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Processo Coletivo

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CAPÍTULO 1 - INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO PROCESSO COLETIVO 
 
1. CONCEITO DE PROCESO COLETIVO, AÇÃO COLETIVA E TUTELA JURISDICIONAL COLETIVA 
Processo coletivo é aquele em que se postula um direito coletivo lato sensu (situação jurídica coletiva) ou 
que se afirme a existência de uma situação jurídica coletiva passiva de titularidade de um grupo de pessoas. 
Observe-se, então, que o núcleo do conceito de processo coletivo está em seu objeto litigioso e na tutela do 
grupo: coletivo é o processo que tem por objeto litigioso uma situação jurídica coletiva ativa ou passiva de titularidade 
de um grupo de pessoas. 
O processo coletivo brasileiro tem suas próprias características, que compõem o devido processo legal coletivo 
brasileiro, quais sejam: 
a) legitimação para agir; 
b) regime da coisa julgada coletiva, que permite a extensão in utilibus para as situações jurídicas individuais; 
c) caracterização da litigação de interesse público flexibiliza o procedimento a favor da tutela de mérito e de-
termina a intervenção obrigatória do MP como fiscal do ordenamento jurídico em todas as ações. 
Tais características, no entanto, não compõem o conceito de processo coletivo. 
Ação coletiva é a demanda que dá origem a um processo coletivo, pela qual se afirma a existência de uma 
situação jurídica coletiva ativa ou passiva exigida para a tutela de grupo de pessoas. 
Tutela jurisdicional coletiva é a proteção que se confere a uma situação jurídica coletiva ativa (direitos 
coletivos lato sensu de um grupo de pessoas) ou a efetivação de situações jurídicas (individuais ou coletivas) em face 
de uma coletividade (grupo), que seja titular de uma situação jurídica coletiva passiva (deveres ou estados de sujeição 
coletivos). 
 
2. TRÊS CONCEITOS FUNDAMENTAIS PARA A COMPREENSÃO DO PROCESSO COLETIVO: GRUPO, MEMBRO 
DO GRUPO E CONDUTOR DO PROCESSO COLETIVO 
a) GRUPO: é o sujeito de direito que é titular da situação jurídica coletiva afirmada em um processo coletivo. 
b) MEMBROS DO GRUPO: são os sujeitos de direito que compõem o grupo (podem ser um indivíduo ou um outro 
grupo). 
c) CONDUTOR DO PROCESSO COLETIVO: como regra, é o terceiro legitimado (extraordinário), que nem é o grupo, 
nem é membro do grupo. 
 
 
2. O PROCESSO COLETIVO COMO ESPÉCIE DE “PROCESSO DE INTERESSE PÚBLICO” (PUBLIC LAW LITIGATI-
ON): INTERESSE PÚBLICO PRIMÁRIO E INTERESSE PÚBLICO SECUNDÁRIO NO CONTROLE JURISDICIONAL DE 
POLÍTICAS PÚBLICAS 
 
2.1. Generalidades 
Os processos coletivos servem à “litigação de interesse público” (LIP); ou seja, servem às demandas judiciais 
que envolvam, para além dos interesses meramente individuais, aqueles referentes à preservação da harmonia e à 
realização dos objetivos constitucionais da sociedade. Interesses de uma parcela da comunidade constitucionalmente 
reconhecida, a exemplo dos consumidores, do meio ambiente, do patrimônio artístico, histórico e cultural, saúde, edu-
cação, bem como na defesa de interesses dos necessitados e dos interesses minoritários, como os das crianças e ado-
lescentes, das pessoas institucionalizadas em hospitais e presídios, dos negros, dos índios, das mulheres, podem ser 
passíveis de serem veiculados como situações jurídicas coletivas merecedoras de tutela através de ações coletivas que 
permitam a tutela molecular de todo o grupo. 
A defesa do interesse público primário por meio de processos cíveis, inclusive na atuação de controle e realiza-
ção de políticas públicas, permite falar aqui de uma expansão da tradicional judicial review brasileira voltada ao con-
trole dos atos da administração e da constitucionalidade das leis em casos individuais, para um judicial review em defe-
sa dos direitos coletivos, permitindo o controle e a adequação dos atos da Administração Pública e do Poder Legisla-
tivo à luz do direito material coletivo. A LIP nesses casos visa a medidas estruturantes, postuladas por meio de ações 
coletivas ou certificadas em compromissos de ajustamento de conduta. 
 
2.2. Modelo experimentalista de reparação e medidas estruturantes (structural injunctions e specific per-
formance) 
A complexidade da matéria envolvida na implementação e aplicação de políticas públicas força a migração de 
um modelo meramente responsivo e repressivo do Poder Judiciário (atuação posterior aos fatos já ocorridos para apli-
cação da norma jurídica) para um modelo resolutivo e participativo, que pode anteceder aos fatos lesivos e re-
sultar na construção conjunta de soluções jurídicas adequadas. Isso se dá em razão da sindicabilidade judicial 
das políticas públicas, ou seja, é possível o controle do Poder Judiciário quanto à melhor concretização de políticas 
públicas, em um processo coletivo onde se estipule um programa de resolução de conflitos entre todos os envolvidos 
(incluindo a sociedade civil). Neste sentido, é comum a adoção de audiências públicas e a intervenção de amicus cu-
2 
 
riae. 
 
2.3. Interesse público primário e interesse público secundário 
O interesse público verdadeiro é o interesse público primário, relacionado aos interesses da sociedade. O inte-
resse público secundário, representado nos interesses imediatos da Administração Pública, jamais pode se desenvolver 
fora de consonância com o interesse público primário, pois é este quem confere legitimidade e fundamento constituti-
vo aos atos do Poder Público. 
Os interesses coletivos lato sensu são direitos de interesse público primário. Determinados interesses individu-
ais (os indisponíveis) são compreendidos, pela doutrina, como direitos de interesse público – entendimento acolhido 
pelo STF. 
 
 
2.4. A implementação e controle de políticas públicas por parte do Poder Judiciário (judicial activism, judi-
cial restraint e ativismo judicial seletivo): ativismo da lei e da Constituição em matéria de políticas públicas 
no Brasil 
O STF tem permitido, em situações de extrema necessidade, a implementação de políticas públicas mediante 
intervenção direta do próprio Poder Judiciário; da mesma forma tem decidido o STJ. Deve ser ressaltado que o ativismo 
judicial (judicial activism) fica limitado ao conteúdo da lei e da Constituição (judicial restraint). 
O Brasil adota, com o art. 927 e incisos do NCPC, um modelo de precedentes normativos formalmente vincu-
lantes; logo, para além da lei e da CF, os juízes e tribunais estarão obrigados, normativamente, a seguir os preceden-
tes-norma. São considerados precentes-norma as decisões em controle de constitucionalidade concentrado, as súmulas 
vinculantes, as decisões em IRDR, REsp e RExt repetitivos e IAC, as teses consagradas em súmula do STF, em matéria 
constitucional, e do STJ, em matéria infraconstitucional, além das decisões dos órgãos plenários e das cortes especiais 
às quais os juízes e tribunais estiverem vinculados. 
Neste sentido, o STF decidiu – em recurso extraordinário com repercussão geral em ACP ajuizada pelo MP/RS - 
que o Poder Judiciário pode determinar que sejam realizadas obras ou reformas emergenciais em presídios para ga-
rantir os direitos fundamentais dos presos, sua integridade física e moral. 
O risco do ativismo judicial seletivo, ou seja, o controle indevido de decisões judiciais sobre políticas públicas 
que implantam normas constitucionais e legais é um efeito colateral da possibilidade de controle das políticas públicas 
que deve ser combatido no direito brasileiro, mas que não infirma a necessidade de decisões judiciais para implementa-
ção de políticas públicas legais e constitucionais. 
 
2.5. Para além da “politização da justiça” em uma democracia de direitos: uma conclusão parcial 
Para Fredie Didier, é necessário acrescentar - ao conceito de ação coletiva para tutela dos direitos difusos, co-
letivos stricto sensu e individuais homogêneos no Brasil – este novo elemento: a ação coletiva precisa caracte-
rizar-se como um processo de interesse público primário. 
Ao Poder Judiciário foi conferida uma nova tarefa: a de órgão colocado à disposição da sociedade como ins-
tânciaorganizada de solução de conflitos metaindividuais. Tal tarefa vem sendo tachada de “politização da Justiça”, 
entendida como ativismo judicial em senso negativo. Evidentemente, o ativismo não é do juiz ou do MP, mas da lei e da 
Constituição, sempre se exigindo um trabalho de coordenação com a atividade das partes e o respeito à Constituição na 
realização de políticas-públicas. 
A emergência dos direitos fundamentais de terceira geração contribuiu para um aumento do controle jurisdici-
onal de políticas públicas, mediante medidas de justiça distributiva, resolutiva e participativa, adotadas pela lei, pela CF 
e aplicadas pelo Poder Judiciário como instituição de garantia. 
 
3. O MICROSSITEMA PROCESSUAL COLETIVO, O PAPEL DO CÓDIO DE DEFESA DO CONSUMIDOR E O DIÁ-
LOGO DAS FONTES COM O CPC/2015 (ERA DA RECODIFICAÇÃO) 
 
3.1. Generalidades 
Os microssistemas evidenciam e caracterizam o policentrismo do direito contemporâneo, formando 
vários centros de poder e almejando a harmonização do sistema. 
O CPC/15 assumiu o dever de dar unidade narrativa ao direito processual. Organiza, pela introdução de uma 
Parte Geral e pela consagração de normas fundamentais, um outro patamar de unidade, um sistema aberto, flexível e 
combinado com a Constituição e com os microssistemas processuais, em especial, com o processo coletivo, fazendo 
referência expressa às ações coletivas (art.139, X e art. 985, I e II). Não está de costas para o microssistema de tutela 
coletiva, mas ao contrário: o CPC/15 o abraça e o envolve, sendo a ponte entre o processo coletivo e a Constituição. 
Pensar em recodificar significa imaginar uma função nova aos Códigos, leis institucionais de garantia das rela-
ções entre sociedade política e sociedade civil, uma unidade dinâmica, que não seja fechada em si mesma, uma função 
que contribua para a harmonização dos microssistemas com a Constituição, bem como para a preservação dos valores 
jurídicos comuns na elaboração de novos microssistemas. 
Esta ordem de ideias pode ser facilmente transportada para a função do CPC/15 e do CDC no microssistema 
de processo coletivo como elementos harmonizadores do microssistema da tutela coletiva. 
 
