nos difusos não há uma relação jurídica (quando se polui, por exemplo)? Até há, mas ela ocorre após o ato ilícito. Já nos coletivos, o que se quer é imputar ao réu um padrão de conduta homogêneo e igualitário para todos. A coletividade beneficiada é mutável. Ex: escola particular que aumenta os preços. Os tutelados são os pais dos alunos e dos que vierem a ser alunos. Uma regra que pode resolver isso é que a tutela do difuso e do coletivo é prospectiva – poluir um rio, observar um reajuste. O individual homogêneo, até por ter uma raiz no class action for damages tem uma natureza ressarcitória – normalmente, não é um critério absoluto, o critério legal não é esse.
 	O que une a coletividade no stricto sensu éuma base jurídica, no exemplo da escola, é o contrato de prestação de serviços. Assim, há uma relação de todos os membros da coletividade em relação à parte contrária. O pedido é juridicamente indivisível.
 	O coletivo soma a pretensão de cada um e beneficia quem nem se consegue identificar. No individual homogêneo, ele soma simplesmente o aqui e agora, no extremo, ele é um litisconsórcio, só que não se tem todos os membros da coletividade lá, por conta da substituição. É um grande somatório de todos os indivíduos que poderiam ajuizar a demanda individual de ressarcimento (exemplo do liquidificador, posso ir no JEC pleitear o ressarcimento).
 	A técnica do individual homogêneo é que ele tem origem comum. É o interesse individual divisível, que admite fruição individual, é o típico direito subjetivo que, por ter a mesma origem comum de vários outros interesses comuns, tem a característica da homogeneidade. Por ser homogêneo pode-se usar a técnica do processo coletivo, ainda que não seja uma coletividade indivisível. Ex: poluição do rio. Uma demanda buscando despoluir o rio cuida de interesse difuso. Se for buscando o ressarcimento dos pescadores que tiveram seu trabalho afetado, é individual homogêneo. Outro exemplo: publicidade enganosa. Demanda que busca tirar de circulação a propaganda é difuso; se quer que seja a empresa condena a indenizar todos que compraram o produto defeituoso, individual homogêneo. Se buscar vincular a escola ao índice de reajuste, coletivo; se quer que devolva àqueles que pagaram, individual homogêneo. Uma causa que envolva o meio-ambiente não necessariamente envolve direito difuso, pode haver interesse individual homogêneo.
	No homogêneo, não há problema de acessibilidade do interesse, porque poderia cada uma das pessoas buscar seu ressarcimento. O que o sistema jurídico brasileiro ganha com isso é economia e uniformidade dos julgados. Ex: cobrança de taxa de telefone (sem uso). Houve contradições em decisões, só hoje está pacificado que pode cobrar. Isso cria descrédito nas decisões.
	A litispendência entre demandas individuais e coletivas se resolve pela opção de ir para o coletivo ou suspender o individual até o julgamento do coletivo. Ainda que o coletivo não seja conhecido, o individual pode continuar.
	Existe uma terceira razão para o individual homogêneo, é o “efeito carona”. Individual homogêneo não existia até 1990 com o CDC e não é a troco de nada, isso se deu porque a aplicação dos individuais homogêneos é muito frequente no CDC. Ex: caso do Inmetro que mede o peso dos pacotes de macarrão e chega à conclusão de que havia menos do que o informado. Houve um dano, mas ele é individual ínfimo. Se não houvesse o processo coletivo, ele ficaria fora de jurisdicionalização. Não valeria a pena buscar o ressarcimento individual do dano. Juntando todos, entretanto, há um prejuízo social relevante para o dano ser ressarcido e cada um de nós “pega carona”.
	Também não seria possível executar individualmente essa ação, pois cada um teria 20g, o que seria um valor ínfimo. Assim, o valor é remetido para o fundo.
	O tratamento do processo no difuso é coletivo do tratamento à satisfação. No coletivo, a execução também se dá na forma coletiva, atingindo a todos. No individual homogêneo, se um produto com defeito é colocado no mercado, o processo anda e há a condenação, a sentença é condenatória genérica, ela não traz o valor do dano. A lógica é que no processo de conhecimento do individual homogêneo se define as questões comuns. No caso do liquidificador com defeito no mercado, o que é comum é que todos processos individuais discutiriam o dano a uma coletividade e o dever de indenizar. A sentença genérica estatui que a empresa gerou um dano para uma coletividade (ainda não está individualizado, é um processo coletivo) e está obrigada a indenizar, portanto, tem que indenizar todos os consumidores lesados. Para além da sentença indenizatória do dever de indenizar, há a heterogeneidade. A partir da sentença coletiva genérica, em regra (há exceções), cada indivíduo vai pegar a decisão e executar. Saber se o interesse é difuso, coletivo ou individual homogêneo tem uma relevância processual. O que se precisa depois da sentença do individual homogêneo é a legitimidade (que pertence à coletividade) e provar o valor do dano, mas não é um processo de conhecimento, é de liquidação, mas com um pouco mais de cognição. No exemplo do liquidificador, por exemplo, poderia haver um dano maior, de alguém que se cegou, e um menor, de alguém que só viu seu liquidificador parar de funcionar.
