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SERVIÇO SOCIAL E FORMAÇÃO PROFISSIONAL Professora Me. Maria Cristina Araújo de Brito Cunha Professora Esp. Fernanda Carvalho Basilio Hernandez GRADUAÇÃO Unicesumar Viver e trabalhar em uma sociedade global é um grande desafio para todos os cidadãos. A busca por tecnologia, informação, conheci- mento de qualidade, novas habilidades para liderança e solução de problemas com eficiên- cia tornou-se uma questão de sobrevivência no mundo do trabalho. Cada um de nós tem uma grande responsabi- lidade: as escolhas que fizermos por nós e pe- los nossos farão grande diferença no futuro. Com essa visão, o Centro Universitário Cesu- mar assume o compromisso de democratizar o conhecimento por meio de alta tecnologia e contribuir para o futuro dos brasileiros. No cumprimento de sua missão – “promover a educação de qualidade nas diferentes áre- as do conhecimento, formando profissionais cidadãos que contribuam para o desenvolvi- mento de uma sociedade justa e solidária” –, o Centro Universitário Cesumar busca a inte- gração do ensino-pesquisa-extensão com as demandas institucionais e sociais; a realização de uma prática acadêmica que contribua para o desenvolvimento da consciência social e po- lítica e, por fim, a democratização do conheci- mento acadêmico com a articulação e a inte- gração com a sociedade. Diante disso, o Centro Universitário Cesumar almeja ser reconhecido como uma instituição universitária de referência regional e nacional pela qualidade e compromisso do corpo do- cente; aquisição de competências institucio- nais para o desenvolvimento de linhas de pes- quisa; consolidação da extensão universitária; qualidade da oferta dos ensinos presencial e a distância; bem-estar e satisfação da comuni- dade interna; qualidade da gestão acadêmica e administrativa; compromisso social de inclu- são; processos de cooperação e parceria com o mundo do trabalho, como também pelo compromisso e relacionamento permanen- te com os egressos, incentivando a educação continuada. Diretoria Operacional de Ensino Diretoria de Planejamento de Ensino Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está iniciando um processo de transformação, pois quan- do investimos em nossa formação, seja ela pessoal ou profissional, nos trans- formamos e, consequen- temente, transformamos também a sociedade na qual estamos inseridos. De que forma o fazemos? Criando oportunidades e/ou estabelecendo mu- danças capazes de alcan- çar um nível de desenvol- vimento compatível com os desafios que surgem no mundo contemporâneo. O Centro Universitário Cesumar mediante o Núcleo de Educação a Distância, o(a) acompanhará duran- te todo este processo, pois conforme Freire (1996): “Os homens se educam juntos, na transformação do mundo”. Os materiais produzidos oferecem linguagem dialógica e encontram-se integrados à pro- posta pedagógica, contribuindo no processo educacional, complementando sua formação profissional, desenvolvendo competências e habilidades, e aplicando conceitos teóricos em situação de realidade, de maneira a inseri-lo no mercado de trabalho. Ou seja, estes materiais têm como principal objetivo “provocar uma aproximação entre você e o conteúdo”, desta forma possibilita o desenvolvimento da auto- nomia em busca dos conhecimentos necessá- rios para a sua formação pessoal e profissional. Portanto, nossa distância nesse processo de crescimento e construção do conhecimento deve ser apenas geográfica. Utilize os diversos recursos pedagógicos que o Centro Universi- tário Cesumar lhe possibilita. Ou seja, acesse regularmente o STUDEO – Ambiente Virtual de Aprendizagem, interaja nos fóruns e en- quetes, assista às aulas ao vivo e participe das discussões. Além disso, lembre-se que existe uma equipe de professores e tutores que se encontra disponível para sanar suas dúvidas e auxiliá-lo(a) em seu processo de aprendiza- gem, possibilitando-lhe trilhar com tranqui- lidade e segurança sua trajetória acadêmica. A U TO R Professora Me. Maria Cristina Araújo de Brito Cunha Mestre em Gerontologia Social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP). Especialista em Administração de Recursos Humanos pela Universidade Federal da Paraíba. Graduada em Serviço Social pela Universidade Federal do Amazonas. Coordenadora do Curso de Serviço Social no Núcleo de Educação a Distância (NEAD) Unicesumar. Lattes: http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/ visualizacv.do?id=K4744725Y4 A U TO R Professora Esp. Fernanda Carvalho Basilio Hernandez Especialista em EAD e as Tecnologias Educacionais. Graduada em Serviço Social pela Faculdade Estadual de Ciências Econômicas de Apucarana (FECEA). Lattes:http://buscatextual.cnpq. br/buscatextual/visualizacv. do?id=K8141244T2 Seja bem-vindo(A)! É com imenso prazer que apresentamos este li- vro a você! Em primeiro lugar, queremos deixar registrado aqui nossa alegria em participar da sua jornada de aprendizado e troca de experiências. Queremos que saiba que o conteúdo deste livro foi pensado e elaborado com muito carinho, pois nossa preocupação foi encontrar e oferecer in- formações que pudessem proporcionar conheci- mento e, assim, aperfeiçoar sua percepção, com- preensão e entendimento do tema proposto. O livro é parte de seu material didático, contém trechos e citações de autores renomados que já escreveram sobre o Serviço Social e a forma- ção profissional, tudo de maneira clara e simples para facilitar a compreensão. Esse tema é muito relevante, pois é necessário que você tenha uma visão crítica e integral sobre o pro- cesso histórico da profissão, a formação dos profis- sionais, os campos de atuação, bem como sobre as atribuições privativas do assistente social. APRESENTAÇÃO SERVIÇO SOCIAL E FORMAÇÃO PROFISSIONAL Na Unidade 1, você conhecerá as particula- ridades do processo histórico que envolve a formação do assistente social, conhecerá, também, a influência que a Igreja Católica exercia sobre a profissão e a relação com a classe trabalhadora. Essas relações foram de- cisivas para se fundar as primeiras escolas de Serviço Social no Brasil. Descobrirá como o Serviço Social se tornou profissão regulamentada por lei, identificará as múltiplas expressões da questão social e porque ela é objeto de trabalho do assisten- te social. Conhecerá como era a atuação do profissional e constatará as mudanças ocorri- das até os dias atuais, bom como os desafios postos à profissão, seus limites e conquistas. Na Unidade 2, discutiremos sobre o conser- vadorismo e o positivismo, verá como a pro- fissão se instituiu e passou a ter contato com bases cientificas – a teoria positivista - por meio das escolas, clareando suas ações. Você terá conhecimento sobre os códigos de ética conservadores, sobre conceitos de éti- ca, que é um dos elementos que compõe a prática profissional, bem como a perspectiva APRESENTAÇÃO modernizadora, que trouxe nova roupagem para a profissão. Além disso, a teoria funcio- nalista legitimou o papel e as ações do Servi- ço Social. Para fechar essa unidade, aborda- remos os projetos neoliberal e societário. Na Unidade 3, discutiremos o contexto das políticas sociais, o significado da questão so- cial e suas várias expressões, o objeto de tra- balho do Serviço Social bem como o acesso aos direitos dos serviços socioassistenciais aos indivíduos em situação de vulnerabili- dade social. Apresentaremos o cenário das politicas sociais reguladas pelo Estado, dada a importância para a formação profissional. Nessa unidade, você conhecerá a história das politicas sociais, o que é fundamental para entendê-las na contemporaneidade. Discorreremos na Unidade 4 como é a ação interventiva do assistente social nas institui- ções públicas, no terceiro setor e nas empre- sas. Conhecerá os direitos socioassistenciais presentes na Constituição Federal de 1988 que são frutos de uma intensa mobilização social, bem como a atuação do assistente social ao longo dahistória, tendo o Estado APRESENTAÇÃO APRESENTAÇÃO como o maior empregador dos profissionais do Serviço Social. Essa unidade também abordará a Política Na- cional de Assistência Social que implantou o Sistema Único de Assistência Social (SUAS), que foi instituído em 2011 pela presidente Dilma Rouseff (Lei 12.435/2011). A unidade 5 abordará as atribuições e par- ticularidades do exercício profissional e pro- porcionará a compreensão do que compete ou não ao Serviço Social, assim como verifi- cará as atribuições específicas do Serviço So- cial e as dinâmicas de assessoria, consultoria e os avanços e desafios que são postos à pro- fissão no que diz respeito à supervisão. Abordaremos, também, o trabalho compar- tilhado com outros profissionais na coorde- nação e implementação de projetos em di- ferentes campos das políticas sociais e nas atividades sócio jurídicas, que impõem no- vas exigências para os assistentes sociais e conceituaremos a interdisciplinaridade e a multidisciplinaridade para compreender- mos como é a atuação do assistente social nesse meio. APRESENTAÇÃO APRESENTAÇÃO Caro (a) aluno (a), é importante que você faça uma leitura atenta do livro e também se empenhe em resolver as questões das ativi- dades complementares, que estão no final de cada unidade. Além das atividades, você encontrará sugestões de artigos, livros e fil- mes relacionados ao conteúdo da disciplina de Serviço Social e Formação Profissional. Agradecemos a oportunidade de fazer par- te desse processo de ensino-aprendizagem. Desejamos muito sucesso a você! Bons estudos e boa leitura! SUMÁRIO UNIDADE I O SERVIÇO SOCIAL E O PROCESSO HISTÓRICO DA PROFISSÃO 20 Introdução 23 Trajetória Histórica do Serviço Social e sua Relação com Igreja e o Estado 35 A Influência da Igreja Católica no Processo de Formação Profissional do Assistente Social 43 A Institucionalização do Serviço Social no Brasil 52 O Serviço Social na Produção e Reprodução das Relações Sociais 65 Considerações Finais 75 Gabarito UNIDADE II RUPTURA DO SERVIÇO SOCIAL CONSERVADOR PARA A CONSTRUÇÃO PROJETO ÉTICO POLÍTICO 81 Introdução 83 Conservadorismo e Positivismo 88 Serviço Social e a Reproduçao das Relações Socias 91 Os Códigos de Ética Conservadores 113 A Matriz Modernizadora do Serviço Social SUMÁRIO 116 Projetos Societários 125 O Projeto Ético-Político do Serviço Social e o Projeto Neoliberal 154 Considerações Finais 169 Gabarito UNIDADE III O SERVIÇO SOCIAL NO CONTEXTO DAS POLÍTICAS SOCIAIS 175 Introdução 177 O Serviço Social no Contexto das Políticas Sociais Face as Expressões da Questão Social 179 O Processo Histórico da Participação Popular no Brasil 190 Processo Histórico de Construção da Política de Assistência Social no Brasil 198 Considerações Finais 210 Gabarito SUMÁRIO UNIDADE IV DIFERENTES ESPAÇOS DE ATUAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL NA CONTEMPORANEIDADE 216 Introdução 218 A Ação Interventiva do Assistente Social em Instituições Públicas 224 A Ação Interventiva do Assistente Social em Instituições do Terceiro Setor 236 A Ação Interventiva do Assistente Social em Instituições Empresariais 243 Considerações Finais 250 Gabarito UNIDADE V SERVIÇO SOCIAL E AS PARTICULARIDADE DO EXERCÍCIO PROFISSIONAL 256 Introdução 258 Atribuições Privativas do Assistente Social 262 Assessoria e Consultoria em Serviço Social 269 Supervisão na Área do Serviço Social 273 Conceitos e Atribuições do Serviço Social em Equipes Multi/Interdisciplinares 285 Considerações Finais 300 Referências U N ID A D E I Professora Me. Maria Cristina Araújo de Brit Cunha Professora Esp. Fernanda Carvalho Basilio Hernandez O SERVIÇO SOCIAL E O PROCESSO HISTÓRICO DA PROFISSÃO OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM ■ Contextualizar o processo histórico do Serviço Social como profissão. ■ Refletir sobre a influência da Igreja Católica no processo formativo do assistente social. ■ Conceituar o Serviço Social enquanto disciplina profissional inserido no campo das ciências humanas e sociais. U N ID A D E PLANO DE ESTUDO A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: ■ A trajetória histórica do Serviço Social e sua relação com Igreja e o Estado. ■ A influência da Igreja Católica no processo de formação profissional do assistente social ■ A institucionalização do Serviço Social no Brasil ■ O Serviço Social na produção e reprodução das relações sociais I Professora Me. Maria Cristina Araújo de Brit Cunha Professora Esp. Fernanda Carvalho Basilio Hernandez O SERVIÇO SOCIAL E O PROCESSO HISTÓRICO DA PROFISSÃO O SERVIÇO SOCIAL E O PROCESSO HISTÓRICO DA PROFISSÃO 20 INTRODUÇÃO Caro (a) aluno (a), Nesta unidade de estudo, você conhecerá as particularidades e peculiaridades sobre o contexto histórico, econômico e social que cir- cunscreve a formação profissional do Serviço Social, sendo imprescindível identificar o pre- âmbulo das relações sociais estabelecidas, principalmente entre a Igreja, o Estado e a classe operária que foram determinantes para a fundação das primeiras escolas no Brasil. É nesse contexto que será apresentado o cenário histórico do surgimento do Serviço Social enquanto