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Funcionamento da educação Brasileira e politicas públicas - Livro

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Funcionamento da educação
Brasileira
1
Sumário
1. Unidade 1
- Seção 1 - FUNCIONAMENTO DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA E POLÍTICAS
PÚBLICAS - página 3
- Seção 2 - POLÍTICAS PÚBLICAS E LEGISLAÇÃO EDUCACIONAL - A
LEGISLAÇÃO EDUCACIONAL BRASILEIRA - página 11
- Seção 3 - POLÍTICAS PÚBLICAS E LEGISLAÇÃO EDUCACIONAL – AS
POLÍTICAS E LEGISLAÇÃO EDUCACIONAL - página 21
2. Unidade 2
- Seção 1 - Seção 1 POLÍTICAS E LEGISLAÇÃO EDUCACIONAL PARA A
EDUCAÇÃO BÁSICA - página 28
- Seção 2 - PRIMEIRA INFÂNCIA, EDUCAÇÃO INFANTIL E ALFABETIZAÇÃO -
página 34
- Seção 3 - FUNCIONAMENTO DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA E POLÍTICAS
PÚBLICAS - página 43
3. Unidade 3
- Seção 1 - EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS - página 54
- Seção 2 - EDUCAÇÃO PROFISSIONAL - página 64
- Seção 3 - OUTRAS NECESSIDADES DA EDUCAÇÃO BÁSICA - página 73
4. Unidade 4
- Seção 1 - POLÍTICAS PÚBLICAS E LEGISLAÇÃO EDUCACIONAL DE
FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES - página 86
- Seção 2 - POLÍTICA PÚBLICAS E LEGISLAÇÃO PARA A FORMAÇÃO
CONTINUADA DE PROFESSORES - página 94
- Seção 3 - VALORIZAÇÃO DOS PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO - página
101
2
Unidade 1
Seção 1 - Funcionamento da educação e políticas públicas
POLÍTICAS PÚBLICAS E LEGISLAÇÃO EDUCACIONAL
AS POLÍTICAS PÚBLICAS
Você já ouviu a música “Cidadão”, composta pelo poeta baiano Lúcio Barbosa? Essa música
nos leva a refletir sobre os direitos sociais que todas as pessoas, numa sociedade
democrática, deveriam ter acesso por meio das Políticas Públicas.
O termo “Política” se origina da palavra grega “polis”, que significa cidade, contudo, também
era sinônimo de cidade-Estado. A vida na polis podia ter duas esferas: uma privada (ligada
aos assuntos particulares da casa) e uma pública (expressa pelo espaço urbano público e
político e suas instituições). A política era a forma de normalizar a convivência entre os
habitantes das cidades e cidades-estados vizinhas. Quando a política era exercida dentro de
um mesmo Estado era nominada de Política Interna, e quando era realizada entre diferentes
Estados, de Política Externa.
Entre os filósofos gregos que discutiam o sentido da palavra Política está Aristóteles,
o qual se dedicou a escrever um livro nominado “A Política”.
De acordo com Aristóteles (2002, p. 64), “Em todas as ciências e em todas as artes, o alvo é
o bem; e o maior dos bens acha-se principalmente naquela dentre todas as ciências que é a
3
mais elevada: essa ciência é a Política e o bem da justiça é a política, isto é a utilidade geral
[...]”.
No sentido aristotélico, a Política pode ser compreendida como uma ciência que tem por
objetivo a felicidade humana, pautada na ética, ao olhar para o homem individualmente, e
na política em si ao olhar para a coletividade. Portanto, a Política deve buscar boas ações
para o bem-estar tanto individual como coletivo.
Focando o olhar para as sociedades modernas, Saravia (2006) pontua que as relações sociais
se tornaram complexas, tanto entre seus membros quanto entre as instituições que a
compõem, pois há uma diversidade de interesses, ideias e valores e isso acaba ocasionando
a incidência de conflitos. Assim, a Política torna-se um meio capaz de administrar essa
complexidade e, através da tomada de decisões e da ação, levam a sociedade a progredir.
Nessa perspectiva, a Política é:
[...] um fluxo de decisões públicas, orientado a manter o equilíbrio social ou a
introduzir desequilíbrios destinados a modificar essa realidade. Decisões
condicionadas pelo próprio fluxo e pelas reações e modificações que elas
provocam no tecido social, bem como pelos valores, ideias e visões dos que
adotam ou influem na decisão. É possível considerá-las como estratégias que apontam para
diversos fins, todos eles, de alguma forma, desejados pelos diversos grupos que participam
do processo decisório. A finalidade última de tal dinâmica – consolidação da democracia,
justiça social, manutenção do poder, felicidade das pessoas – constitui elemento orientador
geral das inúmeras ações que compõem determinada política.
(SARAVIA, 2006, p. 28).
Você, futuro educador, pode ver que a Política é uma forma dos indivíduos administrarem as
relações entre si, de forma a materializar as intenções em ações visando atender às
necessidades coletivas, ou seja, para um bem em comum.
É nessa linha que passamos a nos referir às Políticas Públicas, ou seja, às ações
empreendidas pelo Estado, ou, como diz Höfling (2001), as Políticas Públicas são aqui
entendidas como o “Estado em ação”.
Para Cunha e Cunha (2002, p. 12), “as políticas públicas têm sido criadas como resposta do
Estado às demandas que emergem da sociedade e do seu próprio interior, sendo a
expressão do compromisso público de atuação numa determinada área a longo prazo”.
De forma mais concreta, as Políticas Públicas se materializam como um conjunto de ações
coletivas voltadas para a garantia dos direitos sociais, configurando um compromisso público
que visa a dar conta de determinada demanda, em diversas áreas, e transformando ações
privadas em ações coletivas no espaço público.
As Políticas Públicas são voltadas à economia, à educação, à saúde, ao meio ambiente, à
ciência e tecnologia, ao trabalho, à moradia, entre outras.
4
As Políticas Públicas podem assumir quatro tipologias com características próprias, conforme
especifica Souza (2002):
● Políticas Distributivas.
● Políticas Regulatórias.
● Políticas Redistributivas.
● Políticas Constitutivas.
As Políticas Públicas Distributivas, como pontua Souza (2002), possuem objetivos pontuais,
visando contextos locais e não universais, ofertando serviços e equipamentos, focalizando
grupos sociais ou regiões em detrimento do todo. Essa modalidade de Política Pública, a
distributiva, favorece o clientelismo e o patrimonialismo, pois, dentro do jogo político, o
assistencialismo é utilizado como moeda de troca por apoio político.
No Brasil, esse tipo de política é comum, como a oferta de pavimentação de ruas, cadeiras
de rodas para deficientes físicos, principalmente em período eleitoral. Entretanto, Souza
(2002) alerta que nem toda política distributiva pode ser compreendida como
assistencialista e clientelista, principalmente após a criação da Lei Orgânica de Assistência
Social (LOAS), em 1988, pois essa legislação regulamentou o acesso aos serviços que os
cidadãos têm o direito de exigir, de forma autônoma como um direito social.
As Políticas Públicas Regulatórias foram criadas visando regulamentar, normatizar e
implementar as políticas distributivas e redistributivas, portanto se pautam em legislações
criadas com essa finalidade. São consideradas de ordem burocrática e grupos de interesse
pressionam sua elaboração.
De acordo com Souza (2002), as políticas regulatórias funcionam de forma diferenciada em
cada segmento social, sendo muitas vezes desconhecidas do público em geral, o qual
somente revela ciência de sua existência quando se veem prejudicados pela normatização,
como por exemplo, diante da limitação de venda de determinados produtos, como os
antibióticos por exemplo, vendidos somente mediante a receita médica e com controle.
As Políticas Públicas Redistributivas visam redistribuir não apenas finanças, mas também
serviços, os quais são disponibilizados pelo governo como forma de reduzir as resistências
sociais. O financiamento dessas políticas acaba sendo feito pelas pessoas que possuem uma
renda mais alta, em favorecimento às pessoas com rendas menores, chamadas de
beneficiários.
As políticas públicas redistributivas são vistas como direitos sociais. Podemos citar como
exemplo os programas de habitação popular voltado à população de baixa renda, os quais
dão subsídios aos seus beneficiários que são compensados através da arrecadação de outros
impostos.
5
Ainda no caso da habitação, vale dar o exemplo da isenção do IPTU para cidadãos de baixa
renda, enquanto o aumento desse imposto é realizado para os demais cidadãos,
compensando a não cobrança a esse público específico.
Já as Políticas Públicas Constitutivas estabelecem e distribuem a responsabilidadeentre
municípios, estados e Governo Federal e estipulam competências e formas de participação
social nessas ações, regulando a criação das Políticas Públicas em si.
Sempre que uma demanda social surge e se caracteriza como parte de uma agenda política,
como um problema a ser resolvido por meio da constituição de uma nova Política Pública, a
“Política Pública Constitutiva” é a responsável pela discussão do problema, sua constituição
enquanto agenda passível de discussão, e formulação e implementação enquanto Política.
Ao falarmos na Política Pública Constitutiva acabamos falando sobre as etapas da Política, ou
seja, no processo de formulação das Políticas Públicas, também chamado de ciclo das
Políticas Públicas (HAM; HILL, 1993).
Como apresentam Ham & Hill (1993), o ciclo das Políticas é composto por fases, como você
pode ver no esquema a seguir.
A primeira fase é a formação da agenda, que se caracteriza pelo planejamento e percepção
dos problemas que merecem maior atenção, por meio da análise da situação e sua
emergência, bem como recursos para sua resolução.
A
segunda fase é a formulação da política, portanto é quando se define o objetivo da política,
seus programas e suas linhas de ação. É nessa fase que as ideias devem se organizar e
desenhar a Política com o objetivo de resolver o problema em questão e os resultados que
visa alcançar, elencando as estratégias que serão utilizadas.