	A professora Ada afirma que para ser tratado na forma individual homogênea, é preciso de homogeneidade e preponderância de interesses comuns em face dos individuais, porque o processo de conhecimento autônomo só faz sentido se se for resolver um número de questão suficientes que gere efetividade.
05/04/2013 – Leonel
Competência, liquidação e execução do processo coletivo
Competência
	A regra fundamental é o art. 2º da LACP, que estabelece como competente o foro do local do dano. Isso nos levaria a pensar, numa primeira impressão, que estaríamos diante de um caso de competência territorial e relativa. Na verdade, é competência funcional e absoluta. A incompetênci (ou o desrespeito à regra de competência) implica vício absoluto, pode ser conhecida de ofício essa situação em qualquer grau e é nulidade absoluta. Ex: competência funcional alimentada da proximidade do juiz com o fato com a intenção de que, estando próximo do fato, possa instruir e julgar melhor. Só essa regra não resolve todos os problemas, porque no processo coletivo, é muito comum que o dano se estenda por mais de um foro (foro é território e a unidade territorial de justiça estadual é a comarca, ao passo que na justiça federal é a circunscrição judiciária). É comum que o dano atinja mais de um foro, mais de uma comarca ou circunscrição judiciária. Se um dano se estende por mais de uma comarca, por várias cidades, todos os foros são igualmente competentes e será no caso concreto competente aquele que ficar prevento. No processo coletivo, há uma regra de prevenção diferente da regra do CPC – o art. 2º e o § único estabelecem que a propositura da ação (a protocolização da petição inicial) torna prevento o juízo. No caso do processo comum, é a citação que faz com que se opere a prevenção do juízo e, em alguns casos, quando há dúvida entre duas ações conexas na mesma comarca, é o primeiro despacho que elucida (arts. 219 e 106 CPC). 
	Outro problema é a hipótese do dano regional ou nacional, para o qual o art. 93, II do CDC dá uma regra especial para definição do foro competente: será competente o foro da capital de um dos estados envolvidos ou do distrito federal. Alguns problemas: o CDC não diz o que é dano regional ou nacional. A interpretação mais razoável é aquela que diz ser o dano nacional aquele que envolve o território de dois ou mais estados. O dano será regional quando alcança todo o estado ou praticamente todo o estado. Nesses exemplos (nacional ou regional), será foro competente o foro da capital do estado, ou dos estados envolvidos ou do distrito federal.
	Não há precedência para fins de competência do distrito federal em relação às capitais dos estados. Não existe essa precedência, a competência será tanto do DF quanto da capital de um dos estados envolvidos – o foro em que for ajuizada a primeira ação coletiva estará prevento aquele juízo. A competência de jurisdição é fixada pela constituição em matéria civil no art. 109, I em função do critério ratione personae (em razão da pessoa), ela só é competente quando a união ou autarquias ou empresas públicas forem autoras, rés. A existência do dano nacional ou regional não descola a competência para a justiça federal.
	O fato de ser a ação proposta pelo MPF não descola a competência pela Justiça Federal. O MPF não é a União ou tampouco autarquia ou empresa federal.
	Outro problema que frequentemente se verifica é se a situação de dano alcança algumas cidades do interior de um estado. Isso ésuficiente para caracterizar um dano estadual ou regional e deslocar a competência para a capital do estado? Ex: empresa de telefonia que mantém prática abusiva a quase todo território do estado. Aí, a competência será da capital. Entretanto, se a empresa atuar somente em algumas cidades do interior, aí a competência será da cidade cujo foro for prevento. Se o dano ocorrer em alguns municípios de dois estados, há o dano localizado, a ação poderá ser proposta por algum foro do estado de MG ou de SP, no exemplo dado.
	Não devemos confundir o dano regional – que alcança praticamente todo o estado – com um dano localizado que alcança alguns foros diferentes. Dano nacional é mais fácil compreender – dois estados com território quase todo alcançado. Não se deve confundir também competência de jurisdição com competência territorial. Primeiro, é preciso verificar se não é competência do STF, depois, da justiça federal (jurisdição), depois, da justiça estadual. Até há alguns anos atrás, a súmula 183 do STJ estabelecia que nas ações coletivas, quando não houver vara da justiça federal no local do dano, será o juiz estadual competente para reconhecer da ação. Ela tinha uma razão de ser, o fato de a justiça federal não estar interiorizada. Deu-se uma interpretação do art. 2º da LACP. Quando confrontamos a competência da justiça federal com a estadual, é um falso problema, pois só se passa a examinar o foro da justiça estadual depois da federal. (?)
Liquidação e Execução
	Existem poucas regras a respeito de liquidação e execução em sede de processo coletivo. O legislador foi econômico demais nessa matéria, praticamente só o CDC, em 4 artigos, 97, 98, 99 e 100, tratam de liquidação e execução. Eles são aplicáveis não apenas ao direito do consumidor mas às demais ações coletivas que não apenas o direito coletivo do consumidor.
