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UNIDADE 1 SEÇÃO 1 FUNCIONAMENTO DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA E POLÍTICAS PÚBLICAS Marcio de Cassio Juliano CONHECENDO A DISCIPLINA Seja bem-vindo à disciplina Funcionamento da Educação Brasileira e Políticas Públicas. Vamos iniciar nosso estudo com algumas questões que nortearão nossa caminhada: Qual o papel das Políticas na organização da Educação Nacional? Como o Estado pode atuar na organização do Sistema Educacional? O momento histórico influencia na forma de se pensar e conceituar a Educação? Quais leis norteiam o trabalho educacional no Brasil? Existem diretrizes que orientam a prática pedagógica na atualidade? São muitas as reflexões incitadas por meio dessas questões. Assim, objetivando contribuir para seu aprendizado, esta disciplina abordará uma ampla variedade de temas. Na Unidade 1, denominada ―Políticas Públicas e Legislação Educacional‖, você entrará em contato com aspectos conceituais, históricos e legais que compõem a ação do Estado em termos de Políticas Públicas voltadas à Educação. Conversaremos sobre as Políticas e suas características, focando nas políticas educacionais e no impacto que promovem no trabalho pedagógico. Nesse sentido, apresentaremos os antecedentes históricos da Legislação Educacional e as leis educacionais em vigor, bem como sua forma de organização em termos de instâncias administrativas (federal, estadual e municipal). A Constituição Federal de 1988 e sua influência na educação brasileira e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996 (LDB nº 9394/1996) e seu papel na estruturação da educação básica serão foco de nosso estudo. Na Unidade 2, intitulada ―Educação Básica‖, adentraremos no universo das Políticas e Legislação Educacional para a Educação Básica e conversaremos sobre o Plano Nacional de Educação, o Financiamento da Educação Brasileira, as Políticas de Gestão e sobre as diretrizes da Educação Especial na Educação Básica. Nessa unidade, abordaremos as Políticas voltadas à primeira infância, olhando para os referenciais da Educação Infantil e os Programa de Alfabetização voltados ao Ensino Fundamental, bem como as Políticas voltadas ao Ensino Médio. A penúltima unidade (Unidade 3) desta disciplina, intitulada ―Educação de Jovens e Adultos, Educação Profissional e outros campos da educação‖, focaliza as formas de organizarmos as experiências educativas voltadas ao público jovem e adultos, olhando para os programas de alfabetização na Educação de Jovens e Adultos (EJA), para as ações voltadas à educação profissional, para a educação em contextos quilombolas e para as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Escolar Indígena na Educação Básica. Por fim, a última unidade (Unidade 4) desta disciplina, ―Formação de Professores‖, apresentará as políticas voltadas à formação de professores, os programas de educação continuada e os planos de valorização do magistério. Diante do que apresentamos aqui, você, futuro pedagogo, percebe a importância de conhecer a organização do Estado Brasileiro, as concepções de políticas públicas, o histórico da Educação no Brasil, além dos seus processos organizacionais e legais para compreender as propostas educacionais que se apresentam na atualidade? O objetivo desta disciplina é possibilitar que você compreenda a organização da sociedade brasileira: Estado, Governo e Política, as reformas educacionais a partir da década de 1990, a legislação que orienta a organização da Educação Nacional, assim como a ação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e o seu impacto no currículo e práxis educacional. Assim, o foco está em oportunizar conhecimentos que lhe permitam distinguir a legislação e as políticas educacionais brasileiras, compreender suas implicações e seus impactos na organização social brasileira da educação e reconhecer a importância das políticas educacionais para a formação dos professores. Como futuro educador, esperamos que você utilize os conhecimentos aqui trabalhados acerca do Funcionamento da Educação Brasileira e das Políticas Públicas para assumir a postura de cidadão crítico e transformador e principalmente de um profissional da educação que valoriza sua profissão e reflete sobre sua prática educativa. Bom estudo! NÃO PODE FALTAR POLÍTICAS PÚBLICAS E LEGISLAÇÃO EDUCACIONAL – AS POLÍTICAS PÚBLICAS Sueli Helena de Camargo Palmen Fonte: Shutterstock. CONVITE AO ESTUDO Seja bem-vindo à primeira unidade desta disciplina. A primeira unidade (Unidade 1), intitulada ―Políticas Públicas e Legislação Educacional‖, tem como foco apresentar aspectos conceituais, históricos e legais que compõem a ação do Estado em termos de Políticas Públicas voltadas à Educação. Assim, na primeira seção desta unidade, ―As Políticas Públicas‖, conversaremos sobre as Políticas e suas características, focando as políticas educacionais e o impacto que promovem no trabalho pedagógico. Nesse contexto, é fundamental conhecer a Legislação Educacional e a forma de organização do Estado e suas ações promotoras de políticas públicas. Na segunda seção, ―A Legislação Educacional Brasileira‖, conversaremos sobre a hierarquia da Legislação no Brasil, de forma a compreender a normas legais quanto a tramitação da legislação educacional e o compartilhamento de responsabilidades entre Estados, municípios e federação. A Constituição Federal de 1988 e sua influência para a educação brasileira e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996 (LDB nº 9394/1996) e seu papel na estruturação da educação básica serão foco de nosso estudo. Assim, na terceira seção, ―as Políticas e Legislação Educacional‖, apresentaremos a Constituição Federal de 1988 e sua influência para a educação do Brasil, assim como a ação dos organismos internacionais nos anos de 1990 e sua influência nas reformas educacionais e na homologação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, em 1996, buscando apresentar a estrutura da Educação Básica brasileira. Enfim, o grande desafio desta disciplina está em apresentar os fundamentos da Educação Nacional colaborando com sua formação e reflexão enquanto ser social e político e, principalmente, como futuro educador. Portanto, é muito importante compreender a legislação educacional e analisar o conjunto de valores socialmente acordados que permeiam as ações educacionais vigentes em nosso país. Vale destacar que, ao final desta disciplina, espera-se que você compreenda o atual conceito de Estado e Políticas Pública, bem como o papel da legislação educacional para estruturação e funcionamento da Educação Nacional, favorecendo a reflexão acerca da ação educativa. O material didático está à sua disposição. Invista em seu aprendizado, olhe para os contextos de aprendizagem, para as situações-problemas e busque retomar os conhecimentos que foram tratados nesta disciplina. É muito importante que você, futuro educador, seja o gestor de sua aprendizagem e invista em sua formação, portanto, é fundamental conhecer a ação do Estado como promotor das Políticas Públicas, enfim, das Políticas Educacionais. PRATICAR PARA APRENDER Olá! Nesta unidade conversaremos sobre a ―Políticas Públicas e Legislação Educacional‖, percorrendo aspectos conceituais e históricos importantes para compreendermos as políticas educacionais e o papel da legislação em sua normatização. Assim, a primeira seção desta unidade, intitulada ―As Políticas Públicas‖, contribuirá para que você compreenda o papel do Estado na promoção de políticas públicas entre as quais estão as políticas educacionais, olhando para o Estado Brasileiro Mas você sabe qual são as principais leis que regulamentam a Educação Brasileira? Como futuro educador, é muito importante conhecer a Legislação Educacional e as diretrizes que normatizam o trabalho pedagógico, ou seja, que regulamentama Educação Nacional. Portanto, nesta seção iniciaremos essa conversa. Lembre-se da importância da postura analítica, crítica e ética do profissional da educação, realize as leituras indicadas e anote suas observações acerca dos conteúdos aqui trabalhados. Eles serão fundamentais na sua trajetória formativa! O contexto de aprendizagem apresentado busca aproximar você da realidade de seu campo de trabalho. Lembre-se que, embora seja uma narrativa hipotética, o contexto de aprendizagem é um exercício que mobiliza conhecimentos promovidos nesta disciplina conectando-os com as situações da prática educacional, tornando-os mais compreensíveis e significativos. João é um jovem estudante de Pedagogia que estava estagiando numa escola particular nos anos iniciais do ensino fundamental, contudo ele conseguiu entrar num programa estadual que possibilita ao estudante trabalhar numa escola estadual aos finais de semana e assim ter a isenção da mensalidade na Universidade Particular, durante o período de seu estágio, em seu curso de formação para professor. Cabe destacar que João nunca trabalhou em escola pública e desconhece as políticas públicas voltadas à melhoria da Educação pública. Como atuará aos finais de semana com esse público, é muito importante que se inteire das Políticas Educacionais