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1 Lara Mendonça P6 FITS Tutoria 01 MT1 Calma Betty... 1. COMPREENDER O TRANSTORNO BIPOLAR (DEFINIÇÃO, DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO); O transtorno bipolar (TB) é umas das 10 principais causas de incapacidade em todo o mundo. Além disso, essa população tem alto risco de morte por suicídio e baixa expectativa de vida quando comparada à população geral. Esse transtorno caracteriza-se pela presença de episódios depressivos e maníacos, que, na maioria das vezes, podem iniciar antes dos 25 anos de idade. Apesar da gravidade do transtorno, o tempo até receber o diagnóstico clínico adequado é, muitas vezes, prolongado para uma parcela grande dos indivíduos, que, se não tratados adequadamente, podem apresentar quadros mais severos, com prejuízos cognitivos e sociais e maior refratariedade ao tratamento. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o TB está entre as 10 principais causas de anos de vida ajustados por incapacidade em adultos jovens. Pessoas com esse transtorno têm, aproximadamente, 20 a 30 vezes mais probabilidade de morrer por suicídio quando comparadas à população geral. Na verdade, o TB pode responder por um quarto de todos os suicídios. Além disso, foi relatado que a expectativa de vida diminui em nove anos para esses pacientes, em virtude não só do suicídio, mas também por um aumento na taxa de mortalidade relacionada a doenças cardiovasculares. Sabe- se, ainda, que há um atraso médio de 10 anos entre o aparecimento dos primeiros sintomas e o diagnóstico formal, e que apenas 20% dos pacientes que estão vivenciando um episódio depressivo bipolar são diagnosticados corretamente no primeiro ano em que buscam tratamento.3 Um estudo prospectivo demonstrou que durante aproximadamente metade do tempo os pacientes se apresentavam sintomáticos (TB tipo I: 46,6%; TB tipo II: 55,8%), sendo que os sintomas depressivos tiveram grande predominância sobre os de mania ou hipomania (a razão foi de 3:1 e de 37:1, respectivamente, para o TB tipo I e o TB tipo II).4 O curso longitudinal do transtorno é heterogêneo, mas, em média, o risco de recorrência aumenta com o número de episódios anteriores, e uma parcela dos pacientes apresenta trajetória perniciosa associada a prejuízo neurocognitivo e refratariedade ao tratamento. Além disso, o número de episódios está associado a diminuição do limiar para o desenvolvimento de novos episódios e risco aumentado de demência em longo prazo. O curso progressivo da doença em pa-cientes com episódios múltiplos é chamado de progressão clínica, cuja base biológica é definida como neuroprogressão. Diagnóstico TRANSTORNO BIPOLAR TIPO I O TB tipo I é caracterizado pela presença de pelo menos um episódio maníaco ao longo da vida. Cabe destacar que esse episódio pode ter sido ou não acompanhado por um episódio depressivo ao longo da vida. TRANSTORNO BIPOLAR TIPO II O TB tipo II é confirmado quando há a presença de pelo menos um episódio hipomaníaco e um episódio depressivo ao longo da vida. DSM-5: Os critérios para transtorno bipolar tipo I representam o entendimento moderno do transtorno maníaco- depressivo clássico, ou psicose afetiva, descrito no século XIX. Diferem da descrição clássica somente no que se refere ao fato de não haver exigência de psicose ou de experiência na vida de um episódio depressivo maior. No entanto, a vasta maioria dos indivíduos cujos sintomas atendem aos critérios para um episódio maníaco também tem episódios depressivos maiores durante o curso de suas vidas. 2 Lara Mendonça P6 FITS TRANSTORNO CICLOTÍMICO O transtorno ciclotímico é caracterizado por cronicidade e oscilações do humor. O diagnóstico é realizado quando, por um período de pelo menos dois anos (um ano para crianças e adolescentes), o sujeito apresenta vários períodos de sintomas hipomaníacos e depressivos, sem jamais atender a todos os critérios para um episódio de mania, hipomania ou depressão maior. Muitas substâncias de abuso, alguns medicamentos prescritos e várias condições médicas podem estar associados a um fenômeno semelhante ao episódio maníaco. Esse fato é reconhecido nos diagnósticos de transtorno bipolar e transtorno relacionado induzido por substância/ medicamento e transtorno bipolar e transtorno relacionado devido a outra condição médica. O reconhecimento de que muitos indivíduos, especialmente crianças e, em menor grau, adolescentes, vivenciam fenômenos semelhantes ao transtorno bipolar que não atendem aos critérios para