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A cidade na história - RESENHA

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Conhecendo O Passado, Lições Para O Futuro 
 
O autor Lewis Mumford nasceu nos Estados Unidos, no ano de 1895 e teve sua vida dedicada 
ao estudo e ensino da arquitetura e urbanismo como ciência social. Foi autor de dezenas de 
publicações e mesmo de um pequeno documentário sobre seus temas. Ao longo de seu livro “A 
Cidade na História” o autor descreve extensamente sobre o desenvolvimento dos agrupamentos 
humanos que se transformaram nas cidades atuais. 
Divagando e questionando em brancos e vazios históricos, com os viéses de sua época, e 
enriquecendo de detalhes e contexto social os momentos mais bem registrados da história das 
civilizações, Mumford consegue divisar àquilo que ele chama de funções da cidade, que ele 
acredita serem necessárias, aos urbanistas e sociólogos, conhecer, para poder divisar as 
carências e possibilidades da cidade moderna. 
Em cerca de 620 páginas o autor faz uma leitura desde o início das cidades: as aldeias, pelas 
primeiras cidades notáveis no Egito, Mesopotâmia, América e Grécia, até as conformações de 
seu tempo. 
Na gênese dos agrupamentos humanos Mumford destaca o apego aos falecidos, o prazer 
social e a arte, além da saciedade física e sexual, como os primeiros Ímãs que atraiam as pessoas 
ao convívio mútuo. Essa função chave, juntamente com a função de Recipiente, encontrada nos 
jarros das primeiras aldeias agrícolas, são tidas genialmente pelo autor como funções 
primordiais da cidade, já existente muito antes da primeira muralha. 
Na primeira transformação urbana o autor evoca a característica de gênero das aldeias 
neolíticas, atribuindo-lhe o gênero feminino, para ilustrar as qualidades tradicionalmente 
associadas à mulher, como conformidade, paciência, resiliência, ternura e cooperativismo, em 
contraste com a aldeia paleolítica, associada ao masculino, com qualidades como agressividade, 
distanciamento, dominação, individualismo e audácia. Tal comparação em gênero é arcaica, mas 
felizmente o aspecto geral de tal dicotomia ainda se traduz como compreensível aos ouvidos do 
século XXI. 
A transformação urbana é trazida com características estruturais sociais que, mais tarde, 
perdurariam nas civilizações, ainda que as próprias aldeias tenham se reduzido à nada. A 
instituição das propriedades na figura do Rei Caçador e Divino, a grande participação urbana, a 
necessidade de proteção em uma Muralha, a guerra e a escassez fictícia com o intuito de 
dominar, e a primeira máquina humana são apontados como destaques desse período. 
Retornando à função Recipiente, agora com depósitos, bibliotecas e registros, o autor 
continua sua narrativa com os principais aspectos culturais e urbanos das primeiras cidades. 
Apontando, com clareza, como tais diferenças entre o Egito e Mesopotâmia e mesmo a Grécia 
influenciaram as formas das cidades. 
Livro: A Cidade na História, de Lewis Mumford (tradução Neil R. da Silva) – 4ª ed., Editora 
Martins Fontes, São Paulo, 1998. 
 
As comunidades dos vales diferenciaram-se em suas culturas, segundo o autor, devido às 
suas diferentes relações com o ambiente. No vale do Nilo, a natureza dócil criou uma 
comunidade forte com senso de pertencimento e lealdade, colaborativa, criativa e com grandes 
aspectos ímã. Já no vale do Tigre e Eufrates, a constante luta contra as tempestades e enchentes 
levou às populações à uma relação mais tensa e resiliente, com grande aspecto Recipiente. 
No pipocar das civilizações, as cópias são inevitáveis, mas é interessante a observação do 
autor sobre as comunidades que não possuem esses dois aspectos, e sua inevitável decadência, 
como se fossem desprovidas da alma necessária à uma cidade. 