6
A terceira fase é o processo de tomada de decisão, no qual se define quais serão as ações
adotadas, os recursos e os prazos para cada ação política.A quarta fase, a implementação da
política, é quando se põe os planos em prática, se direciona os recursos financeiros,
tecnológicos, materiais e humanos para executar a política.
Por fim, a quinta fase, a avaliação, que contribui para o acompanhamento da Política visando
o sucesso da ação. Para isso, é muito importante que a avaliação aconteça em todas as fases
da Política, visando os melhores resultados, corrigindo as possíveis falhas ao longo do
processo de efetivação (HAM & HILL, 1993).
Assim, o Estado age por meio das Políticas Públicas visando atender às demandas sociais em
termos de distribuição de bens e serviços sociais, podendo sua abrangência acontecer no
âmbito federal, estadual e municipal.
A palavra “Estado” como a compreendemos hoje, passou a ser utilizada no século XVI,
conforme pontua Bobbio (2004). Se origina da palavra latina “status”, utilizada para
denominar o conjunto de instituições e pessoas que tinham o domínio sobre um território e
seus habitantes (BOBBIO, 2004).
Segundo Rocha (2008), podemos dizer que Estado é toda a sociedade política, incluindo o
governo. O Estado possui as funções executiva, legislativa e judiciária.
O Governo faz parte do Estado e pode ser identificado pelo grupo político que está no seu
comando. Contudo, uma Política de Estado é regulamentada por leis e tem uma duração
ampla, independente do grupo político no poder.
Um exemplo de Política de Estado é o Plano Nacional de Educação (PNE). Sua duração é
para uma temporalidade de 10 anos e estabelece metas a serem atingidas pelos municípios,
estados e federação, independente dos grupos que estão em seu governo.
Já uma Política de Governo dura o tempo que determinado grupo se mantém no comando.
Dentro das políticas municipais de educação infantil, por exemplo, a cada quatro anos
costuma-se haver novas normatizações na forma de conduzir a educação em creches e
pré-escolas a nível local, entretanto, as Políticas de Estado devem ser cumpridas
independente do governo local, sendo normatizadas por uma legislação.
Como resume Rocha (2008, p. 141),
O Estado é um conjunto de órgãos responsáveis pelo desempenho de suas
funções. Os órgãos do Estado fazem o que é do seu interesse, pois exercem o
poder do Estado, não possuem vontade própria, por isso são órgãos. As funções
são a executiva, a legislativa e a judiciária.
Nesse contexto, apresentamos a seguir como estão constituídos os poderes do Estado
e suas funções.
7
A administração pública compõe a função executiva, como organização da burocracia
estatal, e o governo que representa um conjunto de órgãos decisórios.
Podemos considerar a organização e estrutura do Estado sob três aspectos: forma de
governo, sistema de governo e forma de Estado.
O Brasil adotou a Federação como forma de organização do Estado. Como coloca Pinho
(2012), a Federação é uma aliança de Estados para a formação de um Estado único, em que
as unidades federadas preservam autonomia política, enquanto a soberania é transferida
para o Estado Federal. São características de um Estado Federal:
● As atribuições da União e as das unidades federadas são fixadas na Constituição, por
meio de uma distribuição de competências (União, Estados e Municípios).
● Cada esfera de competência se atribui renda própria.
● O poder político é compartilhado pela União e pelas unidades federadas.
● Os cidadãos do Estado que aderem à federação adquirem a cidadania do Estado
Federal e perdem a anterior.
● A base jurídica da Federação é uma Constituição e não um tratado.
● Não existe o direito de secessão.
● O indivíduo é cidadão do Estado Federal e não da unidade em que nasceu ou reside.
(PINHO, 2012)
É importante destacar que o governo possui a discricionariedade, ou seja, tem liberdade de
ação dentro dos limites da legalidade, entretanto, o Estado possui princípios que limitam a
opção ideológica dos governos, lembrando que no Brasil nos referimos a um Estado
democrático, onde o voto popular determina a escolha política.
O poder legislativo é realizado por colegiados com distribuição de
representatividades, visando discussões amadurecidas com foco na resolução dos
problemas sociais. A função legislativa, conforme afirma Vieira (2007), é a essência do poder.
8
O poder judiciário tem a função de controle sobre os atos públicos e privados para a garantia
da legalidade. Além de identificar a legalidade das ações na sociedade, o poder judiciário
também deve preencher as lacunas que aparecem nas leis através de ações decisórias
(VIEIRA, 2007).
Visando afirmar que o Estado democrático de direitos deve responder a princípios que
garantam a todos os cidadãos o mesmo tratamento perante a lei, não possibilitando
favorecimentos, Rocha (2008, p. 142) destaca que
No Estado de Direito, as funções do Estado, caracterizadas na forma de poder,
devem ser separadas para não caracterizar o benefício do poder para o
indivíduo que a ocupa, segundo a teoria de freios e contrapesos. É neste
sentido que as funções do Estado não devem também se confundir com os
ocupantes do governo.
Nesse contexto, vale resgatar que quando falamos em Políticas Sociais, estamos
falando em decisões políticas que são tomadas pelo Estado, visando atender às demandas
sociais, ou seja, olhando para a coletividade.
Quando falamos especificamente da Política Educacional, estamos nos referindo a uma
política social voltada à educação, portanto, às decisões que o Poder Público, ou seja, o
Estado, toma em relação à educação (SAVIANI, 2008).
Segundo Vieira (2007, p. 56), a Política Educacional pode ser considerada como uma
aplicação da Ciência Política ao estudo do setor educacional e, por sua parte, as políticas
educacionais como “políticas públicas que se dirigem a resolver questões educacionais”.
As iniciativas do Poder Público, em suas diferentes instâncias (União, Estados, Distrito
Federal e Municípios), voltadas à Educação, acabam influenciando diretamente o
desenvolvimento das ações pedagógicas nas escolas e sua organização.
Um exemplo dessa influência pode ser verificado ao analisarmos o papel da nossa legislação
brasileira, a Constituição Federal de 1988, na regulamentação da Educação Nacional.
Na Constituição Federal se estabelece que a gestão da educação deve ser pautada no
princípio democrático, assim, os estabelecimentos de ensino, sejam estaduais, federais ou
municipais, devem se adequar à legislação nacional ao organizarem a gestão escolar, por
exemplo.
Na atualidade, podemos destacar duaslegislações que impactam diretamente nas Políticas
Educacionais brasileiras. São elas: a Constituição Federal (CF), de 1988, e a Lei de Diretrizes e
Bases da Educação Nacional (LDB – Lei nº 9394/1996), pois são leis maiores que normatizam
o funcionamento das instituições e se referem aos direitos e deveres dos cidadãos em
termos educacionais.
9
Vieira (2007) destaca que os estabelecimentos de ensino funcionam com base nas
legislações em vigor as quais orientam as Políticas Educacionais, devendo elaborar e
executar suas propostas educacionais de maneira articulada com as orientações presentes
nas Políticas em vigor, administrando seu pessoal, os recursos materiais e financeiros,
cumprindo os dias letivos, articulando-se com as famílias e comunidades de forma a
executar sua proposta pedagógica, como determina a Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional (LDB - Art. 12, Incisos I a VII – VIEIRA, 2007, p. 61).
Como uma lei específica e voltada à Educação, a LDB regulamenta todas as ações
educacionais e junto com a Constituição Federal devem zelar pelo direito à educação de
todos os cidadãos, desde o nascimento, visando garantir o direito à Educação desde a
educação básica até o ensino superior.
Nessa perspectiva, cabem aos formuladores de política e aos gestores concentrarem
esforços na tarefa de fazer chegar às escolas os instrumentos para
operacionalizarem o desafio do sucesso do ensino e da aprendizagem. Esta tarefa
sem trégua está posta para todos. A ela não podem se furtar a(s) política(s) e a
gestão da educação básica.
(VIEIRA, 2007, p. 68)
Para finalizar esta seção, cujo objetivo foi apresentar as Políticas Públicas, compreendê-las
conceitualmente e conhecer como funciona a Política voltada à Educação, ou seja, a Política
Educacional, deixamos aqui dois exemplos de Políticas Públicas direcionadas às ações
educacionais, visando ilustrar essa ação do Estado. São elas a EJA e o Prouni – Programa
Universidade para Todos.
A EJA é um exemplo de Política Pública redistributiva ligada à educação, que tem sua origem
na Pedagogia de Paulo Freire e destina-se a erradicar o analfabetismo da população
brasileira.
O Prouni é um programa do Ministério da Educação (MEC) que oferece bolsas de estudos
totais e parciais a estudantes da rede pública de ensino que foram aprovados em
universidades privadas de ensino. O critério para a aquisição da bolsa se pauta na questão
financeira da família (rendimento médio) e na pontuação no Exame Nacional do Ensino
Médio (Enem), classificando os estudantes que demandarem a referida bolsa.
ASSIMILE
1. Atores das Políticas Públicas: chamamos de atores os grupos que integram o Sistema
Político, apresentando reivindicações ou executando ações que serão transformadas em
Políticas Públicas. Podemos dizer que existem dois tipos de atores: os estatais e os privados.
○ Os estatais são oriundos do Governo ou do Estado e exercem funções públicas, são
eleitos pela sociedade para um cargo por tempo determinado (os políticos), ou atuam de
forma permanente, como os servidores públicos (que operam a burocracia).
10
○ Os privados são oriundos da Sociedade Civil e não possuem vínculo direto com a
estrutura administrativa do Estado. Exemplo: a imprensa; os centros de pesquisa; os
movimentos sociais; os representantes comerciais; os sindicatos e outras entidades
representativas da Sociedade Civil.