transtorno bipolar tipo I, transtorno bipolar tipo II ou transtorno ciclotímico reflete-se na disponibilidade da categoria outro transtorno bipolar e transtorno relacionado especificado. De fato, critérios específicos para um transtorno que envolva hipomania de curta duração são parte da Seção III, na esperança de estimular mais estudos desse transtorno. Critério diagnóstico DSM-5 Para diagnosticar transtorno bipolar tipo I, é necessário o preenchimento dos critérios a seguir para um episódio maníaco. O episódio maníaco pode ter sido antecedido ou seguido por episódios hipomaníacos ou depressivos maiores. Episódio Maníaco A. Um período distinto de humor anormal e persistentemente elevado, expansivo ou irritável e aumento anormal e persistente da atividade dirigida a objetivos ou da energia, com duração mínima de uma semana e presente na maior parte do dia, quase todos os dias (ou qualquer duração, se a hospitalização se fizer necessária). B. Durante o período de perturbação do humor e aumento da energia ou atividade, três (ou mais) dos seguintes sintomas (quatro se o humor é apenas irritável) estão presentes em grau significativo e representam uma mudança notável do comportamento habitual: 1. Autoestima inflada ou grandiosidade. 2. Redução da necessidade de sono (p. ex., sente- se descansado com apenas três horas de sono). 3. Mais loquaz que o habitual ou pressão para continuar falando. 4. Fuga de ideias ou experiência subjetiva de que os pensamentos estão acelerados. 5. Distratibilidade (i.e., a atenção é desviada muito facilmente por estímulos externos insignificantes ou irrelevantes), conforme relatado ou observado. 6. Aumento da atividade dirigida a objetivos (seja socialmente, no trabalho ou escola, seja sexualmente) ou agitação psicomotora (i.e., atividade sem propósito não dirigida a objetivos). 7. Envolvimento excessivo em atividades com elevado potencial para consequências dolorosas (p. ex., envolvimento em surtos desenfreados de compras, indiscrições sexuais ou investimentos financeiros insensatos). C. A perturbação do humor é suficientemente grave a ponto de causar prejuízo acentuado no funcionamento social ou profissional ou para necessitar de hospitalização a fim de prevenir dano a si mesmo ou a outras pessoas, ou existem características psicóticas. DSM-5: O transtorno bipolar tipo II, que requer um ou mais episódios depressivos maiores e pelo menos um episódio hipomaníaco durante o curso da vida, não é mais considerado uma condição “mais leve” que o transtorno bipolar tipo I, em grande parte em razão da quantidade de tempo que pessoas com essa condição passam em depressão e pelo fato de a instabilidade do humor vivenciada ser tipicamente acompanhada de prejuízo grave no funcionamento profissional e social 3 Lara Mendonça P6 FITS D. O episódio não é atribuível aos efeitos fisiológicos de uma substância (p. ex., droga de abuso, medicamento, outro tratamento) ou a outra condição médica. Nota: Um episódio maníaco completo que surge durante tratamento antidepressivo (p. ex., medicamento, eletroconvulsoterapia), mas que persiste em um nível de sinais e sintomas além do efeito fisiológico desse tratamento, é evidência suficiente para um episódiomaníaco e, portanto, para um diagnóstico de transtorno bipolar tipo I. Nota: Os Critérios A-D representam um episódio maníaco. Pelo menos um episódio maníaco na vida é necessário para o diagnóstico de transtorno bipolar tipo I. Episódio Hipomaníaco A. Um período distinto de humor anormal e persistentemente elevado, expansivo ou irritável e aumento anormal e persistente da atividade ou energia, com duração mínima de quatro dias consecutivos e presente na maior parte do dia, quase todos os dias. B. Durante o período de perturbação do humor e aumento de energia e atividade, três (ou mais) dos seguintes sintomas (quatro se o humor é apenas irritável) persistem, representam uma mudança notável em relação ao comportamento habitual e estão presentes em grau significativo: 1. Autoestima inflada ou grandiosidade. 2. Redução da necessidade de sono (p. ex., sente- se descansado com apenas três horas de sono). 3. Mais loquaz que o habitual ou pressão para continuar falando. 4. Fuga de ideias ou experiência subjetiva de que os pensamentos estão acelerados. 5. Distratibilidade (i.e., a atenção é desviada muito facilmente por estímulos externos insignificantes ou irrelevantes), conforme relatado ou observado. 6. Aumento da atividade dirigida a objetivos (seja socialmente, no trabalho ou escola, seja sexualmente) ou agitação psicomotora. 