3 
 
3.2. O CDC como um “Código de Processo Coletivo Brasileiro” 
O CDC, ao alterar a Lei 7.347/1985 (LACP), atuou como verdadeiro agente unificador e harmonizador, empre-
gando e adequando à sistemática processual vigente do CPC e da LACP para defesa de direitos “difusos, coletivos e indi-
viduais homogêneos, no que for cabível, os dispositivos do Título III da Lei 8.078/90, que instituiu o CDC” (redação do 
art.21 da LACP). 
Com isso, criou-se a novidade de um microssistema processual para as ações coletivas. No que for compatível, 
seja a ação popular (AP), a ação civil pública (ACP), a ação de improbidade administrativa (AIA) e mesmo o mandado de 
segurança coletivo (MSC), aplica-se o Título III do CDC. Assim, fica fácil determinar que o CDC se tornou um verdadeiro 
“Código Brasileiro de Processos Coletivos”, um “ordenamento processual geral” para a tutela coletiva – interpretação 
sistemática dos arts. 21 da LACP e 90, CDC. 
 
LACP, Art. 21. Aplicam-se à defesa dos direitos e interesses difusos, coletivos e indivi-
duais, no que for cabível, os dispositivos do Título III da lei que instituiu o Código de 
Defesa do Consumidor. 
 
CDC, Art. 90. Aplicam-se às ações previstas neste título as normas do Código de Pro-
cesso Civil e da Lei n° 7.347, de 24 de julho de 1985, inclusive no que respeita ao in-
quérito civil, naquilo que não contrariar suas disposições. 
 
3.3. O microssistema do processo coletivo 
O CDC não traz todas as disposições atinentes ao nosso processo coletivo e é importante integrar, no que exis-
te de positivo, os diversos diplomas que tratam sobre ações coletivas. A doutrina nacional tem defendido a tese de que 
aos processos coletivos se aplicaria a teoria sobre os microssistemas, como visto. Assim, existiria no direito positivo bra-
sileiro, já configurado, um “microssistema processual coletivo”. 
Esse microssistema é composto pelo CDC, LACP, LAP, no seu núcleo, e a Lei de Improbidade Administrativa 
(LIA), LMS e outras leis avulsas, na sua periferia. A única leitura possível deste microssistema atualmente será aquela 
que o articula, em um diálogo das fontes, com a Constituição e o CPC/15. 
Para solucionar um problema de processo coletivo, o caminho deve ser mais ou menos o seguinte: i) buscar a 
solução no diploma específico (ex: sendo uma AP, na Lei 4.717). Não sendo localizada esta solução ou sendo ela insatis-
fatória: b) buscar a solução no núcleo do microssistema (LACP + CDC). Não existindo solução para o problema: c) bus-
car nos demais diplomas que tratam sobre processo coletivo a ratio do processo coletivo para mais bem resolver a 
questão em coordenação com as normas do CPC/15 que não conflitarem com a lógica eas normas próprias do micros-
sistema e com a CF. 
Para a correta compreensão do impacto do CPC/15 no microssistema de tutela coletiva, deve ele ser aplicado 
em um diálogo de especialidade, coordenação e influências recíprocas ao microssistema de processos coletivos, colo-
cando-os em conformidade com os objetivos constitucionais. Tudo isso sem esquecer da eficácia direta que o CPC/15 
tem quanto a este microssistema, ou seja, sua aplicação não é meramente residual e subsidiária. 
 
4. LEGISLAÇÃO E PROCEDIMENTOS RELACIONADOS À TUTELA COLETIVA: PROCEDIMENTO COMUM DAS 
CAUSAS COLETIVAS (Art. 21 DA LACP e Art. 90 DO CDC) 
Existem vários instrumentos processuais disponíveis à tutela dos direitos coletivos. O problema deve ser visto 
sob duas perspectivas: a) das demandas que podem ser propostas; b) dos procedimentos que podem ser adotados. 
O art. 83 do CDC – que consagra o princípio da atipicidade da demanda coletiva – permite que sejam 
propostas todas as espécies de ações (condenatórias, declaratórias e constitutivas, pouco importa a classificação que 
se adote). 
Há um procedimento-padrão para as causas coletivas: é o previsto de forma integrada na LACP e no CDC, 
que funciona como o procedimento comum da tutela coletiva. Além deste, é possível visualizar o procedimento especial 
do MSC, da LAP, as ações coletivas para defesa de interesses individuais homogêneos (arts. 91-100 do CDC) e ações 
coletivas de responsabilidade do fornecedor de produtos e serviços (art.102, CDC), o MIC (mandado de injunção coleti-
vo), a AIA, etc. 
 
CAPÍTULO 2 – SITUAÇÕES JURÍDICAS COLETIVAS: DIREITOS COLETIVOS LATO SENSU (DIFUSOS, 
COLETIVOS E INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS) E CASOS REPETITIVOS 
 
1. INTRODUÇÃO 
Denominam-se direitos coletivos lato sensu os direitos coletivos entendidos como gênero, dos quais são espé-
cies: os direitos difusos, os direitos coletivos stricto sensu e os direitos individuais homogêneos (art. 81, 
CDC). 
A doutrina sistematiza da seguinte forma: 
a) direitos essencialmente coletivos = direitos difusos e coletivos stricto sensu – tutela de direitos coletivos; 
b) direitos acidentalmente coletivos = direitos individuais homogêneos – tutela coletiva de direitos. 
 
Fredie Didier afirma que essa classificação doutrinária não é suficiente, sendo necessário analisar ainda outros 
4 
 
3 aspectos: 
i. as situações jurídicas coletivas podem ser ativas e passivas; 
ii. os litígios coletivos podem ser globais, locais ou de difusão irradiada; 
iii. as situações jurídicas coletivas podem ser originadas pela formação de um grupo a partir da técnica de 
julgamento de questões repetitivas. 
 
2. CONCEITO FORMAL (ESTRUTURAL) DE DIREITOS DIFUSOS, COLETIVOS E INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS 
CDC, Art. 81. A defesa dos interesses e direitos dos consumidores e das vítimas poderá ser 
exercida em juízo individualmente, ou a título coletivo. 
Parágrafo único. A defesa coletiva será exercida quando se tratar de: 
I - interesses ou direitos difusos, assim entendidos, para efeitos deste código, os tran-
sindividuais, de natureza indivisível, de que sejam titulares pessoas indeterminadas(INDE-
TERMINÁVEIS) e ligadas por circunstâncias de fato; - ex: publicidade enganosa na TV, pro-
teção ao meio ambiente e preservação da moralidade administrativa. 
II - interesses ou direitos coletivos, assim entendidos, para efeitos deste código, os 
transindividuais, de natureza indivisível de que seja titular grupo, categoria ou classe de pes-
soas (DETERMINÁVEIS) ligadas entre si (EX: ADVOGADOS INSCRITOS NA OAB) ou com a par-
te contrária (EX: ESTUDANTES DE UMA MESMA ESCOLA) por uma relação jurídica base (ES-
TA RELAÇÃO É ANTERIOR À LESÃO); ATENÇÃO! No caso de publicidade enganosa, a “liga-
ção” com a parte contrária também ocorre, só que em razão da lesão, e não do vínculo pre-
cedente, o que configura como direito difuso, e não coletivo stricto sensu. 
III - interesses ou direitos individuais homogêneos, assim entendidos os decorrentes de 
origem comum (DIREITOS NASCIDOS EM CONSEQUÊNCIA DA PRÓPRIA LESÃO, EM QUE A 
RELAÇÃO JURÍDICA ENTRE AS PARTES É POST FACTUM)  a origem dessa categoria de di-
reitos está nas class actions for damages (ações de reparação à coletividade do direito nor-
te-americano). Sem sua criação pelo Direito positivo nacional, não existiria a possibilidade 
de tutela coletiva de direitos individuais com natural dimensão coletiva em razão da sua 
homogeneidade, decorrente da massificação/padronização das relações jurídicas e das le-
sões daí decorrentes. Seu objeto é indivisível, mas, no momento da liquidação e execução 
da sentença, o quinhão devido a cada vítima poderá ser individualizado. 
 
Observação importante: geralmente, a tutela coletiva repressiva (posterior à lesão) será para direitos individu-
ais homogêneos. Quando ainda não tiver ocorrido a lesão, a ação coletiva preventiva (inibitória) para evitar o dano a 
um número indeterminado de pessoas, relacionadas ou não entre si (grupo de “possíveis vítimas”), terá como objeto 
um direito difuso ou coletivo, conforme o caso. 
Outra observação didática: os direitos individuais que serão reunidos nas ações coletivas para tutela de direitos 
individuais homogêneos podem ser objeto de um processo individual instaurado pelas vítimas em litisconsórcio por 
afinidade (art. 113, II, CPC/15). Podem, ainda, ser objeto de ações individuais propostas pelas vítimas isoladamente. 
Essas ações são um bom exemplo de demandas repetitivas que podem dar ensejo ao IRDR ou RExt e REsp repetitivos. 
 
3. TITULARIDADE DOS DIREITOS COLETIVOS LATO SENSU: DIREITOS SUBJETIVOS COLETIVOS 
Os direitos transindividuais não possuem titulares individuais determinados, antes pertencem a uma comuni-
dade ou coletividade. 
Bem esclarece Antonio Gidi: 
“Quanto à titularidade do direito material (aspecto subjetivo), temos que o direito difuso 
pertence a uma comunidade formada de pessoas indeterminadas e indetermináveis; o di-
reito coletivo pertence a uma coletividade (grupo, categoria ou classe) formada de pessoas 
indeterminadas, mas determináveis; os direitos individuais homogêneos pertencem a uma 
comunidade formada de pessoas perfeitamente individualizadas, que também são inde-
terminadas e determináveis”. 
 