e Sociais das quais pode indicar ou lançar mão durante sua atividade. Como João tem se mostrado muito comprometido com a qualidade de seu trabalho e a ética de sua atuação, logo entrou em contato com você, professora-orientadora de estágio, para pedir ajuda com a legislação educacional. Nesse sentido, o seu papel enquanto professora-orientadora de estágio é orientá-lo quanto a essas políticas. Considerando os conteúdos mobilizados nesta seção, você julgou importante fazer alguns apontamentos acerca dos aspectos das políticas educacionais que se apresentam em forma de Programas e Projetos Educacionais e que poderão permear o cotidiano profissional de João: Quais orientações você daria para João a fim de lhe esclarecer o papel das políticas públicas voltadas à Educação? Quais questionamentos você faria visando nortear sua percepção prática quanto às políticas públicas na escola? Quais políticas educacionais chegam à escola pública em forma de programas? A educação pública e gratuita é um direito social? Como os professores podem oportunizar aos alunos o acesso às políticas públicas? Enfim, pense nos apontamentos que você considera fundamental para a prática educacional de João durante seu estágio educacional, mas já assumindo o papel de futuro educador. Você considera que esses conhecimentos auxiliarão na sua atuação dentro dos princípios democráticos e promotores do direito à educação? Aqui você ocupará esse lugar propositivo! Vamos juntos enfrentar esse desafio? Bom estudo! CONCEITO-CHAVE Cidadão Tá vendo aquele edifício, moço? Ajudei a levantar Foi um tempo de aflição Era quatro condução Duas pra ir, duas pra voltar Hoje depois dele pronto Olho pra cima e fico tonto Mas me vem um cidadão E me diz, desconfiado Tu tá aí admirado Ou tá querendo roubar? [...] (CIDADÃO: Lúcio Barbosa; Zé Geraldo. Rio de Janeiro: CBS, 1979. LP Terceiro mundo.) Olá, futuro educador! Você já ouviu a música ―Cidadão‖, composta pelo poeta baiano Lúcio Barbosa? Essa música nos leva a refletir sobre os direitos sociais que todas as pessoas, numa sociedade democrática, deveriam ter acesso por meio das Políticas Públicas. Assim, neste momento, iremos conversar sobre o que é a Política e o que são Políticas Públicas. Você sabe de onde vem o termo Política e o que ele significa? O termo ―Política‖ se origina da palavra grega ―polis‖, que significa cidade, contudo, também era sinônimo de cidade-Estado. A vida na polis podia ter duas esferas: uma privada (ligada aos assuntos particulares da casa) e uma pública (expressa pelo espaço urbano público e político e suas instituições). A política era a forma de normalizar a convivência entre os habitantes das cidades e cidades-estados vizinhas. Quando a política era exercida dentro de um mesmo Estado era nominada de Política Interna, e quando era realizada entre diferentes Estados, de Política Externa. Entre os filósofos gregos que discutiam o sentido da palavra Política está Aristóteles, o qual se dedicou a escrever um livro nominado ―A Política‖. De acordo com Aristóteles (2002, p. 64), ―Em todas as ciências e em todas as artes, o alvo é o bem; e o maior dos bens acha-se principalmente naquela dentre todas as ciências que é a mais elevada: essa ciência é a Política e o bem da justiça é a política, isto é a utilidade geral [...]‖. No sentido aristotélico, a Política pode ser compreendida como uma ciência que tem por objetivo a felicidade humana, pautada na ética, ao olhar para o homem individualmente, e na política em si ao olhar para a coletividade. Portanto, a Política deve buscar boas ações para o bem-estar tanto individual como coletivo. Focando o olhar para as sociedades modernas, Saravia (2006) pontua que as relações sociais se tornaram complexas, tanto entre seus membros quanto entre as instituições que a compõem, pois há uma diversidade de interesses, ideias e valores e isso acaba ocasionando a incidência de conflitos. Assim, a Política torna-se um meio capaz de administrar essa complexidade e, através da tomada de decisões e da ação, levam a sociedade a progredir. Nessa perspectiva, a Política é [...] um fluxo de decisões públicas, orientado a manter o equilíbrio social ou a introduzir desequilíbrios destinados a modificar essa realidade. Decisões condicionadas pelo próprio fluxo e pelas reações e modificações que elas provocam no tecido social, bem como pelos valores, ideias e visões dos que adotam ou influem na decisão. É possível considerá-las como estratégias que apontam para diversos fins, todos eles, de alguma forma, desejados pelos diversos grupos que participam do processo decisório. A finalidade última de tal dinâmica – consolidação da democracia, justiça social, manutenção do poder, felicidade das pessoas – constitui elemento orientador geral das inúmeras ações que compõem determinada política. (SARAVIA, 2006, p. 28). Você, futuro educador, pode ver que a Política é uma forma dos indivíduos administrarem as relações entre si, de forma a materializar as intenções em ações visando atender às necessidades coletivas, ou seja, para um bem em comum. É nessa linha que passamos a nos referir às Políticas Públicas, ou seja, às ações empreendidas pelo Estado, ou, como diz Höfling (2001), as Políticas Públicas são aqui entendidas como o ―Estado em ação‖. Para Cunha e Cunha (2002, p. 12), ―as políticas públicas têm sido criadas como resposta do Estado às demandas que emergem da sociedade e do seu próprio interior, sendo a expressão do compromisso público de atuação numa determinada área a longo prazo‖. De forma mais concreta, as Políticas Públicas se materializam como um conjunto de ações coletivas voltadas para a garantia dos direitos sociais, configurando um compromisso público que visa a dar conta de determinada demanda, em diversas áreas, e transformando ações privadas em ações coletivas no espaço público. As Políticas Públicas são voltadas à economia, à educação, à saúde, ao meio ambiente, à ciência e tecnologia, ao trabalho, à moradia, entre outras. As Políticas Públicas podem assumir quatro tipologias com características próprias, conforme especifica Souza (2002): Políticas Distributivas. Políticas Regulatórias. Políticas Redistributivas. Políticas Constitutivas. As Políticas Públicas Distributivas, como pontua Souza (2002), possuem objetivos pontuais, visando contextos locais e não universais, ofertando serviços e equipamentos, focalizando grupos sociais ou regiões em detrimentodo todo. Essa modalidade de Política Pública, a distributiva, favorece o clientelismo e o patrimonialismo, pois, dentro do jogo político, o assistencialismo é utilizado como moeda de troca por apoio político. No Brasil, esse tipo de política é comum, como a oferta de pavimentação de ruas, cadeiras de rodas para deficientes físicos, principalmente em período eleitoral. Entretanto, Souza (2002) alerta que nem toda política distributiva pode ser compreendida como assistencialista e clientelista, principalmente após a criação da Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS), em 1988, pois essa legislação regulamentou o acesso aos serviços que os cidadãos têm o direito de exigir, de forma autônoma como um direito social. As Políticas Públicas Regulatórias foram criadas visando regulamentar, normatizar e implementar as políticas distributivas e redistributivas, portanto se pautam em legislações criadas com essa finalidade. São consideradas de ordem burocrática e grupos de interesse pressionam sua elaboração. De acordo com Souza (2002), as políticas regulatórias funcionam de forma diferenciada em cada segmento social, sendo muitas vezes desconhecidas do público em geral, o qual somente revela ciência de sua existência quando se veem prejudicados pela normatização, como por exemplo, diante da limitação de venda de determinados produtos, como os antibióticos por exemplo, vendidos somente mediante a receita médica e com controle. As Políticas Públicas Redistributivas visam redistribuir não apenas finanças, mas também serviços, os quais são disponibilizados pelo governo como forma de reduzir as resistências sociais. O financiamento dessas políticas acaba sendo feito pelas pessoas que possuem uma renda mais alta, em favorecimento às pessoas com rendas menores, chamadas de beneficiários. As políticas públicas redistributivas são vistas como direitos sociais. Podemos citar como exemplo os programas de habitação popular voltado à população de baixa renda, os quais dão subsídios aos seus beneficiários que são compensados através da arrecadação de outros impostos. Ainda no caso da habitação, vale dar o exemplo da isenção do IPTU para cidadãos de baixa renda, enquanto o aumento desse imposto é realizado para os demais cidadãos, compensando a não cobrança a esse público específico. Já as Políticas Públicas Constitutivas estabelecem e distribuem a responsabilidade entre municípios, estados e Governo Federal e estipulam competências e formas de participação social nessas ações, regulando a criação das Políticas Públicas em si. Sempre que uma demanda social surge e se caracteriza como parte de uma agenda política, como um problema a ser resolvido por meio da constituição de uma