profissão a partir da aná- lise crítica acerca da questão social, que é fruto da relação de desigualdade entre as classes, e o quanto está intimamente ligada à sua formação enquanto classe social e de seu reconhecimento pelo Estado aos desdo- bramentos desde a sua origem. Cabe ainda, por meio dos conteúdos que aqui serão abordados, ilustrar teoricamente a conotação moral e religiosa que marca O SERVIÇO SOCIAL E O PROCESSO HISTÓRICO DA PROFISSÃO 21 a intervenção profissional devido à grande influência da Igreja Católica, sob a missão ide- ológica da classe dominante, cujo fundamento é encontrado na Doutrina Social da Igreja. Dessa forma, a intervenção profissional do assistente social estava dirigida, sobretudo, às situações de “pobreza” e/ou aos “desajustados”, a fim de levá-los a um maior ajustamento à ordem social vigente – visão em que a pobreza se caracteriza um caso de polícia. Percorrer a trajetória histórica de como surge a profissão, vai lhe oportunizar a compreensão de como se estabelece a identidade profissio- nal do assistente social, marcada por uma série histórica de uma intervenção socialmente deter- minada. O desvelar do Serviço Social como uma profissão inserida na divisão sócio-técnica do trabalho vem exigir novas competências no contexto contemporâneo. E à medida que avançamos na trajetória his- tórica, iremos refletir junto com você sobre os vários desafios postos à profissão, bem como seus limites e avanços. Nessa perspectiva de análise teórica, repassaremos todo conteúdo desta unidade, que vai desde a concepção de O SERVIÇO SOCIAL E O PROCESSO HISTÓRICO DA PROFISSÃO 22 sociedade, de Estado, à concepção da formação, da identidade e da intervenção profissional na contemporaneidade. Bom estudo! O SERVIÇO SOCIAL E O PROCESSO HISTÓRICO DA PROFISSÃO 23 TRAJETÓRIA HISTÓRICA DO SERVIÇO SOCIAL E SUA RELAÇÃO COM IGREJA E O ESTADO O marco histórico do surgimento do Serviço Social no Brasil registra a ação de filantropia da Igreja Católica, com caráter missionário de cari- dade junto aos setores abastados da sociedade, que se dedica, também, por meio das ordens religiosas, a cuidar e administrar as instituições de caridade, hospitais e escolas, contando com o trabalho voluntário de religiosos, mais pre- cisamente de sua parcela feminina. © sh ut te rs to ck , c at w al ke r O SERVIÇO SOCIAL E O PROCESSO HISTÓRICO DA PROFISSÃO 24 A essa vinculação da formação profissional do Serviço Social à imagem predominantemente feminina e de caráter filantrópico está enraizada a memória histórica desde a sua instituciona- lização imbricada pela relação entre a Igreja e o Estado, de tal modo que, ao pensar na ação do assistente social, vem logo à ideiada “moça boazinha” que pratica o bem aos necessitados, não é verdade? Esse cenário nos remete às obras de caridade mantida pelo clero e também por leigos e damas que vêm de uma longa tradição desde os pri- mórdios do período colonial. Para compreender plenamente a questão do período colonial, é importante ter em mente o processo de formação do Estado brasileiro que foi constituído para incentivar a colonização e povoamento do Brasil. O governo português adotou um sistema de administração territo- rial chamado de Capitanias Hereditárias, que consistia em dividir o território nacional em grandes faixas, as tornando particulares. Essas faixas geralmente eram destinadas para pessoas da nobreza e do circulo social da coroa e isso nos levou a uma situação em que O SERVIÇO SOCIAL E O PROCESSO HISTÓRICO DA PROFISSÃO 25 o poder estava nas mãos de uma minoria da população, ou seja, o acúmulo de riquezas em uma pequena parte da sociedade, situação que favoreceu o abuso e a exploração da classe tra- balhadora e que ainda hoje apresenta resquícios na sociedade. É importante observar nesse cenário o pano de fundo no qual se constitui o surgimento da profissão, ou seja, o Serviço Social passa a ser reconhecido pelo Estado no momento da transi- ção do capitalismo concorrencial ao capitalismo dos monopólios, que acarretou, por consequ- ência, o agravamento das expressões da questão social e a necessidade do Estado em responder, de alguma forma, ao sistema vigente, a partir de pressões exercidas pela classe trabalhadora. Assim, pode-se perceber que a classe traba- lhadora, a partir das transformações ocorridas no modo de produção capitalista, teve suas con- dições de vida e trabalho duramente afetadas ao passo que, desprovidos dos meios de produção, encontram na venda de sua força de trabalho, meios de subsistência num sistema injusto e desigual. Na forma monopólica, esse sistema adquire uma feição mais perversa, marcado O SERVIÇO SOCIAL E O PROCESSO HISTÓRICO DA PROFISSÃO 26 predominantemente pela exploração da mino- ria sobre a maioria. Martinelli (1991, p. 54) faz a seguinte síntese: Com o capitalismo se institui a sociedade de classes e se plasma um novo modo de relações sociais, mediatizadas pela pos- se privada de bens. O capitalismo gera o mundo da cisão, da ruptura, da explora- ção da maioria pela minoria, o mundo em que a luta de classes se transforma na luta pela vida, na luta pela superação da sociedade burguesa. A autora aponta que o capitalismo instaura na vida social duas classes antagônicas e contraditórias que constituem seu modo de ser e entender a socie- dade a partir de sua inserção na esfera produtiva. Desse modo, observamos que existe a classe proprietária dos meios de produção e a classe que dispõe apenas de sua força de trabalho, ambas detentoras de interesses e objetivos distintos, os quais são representados por um organismo externo a essa relação: o Estado. Essa instituição transmite ao conjunto social a ideia de neutralidade, de instituição permeá- vel às diversas necessidades dos sujeitos sociais O SERVIÇO SOCIAL E O PROCESSO HISTÓRICO DA PROFISSÃO 27 e consensual, na verdade, surge para atender a interesses particulares de apenas uma classe: a burguesia. Para Pilleti (1986), o Estado é um mecanismo do qual a classe detentora dos meios de pro- dução faz uso para manter o controle sobre os demais setores da sociedade, utilizando-o ainda como um instrumento de satisfação de seus anseios de classe. É nesse contexto de relações de detenção de poder econômico que o capitalismo surge enquanto um modelo político, econômico e social que tem seu início a partir do fim da sociedade baseada no modo de produção feu- dal. Nesse sentido, Piletti (1986) afirma que seu início remonta ao final da Idade Média, quando os comerciantes vendiam produtos nos arre- dores das propriedades dos senhores feudais, também conhecidos como burgos. Essa fase ficou conhecida como capitalismo comercial. Ocorre que no decorrer da história e por conta das transformações ocorridas no inte- rior do próprio modo de produção capitalista, o capitalismo evoluiu e passou por outras fases. Desse modo, nos apoiaremos nas ideias de O SERVIÇO SOCIAL E O PROCESSO HISTÓRICO DA PROFISSÃO 28 Singer (1987) para discorrer sobre as caracte- rísticas das fases concorrencial e monopólica do modo de produção capitalista. O autor em questão as diferencia a partir da forma de con- corrência e do modo de gestão das empresas em cada fase. Singer (1987) argumenta que na fase concor- rencial do capitalismo, que ele nomeia “liberal”, muitas empresas disputavam entre si a pre- ferência dos clientes, que eram atraídos por meio da oferta de certas vantagens. Já no capi- talismo monopolista, esta disputa ocorre entre um número reduzido de grandes empresas, as quais fazem uso de publicidade para convencer os clientes de que os preços altos são resultan- tes da qualidade dos produtos, sustentada por meio de sua “marca e aparência”. Ainda em Singer (1987), pode-se inferir que no capitalismo concorrencial existiam várias organizações, geridas pelos seus donos, e que competiam entre si pelo apreço de seus clien- tes. Já no capitalismo monopolista, as pequenas e médias organizações são substituídas por gran- des corporações, as quais detêm o controle dos mercados nacionais e passam a internacionalizar O SERVIÇO SOCIAL E O PROCESSO HISTÓRICO DA PROFISSÃO 29 suas economias por meio das empresas multina- cionais, as quais são administradas por executivos e são instaladas nos diversos países que compõem o globo. Perceba que aprofundamos a leitura no que diz respeito à análise crítica de conjuntura para além da atuação conjunta entre a burguesia e a Igreja Católica, que deu origem ao Serviço Social no Brasil. Sem dúvida, o incentivo estatal à industrialização também fez parte do pano de fundo sobre o qual a profissão se constitui, pois sua fundação remonta ao período em que o país era governado por Getúlio Vargas, contexto no qual a economia, paulatinamente, deixava de ser essencialmente agrária, passando a dividir seu espaço com a industrialização. Nesse sen- tido, Martinelli (2010, p. 122) pontua: A acumulação capitalista deixava de se fazer através das atividades agrárias de exportação, centrando-se no amadureci- mento do mercado de trabalho, na con- solidação do polo industrial e na vincu- lação da economia ao mercado mundial. Essas transformações deflagradas no modo de produção ocasionaram mudanças nas formas O SERVIÇO SOCIAL E O PROCESSO HISTÓRICO DA PROFISSÃO 30 de organização da sociedade brasileira e nas condições de vida dos sujeitos que nela viviam, uma vez que o desenvolvimento pleno da indus- trialização no país trouxe consigo o início da aglomeração, nas nascentes cidades, de indiví- duos desprovidos dos meios de produção e que encontravam apenas na venda de sua força de trabalho meios para subsistir. Para além do aumento da lucratividade capi- talista, a entrada do capital na fase monopólica trouxe consigo o acirramento das expressões da questão social, já existentes no capitalismo con- correncial, à medida que, nessa fase, a introdução de novas tecnologias no processo produtivo foi cada vez maior, acarretando a expulsão de muitos trabalhadores de seus postos de traba- lho. Esse fenômeno deu-se gradativamente à medida que o capitalismo foi se desenvolvendo e, nesse sentido, Marx (1989, p. 506) contribui com nossa exposição ao apontar que: É incontestável que a maquinaria em si mesma não é responsável de serem os trabalhadores despojados dos meios de subsistência. Ela barateia e aumenta o produto no ramo de que se apodera e, O SERVIÇO SOCIAL E O PROCESSO HISTÓRICO DA PROFISSÃO 31 de início, não modifica a quantidade de meios de subsistência produzidos em ou- tros ramos. Depois de sua introdução, possui, portanto, a sociedade a mesma ou maior quantidade de meios de subsistên- ciapara os trabalhadores despedidos, não se levando em conta a enorme porção do produto anual, dilapidada pelos que não são trabalhadores. E este é o ponto nevrál- gico da apologética econômica. Para ela, as contradições e antagonismos insepa- ráveis da aplicação capitalista da maqui- naria não existem, simplesmente porque não decorrem da maquinaria, mas da sua aplicação capitalista. A maquinaria como instrumental que é, encurta o tempo do trabalho, facilita o trabalho, é uma vitó- ria do homem sobre as forças naturais, aumenta a riqueza dos que realmente produzem, mas, com sua aplicação capi- talista, gera resultados opostos: prolonga o tempo de trabalho, aumenta sua inten- sidade, escraviza o homem por meio das forças naturais, pauperiza os verdadeiros produtores. O SERVIÇO SOCIAL E O PROCESSO HISTÓRICO DA PROFISSÃO 32 Esta substituição do trabalho vivo pelo traba- lho morto, ou seja, a retirada dos trabalhadores dos centros produtivos e sua substituição pelas máquinas, iniciada com a Primeira Revolução Industrial, proporciona condições favoráveis a uma maior acumulação do capital, uma vez que as máquinas e as novas tecnologias apresentam- -se mais eficientes ao capitalista em comparação ao trabalho humano, que passa a ser necessário somente em condições específicas e em número menor. Netto (2011, p. 24) complementa tal afirmação ao apontar que: © sh ut te rs to ck O SERVIÇO SOCIAL E O PROCESSO HISTÓRICO DA PROFISSÃO 33 [...] o capitalismo monopolista conduz ao ápice a contradição elementar entre a socialização da produção e a apropria- ção privada [...] E no âmbito emoldurado pelo monopólio, a dialética forças produ- tivas/relações de produção é tensionada adicionalmente pelos condicionantes es- pecíficos que a organização monopólica impõe especialmente ao desenvolvimen- to e à inovação tecnológicos. O mais sig- nificativo, contudo, é que a solução mo- nopolista – a maximização dos lucros pelo controle dos mercados – é imanen- temente problemática: pelos próprios mecanismos que deflagra, ao cabo de um certo nível de desenvolvimento, é vitima dos constrangimentos inerentes à acu- mulação e à valorização capitalistas. A importância do conhecimento dos determi- nantes históricos que configura o sistema de produção, os aspectos políticos, econômicos e sociais, vem dar sentido também ao contexto histórico do Serviço Social por ser uma profis- são socialmente determinada. O SERVIÇO SOCIAL E O PROCESSO HISTÓRICO DA PROFISSÃO 34 O Serviço Social enquanto profissão social- mente