4. CRITÉRIOS PARA IDENTIFICAÇÃO DO DIREITO OBJETO DA AÇÃO COLETIVA 
O CDC conceitua os direitos coletivos lato sensu dentro da perspectiva processual, com o objetivo de possibili-
tar a sua instrumentalização e efetiva realização. Do ponto de vista do processo, a postura mais correta, na opinião de 
Fredie Didier, é a que permite a fusão entre o direito subjetivo (afirmado) e a tutela requerida, como forma de identifi-
car, na “demanda”, de qual direito se trata e, assim, prover adequadamente a jurisdição. Não por outro motivo, o autor 
reafirma a característica híbrida de direito material e direito processual intrínseca aos direitos coletivos, um direito “a 
meio caminho”. Nesse particular, revela-se de preponderante importância a correta individuação, pelo advogado, do 
pedido e da causa de pedir, incluindo os fatos e o direito coletivo aplicável na ação. 
Por exemplo, em determinada ação onde se afirme a lesão cometida por veiculação de publicidade enganosa, 
o autor da ação deverá descrever os fatos que justificam a demanda e embasam sua pretensão, afirmando que a publi-
cidade foi ao ar nos dias x e y, através da mídia televisiva, atingindo um universo de pessoas circunscritas em determi-
nada região. Deverá afirmar, ainda, que existe uma extensão possível de várias pessoas atingidas pela publicidade que 
5 
 
adquiriram o produto em erro e que foram lesadas em seus direitos individuais, e que estes direitos, pela característica 
de origem comum, se configuram como individuais homogêneos. Requererá, assim e ao final, “a condenação genérica, 
fixando a responsabilidade do réu pelos danos causados” (art. 95, CDC). 
No exemplo acima temos: 
1) fatos (causa de pedir mediata ou remota), que originam lesão de direito individuais; 
2) um direito afirmado (causa de pedir imediata ou próxima), que pode ser configurado (em tese) como 
direito individual homogêneo por ter origem comum e se estender a vários titulares de direitos individu-
ais hipoteticamente lesados; e 
3) um pedido imediato de condenação genérica, de acordo om o direito afirmado. 
Assim, trata-se claramente de uma ação para tutela de direitos individuais homogêneos. Se o legitimado coleti-
vo tivesse pedido a retirada da publicidade enganosa do ar, estaríamos diante de uma ação coletiva para tutela de direi-
tos difusos. Nesse caso, não seria necessário fazer qualquer referência a pessoas lesadas em seus direitos individuais. 
 
5. INSTRUMENTOS PARA A TUTELA DAS SITUAÇÕES JURÍDICAS COLETIVAS NO DIREITO BRASILEIRO: A 
AÇÃO COLETIVA E O JULGAMENTO DE CASOS/QUESTÕES REPETITIVOS 
No Direito brasileiro, as situações jurídicas coletivas podem ser tuteladas por dois tipos de instrumento: as 
ações coletivas e o julgamento de casos repetitivos (art.928, CPC/15). 
Na ação coletiva, a situação jurídica coletiva é a questão principal do processo – o seu objeto litigioso. 
Enquanto que o julgamento de casos repetitivos tem por objeto a definição sobre qual a solução a ser dada a uma 
questão de direito (processual ou material; individual ou coletivo) que se repete em diversos processos pendentes. A repeti-
ção da questão em diversos processos faz com que surja o grupo daqueles em cujo processo a questão se repete; surge, 
assim, a situação jurídica coletiva consistente no direito à certificação da questão repetitiva. A tese jurídica definida 
vinculará todos os membros do grupo, independentemente de o resultado ser favorável ou desfavorável, como prece-
dente-norma; não se trata de coisa julgada, mas de força obrigatória do precedente. 
Para Didier, há uma diretriz normativa no sentido de se priorizar a tutela coletiva por meio de ação coletiva. Es-
sa opção revela-se com alguma clareza do art.139, X, CPC/15: diante de casos repetitivos, é dever do juiz comunicar o 
fato aos legitimados coletivos, para que verifiquem a viabilidade do ajuizamento de uma ação coletiva. Perceba: consta-
tando a repetição, o órgão julgador tem o dever de informar, para fins de instauração da ação coletiva. 
 
CAPÍTULO 3 – NORMAS FUNDAMENTAIS DA TUTELA JURISDICIONAL COLETIVA 
 
1. CONSIDERAÇÃO INTRODUTÓRIA 
Com o advento do CPC/15, o Processo Civil brasileiro passou a contar com “normas fundamentais”. Estas nor-
mas são inteiramente aplicáveis ao processo coletivo, por serem estruturantes do direito processual brasileiro e esta-
rem em sintonia com a CF e com a função recodificadora do Código. Assim, em relação às normas fundamentais, o 
CPC/15 compõe o núcleo do microssistema do processo jurisdicional coletivo brasileiro. 
 
2. PRINCÍPIO DO DEVIDO PROCESSO LEGAL COLETIVO 
 
2.1. Generalidades 
O devido processo legal precisa ser adaptado ao processo coletivo (devido processo legal coletivo). O processo cole-
tivo exige regramento próprio para diversos institutos, que devem acomodar-se às suas peculiaridades: competência, legiti-
midade, coisa julgada, intervençãode terceiro, execução, etc. Alguns aspectos do devido processo legal coletivo constituem-
se em verdadeiros princípios autônomos do direito processual coletivo; são eles: princípio da adequada representa-
ção, princípio da competência adequada, princípio da certificação adequada, princípio da informa-
ção e publicidade adequadas, e o princípio da coisa julgada diferenciada com a extensão secun-
dum eventus litis da decisão favorável ao plano individual. 
 
2.2. Princípio da adequada representação 
Trata-se de princípio que impõe o controle judicial da adequada legitimação extraordinária, para que a clas-
se/grupo/categoria esteja bem representada nas demandas coletivas. Este princípio é mais bem desenvolvido no capí-
tulo sobre legitimidade ad causam na tutela coletiva. 
 
2.3. Princípio da certificação da ação coletiva 
Entende-se por certificação “a decisão que reconhece a existência dos requisitos exigidos e a subsunção da 
situação fática em uma das hipóteses de cabimento previstas na lei para a ação coletiva (a certificação é um juízo de 
admissibilidade dos pressupostos do processo coletivo). Através dessa decisão, o juiz assegura a natureza coletiva à 
ação proposta”. Também nessa decisão são definidos os contornos do grupo (class definition), o que se revela muito 
importante para o passo seguinte, a notificação ou a cientificação adequada dos membros do grupo. 
Para Antonio Gidi, poderíamos avançar em nosso sistema processual coletivo se fosse possível a class certifica-
tion. Não há vedação, mas não há determinação legal e não há cultura de certificação das ações coletivas e de contro-
le das ações coletivas. 
No direito brasileiro, a certificação deverá ocorrer na fase de saneamento. 
6 
 
 
NCPC, Art.357, §3º Se a causa apresentar complexidade em matéria de fato ou de direito, deverá o juiz 
designar audiência para que o saneamento seja feito em cooperação com as partes, oportunidade em 
que o juiz, se for o caso, convidará as partes a integrar ou esclarecer suas alegações.  Melhor exem-
plo de causa complexa: ação coletiva. 
 
ATENÇÃO! A certificação está prevista no direito brasileiro no regramento da ação de improbidade adminis-
trativa (AIA), que possui uma fase própria e preliminar para verificação da “justa causa” (existência mínima de 
elementos de prova para a demonstração da verossimilhança das alegações) da demanda (art.17, LIA). 
 
2.4. Princípio da informação e publicidade adequadas 
A concretização do princípio da publicidade no processo coletivo impõe visualizá-lo em duas dimensões: 
i) Princípio da adequada notificação dos membros do grupo: é importantíssimo que a existência de um 
processo coletivo seja comunicada aos membros do grupo representado, o que normalmente é feito pela publicação de 
editais. Essa comunicação precisa ser adequada (fair notice) e serve para se possa fiscalizar a condução do processo 
pelo legitimado extraordinário, assim como para que se possa exercer o direito de “entrar” (right to opt in) ou “sair” 
(right to opt out) da incidência da decisão coletiva. No direito brasileiro, há regramento da necessidade de notificação 
nos casos de responsabilidade civil envolvendo direitos individuais homogêneos (art. 94, CDC). Esse tema será abor-
dado no capítulo sobre conexão e continência. 
 
CDC, Art. 94. Proposta a ação, será publicado edital no órgão oficial, a fim de que os interes-
sados possam intervir no processo como litisconsortes, sem prejuízo de ampla divulgação 
pelos meios de comunicação social por parte dos órgãos de defesa do consumidor. 
 
ii) Princípio da informação aos órgãos competentes: configura o dever funcional de informar ao MP 
sobre fatos que constituam objeto de ação civil pública. 
 
LACP, Art. 6º Qualquer pessoa poderá e o servidor público deverá provocar a iniciativa do 
Ministério Público, ministrando-lhe informações sobre fatos que constituam objeto da ação 
civil e indicando-lhe os elementos de convicção. 
 
Art. 7º Se, no exercício de suas funções, os juízes e tribunais tiverem conhecimento de fatos 
que possam ensejar a propositura da ação civil, remeterão peças ao Ministério Público para 
as providências cabíveis. 
 
2.5. Princípio da competência adequada 
Conforme será visto no capítulo sobre competência, o legislador brasileiro optou pela técnica dos foros 
concorrentes (diversos juízes competentes), nas hipóteses em que se afirme a existência de um dano nacional ou 
regional. Assim, nesses casos, o réu pode ser demandado em qualquer capital de Estado-membro ou em Brasília (art. 
93, CDC). Pode o demandante, portanto, ficar em uma situação que lhe permita proceder ao forum shopping (esco-
lha do juízo). Neste contexto, está o princípio da competência adequada, que permite ao juiz da causa (perante o 
qual a demanda foi proposta) controlar a competência adequada, valendo-se da teoria do forum non conveni-
ens, que nasceu como freio ao forum shopping. 
Assim, o próprio juiz da causa, dentro do controle de sua competência, utilizando a regra da Kompetenzkom-
petenz, evitaria julgar causas para as quais não fosse o juízo mais adequado. 
O princípio da competência adequada poderia ser reduzido, pois, ao seguinte enunciado normativo: “compe-
tência adequada: nas demandas coletivas, a competência territorial concorrente é absoluta e será fixada pela preven-
ção; nada obsta, entretanto, que em face de outro foro competente seja modificada a competência quando este se 
revele mais adequado a atender aos interesses das partes ou às exigências da justiça em geral. 
 
3. PRINCÍPIO DA PRIMAZIA DO CONHECIMENTO DO MÉRITO DO PROCESSO COLETIVO 
De acordo com esse princípio, deve o órgão julgador priorizar a decisão de mérito, tê-la como objetivo e fazer 
o possível para que ocorra. A demanda deve ser julgada – seja ela a demanda principal (veiculada pela petição inicial), 
seja um recurso, seja uma demanda incidental. O art.4º do CPC/15, de modo bem assertivo, garante à parte o direito à 
solução integral do mérito. Existem inúmeros outros dispositivos do CPC/15 que reforçam e concretizam este princípio. 
 