A primeira Exsudação Cultural é trazida como a distribuição das funções da cidade e do 
conhecimento aos cidadãos, pela nobreza sedentária, que anteriormente se distinguia por essas 
mesmas ferramentas. A consequente especialização do trabalho nas cidades levou ao que o 
autor lamenta como o “Descaminho crônico da civilização humana”, pois destruiu a variedade 
da vida que Mumford vê como plena e necessária. A cidade se torna colméia em função, mas 
permanece humana em natureza. Assim a vida variada e seu consequente ócio criativo se tornou 
um privilégio dos poderosos. 
A cidadela, no entanto, era um antro de diversidade biológica, dramatização da vida e 
personalização. Essa aceitava a todos, enquanto a aldeia era direito de nascimento. 
A importância do Ímã, do sentimento de aldeia é verificada e celebrada pelo autor 
especialmente na polis grega. Sua estrutura de aldeia em montanhas e ilhas, e não vales de rios, 
a distinguiu de imediato de suas irmãs primitivas, conferindo a si segurança topográfica e 
isolamento pacífico. 
As comunidades gregas são descritas como ricas em conteúdo, desconfiadas de poderes 
distantes e especialização, e também do comércio. Os cidadãos da pólis tinham grande ligação 
com as aldeias, e, portanto, essa era uma extensão da polis, seu “bairrismo” acentuado e rotação 
constante de funções, além do ócio criativo vindo do lazer, conferem à polis, na visão de 
Mumford, como uma comunidade urbana evoluída, mesmo com suas regressões sanitárias e 
desapego material e pelo ambiente físico urbano. 
Ímãs singulares, as Cidades de Delfos com sua peregrinação religiosa e teatros, a Cidade de 
Cós, com seus hospitais e sanatórios e a Cidade de Olímpia com os jogos olímpicos trouxeram, 
no entanto, grandes instituições que seriam incorporadas e importantes nas cidades 
subsequentes. Associadoos aos grandes discursos sobre as cidades ideais, tidos por Platão, 
Sócrates e Aristóteles, o legado da polis helênica foi mais cultural que urbanístico, pois enquanto 
as mentes humanas gregas trabalhavam incansavelmente, o espírito não se concretizou na 
cidade real. 
Percebe-se, já nesse ponto, a parcialidade de Mumford quanto ao sucesso das civilizações, 
dando grande importância para o que ele chama de “vida plena”, o autor é muito sensível ao 
nível de qualidade de vida das pessoas, independentemente do nível de qualidade da urbe física 
em si. Com muita sensibilidade, as pessoas e seu desenvolvimento através dos milênios é o foco 
do autor, pois delas e para elas é a cidade. 
Mumford, mais uma vez demonstra a incoerência das virtudes da cidade, em sua leitura da 
polis helenística e da cidade romana, pois aponta para o retrocesso social e de qualidade de 
vida, acompanhado da evolução próspera da forma urbana. Como características ele aponta as 
ruas de largura uniforme, quarteirões urbanos, estruturas públicas definidas, comércio mais 
eficiente, longas perspectivas, ordem estética e o monumentalismo. E o espírito humano 
esmagado, segundo ele causado pela falha em considerar todos os agentes urbanos dentro da 
cidade. 
Roma pelo contrário, aprendia com seus conquistados, e suas culturas eram absorvidas e 
incorporadas na estrutura social e física das cidades romanas. Com a imitação dos aspectos 
físicos da cidade helenística, cardos e decumanos, influências etruscas em rituais e na definição 
da linha pomeriana, e também influências africanas e asiáticas. Como características aplicadas 
na urbe romana, mas não por ela fundada, Mumford cita a cloaca máxima, aquedutos, 
calçamento, passagens elevadas, vias pavimentadas, leis regulamentadoras de trânsito, insulae, 
banhos, supercongestionamento humano, fórum, vomitorium, circo e o censo. 
Bastante parcial em suas considerações e apegado à plenitude livre dos cidadãos da polis 
helênica, Mumford é bastante crítico com o período helenístico e romano, em seu discurso 
chega a considerar Roma um “Esgoto de mesquinhes e iniquidade urbana” – visceral, bela, 
violenta, ordenada, parasitária, celebrada na forma e podre no espírito. 