7. Envolvimento excessivo em atividades com elevado potencial para consequências dolorosas (p. ex., envolvimento em surtos desenfreados de compras, indiscrições sexuais ou investimentos financeiros insensatos). C. O episódio está associado a uma mudança clara no funcionamento que não é característica do indivíduo quando assintomático. D. A perturbação do humor e a mudança no funcionamento são observáveis por outras pessoas. E. O episódio não é suficientemente grave a ponto de causar prejuízo acentuado no funcionamento social ou profissional ou para necessitar de hospitalização. Existindo características psicóticas, por definição, o episódio é maníaco. F. O episódio não é atribuível aos efeitos fisiológicos de uma substância (p. ex., droga de abuso, medicamento, outro tratamento). Nota: Um episódio hipomaníaco completo que surge durante tratamento antidepressivo (p. ex., medicamento, eletroconvulsoterapia), mas que persiste em um nível de sinais e sintomas além do efeito fisiológico desse tratamento, é evidência suficiente para um diagnóstico de episódio hipomaníaco. Recomenda-se, porém, cautela para que 1 ou 2 sintomas (principalmente aumento da irritabilidade, nervosismo ou agitação após uso de antidepressivo) não sejam considerados suficientes para o diagnóstico de episódio hipomaníaco nem necessariamente indicativos de uma diátese bipolar. Nota: Os Critérios A-F representam um episódio hipomaníaco. Esses episódios são comuns no transtorno bipolar tipo I, embora não necessários para o diagnóstico desse transtorno. Tratamento Uma das principais diretrizes para tratamento farmacológico do TB chama-se Canadian Network for Mood and Anxiety Treatments (CANMAT). O CANMAT divide as medicações em quatro linhas, baseando-se no nível de evidência dos estudos. O nível 1 consiste em metanálises com pequeno intervalo de confiança ou estudos duplos-cegos replicados e ensaio clínico randomizado, que inclui placebo ou comparação de controle ativo (n ≥ 30 em cada braço de tratamento ativo). O nível 2 refere-se a metanálises com grande intervalo de confiança ou um ensaio clínico randomizado duplo-cego controlado com placebo ou condição de comparação de controle ativo (n ≥ 30 em cada braço de 4 Lara Mendonça P6 FITS tratamento ativo). O nível 3 envolve, pelo menos, um ensaio clínico randomizado duplo-cego controlado com placebo ou condição de comparação de controle ativo (n = 10-29 em cada braço de tratamento ativo) ou dados administrativos do sistema de saúde. Por fim, o nível 4 refere-se a ensaios clínicos não controlados, relatos de caso e opinião de especialistas. Durante a primeira avaliação, o clínico deve identificar em qual fase da doença o paciente se encontra para, a partir disso, decidir qual a melhor medicação. Além disso, nessa etapa, deve-se considerar os exames complementares do paciente: Para a escolha do fármaco para o tratamento do episódio depressivo, primeiramente, o médico deve revisar os princípios gerais do manejo dos sintomas depressivos. AVALIAR: •Comportamentos de risco (risco de suicídio, em especial a presença de características mistas, agitação psicomotora e heteroagressividade). •Grau de insight. •Capacidade de aderir ao tratamento. •Suporte psicossocial. •Uso de nicotina, cafeína, álcool e outras substâncias de abuso (os pacientes devem ser estimulados a limitá-lo). •Reinício de medicamentos se sua descontinuação recente coincidir com uma recaída depressiva. REVISAR STATUS DE MEDICAÇÃO: •Níveis séricos •Adesão ao tratamento. REVISAR SINTOMAS SECUNDÁRIOS: •Medicamentos em uso. •Comorbidades psiquiátricas. •Uso de substâncias. •Outras condições médicas. 5 Lara Mendonça P6 FITS Caso o paciente apresente um quadro com sintomas maníacos, o clínico deve avaliar os seguintes tópicos antes da administração de um fármaco. AVALIAR: •Comportamentos de risco (risco de suicídio, em especial a presença de características mistas, agitação psicomotora e heteroagressividade). •Grau de insight. •Capacidade de aderir ao tratamento. •Suporte psicossocial. REVISAR STATUS DE MEDICAÇÃO: •Níveis séricos. •Adesão ao tratamento. •Antidepressivos e estimulantes devem ser descontinuados. REVISAR SINTOMAS SECUNDÁRIOS: •Medicamentos em uso. •Comorbidades psiquiátricas. •Uso de substâncias. •Outras condições médicas. 