nova Política Pública, a ―Política Pública Constitutiva‖ é a responsável pela discussão do problema, sua constituição enquanto agenda passível de discussão, e formulação e implementação enquanto Política. Ao falarmos na Política Pública Constitutiva acabamos falando sobre as etapas da Política, ou seja, no processo de formulação das Políticas Públicas, também chamado de ciclo das Políticas Públicas (HAM; HILL, 1993). Como apresentam Ham & Hill (1993), o ciclo das Políticas é composto por fases, como você pode ver no esquema a seguir. Figura 1.1 | Fases da Política Fonte: elaborada pela autora. A primeira fase é a formação da agenda, que se caracteriza pelo planejamento e percepção dos problemas que merecem maior atenção, por meio da análise da situação e sua emergência, bem como recursos para sua resolução. A segunda fase é a formulação da política, portanto é quando se define o objetivo da política, seus programas e suas linhas de ação. É nessa fase que as ideias devem se organizar e desenhar a Política com o objetivo de resolver o problema em questão e os resultados que visa alcançar, elencando as estratégias que serão utilizadas. A terceira fase é o processo de tomada de decisão, no qual se define quais serão as ações adotadas, os recursos e os prazos para cada ação política. A quarta fase, a implementação da política, é quando se põe os planos em prática, se direciona os recursos financeiros, tecnológicos, materiais e humanos para executar a política. Por fim, a quinta fase, a avaliação, que contribui para o acompanhamento da Política visando o sucesso da ação. Para isso, é muito importante que a avaliação aconteça em todas as fases da Política, visando os melhores resultados, corrigindo as possíveis falhas ao longo do processo de efetivação (HAM & HILL, 1993). Assim, o Estado age por meio das Políticas Públicas visando atender às demandas sociais em termos de distribuição de bens e serviços sociais, podendo sua abrangência acontecer no âmbito federal, estadual e municipal. Você, futuro educador, sabe qual é a diferença entre Estado e Governo? É muito importante compreendermos essa diferenciação, pois é comum confundirmos Estado e Governo. A palavra ―Estado‖ como a compreendemos hoje, passou a ser utilizada no século XVI, conforme pontua Bobbio (2004). Se origina da palavra latina ―status‖, utilizada para denominar o conjunto de instituições e pessoas que tinham o domínio sobre um território e seus habitantes (BOBBIO, 2004). Segundo Rocha (2008), podemos dizer que Estado é toda a sociedade política, incluindo o governo. O Estado possui as funções executiva, legislativa e judiciária. O Governo faz parte do Estado e pode ser identificado pelo grupo político que está no seu comando. Contudo, uma Política de Estado é regulamentada por leis e tem uma duração ampla, independente do grupo político no poder. Um exemplo de Política de Estado é o Plano Nacional de Educação (PNE). Sua duração é para uma temporalidade de 10 anos e estabelece metas a serem atingidas pelos municípios, estados e federação, independente dos grupos que estão em seu governo. Já uma Política de Governo dura o tempo que determinado grupo se mantém no comando. Dentro das políticas municipais de educação infantil, por exemplo, a cada quatro anos costuma-se haver novas normatizações na forma de conduzir a educação em creches e pré-escolas a nível local, entretanto, as Políticas de Estado devem ser cumpridas independente do governo local, sendo normatizadas por uma legislação. Como resume Rocha (2008, p. 141), O Estado é um conjunto de órgãos responsáveis pelo desempenho de suas funções. Os órgãos do Estado fazem o que é do seu interesse, pois exercem o poder do Estado, não possuem vontade própria, por isso são órgãos. As funções são a executiva, a legislativa e a judiciária. Nesse contexto, apresentamos a seguir como estão constituídos os poderes do Estado e suas funções. A administração pública compõe a função executiva, como organização da burocracia estatal, e o governo que representa um conjunto de órgãos decisórios. Podemos considerar a organização e estrutura do Estado sob três aspectos: forma de governo, sistema de governo e forma de Estado. Quadro 1.1 | Organização e Estrutura do Estado FORMA DE GOVERNO SISTEMA DE GOVERNO FORMA DE ESTADO República Presidencialismo Estado Unitário Monarquia Parlamentarismo Federação Fonte: elaborado pela autora. O Brasil adotou a Federação como forma de organização do Estado. Como coloca Pinho (2012), a Federação é uma aliança de Estados para a formação de um Estado único, em que as unidades federadas preservam autonomia política, enquanto a soberania é transferida para o Estado Federal. São características de um Estado Federal: As atribuições da União e as das unidades federadas são fixadas na Constituição, por meio de uma distribuição de competências (União, Estados e Municípios). Cada esfera de competência se atribui renda própria. Opoder político é compartilhado pela União e pelas unidades federadas. Os cidadãos do Estado que aderem à federação adquirem a cidadania do Estado Federal e perdem a anterior. A base jurídica da Federação é uma Constituição e não um tratado. Não existe o direito de secessão. O indivíduo é cidadão do Estado Federal e não da unidade em que nasceu ou reside. (PINHO, 2012) É importante destacar que o governo possui a discricionariedade, ou seja, tem liberdade de ação dentro dos limites da legalidade, entretanto, o Estado possui princípios que limitam a opção ideológica dos governos, lembrando que no Brasil nos referimos a um Estado democrático, onde o voto popular determina a escolha política. O poder legislativo é realizado por colegiados com distribuição de representatividades, visando discussões amadurecidas com foco na resolução dos problemas sociais. A função legislativa, conforme afirma Vieira (2007), é a essência do poder. O poder judiciário tem a função de controle sobre os atos públicos e privados para a garantia da legalidade. Além de identificar a legalidade das ações na sociedade, o poder judiciário também deve preencher as lacunas que aparecem nas leis através de ações decisórias (VIEIRA, 2007). Visando afirmar que o Estado democrático de direitos deve responder a princípios que garantam a todos os cidadãos o mesmo tratamento perante a lei, não possibilitando favorecimentos, Rocha (2008, p. 142) destaca que No Estado de Direito, as funções do Estado, caracterizadas na forma de poder, devem ser separadas para não caracterizar o benefício do poder para o indivíduo que a ocupa, segundo a teoria de freios e contrapesos. É neste sentido que as funções do Estado não devem também se confundir com os ocupantes do governo. Nesse contexto, vale resgatar que quando falamos em Políticas Sociais, estamos falando em decisões políticas que são tomadas pelo Estado, visando atender às demandas sociais, ou seja, olhando para a coletividade. Quando falamos especificamente da Política Educacional, estamos nos referindo a uma política social voltada à educação, portanto, às decisões que o Poder Público, ou seja, o Estado, toma em relação à educação (SAVIANI, 2008). Segundo Vieira (2007, p. 56), a Política Educacional pode ser considerada como uma aplicação da Ciência Política ao estudo do setor educacional e, por sua parte, as políticas educacionais como ―políticas públicas que se dirigem a resolver questões educacionais‖. As iniciativas do Poder Público, em suas diferentes instâncias (União, Estados, Distrito Federal e Municípios), voltadas à Educação acabam influenciando diretamente o desenvolvimento das ações pedagógicas nas escolas e sua organização. Um exemplo dessa influência pode ser verificado ao analisarmos o papel da nossa legislação brasileira, a Constituição Federal de 1988, na regulamentação da Educação Nacional. Na Constituição Federal se estabelece que a gestão da educação deve ser pautada no princípio democrático, assim, os estabelecimentos de ensino, sejam estaduais, federais ou municipais, devem se adequar à legislação nacional ao organizarem a gestão escolar, por exemplo. Na atualidade, podemos destacar duas legislações que impactam diretamente nas Políticas Educacionais brasileiras. São elas: a Constituição Federal (CF), de 1988, e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB – Lei nº 9394/1996), pois são leis maiores que normatizam o funcionamento das instituições e se referem aos direitos e deveres dos cidadãos em termos educacionais. Futuro educador, na próxima seção estaremos conversando de forma mais aprofundada sobre a legislação educacional, explicitando sua constituição e ação social. Contudo, cabe destacar que as Políticas Educacionais se amparam em regulamentações legais, as quais impactam diretamente no trabalho pedagógico realizado pelas escolas. Vieira (2007) destaca que os estabelecimentos de ensino funcionam com base nas legislações em vigor as quais orientam as Políticas Educacionais, devendo elaborar e executar suas propostas educacionais de maneira articulada com as orientações presentes nas Políticas em vigor, administrando seu pessoal, os recursos materiais e financeiros, cumprindo os dias