Indo, no entanto, na contramão dos renascentistas, o autor irá celebrar o período medieval 
como grande produtor de riquezas urbanas, apesar da infelicidade sanitária e das pestes, além 
da grande intervenção cristãque foram as cruzadas e a inquisição. 
Tendo a polis aristotélica realizada na instituição de mosteiros, e as novas virtudes trazidas 
pelo cristianismo, de abnegação, pobreza, guarda e introspecção, e ócio criativo, o ambiente 
urbano sofreu grandes alterações. As invasões saxônicas trouxeram de volta a necessidade do 
serviço militar e das fortalezas, bem como da agricultura, e do mercado de trocas locais. A 
Colônia Monástica tinha a igreja como única instituição restante homogênea, o abrigo universal. 
O serviço eclesiástico promovia a ajuda aos desafortunados, coisa nunca antes vista nas cidades, 
e funções que posteriormente foram legadas ao estado territorial. 
Nas cidades medievais a vida ao ar livre, o caráter rural e aldeão, e a mistura espontânea e 
de aspecto orgânico de diversas formas e estilos, uniam o barroco, o gótico, o renascentista, o 
velho e o novo, em um só local. Nesse período, as regras de sanitarismo que eram impostas para 
combater as pestes, conseguiram diminuir doenças e erradicar a lepra, pela quarentena. Poços 
e chafarizes trouxeram a água potável, e os calçamentos com galerias, traziam arte às ruas, bem 
como a própria sinuosidade dos terrenos acidentados e curvas lentas e orgânicas. 
A economia cooperativa e aldeã tinham também forte ilustração no aparecimento das guildas, 
que eram fraternidades de socorro mútuo e empoderamento das pessoas de uma mesma classe 
ou ofício, essas elevaram de forma interessante as condições de trabalho dos cidadãos, dando 
maior equidade às populações. Mumford cita a Universidade como a única guilda sobrevivente 
e transformadora até os dias atuais, sendo um repositório de novos valores, clausura ativa, 
conhecimento científico sagrado e político. 
Num tempo de relações sociais mais complexas, as indagações e sensibilidades de Mumford 
podem induzir ao retorno às raízes, ímã e recipiente, aquilo que atrai as pessoas e o que se deve 
preservar. 
Sobre a estrutura do poder barroco, o autor discute sobre a influência tardia das formas 
medievais três séculos que seguiam o século XVI, como exemplo da permanência desse estilo 
menciona a possível observação de construções de caráter renascentista entre edificações 
medievais. Assim como as construções, as antigas leis medievais de mercado perduraram 
durante o século XVIII e influenciaram a ordenação das cidades sendo possível notar apenas em 
cidades recém fundadas a criação de uma ordem rigorosa e lógica própria. 
Em XV e XVIII se observa um novo padrão que se configurava como a influência do 
capitalismo mercantilista, despotismo ou oligarquia centralizada (Estado Nacional) e ideologias 
que derivam da física mecanicista. Tal padrão refletiu na produção, e exibição de riqueza e, o 
tomar o poder, como princípios orientadores de uma sociedade em totalidade. No que diz 
respeito à arquitetura, as obras de Alberti revelavam os novos valores: bairros de classe média 
eram executados seguindo o modelo aristocrático barroco. 
O autor ressalta que não havia uma preocupação com grandes mudanças, mas a modificação 
de pequenas partes da cidade histórica, porém se notam no aspecto urbano características 
como: rua reta, interrupta linha horizontal de tetos, o arco redondo e a repetição de elementos 
uniformes (cornijas, lintéis, janelas e colunas, na fachada). Não houve a tentativa de harmonizar 
os novos traçados com o medieval já edificado e nem a adoção de métodos mais orgânicos para 
o desenvolvimento das cidades. 