4. PRINCÍPIO DA INDISPONIBILIDADE DA DEMANDA COLETIVA. O PROBLEMA DA DESISTÊNCIA DA AÇÃO 
COLETIVA 
O processo coletivo está contaminado pela ideia da indisponibilidade do interesse público primário. Esta indis-
ponibilidade não é, contudo, integral: há uma “obrigatoriedade temperada com a conveniência e a oportunidade” para 
o ajuizamento da ação coletiva. 
E é claro que essa obrigatoriedade está predominantemente voltada para o MP, já que ele tem o dever funci-
onal de propor a demanda, mas sempre com um certo grau de discricionariedade. O MP, nas ações em que não é par-
7 
 
te autora, deverá sempre intervir como fiscal da ordem jurídica; e, nos casos de desistência infundada ou abandono 
por parte do autor, deverá dar continuidade à ação coletiva. 
Quanto à demanda coletiva executiva, esta indisponibilidade é ainda mais acentuada, não comportando 
exceções, afinal, a coletividade já tem um título executivo a seu favor e é dever do Estado efetivar esse direito co-
letivo. 
 
5. POSTULADO HERMENÊUTICO DO MICROSSISTEMA: APLICAÇÃO INTEGRADA DAS LEIS PARA A TU-
TELA COLETIVA (DIÁLOGO DAS FONTES) 
Os processos coletivos são regidos por regras e princípios próprios e integrados, cuja compreensão e aplicação 
devem ser feitas em permanente diálogo. 
Sempre que houver uma aparente lacuna nesse conjunto normativo, caberá ao aplicador buscar a solução pa-
ra o problema dogmático dentro do microssistema da tutela coletiva. 
É certo que o CPC/15 é o primeiro código de processo civil brasileiro produzido já levando em consideração a 
tutela coletiva. As diversas técnicas processuais avançadas previstas no CPC, todas elas aplicáveis ao processo coletivo, 
permitem que se possa dizer que, em certa medida, também essas técnicas – por terem um caráter bifronte e hete-
rotópico – compõem a tutela coletiva. 
Aplicável, assim, a teoria do diálogo das fontes, desenvolvidano Brasil por Cláudia Lima Marques: há di-
versas fontes de normas coletivas, que devem ser interpretadas em permanente diálogo sistemático de coerência: “na 
aplicação simultânea das duas leis, uma lei pode servir de base conceitual para a outra”. 
Quando não houver no diploma específico norma que contradiga essa solução, ou mesmo havendo, esta 
norma for mais estreita na aplicação, deverá prevalecer a interpretação sistemática, decorrente das regras do CDC e 
da LACP, em conjunto e harmonia com a CF e as normas fundamentais do CPC/15. 
Aliás, não só essas, mas, também, se necessário, uma leitura “intercomunicante de vários diplomas”, já que es-
te microssistema é formado de “normas múltiplas de comunicação e influência subsidiária”, como as normas processu-
ais da Ação Popular, do Estatuto do Idoso, do Estatuto da Criança e do Adolescente, da Lei de Improbidade Administra-
tiva, etc. 
O microssistema do processo coletivo e o CPC se aplicam conforme um diálogo das fontes. A aplicação do CPC 
ao microssistema da tutela coletiva é supletiva e subsidiária conforme o caso; supletiva quando não há no microssiste-
ma disciplina da matéria, por exemplo, no caso dos precedentes obrigatórios e das demais normas fundamentais; sub-
sidiária, quando a disciplina na matéria é incompleta, como por exemplo, no caso da previsão da distribuição do ônus 
da prova. Em ambos os casos, a aplicação somente poderá ser feita se não houver incompatibilidade com a disciplina 
própria do microssistema – por isso, sempre deve ser considerada residual. 
 
6. PRINCÍPIO DA REPARAÇÃO INTEGRAL DO DANO 
 
LAP, Art. 11. A sentença que, julgando procedente a ação popular, decretar a invalidade do 
ato impugnado, condenará ao pagamento de perdas e danos os responsáveis pela sua 
prática e os beneficiários dele, ressalvada a ação regressiva contra os funcionários causado-
res de dano, quando incorrerem em culpa. 
 
Mesmo que não tenha sido feito o pedido de condenação para reparação integral do dano, este se retira da 
natureza da AP e da AIA, admitindo-se uma espécie de pedido implícito. 
Outra faceta desse princípio está na chamada fluid recovery (recuperação fluida): mesmo que não haja 
liquidação e execução da indenização por parte da totalidade dos titulares dos direitos individuais homogêneos, a repa-
ração deverá ser integral e o valor será revertido para o Fundo de Defesa dos Direitos Difusos. 
 
7. PRINCÍPIO DA NÃO TAXATIVIDADE E ATIPICIDADE (MÁXIMA AMPLITUDE) DA AÇÃO E DO PROCESSO CO-
LETIVO 
 
7.1. Generalidades 
Este importante princípio tem uma faceta dupla: ao tempo em que não se pode negar o acesso à justiça aos di-
reitos coletivos novos, já que o rol do art.1º da LACP é expressamente aberto, quaisquer formas de tutela são admitidas 
para a efetividade desses direitos, nos termos do que prevê o art.83 do CDC. 
Ou seja: 
a) o rol legal de direitos coletivos é exemplificativo (há direitos coletivos atípicos); 
b) todos os procedimentos podem servir à tutela coletiva – mandado de segurança, ação possessória, recla-
mação, ação rescisória, ação de exigir contas etc. 
 
LACP, Art. 1º Regem-se pelas disposições desta Lei, sem prejuízo da ação popular, as ações 
de responsabilidade por danos morais e patrimoniais causados: 
IV - a qualquer outro interesse difuso ou coletivo. 
 
CDC, Art. 83. Para a defesa dos direitos e interesses protegidos por este código são admissí-
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veis todas as espécies de ações capazes de propiciar sua adequada e efetiva tutela. 
 
ATENÇÃO! O “nome” dado à ação coletiva não importa para fins de sua admissibilidade em juízo. O que é importa é a 
“substância” da ação. 
 
7.2. O mandado de segurança coletivo como instrumento processual para a tutela de direitos difusos 
Questão das mais tormentosas, na aplicação do princípio da atipicidade da tutela coletiva, é a de saber se é 
possível tutelar direito difuso por meio de mandado de segurança. Isso porque o art.21 da LMS restringe o objeto do 
MSC aos direitos coletivos em sentido estrito e aos direitos individuais homogêneos. 
Para Didier e doutrina majoritária, esta regra é inconstitucional, pois, além de violar o princípio da inafas-
tabilidade da jurisdição, qualquer restrição ao MS deve ser compreendida como restrição a direito fundamental; e res-
trição a direito fundamental deve se dar de forma fundamentada, o que não ocorre na hipótese, em que a LMS está em 
descompasso com a evolução da tutela coletiva no direito brasileiro, especialmente o MSC. 
 
8. PRINCÍPIO DA PREDOMINÂNCIA DE ASPECTOS INQUISITORIAIS NO PROCESSO COLETIVO 
O processo coletivo é estruturado de modo a predominarem os aspectos de um modelo inquisitivo de proces-
so. Existe um certo desequilíbrio, tanto em aspectos materiais como em aspectos processuais, em prol dos processos 
coletivos. 
Seja em função dos sujeitos tutelados (grupos), seja em função das situações litigiosas (direitos coletivos), 
permite-se uma conduta mais incisiva, participativa, dirigente e decisiva do juiz em matéria processual coletiva do 
que nos processos individuais, que irá variar de acordo com cada caso concreto. 
 
9. PRINCÍPIO DA PRIMAZIA DA DECISÃO DE MÉRITO DO PROCESSO COLETIVO EM RELAÇÃO À DECISÃO DE 
MÉRITO DO PROCESSO INDIVIDUAL 
No Direito brasileiro, pendentes processos coletivo e individual que digam respeito a uma mesma situação, 
prioriza-se a solução do processo coletivo. 
Evidentemente, a prioridade da solução de mérito coletiva não pode inviabilizar a tutela individual. Para tanto, 
há 3 compensações sistêmicas: 
i. há que se estabelecer um prazo para a suspensão dos processos individuais; 
ii. sempre será possível a obtenção de tutela provisória de urgência no processo individual, a despeito de sua 
suspensão; 
iii. na fase de execução, incide a regra do art. 99 do CDC (Em caso de concurso de créditos decorrentes de con-
denação prevista na Lei n.° 7.347, de 24 de julho de 1985 e de indenizações pelos prejuízos individuais resultantes do 
mesmo evento danoso, estas terão preferência no pagamento). 
 
CAPÍTULO 4 – COMPETÊNCIA 
 
1. PRINCÍPIO DA COMPETÊNCIA ADEQUADA 
Conforme visto no capítulo sobre as normas fundamentais do processo coletivo, um dos aspectos mais impor-
tantes do devido processo legal coletivo é exatamente a competência adequada. 
 
2. COMPETÊNCIA TERRITORIAL 
 
2.1. Distinção entre competência funcional e competência territorial absoluta 
O legislador brasileiro e parte da doutrina nacional adotam, em alguns momentos, a concepção chiovendiana, 
segundo a qual também se visualiza a competência funcional quando uma causa é confiada ao juiz de determinado ter-
ritório, pelo fato de ser a ele mais fácil ou mais eficaz exercer a sua função. Cria-se, então, uma competência territorial 
funcional (art. 47, CPC/15; art. 2º, LACP; art. 80, Estatuto do Idoso). 
Sobre a competência territorial funcional: o caso é de competência territorial, cujo desrespeito implica em in-
competência absoluta (excepcional, é verdade, à luz do art.63 do CPC/15). 
 
2.2. A competência para a ação civil pública como hipótese de competência territorial absoluta 
 
LACP, Art. 2º As ações previstas nesta Lei serão propostas no foro do local onde ocorrer o 
dano, cujo juízo terá competência funcional para processar e julgar a causa.  Regra re-
produzida no ECA, CDC e Estatuto do Idoso. 
 
A doutrina mais recente já vem percebendo o equívoco de qualificar a competência territorial na ação coletiva 
como competência funcional. Tem-se preferido designá-la como competência territorial absoluta. 
 
ECA, Art. 209. As ações previstas neste Capítulo serão propostas no foro do local onde ocor-
reu ou deva ocorrer a ação ou omissão, cujo juízo terá competência absoluta para processar 
a causa, ressalvadas a competência da Justiça Federal e a competência originária dos tribu-
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nais superiores. Essa regra deve ser aplicada a todo o microssistema. 
 