letivos, articulando-se com as famílias e comunidades de forma a executar sua proposta pedagógica, como determina a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB - Art. 12, Incisos I a VII – VIEIRA, 2007, p. 61). Como uma lei específica e voltada à Educação, a LDB regulamenta todas as ações educacionais e junto com a Constituição Federal devem zelar pelo direito à educação de todos os cidadãos, desde o nascimento, visando garantir o direito à Educação desde a educação básica até o ensino superior. Nessa perspectiva, cabem aos formuladores de política e aos gestores concentrarem esforços na tarefa de fazer chegar às escolas os instrumentos para operacionalizarem o desafio do sucesso do ensino e da aprendizagem. Esta tarefa sem trégua está posta para todos. A ela não podem se furtar a(s) política(s) e a gestão da educação básica. (VIEIRA, 2007, p. 68) Para finalizar esta seção, cujo objetivo foi apresentar as Políticas Públicas, compreendê-las conceitualmente e conhecer como funciona a Política voltada à Educação, ou seja, a Política Educacional, deixamos aqui dois exemplos de Políticas Públicas direcionadas às ações educacionais, visando ilustrar essa ação do Estado. São elas a EJA e o Prouni – Programa Universidade para Todos. A EJA é um exemplo de Política Pública redistributiva ligada à educação, que tem sua origem na Pedagogia de Paulo Freire e destina-se a erradicar o analfabetismo da população brasileira. O Prouni é um programa do Ministério da Educação (MEC) que oferece bolsas de estudos totais e parciais a estudantes da rede pública de ensino que foram aprovados em universidades privadas de ensino. O critério para a aquisição da bolsa se pauta na questão financeira da família (rendimento médio) e na pontuação no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), classificando os estudantes que demandarem a referida bolsa. ASSIMILE 1. Atores das Políticas Públicas: chamamos de atores os grupos que integram o Sistema Político, apresentando reivindicações ou executando ações que serão transformadas em Políticas Públicas. Podemos dizer que existem dois tipos de atores: os estatais e os privados. o Os estatais são oriundos do Governo ou do Estado e exercem funções públicas, são eleitos pela sociedade para um cargo por tempo determinado (os políticos), ou atuam de forma permanente, como os servidores públicos (que operam a burocracia). o Os privados são oriundos da Sociedade Civil e não possuem vínculo direto com a estrutura administrativa do Estado. Exemplo: a imprensa; os centros de pesquisa; os movimentos sociais; os representantes comerciais; os sindicatos e outras entidades representativas da Sociedade Civil. 2. Plano diretor: é uma lei municipal obrigatória para municípios com população superior a vinte mil habitantes, que integram regiões metropolitanas, ou ainda, que estejam situados em áreas de influência de empreendimentos ou atividades com significativo impacto ambiental, visando estabelecer as diretrizes de ocupação da cidade. Em outras palavras, ele define o que pode e o que não pode ser feito em um município, orientando as ações do Poder Público e as tomadas de decisão. 3. Programas: no contexto das Políticas Públicas, programas nada mais são do que as ações previstas no planejamento estratégico detalhadas em projetos. Para que um projeto esteja completo é preciso que ele contenha não apenas os objetivos, mas um plano de ação dividido em várias fases (como em um cronograma) com os resultados esperados. Exemplo: Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE). REFLITA A participação social influênciano bom desempenho das Políticas Públicas? Os atores sociais são capazes de pressionar o Estado quanto à elaboração de Políticas Públicas? EXEMPLIFICANDO Quando falamos em Gestão democrática na escola é fundamental pensarmos na participação das famílias, alunos e comunidade em geral em sua gestão, participando dos processos decisórios, acompanhando as ações tomadas pela escola, de forma a favorecer a gestão escolar de forma eficiente, ou seja, garantindo o bom uso dos recursos para a promoção de uma qualidade educacional. Você está caminhando rumo ao resultado de aprendizagem desta unidade, compreendendo a construção de uma legislação educacional e das Políticas Educacionais, sua hierarquia e os impactos na educação brasileira e refletindo sobre os desafios da formação de professores. Até aqui você pôde ver que as Políticas Públicas influenciam diretamente a Educação, principalmente ao estabelecer em lei o direito à educação, o direito ao seu acesso e permanência, questões que ainda são grandes desafios no Brasil. Bom trabalho! FAÇA VALER A PENA Questão 1 O termo ―Política‖ se origina da palavra grega ―polis‖ que significa cidade, contudo, também era sinônimo de cidade-Estado. A vida na polis podia ter duas esferas: uma privada (ligada aos assuntos particulares da casa) e uma pública (expresso pelo espaço urbano público e político e suas instituições). Considerando esse contexto, analise as seguintes afirmativas: I. A política era a forma de normalizar a convivência entre os habitantes das cidades e cidades-estados vizinhas. II. Quando a política era exercida dentro de um mesmo Estado, era nominada de Política Interna e quando era realizada entre diferentes Estados, de Política Externa. III. A Política deve buscar boas ações para o bem-estar tanto individual como coletivo, priorizando o clientelismo e o patrimonialismo político. a. As afirmações I e II estão corretas. b. As afirmações I e III estão corretas. c. As afirmações II e III estão corretas. d. Apenas a afirmação I está correta. e. Apenas a afirmação III está correta. Questão 2 No sentido aristotélico, a Política pode ser compreendida como uma ciência que tem por objetivo a felicidade humana, pautada na ética, ao olhar para o homem individualmente, e na política em si, ao olhar para a coletividade. Portanto, a Política deve buscar boas ações para o bem-estar tanto individual como coletivo. Considerando o sentido da palavra Política proposta por Aristóteles, analise o excerto a seguir, completando suas lacunas. Em todas as ____________ e em todas as artes, o alvo é o ____________; e o maior dos bens acha-se principalmente naquela dentre todas as ciências que é a mais elevada: essa ciência é a ____________ e o bem da justiça é a política, isto é a utilidade geral [...] (ARISTÓTELES, 2002, p.64) Assinale a alternativa que preenche corretamente as lacunas. a. matérias / dinheiro / Biologia. b. disciplinas / aprendizado / Vida. c. ciências / bem / Política. d. escolas / trabalho / Matemática. e. pesquisas / lucro / Economia. Questão 3 https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/FUNCIONAMENTO_DA_EDUCACAO_BRASILEIRA_E_POLITICAS_PUBLICAS/LIVRO_DIGITAL/npf_u1s1.html#accordion-4%20.item-1 https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/FUNCIONAMENTO_DA_EDUCACAO_BRASILEIRA_E_POLITICAS_PUBLICAS/LIVRO_DIGITAL/npf_u1s1.html#accordion-4%20.item-2 https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/FUNCIONAMENTO_DA_EDUCACAO_BRASILEIRA_E_POLITICAS_PUBLICAS/LIVRO_DIGITAL/npf_u1s1.html#accordion-4%20.item-3 https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/FUNCIONAMENTO_DA_EDUCACAO_BRASILEIRA_E_POLITICAS_PUBLICAS/LIVRO_DIGITAL/npf_u1s1.html#accordion-4%20.item-4 https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/FUNCIONAMENTO_DA_EDUCACAO_BRASILEIRA_E_POLITICAS_PUBLICAS/LIVRO_DIGITAL/npf_u1s1.html#accordion-4%20.item-5 https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/FUNCIONAMENTO_DA_EDUCACAO_BRASILEIRA_E_POLITICAS_PUBLICAS/LIVRO_DIGITAL/npf_u1s1.html#accordion-5%20.item-1 https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/FUNCIONAMENTO_DA_EDUCACAO_BRASILEIRA_E_POLITICAS_PUBLICAS/LIVRO_DIGITAL/npf_u1s1.html#accordion-5%20.item-2 https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/FUNCIONAMENTO_DA_EDUCACAO_BRASILEIRA_E_POLITICAS_PUBLICAS/LIVRO_DIGITAL/npf_u1s1.html#accordion-5%20.item-3 https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/FUNCIONAMENTO_DA_EDUCACAO_BRASILEIRA_E_POLITICAS_PUBLICAS/LIVRO_DIGITAL/npf_u1s1.html#accordion-5%20.item-4 https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/FUNCIONAMENTO_DA_EDUCACAO_BRASILEIRA_E_POLITICAS_PUBLICAS/LIVRO_DIGITAL/npf_u1s1.html#accordion-5%20.item-5 As Políticas Públicas são as ações empreendidas pelo Estado, ou seja, podemos dizer que as Políticas Públicas são o ―Estado em ação‖. Vale destacar que as Políticas Públicas podem assumir tipologias, apresentando cada uma delas características próprias. Assim, podemos dizer que as Políticas Públicas podem ser classificadas em: I. Políticas Distributivas. II. Políticas Regulatórias. III. Políticas Redistributivas. IV. Políticas Constitutivas. V. Políticas Administrativas. a. I, II, III e V estão corretas. b. I, II, III e IV estão corretas. c. I, IV e V estão corretas. d. II, III, IV e V estão corretas. e. III, IV e V estão corretas. REFERÊNCIAS ARISTÓTELES. Política. Trad. Torrieri Guimarães. São Paulo: Martin Claret. 2002. Disponível em: https://bit.ly/3qnC4Yr. Acesso em: 29 set. 2020. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: https://bit.ly/3akCWay. Acesso em: 29 set. 2020. BARBOSA, L.; GERALDO, Z. Cidadão. Rio de Janeiro: CBS, 1979. LP Terceiro mundo. CUNHA, E. de P.; CUNHA, E. S. M. Políticas públicas e sociais. In: CARVALHO, A.; SALES, F. (Org.). Políticas públicas. 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Cada programa tem um objetivo específico e busca responder a uma demanda específica, por isso é muito importante conhecer seu objetivo e o público alvo. Entre as Políticas Educacionais que chegam na escola em forma de programa está o Programa de Inovação Educação Conectada, que tem por objetivo levar a todas as escolas de Educação Básica, ou seja, Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio, o acesso à internet com qualidade, permitindo pesquisas e novos conteúdos educacionais. Políticas de incentivo à leitura também chegam às escolas através de Programas. Por exemplo, o Programa Nacional de Alfabetização tem o projeto ―Conta pra Mim‖, que visa a literacia familiar, ou seja, o incentivo à leitura para a criança sendo realizada pela família. Há também o Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), que é uma forma de garantir o material didático a todos os alunos. Esse programa tem sua versão literária, a qual fornece livros de literatura para bibliotecas escolares e visando o incentivo à leitura. Até aqui, conhecemos três Programas que fazem parte da Política Educacional Brasileira: Programa de Inovação Educação Conectada. Programa Nacional de Alfabetização, com seu projeto ―Conta pra Mim‖. PNLD e sua versão literária. João poderá promover o acesso às salas de informática a fim de oportunizar o acesso a essa Política Pública a todos os alunos que frequentam a escola aos finais de semana, mostrando que o acesso à uma educação de qualidade a todos é um direito social. O empréstimo de livros da biblioteca também é uma forma de oportunizar um direito educacional, incentivando a leitura. Enfim, a partir dessas orientações João pode verificar quais politicas já se fazem presente em sua escola e quais podem ser implementadas, visando promover o direito à educação. Conhecer a equipe gestora e pensar em meios de participação de todos os profissionais e da comunidade e alunos e uma forma de deixar a gestão democrática e transparente aproximando a todos aos direitos sociais, entre os quais está o direito à Educação. Essas são apenas algumas dicas a serem dadas a João! AVANÇANDO NA PRÁTICA NUNCA É TARDE PARA APRENDER Dona Jussara tem 50 anos e trabalha na Escola como servente. Nunca comentou com ninguém que sabe escrever apenas o nome, pois treinou muito e acabou decorando sua grafia, contudo não sabe ler nem escrever. João, estagiário de Pedagogia, começou a conversar com dona Jussara e em um determinado momento ela acabou contando que não sabia ler. Logo ficou envergonhada, afinal, trabalha dentro de uma escola. João comentou com dona Jussara que também tem uma origem social bastante difícil: foi criado pela mãe e é o primeiro na família a cursar o ensino superior. Se você fosse João, como motivaria Dona Jussara a estudar para que ela finalmente aprenda a ler e escrever? RESOLUÇÃO A mãe de João só aprendeu a ler e a escrever depois que os filhos estavam maiores, num curso de EJA – Educação de Jovens e Adultos. Esse programa visa garantir o direito à educação a quem não teve oportunidade na idade certa, por isso é uma política redistributiva que visa corrigir uma distorção do passado. João incentivou dona Jussara a se matricular e explicou que na EJA ela encontrará pessoas com sua faixa etária e com experiência de vida muito parecida. Além de aprender a ler e escrever, fará amizades e ampliará seu repertório social, afinal, a EJA busca olhar para as trajetórias de vida e promover aprendizagens significativas respeitando a faixa etária de seu público. Dona Jussara ficou muito feliz, principalmente por saber que, no período noturno, no centro social do bairro há uma sala de EJA e aceita matrículas, assim, seu acesso é possível e lhe permitirá realizar seu grande sonho: aprender a ler e a escrever. Todos têm direito à educação, como declara a Constituição Federal do Brasil. SEÇÃO 2 NÃO PODE FALTAR POLÍTICAS PÚBLICAS E LEGISLAÇÃO EDUCACIONAL – A LEGISLAÇÃO EDUCACIONAL BRASILEIRA https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/FUNCIONAMENTO_DA_EDUCACAO_BRASILEIRA_E_POLITICAS_PUBLICAS/LIVRO_DIGITAL/fmt_u1s1.html#resolucao%20.item-1 Sueli Helena de Camargo Palmen Fonte: Shutterstock. PRATICAR PARA APRENDER Olá! Nesta seção estaremos conversando sobre A Legislação Educacional Brasileira, abordando a hierarquia da Legislação no Brasil, as normas legais quanto à tramitação da legislação educacional e compartilhamento de responsabilidades entre entes federados, ou seja, entre Distrito Federal, Estados, municípios e federação, relativos à implementação das Políticas Educacionais. Aqui estaremos retomando a trajetória histórica da educação brasileira, visando demonstrar o quanto os aspectos sociais, políticos e econômicos influenciam na concepção da educação e o quanto influenciam na elaboração de leis que norteiam as Políticas Públicas. Nesta seção, focalizaremos os aspectos legais atuais que orientam e regulamentam o Sistema Educacional brasileiro, com destaque para a Constituição Federal (CF), de 1988, e sua influência na educação brasileira, e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, de 1996, (LDB nº 9394/1996) e o seu papel na estruturação da educação básica. Vale destacar que, ao final desta seção, espera-se que você compreenda o papel da legislação educacional para a organização e o funcionamento da Educação Nacional, favorecendo a reflexão acerca da ação educativa. Qual a visão de Educação presente em nossa atual Constituição Federal? Você já parou para fazer essa análise e verificar sua relação com as Políticas Educacionais que temos vivenciado? Como você está se preparando para ser um futuro educador, é fundamental conhecer mais sobre o funcionamento da Educação no Brasil, por isso, adote a postura deum educador pesquisador e busque conhecer nossa legislação educacional, com destaque para a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, de 1996. O contexto de aprendizagem apresentado busca aproximar você da realidade de seu campo de trabalho. Lembre-se de que, embora seja uma narrativa hipotética, é um exercício que mobiliza conhecimentos promovidos nesta disciplina, conectando-os com as situações da prática educacional e tornando-os mais compreensíveis e significativos. Em um final de semana, João estava na escola pública de ensino fundamental ―Construindo o Futuro‖, onde está estagiando, e enquanto organizava os espaços para a utilização da comunidade, recebeu um grupo de pais preocupados com alguns boatos que estão circulando na comunidade. Ouviram dizer que a escola será municipalizada e estão preocupados com o destino de seus filhos. Muitos professores têm comentado que no próximo ano letivo talvez não estejam mais na escola e não sabem se as turmas serão mantidas, ou se haverá alguma reestruturação, portanto, o futuro dos empregos também é incerto, o que tem ocasionado grande insegurança e a mobilização da comunidade. Diante dos comentários, os pais procuraram João para verificar essas informações e juntos pensarem numa mobilização. Durante a conversa com João, alguns pais acabam expondo que estão inseguros, pois temem que a escola feche no bairro, além de não acreditarem que o município consiga manter a escola funcionando no mesmo padrão que o Estado. João ouve todas as dúvidas da comunidade para, em um segundo momento, poder orientar e propor ações. Entre as principais dúvidas pontuadas pelos pais estão: Com a municipalização corre o risco da escola do bairro fechar? A qualidade do ensino será mantida pelo município? De onde virá o dinheiro para a manutenção da escola? Os professores perderão o emprego? E os demais funcionários da escola? Por que o Estado não quer mais assumir o ensino nesta escola? Nesse momento, você, futuro educador, deve ocupar o lugar de João e propor ações para resolver essa situação-problema apresentada. Descreva hipoteticamente quais seriam as possíveis ações de João. Vamos juntos conhecer mais sobre o histórico e funcionamento da Educação no Brasil? Um excelente estudo! CONCEITO-CHAVE Olá! Vamos conversar nesta seção sobre a Legislação Educacional brasileira recuperando, de forma breve, o percurso histórico da educação no Brasil, focando o papel das regulamentações para sua organização e funcionamento. Na atualidade, quando falamos em Educação, logo nos vem à mente a ideia de um projeto de sociedade e de formação humana, assim, analisamos aspectos que a influenciam como: a cultura, a economia e a política em vigor. A partir da visão de Educação e do contexto sociopolítico, teremos Legislações que regulamentaram sua implementação. Hierarquia da Legislação no Brasil Pensando na hierarquia das leis, cabe destacar que, no Brasil, vigora o princípio da Supremacia da Constituição, ou seja, as normas constitucionais estão num patamar de superioridade em relação às demais leis, servindo de fundamento de validade