Com a adoção do Estado Moderno, o aumento das funções burocráticas existe a necessidade 
de um local fixo para exercício do poder. Tornava-se necessário a administração impessoal e 
autoridade delegada, assim surge a figura da capital como centralização da autoridade 
comandando as rotas de comércio e movimento militar. A consolidação do poder na capital 
política fez-se acompanhar por uma perda de poder já que privilégios econômicos passaram a 
ser obtidos pelos mais próximos do príncipe. 
Se até o século XV a defesa predominava sobre o ataque, com a invenção da pólvora, as 
cidades abandonaram o sistema de muralhas simples e começaram a formar exércitos. Tal 
movimento culminou na substituição das muralhas por fortificações, no entanto, as fortificações 
eram difíceis de construir e alterar, prejudicando assim o crescimento e adaptações naturais 
além de impedir a expansão. As fortificações também simbolizaram um afastamento dos 
subúrbios e o espaço natural, sendo um dos fatores que acabaram resultando espaços urbanos 
de enclausuramento. 
As atividades do exército passam a ser contínuas e a cidade passa a ser controlada pelas 
oligarquias que financiavam e lucravam com tal política. A presença de um maior número de 
alojamentos, quartéis, campos de instruções e arsenais, resultou na ocupação ao redor dessas 
edificações por pequenos comércios e casas públicas no intuito de responder a demanda de 
consumo desse grupo. 
Com o novo capitalismo mudou todas as estruturas conceituais, incluindo uma nova 
concepção do espaço, assim o autor destaca a importância da avenida no traçado urbano 
barroco. Promovendo uma generalização da geometria do espaço, e permitindo o movimento 
de tráfego e transportes, a avenida trás o movimento rápido e em linha reta, aumentando a 
estética ao promover a disposição regular dos edifícios e suas fachadas simétricas. A avenida 
também representou uma delimitação do poder: enquanto no período medieval as classes 
superiores e classes inferiores se misturavam no barroco os ricos conduziam na avenida e os 
pobres caminhavam nas calçadas. 
O efeito da nova economia também pode ser vista, conforme o autor, na artes que se 
tornaram privilégio da aristocracia aos custos de toda a comunidade. Um país inteiro era 
governado para o proveito de algumas famílias que possuíam terras, viviam da indústria, 
comércio e aluguéis urbanos. O próprio palácio em sua estrutura reforçava as separações 
sociais, possuindo duas frentes: o lado urbano (rendas, tributos, impostos, comando do exército 
e controle de órgãos do Estado) e o lado rural (corpo da corte e suas honrarias). Extravagante, 
desempenhava a função de oferecer hospitalidade sem limites, alojando grande número de 
criados e cortesões. Reflexo de aspectos como o prazer, recreação, exibição e desempenho 
teatral. 
A cidade passou então a ser vista como um grande cenário. Surgem novos urbanistas como 
Servandoni, Inigo Jones e Bernini. Os jardins que consistiam em um grande edifício central, 
vivamente decorado foi projetado para a realização bailes e saraus, o museu abrigava grandes 
coleções de arte nasceram do desejo do principesco de levar despojos de suas conquistas no 
exterior e o zoológico, uma ilusão de que se havia conquistado com êxito a natureza. Essas 
instituições sempre presentes nos novos planos urbanos, que consistiam em uso de linhas retas 
e unidades regulares de quarteirões, ora surgiam sobre patrocínios privados ora do apoio real 
ou municipal. 
Faz se também a discussão da Planta Asterisco: forma poligonal regular geralmente 
octogonal, ruas principais divididas em forma de cruz ou de modo a convergir em cada um dos 
ângulos do octógono. O esquema do sítio central, círculos ou praças abertas, dominados por 
monumentos e a avenida como a moldura horizontal dos edifícios terminais. Assim o autor 
demonstra que o plano barroco representava a conquista militar do espaço, os resultados 
humanos não eram levados em conta, com exceção das classes superiores. 