	Execução, no sentido próprio, só falamos quando temos execução em pecúnia. Condenação de cumprimento a obrigação de fazer, não fazer ou entregar coisa, há uma execução imprópria. A própria é pecuniária porque envolve atos de invasão do patrimônio do credor. A imprópria envolve medidas de constrição, coercitivas, destinadas a fazer com que o obrigado cumpra a obrigação de fazer (multa, atos que assegurem resultado equivalente àquele previsto na sentença, assim por diante). Diante de sentença declaratória ou constitutiva, não há propriamente execução, pode haver documentação, encaminhamento de ofício.
	Quando estamos diante do cumprimento de fazer ou não fazer, ela se dá do mesmo modo da obrigação de fazer ou não fazer do processo comum – o juiz impõe um prazo a partir do qual incidirá uma multa, ou será fixada na fase subsequente de cumprimento da execução. Entretanto, quando há uma sentença condenatória com uma decisão de pagamento, há necessidade de uma liquidação.
	Os títulos a executar são, da sistemática adotada no CDC, que vale para o processo coletivo, podemos dizer que qualquer sentença desse processo vale tanto para a coletividade quanto para o indivíduo. Toda sentença tem um elemento declaratório com eficácia para o indivíduo – é o chamado aproveitamento in utilibus. Ex: o MP propôs uma ação para reparar dano causado a interesses difusos. Uma sentença é tanto título executivo para reparação dos danos aos direitos difusos quanto para o indivíduo possa liquidá-la para seu proveito pessoal. É preciso demonstrar que se encaixa em tal situação. A mesma lógica vale para a sentença em ação de direitos coletivos em sentido estrito, em ações penais que tutele direitos coletivos e, por último, para as ações de classe (class actions). Todas as sentenças proferidas no processo coletivo ou no processo penal em que se busque tutelar direito coletivo, são título executivo para o indivíduo executar individualmente. Ex: em determinada região, uma empresa produz dano ambiental. Será movida uma ação para que esse dano ambiental seja reparado. A sentença nela proferida, além de habilitar a liquidação e execução do interesse coletivo, também serve ao indivíduo. Todas as sentenças contém uma declaração que, para o indivíduo, tem eficácia executiva. O TAC também é título executivo que pode ser liquidado e executado.
	O autor da ação coletiva quer apurar o valor do dano, que pode se dar por liquidação por artigos ou por arbitramento. A liquidação e a execução vai ser realizada no mesmo juízo no qual tramitou a ação de conhecimento, o qual estará funcionalmente vinculado ao caso – competência funcional. Claro que a partir de 2005, o CPC foi alterado e flexibilizou a regra da competência funcional, dizendo que ao lado do juízo do processo de conhecimento, temos também a possibilidade de nos utilizar do foro do domicílio do réu ou do foro do qual o réu possuir bens. Art. 475-P CPC. Essa liquidação é uma fase do processo de conhecimento posterior à sentença, não uma própria ação. O próprio ente legitimado pode dar prosseguimento, cujo destino se dá ao fundo de interesses coletivos, que não tem natureza reparatória, mas compensatória. Eles não são empregados no mesmo lugar onde ocorreu o dano, mediante autorização do conselho gestor do fundo.
	Outro problema é pensar na liquidação e execução desta sentença em benefício dos indivíduos, porque há a dúvida de competência. O indivíduo beneficiado pela sentença de uma ACP é obrigado a propor uma ação no mesmo foro e juízo na qual obteve a sentença favorável de conhecimento. O CDC dá a entender que poderia optar por outro juízo, pois o art. 98, §2º, I fala do foro da liquidação da sentença. Além disso, o art. 101, I do CDC dá ao consumidor a prerrogativa de foro para as ações que ele move. Se temos um sistema de processo coletivo em que a LACP e o CDC funcionam como uma codificação, é possível aproveitar esses dispositivos para outras matérias que não exclusivamente direito do consumidor. O indivíduo pode propor liquidação e execução de uma sentença coletiva no foro de seu domicílio. Se optar pelo mesmo foro, não estará o juízo prevento em razão de competência funcional. Ex: passivo de pessoas lesadas de mais de 100 mil. Se o juízo tivesse competência funcional para todas liquidações e execuções individuais, ele seria um juízo falimentar, pois não daria conta.
	O indivíduo pode liquidar e executar no foro no qual tramitou a ACP de conhecimento, sem prevenção do juízo da ação de conhecimento. Ele pode executar no foro de seu domicílio. Além disso, há aplicação subsidiária do CPC, pode-se liquidar no foro no qual o réu tem bens passíveis de expropriação (475-P CPC).