para estas. Pensando na normatização e nessa hierarquia, Bittencourt e Clementino (2012) pontuam que podemos pensar em três grupos de normas legais: Normas constitucionais. Normas infraconstitucionais. Normas infralegais. Quadro 1.2 | Normas legais Normas constitucionais Constituição Federal (05/10/88) Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT) Emendas Constitucionais (nem tudo pode ser alterado, sendo que devem ser respeitadas as cláusulas Pétreas) Tratados e Convenções internacionais sobre Direitos Humanos Normas infraconstitucionais Lei Complementar – as hipóteses de regulamentação da constituição por meio de lei complementar estão taxativamente previstas na CF. Lei Ordinária – o campo por elas ocupado é residual, ou seja, tudo o que não for regulamentado por lei complementar, decreto legislativo, resoluções, será regulamentado por lei ordinária. Lei Delegada – é a espécie normativa utilizada nas hipóteses de transferência da competência do Poder Legislativo para o Poder Executivo. Medida provisória. Decreto Legislativo. Resolução. Normas infralegais Decretos – são expedidos pelo Presidente de República, para dar fiel execução a uma lei já existente. Portaria – é o instrumento pelo qual Ministros ou outras autoridades de alto escalão expedem instruções sobre procedimentos relativos à organização e ao funcionamento de serviços e, ainda, podem orientar quanto à aplicação de textos legais. Instrução Normativa Fonte: adaptado de Bittencourt e Clementino (2012) É fundamental destacar que não há hierarquia entre as normas de um mesmo grupo, o que existe é campo de atuação diferenciado, específico entre essas normas que compõem o mesmo grupo. O que existe também é hierarquia entre os grupos, sendo que as normas constitucionais são hierarquicamente superiores às normas infraconstitucionais, que são hierarquicamente superiores às normas infralegais. Pensando na organização e no funcionamento da educação brasileira, o caminho histórico que constituiu nossa realidade educacional é longo e pautado em leis que revelam cenários sociais, políticos e econômicos. Antecedentes históricos da Legislação Educacional e Políticas Públicas Neste momento, futuro educador, resgataremos o histórico da educação brasileira para compreendermos sua forma de organização e funcionamento, compreendendo o momento em que a Legislação Educacional passou a compor sua história. De acordo com Freitag (1980), para compreendermos melhor a organização da Educação brasileira podemos dividi-la em três períodos históricos, cada qual com uma perspectiva política e que revela interesses sociais e econômicos do período em que abrangem. São eles: 1º período: de 1500 a 1930, envolvendo a Colônia, o Império e a Primeira República. 2º período: de 1930 a 1960. 3º período: de 1960 em diante. 1º período (1500 a 1930) Podemos dizer que o 1º período da história da Educação Brasileira iniciou- se com a chegada dos jesuítas no Brasil, no período colonial português, sendo ―Regimentos‖ o primeiro documento que marcou a política educacional daquele momento, assinado por Dom João III, em 1548. Quando Manuel da Nóbrega chegou no Brasil, em 1549, iniciou-se o ensino na colônia, sendo este pautado na catequese, sob o comando dos jesuítas e com a manutenção financeira da coroa portuguesa. Já em 1564, foi criado o primeiro sistema de cobrança de impostos que previa a aplicação de 10% da arrecadação para a manutenção dos colégios jesuíticos, ou seja, para a Educação na colônia, a qual se caracterizava como religiosa, sendo o ensino ministrado pelos jesuítas. Embora os recursos financeiros fossem de origem pública, a infraestrutura, os materiais pedagógicos, os agentes educacionais (jesuítas), as normas disciplinares e diretrizes pedagógicas eram de domínio privado, ou seja, sob o controle dos jesuítas. Em 1759, o Marquês de Pombal rompe com os jesuítas da Companhia de Jesus, dando início a uma nova fase na educação brasileira, marcada pela ―Reforma Pombalina‖, que vigorou de 1759 a 1827, fase a qual podemos considerar como um ensaio da educação pública estatal. Quando os jesuítas foram expulsos do Brasil, apenas uma ínfima parcela da população acessava as escolas, pois o acesso era restrito. Como pontua Marcílio (2005, p. 3), ―estavam excluídas as mulheres (50% da população), os escravos (40%), os negros livres, os pardos, filhos ilegítimos e crianças abandonadas‖. Com o fechamento dos colégios jesuíticos em 1759, iniciaram-se as ―aulas régias‖ mantidas pela Coroa e para as quais se criouum novo imposto em 1772, o ―subsídio literário‖. Em termos educacionais, cabe destacar que as reformas pombalinas romperam com as ideias religiosas, baseando-se em ideias laicas em termos de instrução, iniciando uma nova forma de ―educação pública estatal‖ (SAVIANI, 2008). Com a vinda da família real portuguesa para o Brasil, em 1808, foi preciso implementar o Ensino Superior com o intuito de garantir o acesso aos serviços que anteriormente tinham na Europa: assim nasce o ensino superior baseado no modelo de instituto isolado e de natureza profissionalizante, elitista, apenas para atender aos filhos da aristocracia colonial, que não mais tinham acesso às academias europeias, sendo forçados a cursar estudos superiores por aqui mesmo, no Brasil. A primeira faculdade de medicina é criada em Salvador, em 1808: FAMEB – Faculdade de Medicina da Bahia (SOUZA, 1997). Com a independência do Brasil em 1822, instaurou-se o Primeiro Império, política esta que estabeleceu, a partir de 1827, uma nova diretriz educacional que instituiu as escolas de primeiras letras em todas as cidades, vilas e lugares mais populosos. Em 1834, o Ato Adicional à Constituição do Império colocou o ensino primário sob a responsabilidade das Províncias, desobrigando o Estado Nacional a cuidar desse nível de ensino. É possível ver que desde os primeiros tempos de nossa história, a consolidação de uma Educação Nacional tem sido um desafio, principalmente em termos de educação pública e sua responsabilização como um bem nacional. Cabe destacar que as províncias não apresentavam estrutura financeira para financiar o ensino de forma local. De 1889 a 1930, ou seja, durante a Primeira República, o ensino no Brasil continuou estagnado, com grande número de analfabetismo, correspondendo a mais da metade da população brasileira. Cabe destacar nesse período, como retoma Freitag (1980), foram criadas escolas superiores e escolas primárias e secundárias, o que ampliou o número de estabelecimentos, mas não o número de oportunidades educacionais, mantendo o sistema educacional elitista e excludente. O grande marco expansionista e de investimentos foi sentido no ensino superior, pois muitas escolas superiores foram criadas nesse momento de nossa história, focando a formação de profissionais liberais, atendendo aos interesses da classe dominante visando sua manutenção no poder. Em termos econômico, político e social, é importante recuperarmos que durante a Primeira República o Brasil vivenciou um momento de efervescência cultural que marcou as transformações sociais do século XX. Em 1922, a Semana da Arte Moderna foi um marco para a cultura brasileira. As inovações apresentadas naquele momento histórico geraram um entusiasmo em termos educacionais, levando a um ―otimismo pedagógico‖. A partir disso, as reflexões acerca da escola primária aumentaram, contudo, somente após a Primeira Guerra Mundial que a política educacional passou a ser revista no Brasil. 2º período (1930 a 1960) Nos anos de 1930, surge um movimento conhecido como ―Movimento Escolanovista‖ formado por educadores como Anísio Teixeira, Lourenço Filho, Fernando de Azevedo e Francisco Campos, que juntos buscavam renovar o ensino, organizando um manifesto, o qual seria conhecido mais tarde como ―Manifesto dos Pioneiros da Educação‖. Esse manifesto denunciava o atraso do sistema educacional brasileiro e evidenciava a necessidade de ampliação da educação para toda a população, dando destaque à educação escolarizada. Enfim, o Manifesto dos Pioneiros da Escola Nova surgiu em 1932 contendo uma nova proposta pedagógica e trazendo em seu bojo uma proposta de reconstrução do sistema educacional brasileiro, demandando por uma Política Educacional do Estado (PIANA,2009). Cabe recuperar aqui que, em 1929, a economia mundial sofreu com a quebra da Bolsa de Nova Iorque, e no Brasil a crise foi sentida em 1930, pois como nossa economia era agrícola, a superprodução do café, nosso principal produto de exportação, fez com que os preços sofressem uma queda no mercado internacional, o que ocasionou um colapso em nossas finanças públicas. Nesse momento de nossa história republicana, o governo de Getúlio Vargas adotou medidas para diminuir o prejuízo dos cafeicultores em decorrência da crise e restringiu as importações dos bens de consumo, o que favoreceu e fortaleceu nossa produção industrial. Portanto, somente no 2º período da História de Educação brasileira, ou seja, de 1930 a 1960, com o avanço da industrialização e urbanização que a pressão para uma maior escolarização se tornou uma demanda política e social, exigindo uma nova condição em termos