A forma de planejar, pode-se inferir, que resultava da introdução da praça, muitas vezes 
geometrizada que exigia o aplainamento do terreno sem se considerar os custos, para 
implantação dos contornos irregulares. Do ponto de vista da ocupação, penas as instituições 
que eram subordinadas ao príncipe tiveram seu núcleo bem definido: o palácio, o fisco, a prisão 
e o hospício. Aponta-se a figura da Praça Residencial como forma de ajuntar umgrupo de 
residências ocupadas por pessoas mais ou menos do mesmo ofício e posição. Espaço aberto 
rodeado exclusivamente por moradias, sem lojas ou edifícios públicos, exceto talvez uma igreja. 
Originalmente construídas para famílias de aristocratas ou de mercadores, com o mesmo 
padrão de vida e mesmos hábitos. A frente destinava a ser vista é bela, porém o fundo, que se 
destinava a ficar escondido era desprezível. 
O autor discute o plano de Pierre-Charles L’Enfant para a cidade de Washington em 1771, 
como a forma de se pensar uma nova urbanização para época partindo não apenas de questões 
políticas e financeiras, mas de um ambiente que atendesse por completo as necessidades 
urbanas. L’ Enfant começou o traçado pelos edifícios e praças principais, as linhas e avenidas de 
comunicação direta, consideravam à conveniência e às agradáveis perspectivas do caminho. As 
avenidas tinham eram largas, previam calçamentos dos dois lados além de espaço para 
arborização e como forma de hierarquização, avenidas menores levavam a edifícios públicos ou 
mercados. 
No parcelamento dos lotes L’Enfant adotou o padrão de ruas em grade mas não uniforme 
nas dimensões e justificava a diferença de tamanhos na capacidade de relacionar os elementos 
da planta com as funções diárias a que serviam. Porém segundo o autor, o erro do projetista foi 
que as vias resultaram em poucos espaços de habitação, assim seu plano abrigava no máximo 
120.000 pessoas. 
O crescimento da cidade comercial foi um processo lento, pois teve de enfrentar a resistência 
tanto na estrutura quanto nos costumes da cidade medieval porém, segundo o autor, quanto 
mais baixo pudesse ser o padrão de vida do trabalhador, mais elevados os lucros do 
empreendedor capitalista e esse foi o ponto que acabou por moldar as novas cidades. O 
contraste entre o bairro elegante e o bairro pobre era nítido e a terra se tornou um produto e 
não um bem permanente, assim as terras municipais e feudais passaram a propriedade 
individual com a obrigação do pagamento de impostos. Casas antigas foram transformadas em 
moradias coletivas porem ainda assim não eram suficientes para acomodar a crescente 
população das cidades mais prósperas. 
Era necessário a construção de novos bairros e núcleos urbanos e assim capitalismo do século 
XVII tratava o bloco individual e o quarteirão, a rua e a avenida, como unidades abstratas para 
comprar e vender, sem respeito pelos usos históricos, pelas condições topográficas ou pelas 
necessidades sociais. Dissociado da relação com as necessidades e atividades humanas 
diferentes dos negócios, o padrão da cidade foi simplificado. O lote de edificação individual, cujo 
valor pode ser medido em termos de frente em metros, passa a ser o ordenador e suas 
dimensões proporcionam um mínimo de luz e ar aos edifícios. 
Se ajustando ao princípio dos lotes, as plantas em grade eram deficientes e resultavam em 
desperdício, gastos com aplainamento, aterramento e calçamento das ruas. As condicionantes 
de conforto e salubridade foram totalmente ignoradas. Nesse tipo de ‘’planejamento’’ fica clara 
a ausência de qualquer diferenciação funcional entre os bairros residenciais, industriais, 
comerciais e cívicos, não se considera suas cargas de tráfego e seus traçados de construção. 
Desde o princípio do século XIX, a cidade é tratada não como uma instituição pública, mas como 
uma aventura comercial privada. O autor destaca que todas as características naturais do meio 
urbano acabaram sendo destruídas. Os rios se tornaram esgotos, zonas portuárias eram 
inacessíveis para o transeunte, árvores sacrificadas, edifícios veneráveis postos a baixo e faltava 
espaço para a recreação em geral. Além disso, as edificações eram construídas costas a costas, 
sem perspectiva e ventilação. Com a invenção da módica diligência, da estrada de ferro e do 
bonde, começou a existir o transporte coletivo logo a distância que se podia cobrir a pé já não 
estabelecia os limites do crescimento da cidade. O aumento do tráfego foi utilizado como um 
meio de aumentar o perímetro de cidades assim, os transportes rápidos, em vez de reduzir o 
tempo exigido para se chegar ao lugar de trabalho, continuaram a aumentar a distância e o 
custo. 