2. Plano diretor: é uma lei municipal obrigatória para municípios com população
superior a vinte mil habitantes, que integram regiões metropolitanas, ou ainda, que estejam
situados em áreas de influência de empreendimentos ou atividades com significativo
impacto ambiental, visando estabelecer as diretrizes de ocupação da cidade. Em outras
palavras, ele define o que pode e o que não pode ser feito em um município, orientando as
ações do Poder Público e as tomadas de decisão.
3. Programas: no contexto das Políticas Públicas, programas nada mais são do que as
ações previstas no planejamento estratégico detalhadas em projetos. Para que um projeto
esteja completo é preciso que ele contenha não apenas os objetivos, mas um plano de ação
dividido em várias fases (como em um cronograma) com os resultados esperados. Exemplo:
Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE).
Seção 2 - POLÍTICAS PÚBLICAS E LEGISLAÇÃO EDUCACIONAL - A LEGISLAÇÃO
EDUCACIONAL BRASILEIRA
A partir da visão de Educação e do contexto sociopolítico, teremos Legislações que
regulamentaram sua implementação.
Hierarquia da Legislação no Brasil
Pensando na hierarquia das leis, cabe destacar que, no Brasil, vigora o princípio da
Supremacia da Constituição, ou seja, as normas constitucionais estão num patamar de
superioridade em relação às demais leis, servindo de fundamento de validade para estas.
Pensando na normatização e nessa hierarquia, Bittencourt e Clementino (2012) pontuam
que podemos pensar em três grupos de normas legais:
● Normas constitucionais.
● Normas infraconstitucionais.
● Normas infralegais.
Normas
constitucionais
● Constituição Federal (05/10/88)
● Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT)
● Emendas Constitucionais (nem tudo pode ser alterado,
sendo que devem ser respeitadas as cláusulas Pétreas)
● Tratados e Convenções internacionais sobre Direitos
11
Humanos
Normas
infraconstitucionais
● Lei Complementar – as hipóteses de regulamentação da
constituição por meio de lei complementar estão taxativamente
previstas na CF.
● Lei Ordinária – o campo por elas ocupado é residual, ou
seja, tudo o que não for regulamentado por lei complementar,
decreto legislativo, resoluções, será regulamentado por lei
ordinária.
● Lei Delegada – é a espécie normativa utilizada nas
hipóteses de transferência da competência do Poder Legislativo
para o Poder Executivo.
● Medida provisória.
● Decreto Legislativo.
● Resolução.
Normas infralegais ● Decretos – são expedidos pelo Presidente de República,
para dar fiel execução a uma lei já existente.
● Portaria – é o instrumento pelo qual Ministros ou outras
autoridades de alto escalão expedem instruções sobre
procedimentos relativos à organização e ao funcionamento de
serviços e, ainda, podem orientar quanto à aplicação de textos
legais.
● Instrução Normativa
É fundamental destacar que não há hierarquia entre as normas de um mesmo grupo, o que
existe é campo de atuação diferenciado, específico entre essas normas que compõem o
mesmo grupo.
O que existe também é hierarquia entre os grupos, sendo que as normas constitucionais são
hierarquicamente superiores às normas infraconstitucionais, que são hierarquicamente
superiores às normas infralegais.
Pensando na organização e no funcionamento da educação brasileira, o caminho histórico
que constituiu nossa realidade educacional é longo e pautado em leis que revelam cenários
sociais, políticos e econômicos.
Antecedentes históricos da Legislação Educacional e Políticas Públicas
De acordo com Freitag (1980), para compreendermos melhor a organização da Educação
brasileira podemos dividi-la em três períodos históricos, cada qual com uma perspectiva
política e que revela interesses sociais e econômicos do período em que abrangem. São eles:
12
● 1º período: de 1500 a 1930, envolvendo a Colônia, o Império e a Primeira República.
● 2º período: de 1930 a 1960.
● 3º período: de 1960 em diante.
1º período (1500 a 1930)
Podemos dizer que o 1º período da história da Educação Brasileira iniciou-se com a chegada
dos jesuítas no Brasil, no período colonial português, sendo “Regimentos” o primeiro
documento que marcou a política educacional daquele momento, assinado por Dom João
III, em 1548. Quando Manuel da Nóbrega chegou no Brasil, em 1549, iniciou-se o ensino na
colônia, sendo este pautado na catequese, sob o comando dos jesuítas e com a manutenção
financeira da coroa portuguesa.
Já em 1564, foi criado o primeiro sistema de cobrança de impostos que previa a aplicação de
10% da arrecadação para a manutenção dos colégios jesuíticos, ou seja, para a Educação na
colônia, a qual se caracterizava como religiosa, sendo o ensinoministrado pelos jesuítas.
Embora os recursos financeiros fossem de origem pública, a infraestrutura, os materiais
pedagógicos, os agentes educacionais (jesuítas), as normas disciplinares e diretrizes
pedagógicas eram de domínio privado, ou seja, sob o controle dos jesuítas.
Em 1759, o Marquês de Pombal rompe com os jesuítas da Companhia de Jesus, dando início
a uma nova fase na educação brasileira, marcada pela “Reforma Pombalina”, que vigorou de
1759 a 1827, fase a qual podemos considerar como um ensaio da educação pública estatal.
Quando os jesuítas foram expulsos do Brasil, apenas uma ínfima parcela da população
acessava as escolas, pois o acesso era restrito. Como pontua Marcílio (2005, p. 3), “estavam
excluídas as mulheres (50% da população), os escravos (40%), os negros livres, os pardos,
filhos ilegítimos e crianças abandonadas”.
Com o fechamento dos colégios jesuíticos em 1759, iniciaram-se as “aulas régias” mantidas
pela Coroa e para as quais se criou um novo imposto em 1772, o “subsídio literário”. Em
termos educacionais, cabe destacar que as reformas pombalinas romperam com as ideias
religiosas, baseando-se em ideias laicas em termos de instrução, iniciando uma nova forma
de “educação pública estatal” (SAVIANI, 2008).
Com a vinda da família real portuguesa para o Brasil, em 1808, foi preciso implementar o
Ensino Superior com o intuito de garantir o acesso aos serviços que anteriormente tinham
na Europa: assim nasce o ensino superior baseado no modelo de instituto isolado e de
natureza profissionalizante, elitista, apenas para atender aos filhos da aristocracia colonial,
que não mais tinham acesso às academias europeias, sendo forçados a cursar estudos
superiores por aqui mesmo, no Brasil. A primeira faculdade de medicina é criada em
Salvador, em 1808: FAMEB – Faculdade de Medicina da Bahia (SOUZA, 1997).
13
Com a independência do Brasil em 1822, instaurou-se o Primeiro Império, política esta que
estabeleceu, a partir de 1827, uma nova diretriz educacional que instituiu as escolas de
primeiras letras em todas as cidades, vilas e lugares mais populosos. Em 1834, o Ato
Adicional à Constituição do Império colocou o ensino primário sob a responsabilidade das
Províncias, desobrigando o Estado Nacional a cuidar desse nível de ensino.
É possível ver que desde os primeiros tempos de nossa história, a consolidação de uma
Educação Nacional tem sido um desafio, principalmente em termos de educação pública e
sua responsabilização como um bem nacional. Cabe destacar que as províncias não
apresentavam estrutura financeira para financiar o ensino de forma local.
De 1889 a 1930, ou seja, durante a Primeira República, o ensino no Brasil continuou
estagnado, com grande número de analfabetismo, correspondendo a mais da metade da
população brasileira. Cabe destacar nesse período, como retoma Freitag (1980), foram
criadas escolas superiores e escolas primárias e secundárias, o que ampliou o número de
estabelecimentos, mas não o número de oportunidades educacionais, mantendo o sistema
educacional elitista e excludente.
O grande marco expansionista e de investimentos foi sentido no ensino superior, pois muitas
escolas superiores foram criadas nesse momento de nossa história, focando a formação de
profissionais liberais, atendendo aos interesses da classe dominante visando sua
manutenção no poder.
Em termos econômico, político e social, é importante recuperarmos que durante a Primeira
República o Brasil vivenciou um momento de efervescência cultural que marcou as
transformações sociais do século XX. Em 1922, a Semana da Arte Moderna foi um marco
para a cultura brasileira. As inovações apresentadas naquele momento histórico geraram um
entusiasmo em termos educacionais, levando a um “otimismo pedagógico”.
A partir disso, as reflexões acerca da escola primária aumentaram, contudo, somente após a
Primeira Guerra Mundial que a política educacional passou a ser revista no Brasil.
2º período (1930 a 1960)
Nos anos de 1930, surge um movimento conhecido como “Movimento Escolanovista”
formado por educadores como Anísio Teixeira, Lourenço Filho, Fernando de Azevedo e
Francisco Campos, que juntos buscavam renovar o ensino, organizando um manifesto, o qual
seria conhecido mais tarde como “Manifesto dos Pioneiros da Educação”.
Esse manifesto denunciava o atraso do sistema educacional brasileiro e evidenciava a
necessidade de ampliação da educação para toda a população, dando destaque à educação
escolarizada. Enfim, o Manifesto dos Pioneiros da Escola Nova surgiu em 1932 contendo
uma nova proposta pedagógica e trazendo em seu bojo uma proposta de reconstrução do
sistema educacional brasileiro, demandando por uma Política Educacional do Estado
(PIANA,2009).
14
Cabe recuperar aqui que, em 1929, a economia mundial sofreu com a quebra da Bolsa de
Nova Iorque, e no Brasil a crise foi sentida em 1930, pois como nossa economia era agrícola,
a superprodução do café, nosso principal produto de exportação, fez com que os preços
sofressem uma queda no mercado internacional, o que ocasionou um colapso em nossas
finanças públicas.
Nesse momento de nossa história republicana, o governo de Getúlio Vargas adotou medidas
para diminuir o prejuízo dos cafeicultores em decorrência da crise e restringiu as
importações dos bens de consumo, o que favoreceu e fortaleceu nossa produção industrial.