necessária e inscrita na divisão social e técnica do trabalho tem seu surgimento marcado pela intervenção estatal sobre as expressões da questão social. Assim, a profissão é requisitada com a finalidade de, por meio da operaciona- lização das políticas sociais, intervir junto à classe trabalhadora e controlar suas lutas, as quais ameaçavam a “paz social” necessária à plena acumulação capitalista. Portanto, com a função social que lhe fora atribuída pelo Estado, representando os inte- resses classistas da burguesia, o Serviço Social, na realidade brasileira, desenvolveu sua ação tendo em vista a manutenção da ordem social até meados da década de 1960, momento no qual a categoria profissional, impulsionada pelo contexto sócio-histórico, desenvolve um pro- cesso de revisão de seus valores e que resulta na crítica ao tradicionalismo, que até então norte- ava a prática profissional. O SERVIÇO SOCIAL E O PROCESSO HISTÓRICO DA PROFISSÃO 35 A INFLUÊNCIA DA IGREJA CATÓLICA NO PROCESSO DE FORMAÇÃO PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL Com a emergência da sociedade burguesa, cres- ceram os problemas sociais a partir da origem do mundo do trabalho, fruto das relações de produção e de propriedades. Potencializaram-se as ações de natureza assistencial referente aos aspectos de infraestrutura no quesito de saúde e de assistência, ainda que escassos e precários. Entretanto devem sua existência de forma quase © sh ut te rs to ck O SERVIÇO SOCIAL E O PROCESSO HISTÓRICO DA PROFISSÃO 36 exclusiva às iniciativas de congregação religiosa que vieram a se propagar no país. E, se fortalece mediante o auxílio material e de ajuda social destinado à população que era atingida principal- mente pelas guerras e epidemias daquela época. O Serviço Social no Brasil surgiu na década de 1930 juntamente com a implantação das lEIS sociais por iniciativa da Igreja Católica. Essas leis consistiam na regulamentação das leis tra- balhistas, motivadas pelo mercado de trabalho capitalista no qual a força de trabalho era vista como mercadoria, cujo salário, em troca, era determinado pelo capital, que a explorava. No momento em que é vivenciado nacio- nalmente, o Serviço Social é um projeto embrionário de intervenção profissional, apre- sentando-se como estratégia de qualificação do laicato da Igreja Católica, que crescia por meio da ampliação de suas ações caritativas aos mais necessitados. Procurava-se, com isso, atender ao imperativo da justiça e da caridade, em cumpri- mento da missão política do apostolado social, em face do projeto de cristianização da socie- dade, cuja fonte de justificação e fundamento é encontrada na Doutrina Social da Igreja. O SERVIÇO SOCIAL E O PROCESSO HISTÓRICO DA PROFISSÃO 37 Os séculos XVIII e XIX foram marcados por acontecimentos de transformações sociais de grande impacto para a sociedade dada as transfor- mações políticas, econômicas, sociais e culturais. Já o século XX apresenta um cenário econô- mico e social cada vez mais impulsionado por mudanças, principalmente no que diz respeito ao processo de industrialização da sociedade. É quando se intensifica a formação da classe dos assalariados. É no processo de urbaniza- ção e industrialização que começam a aparecer os problemas sociais em decorrência das rela- ções de trabalho que se estabelece a partir do emprego da mão de obra de todos os compo- nentes da família (crianças, mulheres, homens). Diante ao desenvolvimento da industrializa- ção, a classe operária apresenta um crescimento exorbitante. Os operários se aglutinaram nos centros urbanos vivendo em condições insa- lubres, precárias e desumanas, submissos a excessivas horas de trabalho. Um momento de crescente miséria e exploração de homens, mulheres e crianças. O trabalho apresentou- -se como uma questão delicada na República Velha, devido aos avanços da industrialização, O SERVIÇO SOCIAL E O PROCESSO HISTÓRICO DA PROFISSÃO 38 às condições de trabalho, as quais eram bas- tante precárias, sem leis que regulamentassem a relação patrão-empregado. As jornadas de trabalho eram longas, não havia férias nem apo- sentadoria ou descanso semanal remunerado, não havia proteção no trabalho para mulheres e crianças e muitas fábricas tinham o ambiente totalmente insalubre. O Brasil passou a experimentar um novo mo- delo político, no qual os brasileiros tomavam o poder do país. A primeira fase foi chamada de República Velha e durou exatos 41 anos, perí- odo que tange de 1889 a 1930. Outros nomes identificam a época: “República dos Bacharéis”, “República Maçônica”. Os bacharéis devido aos advogados que sentavam à cadeira do chefe de estado e a maioria praticava maçonaria. Fonte: As autoras O SERVIÇO SOCIAL E O PROCESSO HISTÓRICO DA PROFISSÃO 39 Segundo Iamamoto e Carvalho (1985), a ques- tão social não é senão as expressões do processo de formação e desenvolvimento da classe ope- rária e de seu ingresso no cenário político da sociedade, exigindo seu reconhecimento como classe por parte do empresariado e do Estado. Com o crescimento da classe trabalhadora e, consequentemente, do tamanho das famílias dos operários, a insatisfação tornou-se cada vez mais crescente face as precárias condições em que estas se encontravam, de modo que obrigou o Estado e a Igreja a promoverem algumas concessões e modificações na sociedade capitalista, mas que tem como pano de fundo o controle das massas. Nosanos de 1930, com o Estado Novo então instituído, defronta-se com duas demandas emer- gentes: absorver e controlar os setores urbanos emergentes e buscar, nesses mesmos setores, legi- timação política. Para isso, adota-se uma política de massa, incorporando parte das reivindicações da população, porém controlando a autonomia dos movimentos reivindicatórios do proletariado emergente, por meio de canais institucionais, absorvendo-os na estrutura corporativista do Estado. O SERVIÇO SOCIAL E O PROCESSO HISTÓRICO DA PROFISSÃO 40 Conforme Verdès-Leroux (1986, p. 15), [...] o projeto profissional dos anos 30 ba- seava-se na educação da classe operária, fornecendo-lhes regras de bom senso e razões práticas de moralidade, corrigin- do-lhes seus preconceitos, ensinando-lhes a racionalidade, disciplinando-os em seus trajes, seus lares, nos orçamentos domés- ticos, na maneira de pensar. A função do assistente social nesse período – embebido pelo caráter militante católico – encontra- -se na missão ideológica da classe domi- nante, ou seja, na feitura da personalida- de do indivíduo de acordo com a visão de mundo da burguesia adaptada sob a for- ma de certo humanismo cristão. Diante do que já foi visto até o momento, iden- tificamos claramente a qual grupo o serviço social atendia que segundo Iamamoto e Carvalho (2000), a implantação do serviço social apresen- ta-se no decorrer desse processo histórico, o qual se iniciou a partir dos anos de 1920-1930, nessa gênese como iniciativa particular de grupos e frações de classe, que se manifestavam, princi- palmente, por intermédio da Igreja Católica. O SERVIÇO SOCIAL E O PROCESSO HISTÓRICO DA PROFISSÃO 41 Nessa perspectiva, os autores afirmam que o Serviço Social é utilizado como um instrumento de ajustamento do comportamento dos indivíduos às normas vigentes na sociedade, “[...] prevenindo e canalizando a eclosão de tensões para os canais institucionalizados estabelecidos oficialmente” (IAMAMOTO; CARVALHO, 2000, p. 111). Essa face conservadora da profissão e de suas ações, resultante da função social e da iden- tidade que lhe foi atribuída pela burguesia, encontra as bases para sua confirmação em sua gênese, marcadamente atrelada ao ideário da Igreja Católica que enxergava na ação social e, consequentemente, nos agentes que a desenvol- viam, uma maneira de recuperar seu prestígio perante a sociedade que experimentava gran- des transformações econômicas e sociais. Yazbek (2006) contribui com a nossa refle- xão ao apontar que, sob a influência da Igreja Católica, a questão social era concebida como uma problemática de ordem moral e religiosa, sendo a intervenção dos agentes sociais um meio de adequar os indivíduos às relações sociais postas. Ademais, as ações e pensamentos desse agente eram norteados pelas encíclicas papais O SERVIÇO SOCIAL E O PROCESSO HISTÓRICO DA PROFISSÃO 42 Rerum Novarum e Quadragésimo Anno, pelo ideário franco-belga e pelos pensamentos de São Tomás de Aquino. Vale ressaltar que o contexto vivenciado pelas primeiras alunas dos quadros de forma- ção das escolas também se constituiu num fator de grande influência à medida que estas perten- ciam, em larga medida, à alta sociedade e por isto traziam consigo os ideais conservadores sobre os quais foram educadas. Nesse sentido, Barroco (2005) salienta que: A origem social das mulheres que ingres- sam nas primeiras Escolas de Serviço So- cial vincula-se ao pensamento católico e às classes dominantes; como mulheres e católicas, são influenciadas pelos padrões da moral conservado- ra. Deste modo, além da influên- cia exercida pelas instituições externas ao Serviço Social, Igreja-Estado-Burguesia, os pensamentos e a visão de mundo das primei- ras alunas que, mais tarde, © sh ut te rs to ck O SERVIÇO SOCIAL E O PROCESSO HISTÓRICO DA PROFISSÃO 43 se constituiriam nas primeiras profissionais também imprimia à ação profissional esta carac- terística conservadora. A INSTITUCIONALIZAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL Para analisarmos o surgimento da profissão no Brasil temos de nos atentar para o contexto que permeou os diversos fatores que, combinados, cul- minaram na institucionalização do Serviço Social no país. Nesse sentido, Iamamoto e Carvalho (2000) contribuem com nossa reflexão ao afirmarem que as obras e instituições de cunho assistencial que surgiram após o final da Primeira Guerra Mundial foram importantes para o desenvolvi- mento da ação social e das primeiras escolas de Serviço Social no Brasil, já que “[...] os grandes movimentos operários de 1917 a 1921 torna- ram patente para a sociedade a existência da ‘questão social’ e da necessidade de procu- rar soluções para resolvê-la, senão minorá-la” (IAMAMOTO; CARVALHO, 2000, p. 166). O SERVIÇO SOCIAL E O PROCESSO HISTÓRICO DA PROFISSÃO 44 De acordo com os autores, tais instituições eram compostas por famílias pertencentes à burgue- sia paulista e carioca que desenvolviam ações diferentes das tradicionais de caridade, pois con- tavam com um suporte do Estado. Além do apoio estatal para o desenvolvimento de tais ações junto aos mais pauperizados, esses setores da burguesia brasileira contavam ainda com o amplo apoio da Igreja Católica, a qual, por sua vez, exerceu forte influência para o surgimento do Serviço Social no Brasil. De acordo com Iamamoto (1999, p. 92), a profissão se origina no: É de grande relevância aprofundar o estudo do resgate histórico sobre o surgimento do Serviço Social no Brasil, pois nos remete ao cenário só- cio-político e econômico que circunscreve a gê- nese do Serviço Social no Brasil, o que nos per- mite compreender a influência da Igreja Católica na formação profissional do assistente social. Fonte: <www.webartigos.com/artigos/resgate- -historico-sobre-o-surgimento-do-servico-so- cial-no-brasil/25916>. Acesso em: 14 mar. 2016.2 O SERVIÇO SOCIAL E O PROCESSO HISTÓRICO DA PROFISSÃO 45 [...] amplo movimento social em que a Igre- ja, buscando uma presença mais ativa no “mundo temporal”, avança de uma postura contemplativa para a recuperação de áreas de influência ameaçadas pela secularização e pelo redimensionamento do Estado. Pode-se, assim, compreender que a origem do serviço social, no Brasil, situa-se no seio da Igreja Católica, a qual ante as transformações que esta- vam em curso na sociedade brasileira buscou estratégias de recuperação e manutenção de sua legitimação social. Martinelli (2009) comunga com esta assertiva àa medida que o Serviço Social surge no Brasil a partir de iniciativas da burgue- sia amparadas fortemente pela Igreja. Considerando toda análise histórica que até aqui ilustramos sobre as questões que perpas- sam o contexto sócio-histórico que dão origem ao Serviço Social, você consegue identificar os nós críticos que os autores apontam no que tange as questões políticas, econômica e sociais que determinam socialmente a profissão? Então, vamos em frente e aprofundando cada vez mais esse contexto. O SERVIÇO SOCIAL E O PROCESSO HISTÓRICO DA PROFISSÃO 46 Estevão (1986) afirma que as condições de tra- balho no Brasil eram muito precárias e impunha aos operários uma jornada de trabalho sistemati- zada a partir das necessidades das organizações. Não havia descanso remunerado, férias ou auxí- lio-doença. Ademais, todos os indivíduos eram submetidos às mesmas condições de trabalho, independentemente de sua condição física ou faixa etária. A partir do desenvolvimento e aprimora- mento do modo de produção, passaram a ser impostas condições cada vez mais duras a essa classe, por conta do crescimento acelerado da pobreza, desemprego, condições insalubres de moradia e trabalho. Assim, o capitalista tornou propício o desen- volvimento das mazelas