	Legitimação: na execução coletiva, é o interesse difuso que permanece na fase de execução, então o próprio autor é legitimado, tanto para a ação quanto para a execução. O problema que ocorre é o da liquidação individual. Na fase de execução, há os indivíduos liquidando e executando. Se na fase de conhecimento, na ação de classe, por exemplo, o que temos é um predomínio do caráter homogêneo dos interesses individuais, em que há legitimação extraordinária, na fase de execução, os interesses, na maioria dos casos, o interesse caminha para a heterogeneidade, porque quando a empresa é condenada a indenizar a pessoa que sofreu o dano, ela traz resultados diferentes. Ex: ação coletiva da TAM, com quase 200 pessoas. Um é casado, com tantos filhos, ganhava um tanto. A quantificação da obrigação faz com que o interesse homogêneo, na fase de conhecimento, se torne heterogêneo na fase de liquidação e execução. Não há, em regra, legitimação extraordinária ou substituição processual.
	Na fase de liquidação e execução, em regra, não existe legitimação extraordinária ou não se estende a legitimação do processo de conhecimento para a liquidação e execução. Na fase de liquidação, desaparece a homogeneidade que justificava o tratamento coletivo e a legislação extraordinária. O próprio indivíduo liquida e executa.
	Entretanto, os entes coletivos também podem liquidar e executar. O MP não pode fazer isso, pois o interesse é tipicamente patrimonial, individual e indisponível. Até em razão disso, nem intervém como fiscalda lei na liquidação e execução individual, fora na situação do incapaz. As associações podem fazê-lo? Se receberem outorga por mandato e não legitimação extraordinária, sim. Existe uma regra especial que dá um tratamento específico aos sindicatos. Art. 8º, III CF/88. O sindicato tem por regra constitucional legitimação extraordinária para tutelar interesse da categoria do próprio indivíduo.
	Podemos também nos valer dessa regra para a chamada liquidação do “dano moral coletivo” ou do “dano punitivo”, que no processo coletivo pode ser identificado por uma regra que diz que quando há uma sentença em ação de classe (art. 100 CDC), decorrido o prazo de 1 ano do trânsito em julgado ou da publicação de editais, sem que haja a habilitação ou apresentação de indivíduos compatíveis com a ação do dano, poderão os legitimados do art. 82 do CDC fazer a liquidação e reverter os valores para o fundo de interesses difusos. Esses recursos não serão mais utilizados para dano causado ao indivíduo. Assim, esse não é um prazo prescricional, pois este é de direito material. Esse é o prazo a partir do qual o legitimado coletivo pode liquidar coletivamente. Mesmo depois da liquidação pelo legitimado coletivo, ainda é possível que algum ou alguns indivíduos liquidem em caráter individual (cuja prescrição é outra). O réu não está condenado a pagar ao fundo e ao indivíduo, pois são espécies diferentes (não há um bis in idem).
	Duas decisões recentes do STJ estabeleceram que a contagem de correção monetária, juros de mora e juros compensatórios, diante de casos de liquidação em sentença coletiva deve se dar a partir da citação no processo de liquidação. Para o professor, isso é prejudicial, pois o dano não terá reparação integral. A citação no processo na ação de coletiva de conhecimento deveria produzir esse efeito de constituir o devedor em mora, inclusive em relação aos indivíduos lesados, pois, do contrário, é um desestímulo do ajuizamento de ações coletivas.
12/04/2013 - Susana (faltei, copiei de um caderno de 2011)
 Legitimidade para Tutela Coletiva de Direitos 
	Já definimos o que se entende por interesses difusos, coletivos e individuais homogêneos. Na ultima aula foi falado sobre TAC e Inquérito Civil (prévio à propositura da Ação Civil Pública). Agora, começaremos a estudar o que é a ACP e o que o Processo Coletivo tem de diferente do Processo Individual. 
	A Legitimidade é um dos institutos processuais que é totalmente reformulado no âmbito do processo coletivo, que traz conceitos e raciocínios diferentes daqueles estudados no Processo Individual (o que não significa que não será utilizado o CPC). 
	Vamos iniciar tentando lembrar alguns conceitos básicos de legitimidade para, então, entender a legitimidade no processo coletivo. 
	Legitimidade é, primeiramente, uma afirmação; É uma pertinência subjetiva entre a parte e a situação do direito material alegada no processo (a qual não se sabe se existe inicialmente). Uma pertinência que deve existir entre a relação jurídica de direito material firmada no processo e as partes do processo. 
	Relação jurídica processual, diferentemente da relação de direito material, é triangular, então, há autor, réu e juiz (os três sujeitos processuais). 
	Responder a questão da legitimidade é responder a seguinte pergunta: Quem são autor e réu na demanda? Quem são as partes legítimas para figurar na demanda? 
	Como resposta, numa ação de cobrança serão partes legítimas credor e devedor; numa ação de divórcio, os cônjuges; numa ação de investigação de paternidade, filho e suposto pai; e etc. 
	Nestes tipos de demanda a resposta é até intuitiva. Contudo, deve-se notar que o raciocínio utilizado para se chegar à legitimidade é um raciocínio voltado para o direito material. Ou seja, ao tratarmos das ações acima, ficam claros os dados necessários para se perceber as partes do direito material. Há uma relação jurídica entre duas partes e, caso haja algum conflito nesta relação, já se sabe quem são os agentes legítimos para figurar em um processo. 