Portanto, somente no 2º período da História de Educação brasileira, ou seja, de 1930 a 1960,
com o avanço da industrialização e urbanização que a pressão para uma maior escolarização
se tornou uma demanda política e social, exigindo uma nova condição em termos de
investimentos.
De um país agroexportador, o Brasil passa a se configurar também como um país com
potencial industrial, da qual emergiu um novo grupo econômico: a burguesia
urbano-industrial.
O País foi assumindo desta forma, uma política de industrialização e,
consequentemente, esta mudança evidenciou uma reestruturação no seio da
sociedade política e da sociedade civil, pois ao lado dos aristocratas e
latifundiários do café, emergiu a burguesia financeira e industrial, e o operariado também
sofreu ampliações.
(FREITAG, 1980, p. 50)
Esse período foi marcado por grandes transformações no campo educacional
brasileiro, pois se desenhou uma possibilidade de democratização no ensino, fruto das ideias
dos “Escola Novistas”: Anísio Teixeira, Lourenço Filho, Fernando de Azevedo e Francisco
Campos, pautados na concepção de “escola ativa” de Dewey.
Não podemos deixar de frisar que em 1930 criou-se o Ministério da Educação e Saúde, com
a função de orientar e coordenar as reformas educacionais que aconteceriam adiante, entre
as quais estavam a Reforma Francisco Campos, que integrou as escolas primária, secundária
e superior e elaborou o estatuto da universidade brasileira. Através da Reforma Francisco
Campos, a Política Educacional brasileira introduziu o ensino primário gratuito e obrigatório
e o ensino religioso facultativo.
A Constituição de 1937 incorporou as indicações dessa reforma educacional e, visando
fortalecer a industrialização nacional, introduziu o ensino profissionalizante na lei como
obrigatório para as indústrias e sindicatos, os quais deveriam criar escolas na esfera de sua
especialidade para os filhos de seus operários ou associados a fim de prepará-los para o
trabalho nas indústrias.
15
É nesse cenário político e legalista que no ano de 1942 foi criado o Serviço Nacional
de Aprendizagem Industrial (SENAI) e, em 1946, o Serviço Nacional de Aprendizagem
Comercial (SENAC).
Outra reforma que marcou a história da educação brasileira foi a Reforma Capanema, em
1942, relativa ao ensino secundário (PIANA, 2009).
3º período (1960 em diante)
Em 1946 foi promulgada uma nova Constituição, e juntamente com esse novo cenário
político marcado pela redemocratização do Brasil, pós-Segunda Guerra Mundial (1945),
baseado num Estado populista desenvolvimentista, é que surgem, no campo da educação,
movimentos em favor da escola pública, universal e gratuita que culminam, em1961, na
promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional no Brasil: Lei nº
4.024/1961.
Essa foi nossa primeira LDB – Lei de Diretrizes e Bases. De acordo com essa lei, o
ensino no Brasil de nível primário poderia ser ministrado pelo setor público e privado,
extinguindo a obrigatoriedade do ensino gratuito, o que permitia a subvenção estatal de
estabelecimentos de ensinos particulares através de bolsas de estudo e empréstimos.
Dentro da Política Educacional brasileira, a LDB se configurou como uma das medidas que
marcou os rumos da educação no Brasil. Vale destacar que entre 1961 a 1963, o Brasil foi
marcado por várias mudanças no campo político, social e econômico que, por sua vez,
impactaram na educação nacional, considerando que o índice de analfabetos revelava as
desigualdades, não apenas educacionais, mas também sociais e econômicas.
Com o início da ditadura militar, em 1964, o Estado ampliou o sistema de ensino, inclusive o
superior e estendeu o ensino obrigatório de quatro para oito anos. Contudo, cabe destacar
que nesse período os movimentos sociais passam a se organizar para demandar a
implementação de Políticas que respondessem suas necessidades enquanto Políticas
Públicas.
Quanto ao problema do analfabetismo, é nesse período de nossa história da Educação que
desponta o educador Paulo Freire, que, com seu método pedagógico de alfabetização,
compreendia a Educação como prática da libertação e da conscientização política por meio
da prática da leitura e da escrita, como veremos mais adiante.
Legislação Educacional
As forças sociais tiveram um papel preponderante para o retorno da democracia enquanto
política brasileira. Durante o período da transição do autoritarismo para a democracia, as
propostas educacionais foram foco de discussão entre diferentes setores sociais, os quais
funcionaram como grupos de pressão para a formulação da Constituição de 1988, que, por
sua vez, expressa a política educacional do Brasil contemporâneo.
16
A Constituição Federal de 1988, promulgada após amplo movimento de
redemocratização do País, marca um novo período. Ampliam-se as
responsabilidades do Poder Público e da sociedade em geral para com a
educação, a partir das novas demandas do mundo moderno e globalizado, em
atendimento ao ideário neoliberal. Essa Lei apresenta o mais longo capítulo sobre a
educação de todas as Constituições Brasileiras, pois apresenta dez artigos específicos (art.
205 a 214) que detalham a matéria, que também figura em quatro artigos do texto
constitucional (Art. 22, XXIV; 23, V; 30, VI e Art. 60 e 61 das Disposições Transitórias.
(PIANA, 2009, p.73)
Com promulgação da Constituição Federal, em 5 de outubro de 1988, temos uma
nova realidade brasileira pautada numa ordem política que declara, como um de seus
princípios, a descentralização político-administrativa garantindo à sociedade o direito de
formular e de controlar políticas, redimensionando relações entre Estado e sociedade civil.
Entre as conquistas afirmadas na referida legislação estão:
● A concepção da educação como direito público subjetivo (Art. 208 § 1°).
● O princípio da gestão democrática do ensino público (Art. 206, VI).
● O dever do Estado em prover creche e pré-escola às crianças de 0 a 5 anos de idade
(Art. 208, IV).
● A oferta de ensino noturno regular (Art. 208, VI).
● O ensino fundamental obrigatório e gratuito inclusive para os que a ele não tiveram
acesso em idade própria (Art. 208, I).
A Constituição Federal de 1988 fez emergir também a ideia de Plano Nacional de Educação,
apontando sua necessidade.
A ideia de um “Plano Educação” existia desde a década de 1930 no Brasil, porém, apenas
planos menores e pontuais aconteceram desde então. A ideia de um Plano Nacional de
Educação ganhou força com a Constituição de 1988, que em seu artigo 214 destacou:
Art. 214. - A lei estabelecerá o plano nacional de educação, de duração decenal,
com o objetivo de articular o sistema nacional de educação em regime de
colaboração e definir diretrizes, objetivos, metas e estratégias de implementação
para assegurar a manutenção e desenvolvimento do ensino em seus diversos
níveis, etapas e modalidades por meio de ações integradas dos poderes públicos das
diferentes esferas federativas que conduzam a:
I – Erradicação do analfabetismo;
II – Universalização do atendimento escolar;
III – Melhoria da qualidade do ensino;
IV – Formação para o trabalho;
V – Promoção humanística, científica e tecnológica do País.
VI – Estabelecimento de meta de aplicação de recursos públicos em educação como
proporção do produto interno bruto.
(BRASIL, 1988)
17
A regulamentação da previsão constitucional do Plano Nacional de Educação (PNE)
aconteceu em 1996, com a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional,
Lei nº 9394/1996.
Vale destacar aqui que o PNE é um plano de Estado, não um plano de governo, portanto, seu
processo de elaboração pode acontecer em diferentes instâncias: federal, estadual e
municipal, originando os Planos Estaduais e Municipais em conexão com o PNE, cuja
vigência no Brasil é de dez anos.
De acordo com a LDB nº 9.394/1996, o PNE seria elaborado pela União, com colaboração
dos demais entes federativos (estados, municípios e Distrito Federal), pois, segundo a
Constituição Federal brasileira, a Educação é responsabilidade compartilhada. O artigo 211
da CF reforça essa ideia.
Conforme pontua o referido artigo, cabe aos Municípios prioritariamente o ensino
fundamental e a educação infantil; aos Estados e ao Distrito Federal compete
prioritariamente o ensino fundamental e médio; e destaca ainda que a verba destinada à
educação será redistribuída entre a União e os entes federativos.
O Quadro 1.3 apresenta a organização e o funcionamento da Educação Nacional com a LDB.
Vale retomar que a primeira LDB foi promulgada em 1961 (Lei nº 4.024/1961) e apresentava
outra configuração em termos organizacionais.
Pela Lei nº 9.394/1996, o governo passou a assumir a política educacional como tarefa de
sua competência, descentralizando sua execução para Estado e municípios. A Política de
Avaliação da Educação em todos os níveis de ensino também passou a ser exercida,
buscando um “controle” do sistema escolar.
Assim, nos anos de 1990, o tema “descentralização” ganhou um local de destaque na
Educação brasileira, acompanhado da “gestão democrática”, no sentido de possibilitar a
participação de diferentes atores no processo educativo, inaugurando, como pontua Piana
(2009), o sentido democrático da prática social da educação.
18
Marcos na História da Educação no Brasil – “linha do tempo”
Período Jesuítico
(1549–1759)
● Em 1549, chega ao Brasil o primeiro grupo de padres
jesuítas, chefiados por Manoel da Nóbrega.
● Início “formal” da Educação no Brasil.
Período Pombalino
(1760-1808)
● Expulsão dos jesuítas do Brasil, em 1759, e a
destruição do único sistema de ensino.
● As Reformas Pombalinas no campo da educação
introduziram as chamadas “aulas régias”: estudos
autônomos e isolados de Latim, Grego, Filosofia e Retórica.
● Cada disciplina possuía um professor único e as
matérias não se articulavam uma com as outras.
Período Joanino
(1808–1821)
● Mudança da Família Real para o Brasil em 1808.