de investimentos. Você, futuro educador, consegue perceber, a partir dessa contextualização histórica, o quanto a economia pode influenciar nos rumos das Políticas Educacionais? De um país agroexportador, o Brasil passa a se configurar também como um país com potencial industrial, da qual emergiu um novo grupo econômico: a burguesia urbano-industrial. O País foi assumindo desta forma, uma política de industrialização e, consequentemente, esta mudança evidenciou uma reestruturação no seio da sociedade política e da sociedade civil, pois ao lado dos aristocratas e latifundiários do café, emergiu a burguesia financeira e industrial, e o operariado também sofreu ampliações. (FREITAG, 1980, p. 50) Esse período foi marcado por grandes transformações no campo educacional brasileiro, pois se desenhou uma possibilidade de democratização no ensino, fruto das ideias dos ―Escola Novistas‖: Anísio Teixeira, Lourenço Filho, Fernando de Azevedo e Francisco Campos, pautados na concepção de ―escola ativa‖ de Dewey. Não podemos deixar de frisar que em 1930 criou-se o Ministério da Educação e Saúde, com a função de orientar e coordenar as reformas educacionais que aconteceriam adiante, entre as quais estavam a Reforma Francisco Campos, que integrou as escolas primária, secundária e superior e elaborou o estatuto da universidade brasileira. Através da Reforma Francisco Campos, a Política Educacional brasileira introduziu o ensino primário gratuito e obrigatório e o ensino religioso facultativo. A Constituição de 1937 incorporou as indicações dessa reforma educacional e, visando fortalecer a industrialização nacional, introduziu o ensino profissionalizante na lei como obrigatório para as indústrias e sindicatos, os quais deveriam criar escolas na esfera de sua especialidade para os filhos de seus operários ou associados a fim de prepará-los para o trabalho nas indústrias. É nesse cenário político e legalista que no ano de 1942 foi criado o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) e, em 1946, o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (SENAC). Outra reforma que marcou a história da educação brasileira foi a Reforma Capanema, em 1942, relativa ao ensino secundário (PIANA, 2009). 3º período (1960 em diante) Em 1946 foi promulgada uma nova Constituição, e juntamente com esse novo cenário político marcado pela redemocratização do Brasil, pós- Segunda Guerra Mundial (1945), baseado num Estado populista desenvolvimentista, é que surgem, no campo da educação, movimentos em favor da escola pública, universal e gratuita que culminam, em 1961, na promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional no Brasil: Lei nº 4.024/1961. Essa foi nossa primeira LDB – Lei de Diretrizes e Bases. De acordo com essa lei, o ensino no Brasil de nível primário poderia ser ministrado pelo setor público e privado, extinguindo a obrigatoriedade do ensino gratuito, o que permitia a subvenção estatal de estabelecimentos de ensinos particulares através de bolsas de estudo e empréstimos. Dentroda Política Educacional brasileira, a LDB se configurou como uma das medidas que marcou os rumos da educação no Brasil. Vale destacar que entre 1961 a 1963, o Brasil foi marcado por várias mudanças no campo político, social e econômico que, por sua vez, impactaram na educação nacional, considerando que o índice de analfabetos revelava as desigualdades, não apenas educacionais, mas também sociais e econômicas. Com o início da ditadura militar, em 1964, o Estado ampliou o sistema de ensino, inclusive o superior e estendeu o ensino obrigatório de quatro para oito anos. Contudo, cabe destacar que nesse período os movimentos sociais passam a se organizar para demandar a implementação de Políticas que respondessem suas necessidades enquanto Políticas Públicas. Quanto ao problema do analfabetismo, é nesse período de nossa história da Educação que desponta o educador Paulo Freire, que, com seu método pedagógico de alfabetização, compreendia a Educação como prática da libertação e da conscientização política por meio da prática da leitura e da escrita, como veremos mais adiante. Legislação Educacional As forças sociais tiveram um papel preponderante para o retorno da democracia enquanto política brasileira. Durante o período da transição do autoritarismo para a democracia, as propostas educacionais foram foco de discussão entre diferentes setores sociais, os quais funcionaram como grupos de pressão para a formulação da Constituição de 1988, que, por sua vez, expressa a política educacional do Brasil contemporâneo. A Constituição Federal de 1988, promulgada após amplo movimento de redemocratização do País, marca um novo período. Ampliam-se as responsabilidades do Poder Público e da sociedade em geral para com a educação, a partir das novas demandas do mundo moderno e globalizado, em atendimento ao ideário neoliberal. Essa Lei apresenta o mais longo capítulo sobre a educação de todas as Constituições Brasileiras, pois apresenta dez artigos específicos (art. 205 a 214) que detalham a matéria, que também figura em quatro artigos do texto constitucional (Art. 22, XXIV; 23, V; 30, VI e Art. 60 e 61 das Disposições Transitórias. (PIANA, 2009, p.73) Com promulgação da Constituição Federal, em 5 de outubro de 1988, temos uma nova realidade brasileira pautada numa ordem política que declara, como um de seus princípios, a descentralização político- administrativa garantindo à sociedade o direito de formular e de controlar políticas, redimensionando relações entre Estado e sociedade civil. Entre as conquistas afirmadas na referida legislação estão: A concepção da educação como direito público subjetivo (Art. 208 § 1°). O princípio da gestão democrática do ensino público (Art. 206, VI). O dever do Estado em prover creche e pré-escola às crianças de 0 a 5 anos de idade (Art. 208, IV). A oferta de ensino noturno regular (Art. 208, VI). O ensino fundamental obrigatório e gratuito inclusive para os que a ele não tiveram acesso em idade própria (Art. 208, I). A Constituição Federal de 1988 fez emergir também a ideia de Plano Nacional de Educação, apontando sua necessidade. A ideia de um ―Plano Educação‖ existia desde a década de 1930 no Brasil, porém, apenas planos menores e pontuais aconteceram desde então. A ideia de um Plano Nacional de Educação ganhou força com a Constituição de 1988, que em seu artigo 214 destacou: Art. 214. - A lei estabelecerá o plano nacional de educação, de duração decenal, com o objetivo de articular o sistema nacional de educação em regime de colaboração e definir diretrizes, objetivos, metas e estratégias de implementação para assegurar a manutenção e desenvolvimento do ensino em seus diversos níveis, etapas e modalidades por meio de ações integradas dos poderes públicos das diferentes esferas federativas que conduzam a: I – Erradicação do analfabetismo; II – Universalização do atendimento escolar; III – Melhoria da qualidade do ensino; IV – Formação para o trabalho; V – Promoção humanística, científica e tecnológica do País. VI – Estabelecimento de meta de aplicação de recursos públicos em educação como proporção do produto interno bruto. (BRASIL, 1988) A regulamentação da previsão constitucional do Plano Nacional de Educação (PNE) aconteceu em 1996, com a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei nº 9394/1996. Vale destacar aqui que o PNE é um plano de Estado, não um plano de governo, portanto, seu processo de elaboração pode acontecer em diferentes instâncias: federal, estadual e municipal, originando os Planos Estaduais e Municipais em conexão com o PNE, cuja vigência no Brasil é de dez anos. De acordo com a LDB nº 9.394/1996, o PNE seria elaborado pela União, com colaboração dos demais entes federativos (estados, municípios e Distrito Federal), pois, segundo a Constituição Federal brasileira, a Educação é responsabilidade compartilhada. O artigo 211 da CF reforça essa ideia. Conforme pontua o referido artigo, cabe aos Municípios prioritariamente o ensino fundamental e a educação infantil; aos Estados e ao Distrito Federal compete prioritariamente o ensino fundamental e médio; e destaca ainda que a verba destinada à educação será redistribuída entre a União e os entes federativos. O Quadro 1.3 apresenta a organização e o funcionamento da Educação Nacional com a LDB. Quadro 1.3 | Organização e funcionamento da LDB LDB - Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº 9394/1996 Níveis e Modalidades de ensino EDUCAÇÃO BÁSICA Educação Infantil: creche e pré- escola Ensino Fundamental Ensino Médio ENSINO SUPERIOR Graduação Pós-Graduação Fonte: adaptado de Brasil (1996). Vale retomar que a primeira LDB foi promulgada em 1961 (Lei nº 4.024/1961) e apresentava outra configuração em termos organizacionais. Pela Lei nº 9.394/1996, o governo passou a assumir a política educacional como tarefa de sua competência, descentralizando sua execução para Estado e municípios. A Política de Avaliação da Educação em todos os níveis de ensino também passou a ser exercida, buscando um ―controle‖ do sistema escolar. Assim, nos anos de 1990, o tema ―descentralização‖ ganhou um local de destaque na Educação brasileira, acompanhado da ―gestão democrática‖, no sentido de possibilitar a participação de diferentes atores no processo educativo, inaugurando, como pontua Piana (2009), o sentido democrático da prática social da educação. No quadro a seguir, você, futuro educador, pode rever alguns marcos da História da Educação no Brasil, apresentados nesta seção, visando favorecer a compreensão acerca do processo histórico que tem permeado as Políticas Educacionais e as legislações que fundamentaram em nosso país. Quadro 1.4 | Marcos na História da Educação no Brasil – ―linha do tempo‖ Período Jesuítico (1549– Em 1549, chega ao Brasil o primeiro grupo de padres jesuítas, chefiados por Manoel da Nóbrega. 