inerentes a sua própria personalidade e que colocavam em risco a sua acumulação de capital. Tais mazelas consti- tuem o cerne da questão social, que Iamamoto e Carvalho (2000) definem como o nascimento e organizaçãoda classe trabalhadora e sua entrada na cena política. Os atendimentos prestados pela Igreja Católica e pelas damas de caridade nas instituições e obras O SERVIÇO SOCIAL E O PROCESSO HISTÓRICO DA PROFISSÃO 47 sociais passaram a ser insuficientes. A questão social foi se tornando complexa e adquirindo novas características, que exigiam respostas cada vez mais articuladas e eficazes. Nesse contexto, o Estado passa a intervir sobre a questão social e, de acordo com Martinelli (2009), tal intervenção se deu por meio do esta- belecimento de uma aliança entre o Estado com a Igreja e a burguesia, tendo em vista exercer certo controle sobre a classe trabalhadora e manter sua hegemonia. A preocupação estatal em atender as deman- das da classe trabalhadora deve-se ao fato de que o Estado, sob o comando de Getúlio Vargas, desde os idos de 1933, deu início ao estreita- mento de laços com a burguesia industrial e por conta disso necessitava intervir junto à classe trabalhadora, mantendo-a sob seu con- trole, tendo em vista garantir o desenvolvimento capitalista no país. Nesse sentido, Iamamoto e Carvalho (2000, p. 151) assinalam que: O Estado assume paulatinamente uma or- ganização corporativa, canalizando para sua órbita os interesses divergentes que emergem das contradições entre as dife- O SERVIÇO SOCIAL E O PROCESSO HISTÓRICO DA PROFISSÃO 48 rentes frações dominantes e as reivindica- ções dos setores populares, para, em nome da harmonia social e desenvolvimento, da colaboração entre as classes, repolitizá-las e discipliná-las, no sentido de se transfor- mar num poderoso instrumento de ex- pansão e acumulação capitalista. A po- lítica social formulada pelo novo regime – que tomará forma através de legislação sindical e trabalhista – será sem dúvida um elemento central do processo. Para legitimar-se enquanto uma instituição acima das diferenças sociais existentes, o Estado preci- sava absorver, de alguma forma, as necessidades da classe trabalhadora ao mesmo tempo em que atendia aos interesses da classe dominante. O Estado Varguista se caracterizou por atender aos anseios dos diversos setores da sociedade brasi- leira, tanto das burguesias agrárias e industriais quanto dos trabalhadores, tendo em vista, nas palavras de Iamamoto e Carvalho (1985, p. 153): O SERVIÇO SOCIAL E O PROCESSO HISTÓRICO DA PROFISSÃO 49 [...] isolar a classe [trabalhadora] de sua vanguarda organizada e afirmar o mito do Estado benetactor, da outorga da le- gislação protetora do trabalho, o mito do Estado acima das classes e representati- vo dos interesses gerais da sociedade e da harmonia social. Desse modo, ainda nos primeiros anos de seu mandato como presidente do país, Vargas pro- pôs algumas alterações nas legislações sociais já existentes e que diziam respeito à organiza- ção para o trabalho, instituindo salário mínimo, descanso semanal e férias remuneradas, limites quanto à jornada de trabalho. De acordo com Fausto (1998, p. 335) essa política trabalhista teve: [...] por objetivos principais reprimir os esforços organizatórios da classe traba- lhadora urbana fora do controle do Es- tado e atraí-la para o apoio difuso ao go- verno. [...] Quanto ao segundo objetivo, lembremos que a esporádica atenção ao problema da classe trabalhadora na déca- da de 1920 deu lugar, no período getulis- ta, a uma política governamental especí- fica. Isso se anunciou desde novembro de O SERVIÇO SOCIAL E O PROCESSO HISTÓRICO DA PROFISSÃO 50 1930, quando foi criado o Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio. Segui- ram-se leis de proteção ao trabalhador, de enquadramento dos sindicatos pelo Estado, e criavam-se órgãos para arbitrar conflitos entre patrões e operários [...]. Entre as leis de proteção ao trabalhador estavam as que regularam o trabalho das mulheres e dos menores, a concessão de férias, o limite de oito horas da jornada normal de trabalho. Nesse sentido, foi por meio da criação do Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio que o Estado pode operacionalizar as legislações referentes à organização da classe trabalhadora e exercer seu poder de coação sobre ela, contro- lando os seus movimentos ao mesmo tempo em que construía sua imagem de “pai dos pobres”. No que se refere à atuação desse ministério, Ghiraldelli Júnior (1991, p. 28) pontua que: De fato, o novo Ministério não demorou para agir. Em março de 1931, com a lei de sindicalização (Decreto nº 19.770, de 19- 03-31), o órgão se municiou para dar par- tida, na prática, à “política social” do “Go- verno Provisório”. A lei de sindicalização O SERVIÇO SOCIAL E O PROCESSO HISTÓRICO DA PROFISSÃO 51 buscou transformar e concorrer com o padrão de associações geradas na Primei- ra República. Consagrou o princípio da unidade e definiu o sindicato como órgão consultivo e de colaboração com o poder público, colocando o sindicalismo de for- ma inequívoca na órbita governamental. Os sindicatos foram transformados, então, em instrumentos de legitimação do governo vigente e de controle sobre as ações da classe trabalhadora. Iamamoto (2000) concorda com a afirmação feita por Ghiraldelli (1991), pois, segundo a autora, essa instituição tornou-se, a partir da Era Varguista, um centro que coope- rava com o poder público, principalmente pelo fato de prestar serviços de ordem assistencial e previdenciária com recursos oriundos dos pró- prios trabalhadores. Ante o exposto, o que se quer ressaltar é que foi durante o governo de Vargas que o Serviço Social se institui enquanto profissão no Brasil, uma vez que é nesse contexto que se desenvolve a industrialização e, com ela, assistimos ao nas- cimento da classe operária, que é quem produz a riqueza dentro do capitalismo, mas não é a O SERVIÇO SOCIAL E O PROCESSO HISTÓRICO DA PROFISSÃO 52 que se apropria de seus frutos, cabendo a esta sobreviver a partir de seus salários e das políti- cas desenvolvidas pelo Estado em parceria com a Igreja e a burguesia para o atendimento de suas demandas. O SERVIÇO SOCIAL NA PRODUÇÃO E REPRODUÇÃO DAS RELAÇÕES SOCIAIS As profissões surgem por serem socialmente necessárias e dirigem suas ações para aten- der determinadas necessidades da sociedade. Partindo desse princípio, afirmamos que o Serviço Social, enquanto uma profissão, tem seu desenvolvimento datado e contextualizado. Nesse sentido, Netto (2011, p. 70) aponta que: [...] a nosso juízo, constitui o efetivo fun- damento profissional do Serviço Social: a criação de um espaço sócio-ocupacional no qual o agente técnico se movimenta – mais exatamente, o estabelecimento das condições histórico-sociais que deman- dam este agente, configuradas na emer- são do mercado de trabalho. O SERVIÇO SOCIAL E O PROCESSO HISTÓRICO DA PROFISSÃO 53 O Serviço Social, enquanto uma especialização do trabalho coletivo, tem sua origem deter- minada a partir de interesses sociais, os quais encontram raiz: [...] a identidade atribuída ao Serviço So- cial pela classe dominante era uma sínte- se de funções econômicas e ideológicas, o que levava à produção de uma prática que se expressava fundamentalmente como um mecanismo de reprodução das rela- ções sociais de produção capitalista, como uma estratégia para garantir a expansão do capital. (MARTINELLI, 2009, p. 124) [...] os assistentes sociais foram imprimin- do à profissão a marca do agir imediato, da ação espontânea, alienada e alienante. Acabaram por produzir práticas que ex- pressavam e reproduziam os interesses da classe dominante, tendo por objetivo maior o ajustamento político e ideológico da classe trabalhadora aos limites estabe- lecidos pela burguesia. (MARTINELLI, 2009, p. 127) O SERVIÇO SOCIAL E O PROCESSO HISTÓRICO DA PROFISSÃO 54 O Serviço Social, na sociedade brasileira, só se torna uma profissão reconhecida e inserida na divisão sócio-técnica do trabalho a partir da intervenção do Estado nas expressões da questão social, quando, nas palavras de Iamamoto (2000, p.31): [...] o Serviço Social deixa de ser um ins- trumento de distribuição da caridade privada das classes dominantes, para se transformar, prioritariamente, em uma das engrenagens de execução da políti- ca social do Estado e de setores empresa- riais. Nesse sentido, a autora afirma que a mola pro- pulsora para a institucionalização do Serviço Social no país foi a criação das primeiras gran- des instituições sociais, durante o governo de Getúlio Vargas, e que se constituíram nos primei- ros espaços de atuação profissional: o Conselho Nacional de Serviço Social (CNSS), o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), o Serviço Social do Comércio (Sesc) e a Legião Brasileira de Assistência (LBA). Ao lado das ins- tituições que necessitavam de assistentes sociais para o desenvolvimento de suas ações, pesaram O SERVIÇO SOCIAL E O PROCESSO HISTÓRICO DA PROFISSÃO 55 também para a profissionalização do Serviço Social no Brasil a fundação das Escolas. Elas se tornaram as responsáveis pela formação dos pri- meiros agentes profissionais para a atuação na realidade. Sob esse contexto é que o Serviço Social se transforma numa profissão, requisitada social- mente para fazer valer os interesses da classe dominante em manter intocada a acumula- ção capitalista ao mesmo tempo em que, por meio das políticas sociais, presta atendimento às necessidades apresentadas pela classe traba- lhadora. A atuação desse profissional não pode ser entendida dissociada dessa contradição ele- mentar e inerente à sua natureza. Para melhor compreensão da influência da Igreja Católica no processo de formação do Serviço Social, Silva (1995) afirma que, desde o ano da criação das primeiras escolas de Serviço Social até 1945, são definidos três eixos para a formação profissional do assistente social. São eles: O SERVIÇO SOCIAL E O PROCESSO HISTÓRICO DA PROFISSÃO 56 1 - Formação científica, na qual era ne- cessário o conhecimento de disciplinas como Sociologia, Psicologia, Biologia, Filosofia, favorecendo ao educando uma visão holística do homem, ajudando-o a criar o hábito da objetividade. 2 - Formação técnica, cujo objetivo era preparar o educando quanto sua ação no combate aos males sociais. 3 - Formação moral e doutrinária, fazen- do com que os princípios ine- rentes à profissão sejam absorvidos pelos alunos. Ainda no processo de formação profissional, o Serviço Social também sofreu grande influência norte-ameri- cana, motivada pela crescente expansão da economia dos Estados Unidos, a qual fez com que o Brasil adotasse o desen- volvimentismo, assegurando o mono- pólio da economia e a política de nosso país. Foi no âmbito da influência norte-americana que importamos, progressivamente, os métodos de Serviço Social de Caso, Serviço Social de Grupo, Organização de Comunidade e, posteriormente, O SERVIÇO SOCIAL E O PROCESSO HISTÓRICO DA PROFISSÃO 57 Desenvolvimento de Comunidade (SILVA, 1995, p. 41). Por ser uma profissão inserida na divisão social e técnica do trabalho e, por isso, indissociável da trama histórica que tece a realidade, o Serviço Social também foi influen- ciado pelo novo contexto histórico do país, de questionamentos sobre a ordem vigente e de movimentações de setores da sociedade. A institucionalização da profissão remeteu, de forma gradativa, à formação acadêmica, cons- truindo, ao longo dos tempos, embasamento teórico-científico, pelas leis que regulamentam a profissão, fortalecidos pelos códigos de ética, leis de regulamentação, e a busca constante da visibilidade profissional, na sociedade do sécu- lo XXI. Por meio do projeto profissional, a profis- são contribui efetivamente pela diminuição das desigualdades sociais perversa, a partir da luta contínua para que a população tenha minima- mente seus direitos alcançados. Fonte: Martinelli (2010). O SERVIÇO SOCIAL E O PROCESSO HISTÓRICO DA PROFISSÃO 58 Netto (2005) pontua que a decadência do Serviço Social tradicional e de suas práticas foi resultante de uma crise estrutural do modo de produção capitalista, mais precisamente o fim dos 30 anos gloriosos do capitalismo, e ocorreu numa gama de países nos quais essa profissão se institucionalizara. Ademais: O tensionamento das estruturas sociais do mundo capitalista, tanto nas suas áreas centrais quanto periféricas, ganhou uma nova dinâmica e gestou-se um quadro favorável para a mobilização das classes subalternas em defesa de seus interesses imediatos. [...] Nas suas variadas expres- sões, aqueles movimentos punham em questão a racionalidade do Estado bur- guês, suas instituições e, no limite, ne- gavam a ordem burguesa e seu estilo de vida; em todos os casos, recolocavam na agenda as ambivalências da cidadania fundada na propriedade (privada) e redi- mensionavam a atividade política, multi- plicando os seus sujeitos e as suas arenas. (NETTO, 2005, p. 07) O SERVIÇO SOCIAL E O PROCESSO HISTÓRICO DA PROFISSÃO 59 Nesse sentido, Miranda e Cavalcanti (2005) expõem que, na década de 1960, ocorreu uma crise de caráter ideológico e político da pro- fissão, a qual colocou em xeque sua eficácia, questionou sua burocratização, sua natureza importada e seu atrelamento à classe dominante. Dessa forma, destaca-se que a eclosão do Movimento de Reconceituação na América Latina foi uma consequência da crise estrutural do modo de produção capitalista, a qual impôs aos países latino-americanos as consequências negativas de seu desenvolvimento e que, nos apontamentos de Netto (2011, p. 146), é parte constitutiva do “[...] processo internacional de erosão do Serviço Social ‘tradicional’ [...]”