● D. João VI refunda a academia militar que havia
(atual Academia Militar das Agulhas Negras) e cria duas
escolas de medicina – uma no Rio de Janeiro e outra em
Salvador.
Período imperial
(1822-1889)
● D. João VI volta a Portugal em 1821.
● D. Pedro I proclama a Independência do Brasil em
1822.
● A primeira Constituição brasileira é outorga em 1824.
● Essa lei dizia que a “instrução primária é gratuita
para todos os cidadãos”.
República Velha
(1889-1929)
● Proclamou-se a República no sistema presidencialista
em 1889.
● Na organização escolar, percebe-se como princípios
orientadores a liberdade e laicidade do ensino, como
também a gratuidade da escola primária.
Segunda República
(1930-1936)
● Revolução de 1930 marca a entrada do Brasil no
modelo capitalista de produção e o primórdio do
investimento naprodução industrial.
● Há necessidade de uma mão de obra especializada
sendo preciso investir na educação.
● Criação do Ministério da Educação e Saúde Pública
em 1930.
● Em 1931, decretos organizam o ensino secundário e
19
as universidades brasileiras ainda inexistentes. Esses
decretos ficam conhecidos como “Reforma Francisco
Campos”.
Estado Novo
(1937-1945)
● Em 1937, a Constituição outorgada com tendências
fascistas, com orientação político-educacional para o
mundo capitalista:
○ Enfatiza o ensino pré-vocacional e profissional.
○ Propõe que a arte, a ciência e o ensino sejam livres à
iniciativa individual tirando do Estado o dever da educação.
○ Mantém a gratuidade e a obrigatoriedade do ensino
primário.
República Nova
(1946-1963)
● Nova Constituição em 1946.
● Na área da Educação, determina-se a
obrigatoriedade de se cumprir o ensino primário e volta o
preceito de que a educação é direito de todos.
● Lei nº 4.024, de 20 de dezembro de 1961 - prevalece
as reivindicações da Igreja Católica e dos donos de
estabelecimentos particulares de ensino, confrontando com
o dever do Estado para a oferta da educação aos brasileiros.
Ditadura Civil-Militar
(1964-1985)
● Em 1964, o Golpe militar aborta todas as iniciativas
de se revolucionar a educação brasileira.
● Nesse período, deu-se a expansão das universidades
no Brasil.
● Criou-se o Movimento Brasileiro de Alfabetização
(MOBRAL) visando erradicar o analfabetismo.
● Em 1971, é instituída a Lei nº 5.692: a Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional, focando a
formação educacional com um cunho profissionalizante.
Nova República
(pós-ditadura - a partir de
1985)
● Fim do Regime Militar em 1985.
● Constituição Federal aprovada em 1988 dentro dos
princípios democráticos, reconhecendo a Educação como
direito subjetivo de todos.
● Declaração Mundial sobre Educação para Todos é
aprovada, em 1990, na Tailândia.
● Promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional (LDB nº 9.394/1996), que estipulou a
20
formação do docente em nível superior e colocou a
Educação Infantil na posição de etapa inicial da Educação
Básica.
● Entra em vigor o Plano Nacional de Educação
(2001-2011).
● Novo Plano Nacional de Educação (2014-2024).
Assimile
1. Aulas régias: durante o período do Brasil colônia, essa modalidade de aula foi
implementada e concentrava o ensino correspondente ao nível secundário, em especial às
classes de latim. A responsabilidade do Estado limitava-se ao pagamento do salário do
professor e às diretrizes curriculares da matéria a ser ensinada, deixando a cargo do próprio
professor a provisão das condições materiais relativas ao local, geralmente sua própria casa,
e a sua infraestrutura, assim como aos recursos pedagógicos a serem utilizados no
desenvolvimento do ensino.
2. Associação Brasileira de Educação (ABE): criada em 1924 por educadores,
intelectuais, políticos e figuras de expressão da sociedade brasileira, impulsionou as
discussões em torno dos problemas educacionais. Por meio dessa organização, eram
promovidos cursos, palestras, semanas da educação e conferências, principalmente as
Conferências Nacionais de Educação. Entre 1927 a 1929, foram realizadas três grandes
Conferências Nacionais de Educação, ocorridas em Curitiba, Belo Horizonte e São Paulo. Foi
por meio dessas Conferências que surgiu. em 1932. o Manifesto dos Pioneiros da Escola
Nova, contendo uma nova proposta pedagógica e trazendo em seu bojo uma proposta de
reconstrução do sistema educacional brasileiro.
3. Plano Nacional de Educação (PNE): é uma lei brasileira que estabelece diretrizes e
metas para o desenvolvimento nacional, estadual e municipal da educação. O Plano vincula
os entes federativos às suas medidas e os obriga a tomar medidas próprias para alcançar as
metas previstas. Também podemos considerar o Plano Nacional de Educação como um
documento editado periodicamente e que compreende desde diagnósticos sobre a
educação até a proposição de metas, diretrizes e estratégias para o desenvolvimento da
Educação.
Seção 3 POLÍTICAS PÚBLICAS E LEGISLAÇÃO EDUCACIONAL – AS POLÍTICAS E
LEGISLAÇÃO EDUCACIONAL
O Banco Mundial foi criado em 1944 e exerceu nos seus primeiros anos um papel de
reconstrutor dos países atingidos pela guerra. Em meados da década de 1950 até o início
dos anos de 1970, com as crescentes tensões da Guerra Fria, teve como missão a
incorporação dos países do Terceiro Mundo, por meio da criação de programas de
assistência econômica e de empréstimos crescentes voltados às políticas de industrialização.
21
Como pontua Vieira (2001), após a Segunda Guerra Mundial tornou-se crescente o
intervencionismo estatal no campo econômico e social, em países muito, pouco, ou nada
industrializados.
Cabe destacar que, para o Banco Mundial, a educação é oferecida como prestação de
serviço (público ou privado) e não como um direito de todos à transmissão, construção e
troca de saberes, culturas e valores.
Através do documento Priorities and Strategies for Education (Prioridades e Estratégias para
a Educação), publicado em 1995, o Banco Mundial apresentou as diretrizes para a educação
básica dos países em desenvolvimento, recomendando a implantação de algumas
orientações como:
● A melhoria da qualidade e da eficácia da educação.
● A ênfase nos aspectos administrativos e financeiros.
● A descentralização e autonomia das instituições escolares.
● A maior participação dos pais e da comunidade nos assuntos escolares.
● O impulso para o setor privado e organismos não governamentais no terreno
educativo.
● A mobilização e alocação eficaz de recursos adicionais para a educação.
● E centralização nas propostas pedagógicas e avaliação de desempenho padronizadas.
Entre os organismos internacionais que acabam orientando nas ações educacionais nos
países em desenvolvimento estão também o UNICEF e a UNESCO.
O UNICEF (Fundo das Nações Unidas para a Infância) foi criado no dia 11 de dezembro de
1946. Seus primeiros programas forneceram assistência emergencial a milhões de crianças
no período pós-guerra na Europa, no Oriente Médio e na China.
O princípio básico do UNICEF é a promoção do bem-estar da criança e do adolescente a
partir de suas necessidades, sem discriminação de raça, credo, nacionalidade, condição
social ou opinião política (VIEIRA; ALBUQUERQUE, 2001).
A UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) foi
fundada em 16 de novembro de 1945 e serve como uma agência do conhecimento que visa
disseminar e compartilhar informação e conhecimento, colaborando com os países
membros na construção de suas capacidades humanas e institucionais em diversos campos.
A UNESCO busca promover a cooperação internacional entre seus 193 países nas áreas de
educação, ciências, cultura e comunicação.
Heloani e Piolli (2010) destacam que, seguindo as propostas do Banco Mundial para a
educação, o Brasil passa a adotar novas condutas de ação no campo Educacional: parceria
com o setor privado e adoção do ideário pautado na eficácia, competência, qualidade e
equidade no setor educacional.
22
A descentralização administrativa da educação também se configurou como uma
consequência da orientação do Banco Mundial, transferindo principais responsabilidades
que antes eram de ordem federal para níveis políticos regionais, colocando a escola como
um organismo central e autônomo, capaz de gerenciar seus próprios recursos e realidades.
Veremos mais adiante o quanto essas indicações influenciaram e ainda influenciam nas
Políticas Educacionais brasileiras.
É dentro desse contexto que teremos a municipalização da educação, por exemplo, assim
como ações que colocam a gestão da escola como responsabilidade local, seguindo o
princípio da descentralização administrativa, através do princípio da gestão democrática da
educação.
A partir das determinações do Banco Mundial, a Educação como um serviço público passa,
nos anos 1990, a ser avaliado através de metas e resultados quantitativos.
Aqui devemos recuperar que as reformas implantadas, a partir de 1990, peloEstado
brasileiro tinham como intenção o desenvolvimento econômico do país, redimensionando o
papel do Estado, “não mais como promotor direto do crescimento econômico, mas como
catalisador e facilitador” (HELOANI; PIOLLI, 2010).
Pautando-se nesse cenário, a função do Estado seria a de regular as atividades e os serviços,
incentivando a privatização sob o discurso de uma administração pública eficiente e em
busca da redução de gastos, focando na descentralização e nos processos de privatização de
empresas e serviços públicos. Estamos falando num modelo de Estado Neoliberal!
Mas você já ouviu falar em Neoliberalismo?
O Neoliberalismo é uma doutrina socioeconômica que prevê a mínima intervenção do
Estado na economia, ou seja, o “Estado Mínimo”, combatendo dessa forma o Estado de
Bem-Estar Social (Welfare State), no qual o Estado intervém nos momentos de crise
econômica fortalecendo as leis trabalhistas e o mercado consumidor, protegendo a
sociedade.
O sistema neoliberal considera que o Estado Protetor é oneroso para a Economia,
defendendo a desregulamentação da força de trabalho, diminuição da renda, a flexibilização
do processo produtivo e as privatizações dos órgãos estatais.