Enfim, a competência territorial para a ACP é absoluta. A lei qualifica a competênciado foro do local do da-
no como funcional exatamente para que não paire dúvida sobre a natureza de ordem pública dessa regra. 
 
2.3. Competência quando o dano ou o ilícito for nacional 
A LACP determina a competência para o foro do local do dano. Não cuida das situações em que o dano é naci-
onal ou regional. A solução está em recorrer ao art. 93 do CDC, aplicando-se o microssistema. 
 
 
CDC, Art. 93. Ressalvada a competência da Justiça Federal, é competente para a causa a jus-
tiça local: 
I - no foro do lugar onde ocorreu ou deva ocorrer o dano, quando de âmbito local; 
II - no foro da Capital do Estado ou no do Distrito Federal, para os danos de âmbito nacional 
ou regional, aplicando-se as regras do Código de Processo Civil aos casos de competência 
concorrente. 
 
2.4. Competência quando o dano ou o ilícito for regional 
O problema da competência quando o dano ou ilícito for regional é ainda mais complicado. O CDC, como visto, 
prevê que qualquer capital é competente para a ação coletiva. 
Não há uma definição do que seja dano regional. Pode-se compreender como dano regional aquele que abarca 
uma das regiões do país (Norte, Centro-Oeste, Nordeste, Sul e Sudeste); ou ainda um dano que atinja um número mí-
nimo de comarcas. 
Neste caso, aparece a importância da aplicação do princípio da competência adequada, devendo-se prestigiar 
ao máximo o juízo de uma das comarcas envolvidas na situação. 
A regra geral para a definição da competência, muito embora não seja absoluta, prevê sempre o local do dano 
ou ilícito como juízo preponderante. Isso porque a definição do juízo tem direta relação com a instrução probatória, 
com a proximidade do juiz dos fatos ocorridos, com a publicidade da ação e a possibilidade de participação das partes, 
adequada notificação e conhecimento do grupo afetado, etc. Logo, os Estados-Membros não atingidos, assim como o 
DF, se não atingido pelo dano, não podem ser adequados para fins de julgar o litígio. 
 
2.5. Competência quando o dano ou o ilícito for estadual 
Não há regra expressa que cuide desta hipótese. Para Didier, aplica-se por analogia a regra do dano/ilícito na-
cional, ou seja, competente é a capital do Estado envolvido. 
 
3. COMPETÊNCIA PARA A AÇÃO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA 
 
3.1. A inconstitucionalidade da Lei nº 10.628/2002 (Prerrogativa de função) 
Sobre a controvérsia a respeito da possibilidade de agentes com foro por prerrogativa de função poderem ser 
julgados, em ação de improbidade, por Tribunal em 1ª instância, devido à proximidade que a AIA teria com o direito 
penal, o STF entendeu, ao analisar a ADI 2797 e ADI 2860, pela: 
a) Impossibilidade de criar competência dos tribunais superiores por norma infraconstitucional; 
b) Natureza cível (não penal) da ação de improbidade administrativa. 
 
3.2. Competência para Julgamento dos Agentes Políticos (Crime de Responsabilidade e Bis in Idem) 
Os agentes políticos podem ser responsabilizados por improbidade administrativa ou apenas por crimes de 
responsabilidade? Os fundamentos do voto do Min. Joaquim Benedito Barbosa Gomes são decisivos para defender a 
duplicidade dos sistemas de responsabilização: 
a) política-administrativa, para os crimes de responsabilidade; e 
b) judicial, para os atos de improbidade administrativa. 
O STJ entende que todos os agentes políticos municipais se submetem aos ditames da LIA, sem prejuízo da 
responsabilização política e criminal estabelecida no Decreto-Lei 201/67. Ressalvados o Presidente da República e 
os Ministros do STF, todos os agentes políticos poderão ser responsabilizados pelas sanções pre-
vistas no art. 37, §4º, CF. 
 
3.3. Limitação da decisão do juiz de 1º grau nas ações de improbidade: impossibilidade 
Não se pode aceitar a tese que vem predominando no STJ no sentido de que a AIA proposta contra o agente político 
que tenha foro por prerrogativa de função é processada e julgada pelo juiz de primeiro grau, mas, limitada a decisão deste juiz 
à imposição de penalidades patrimoniais e vedada a aplicação das sanções de suspensão dos direitos políticos e de perda do 
cargo. 
A análise das sanções deve ser em razão da gravidade dos fatos, decorre da dosimetria. Não faz nenhum senti-
do limitar a decisão do juiz não ação de improbidade às sanções que ele já poderia obter em ações civis públicas. 
 
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4. OUTRAS HIPÓTESES DE COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL PARA PROCESSAR E JULGAR AÇÃO COLETI-
VA 
Compete aos juízes federais processar e julgar as causas em que houver grave violação a direitos humanos 
(art.109, V-A, CF) e que envolverem direitos indígenas (Art. 109, XI, CF  Direitos dos índios coletivamente considera-
dos). 
Cabe lembrar, neste momento, que a hipótese do inciso V-A do art.109 da CF diz respeito tanto a ações penais 
quanto a ações civis; dentre essas, avulta a ação coletiva cuja causa de pedir for uma grave violação a direitos humanos, 
que na forma do § 5º desse mesmo art. 109, pode estar no âmbito de atuação da Justiça Federal se, a requerimento do 
PGR e, verificada a ineficácia das autoridades estaduais para a solução do problema, o STJ autorizar essa modificação de 
competência. 
 
5. COMPETÊNCIA DO STF PARA AS AÇÕES COLETIVAS QUE ENVOLVAM CONFLITOS ENTRE ESTADOS OU 
ENTRE ESSES E A UNIÃO (Art.102, I, “F”, CF) 
 
CF, Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-
lhe: I - processar e julgar, originariamente: 
f) as causas e os conflitos entre a União e os Estados, a União e o Distrito Federal, ou entre uns e outros, 
inclusive as respectivas entidades da administração indireta; 
 
6. CASOS EXTRAORDINÁRIO DE COMPETÊNCIA ORIGINÁRIA DO STF PARA JULGAR A AÇÃO POPULAR 
De acordo com o art. 5º da LAP, a regra geral nas ações populares é de que a competência será do juízo de 1º 
grau, conforme a origem do ato, não importando qual seja a autoridade impugnada: Presidente da República, Presiden-
te das Mesas da Câmaras dos Deputados ou do Senado Federal, Juízes, Prefeitos, etc. 
Há duas hipóteses em que a ação popular será julgada pelo STF, quando: 
a) a AP interessar à totalidade dos juízes estaduais e/ou ficar configurado, após o julgamento na 1ª ins-
tância, o impedimento de mais da metade dos desembargadores para apreciar o recurso voluntá-
rio/remessa obrigatória, ocorrerá a competência do STF, com base no art.102, I, “n”, CF; 
b) a causa envolver conflito entre a União e Estado-membro. 
 
7. COMPETÊNCIA PARA JULGAMENTO DE AÇÃO CIVIL PÚBLICA SOBRE POLUIÇÃO VISUAL POR PROPAGAN-
DA POLÍTICA: JUSTIÇA ELEITORAL OU JUSTIÇA COMUM? 
O STJ decidiu que a competência para julgamento de matéria ambiental, relacionada à poluição visual causada 
por partido político, é da justiça comum estadual. Como a causa não versa sobre questão eleitoral, não há razão para 
que o trâmite se dê na Justiça Eleitoral. 
 
CAPÍTULO 5 - CONEXÃO E LITISPENDÊNCIA ENTRE AÇÕES COLETIVAS E A RELAÇÃO ENTRE 
AÇÕES COLETIVAS E AÇÕES INDIVIDUAIS 
 
1. CONEXÃO 
 
1.1. Considerações gerais sobre a conexão 
A conexão é fato jurídico processual que normalmente produz o efeito jurídico de determinar a modificação 
da competência, de modo a que um único juízo tenha competência para processar e julgar todas as causas conexas; 
tem por objetivo promover a economia processual e evitar a prolação de decisões contraditórias. 
Prevenção é o critério para determinar em qual dos juízos as causas conexas haverão de ser reunidas. 
Normalmente, considera-se prevento o juízo perante o qual a primeira demanda foi proposta (art. 59, CPC/15 - Art. 59. 
O registro ou a distribuição da petição inicial torna prevento o juízo). A competência que surge para o juízo prevento 
tem natureza absoluta (funcional), sendo essa a razão pela qual é possível o conhecimento ex officio da conexão e da 
continência. 
 
1.2. A conexão e a prevenção na tutela jurisdicional coletiva 
 
LACP, Art.2º, Parágrafo único. A propositura da ação prevenirá a jurisdição do juízo para 
todas as açõesposteriormente intentadas que possuam a mesma causa de pedir OU o 
mesmo objeto. 
 
1. Como se vê, segue-se o padrão da legislação individual, onde se consideram conexas duas ou mais 
causas quando semelhantes a causa de pedir ou o objeto. Para Didier, esta regulação não foi feliz. Se-
ria mais recomendável, em sua opinião, que não houvesse “conceito legal” de conexão, cuja respon-
sabilidade ficaria para a doutrina e jurisprudência, cabendo ao legislador regular os efeitos da cone-
xão. ATENÇÃO! A cláusula geral do § 3º do art. 55 do CPC/15 aplica-se integralmente ao exame da 
conexão em causas coletivas. 
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2. O texto da LACP considera prevento o juízo que conheceu do primeiro processo (propositura da ação). 
A demanda considera-se proposta na data em que a petição inicial foi protocolada (art. 312, CPC). Su-
cede que não basta o protocolo para que haja a prevenção, pois há necessidade de identificar-se 
quem é o juízo da causa, que será o prevento; essa identificação far-se-á pelo registro ou pela distri-
buição (esta, nas comarcas em que houver mais de um juízo competente para a causa). 
 
3. A conexão em causas coletivas submete-se ao mesmo regime jurídico da conexão em processo indivi-
dual: o magistrado pode conhecê-la de ofício e a qualquer tempo, podendo ser alegada por qualquer 
das partes. 
 
4. Para Cassio Scarpinella Bueno, o art.2º, § único, da LACP aplica-se também à continência. Nesse sen-
tido há inclusive um enunciado de Súmula do STJ (489): Reconhecida a continência, devem ser reuni-
das na Justiça Federal as ações civis públicas propostas nesta e na Justiça estadual. 
 