Toda essa perspectiva resultou na competição por um número limitado de apartamentos e 
quartos, configurando miséria e marginalidade. Houve no surgimento das verticalizações, no 
século XIX, a tentativa de produzir moradias de baixa e média classes, porém se demonstravam 
a reflexão da falta de condições em arejamento e sanitárias. As moradias dos pobres ocupavam 
boa parte dos lotes, sem espaços abertos ou jardins e muito próximas umas das outras. Nas 
relações comerciais, segundo o autor, a nova ordem fez com que as praças de mercado não 
tivessem lugar no novo traçado urbano, nem os círculos de tráfego do plano barroco, nem a 
interminável avenida em corredor do plano comercial. A loja ao ar livre foi sufocada pela loja 
envidraçada e ornamentada. Fazer compras tornava-se então, um momento de exibição para os 
mais abastados. Nas grandes capitais, por exemplo, procuravam as pessoas criar impressão 
decisiva quanto à sua posição na vida, o seu gosto, e a sua prosperidade através dos bens, sendo 
a loja de departamentos uma das instituições mais vitais desse regime. Inovadores e capitalista 
a ponto de ser um dos primeiros grandes edifícios a empregar colunas de ferro em vez de 
alvenaria. 
Em contraponto a realidade apresentada, o autor cita a cidade de Amsterdam como exemplo 
de que a expansão comercial mais rápida e o mais rápido crescimento da população, não 
limitava um bom ordenamento urbano. O desenvolvimento técnico da cidade holandesa 
baseava-se no admirável controle da água, não simplesmente para comunicações e transportes. 
A construção foi planejada acima das águas para proteger a terra de inundações. Houve o 
aperfeiçoamento das técnicas de construção de diques e de drenagem. As casas das cidades 
holandesas eram construídas sobre pilastras, e a dificuldade desse modo de construção impediu 
que as cidades holandesas se implantassem ao acaso. Na configuração da cidade, o núcleo 
urbano original achava-se contido dentro do canal em forma de crescente e o dique, ao invés da 
muralha promovia coesão e o conforto comum: uma longa rota aquática protegida e um porto. 
As áreas comerciais permitiam a venda rápida, pagamento pronto, ampla escolha de 
oportunidades de investimentos e facilidade de armazenamento. O desenvolvimento rápido 
permitiu a implantação das primeiras instituições financeiras como bolsa, câmara de seguros e 
bancos. 
Houve também em Amsterdam, segundo o autor, a preocupação com leis de ordenamento 
de construções como a de 1565 que vigorou o princípio do século XIX: exigia que os alicerces em 
pilastras fossem aprovados por funcionários municipais, antes que pudesse ter início a 
construção, que cada lote tivesse a sua própria privada e que as ruas e vias traçadas pelo 
Conselho fossem custeadas pelos possuidores de lotes, sendo os custos proporcionais à largura 
da frente além de tornar obrigatória a abertura de esgotos e drenos à inspeção. Já o Plano dos 
três canais de Daniel Stolpaert, arquiteto agrimensor (1615-1676), pode ser considerado uma 
diretriz para parcelamento do solo e ocupação urbana já que previa a execução de sistemas de 
canais concêntricos, destinava as frontarias ao longo dos três canais municipais monumentais 
às grandes casas de negócios e casas urbanas para mercadores, distribui blocos de construção 
formados pelos canais radiais e periféricos às moradias de classe média e de artesãos e preserva 
frontarias para os armazéns. Os canais tinham de 24 a 27 metros de largura: ladeados pelas 
calçadas pavimentadas e arborizadas dos edifícios que ficavam nas suas margens já os lotes 
tinham em média oito metros de largura, dando espaço para janelas e distância mínima de 48 
metros entre os fundosdas construções, além da previsão de espaço ajardinado de 8x24 metros 
e máximo de cobertura do sítio de 56%. 