No Brasil, os anos 1990 foram marcantes para a implementação do neoliberalismo. A onda
privatista atingiu empresas estatais como Embratel, Telebrás e Vale do Rio Doce, por
exemplo.
Souza (2004, p. 927) destaca que dentro da ótica neoliberal,
[...] formou-se a ideia hegemônica de que o Estado – sobretudo nos países
periféricos – deveria focar sua atuação nas relações exteriores e na regulação
23
financeira, com base em critérios negociados diretamente com os organismos
internacionais. A reforma nas suas estruturas e aparato de funcionamento consolidou-se nos
anos 90, por meio de um processo de desregulamentação na economia, da privatização das
empresas produtivas estatais, da abertura de mercados, da reforma dos sistemas de
previdência social, saúde e educação, descentralizando-se seus serviços, sob a justificativa
de otimizar seus recursos.
Vale ressaltar que o neoliberalismo age também como um padrão social de
comportamento, pois preconiza a sua individualização, sobretudo no campo profissional, o
que é amplamente difundido pelas concepções do empreendedorismo.
As atuais reformas e os modos de gerenciamento da educação pública brasileira têm sua
origem nas reformas introduzidas nos anos de 1990, mudando as formas de ação do Estado
em termos de Políticas Públicas, seguindo os preceitos neoliberais.
Em termos educacionais, Heloani e Piolli (2010, p. 17) pontuam que:
As reformas educacionais dos anos 1990 se inserem no contexto da reforma do
Estado cujo paradigma foi o da racionalidade empresarial. Novos métodos e
conceitos oriundos do mercado são amplamente disseminados. Um dos conceitos
mais utilizados é o de gestão em substituição ao de administração.
Autores como Vieira (2001), Souza (2004), Dourado (2007) e Heloani e Piolli (2010)
destacam que o Neoliberalismo é criticado pelo desmonte das Políticas Públicas,
influenciando na desregulamentação da força de trabalho, no enfraquecimento das forças
sindicais, na diminuição dos direitos trabalhistas, enfim, interferindo no padrão de vida da
classe trabalhadora em todo o mundo. A Educação passa a ser foco do Estado, pois
compreende-se que sua ação é instrumento para o crescimento econômico em redução da
pobreza.
É dentro desse contexto histórico que a educação brasileira passou a ser objeto de interesse
do Estado através da implantação de reformas educacionais que alteraram
significativamente a estrutura e o funcionamento do sistema educacional, seguindo as
orientações do Banco Mundial.
Visando implementar as recomendações do Banco Mundial para a Educação nos países em
desenvolvimento, em 1990, aconteceu na Tailândia a Conferência de Jomtien. O referido
evento foi patrocinado pelo Banco Mundial, em parceria com a UNESCO, o UNICEF e o
Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e teve como foco países onde
era alta a taxa de analfabetismo como: Bangladesh, Brasil, China, Egito, Índia, Indonésia,
México, Nigéria e Paquistão) – conhecidos como “E-9”.
Em seu preâmbulo, a Declaração Mundial sobre Educação para todos: Plano de ação para
satisfazer as necessidades básicas de aprendizagem, traz a seguinte contextualização:
24
Mais de 100 milhões de crianças, das quais pelo menos 60 milhões são meninas,
não têm acesso ao ensino primário; mais de 960 milhões de adultos - dois terços
dos quais mulheres são analfabetos, e o analfabetismo funcional é um problema
significativo em todos os países industrializados ou em desenvolvimento; mais de
um terço dos adultos do mundo não têm acesso ao conhecimento impresso, às novas
habilidades e tecnologias, que poderiam melhorar a qualidade de vida e ajudá-los a
perceber e a adaptar-se às mudanças sociais e culturais; e mais de 100 milhões de crianças e
incontáveis adultos não conseguem concluir o ciclo básico, e outros milhões, apesar de
concluí-lo, não conseguem adquirir conhecimentos e habilidades essenciais.
(UNESCO, 1990)
Diante do exposto no texto de abertura da Declaração de Jomtien, o documento elaborado
na referida Conferência estabelece como compromisso satisfazer as necessidades básicas de
aprendizagem, a universalização do acesso à educação e a promoção da equidade, a
mudança no modelo de gestão da educação e a definição de competências e
responsabilidades das instâncias de governo em relação à gestão e financiamento da
Educação Básica (SOUZA, 2004). Conforme sinaliza a autora,
[...] a partir desse momento, as políticas do BM – Banco Mundial voltam-se,
ostensivamente, para a “priorização sistemática do ensino fundamental, em
detrimento dos demais níveis de ensino, e de defesa da relativização do dever do
Estado com a educação, tendo por base o postulado de que a tarefa de assegurar a
educação é de todos os setores da sociedade.
(SOUZA, 2004, p. 928)
Você, futuro educador, verá o quanto a Conferência de Jomtien, realizada em 1990, foi
referência para as Reformas educacionais brasileiras e o quanto o Brasil se inspirou na
Declaração de Jomtien para elaborar seu “Plano Decenal de Educação para Todos”, o qual
teve vigência de 1993 a 2003, pois lançou um movimento global para assegurar a todas as
crianças, jovens e adultos a educação básica.
Segundo a Declaração Mundial sobre Educação para Todos: Satisfação das necessidades
básicas de aprendizagem (UNESCO, 1990), são objetivos gerais de desenvolvimento da
educação básica:
1. Satisfazer as necessidades básicas de aprendizagem das crianças, jovens e
adultos, provendo-lhes as competências fundamentais requeridas para a
participação na vida econômica, social, política e cultural do país, especialmente
as necessidades do mundo do trabalho;
2. Universalizar, com equidade, as oportunidades de alcançar e manter níveis apropriados de
aprendizagem e desenvolvimento;
3. Ampliar os meios e o alcance da educação básica;
4. Favorecer um ambiente adequado à aprendizagem;
25
5. Fortalecer os espaços institucionais de acordos, parcerias e compromisso;
6. Incrementar os recursos financeiros para manutenção e para investimentos na qualidade
da educação básica, conferindo maior eficiência e equidade em sua distribuição e aplicação;
7. Estabelecer canais mais amplos e qualificados de cooperação e intercâmbio educacional e
cultural de caráter bilateral, multilateral e internacional.
Cabe destacar que a Conferência impulsionou as Reformas Educacionais implementadas no
Brasil, priorizando a Educação Básica, por considerá-la como capaz de reduzir a pobreza nos
países em desenvolvimento.
Mas, o que se compreende como Educação Básica?
De acordo como Vieira e Albuquerque (2001), a educação básica deve ser a sustentação para
a aprendizagem e o desenvolvimento permanentes, para que os países organizem os níveis e
tipos mais avançados de educação e capacitação.
No Brasil, inicialmente compreendeu-se a capacidade de leitura e escrita e domínio dos
cálculos matemáticos elementarescomo parte da Educação Básica e assim se priorizou o
ensino fundamental como foco das Políticas nos anos 1990, por entender que era no ensino
fundamental que esses conhecimentos se davam.
Dentre as várias mudanças ocorridas nas políticas educacionais brasileira, destacamos a
legislação educacional: a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), Lei nº 9.394,
promulgada em 20 de dezembro de 1996.
Aqui devemos resgatar a hierarquia das leis e reafirmar que, no Brasil, a lei maior está
representada pela Constituição Federal de 1988.
A Constituição Federal do Brasil determina que:
Art. 205 - “a educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será
promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno
desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua
qualificação para o trabalho”.
(BRASIL, 1988)
Pela LDB temos as seguintes determinações quanto à Educação Nacional e sua especificação
em termos de fundamentos e princípios:
Art. 1º A educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida
familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa,
nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações
culturais.
Art. 2º A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos
ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando,
seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.
26
(BRASIL, 1996)
Estão previstos, tanto na Constituição Federal quanto na LDB, os princípios e as finalidades
da Educação, válidos para o sistema educacional, contudo, em 1996 vemos que o dever do
Estado aparece em segundo plano quando se refere à promoção da Educação, indicando os
resquícios dos princípios neoliberais quanto à desoneração do Estado em relação às Políticas
Educacionais.
De forma geral, a partir de 1996 surgem no Brasil novas perspectivas para a política
educacional, expressadas na LDB. Em seu artigo 3°, a LDB destaca os princípios do ensino
que será ministrado. São eles:
I - Igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;
II - Liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o
saber;
III - Pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas, e coexistência de
instituições públicas e privadas de ensino;
IV - Gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais;
V - Valorização dos profissionais da educação escolar, garantidos, na forma da lei, planos de
carreira, com ingresso exclusivamente por concurso público de provas e títulos, aos das
redes públicas;
VI - Gestão democrática do ensino público, na forma da lei;
VII - Garantia de padrão de qualidade;
VIII - Piso salarial profissional nacional para os profissionais da educação escolar pública, nos
termos de lei federal. (BRASIL, 1996)
Quanto aos níveis educacionais, ou seja, sobre a estruturação educacional brasileira, a LDB
estabeleceu dois níveis educacionais: a Educação Básica e o Ensino Superior.
A Educação Básica compreende:
● Educação Infantil – creche de 0 a 3 anos e Pré-escola de 4 a 5 anos – visa o
desenvolvimento integral da criança.
● Ensino Fundamental – composto por nove anos de estudos – com o objetivo de
desenvolver a capacidade de aprender e fortalecer os vínculos da família, da solidariedade e
da tolerância.
● Ensino Médio – objetiva o aprofundamento dos estudos e a preparação para o
mundo do trabalho.
Já a Educação Superior é composta por graduação e pós-graduação.
Além dessa organização, a atual LDB introduziu modalidades educacionais, ou seja:
● Educação de Jovens e Adultos (EJA) – estabelece a idade mínima de 15 anos para o
adulto cursar a EJA de Ensino Fundamental e 18 para o Ensino Médio.