6 Lara Mendonça P6 FITS 2. COMPREENDER A ANAMNESE E O EXAME PSIQUIÁTRICO; A entrevista médica psiquiátrica se reveste de algumas características distintas, especiais e singulares, comparada ao exame clínico não psiquiátrico. Isso se deve à própria natureza do fato e do sofrimento mental e, pelas peculiaridades do exame, o psiquiatra tem sido descrito como um especialista em relações interpessoais. O psiquiatra exercerá uma atitude de compreensão empática (o sofrer com o paciente) para que seja possível a real identificação do fenômeno psicopatológico. Essa prática encerra o princípio básico da psicopatologia fenomenológica, que propicia ao médico observar o fe-nômeno mental buscando ao máximo apreendê-lo e o mais plenamente descrevê-lo. Durante todo o tempo do exame, o psiquiatra buscará informações detalhadas, claras, confiáveis e passíveis de descrição em termos psicopatológicos. A boa identificação do fenômeno mental é que ensejará a possibilidade de sumarizá-lo em sua conceituação maior, o diagnóstico clínico. Além da observação e da descrição fenomenológica, de maneira muito ampla, a entrevista psiquiátrica tem finalidades para além das diagnósticas. Desde seu início, abriga uma atitude terapêutica, estabelecendo-se, logo ao primeiro encontro, as bases nas quais será edificado o vínculo entre profissional e paciente. A habilidade para se empreender uma entrevista eficiente dependerá, em grande grau, da aprendizagem e do treinamento das técnicas de comunicação médica, em comparação a um “talento” inato do entrevistador. Isso não significa, entretanto, que o temperamento e as características de personalidade do profissional não sejam importantes – eles têm forte influência no “estilo” da entrevista. ENTREVISTA INICIAL O primeiro encontro entre o médico e o seu paciente é, provavelmente, o momento mais significativo para todo o desenvolvimento do processo diagnóstico/terapêutico, bem como para o estabelecimento de uma boarelação de confiança. Habitualmente, a primeira consulta é extensa e requer que o profissional esteja atento aos mínimos detalhes. Todas as informações disponibilizadas podem conter valor diagnóstico e, portanto, devem ser levadas em consideração. Da perspectiva do médico, as primeiras impressões percebidas sobre o paciente – às vezes, aquelas que ocorrem ainda na sala de espera – já podem suscitar ideias sobre o quadro mental e terão importância na condução da entrevista. De forma semelhante, o contato inicial do paciente com seu médico costuma ter significativo efeito em seus pensamentos, sentimentos e comportamentos durante o exame. Se o médico aparenta afabilidade, acolhimento e atitudes confiáveis, as tensões iniciais serão minimizadas. Em contrapartida, se o entrevistador demonstra postura mais rígida, muito séria/sisuda, pouco acolhedora, o entrevistado pode assumir atitude mais defensiva e sentir dificuldade para expressar sua condição mental. Uma entrevista psiquiátrica costuma assemelhar- se mais a uma “conversa” do que a um interrogatório médico stricto sensu. Entrevistadores mais experientes podem desenvolver a capacidade de conduzir uma avaliação de forma leve e natural, obtendo informações relevantes e confiáveis ao utilizar suas técnicas de forma sutil e discreta, embora seguindo os princípios básicos para a identificação da psicopatologia. Tem sido descrito que “a habilidade do entrevistador se revela pelas perguntas que formula, por aquelas que evita formular e pela decisão de como e quando falar ou apenas calar”. 7 Lara Mendonça P6 FITS Apesar de não ficar evidente para o paciente, o psiquiatra deve ter em mente um roteiro para a condução da entrevista. Se não o fizer, correrá o risco de não investigar questões relevantes e não conseguir obter as informações necessárias no tempo disponível. Esse roteiro semiestruturado divide a entrevista psiquiátrica, didaticamente, em três fases principais: a) fase de abertura; b) corpo da entrevista; e c) fase de fechamento. Fase de abertura Os primeiros minutos da entrevista (5 a 10 minutos) têm significativa influência sobre todo o seu andamento. Recomenda-se iniciar com o cumprimento habitual, seguindo-se de uma breve apresentação do médico. Em algumas situações, pode ser necessário fazer um resumo, esclarecendo sobre o motivo da entrevista/consulta, como em uma interconsulta ou perícia judicial. É adequado que a primeira pergunta seja abrangente, permitindo ao paciente falar livremente sobre seus problemas por alguns minutos. Nesse momento, as primeiras hipóteses diagnósticas já poderão surgir para o médico, o que implica certo direcionamento de seu raciocínio clínico. Esses momentos iniciais determinarão conforto e sensação de tranquilidade, que já poderão atenuar