2. LITISPENDÊNCIA 
 
2.1. Considerações gerais sobre a litispendência 
Litispendência é palavra que assume dois significados na dogmática processual: 
i. pendência da causa, o percorrer criativo da existência do processo; 
ii. “pressuposto processual” negativo, que obsta a repropositura de demanda ainda pendente de análise. Aqui, 
trabalharemos com a segunda acepção. 
Normalmente, costuma-se afirmar que há litispendência quando houver tríplice identidade entre os elementos 
da demanda (mesmas partes, mesmo pedido e mesma causa de pedir). Mas esta não é a única hipótese em que há litis-
pendência: há litispendência quando pendem processos com mesmo conteúdo (mesma situação jurídica controvertida). 
 
2.2. Litispendência entre demandas coletivas 
 
2.2.1. Generalidades. Litispendência entre demandas coletivas propostas por legitimados diversos 
Nas ações coletivas, a legitimidade ad causam é extraordinária (o legitimado age em nome próprio defen-
dendo interesse da coletividade), concorrente (há vários legitimados) e disjuntiva (qualquer um deles pode propor 
sozinho a demanda coletiva). Assim, é possível que uma mesma ação coletiva seja proposta por diferentes legitimados, 
caso em que haverá litispendência sem identidade entre as partes autoras. A identidade de parte autora é irrelevante 
para a configuração da litispendência coletiva. 
 
2.2.2. Efeito da litispendência entre demandas coletivas com partes distintas 
Normalmente, costuma-se atribuir à litispendência o efeito de extinguir o segundo processo sem exame do 
mérito. Para Didier, este deve ser o efeito quando houver litispendência entre causas coletivas com a tríplice identidade 
dos elementos da demanda. Quando, por outro lado, houver litispendência com partes autoras diversas, a solução será 
a reunião dos processos para processamento simultâneo (é muito mais prático e rápido reunir as causas do que ex-
tinguir um dos processos e permitir que o legitimado peça para intervir no processo que sobreviveu). 
 
2.2.3. Litispendência entre as demandas coletivas que tramitam sob procedimentos diversos 
É plenamente possível que uma ACP verse sobre o mesmo tema de uma AP, ou seja, é possível que uma mes-
ma ação coletiva tramite por procedimentos diversos. Embora com procedimentos distintos, haveria litispendência se 
ajuizadas simultaneamente, já que a similitude do procedimento é irrelevante para a configuração da litispendência. 
Havendo litispendência, a solução é a reunião dos processos para evitar julgamento conflitantes. 
 
2.2.4. Há litispendência entre uma ação coletiva que versa sobre direitos difusos e outra que versa sobre direitos in-
dividuais homogêneos? 
Há quem entenda não haver litispendência entre ação coletiva que discuta direito difuso e outra que discuta 
direitos individuais homogêneos, ainda que ambas estejam fundamentadas nos mesmos fatos (causa de pedir remota). 
Para Didier, esta é a posição correta. Todavia, embora não haja litispendência, há entre essas ações uma relação de 
preliminaridade. 
A procedência da ação coletiva em defesa de direito difuso torna desnecessária a ação coletiva em defesa de 
direitos individuais homogêneos, em razão da extensão in utilibus da coisa julgada coletiva para o plano individual. 
Essa relação de preliminaridade gera conexão entre as causas, que implica reunião dos processos. 
 
3. RELAÇÃO ENTRE A AÇÃO COLETIVA E A AÇÃO INDIVIDUAL 
 
3.1. A ação coletiva não induz litispendência para a ação individual 
 
CDC, Art. 104. As ações coletivas, previstas nos incisos I e II e do parágrafo único do art. 81, 
12 
 
não induzem litispendência para as ações individuais, mas os efeitos da coisa 
julgada erga omnes ou ultra partes a que aludem os incisos II e III do artigo anterior não be-
neficiarão os autores das ações individuais, se não for requerida sua suspensão no prazo de 
trinta dias, a contar da ciência nos autos do ajuizamento da ação coletiva. 
 
3.2. O pedido de suspensão do processo individual. A ciência inequívoca da existência do processo coletivo 
e o ônus do demandado de informar o autor individual 
Muito embora a coisa julgada coletiva não possa prejudicar os indivíduos, ela poderá beneficiá-los. O indivíduo 
pode valer-se da coisa julgada para o ajuizamento de ação de liquidação dos seus respectivos prejuízos. É o que se cha-
ma de transporte in utilibus da coisa julgada coletiva para o plano individual. 
Sucede que a extensão in utilibus da coisa julgada coletiva não ocorrerá “se não for requerida sua suspensão no 
prazo de 30 dias, a contar da ciência nos autos do ajuizamento da ação coletiva” (art. 104, CDC). 
O prosseguimento do processo individual (iniciado antes ou depois da propositura da ação coletiva, pouco im-
porta) significará a exclusão do indivíduo-autor dos efeitos da sentença coletiva. 
A opção por suspender ou não o andamento da ação individual somente é válida se lhe for garantida a ciência 
inequívoca da existência do processo coletivo, o que ocorrerá quando se der nos próprios autos. 
Cabe ao réu o dever de informar a respeito da existência da ação coletiva, pois há um interesse seu em evi-
tar que seja demandado mais de uma vez ao mesmo tempo em torno de uma mesma situação. Cria-se, então, um 
ônus para o réu, que, se não for cumprido, o autor individual poderá se beneficiar da coisa julgada coletiva mesmo no 
caso de a ação individual ser rejeitada. 
Qual a consequência, sobre o processo individual que fora suspenso, do trânsito em julgado da decisão favorá-
vel no processo coletivo? 
Parece que a melhor solução é considerar este fato (o trânsito em julgado) como fato superveniente que inter-
fere na decisão do caso individual; assim, aplicando o art. 493 do CPC, o juiz deveria tomar a coisa julgada coletiva como 
fundamento para julgar procedente o pedido individual, iniciando-se imediatamente a liquidação, ou, alternativamen-
te, considerar reduzido o objeto litigioso do processo individual: de certificação de todos os elementos da norma jurí-
dica individualizada (“se deve”, “quem deve”, “a quem deve”, “o que deve” e “quando deve”) para a certificação de 
apenas alguns desses elementos (“a quem deve” e “quanto deve”). 
 
 
3.3. A desistência do mandado de segurança individual em razão da pendência do mandado de segurança 
coletivo. Art. 22, § 1º, da Lei 12.016/2009. Possível inconstitucionalidade.Apelo ao microssistema 
 
LMS, Art.22, §1o O mandado de segurança coletivo não induz litispendência para as ações 
individuais, mas os efeitos da coisa julgada não beneficiarão o impetrante a título individual 
se não requerer a desistência de seu mandado de segurança no prazo de 30 dias a contar da 
ciência comprovada da impetração da segurança coletiva. 
 
Esta regra que exige a “desistência” é estranha e pode revelar-se inconstitucional se, no caso concreto, a desis-
tência implicar a perda do direito fundamental ao MS (o que geralmente ocorrerá, salvo nos casos de MS contra omis-
são), que deve ser exercitado em 120 dias. 
Assim, dificilmente o impetrante desistirá do MS, com toda razão. A solução legislativa é bem ruim e a tendên-
cia é que a jurisprudência considere que o mais adequado seja a suspensão do processo individual, conforme a regra 
geral do microssistema. 
 
3.4. Há continência entre ação coletiva e ação individual? 
Seria possível considerar o pedido da ação coletiva mais abrangente do que o da ação individual e, portanto, 
reconhecer a existência de continência entre essas demandas? 
Ricardo de Barros Leonel afirma não ser possível falar em continência, pois, além da diversidade de 
parte ativa, as causas de pedir de ambas dificilmente seriam idênticas, e os pedidos sempre distintos. Alega também 
que a reunião da ação coletiva e da individual trará mais prejuízo que benefícios. 
Para Didier, o efeito da conexão/continência entre ação coletiva e individual seria a suspensão do procedimen-
to da ação individual, à espera do julgamento da causa coletiva, até mesmo ex officio pelo tribunal. Porém, deve ser 
observado, sempre, o princípio de que a ação coletiva no Brasil não constitui óbice à tutela individual do direito, permi-
tindo-se nos autos da ação individual a exclusão e a continuação de seu processo sempre que a referida suspensão ex 
officio ultrapassar prazo razoável. 
 
 
3.5. O direito à autoexclusão (right to opt out) no microssistema brasileiro de tutela coletiva 
O direito à autoexclusão da jurisdição coletiva consiste no poder jurídico de o indivíduo, por expressa manifes-
tação de vontade, renunciar à jurisdição coletiva. Ao se excluir, o indivíduo não será prejudicado pela sentença desfavo-
rável e também não poderá ser beneficiado pela coisa julgada da sentença favorável. 
 
13 
 
3.6. Possibilidade de suspensão do processo individual independentemente de requerimento da parte. O 
julgamento do REsp n. 1.110.549/RS (recurso especial repetitivo) e o CPC 
De acordo com a legislação brasileira, é possível coexistirem ação coletiva e ação individual. O ajuizamento da 
ação coletiva não impede o prosseguimento da ação individual, que somente será suspensa a requerimento do indiví-
duo. 
No REsp n. 1.110.549-RS, rel. Min. Sidnei Beneti, decidiu-se que “ajuizada ação coletiva atinente à macrolide 
geradora de processos multitudinários, suspendem-se as ações individuais, no aguardo do julgamento da ação coleti-
va”. A decisão foi impugnada por RExt, não conhecido pelo STF sob o fundamento de que o tema era infraconstitucio-
nal. 
Essa suspensão pode dar-se de ofício pelo órgão julgador. 
Na ocasião do julgamento, deixou-se claro que esse entendimento “não nega vigência aos arts. 51, IV e § 1º, 
103 e 104 do CDC [...] com os quais se harmoniza, atualizando-lhes a interpretação extraída da potencialidade desses 
dispositivos legais [...]”. A vítima não fica impedida de ajuizar a sua demanda, mas o processo respectivo poderá ser 
suspenso. Demais disso, poderá influenciar a decisão do processo coletivo, seja intervindo na qualidade de amicus cu-
riae, seja pela intervenção de que trata o art. 94 do CDC. 
 
Art. 94. Proposta a ação, será publicado edital no órgão oficial, a fim de que os interes-
sados possam intervir no processo como litisconsortes, sem prejuízo de ampla divulgação 
pelos meios de comunicação social por parte dos órgãos de defesa do consumidor. 
 