● Educação Profissional – visa o desenvolvimento de competências e habilidades para
o mundo produtivo.
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● Educação Especial – visa a inclusão das pessoas com necessidades especiais,
preferencialmente na rede regular de ensino.
Numa breve análise podemos perceber que a legislação educacional brasileira está
sintonizada com uma formação que privilegia o desenvolvimento econômico, como
determina a orientação do Banco Mundial para as Reformas implementadas nos anos de
1990, para os países em desenvolvimento.
Além disso, é possível visualizar na LDB os objetivos expressos no Plano Decenal de
Educação para Todos, pois focaliza a ampliação do acesso à educação, considerando o dever
do poder público com a educação em geral e em particular com o ensino fundamental,
entendido como a promotor da alfabetização, ou seja, o foco da Educação Básica.
ASSIMILE
1. Estado de direito: é uma situação jurídica, ou um sistema institucional, no qual cada
um é submetido ao respeito do direito, do simples indivíduo à potência pública. O Estado de
direito é assim ligado ao respeito da hierarquia das normas, da separação dos poderes e dos
direitos fundamentais.
2. Welfare State ou Estado de Bem-Estar Social: caracterizado, entre outros aspectos,
pela implementação da esfera pública por meio do incremento de políticas sociais,
postulando a garantia de padrões mínimos de vida visando a manter o estímulo ao
desenvolvimento e a consolidação das economias de mercado; nesse caso, trata-se,
portanto, do fortalecimento do papel do Estado, por intermédio da adoção de uma feição
intervencionista na economia.
3. CEPAL: A Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe foi criada em 25 de
fevereiro de 1948, pelo Conselho Econômico e Social das Nações Unidas (ECOSOC), e tem
sua sede em Santiago, no Chile. Segundo a CEPAL, é fundamental conceber e pôr em prática
uma estratégia para dar impulso à transformação da educação e da capacitação e para
aumentar o potencial científico tecnológico da região, com vistas à formação de uma
cidadania moderna vinculada tanto à democracia e à equidade quanto à competitividade
internacional dos países, que possibilite o crescimento sustentado, apoiado na incorporação
e na disseminação do progresso técnico.
Unidade 2
Seção 1 POLÍTICAS E LEGISLAÇÃO EDUCACIONAL PARA A EDUCAÇÃO BÁSICA
FUNCIONAMENTO DA EDUCAÇÃO BÁSICA
Plano nacional de educação
28
Desde a homologação da Constituição Federal, em 1988, e a destinação de um capítulo
específico para a educação, cultura e desporto, foi apontada a necessidade de criação de um
plano nacional de educação (PNE). Com duração e planejamento decenal, a proposta é
nortear ações educativas, praticáveis em todo território nacional.
Desde a elaboração do primeiro PNE, temos, então, a cada dez anos, a reelaboração das
metas estabelecidas de acordo com as necessidades educacionais do país. A proposta inicial,
na qual se pautavam as demais metas do PNE, era a universalização da educação
fundamental e a erradicação do analfabetismo.
O acompanhamento das ações organizadas para o cumprimento das metas propostas é feito
pelo Ministério da Educação (MEC) em parceria com outros órgãos governamentais e tem
como base diversos documentos e indicadores fornecidos pelo Instituto Nacional de Estudos
e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP).
O documento é composto por metas e estratégias que buscam a melhoria da educação em
todo território brasileiro. Essas metas podem ser agrupadas considerando:
● Metas estruturantes.
● Metas para redução das desigualdades e valorização da diversidade.
● Metas para valorização dos profissionais da educação.
● Metas que regulamentam e orientam a criação do sistema nacional de educação e a
gestão democrática.
Ao longo desta unidade de estudo, refletiremos sobre algumas dessas metas, buscando
compreender documentos, legislações, políticas públicas e demais materiais e propostas que
foram organizados para alcançar essas metas.
É por meio da análise de todas as metas e resultados alcançados, ou não, que as políticas
educacionais do país são estruturadas. Vejamos o primeiro exemplo com as informações
estabelecidas pela Meta 7 do PNE (PNE, 2014):
Vejamos o primeiro exemplo com as informações estabelecidas pela Meta7 do PNE (PNE,
2014):
META 7: Fomentar a qualidade da educação básica em todas as etapas e modalidades, com
melhoria do fluxo escolar e da aprendizagem de modo a atingir as seguintes médias
nacionais para o Ideb:
IDEB 2015 2017 2019 2021
Anos iniciais do ensino fundamental 5,2 5,5 5,7 6,0
Anos finais do ensino fundamental 4,7 5,0 5,2 5,5
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Ensino médio 4,3 4,7 5,0 5,2
Para o alcance dessa meta, o documento traz várias estratégias que devem ser executadas
pelos diferentes sistemas de ensino, entre elas temos (PNE, 2014):
Estratégias:
[...]7.11) melhorar o desempenho dos alunos da educação básica nas avaliações da
aprendizagem no Programa Internacional de Avaliação de Estudantes - PISA,
tomado como instrumento externo de referência, internacionalmente reconhecido, de
acordo com as seguintes projeções:
PISA 2015 2018 2021
Média dos resultados em matemática, leitura e ciências 438 455 473
Temos, então, a partir do exposto, a necessidade de investir em recursos financeiros,
estruturais, materiais, entre outros, que favoreçam o alcance desses índices. Mas, antes de
falarmos sobre o repasse desses recursos, você percebeu que entre as metas e estratégias
estabelecidas no PNE temos as verificações e os índices sendo pautados nas avaliações
externas?
ASSIMILE
O IDEB é o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica. Criado em 2007 pelo INEP, tem
como objetivo estabelecer procedimentos e critérios para medir a qualidade da
aprendizagem dos estudantes em todo o Brasil. A partir do diagnóstico, novas metas são
progressivamente estabelecidas e os índices são registrados a partir do desempenho dos
estudantes nas avaliações externas.
Longe de discutirmos procedimentos avaliativos e concepções de avaliação, é importante
para este estudo considerarmos a necessidade governamental de acompanhamento das
ações desenvolvidas nas escolas e verificarmos os impactos de todos os investimentos e
propostas implementados na aprendizagem dos alunos, além de ser uma possibilidade
de mapear áreas com necessidades mais evidentes.
Essas avaliações fazem parte do Sistema de Avaliação da Educação Básica (SAEB), que
fornece dados para o INEP, diagnosticando como está o desenvolvimento da educação
básica no país. Esse índice tem alguns fatores complementares para análise, tais como as
taxas de aprovação, reprovação e evasão escolar dos estudantes.
Parece muita coisa, mas essas relações não param por aí. O mapeamento obtido com as
avaliações externas, considerando a necessidade de alcançar as metas estabelecidas no
PNE, interfere também no repasse de verbas destinadas à educação.
30
EXEMPLIFICANDO
Os recursos com repasses necessários para as escolas estão explicitados na meta 7.16,
vinculada à qualidade da educação básica, que já mencionamos, e que traz a seguinte
redação:
7.16) apoiar técnica e financeiramente a gestão escolar mediante transferência
direta de recursos financeiros à escola, garantindo a participação da comunidade
escolar no planejamento e na aplicação dos recursos, visando à ampliação da
transparência e ao efetivo desenvolvimento da gestão democrática. (PNE, 2014)
Com esse exemplo, evidenciamos mais uma vez a necessidade de ações integradas e que
justificam a criação dos recursos, como abordaremos a seguir.
RECURSOS DESTINADOS À MELHORIA DA EDUCAÇÃO
Os recursos destinados à melhoria da educação estão vinculados ao Fundo de Manutenção e
Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb) e Fundo de Manutenção e Desenvolvimento
do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério (Fundef).
O Fundeb, criado pela Lei nº 14.494, de 20 de junho de 2007, atende alunos da educação
básica em todas as suas etapas e modalidades. Como o próprio nome sugere, esse fundo é
destinado a aumentar os recursos aplicáveis na educação básica. Destina-se ainda à
formação de professores e à melhoria dos salários dos profissionais da educação.
Todos os estados repassam a arrecadação obtida a partir de outros impostos e, quando
não atingem os valores mínimos, são complementados por meio de verbas federais.
Complementar e de forma mais específica para o atendimento do ensino fundamental
temos o Fundef, criado como forma de atender às exigências previstas na LDB em seu
artigo 10.
Art. 10. Os Estados incumbir-se-ão de:
II - definir, com os Municípios, formas de colaboração na oferta do ensino
fundamental, as quais devem assegurar a distribuição proporcional das
responsabilidades, de acordo com a população a ser atendida e os recursos financeiros
disponíveis em cada uma dessas esferas do Poder Público.
(BRASIL, 1996)
Cada estado e município recebe os valores de acordo com o número de alunos
matriculados no ensino fundamental e devem destiná-los considerando:
● 60% para remuneração dos profissionais em efetivo exercício.
● 40% em ações de manutenção e desenvolvimento do ensino, o que inclui, por
exemplo, a aquisição de equipamentos que favoreçam a aprendizagem dos estudantes.
31
É necessário reconhecer que se trata de políticas públicas elaboradas e organizadas a
partir de muitos estudos, cujo objetivo central é a subvinculação de recursos para a
educação, assegurando essa distribuição em todos os lugares, principalmente os que
necessitam melhorar os índices e a qualidade das aprendizagens, conforme descrito
anteriormente.
Vocabulário
Política pública corresponde ao conjunto de etapas e processos que culminam com a
elaboração de regras, cujo objetivo é resolver problemas públicos. No caso de uma Política
Pública Educacional, temos esses problemas vinculados à educação, sendo sempre de
interesses coletivos.
A partir da criação desses fundos, em 2010, o Parecer nº 8 da Câmara de Educação
Básica e o Conselho Nacional de Educação criaram o Custo Aluno Qualidade Inicial
(CAQi), que determina o valor necessário por aluno para que a qualidade inicial da
educação seja melhorada.