o sofrimento do paciente, além de instituir um bom vínculo com o profissional. Corpo da entrevista O corpo da entrevista, em geral, tem duração média de 30-40 minutos. Nessa fase, são coletados os dados necessários para compor a história clínica, podendo ser direcionada de acordo com o contexto da avaliação (emergência psiquiátrica, interconsulta, consulta ambulatorial, evolução em serviço de internamento, perícia judicial). O médico lançará mão de diferentes habilidades técnicas como um guia para essa fase da entrevista, permitindo a obtenção de informações confiáveis, válidas e úteis. Ao mesmo tempo em que “conversa” com seu paciente, o entrevistador observa seus comportamentos e reações emocionais, estando atento ao que é dito, como é dito e o que parece estar sendo evitado de ser dito. Nessa fase, o profissional manterá sua atenção muito mais focada no paciente do que no registro/anotação de dados – poderá escrevê-los ou digitá-los, porém, a sugestão é que o faça de maneira resumida, como -tópicos para anotações mais detalhadas a posteriori. Isso o deixará livre para a manutenção do exame atento, que permitirá a identificação do quadro clínico do paciente e seu sofrimento mental. Fase de fechamento (finalização) Nos 5 a 10 minutos finais da entrevista, é importante que o médico assuma uma postura mais didática, oferecendo feedback de suas impressões sobre os sintomas descritos, as hipóteses diagnósticas e as opções terapêuticas para o paciente. Quando indicado o uso de algum medicamento, torna-se imprescindível esclarecer os efeitos esperados, o tempo para resposta, possíveis efeitos colaterais e como proceder, caso eles se manifestem. Diante de indivíduos com significativo comprometimento cognitivo ou do juízo crítico, é adequado transmitir as informações para um terceiro (familiar, responsável legal, equipe de enfermagem em serviços hospitalares ou de casas de moradia coletiva do tipo “pensão protegida”). Entrevistas posteriores Os encontros subsequentes seguem moldes semelhantes aos da entrevista inicial, objetivando o aprofundamento da investigação diagnóstica, a verificação dos resultados de exames complementares, o acompanhamento da evolução das manifestações psicopatológicas, assim como o monitoramento da adesão e a resposta às estratégias terapêuticas implementadas. A depender do contexto e da necessidade, o intervalo entre as consultas pode variar de uma vez por mês, em casos leves ou moderados de seguimento ambulatorial, até duas ou três vezes por semana, quando existem sintomas graves (ideação suicida, agressividade, psicose) ou durante internamento. Uma particularidade na psiquiatria é que, não raramente, os pacientes seguem em tratamento com o mesmo profissional ao longo de anos e até décadas, criando uma relação de confiança e 8 Lara Mendonça P6 FITS intimidade, às vezes mais sólida do que aquelas que expressa com amigos e familiares. 3. DIFERENCIAR OS TIPOS DE DEPRESSÃO (DSM-5); Diferentemente do DSM-IV, este capítulo “Transtornos Depressivos” foi separado do capítulo anterior “Transtornos Bipolares e Transtornos Relacionados”. A característica comum desses transtornos é a presença de humor triste, vazio ou irritável, acompanhado de alterações somáticas e cognitivas que afetam significativamente a capacidade de funcionamento do indivíduo. O que difere entre eles são os aspectos de duração, momento ou etiologia presumida. O transtorno depressivo maior representa a condição clássica desse grupo de transtornos. Ele é caracterizado por episódios distintos de pelo menos duas semanas de duração (embora a maioria dos episódios dure um tempo consideravelmente maior) envolvendo alterações nítidas no afeto, na cognição e em funções neurovegetativas, e remissões interepisódicas. O diagnóstico baseado em um único episódio é possível, embora o transtorno seja recorrente na maioria dos casos. Atenção especial é dada à diferenciação da tristeza e do luto normais em relação a um episódio depressivo maior. O luto pode induzir grande sofrimento, mas não costuma provocar um episódio de transtorno depressivo maior. Quando ocorrem em conjunto, os sintomas depressivos e o prejuízo funcional tendem a ser mais graves, e o prognóstico é pior comparado com o luto que não é acompanhado de transtorno depressivo maior. A depressão relacionada ao luto tende a ocorrer em pessoas com outras vulnerabilidades a transtornos depressivos, e a recuperação pode ser facilitada pelo tratamento com antidepressivos. Uma forma mais crônica de depressão, o