	Utilizando o exemplo da sogra que ajuíza ação de divórcio contra o genro fica clara a impertinência, pois a sogra não é a titular da relação jurídica do casamento e, por isso, é parte ilegítima para figurar como parte na ação de divórcio. 
	Esta é a regra (a identificação intuitiva) e corresponde à “legitimidade regra” do sistema, a legitimidade ordinária. A legitimidade ordinária é aquela em que a parte defende direito próprio em nome próprio (correspondendo exatamente à definição de pertinência subjetiva). 
	Todavia, existem outros tipos de legitimidade, e a que nos interessa é aquela especial chamada de extraordinária. Nesta, por sua vez, não se tem a defesa de interesse próprio e em nome próprio, mas sim a defesa de interesse alheio (de terceiro) em nome próprio. 
	Tomando para análise a investigação de paternidade, nesta, pensando em termos de legitimidade ordinária, as partes teriam que ser, necessariamente, filho e suposto pai. Contanto, a lei permite que um terceiro alheio, o MP, entre nesta demanda no lugar do filho. Ou seja, o filho não é parte e sim o MP, substituindo o filho e defendendo-o em nome próprio (em nome do MP). 
	Já na hipótese do filho menor de idade em que a mãe representa-o num processo, é caso de legitimidade ordinária. A mãe simplesmente supre uma questão de incapacidade processual do filho. Aqui o filho é efetivamente parte do processo, mas sendo representado. 
	No começo do curso foi dito que, quando começaram a surgir os conflitos de massa, o legislador se viu diante de um dilema: eram situações em que o indivíduo não poderia figurar como parte individualmente; deveria haver segundo as regras do CPC um litisconsórcio (relação jurídica incindível, todos devem comparecer no processo), mas como visto, seria uma situação inviável. 
	Este era o dilema do legislador: como resolver conflitos que, pela regra geral do sistema, não podem ser trazidos para uma apreciação do Poder Judiciário. 
	Segundo a doutrina clássica do prof. Cappelletti, seria necessário nomear alguém para falar em nome desse interesse. Em seu estudo, feito por meio do Direito Comparado, identificou diversas formas desta representação, entretanto, todas apresentando prós e contras: (i) se for um ente estatal haverá uma “paternalização” da defesa destes interesses já que a sociedade não se unirá para defendê-los, além de correr o risco deste ente ser influenciado pelo próprio Estado; (ii) uma pessoa física não tem infraestrutura, recursos ou representação exatamente legítima para defender o interesse satisfatoriamente; e etc. 
	Com base nesses e outros estudos, o nosso ordenamento escolheu/determinou quem são os entes representantes desses interesses ao serem trazidos para juízo. 
	Tecnicamente, para a maioria majoritária da doutrina, ao fazer isto o legislador criou novas hipóteses de legitimidade extraordinária. O legislador permitiu que interesses de terceiros fossem defendidos por entes que ele (legislador) elegeu (os legitimados para as ações civis públicas). Assim, tais entes podem tutelar em nome próprio um interesse alheio (de toda uma coletividade). 
	Neste ponto, importante lembrar que a legitimidade extraordinária é uma exceção no nosso sistema, podendo existir apenas quando a lei a prever. E é exatamente isto que a Lei da ACP faz ao eleger os legitimados para a propositura da demanda coletiva. 
	Já na linha dos pensamentos dissonantes, o professor Kazuo Watanabe apresenta um artigo, da década de 1980 (anterior à própria Lei da ACP – ou seja, anterior aos entes legitimados), contendo um posicionamento com função prática muito relevante para a época (também defendido pelo professor Mancuso), qual seja a defesa da legitimação para a propositura de demandas coletivas sendo ordinária. Diz o autor que, seja MP, seja uma entidade, apesar de tutelar o interesse de toda uma coletividade também está tutelando um interesse próprio (no caso do MP, porque constitucionalmente deve tutelar interesse de relevante valor social, mas tal interesse, a despeitode ser de toda uma coletividade, também é do MP), e é este aspecto que faz com que essa legitimidade seja ordinária. O efeito prático deste posicionamento é que, sendo ordinária, não é necessária lei autorizando a propositura da demanda (assim, ele estava tentando doutrinariamente trazer a juízo tais interesses). 
	Para aqueles que rebatem este argumento utilizam-se do art.5º da Lei de ACP, além do que, se fosse ordinária, qualquer pessoa física poderia propor a ACP também. Assim, tal entendimento é muito primitivo (ressaltando que o professor Kazuo o expõe em momento muito específico de evolução da defesa coletiva de direitos). 