Qual é esse valor? Será que você consegue estabelecer qual é o valor mínimo
necessário? Com certeza é um cálculo bem complexo, pois envolve muitas variáveis,
como o tamanho das turmas, formação dos profissionais, salários, carreiras e até
equipamentos de infraestrutura.
32
EDUCAÇÃO ESPECIAL
Algumas reflexões podem ser construídas com relação às metas e estratégias que objetivam
a redução das desigualdades e valorização da diversidade. Um exemplo é a proposta a
criação de indicadores específicos para a avaliação da qualidade da educação especial.
Confira outro exemplo:
7.26) consolidar a educação escolar no campo de populações tradicionais, de
populações itinerantes e de comunidades indígenas e quilombolas, respeitando a
articulação entre os ambientes escolares e comunitários e garantindo: o
desenvolvimento sustentável e preservação da identidade cultural; a participação da
comunidade na definição do modelo de organização pedagógica e de gestão das instituições,
consideradas as práticas socioculturais e as formas particulares de organização do tempo; a
oferta bilíngue na educação infantil e nos anos iniciais do ensino fundamental, em língua
materna das comunidades indígenas e em língua portuguesa; a reestruturação e a aquisição
de equipamentos; a oferta de programa para a formação inicial e continuada de
profissionais da educação; e o atendimento em educação especial.
(PNE, 2014)
Com a preocupação constante de assegurar o acesso e a permanência de todos na
educação, desde a LDB, a educação especial é reconhecida como uma modalidade
educacional que deve ser ofertada, preferencialmente, na rede regular. Para que isso ocorra
com qualidade é que temos no PNE a preocupação de que esse atendimento especial, de
fato, possa acontecer.
Da mesma forma que tivemos fundos educacionais, avaliações externas e demais
procedimentos sendo criados, em 11 de setembro de 2001, por meio da Resolução CNE/CEB
nº 2, houve a homologação das Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação
Básica, assegurando o atendimento desses estudantes a partir do princípio da inclusão.
De acordo com o documento (BRASIL, 2001), não se trata de moldar os estudantesaos
padrões preestabelecidos presentes nos espaços escolares, mas sim planejar coletivamente
ações que possam inclui-los e atender suas necessidades.
Como você pode perceber, são propostas que envolvem o trabalho articulado de vários
setores sociais e não se limitam apenas ao que acontece na sala de aula. De nada adianta,
por exemplo, a criança participar de ações inclusivas em sala e a estrutura administrativa da
escola não a considerar da mesma forma.
Uma das ações que amplia ainda mais essa determinação é o Atendimento Educacional
Especializado (AEE). Ao estabelecer a necessidade do atendimento especializado, a proposta
tem como objetivo central disponibilizar recursos e serviços para os estudantes com
necessidades especiais, orientando a sua utilização no ensino regular. O que isso significa?
De acordo com o Ministério da Educação, “Art. 2º O AEE tem como função complementar ou
suplementar a formação do aluno por meio da disponibilização de serviços, recursos de
33
acessibilidade e estratégias que eliminem as barreiras para sua plena participação na
sociedade e desenvolvimento de sua aprendizagem” (BRASIL, 2009).
Esse atendimento não substitui o ensino nas turmas regulares, ele complementa e é
desenvolvido em salas específicas, organizadas para este fim na própria escola onde o aluno
está matriculado ou em escolas-polos, com a frequência acontecendo no contraturno das
salas regulares e com o acompanhamento de professores habilitados para o trabalho com a
educação especial.
Tudo o que abordamos até o momento tem como proposta central a garantia da qualidade
dos processos educacionais, atingindo metas do PNE e ampliando as possibilidades de
aprendizagem dos estudantes consideradas como direito.
Foco na BNCC
Você sabia que a construção de uma Base Nacional Comum Curricular também está
presente nas metas do PNE? A BNCC está organizada para o desenvolvimento de
competências e habilidades, de forma que os direitos essenciais de aprendizagens possam
ser assegurados a todos os estudantes da educação básica. Essa necessidade está presente
no PNE que, além da criação da base, especifica a necessidade de o documento ser um
norteador para a construção dos currículos, respeitando as especificidades que encontramos
em todas as regiões do Brasil.
Note que a educação é um processo dinâmico que passou por muitas mudanças e, ainda
hoje, busca se aproximar constantemente do contexto social. Para isso, muitos documentos
e propostas são organizados. A sociedade muda, as necessidades tornam-se mais evidentes
e a escola, juntamente com todas as propostas que desenvolve em prol das aprendizagens
dos estudantes, não pode ser omissa a tudo isso.
Seção 2 - PRIMEIRA INFÂNCIA, EDUCAÇÃO INFANTIL E ALFABETIZAÇÃO
POR DENTRO DA BNCC
Ao discutir as aprendizagens como um direito da criança, a BNCC orienta uma nova forma de
olhar para o desenvolvimento infantil. Temos então a proposição dos campos de experiência
e um conjunto de habilidades que deve fazer parte do planejamento docente. É a partir
desses elementos e da identificação do objeto de conhecimento que o professor deve
pensar na elaboração das situações de aprendizagem. É importante considerar que os
campos de experiências estão articulados aos direitos de aprendizagem e desenvolvimento,
que incluem:
● Conviver.
● Brincar.
● Participar.
● Explorar.
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● Expressar-se.
● Conhecer-se.
Temos então explicitadas as ações que devem ser potencializadas nas atividades ofertadas
às crianças. Uma aula que não estimule o protagonismo dessa criança, por exemplo, não
atende às necessidades nem aos direitos expressos no documento. Pense nisso!
Como vimos ao longo desta unidade, as ações escolares, desde a educação infantil, devem
buscar o desenvolvimento integral da criança, e isso significa considerar seus aspectos
físicos, sociais, emocionais e tudo o que está no entorno e faça parte da sua vida.
A partir da concepção de criança como ser ativo e capaz de construir suas aprendizagens,
muitas propostas educativas foram modificadas, ampliando as capacidades das crianças em
todo o processo de ensino-aprendizagem.
Mudar as lentes e garantir propostas que estejam compartilhadas com os estudantes, e não
mais centradas na ação exclusiva do professor, é, sem dúvida, desafiador e ainda encontra
muita resistência.
Para que todas as questões apresentadas possam ser consideradas no planejamento
docente e na organização curricular das escolas, documentos norteadores são criados, como
a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), recentemente criada, em que a educação infantil
deve ofertar às crianças aprendizagens essenciais como direito, apoiada em campos de
experiência nos quais habilidades são propostas e devem ser aprofundadas de acordo com
as especificidades de bebês, crianças bem pequenas e crianças pequenas.
Sendo assim, a proposta desta situação-problema é, a partir do campo de experiência
apresentado no quadro e das habilidades propostas ao longo da educação infantil, pensar
em uma situação de aprendizagem que evidencie essa progressão. Sua proposta deve ter
como ponto de partida as informações a seguir:
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Agora você pode criar uma situação de aprendizagem a partir dos objetivos de
aprendizagem citados:
● Analise as habilidades.
● Escolha a faixa etária para a qual vai organizar sua proposta.
● Estabeleça o objetivo de aprendizagem pensando em processos cognitivos que sejam
aprofundados.
● Organize uma atividade que favoreça o alcance de um dos objetivos.
● Não se esqueça de considerar o protagonismo dos estudantes na vivência que você
irá propor.)
POLÍTICAS E LEGISLAÇÃO PARA A PRIMEIRA INFÂNCIA
As políticas e legislações educacionais são propostas com o objetivo principal de regular as
ações pedagógicas praticadas em todo o território nacional. Regular não deve ser entendido
como padronizar. A ideia é termos documentos norteadores capazes de garantir os direitos
de aprendizagem das crianças, garantindo também que as especificidades locais sejam
consideradas.
Além disso, características que fazem parte do desenvolvimento infantil diferem-se do que
está presente no contexto de jovens e ainda mais no de adultos. Essas características são
consideradas na organização de vários documentos, incluindo a educação infantil, que
vamos estudar a partir de agora.
REFLITA
Antes de chegar na escola, o único contato da criança é com seu ambiente familiar. Sons,
cheiros, espaços e tantas construções fazem parte de sua formação. Mesmo sem a
obrigatoriedade do acesso de crianças de 0 a 3 anos de idade à escola, muitas famílias
necessitam, desde muito cedo, enviá-las à instituição de ensino. Novos sons, cheiros,
espaços, rotina, tudo muda, e essa é uma reflexão importante para os profissionais que
recebem essas crianças. Da mesma forma, vários estudos foram utilizados para embasar os
documentos legais que discutem essa etapa de escolarização.
Cada criança é um ser único em constante transformação e desenvolvimento.
Os estudos indicam que a primeira infância, período compreendido entre o nascimento e os
6 anos de idade, possui uma riqueza de descobertas e aprendizagens. É o período em que as
sinapses são mais intensas, favorecendo o desenvolvimento cognitivo.
A Lei nº 13.257, de 2016, é considerada um marco para a primeira infância, resguardando a
proteção da criança e estabelecendo a necessidade de formulação e implementação de
políticas públicas destinadas a essas crianças.
Art. 1º Esta Lei estabelece princípios e diretrizes para a formulação e a
implementação de políticas públicas para a primeira infância em atenção à
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especificidade e à relevância dos primeiros anos de vida no desenvolvimento infantil e no
desenvolvimento do ser humano.
(BRASIL, 2016).
A formação integral deve ser considerada no planejamento docente, o que também se
alinha à BNCC. Esse documento reafirma o compromisso de garantir aos estudantes
brasileiros o desenvolvimento integral a partir do trabalho com as 10 competências gerais.
De acordo com o documento, essas competências são aprendizagens

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