Ao contrário de Amsterdam, na grande parte das cidades a produção em larga escala a 
transformou em um local sombrio. O industrialismo, século XIX, produziu o mais degradado 
ambiente urbano com a abolição das guildas, criação de um estado de insegurança permanente 
para as classes trabalhadoras, a implantação do mercado de trabalho aberto e a manutenção 
das dependências estrangeiras como fonte de matérias-primas. Dessa forma muitas aldeias se 
expandiam e se transformavam em cidades enquanto as cidades se transformavam em 
metrópoles. As metrópoles mais ricas e ‘’progressistas’’ muitas vezes negavam-se as 
necessidades elementares a vida, tais como a luz e o ar comuns nas aldeias. O autor destaca que 
as atividades econômicas culminaram na Abbau: decomposição, destruição de florestas, perca 
do equilíbrio natural e exploração da natureza pelo homem e assim também sofreu o mesmo o 
ambiente urbano. 
Segundo Mumford, a Laissez-faire foi tentativa de se promover a igualdade, mas não 
retificou anualmente os efeitos das demais leis, como por exemplo a doação de terras nos EUA. 
Criou a natural expectativa de que todas as empresas deveriam ser dirigidas por pessoas 
privadas, com uma parcela mínima de interferência da parte dos governos locais ou nacionais, 
porém destruiu a noção de política cooperativa e de um plano comum. Em termos humanos, 
algumas das piores características do sistema fabril, como por exemplo as longas jornadas de 
trabalho, se somaram a importância dos campos de carvão para promover a indústria. Para ter 
o excedente necessário de trabalhadores, a indústria passa a se estabelecer perto de um grande 
centro de população. A mão-de-obra regular e insuficiente remunerada, tomou o lugar de um 
mercado de trabalho eficientemente organizado e com padrões salariais. Surgem assim, 
segundo o autor, os principais elementos do novo complexo urbano: a fábrica, a estrada de ferro 
e o cortiço. O primeiro era o núcleo do novo organismo urbano e se instalava nos Melhores 
locais de implantação (perto de vias aquáticas e despejo dos rejeitos). O segundo definia o 
caráter e os limites da cidade promoveu o desperdício de espaço pelos pátios ferroviários no 
coração da cidade. Já o último servia a população como casas adaptadas a serem alojamentos 
de aluguel no sistema de um quarto por família. 
O trabalhador, segundo o autor, foi alheio a época da invenção e da produção em massa, até 
o fim do século XIX, que Introduziu-se o encanamento de ferro, a privada aperfeiçoada, a 
iluminação e o fogão a gás, além da rede de distribuição de água e coleta de esgoto mas a esse 
pobreza e o ambiente de pobreza produziram modificações orgânicas: raquitismos nas crianças 
pela ausência de sol, doenças como varíola e febre tifoide. Condições essas que resultaram em 
altos índices de mortalidades e de enfermidades dos trabalhadores. Enquanto o emprego do 
sabão na higiene pessoal pode ter reduzidos os índices de mortalidade infantil antes do século 
IX, nuvens negras de fumo rolavam das chaminés das fábricas e penetravam a cidade, 
espalhando fuligem e cinzas. Tanques de gás ficavam expostos na paisagem e grandes estruturas 
de fabricação se comparavam com catedrais, rios contaminados por tinturas e químicos 
resultantes da indústria e ruídos de maquinário: a cidade era a própria doença. 
As experiências com a peste, seu combate em hospitais e prissões, foram impulsionadores 
para as primeiras canalizações de água e esgoto, padrões de luz, arejamento e limpeza. O bom 
urbanismo focou em ar puro, água fresca, espaços abertos e com sol, se universalizou o uso de 
paralelepípedos para solucionar o problema de limpeza das ruas e depois o asfalto. A cidade 
subterrânea como um ideal, resultaria do ajuntamento de serviços públicos: transportes, 
esgotamento e abastecimento de água, porém o investimento para enterrar cada vez mais 
capital na cidade subterrânea, menos dinheiro existe disponível para o espaço e a beleza 
arquitetônica acima do solo. 