	Existe ainda uma terceira corrente, também minoritária, defendida pelo professore Nelson Nery Jr. e pelo professor Ricardo de Barros Leonel, para os quais a legitimidade do processo coletivo seria um terceiro tipo de legitimidade, não sendo nem ordinária, nem extraordinária, mas sim uma legitimidade anômala. O raciocínio seguido pelos mestres é que este interesse coletivo defendido pelo ente autor da demanda não é só de terceiros (coletividade), mas também é do próprio ente legitimado, ou seja, há a aglutinação das duas teorias anteriores. Este tipo de legitimidade não é nem ordinária nem extraordinária, mas sim diferenciada por reunir características dos dois tipos de legitimidade. O professor Ricardo observa ainda mais esta configuração pelo fato de que, no processo coletivo, não é possível trazer conceitos do processo individual (logo, deve ser outra espécie de legitimidade). Os defensores da doutrina majoritária rebatem a teoria pelo fato da extraordinária explicar bem o caso, sendo desnecessária a criação de um terceiro tipo. 
	A questão da afinidade ideológica que existe entre o ente escolhido (MP, União, Associação ou etc.) e o interesse tratado nos autos é outro requisito, chamado de Representatividade Adequada. Tal representatividade adequada, por ora, pode ser entendida como a justificação política para a escolha do autor. Ou seja, é determinado ente o legitimado para a demanda porque é este que terá uma afinidade ideológica com aquele específico interesse, e assim, é que se justifica politicamente a escolha daquele legitimado (mas nem por isso o interesse é do ente; sim da coletividade – portanto, legitimidade extraordinária). [1: Obs.: entre as teorias existentes, alguns entendem este requisito como parte da legitimidade, incluso nesta; para outros, é uma quarta condição da ação.]
	Pergunta: Como a doutrina vê a participação do juiz da causa, visto que, ao se tratar de um interesse da coletividade, envolveria também o interesse do próprio julgador? 
	Resposta: Interesse em tese. P.ex., na demanda penal (homicídio, p.ex.) está se defendendo interesse da coletividade, contudo, a imparcialidade do juiz é garantida justamente por este não assumir o pressuposto de que autor tenha razão, parte-se do pressuposto de que tudo que está sendo dito só será verdade se for provado. Ou seja, no Processo Coletivo, há uma alegação de que um direito da coletividade foi violado, mas não significa que ela de fato ocorreu, e assim, o juiz tem imparcialidade para verificar a veracidade do alegado. 
	São estes os três posicionamentos doutrinários a respeito da Natureza Jurídica da Legitimidade para a demanda coletiva. 
Características
	Especificamente quanto aos entes, vê-se que a escolha do legislador brasileiro previu uma série deles. O art.5º da LACP fala quem são as partes legítimas para a propositura da ACP: 
	Art. 5o Têm legitimidade para propor a ação principal e a ação cautelar: (Redação dada pela Lei nº 11.448, de 2007). 
I - o Ministério Público; (Redação dada pela Lei nº 11.448, de 2007). 
II - a Defensoria Pública; (Redação dada pela Lei nº 11.448, de 2007). 
III - a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios; (Incluído pela Lei nº 11.448, de 2007). 
IV - a autarquia, empresa pública, fundação ou sociedade de economia mista; (Incluído pela Lei nº 11.448, de 2007). 
V - a associação que, concomitantemente: (Incluído pela Lei nº 11.448, de 2007). 
a) esteja constituída há pelo menos 1 (um) ano nos termos da lei civil; (Incluído pela Lei nº 11.448, de 2007). 
b) inclua, entre suas finalidades institucionais, a proteção ao meio ambiente, ao consumidor, à ordem econômica, à livre concorrência ou ao patrimônio artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico. (Incluído pela Lei nº 11.448, de 2007). 
	A Defensoria Pública tem legitimidade só a partir de 2006, ou seja, é uma legitimidade recente; no inciso III, nota-se que qualquer ente da Administração Pública Direta é legitimado; também os são os Órgãos Públicos, ainda que sem Personalidade Jurídica (previsto no CDC, art.822 - interdependência); as entidades da Administração Pública Indireta; e as Associações. 
	Como se vê nosso sistema optou pela mescla de entes de natureza Pública e entes de natureza Privada justamente para realizar uma escolha completa (e afastar os “contras” observados por Capeletti). Assim, diz a doutrina que a Legitimidade na ACP é híbrida, pois abrange entes de ambas as naturezas. 
	Além disto, a doutrina ainda diz que, além de híbrida, a Legitimidade da ACP é CONCORRENTE E DISJUNTIVA (obs.: professora diz para quem quiser prestar concurso, importante guardar esta definição, pois examinadores e OAB ADORAM estes termos).
	É concorrente porque todos os entes são legitimados ao mesmo tempo; a princípio, todos os entes são legítimos para a propositura da ACP. Disjuntiva porque, sendo todos legítimos, não precisam propor a demanda em conjunto; cada um pode propor individualmente sobre a mesma demanda (p.ex., numa questão ambiental podem propor demanda uma associação ambiental, um município, o estado, o MP – todos são concorrentes para propor a ACP, e não precisam propor-la em conjunto [podem atuar sozinhos]). 
	Pergunta: Se um destes entes propuser a ACP, exclui a legitimidade dos demais? 