Para Didier, essa decisão revela como é possível “reconstruir” o sistema jurídico a partir da interpretação cor-
reta dos textos normativos existentes. Trata-se de uma das mais importantes decisões do STJ sobre a tutela jurisdicional 
coletiva e a tutela individual dos direitos individuais homogêneos. 
 
CAPÍTULO 6 – LEGITIMAÇÃO AD CAUSAM NAS AÇÕES COLETIVAS 
 
1. NATUREZA JURÍDICA DA LEGITIMAÇÃO COLETIVA 
Na doutrina, estabeleceram-se 3 correntes a respeito da natureza jurídica da legitimação coletiva: 
a) legitimação ordinária; 
b) legitimação extraordinária; e 
c) legitimação autônoma para condução do processo. 
Doutrina majoritária - e também a jurisprudência dos tribunais superiores - entende que a legitimação ao pro-
cesso coletivo é extraordinária: autoriza-se um ente a defender, em juízo, situação jurídica de que é titular um grupo ou 
uma coletividade. 
 
2. LEGITIMAÇÃO EXTRAORDINÁRIA COLETIVA DECORRENTE DE NEGÓCIO JURÍDICO PROCESSUAL: IMPOS-
SIBILIDADE, COMO REGRA 
Uma discussão que pode surgir após o CPC/15 é de saber se é lícita a legitimação extraordinária coletiva de 
origem negocial, a partir da combinação entre os arts. 18, que permite a legitimação extraordinária decorrente do or-
denamento jurídico, e o 190, ambos do CPC, que permite as convenções processuais atípicas. 
Para Didier, admite-se a legitimação extraordinária de origem negocial. Mas essa permissão pressupõe que a 
legitimação seja transferida, por convenção processual, de um legitimado ordinário para o extraordinário. 
No caso da tutela coletiva, isso seria, em princípio, inadmissível, pois: a) não há legitimado ordinário na tutela 
coletiva; e b) caso fosse possível que um legitimado extraordinário coletivo atribuísse a outro ente essa legitimação, 
estaríamos diante de uma clara fraude à lei: um ente, sem autorização legal nem autorização do titular do direito discu-
tido, estaria em juízo na defesa de direito de que não é titular. 
Uma ressalva deve ser feita às comunidades indígenas, possivelmente o único grupo que, além de ter capaci-
dade de ser parte, tem legitimidade para ir a juízo defender os próprios direitos. No caso das comunidades indígenas, 
há uma legitimação ordinária para a tutela coletiva e, por isso, pode-se admitir que a comunidade indígena atribua a 
outrem, por convenção processual, legitimação extraordinária para a tutela de seus direitos. 
 
3. LEGITIMAÇÃO ATIVA 
No direito brasileiro, optou-se por adotar um rol legal de legitimados à ação coletiva, sendo utilizadas 3 téc-
nicas para sua definição: 
a) legitimação do particular (qualquer cidadão, por ex., na ação popular); 
b) legitimação das pessoas jurídicas de direito privado (sindicatos, associações, partidos políticos); ou 
c) legitimação de órgãos do Poder Público (MP e DP, por ex.). 
 
ATENÇÃO! Apesar de a legitimação coletiva estar regulada em lei, poderá ser aferida em concreto a presença da 
adequada representação. 
 
4. CARACTERÍSTICAS DA LEGITIMAÇÃO COLETIVA 
14 
 
A legitimação se dá por substituição processual autônoma, exclusiva, concorrente e disjuntiva. 
Há legitimidade extraordinária autônoma quando o legitimado extraordinário está autorizado a conduzir o 
processo independentemente da participação do titular do direito litigioso. 
Há legitimidade extraordinária exclusiva, se apenas o legitimado extraordinário puder ser a parte principal do 
processo, cabendo ao protagonista da situação litigiosa, se já não fizer parte da demanda, intervir no processo na 
condição de assistente litisconsorcial (litisconsorte ulterior). ATENÇÃO! Nas ações coletivas, essa intervenção só é pos-
sível quando estiverem sendo discutidos direitos individuais homogêneos (art. 94, CDC). 
Há legitimação concorrente ou colegitimação quando mais de um sujeito de direito estiver autorizado a ir a 
juízo. 
E, por fim, a legitimação é disjuntiva, porque, apesar de concorrente, cada legitimado a exerce independen-
temente da vontade dos demais legitimados. 
 
5. O PROBLEMA DO INTERESSE DO SUBSTITUTOA substituição processual independe da existência ou não de um específico interesse processual ou material do 
substituto: o que se deve averiguar é a existência de um interesse processual na solução do conflito, decorrente da po-
sição jurídica ocupada pelo grupo, sem relacioná-lo à figura do substituto processual. 
Sobre a legitimidade do MP, a jurisprudência e a doutrina tendem a permitir o ajuizamento das ações, reco-
nhecendo a legitimidade ativa, quer seja indisponível ou disponível o direito homogêneo alegado, desde que, neste 
último, se apresente com relevância social (presença forte do interesse público primário) ou amplitude significativa 
(grande o número de direitos individuais lesados). Nestes casos, não serão simples direitos individuais, mas interesses 
sociais, finalidade afeta “sempre” ao MP. 
 
6. CONTROLE JURISDICIONAL DA LEGITIMAÇÃO COLETIVA 
Para uma corrente doutrinária, o legislador fixou um rol taxativo de legitimados extraordinários coletivos, no 
qual se firmou uma presunção absoluta de que seriam “representantes adequados”, não cabendo ao magistrado fazer 
essa avaliação caso a caso. A verificação da adequacy of representation seria tarefa do legislador. A legitimidade coleti-
va, seria, pois, sempre ope legis. 
Há outros doutrinadores, porém, que, com base na experiência americana, admitem o controle judicial da “re-
presentatividade adequada”, ou seja, permitem que o magistrado possa examinar e controlar a legitimação coletiva no 
caso concreto. Para eles, a legitimação no Brasil, mesmo dos entes públicos, deveria passar por um filtro judicial. Assim, 
a definição de quem pode conduzir um processo coletivo dá-se em duas fases: primeiramente, verifica-se se há autori-
zação legal para que determinado ente possa substituir os titulares coletivos do direito afirmado e conduzir o processo 
coletivo. Depois, o órgão julgador faz o controle in concreto da adequação da legitimidade. 
 
ATENÇÃO! Há, ainda, um terceiro momento de controle, que é o controle da condução do processo pelo legitimado 
adequado, feito pelo juiz e pelos substituídos, de modo a tornar adequada também a sua atuação. 
 
Entre os vários critérios para a verificação da representatividade adequada, um que atualmente tem apresen-
tado utilidade prática pode servir de exemplo: exige-se que exista um vínculo de afinidade temática entre o legi-
timado coletivo e o objeto litigioso. A jurisprudência do STF deu a este vínculo o nome de “pertinência temática”. 
O STF já entendeu que o MP não está autorizado a propor ações coletivas tributárias, nem aquelas relaciona-
das a direitos individuais disponíveis, embora não houvesse qualquer ressalva no texto legal neste sentido. 
 
7. CONSEQUÊNCIA DA FALTA DE LEGITIMAÇÃO COLETIVA ATIVA 
A consequência da falta de legitimação coletiva não pode ser necessariamente a extinção do processo sem re-
solução do mérito. Deve-se priorizar o aproveitamento do processo coletivo, com a substituição (sucessão) da parte 
que se reputa inadequada para a condução da demanda. É o que acontece, por exemplo, nos casos de desistência ou 
abandono do processo pelo autor da AP ou da ACP, em que se determina a sucessão processual, com a assunção do MP 
ou de outro legitimado. 
O magistrado deve, portanto, ao concluir pela inadequação do legitimado coletivo, providenciar a sua substi-
tuição, convocando outros legitimados ao processo por meio de editais. 
 
8. LEGITIMIDADE ATIVA DAS DEFENSORIAS PÚBLICAS 
A Defensoria Pública atua também em favor de quem não é hipossuficiente econômico. Isto porque a DP apre-
senta funções típicas e atípicas. Função típica é a que pressupõe hipossuficiência econômica, enquanto que função atí-
pica não pressupõe a hipossuficiência econômica (seu destinatário não é o necessitado econômico, mas sim o necessi-
tado jurídico – ex: curador especial no processo civil). 
A nova redação do art. 5º da LACP, determinada pela Lei 11.448/2007, prevê expressamente a DP entre os legi-
timados para a propositura da ACP, atendendo, assim: a) a evolução da matéria, democratizando a legitimação; b) a 
tendência jurisprudencial que se anunciava de ampliar a legitimidade da DP. 
ATENÇÃO! Na hipótese em que a DP ajuizar ACP para tutelar interesses de pessoas indeterminadas (hipossuficientes 
economicamente ou não), só terá legitimidade para promover a execução individual da sentença genérica (na hipóte-
se de direitos individuais homogêneos) se as vítimas já identificadas forem pessoas necessitadas. Mas qualquer 
15 
 
vítima, necessitada ou não, poderá promover individualmente a liquidação e execução da sentença coletiva (art. 97, 
CDC). 
DE OLHO NA JURIS! O STF, em 07.05.2015, julgou improcedente, por unanimidade, a ADI 3943, reconhecendo a consti-
tucionalidade da atribuição da legitimação (ampla) à DP para ajuizamento de ACP. 
 
9. “LEGITIMIDADE AD CAUSAM OU AD PROCESSUM” NO MANDADO DE SEGURANÇA COLETIVO. PERSPEC-
TIVAS. 
CF, Art.5º, LXX - o mandado de segurança coletivo pode ser impetrado por: 
a) partido político com representação no Congresso Nacional; 
b) organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente constituída e em fun-
cionamento há pelo menos um ano, em defesa dos interesses de seus membros ou associa-
dos; 
 
Lei 12.016/2009, Art. 21. O mandado de segurança coletivo pode ser impetrado por partido 
político com representação no Congresso Nacional, na defesa de seus interesses legítimos 
relativos a seus integrantes ou à finalidade partidária, ou por organização sindical, entidade 
de classe ou associação legalmente constituída e em funcionamento há, pelo menos, 1 (um) 
ano, em defesa de direitos líquidos e certos da totalidade, ou de parte, dos seus membros ou 
associados, na forma dos seus estatutos e desde que pertinentes às suas finalidades, dispen-
sada, para tanto, autorização especial. 
 