Mumford, analisa o movimento romântico como influenciador da produção de um novo 
motivo racional para o êxodo suburbano. No movimento coletivo em direção às áreas 
suburbanas, produziu-se uma nova espécie de comunidade que constituía uma caricatura da 
cidade histórica: uma multidão de casas uniformes, inidentificáveis, alinhadas de maneira 
inflexível, a distâncias e em estradas uniformes, porém marca um novo estilo de vida, vivida de 
acordo com a natureza, considerando a saúde e aspectos para criações de filhos: ‘’ O viver numa 
vizinhança mais limpa e sadia’’. Assim, a fortificação deixa de ser essencial para a segurança e o 
subúrbio passa a representar edificações espalhadas num parque. A casa, o lote e o jardim 
suburbano, era deliberadamente desformalizados. A rua evitava linhas retas e pequenas 
variações de traçados eram feitas visando o respeita a paisagem natural. As pequenas unidades 
que formavam os subúrbios despertaram o senso de vizinhança e as suas reuniões tornaram a 
consciência da comunidade. 
Em contraponto a discussão dos subúrbios e suas relações sociais, o autor, discute a 
Megalópolis como o futuro, já que segundo ele, está rapidamente se tornando uma forma 
universal e a economia dominante é uma economia firmemente ligada à grande-cidade. 
Caracteriza a Megalópole como aplicação da tecnologia secular de nossa época dedica a 
imaginar meios de eliminar formas orgânicas autônomas, pondo em seu lugar engenhosos 
substitutos mecânicos. O Monopólio metropolitano é expresso na concentração da riqueza, 
capital, instituições financeiras e atuação da propaganda, da notícia, publicidade e literatura. 
Sobre o aspecto urbano afirma que a forma da metrópole é sua disformidade pois possuem 
apenas uma concepção quantitativa do melhoramento, procuram tornar seus edifícios mais 
altos e suas ruas mais largas. A economia em expansão, não tem tais limites e ignora o orgânico, 
mas assegura uma produtividade contínua e o lucro. Por último, sobre essa temática, o autor 
afirma que as próprias características que fizeram a metrópole parecer alheia e hostil são uma 
parte da função da grande cidade: ajuntar ajuntou a diversidade e a variedade das culturas 
especiais. 
Mumford tem sucesso ao falar sobre a evolução urbana em sua obra, pois, diferente de 
alguns autores que abordam o mesmo tema, se dispõe a trabalhar os aspectos políticos e 
econômicos que acabam por moldar as relações humanas e como reflexo as cidades. Ao 
discorrer sobre o tema em uma possível linha do tempo, o autor infere que existe um 
movimento que se alterna ao passar dos séculos: a ocupação da cidade e a volta para a aldeia. 
Grande parte dos aspectos abordados continuam sendo atuais na leitura das cidades, como 
a identidade cultural, as alterações ambientais, a tecnologia como forma pura de lucro, entre 
outras colocações. 
Embora a discussão social em sua obra tenha grande ênfase, o autor apresenta poucas 
referências sobre pensadores e/ou tentativas de se alterar as condições das classes mais baixas 
no contexto urbano. O autor conclui a obra retomando os aspectos discutidos em cada um de 
seus capítulos propondo um olhar para a importâncias das instituições poder no ordenamento 
das cidades, a necessidade de um planejamento que considere as relações urbanas e as naturais, 
além da busca da participação consciente do homem no processo coletivo da cidade, iniciado 
no exemplo dos subúrbios. 
Tal ideia representa um convite para que se conhecendo e estudando a história das cidades, 
a partir da reflexão social, exista enfim novas teorias e urbanismos voltados as pessoas. 
 
Bianca Simionato Cordeiro 
Rafaela de Alemar Fardin

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