. No bojo desse movimento encontra-se o ques- tionamento e se lança um debate sobre o papel do Serviço Social frente à crise vivenciada pelos países nos quais está institucionalizado bem como do tradicionalismo profissional que não responde de maneira efetiva à nova realidade posta pelo sistema capitalista. Nessa perspectiva, Yazbek (2006, p. 6 e 7) salienta que: O SERVIÇO SOCIAL E O PROCESSO HISTÓRICO DA PROFISSÃO 60 A profissão assume as inquietações e in- satisfações deste momento histórico e di- reciona seus questionamentos ao Serviço Social tradicional através de um amplo movimento, de um processo de revisão global, em diferentes níveis: teórico, me- todológico, operativo e político. Este mo- vimento de renovação que surge no Ser- viço Social na sociedade latino-americana impõe aos assistentes sociais a necessidade de construção de um novo projeto com- prometido com as demandas das classes subalternas, particularmente expressas em suas mobilizações. É no bojo deste mo- vimento, de questionamentos à profissão, não homogêneos e em conformidade com as realidades de cada país, que a interlocu- ção com o marxismo vai configurar para o Serviço Social latino americano a apro- priação de outra matriz teórica: a teoria social de Marx. Embora esta apropriação se efetive em tortuoso processo. O SERVIÇO SOCIAL E O PROCESSO HISTÓRICO DA PROFISSÃO 61 Quadro 1: OS PRINCIPAIS EVENTOS QUE CARACTERIZAM A HISTÓRIA DO SERVIÇO SOCIAL NO PROCESSO DE REPRODUÇÃO DAS RELAÇÕES SOCIAIS ENTRE O CAPITAL E O TRABALHO. 1946 SESI – Serviço Social da Indústria. Proporcionar benefícios assistenciais indiretos aos trabalhadores urbanos e a aqueles totalmente esgo- tados pelo sistema. 1946 Criada a Associação Brasileira de Escolas de Serviço Social (ABESS). Estabelecer uma metodologia para o ensino em Ser- viço Social. 1947 1º Código de Ética Profissional do Assis-tente Social. Regulamentar a profissão do assistente social. 1948 Declaração Universal dos Direitos Huma- nos - com a reconstrução política e social do mundo pós Segunda Guerra Mundial. A Assembleia Geral da ONU define que todos nas- cem livres e iguais em dignidade e direitos, sem dis- tinção de raça, cor, sexo, religião, língua, opinião polí- tica, tem direito à vida, à liberdade, à segurança. 1954 Serviço Social ganha currículomínimo através do Decreto 35.11, de 08 de abril de 1954, que regulamenta a Lei 1889, de 13 de junho de 1953. Determinar a exigência de um currículo mínimo para o curso de Serviço Social - resultado de esforços da ABESS e ABASS - enorme repercussão para o Serviço Social brasileiro. 1957 Lei 3.252, em 27 de agosto de 1957. Regulamentar a profissão do assistente social. 1962 Criação do Dia do Assistente Social. Sugerida por ser o aniversário da Encíclica Rerum Novarum, publicada pelo Papa Leão XIII, em 15 de maio de 1891, que abordava as condições dos operá- rios da época. 1964 Criado o Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana em março de 1964, 15 dias após o golpe militar. Promover inquéritos, investigações e estudos acerca da eficácia das normas asseguradoras dos direitos da pessoa humana. O SERVIÇO SOCIAL E O PROCESSO HISTÓRICO DA PROFISSÃO 62 1965 2º Código de Ética do Assistente Social. Obriga os assistentes sociais a respeitar as exigências na legislação que lhe é específica. 1967 Reconceituação do Serviço Social Brasi- leiro - I Seminário de Teorização e Recon- ceituação do Serviço Social Brasileiro em Araxá (MG). Evento histórico no processo de teorização do Servi- ço Social que propôs ações profissionais vinculadas à realidade social e política do país. Produção do Do- cumento de Araxá. 1970 Seminário de Teresópolis – realizado em Teresópolis/RJ. O seminário reuniu 35 as- sistentes sociais. Estudar a metodologia do Serviço Social com cunho científico, introduzindo algumas mudanças na termi- nologia tradicional. 1975 3º Código de Ética Profissional do Assis-tente social. Promulgado pelo Conselho Federal de Assistentes Sociais em 1º de Janeiro de 1975. 1983 Criação da Associação Nacional dos As- sistentes Sociais (Anas), em outubro de 1983. Encaminhar as lutas da categoria de forma unificada e centralizada no Plano Nacional. 1986 2º Congresso Nacional da Central Única dos Trabalhadores – (Concut) Propor a tese de sindicalização por ramo de ativida- de. Serviço Social apoia a proposta. 1986 Promulgada a Constituição Federal – co- nhecida como Carta Cidadã. Após duas décadas de ditadura militar, o Brasil ele- ge uma Assembleia Constituinte como resultado de um intenso trabalho de mo- bilização social. Define o tripé da Seguridade Social: saúde, previdên- cia e assistência social como um direito dos cidadãos brasileiros. 1989 Aprovada a Lei 7.583, de apoio integral às pessoas portadoras de deficiência e sua integração social. Asseguram o pleno exercício dos direitos individuais as pessoas com deficiência. O SERVIÇO SOCIAL E O PROCESSO HISTÓRICO DA PROFISSÃO 63 1990 Promulgado o Estatuto da Criança e Ado-lescente (ECA) - Lei 8069/1990. Legislação que se tornou referência mundial na área dos direitos e garantias para a infância e juventude. 1990 Lei 8.142/1990 - Gestão do Sistema Úni-co de Saúde (SUS). Dispõe sobre a participação da comunidade na ges- tão e controle social do SUS, através das Conferên- cias de Saúde e dos Conselhos de Saúde nas três es- feras de poder. 1991 Criado o Conselho Nacional de Previdên-cia Social pela Lei 8.213/1991. Com o objetivo de aprofundar o caráter democrático e a descentralização da administração. 1993 Promulgada a Lei Orgânica da Assistên- cia Social, Lei 8.742/1993 - Política de Seguridade Social não contributiva que prevê os mínimos sociais. Organizar a Assistência Social no Brasil e instituir o Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS). 1994 Promulgada a Lei 8.842, que dispõe so-bre a Política Nacional do Idoso. Assegurar os direitos sociais do idoso - pessoas com mais de 60 anos, 1995 Regulamentação do Benefício de Presta- ção Continuada destinado ao portador de deficiência e idosos. Garantir um salário mínimo para pessoa com defici- ência sem limite de idade e ao idoso com mais de 67 anos. 1998 Lei da Filantropia - Lei 9.732/98. Isentar a contribuição previdenciária as entidades fi- lantrópicas reconhecidas como utilidade pública que promovam gratuitamente e em caráter exclusivo a assistência social beneficente. 1999 O Conselho Federal do Serviço Social – (CEFESS) instituiu a Política Nacional de Fiscalização para o Serviço Social por meio da Resolução 382/1999. Propor uma Política Nacional do Exercício Profissio- nal do Assistente Social. O SERVIÇO SOCIAL E O PROCESSO HISTÓRICO DA PROFISSÃO 64 1999 Criação das Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIPs), por meio da Lei 9.799/99. Constituir as regras das pessoas jurídicas de direito privado sem fins lucrativo. Disciplinar também as re- gras de parceria entre essas instituições e o Estado. 2001 Aprovada a Lei 10.216/2001. Para regulamentar a proteção e os direitos das pesso-as portadoras de transtorno mental. 2001 Concebido o Estatuto das Cidades pela Lei 10.257/2001. Estabelecer diretrizes gerais da política pública. 2001 Criação do Conselho Nacional de Com-bate à Discriminação. Acompanhar e avaliar as políticas públicas afirmati- vas de promoção da igualdade e de proteção dos di- reitos dos indivíduos e grupos sociais e éticos. 2003 Criado o Conselho Nacional de Seguran- ça Alimentar (CONSEA), regulamentado pelo Decreto 5.079/04. Estimular a participação da sociedade para formu- lação, execução e acompanhamento de políticas de segurança alimentar e nutricional. 2003 Lei 10.683/2003 – Secretaria Especial de Direitos Humanos e Secretaria Especial de Políticas para Mulheres Para exigir a efetivação de relações sociais igualitá- rias e justas por meio dos Órgãos criados em Defesa dos Direitos Humanos. 2003 Promulgado o Estatuto do Idoso pela Lei 10.741/2003. Regulamenta os direitos e estabelece punições para crimes contra pessoas com idade igual ou superior a 60 anos. Fonte: a autora. Conforme podemos observar nesse quadro, o Estado passa a intervir e mediar as relações entre classe trabalhadora e empresariado, por meio da legislação social, como uma alternativa de enfrentamento da questão social. DESCRIÇÃO DE IMAGENS PÁGINAS 34 a 37 – Quadro 1 – Os principais eventos que caracterizam a história do Serviço Social no processo de reprodução das relações sociais entre o capital e o trabalho. DESCRIÇÃO DE IMAGENS DESCRIÇÃO DE IMAGENS DESCRIÇÃO DE IMAGENS Dayse INÍCIO DESCRIÇÃO – O Quadro um refere-se aos principais eventos que caracterizam a história do Serviço Social no processo de reprodução das relações sociais entre o capital e o trabalho. Compreende uma tabela cronológica dos principais eventos da história do Serviço Social, sendo: 1946 - SESI – Serviço Social da Indústria. Proporciona benefícios assistenciais indiretos aos trabalhadores urbanos e a àqueles totalmente esgotados pelo sistema. 1946 - Criada a Associação Brasileira de Escolas de Serviço Social (ABESS). Estabelece uma metodologia para o ensino em Serviço Social. 1947 - Primeiro Código de Ética Profissional do Assistente Social. Regulamenta a profissão do assistente social. 1948 - Declaração Universal dos Direitos Humanos - com a reconstrução política e social do mundo pós Segunda Guerra Mundial. A Assembleia Geral da ONU define que todos nascem livres e iguais em dignidade e direitos, sem distinção de raça, cor, sexo,religião, língua, opinião política; tem direito à vida, à liberdade, à segurança. 1954 - Serviço Social ganha currículo mínimo através do Decreto 35.11, de 08 de abril de 1954, que regulamenta a Lei 1889, de 13 de junho de 1953. Determina a exigência de um currículo mínimo para o curso de Serviço Social – resultado de esforços da ABESS e ABASS – enorme repercussão para o Serviço Social brasileiro. 1957 - Lei 3.252, em 27 de agosto de 1957. Regulamenta a profissão do assistente social. DESCRIÇÃO DE IMAGENS 1962 - Criação do Dia do Assistente Social. Sugerida por ser o aniversário da Encíclica Rerum Novarum, publicada pelo Papa Leão XIII, em 15 de maio de 1891, que abordava as condiçõesdos operários da época. 1964 - Criado o Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana em março de 1964, 15 dias após o golpe militar. Promove inquéritos, investigações e estudos acerca da eficácia das normas asseguradoras dos direitos da pessoa humana. 1965 - Segundo Código de Ética do Assistente Social. Obriga os assistentes sociais a respeitar as exigências na legislação que lhes é específica. 1967 - Reconceituação do Serviço Social Brasileiro - Primeiro Seminário de Teorização e Reconceituação do Serviço Social Brasileiro em Araxá (MG). Evento histórico no processo de teorização do Serviço Social, que propôs ações profissionais vinculadas à realidade social e política do país. Produção do Documento de Araxá. 1970 - Seminário de Teresópolis – realizado em Teresópolis/RJ. O seminário reuniu 35 assistentes sociais. Estuda a metodologia do Serviço Social com cunho científico, introduzindo algumas mudanças na terminologia tradicional. 1975 - 3º Código de Ética Profissional do Assistente Social. Promulgado pelo Conselho Federal de Assistentes Sociais em Primeiro de Janeiro de 1975. 1983 - Criação da Associação Nacional dos Assistentes Sociais (Anas), em outubro de 1983. Encaminha as lutas da categoria de forma unificada e centralizada no Plano Nacional. 1986 - Segundo Congresso Nacional da Central Única dos Trabalhadores – (Concut). Propõe a tese de sindicalização por ramo de atividade. O Serviço Social apoia a proposta. 1988 - Promulgada a Constituição Federal – conhecida como Carta Cidadã. Após duas décadas de ditadura militar, o Brasil elege uma Assembleia Constituinte como resultado de um intenso trabalho de mobilização social. Define o tripé da Seguridade Social: saúde, previdência e assistência social como um direito dos cidadãos brasileiros. 1989 - Aprovada a Lei 7.583, de apoio integral às pessoas portadoras de deficiência e sua integração social. Assegura o pleno exercício dos direitos individuais às pessoas com deficiência. 1990 - Promulgado o Estatuto da Criança e Adolescente (ECA) - Lei 8069/1990. Legislação que se tornou referência mundial na área dos direitos e garantias para a infância e juventude. DESCRIÇÃO DE IMAGENS 1990 - Lei 8.142/1990 - Gestão do Sistema Único de Saúde (SUS). Dispõe sobre a participação da comunidade na gestão e controle social do SUS, através das Conferências de Saúde e dos Conselhos de Saúde nas três esferas de poder. 