transtorno depressivo persistente (distimia), pode ser diagnosticada quando a perturbação do humor continua por pelo menos dois anos em adultos e um ano em crianças. Esse diagnóstico, novo no DSM-5, inclui as categorias diagnósticas do DSM-IV de transtorno depressivo maior crônico e distimia. Após cuidadoso exame científico das evidências, o transtorno disfórico pré-menstrual foideslocado de um apêndice do DSM-IV (“Conjunto de Critérios e Eixos Propostos para Estudos Adicionais”) para a Seção II do DSM-5. Quase 20 anos de pesquisa adicional sobre essa condição confirmaram uma forma de transtorno depressivo específico e responsivo a tratamento que inicia em algum momento após a ovulação e remite poucos dias após a menstruação, causando impacto significativo no funcionamento. Muitos substâncias de abuso, alguns medicamentos e diversas condições médicas podem estar associados a fenômenos semelhantes à depressão. Esse fato é reconhecido nos diagnósticos de transtorno depressivo induzido por substância/medicamento e de transtorno depressivo devido a outra condição médica. Transtorno depressivo maior Critérios diagnósticos A. Cinco (ou mais) dos seguintes sintomas estiveram presentes durante o mesmo período de duas semanas e representam uma mudança em relação ao funcionamento anterior; pelo menos um dos sintomas é (1) humor deprimido ou (2) perda de interesse ou prazer. 1. Humor deprimido na maior parte do dia, quase todos os dias, conforme indicado por relato subjetivo (p. ex., sente-se triste, vazio, sem esperança) ou por observação feita por outras pessoas (p. ex., parece choroso). (Nota: Em crianças e adolescentes, pode ser humor irritável.) 2. Acentuada diminuição do interesse ou prazer em todas ou quase todas as atividades na maior parte do dia, quase todos os dias (indicada por relato subjetivo ou observação feita por outras pessoas). 3. Perda ou ganho significativo de peso sem estar fazendo dieta (p. ex., uma alteração de mais de 5% do peso corporal em um mês), ou redução ou aumento do apetite quase todos os dias. (Nota: Em crianças, considerar o insucesso em obter o ganho de peso esperado.) 4. Insônia ou hipersonia quase todos os dias. 5. Agitação ou retardo psicomotor quase todos os dias (observáveis por outras pessoas, não meramente sensações subjetivas de inquietação ou de estar mais lento). 6. Fadiga ou perda de energia quase todos os dias. 9 Lara Mendonça P6 FITS 7. Sentimentos de inutilidade ou culpa excessiva ou inapropriada (que podem ser delirantes) quase todos os dias (não meramente autorrecriminação ou culpa por estar doente). 8. Capacidade diminuída para pensar ou se concentrar, ou indecisão, quase todos os dias (por relato subjetivo ou observação feita por outras pessoas). 9. Pensamentos recorrentes de morte (não somente medo de morrer), ideação suicida recorrente sem um plano específico, uma tentativa de suicídio ou plano específico para cometer suicídio. B. Os sintomas causam sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social, profissional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo. C. O episódio não é atribuível aos efeitos fisiológicos de uma substância ou a outra condição médica. Nota: Os Critérios A-C representam um episódio depressivo maior. Nota: Respostas a uma perda significativa (p. ex., luto, ruína financeira, perdas por um desastre natural, uma doença médica grave ou incapacidade) podem incluir os sentimentos de tristeza intensos, ruminação acerca da perda, insônia, falta de apetite e perda de peso observados no Critério A, que podem se assemelhar a um episódio depressivo. Embora tais sintomas possam ser entendidos ou considerados apropriados à perda, a presença de um episódio depressivo maior, além da resposta normal a uma perda significativa, também deve ser cuidadosamente considerada. Essa decisão requer inevitavelmente o exercício do julgamento clínico baseado na história do indivíduo e nas normas culturais para a expressão de sofrimento no contexto de uma perda. D. A ocorrência do episódio depressivo maior não é mais bem explicada por transtorno esquizoafetivo, esquizofrenia, transtorno esquizofreniforme, transtorno delirante, outro transtorno do espectro da esquizofrenia e outro transtorno psicótico especificado ou transtorno da esquizofrenia e outro transtorno psicótico não especificado. E. Nunca houve um episódio maníaco ou um episódio hipomaníaco. Nota: Essa exclusão não se aplica se todos os episódios do tipo maníaco ou do tipo hipomaníaco são induzidos por substância ou são atribuíveis aos efeitos psicológicos de outra condição médica. Transtorno depressivo persistente (Distimia) Critérios diagnósticos Este transtorno representa uma consolidação do transtorno depressivo maior crônico e do transtorno distímico definidos no DSM-IV. A. Humor deprimido na maior parte do dia, na maioria dos dias, indicado por relato subjetivo ou por observação feita por outras pessoas, pelo período mínimo de dois anos. Nota: Em crianças e adolescentes, o humor pode ser irritável, com duração mínima de um ano. B. Presença, enquanto deprimido, de duas (ou mais) das seguintes características: 1. Apetite diminuído ou alimentação em excesso. 