	Resposta: Sim para a propositura, pois se a demanda for igual ocorrerá litispendência (que veremos mais tarde). Para a identificação da demanda não se utiliza o autor, mas sim a coletividade representada, então, se esta for a mesma não interessa quem propôs a ação (vai ocorrer litispendência). Se forem demandas idênticas, conexas, então se reunirão no mesmo processo. Lembrando que ainda pode ocorrer o litisconsórcio (não que sempre seja necessário), e que nos casos em que o MP não for parte atuará como “custus legis” (art.5º, §1º da LACP).
Requisito – Representatividade Adequada 
	Observa-se, ainda, que no nosso sistema a Lei traz para alguns dos legitimados um requisito que garante a representatividade adequada. O conceito de representatividade adequada (assim como vários outros aspectos do nosso Direito Coletivo) decorre das “Class Action” do Direito Norte-Americano, mas não chega a ser uma cópia integral, sofrendo adaptações para a aplicação nacional. [2: Que nada mais é que uma demanda coletiva.]
	No Sistema Norte-Americano a regra é de que o indivíduo seja o autor de uma “Class Action”, ou seja, a legitimidade é individual do cidadão (não do MP, de entes públicos ou de associações). Todavia não qualquer cidadão, existindo, assim, requisitos que devem ser preenchidos pelo autor da demanda. Para que o indivíduo possa ser autor numa Class Action, deve ter uma representatividade adequada chamada de “Adequate Representation”, que dará a legitimidade política necessária para representar a coletividade; quem verificará se há ou não tal requisito é o juiz. Toda Class Action norte-americana, tem uma fase procedimental preliminar chamada de “Certification”, cujo único objetivo é permitir ao juiz aferir e atestar a aptidão do indivíduo de defender a coletividade.
	A representatividade adequada norte-americana abrange muito mais do que a do nosso Direito. Nesse sentido, lá, para que o indivíduo possa ter esta representatividade ele deve comprovar requisitos de índole substancial tais como: (i) ser membro da coletividade; (ii) que não há conflito interno na classe quanto aos objetivos perseguidos; (iii)que tem aptidão financeira para dar conta do processo (que não é barato nos EUA); (iv) ter experiência para defender a causa (não o indivíduo, mas o escritório responsável pela Petição, demonstrando que já atuou em outras Class Action); etc. 
	São requisitos trazidos pelo Direito norte-americano, aferidos pelo juiz na fase de Certification e que no final declarará se a parte tem ou não a Adequate Representation. 
	Assim, o controle da representatividade adequada, da afinidade ideológica, técnica e econômica para atuar como autor é feita pelo juiz, ou seja, é um controle “ope iudicis”. 
	Quando Cappelletti fez seu estudo de Direito Comparado, observou que ao escolher o(s) ente(s) legitimado(s), os Ordenamentos Jurídicos devem considerar a representatividade adequada, a fim de determinar melhor aqueles que podem exercer tal função satisfatoriamente. 
	No nosso Sistema, pelo caráter híbrido, o legislador fixou determinados requisitos a fim de garantir esta defesa satisfatória em juízo, os quais devem estar preenchidos para caracterizar a legitimidade coletiva. Desta forma, (i) Associações, (ii) Órgãos Públicos Despersonalizados e (iii) Entes da Administração Indireta, por força de lei, devem preencher tais requisitos (chamados pelo STF, também pelo nome de Pertinência Temática) – conclui-se assim pela interpretação integrada dos artigos 5º da LACP e 82 do CDC. 
	Assim, para que estes entes legitimados possam propor a ACP eles deverão ter uma afinidade ideológica com o interesse metaindividual tratado nos autos (observando que esta identidade/finalidade deve ser prevista estatutariamente para as Associações e legalmente para os demais entes). Ou seja, se há uma questão ambiental, uma Associação que busca a defesa dos consumidores não poderá propor a ACP, cabendo a uma Associação que busque a defesa do meio-ambiente propô-la, que seja uma associação ambientalista. 
	Quanto aos órgãos públicos despersonalizados, ganha relevância o PROCON (não em SP, pois aqui a professora acredita que ele tenha Personalidade Jurídica, mas nos outros é simplesmente um órgão público), que antes mesmo da edição do CDC sempre foi um órgão preocupado com a defesa do consumidor. Foi dando atenção a esta preocupação que surgiu o interesse dos autores do anteprojeto do CDC em incluir tais órgãos, com a ressalva de que por lei tivessem a finalidade da defesa daquele interesse (sempre com vistas à adequada representatividade). 
Controle de Legitimidade 
	Com esta conformação, num primeiro momento (quando da edição da Lei da ACP e do CDC) surgiram os primeiros livros sobre Processo Coletivo, e alguns doutrinadores observaram que diferentemente do sistema norte-americano, no sistema brasileiro, a aferição da representatividade adequada foi feita a priori pelo legislador, dizendo quem são os legitimados e quais os requisitos necessários para defender uma coletividade, ou seja, a aferição aqui se deu “ope legis” (feita pelo legislador). 