1991 - Criado o Conselho Nacional de Previdência Social pela Lei 8.213/1991. Tem o objetivo de aprofundar o caráter democrático e a descentralização da administração. 1993 - Promulgada a Lei Orgânica da Assistência Social, Lei 8.742/1993 - Política de Seguridade Social não contributiva que prevê os mínimos sociais. Organiza a Assistência Social no Brasil e institui o Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS). 1994 - Promulgada a Lei 8.842, que dispõe sobre a Política Nacional do Idoso. Assegura os direitos sociais do idoso pessoas com mais de 60 anos 1995 - Regulamentação do Benefício de Prestação Continuada destinado ao portador de deficiência e idosos. Garantir um salário mínimo para a pessoa com deficiência sem limite de idade e ao idoso com mais de 67 anos. 1998 - Lei da Filantropia - Lei 9.732/98. Isentar a contribuição previdenciária as entidades filantrópicas reconhecidas como utilidade pública que promovam gratuitamente e em caráter exclusivo a assistência social beneficente. 1999 - O Conselho Federal do Serviço Social – (CEFESS) instituiu a Política Nacional de Fiscalização para o Serviço Social por meio da Resolução 382/1999. Propor uma Política Nacional do Exercício Profissional do Assistente Social. 1999 - Criação das Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIPs), por meio da Lei 9.799/99. Constituir as regras das pessoas jurídicas de direito privado sem fins lucrativos. Disciplinar também as regras de parceria entre essas instituições e o Estado. 2001 - Aprovada a Lei 10.216/2001. Para regulamentar a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtorno mental. 2001 - Concebido o Estatuto das Cidades pela Lei 10.257/2001. Estabelece diretrizes gerais da política pública. 2001 - Criação do Conselho Nacional de Combate à Discriminação. Acompanha e avalia as políticas públicas afirmativas de promoção da igualdade e de proteção dos direitos dos indivíduos e grupos sociais e éticos. DESCRIÇÃO DE IMAGENS 2003 - Criado o Conselho Nacional de Segurança Alimentar (CONSEA), regulamentado pelo Decreto 5.079/04. Estimula a participação da sociedade para formulação, execução e acompanhamento de políticas de segurança alimentar e nutricional. 2003 - Lei 10.683/2003 – Secretaria Especial de Direitos Humanos e Secretaria Especial de Políticas para Mulheres. Exige efetivação de relações sociais igualitárias e justas por meio dos órgãos criados em Defesa dos Direitos Humanos. 2003 - Promulgado o Estatuto do Idoso pela Lei 10.741/2003. Regulamenta os direitos e estabelece punições para crimes contra pessoas com idade igual ou superior a 60 anos. FIM DESCRIÇÃO. IGOR - VALIDADO ANDERSON - VALIDADO O SERVIÇO SOCIAL E O PROCESSO HISTÓRICO DA PROFISSÃO 65 CONSIDERAÇÕES FINAIS Essa análise crítica de conjuntura é de impor- tância ímpar para sua formação, tendo em vista que a leitura da realidade ora apresentada se faz necessária para a compreensão dos fatos histó- ricos que foram determinantes para a origem do Serviço Social enquanto profissão e sua estreita relação com a Igreja e o Estado com o pano de fundo o surgimento do sistema capitalista no Brasil. Nosso intuito, ao discorrer sobre o processo histórico do Serviço Social, foi instigar você ao conhecimento para que possa ter a compreen- são da configuração do Estado, sua natureza e objetivos e, para tal, foi necessário revistar a bibliografia que nos remete a refletir sobre o modo como se processa a engrenagem de produção e reprodução das relações sociais no cenário do surgimento do capitalismo e, con- comitantemente, do Serviço Social. É a partir desse entendimento que é possí- vel identificar o papel do assistente social no contexto dos interesses da classe dominante, e mais precisamente da burguesia, ao se utilizar O SERVIÇO SOCIAL E O PROCESSO HISTÓRICO DA PROFISSÃO 66 do Serviço Social para conter as tensões oriun- das das várias expressões da questão social. Pode-se, assim, por meio dos conteúdos estu- dados nesta Unidade, identificar que o trabalho desenvolvido pelo Serviço Social tem incidências nas condições de vida dos indivíduos perten- centes à classe trabalhadora, público-alvo de sua atuação e que precisa ser adaptada às nor- mas impostas pela classe dominante. A emergente profissão tem as suas ações diri- gidas ao controle das forças dessa classe, visando sua adequação ao projeto burguês de desenvol- vimento do capitalismo ao mesmo tempo em que transmite aos trabalhadores o ideal de ser este o único projeto de sociedade viável. Ademais, percebe-se, que o profissional contribui para a manutenção do modo de pro- dução capitalista tanto na perspectiva ideológica, enquanto um agente que impõe para o conjunto dos indivíduos usuários dos serviços sociais a visão de mundo da burguesia, quanto no aspecto objetivo de seu trabalho profissional, viabilizando a reprodução da força de trabalho por meio do acesso dos trabalhadores às políticas e serviços sociais. 1. O que o Movimento de Reconceituação que surgiu no Serviço Social impõe aos assisten- tes sociais? 2. Desde o ano da criação das primeiras Esco- las de Serviço Social até 1945, são definidos três eixos para a formação profissional do assistente social. Quais são esses três eixos? 3. Segundo Singer (1987), diferencie capitalis- mo concorrencial e capitalismo monopolista. 4. Em 1990, foi aprovada a Lei 8.142/1990 que regula a Gestão do Sistema Único de Saúde SUS. Sobre o que essa lei dispõe? 5. A AssociaçãoBrasileira de Escolas de Ser- viço Social (Abess) foi criada em 1946 com qual objetivo? FORMAÇÃO PROFISSIONAL NO SERVIÇO SOCIAL: CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA E PRESENTES DESAFIOS Breve contextualização histórica Compreender as exigências postas à profissão hoje, passa por analisar, ainda que de forma breve, as profundas alterações do mundo do trabalho e a reforma do Estado advindas da cri- se do capitalismo nos anos de 1970, porque fo- ram estas mudanças que formularam as novas configurações da sociedade e, portanto, insti- tuíram novas exigências a formação profissio- nal no sentido desta responder a este contex- to ora reforçando o instituído, ora forcejando formas de efetivar os direitos sociais conquis- tados. Portanto, realizar uma contextualiza- ção histórica, nos dá a garantia de continuar perseguindo o objetivo de alcançar por meio de nossas análises, a perspectiva da totalida- de, através do desvendamento de mediações que apontem a articulação entre a história e as possibilidades e limites inscritos em cada contexto histórico. O governo ditatorial de Getúlio Vargas busca- va através de sua característica política popu- lista garantir o consenso social necessário para que o desenvolvimento social se mantivesse intacto e assim legitimar o status quo vigente. É neste cenário, inserido num espaço político que busca primordialmente o consenso social como medida para atender aos interesses da burguesia que tentava desarticular a classe operária, imolado pelas relações trabalho-ca- pital que surge o Serviço Social no Brasil, sendo diretamente vinculado à Igreja e fundamenta- do na Doutrina Social da Igreja, como exten- são da Ação Católica, vinculado a um projeto de re-cristianização da sociedade. Situando-se no processo de reprodução das relações sociais, sendo visto como medida au- xiliar e subsidiária no exercício do controle so- cial e meio organizado e institucionalizado de difusão da ideologia dominante entre a clas- se operária, já que esta apresentava um cres- cimento acelerado e ameaçador. Seguindo a proposta de ampliar a formação técnica espe- cializada para a difusão da doutrina social da Igreja, em 1936 é criada a primeira escola de Serviço Social do Brasil em São Paulo. Neste momento, ainda sob a influência da Igreja Católica, o Serviço Social importou os métodos de “Caso, Grupo e Comunidade”, na tentativa de estabelecerem-se metodologias e procedimentos mais precisos para os fins co- locados. No entanto, a partir de 1960, década de efervescência social e política no território latino-americano numa conjuntura política e econômica marcada pelo aprofundamento das questões sociais, inicia-se no Brasil e na América Latina o desenvolvimento de uma perspectiva de questionamentos críticos ao Serviço Social chamado “tradicional”. É diante desse processo de revisão do posicio- namento do Serviço Social frente à socieda- de, tendo como pano de fundo os questiona- mentos críticos postos pela própria sociedade e por meio da organização da sociedade civil, dos movimentos sociais, dentre outros, que a categoria profissional foi impulsionada ao mo- vimento de Reconceituação, que colocava em xeque a direção social da profissão (ainda não formulada nestes termos) o que passava pelo questionamento acerca da metodologia, ob- jetivos e conteúdo da formação profissional. Mas, foi a partir da ditadura militar que o de- senvolvimento e avanço dessa vertente crítica dentro do Serviço Social sofreram considerá- vel impacto, se estagnado, haja vista o clima repressor e altamente punitivo que se institui no decorrer deste período, marcado por per- seguições políticas àqueles que de alguma forma ousavam criticar o sistema ditatorial. É somente a partir da década de 1970 que al- guns segmentos da profissão retomam o de- bate a cerca da dimensão política da profissão, apontando para o rompimento da suposta neutralidade da profissão e estabelecendo a necessidade de um posicionamento político. Aqui, observa-se então a aproximação da te- oria social de Marx. O aprofundamento dessa ordem societária (necessariamente contradi- tória), marcada pela modernização conserva- dora do país ao longo das décadas de 40, 50, 60 e 70 do século XX, impôs à profissão uma revi- são do “Serviço Social tradicional”, manifesta- da no chamado “processo de reconceituação”, que, com todos os seus limites, teve o mérito de recolocar questões centrais para o Serviço Social: a formação profissional (nos seus as- pectos teóricos, metodológicos, técnico-ins- trumental e interventivo), a interlocução com outras áreas do conhecimento, a importância da pesquisa e da produção de conhecimentos no âmbito da profissão, entre outros aspectos. Esse rico contexto permitiu um debate mais intenso sobre as diferentes orientações teóri- cas na profissão (para além da Doutrina Social da Igreja), desencadeando uma interlocução com matrizes do conhecimento presentes nas Ciências Sociais. (SILVA, 1995, p. 2-3) É a partir deste período que a discussão a cerca da for- mação profissional passa a ser objeto de am- plo debate no interior da profissão, já que era a formação profissional que atenderia a neces- sidade dos novos pressupostos colocados em questão. Assim, iniciou-se nacionalmente um amplo debate coordenado pela Associação Brasileira de Escolas de Serviço Social - ABESS (hoje Associação Brasileira de Ensino e Pesqui- sa em Serviço Social - ABEPSS) que culminou no currículo mínimo de 1979, associado ao avanço do primeiro doutorado em Serviço So- cial na Pontifícia Universidade Católica - PUC de São Paulo em 1981. A ruptura com a heran- ça conservadora expressa-se como uma pro- cura, uma luta por alcançar novas bases de le- gitimidade da ação profissional do Assistente Social, que, reconhecendo as contradições so- ciais presentes nas condições do exercício pro- fissional, busca-se colocar-se, objetivamente a serviço dos interesses dos usuários, Isto é, dos setores dominados da sociedade (IAMAMOTO, 1996, p. 37). No entanto, a partir dos anos de 1980, com a minimização do papel do Estado, há o acirramento da desigualdade social e é posto na ordem do dia a necessidade de se re- definir o projeto de formação da profissão, ob- servando as novas demandas colocadas pela nova configuração social, sendo este cenário observável nos dias de hoje. Fonte: Narciso (2016, online). MATERIAL COMPLEMENTAR Uma Questão de Honra Ano: 1987 Sinopse: Baseado em fatos reais, o filme conta a história de um carpinteiro que precisa cuidar de seus quatro filhos após a morte da esposa, durante a depressão. Por causa da compreensão errada dos fatos por uma assistente social, o Estado retira dele as crianças. O homem, então, passará anos lutando para tê-las de volta. Comentário: Se você tiver a oportunidade, assista a este filme. Nele você constatará a conduta repreensível de uma assistente social. Verá como julgamentos precipitados e o peso das palavras de um profissional pode mudar a vida das pessoas. GABARITOGABARITO 1. Impõe a necessidade de construção de um novo projeto comprometido com as de- mandas das classes subalternas, particular- mente expressas em suas mobilizações. 