2. Insônia ou hipersonia. 3. Baixa energia ou fadiga. 4. Baixa autoestima. 5. Concentração pobre ou dificuldade em tomar decisões. 6. Sentimentos de desesperança. C. Durante o período de dois anos (um ano para crianças ou adolescentes) de perturbação, o indivíduo jamais esteve sem os sintomas dos Critérios A e B por mais de dois meses. D. Os critérios para um transtorno depressivo maior podem estar continuamente presentes por dois anos. E. Jamais houve um episódio maníaco ou um episódio hipomaníaco e jamais foram satisfeitos os critérios para transtorno ciclotímico. F. A perturbação não é mais bem explicada por um transtorno esquizoafetivo persistente, esquizofrenia, transtorno delirante, outro transtorno do espectro da esquizofrenia e outro transtorno psicótico especificado ou transtorno do espectro 10 Lara Mendonça P6 FITS da esquizofrenia e outro transtorno psicótico não especificado. G. Os sintomas não se devem aos efeitos fisiológicos de uma substância (p. ex., droga de abuso, medicamento) ou a outra condição médica (p. ex., hipotireoidismo). H. Os sintomas causam sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social, profissional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo. Nota: Como os critérios para um episódio depressivo maior incluem quatro sintomas que estão ausentes da lista de sintomas para transtorno depressivo persistente (distimia), um número muito limitado de indivíduos terá sintomas depressivos que persistiram por mais de dois anos, mas não irá satisfazer os critérios para transtorno depressivo persistente. Caso tenham sido satisfeitos todos os critérios para um episódio depressivo maior em algum momento durante o episódio atual da doença, tais indivíduos devem receber diagnóstico de transtorno depressivo maior. De forma alternativa, um diagnóstico de outro transtorno depressivo especificado ou transtorno depressivo não especificado é justificado. Especificar se: Com sintomas ansiosos:(p. 184) Com características mistas:(p. 184-185) Com características melancólicas:(p. 185) Com características atípicas:(p. 185-186) Com características psicóticas congruentes com o humor:(p. 186) Com características psicóticas incongruentes com o humor:(p. 186) Com início no periparto:(p. 186-187) Especificar se: Em remissão parcial:(p. 188) Em remissão completa:(p. 188) Especificar se: Início precoce: Se o início ocorre antes dos 21 anos de idade. Início tardio: Se o início ocorre aos 21 anos ou mais. Especificar se (para os dois anos mais recentes de transtorno depressivo persistente): Com síndrome distímica pura: Não foram satisfeitos todos os critérios para um episódio depressivo maior pelo menos nos dois anos precedentes. Com episódio depressivo maior persistente: Foram satisfeitos todos os critérios para um episódio depressivo maior duranteo período precedente de dois anos. Com episódios depressivos maiores intermitentes, com episódio atual: São satisfeitos atualmente todos os critérios para um episódio depressivo maior, mas houve períodos de pelo menos oito semanas pelo menos nos dois anos precedentes com sintomas abaixo do limiar para um episódio depressivo maior completo. Com episódios depressivos maiores intermitentes, sem episódio atual: Não são satisfeitos atualmente todos os critérios para um episódio depressivo maior, mas houve um ou mais episódios depressivos maiores pelo menos nos dois anos precedentes. Especificar a gravidade atual: Leve (p. 188) Moderada (p. 188) Grave (p. 188) Transtorno disfórico pré-menstrual Critérios diagnósticos A. Na maioria dos ciclos menstruais, pelo menos cinco sintomas devem estar presentes na semana final antes do início da menstruação, começar a melhorar poucos dias depois do início da 11 Lara Mendonça P6 FITS menstruação e tornar-se mínimos ou ausentes na semana pós-menstrual. B. Um (ou mais) dos seguintes sintomas deve estar presente: 1. Labilidade afetiva acentuada (p. ex., mudanças de humor; sentir-se repentinamente triste ou chorosa ou sensibilidade aumentada à rejeição). 