1759) Início ―formal‖ da Educação no Brasil. Período Pombalino (1760- 1808) Expulsão dos jesuítas do Brasil, em 1759, e a destruição do único sistema de ensino. As Reformas Pombalinas no campo da educação introduziram as chamadas ―aulas régias‖: estudos autônomos e isolados de Latim, Grego, Filosofia e Retórica. Cada disciplina possuía um professor único e as matérias não se articulavam uma com as outras. Período Joanino (1808– 1821) Mudança da Família Real para o Brasil em 1808. D. João VI refunda a academia militar que havia (atual Academia Militar das Agulhas Negras) e cria duas escolas de medicina – uma no Rio de Janeiro e outra em Salvador. Período imperial (1822- 1889) D. João VI volta a Portugal em 1821. D. Pedro I proclama a Independênciado Brasil em 1822. A primeira Constituição brasileira é outorga em 1824. Essa lei dizia que a ―instrução primária é gratuita para todos os cidadãos‖. República Velha (1889- 1929) Proclamou-se a República no sistema presidencialista em 1889. Na organização escolar, percebe-se como princípios orientadores a liberdade e laicidade do ensino, como também a gratuidade da escola primária. Segunda República (1930- 1936) Revolução de 1930 marca a entrada do Brasil no modelo capitalista de produção e o primórdio do investimento na produção industrial. Há necessidade de uma mão de obra especializada sendo preciso investir na educação. Criação do Ministério da Educação e Saúde Pública em 1930. Em 1931, decretos organizam o ensino secundário e as universidades brasileiras ainda inexistentes. Esses decretos ficam conhecidos como ―Reforma Francisco Campos‖. Estado Novo (1937- 1945) Em 1937, a Constituição outorgada com tendências fascistas, com orientação político- educacional para o mundo capitalista: o Enfatiza o ensino pré-vocacional e profissional. o Propõe que a arte, a ciência e o ensino sejam livres à iniciativa individual tirando do Estado o dever da educação. o Mantém a gratuidade e a obrigatoriedade do ensino primário. República Nova (1946- 1963) Nova Constituição em 1946. Na área da Educação, determina-se a obrigatoriedade de se cumprir o ensino primário e volta o preceito de que a educação é direito de todos. Lei nº 4.024, de 20 de dezembro de 1961 - prevalece as reivindicações da Igreja Católica e dos donos de estabelecimentos particulares de ensino, confrontando com o dever do Estado para a oferta da educação aos brasileiros. Ditadura Civil- Militar (1964- 1985) Em 1964, o Golpe militar aborta todas as iniciativas de se revolucionar a educação brasileira. Nesse período, deu-se a expansão das universidades no Brasil. Criou-se o Movimento Brasileiro de Alfabetização (MOBRAL) visando erradicar o analfabetismo. Em 1971, é instituída a Lei nº 5.692: a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, focando a formação educacional com um cunho profissionalizante. Nova República (pós- ditadura - a partir de 1985) Fim do Regime Militar em 1985. Constituição Federal aprovada em 1988 dentro dos princípios democráticos, reconhecendo a Educação como direito subjetivo de todos. Declaração Mundial sobre Educação para Todos é aprovada, em 1990, na Tailândia. Promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB nº 9.394/1996), que estipulou a formação do docente em nível superior e colocou a Educação Infantil na posição de etapa inicial da Educação Básica. Entra em vigor o Plano Nacional de Educação (2001-2011). Novo Plano Nacional de Educação (2014-2024). Fonte: adaptado de Freitag (1980) e Aranha (1989). ASSIMILE 1. Aulas régias: durante o período do Brasil colônia, essa modalidade de aula foi implementada e concentrava o ensino correspondente ao nível secundário, em especial às classes de latim. A responsabilidade do Estado limitava-se ao pagamento do salário do professor e às diretrizes curriculares da matéria a ser ensinada, deixando a cargo do próprio professor a provisão das condições materiais relativas ao local, geralmente sua própria casa, e a sua infraestrutura, assim como aos recursos pedagógicos a serem utilizados no desenvolvimento do ensino. 2. Associação Brasileira de Educação (ABE): criada em 1924 por educadores, intelectuais, políticos e figuras de expressão da sociedade brasileira, impulsionou as discussões em torno dos problemas educacionais. Por meio dessa organização, eram promovidos cursos, palestras, semanas da educação e conferências, principalmente as Conferências Nacionais de Educação. Entre 1927 a 1929, foram realizadas três grandes Conferências Nacionais de Educação, ocorridas em Curitiba, Belo Horizonte e São Paulo. Foi por meio dessas Conferências que surgiu. em 1932. o Manifesto dos Pioneiros da Escola Nova, contendo uma nova proposta pedagógica e trazendo em seu bojo uma proposta de reconstrução do sistema educacional brasileiro. 3. Plano Nacional de Educação (PNE): é uma lei brasileira que estabelece diretrizes e metas para o desenvolvimento nacional, estadual e municipal da educação. O Plano vincula os entes federativos às suas medidas e os obriga a tomar medidas próprias para alcançar as metas previstas. Também podemos considerar o Plano Nacional de Educação como um documento editado periodicamente e que compreende desde diagnósticos sobre a educação até a proposição de metas, diretrizes e estratégias para o desenvolvimento da Educação. REFLITA Quando falamos em Educação, você considera necessário compreender as políticas que a sustentam? Você acredita que o cenário econômico determina os rumos das Políticas Educacionais? EXEMPLIFICANDO Quando falamos em PNE, por exemplo, vale destacar que ele é composto por várias metas. O atual PNE, Lei nº 13.005 aprovada em 2014, apresenta 20 metas e tem a duração decenal (2014-2024). A meta 1, por exemplo, refere-se à Educação Infantil: ―universalizar, até 2016, a educação infantil na pré-escola para as crianças de 4 (quatro) a 5 (cinco) anos de idade e ampliar a oferta de educação infantil em creches de forma a atender, no mínimo, 50% (cinquenta por cento) das crianças de até 3 (três) anos até o final da vigência deste PNE‖. Assim, como apresentamos aqui a meta 1, você pode acessar o Plano Nacional e conhecer todas as metas para a Educação Nacional. Estamos chegando ao final de mais uma seção da disciplina ―Funcionamento da Educação Brasileira e Políticas Públicas‖, lembrando que nosso foco foi resgatar a trajetória histórica da Educação Brasileira, focando a hierarquia das leis e da ação da legislação na normatização da Educação Nacional. Nesse contexto, vimos o papel da Constituição como lei maior do país dentro dos princípios democráticos, embasando as demais legislações em termos normativos, bem como pontuando o papel dos entes federados e as responsabilidades de cada um na organização da Educação em regime de colaboração, como prevê a Carta Magna, ou seja, a Constituição Federal do Brasil. Seguiremos conversando sobre o cenário político, econômico e social, pois vemos o quanto cada um deles interfere na formulação das Políticas Públicas, dando ênfase à atual legislação educacional, as quais configuram a Política Educacional. Conto com você nessa caminhada! Vamos em frente! FAÇA VALER A PENA Questão 1 Para falarmos da organização e do funcionamento da Educação é importante conhecermos as legislações que a regulamentam e destacar que existem hierarquias entre as leis, vigorando o princípio da Supremacia da Constituição, ou seja, segundo o qual as normas constitucionais estão num patamar de superioridade em relação às demais leis. Pensando na normatização e nessa hierarquia, é importante destacarmos que existem três grupos de normas legais: Normas constitucionais, Normas infraconstitucionais e Normas infralegais. Leia as afirmações a seguir e analise se são verdadeiras. I. Podemos afirmar que não há hierarquia entre as normas de um mesmo grupo, o que existe é campo de atuação diferenciado, específico entre essas normas que compõem o mesmo grupo. II. Existe hierarquia entre os grupos, sendo que as normas constitucionais são hierarquicamente superiores às normas infraconstitucionais, que são hierarquicamente superiores às normas infralegais. III. A organização e o funcionamento da Educação brasileira se fundamentam em Normas infralegais. Indique a alternativa que apresenta a resposta correta. a. As afirmações I e II são verdadeiras. b. As afirmações I e III são verdadeiras. c. As afirmações II e III são verdadeiras. d.
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