2. Formação científica, na qual era necessário o conhecimento de disciplinas como Sociolo- gia, Psicologia, Biologia, Filosofia, favorecendo ao educando uma visão holística do homem, ajudando-o a criar o hábito da objetividade. Formação técnica, cujo objetivo era prepa- rar o educando quanto sua ação no comba- te aos males sociais. Formação moral e doutrinária, fazendo com que os princípios inerentes à profissão sejam absorvidos pelos alunos. Ainda no processo de formação profissional, o Serviço Social também sofreu grande influência norte-a- mericana, motivada pela crescente expan- são da economia dos Estados Unidos, a qual fez com que o Brasil adotasse o desenvol- vimentismo, assegurando o monopólio da economia e a política de nosso país. GABARITO 3. No capitalismoconcorrencial existiam vá- rias organizações, geridas pelos seus do- nos, e que competiam entre si pelo apre- ço de seus clientes. Já no capitalismo monopolista, as pequenas e médias organizações são substituídas por grandes corporações as quais detêm o con- trole dos mercados nacionais e passam a in- ternacionalizar suas economias por meio das empresas multinacionais, as quais são admi- nistradas por executivos e são instaladas nos diversos países que compõe o globo. 4. Dispõe sobre a participação da comunida- de na gestão e controle social do SUS, por meio das Conferências de Saúde e dos Con- selhos de saúde nas três esferas de poder. 5. Estabelecer uma metodologia para o ensi- no em Serviço Social. U N ID A D E II Professora Me. Maria Cristina Araújo de Brit Cunha Professora Esp. Fernanda Carvalho Basilio Hernandez RUPTURA DO SERVIÇO SOCIAL CON- SERVADOR PARA A CONSTRUÇÃO PROJETO ÉTICO POLÍTICO OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM ■ Apresentar as vertentes teóricas norte- adoras da práxis social. ■ Refletir sobre o processo de ruptura do Serviço Social conservador em seu con- texto histórico que corroborou para a construção do projeto ético político. ■ Conhecer os preâmbulos do debate profissional no processo de ruptura do conservadorismo. ■ Estudar a matriz modernizadora do Serviço Social. U N ID A D E PLANO DE ESTUDO A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: ■ Conservadorismo e Positivismo ■ Serviço Social e a reprodução das relações sociais ■ Os códigos de ética conservadores ■ A matriz modernizadora do Serviço Social ■ Projetos societários ■ Projeto ético político do Serviço Social e o projeto neoliberal II Professora Me. Maria Cristina Araújo de Brit Cunha Professora Esp. Fernanda Carvalho Basilio Hernandez RUPTURA DO SERVIÇO SOCIAL CON- SERVADOR PARA A CONSTRUÇÃO PROJETO ÉTICO POLÍTICO RUPTURA DO SERVIÇO SOCIAL CONSERVADOR PARA A CONSTRUÇÃO PROJETO ÉTICO POLÍTICO 81 INTRODUÇÃO Com o intuito de demonstrar a evolução his- tórica do Serviço Social, apresenta-se nesta segunda unidade de estudo as teorias que emba- sam e fundamentam a intervenção profissional desde o conservadorismo ao processo de rom- pimento com a teoria positivista. A análise do modo de produção capitalista e consequentemente a ação do assistente social mediatizada por meio do Estado, motivada pelo antagonismo entre as classes sociais, vai nos remeter ao processo de amadurecimento da categoria profissional face a necessidade de revi- são teórica a partir do suporte teórico científico que se dá com a ampliação das escolas de Serviço Social e se gestará no espaço da pesquisa e da investigação, com propostas que visam ultra- passar os limites impostos pela ordem burguesa. Sendo assim, você vai poder entender que esta mudança de direção, que caracteriza o pro- cesso de renovação do Serviço Social brasileiro, está relacionada, também, à política cultural e educacional vigente no período. A cultura RUPTURA DO SERVIÇO SOCIAL CONSERVADOR PARA A CONSTRUÇÃO PROJETO ÉTICO POLÍTICO 82 que se ia gestando nos meandros da “abertura democrática” recolocou em debate diferentes tendências no âmbito do marxismo, entre elas o pensamento de Antonio Gramsci, que passa, nesse período, a fazer parte da nossa cultura e a iluminar, com suas categorias, diversas for- mas de interpretação da realidade brasileira. Nesse sentido, caberá à análise sociológica da profissão e de seus agentes a compreensão do caráter e significado dessa prática profis- sional no processo de reprodução das relações sociais bem como a função do Serviço Social e do assistente social vinculados dos organis- mos institucionais. Diante disso, justifica-se o conhecimento que compreende as reflexões pro- fissionais e sua mudança de direção, à medida que se colocam frente a frente com a realidade e com as condições de existência das camadas exploradoras da população. Dessa forma, espero contribuir mais uma vez com o seu aprendizado, motivando-o cada vez mais ao conhecimento do debate histórico da profissão que não se esgota nesta unidade de estudo. RUPTURA DO SERVIÇO SOCIAL CONSERVADOR PARA A CONSTRUÇÃO PROJETO ÉTICO POLÍTICO 83 CONSERVADORISMO E POSITIVISMO O conservadorismo sobre o qual a profissão é instituída se reafirma quando o Serviço Social brasileiro, a partir da década de 1940, após sua institucionalização e por meio do aprimora- mento das escolas, passa a ter contato com bases científicas, mais especificamente com a teoria positivista, e estas passam a iluminar as ações desenvolvidas por este profissional. Iamamoto (2000, p. 21) complementa tal afirmativa ao pontuar que isso ocorre a partir do: [...] processo de secularização e de am- pliação do suporte técnico-científico da profissão – que se dá com o desenvolvi- mento das escolas (depois faculdades) especializadas no ensino de Serviço So- cial – ocorre sob a influência dos progres- sos alcançados pelas Ciências Sociais nos marcos do pensamento conservador, es- pecialmente de sua vertente empiricista norte-americana. Este universo intelec- tual, ao invés de produzir rupturas pro- fundas com as tendências pragmatistas da profissão, as reforçam e atualizam. RUPTURA DO SERVIÇO SOCIAL CONSERVADOR PARA A CONSTRUÇÃO PROJETO ÉTICO POLÍTICO 84 A aproximação do Serviço Social à teoria positivista não resultou em transformações na sua maneira de pensar e agir sobre a sociedade, esta teoria apenas reatualizou a faceta conservadora da profissão, afora o fato de que, a partir daquele momento, as questões de ordem social eram explicadas por meio de técni- cas científicas. Barroco (2005, p. 79) corrobora com tal assertiva ao afirmar que “[...] o pensamento católico tradicional e o positivismo compartilham da ideologia conservadora e da crença na moral como espaço de enfrentamento da ‘questão social’”, mesmo se constituindo em opo- sitores em diversos aspectos. A referida autora ainda nos aponta que, à luz desta teoria, as contradições resultantes da estrutura eco- nômica são deslocadas para a vida dos indivíduos que dependem da venda de sua força de trabalho e estes passam a ser responsabilizados pelos “desajus- tes” sociais. Ao realizar essa transferência de responsabilidades e creditar aos indivíduos o ônus do desenvolvimento capitalista, o positivismo respondia de maneira muito clara às necessidades do modo de produção capitalista de manutenção da ordem, pois obscurecia as contradi- ções e desigualdades inerentes ao seu desenvolvimento. RUPTURA DO SERVIÇO SOCIAL CONSERVADOR PARA A CONSTRUÇÃO PROJETO ÉTICO POLÍTICO 85 No que se refere à teoria positivista, Yazbek (2006) contribui com nossa reflexão ao apontar que ela admite apenas mudanças nos limites da ordem estabelecida, as quais devem ser resul- tantes de uma “evolução natural” da sociedade, tendo ações voltadas para a conservação da ordem vigente. A visão da Yazbek encontra-se em consonância com a afirmativa de Barroco (2005, p. 77) na medida em que para ela: O pensamento positivista comteano explica e justifica ideologicamente a ordem social bur- guesa e uma de suas peculiaridades reside em seu tratamento moral dos conflitos e contra- © sh ut te rs to ck RUPTURA DO SERVIÇO SOCIAL CONSERVADOR PARA A CONSTRUÇÃO PROJETO ÉTICO POLÍTICO 86 dições sociais. Seu conservadorismo, expres- so em sua defesa da ordem e da autoridade, aliado à ideia de uma ordem social natural- mente “harmônica”, possibilita que as lutas sociais sejam vistas como “desordem” que a educação moral pode superar. Percebe-se, dessa forma, que os antagonismos inerentes ao modo de produção capitalista, que em seu cerne é injusto e explorador, iluminados pelo positivismo, são convertidos em problemas de ordem social oriundas da classe trabalhadora e que devem ser enfrentados via mecanismos de educação moral, impondo a esta classe o respeito cego a uma série de convenções e nor- mas estabelecidas pela classe dominantepara a conquista da “harmonia social”. Iamamoto e Carvalho (2000, p. 117) endossam tal afirma- ção ao pontuarem que: Os conflitos sociais não são negados, mas, o que é expressão da luta de classes, transformam-se em “problema social”, matéria-prima da assistência. Segundo essa visão, os fatores tidos como proble- máticos são deslocados da estrutura so- cial para os próprios indivíduos e grupos RUPTURA DO SERVIÇO SOCIAL CONSERVADOR PARA A CONSTRUÇÃO PROJETO ÉTICO POLÍTICO 87 considerados como responsáveis pela sua ocorrência. Consequentemente, o que deve ser mudado são os hábitos, atitudes e comportamentos dos indivíduos, tendo em vista seu ajustamento social, contri- buindo, assim, para remover “obstácu- los” ao “crescimento econômico”. Ressalta-se, dessa forma, que o Serviço Social, consubstanciado à concepção positivista de entendimento da realidade, desenvolvia o seu trabalho na perspectiva de correção de “indiví- duos problema”, por meio de ações pontuais e fragmentadas, as quais não consideravam que as situações vivenciadas pela classe trabalha- dora eram resultantes do modo de organização para a produção em sociedade, pelo contrário, consideravam que esses indivíduos se consti- tuíam em empecilhos para o progresso social. Ante o exposto, é imperioso destacar que a ênfase no viés moralizante para o enfrentamento da questão social tinha por objetivo conter a força da classe trabalhadora, desarticulando-a e rompendo com qualquer organização que colo- casse em risco a ordem vigente. RUPTURA DO SERVIÇO SOCIAL CONSERVADOR PARA A CONSTRUÇÃO PROJETO ÉTICO POLÍTICO 88 SERVIÇO SOCIAL E A REPRODUÇAO DAS RELAÇÕES SOCIAS A partir das reflexões até aqui realizadas pela contribuição dos autores pesquisados, pode- -se inferir que a capacidade organizativa e de mobilização da classe trabalhadora se constituía num fator de risco para a ordem vigente e que a intervenção nas expressões da questão social, a partir da perspectiva moralizante, era uma resposta do próprio capitalismo, representado pelas figuras do Estado e da Igreja, instituições que tinham por objetivo mascarar essa dura rea- lidade produzida pelo capitalismo. Martinelli (2009, p. 61) comunga com esta assertiva ao pontuar que: Era crucial para o capitalismo manter sempre escondida, ou no mínimo dissi- mulada, essa massacrante realidade por ele produzida, evitando que suas próprias contradições e antagonismos constituís- sem fatores propulsivos da organização do proletariado e da estruturação de sua consciência de classe. RUPTURA DO SERVIÇO SOCIAL CONSERVADOR PARA A CONSTRUÇÃO PROJETO ÉTICO POLÍTICO 89 O que se pode v e r i f i c a r , dessa forma, é que o Serviço Social foi cooptado ao aparato esta- tal como um instrumento de difusão da ideologia da classe detentora dos meios de produção e que também detinha o poder de construir o modo de pen- sar conveniente aos seus interesses classistas. Ao disseminar esse conjunto de ideias aos indi- víduos usuários de seus serviços profissionais, o assistente social cumpria com a sua função de mecanismo reprodutor das relações sociais capi- talistas ao mesmo tempo em que atendia, mesmo que de forma fragmentada e pontual, as neces- sidades apresentadas pela classe trabalhadora. Cabe esclarecer ainda que, como um produto do modo de produção capitalista ao lado das demais profissões, o Serviço Social se desenvol- veu para atender as necessidades do capital. Essa ação profissional alienada, alienante e orientada para o reforço do projeto de classe burguês, na ©shutterstock, istanbul_image_video RUPTURA DO SERVIÇO SOCIAL CONSERVADOR PARA A CONSTRUÇÃO PROJETO ÉTICO POLÍTICO 90 visão de Iamamoto e Carvalho (2000), foi predo- minante no período compreendido entre os anos 1930-1960. Na realidade brasileira, desde sua profissiona- lização, grande parte dos assistentes sociais vende sua força de trabalho às instituições empregado- ras de sua mão de obra. São essas instituições que possuem os recursos necessários para o desen- volvimento do trabalho desse profissional. Ocorre que, por deter o conhecimento de seu trabalho e possuir certa autonomia na condu- ção dessas ações, mesmo que no início de sua profissionalização esta fosse limitada, foi neces- sário desenvolver um instrumento normatizador de sua atuação e que proporcionasse balizar sua relação com os sujeitos que fazem uso de seus serviços. O instrumento a que nos referimos é o Código de Ética, no qual são explicitados os direitos e deveres das categorias de profissionais liberais e a postura que se deve ter ante a sociedade. Simões (2000) destaca que estes códigos são expressões da necessidade que a sociedade tem em ser pro- tegida da autonomia desses profissionais que RUPTURA DO SERVIÇO SOCIAL CONSERVADOR PARA A CONSTRUÇÃO PROJETO ÉTICO POLÍTICO 91 podem “começar a agir em função dos interesses do grupo, puramente