2. Irritabilidade ou raiva acentuadas ou aumento nos conflitos interpessoais. 3. Humor deprimido acentuado, sentimentos de desesperança ou pensamentos autodepreciativos. 4. Ansiedade acentuada, tensão e/ou sentimentos de estar nervosa ou no limite. C. Um (ou mais) dos seguintes sintomas deve adicionalmente estar presente para atingir um total de cinco sintomas quando combinados com os sintomas do Critério B. 1. Interesse diminuído pelas atividades habituais (p. ex., trabalho, escola, amigos, passatempos). 2. Sentimento subjetivo de dificuldade em se concentrar. 3. Letargia, fadiga fácil ou falta de energia acentuada. 4. Alteração acentuada do apetite; comer em demasia; ou avidez por alimentos específicos. 5. Hipersonia ou insônia. 6. Sentir-se sobrecarregada ou fora de controle. 7. Sintomas físicos como sensibilidade ou inchaço das mamas, dor articular ou muscular, sensação de “inchaço” ou ganho de peso. Nota: Os sintomas nos Critérios A-C devem ser satisfeitos para a maioria dos ciclos menstruais que ocorreram no ano precedente. D. Os sintomas estão associados a sofrimento clinicamente significativo ou a interferência no trabalho, na escola, em atividades sociais habituais ou relações com outras pessoas (p. ex., esquiva de atividades sociais; diminuição da produtividade e eficiência no trabalho, na escola ou em casa). E. A perturbação não é meramente uma exacerbação dos sintomas de outro transtorno, como transtorno depressivo maior, transtorno de pânico, transtorno depressivo persistente (distimia) ou um transtorno da personalidade (embora possa ser concomitante a qualquer um desses transtornos). F. O Critério A deve ser confirmado por avaliações prospectivas diárias durante pelo menos dois ciclos sintomáticos. (Nota: O diagnóstico pode ser feito provisoriamente antes dessa confirmação.) G. Os sintomas não são consequência dos efeitos fisiológicos de uma substância (p. ex., droga de abuso, medicamento, outro tratamento) ou de outra condição médica (p. ex., hipertireoidismo). Transtorno depressivo induzido por substância/medicamento Diagnóstico diferencial A. Uma perturbação proeminente e persistente do humor que predomina no quadro clínico, caracterizada por humor depressivo ou diminuição acentuada de interesse ou prazer em todas ou quase todas as atividades. B. Existem evidências, a partir da história, do exame físico ou de achados laboratoriais, de (1) e (2): 1. Os sintomas no Critério A desenvolveram-se durante ou logo após intoxicação ou abstinência de substância ou após exposição a medicamento. 2. A substância/medicamento envolvida é capaz de produzir os sintomas no Critério A. C. A perturbação não é mais bem explicada por um transtorno depressivo não induzido por substância/medicamento. Tais evidências de um transtorno depressivo independente podem incluir: Os sintomas precedem o início do uso da substância/medicamento; os sintomas persistem por um período substancial (p. ex., cerca de um mês) após a cessação da abstinência aguda ou intoxicação grave; ou existem outras evidências sugerindo a existência de um transtorno depressivo independente, não induzido por substância/medicamento (p. ex., história de 12 Lara Mendonça P6 FITS episódios recorrentes não relacionados a substância/medicamento). D. A perturbação não ocorre exclusivamente durante o curso de delirium. E. A perturbação causa sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social, profissional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo. Transtorno depressivo devido a outra condição médica Critérios diagnósticos A. Um período proeminente e persistente de humor deprimido ou de diminuição acentuada de interesse ou prazer em todas ou quase todas as atividades que predomina no quadro clínico. B. Existem evidências, a partir da história, do exame físico ou de achados laboratoriais, de que a perturbação é consequência fisiopatológica direta de outra condição médica. C. A perturbação não é mais bem explicada por outro transtorno mental (p. ex., transtorno de adaptação com humor depressivo em resposta ao estresse de ter uma condição médica grave). D. A perturbação não ocorre exclusivamente durante o curso de delirium. E. A perturbação causa sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social, profissional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo.
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