A doutrina, de um modo geral, examina o inciso como legitimidade ad causam ativa para a propositura do 
MSC. Para Didier, este não parece ser o único caminho. 
Como se sabe, a legitimidade ad causam é a capacidade de conduzir um processo em que se discute determi-
nada situação jurídica substancial. Assim, não se pode examinar a legitimidade a priori, independentemente da situação 
concreta que foi submetida ao Judiciário. Não existe parte em tese legítima; a parte só é ou não legítima após o con-
fronto com a situação concreta submetida ao Judiciário. 
Desta forma, o texto constitucional não cuida, nem poderia cuidar, de legitimidade ad causam para o MSC. A 
legitimidade para o MSC será aferida a partir da situação litigiosa nele afirmada, ou seja, ope judicis. 
A norma constitucional, na verdade, atribui capacidade processual aos partidos políticos e às entidades de 
classe para valer-se do procedimento do MS (ope legis). 
Mas, os outros legitimados à tutela coletiva (não previstos no dispositivo constitucional) têm capacidade pro-
cessual para impetrar MSC? Para Didier, a melhor solução para tal indagação é entender que se trata de uma garan-
tia constitucional mínima atribuída aos partidos políticos e às entidades de classe. Para o autor, é inconstitucio-
nal qualquer interpretação do art. 21 da LMS (que praticamente reproduziu o texto constitucional), que reconheça a 
incapacidade processual dos demais legitimados à tutela coletiva para valer-se do procedimento do MSC. 
 
10. NOTAS SOBRE LITISCONSÓRCIO NA AÇÃO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA: LITISCONSÓRCIO EN-
TRE “AGENTES TIDOS COMO ÍMPROBOS” E LITISCONSÓRCIO ENTRE O “AGENTE ÍMPROBO” E A PESSOA 
JURÍDICA DA QUAL SEJA SÓCIO MAJORITÁRIO 
O processo de improbidade administrativa possui conteúdo complexo, uma dupla face: uma face repres-
sivo-punitiva e a face repressivo-ressarcitória. Esta pode ser veiculada por ACP genérica; e não há necessidade de cu-
mulação de pedidos de punição e ressarcimento. A face repressivo-punitiva, no entanto, é típica da ação de improbida-
de administrativa (AIA) e somente pelo procedimento especial pode ser veiculada.Como a responsabilidade é pessoal, não haverá unitariedade se houver afirmação de prática de improbidade 
por mais de um agente – o litisconsórcio será simples (porque um agente pode ser considerado responsável e outro 
não) e facultativo (porque não há exigência legal para sua formação). Não há, enfim, exigência de litisconsórcio ne-
cessário entre os possíveis agentes ímprobos. 
A pessoa jurídica, da qual o “agente ímprobo” é sócio majoritário, é litisconsorte passivo necessário no proces-
so de ação de improbidade? Não. Trata-se de hipótese de eficácia reflexa da sentença de improbidade. Nestas situa-
ções, se o sócio condenado sair da composição societária, a pessoa jurídica poderá contratar normalmente com o Poder 
Público. Mas, cuidado: pode-se admitir a intervenção da pessoa jurídica como assistente simples de seu sócio majoritá-
rio (não se trata de litisconsorte necessário!). 
 
11. O RE N. 573.232/SC E A UTILIZAÇÃO DO PRECEDENTE PELO STJ: SUBSTITUIÇÃO PROCESSUAL DAS AS-
SOCIAÇÕES VERSUS REPRESENTAÇÃO PROCESSUAL MEDIANTE AUTORIZAÇÃO 
O STF, julgando uma ação da Associação do MP/SC, entendeu que apenas os associados que, na data do ajui-
zamento da ação, haviam aderido ao polo ativo mediante expressa autorização assemblear seriam beneficiados pela 
procedência da ação. 
 
Em caso de ação coletiva movida por associação somente serão beneficiados com a decisão os associados que au-
torizaram a propositura de forma expressa. 
 
16 
 
A autorização estatutária genérica conferida à associação não é suficiente para legitimar a sua atuação em 
juízo na defesa de direitos de seus filiados. Para cada ação, é indispensável que os filiados autorizem de forma expres-
sa e específica a demanda. Teses firmadas pelo STF neste julgado: "O disposto no artigo 5º, inciso XXI, da Carta da Re-
pública encerra representação específica, não alcançando previsão genérica do estatuto da associação a revelar a 
defesa dos interesses dos associados." "As balizas subjetivas do título judicial, formalizado em ação proposta por asso-
ciação, é definida pela representação no processo de conhecimento, presente a autorização expressa dos associa-
dos e a lista destes juntada à inicial." Exceção: no caso de impetração de mandado de segurança coletivo, a as-
sociação não precisa de autorização específica dos filiados. STF. Plenário. RE 573232/SC, rel. orig. Min. Ri-
cardo Lewandowski, red. p/ o acórdão Min. Marco Aurélio, julgado em 14/5/2014 (repercussão geral) (Info 746). 
 
Para Didier, este precedente do STF somente se aplica ao caso previsto no art. 5º, XXI, da CF (XXI - as entidades 
associativas, quando expressamente autorizadas, têm legitimidade para representar seus filiados judicial ou extrajudici-
almente), ou seja, somente se aplica à atuação das entidades associativas, que atuam como representantes processu-
ais. Não se aplica, pois, às ações coletivas, mas sim às ações por representação. 
Para o STJ, caso ocorra a dissolução da associação que ajuizou a ACP, não é possível sua substituição no polo 
ativo por outra associação, ainda que os interesses discutidos na ação coletiva sejam comuns a ambas. 
 
CAPÍTULO 7 – INTERVENÇÃO DE TERCEIROS 
 
1. ASSISTÊNCIA 
 
1.1. Premissa geral para o exame do interesse jurídico que justifica a intervenção como assistente 
A intervenção como assistente pressupõe a demonstração de um interesse jurídico na causa em que se pre-
tende intervir. São dois os parâmetros para a verificação do interesse jurídico: a espécie de situação jurídica litigiosa e 
o tipo de conflito. Primeiramente, examina-se a relação do terceiro com o direito discutido; em seguida, a relação do 
terceiro com o conflito que precisa ser resolvido. 
Assim, por exemplo, imagine uma AP proposta por um cidadão em Salvador contra ato praticado pela Prefeitu-
ra. Um outro cidadão, do município de Aracaju, pede para intervir como assistente. O terceiro tem legitimidade para a 
tutela desse tipo de direito difuso, mas o seu distanciamento em relação ao conflito lhe impede de intervir como assis-
tente. 
 
1.2. Causas que versam sobre direitos difusos e coletivos stricto sensu 
 
1.2.1 Intervenção do indivíduo  Não pode intervir 
Não pode o indivíduo intervir como assistente nas causas coletivas que veiculem direitos difusos ou coletivos 
stricto sensu, pois não há interesse em tal intervenção, uma vez que o resultado do processo não pode lhe ser desfavo-
rável: a coisa julgada coletiva só é transportada para a esfera particular – através do transporte in utilibus – se benéfica 
ao indivíduo. 
Note que não se aplica, a estes casos, o disposto no § único do art. 18 do CPC, que permite a intervenção do 
substituído como assistente litisconsorcial. O substituído, em uma ação coletiva, jamais é um indivíduo; a tutela coletiva 
serve a direitos de um grupo; o grupo, ressalvada a comunidade indígena, não tem personalidade judiciária e, por isso, 
não poderia intervir no processo. 
 
1.2.2. Intervenção de um colegitimado  Pode intervir 
A situação muda de figura, quando se analisa a possiblidade de intervenção de um colegitimado, que poderá 
sim intervir na qualidade de assistente litisconsorcial; na verdade, passa o colegitimado, uma vez intervindo, a ser litis-
consorte unitário do legitimado coletivo que já estava na causa, recebendo o processo no estado em que se encontra, 
mas com os mesmos poderes deste. 
 
1.2.3. Intervenção do indivíduo legitimado à propositura de ação popular  Pode intervir 
Problema interessante é saber se o cidadão-eleitor pode intervir nos casos em que as demandas coletivas propostas 
pelos entes coletivos tenham objetivo coincidente com o de possível ação popular. Como a tutela dos direitos coletivos é atí-
pica (art. 83, CDC), é plenamente possível que uma ACP verse sobre o mesmo tema, inclusive com o mesmo objeto, que uma 
AP. 
Na verdade, o cidadão é, em algumas hipóteses (as de ação popular), um colegitimado à tutela coletiva e, 
nessa condição, pode intervir no processo coletivo que tenha objeto semelhante. 
Tradicionalmente, entende-se que, embora possa intervir, não pode o indivíduo propor a demanda coletiva se-
não a ação popular, daí que, se o ente coletivo desistir do feito, não poderá o cidadão nele prosseguir. 
 
1.3. Assistência nas causas que versem sobre direitos individuais homogêneos (art. 94, CDC) 
O CDC prevê expressamente a possibilidade de o particular intervir nas causas que versem sobre direitos in-
dividuais homogêneos. 
 
17 
 
CDC, Art. 94. Proposta a ação, será publicado edital no órgão oficial, a fim de que os interes-
sados possam intervir no processo como litisconsortes, sem prejuízo de ampla divulgação 
pelos meios de comunicação social por parte dos órgãos de defesa do consumidor. 
 
A intervenção será na condição de assistente litisconsorcial, verdadeiro litisconsorte ulterior; intervindo, o 
particular se submete ao julgamento da causa. O particular é, nesse ponto, um legitimado extraordinário do grupo de 
vítimas, titular do direito discutido e, ao mesmo tempo, legitimado ordinário para a defesa de seu direito individual 
reflexamente atingido. ATENÇÃO! Como o indivíduo não sofrerá os efeitos daninhos de um julgamento pela improce-
dência do pedido caso não intervenha, pois a extensão da coisa julgada é secundum eventus litis, pode não ser admitida 
essa possibilidade de intervenção, potencialmente capaz de gerar tumultos indesejáveis (risco de formação de litiscon-
sorte multitudinário) ou, ainda, porque o indivíduo não se configura como adequado representante do grupo. Intervin-
do, sobre eles recairá o regime da coisa julgada individual (art. 103, §2º, CDC). 
 
Art. 103. Nas ações coletivas de que trata este código, a sentença fará coisa julgada: 
 I - erga omnes, exceto se o pedido for julgado improcedente por insuficiência de pro-
vas, hipótese em que qualquer legitimado poderá intentar outra ação, com idêntico funda-
mento valendo-se de nova prova, na hipótese do inciso I do parágrafo

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