	Observa-se, entretanto, que a lei não fala dos demais legitimados (MP, Defensoria Pública, Estados, Municípios e etc.), não lhes impõe requisitos de pertinência temática, concluindo-se que sempre podem propor a ACP. 
	Mas a jurisprudência não caminhou neste sentido e, embora não se possa falar em um controle semelhante ao do sistema norte-americano, criou-se certa forma de controle de representatividade adequada em relação aos demais legitimados. Então, a jurisprudência preferiu por generalizar para os demais o requisito da representatividade adequada nos limites da interpretação dada no Direito brasileiro (ou seja, presença necessária de nexo ideológico com o interesse da ação). Assim, passou-se a se exigir de todos os legitimados a pertinência temática, sem a qual o ente está impossibilitado de ser autor na ACP. 
	Hoje existem vários doutrinadores defendendo que nosso sistema apresenta um controle de representatividade adequada misto, feito pelo legislador (ope legis) e pelo juiz em cada caso concreto (ope iuris). 
	Como funciona este controle da jurisprudência? 
	No caso do MP, tanto jurisprudência como o próprio MP tem entendido que sua legitimidade é condicionada à pertinência temática: “relevância social”, que deve estar presente no interesse tutelado (conceito este proveniente da própria CF, art.127 – “defender interesses de relevante valor social”). 
	Como se vê, relevante valor social é função institucional do MP; é o que lhe dá coerência, restando evidente que não haveria cabimento de ACP em questão, p.ex., de condomínio (que até pode ser considerado interesse individual homogêneo). Antes, o promotor teria dever de ofício de propor tais ações, mas essas foram sendo cada vez mais rechaçadas (professora cita ex. dos “lesados na aquisição de porsches”, em que o MP deveria atuar no interesse destes, fugindo completamente das finalidades do órgão e da ACP). Então, hoje, particularmente ao MPSP, internamente há a Súmula n.07 do Conselho Superior do MP, que permite o arquivamento de Inquéritos Civis caso estes não tenham o relevante valor social justificativo da ACP. 
	Quanto aos interesses difusos, ninguém questiona a legitimidade do MP. Para os coletivos, há alguma discussão, mas na grande parte das vezes se reconhece a legitimidade. Assim, o grande problema de legitimidade do MP está nos Interesses Individuais Homogêneos, pois deve ser um dano aos indivíduos suficiente para caracterizar o relevante valor social (deverá ser analisado se há uma justificativa para a intervenção do MP, se há real dispersão de interesse social ou se o órgão está desviando-se de sua função). 
	Perguntaram se os Partidos Políticos teriam legitimidade para a ACP: estes entrariam como Associações, pois na seara da ACP qualquer agrupamento de pessoas é considerado associação tendo assim legitimidade. Então, haverá legitimidade desde que envolva questão/fato relativo ao interesse do próprio partido político, já que este não é defensor de interesses da sociedade (ou seja, desde que sejam assuntos sobre, p.ex., liberdade de voto, liberdade de eleição, etc. – não se confundem com os interesses do MP). 
	A discussão sobre a legitimidade em ações envolvendo interesses individuais homogêneos se desenvolveu em função de um fenômeno, ocorrido principalmente no início da década 1990, de proposituras reiteradas de demandas pelo MP questionando matéria tributária (que é a que configura mais claramente o interesse individual homogêneo – todos podem demandar, mas aplicam-se tributos individualmente). É evidente o impacto que uma demanda desta poderia ter na sociedade (em especial com relação a Fazendo Pública), e isto gerou uma reação política muito forte, em especial no STJ, que inaugurou um posicionamento (cedendo à pressão política) de que Tributo era interesse individual homogêneo, mas que não havia legitimidade do MP para tutela destes interesses. Com isso é que se começou a discutir onde haveria e onde não a relevância social (observando que o STJ entendeu que neste assunto não haveria). Depois disto, as Associações iniciaram a propor tais ações (em vista da impossibilidade do MP).
	Por fim, a discussão se encerrou com a inclusão do §único do art.1º (LACP) para dizer que não pode ser objeto de ACP matéria tributária previdenciária. Observe-se que a discussão saiu da legitimidade e passou para o objeto; quer dizer, não se diz que o MP não pode propor, mas sim que a matéria não pode ser objeto de ACP. Tal dispositivo foi taxado de inconstitucional, mas ainda não há qualquer decisão em sede de ADIn (o que existem são posicionamentos em REx). Fato é que matéria Tributária não pode ser objeto em ACP4. 
	Além disto, por muito tempo se discutiu a legitimidade do MP para propor outras ações públicas como, p.ex., as Ações de Improbidade. Alguns defendem que, embora seja ação civil pública, não configura processo coletivo e que o MP não teria legitimidade para defender o Patrimônio Público “Erário”5. Isto porque a própria CF proíbe que o MP represente entidades públicas (art.129, inc. IX). Sustentam, entre outros argumentos, que MP é

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