corporativistas, e impondo- -os à sociedade como um todo” (SIMÕES, 2000, p. 68). Dessa feita, os primeiros códigos de ética profis- sionais surgem via Estado e são formas de controlar a atuação destes profissionais frente à sociedade. Importante ressaltar que tais instrumentos refletem pensamentos e posturas profissio- nais predominantes nos diferentes períodos e momentos históricos nos quais foi elaborado uma vez que, por ser uma profissão inserida na divisão social e técnica do trabalho, o Serviço Social é diretamente influenciado pelo contexto social e histórico e, portanto, os Códigos que norteiam o desenvolvimento de suas ações pro- fissionais também os são. OS CÓDIGOS DE ÉTICA CONSERVADORES A ética é constitutiva das mais diversas dimen- sões que compõem a vida em sociedade e diz respeito ao exercício da reflexão sobre os RUPTURA DO SERVIÇO SOCIAL CONSERVADOR PARA A CONSTRUÇÃO PROJETO ÉTICO POLÍTICO 92 valores e costumes morais, seja para legitimá- -los ou questioná-los. Barroco (2005) expõe que comumente a ética e a moral são confundidas e concebidas como sinônimos. Dessa forma, a autora ainda argumenta que, no âmbito do Serviço Social, a discussão ética tem se resumido, muitas vezes, apenas ao Código de Ética Profissional, apontando a falta de uma discussão acerca da dimensão moral da profis- são e da ética propriamente dita. Assim sendo, a ética é um importante ele- mento que compõe o exercício profissional à medida que, enquanto um espaço de reflexão, interpela aos assistentes sociais a necessidade de constante retomada de seus objetivos e valores enquanto uma categoria profissional e aprecia- ção coletiva dos meios que estão sendo utilizados para materializá-los, assim como da conjuntura histórica que permeia e condiciona sua atua- ção profissional. Brites (2000, p. 123) endossa tal afirmação ao apontar que: RUPTURA DO SERVIÇO SOCIAL CONSERVADOR PARA A CONSTRUÇÃO PROJETO ÉTICO POLÍTICO 93 A reflexão ética é um dos instrumentos que permitem a compreensão dos limites e possibilidades de atuação profissional frente aos desafios colocados pela moder- nidade, na medida em que indaga sobre a realização objetiva dos valores que se assu- mem. A centralidade adquirida pela dimensão ética no interior da categoria profissional remonta ao início de sua profissionalização. De acordo com Barroco (2005), as escolas de Serviço Social tive- ram importante papel nesse processo à medida que essas instituições faziam uso das aulas de filosofia e ética para disseminar princípios éti- cos extraídos, àquela época, da filosofia tomista, da teoria positivista e do pensamento conserva- dor, sendo este último marcante e norteador das ações profissionais até fins da década de 1970. Dessa forma, as três primeiras versões do Código de Ética Profissional (1948, 1965 e 1975) reforçavam o projeto de sociedade dominante e possuíam forte traço conservador da ordem vigente. RUPTURA DO SERVIÇO SOCIAL CONSERVADOR PARA A CONSTRUÇÃO PROJETO ÉTICO POLÍTICO 94 Miranda e Cavalcanti (2005) complementam a afirmaçãode Barroco (2005) ao pontuarem que até a década de 1980 os Códigos de Ética dessa categoria profissional possuíam um cunho conservador e ainda apontam que tal instru- mento demonstrou de maneira inteligível, no decorrer da história, a sua posição. Assim sendo, o primeiro Código de Ética Profissional dos Assistentes Sociais tem ori- gem em 1947, mas é aprovado apenas no ano de 1948.De acordo com Miranda e Cavalcanti (2005), ele evidenciou o seu caráter norma- tivo e conservador atrelado ao ideário da Igreja Católica. Permeado por um contexto conservador e que reforçava o tratamento moral da questão social, tal instrumento coadunava com a atuação do assistente social, pois assim como Iamamoto (2000, p. 98) afirma: Partindo do pressuposto de que o orde- namento capitalista é natural, caberia à profissão nele integrar os indivíduos e atenuar os excessos da exploração do tra- balho. A essa visão naturalizada da so- ciedade acoplou-se o campo dos valores RUPTURA DO SERVIÇO SOCIAL CONSERVADOR PARA A CONSTRUÇÃO PROJETO ÉTICO POLÍTICO 95 calcado na filosofia metafísica - especifica- mente o neotomismo -, alimentando um programa para a sociedade que preconi- zava reformas parciais ao nível dos indiví- duos, grupos e comunidades na defesa da pessoa humana, do bem comum, do desen- volvimento integral. O Código de Ética Profissional de 1947 expres- sava claramente em seus artigos que a atuação profissional deveria ser desenvolvida à luz de princípios cristãos vinculados ao pensamento da Igreja Católica, tendo como um de seus deve- res fundamentais: 1. Cumprir os compromissos assumidos, respeitando a lei de Deus, os direitos na- turais do homem, inspirando-se, sempre em todos seus atos profissionais, no bem comum e nos dispositivos da lei, tendo em mente o juramento prestado dian- te do testemunho de Deus. (Associação Brasileira de Assistentes Sociais, 1947, p. 1) Ademais, essa versão do código expunha que o profissional deveria respeitar o usuário de seus serviços tendo por base a sua dignidade RUPTURA DO SERVIÇO SOCIAL CONSERVADOR PARA A CONSTRUÇÃO PROJETO ÉTICO POLÍTICO 96 enquanto ser humano, inspirando-se na fé cristã. Salientando que a importância da ética profissio- nal relacionada ao Serviço Social era justificada pelo fato dessa profissão lidar “[...] com pessoas humanas desajustadas ou empenhadas no desen- volvimento da própria personalidade” (ABAS, 1947, p. 1). Forti (2008, p. 186-187) destaca que este código expressava o posicionamento morali- zador do Serviço Social: “[...] face às expressões da “questão social”, captando o homem de maneira abstrata e genérica, configurou-se como uma das estratégias concretas de disciplinamento e controle da força de trabalho, no processo de expansão do capital monopolista. Imperioso destacar que, durante a vigência de tal código, o Brasil era governado por um regime democrático conduzido pelo então presidente Dutra, que fora eleito em 1945. No ano seguinte foi promulgada uma nova carta constitucional ao mesmo tempo em que a industrialização brasileira estava em franco desenvolvimento, cuja intensificação se deu em 1947. RUPTURA DO SERVIÇO SOCIAL CONSERVADOR PARA A CONSTRUÇÃO PROJETO ÉTICO POLÍTICO 97 Dessa forma, já no início da década de 1950, a discussão em torno do desenvolvimento do Brasil, tendo em vista superar seu atraso eco- nômico e cultural bem como os seus problemas sociais, adquiriu centralidade. Nessa perspectiva, Forti (2008) enfatiza que o desenvolvimentismo, como ficou conhecido esse movimento, era visto por muitos países, principalmente os latino-americanos, como um meio de superar sua subordinação perante os demais países que compunham o globo. A partir da ênfase conferida ao necessário desenvol- vimento do Brasil e sua efetivação a partir do governo de Juscelino Kubitschek, que se iniciou em 1955, o Serviço Social também é chamado a contribuir por ser conside- rado importante para atuar junto ao desenvolvimento de comunidade. No período em que o desenvol- vimentismo foi hegemônico no Brasil, a ação profissional do assistente social era norteada pela soma do neotomismo ao funcionalismo. © sh ut te rs to ck , G eo rg io s Ko lli da sA RUPTURA DO SERVIÇO SOCIAL CONSERVADOR PARA A CONSTRUÇÃO PROJETO ÉTICO POLÍTICO 98 Verifica-se, assim, que as ações do profissional são desenvolvidas tendo em vista a manuten- ção do modo de produção capitalista e o agente se constitui como um cooperador que atua em prol do desenvolvimento das forças produtivas, alimentado por bases teóricas de forte cunho conservador e que não questionava a ordem vigente, com ações que visavam à adaptação dos indivíduos e grupos na sociedade. Na década de 1960, o Código de Ética Profissional passa por sua primeira reformulação, que resulta na versão de 1965, no qual se fazem presentes conceitos como “bem comum” e “res- peito à dignidade da pessoa humana”, norteadores da ação profissional, sendo ainda explicitado que o indivíduo é por natureza livre e inteligente. Ademais, o assistente social à luz desse código deveria propor ações que vislumbrassem a “cor- reção dos desníveis sociais”, tendo em vista a “integração social” de indivíduos, grupos e comunidades, como bem explicitado a seguir: Art. 7º - Ao assistente social cumpre con- tribuir para o bem comum, esforçando-se para que o maior número de criaturas hu- manas dele se beneficiem, capacitando in- RUPTURA DO SERVIÇO SOCIAL CONSERVADOR PARA A CONSTRUÇÃO PROJETO ÉTICO POLÍTICO 99 divíduos, grupos e comunidades para sua melhor integração social(CFESS, 1993, s/p). A partir de uma análise dessa versão do Código de Ética Profissional, pode-se verificar em seu interior que ele é concebido como importante mecanismo de apoio e orientação profissio- nal, uma vez que o Serviço Social estava em desenvolvimento e com ele se faziam presentes maiores responsabilidades e deveres. Esse código evidenciava uma concepção de vida baseada na natureza e no destino do homem, apontando, ainda, que o profissional deveria desenvolver suas ações tendo em vista dar solução aos diversos “problemas sociais”, como agente colaborador no desenvolvimento do país, o qual deveria se dar de maneira harmônica. Evidencia-se ainda que o Código de 1965 “[...] introduziu a consideração do assistente social como profissional liberal, inseriu os princípios do plura- lismo, da democracia e da justiça, numa concepção liberal” (BARROCO; TERRA, 2012, p. 45). O Código de Ética de 1975 adensa um con- junto de artigos formulados a partir dos valores “bem comum” e “justiça social”, tendo por RUPTURA DO SERVIÇO SOCIAL CONSERVADOR PARA A CONSTRUÇÃO PROJETO ÉTICO POLÍTICO 100 fundamento básico o indivíduo humano, enten- dendo-o como “[...] centro, objeto e fim da vida social” (ABAS, 1975, p. 02). A partir da análise de tal instrumento é percep- tível que a relação estabelecida entre o assistente social e o sujeito que buscava seu atendimento se realizava a partir da perspectiva profis- sional-cliente, por meio de uma intervenção profissional considerada como um “tratamento”, composto por diagnóstico, prognóstico e objeti- vos, assim como explicitado no artigo 5º, inciso II, alínea b, do código. Este artigo expõe que é dever do profissional “Esclarecer o cliente quanto ao diagnóstico, prognóstico, plano e objetivos do tratamento, prestando à família ou aos responsáveis os esclarecimentos que se fizerem necessários” (ABAS, 1975, p. 05). Para Forti (2005), nesta versão do Código de Ética Profissional se fazem presentes nor- teamentos claramente conservadores, mas que se desenvolveram e se efetivaram sob novas roupagens. Barroco e Terra (2012) complementam a assertiva de Forti (2005) ao pontuarem que esta versão se difere das duas primeiras pelo fato de RUPTURA DO SERVIÇO SOCIAL CONSERVADOR PARA A CONSTRUÇÃO PROJETO ÉTICO POLÍTICO 101 ter incluído o personalismo junto ao positivismo e ao neotomismo, as referênciastradicionais e que até então permeavam o Serviço Social. Assim sendo, Barroco (2005, p. 96) expõe que: Orientada pelo neotomismo, a ética pro- fissional opera de modo prescritivo, ba- seando-se em uma dicotomia entre bem e mal, que, no agir profissional, só apa- rentemente é abstrata, uma vez que tra- duz os dogmas cristãos e a moral conser- vadora. Barroco e Terra (2012) sintetizam as diferenças das três primeiras versões do Código de Ética profissional pontuando que a de 1947 expôs a estreita relação estabelecida entre a profis- são e a Igreja Católica, enquanto que a de 1965 possuía traços marcadamente vinculados ao contexto ditatorial e que evidenciou a reno- vação profissional nos moldes impostos pelo sistema político vigente. Além disso, as autoras apontam que a versão de 1975 “[...] suprimiu as referências democrático-liberais do código anterior [...]” (BARROCO; TERRA, 2012, p. 45). RUPTURA DO SERVIÇO SOCIAL CONSERVADOR PARA A CONSTRUÇÃO PROJETO ÉTICO POLÍTICO 102 Ressalta-se ainda que a influência exercida pela Igreja Católica e pelo ideário conservador nos Códigos de Ética de 1947, 1965 e 1975 é evidente e explicita-se por meio da concepção de que a profissão seria uma espécie de “voca- ção” para a qual apenas as pessoas com “boas intenções” deveriam voltar-se. Nesse sentido, Silva (1995, p. 140) destaca que: Percebemos isso ao examinarmos essas três versões do Código – a de 1947, de 1965 e a de 1975, - onde podemos identi- ficar claramente essa influência, inclusi- ve de princípios que constam da encícli- ca papal Rerum Novarum. Identificamos aí inscrito o princípio da conciliação de classes, servindo de sustentação a uma prática profissional visando à harmonia, o equilíbrio e a paz social. Considera-se que os problemas sociais têm uma estrei- ta relação com uma suposta decadência da moral e dos costumes cristãos. Logo, a profissão é considerada como uma voca- ção, um chamado de Deus, e o assistente social deve, então, estar a serviço da res- tauração da moral cristã. RUPTURA DO SERVIÇO SOCIAL CONSERVADOR PARA A CONSTRUÇÃO PROJETO ÉTICO POLÍTICO 103 Nessa perspectiva, Guedes (2001) salienta que os primeiros assistentes sociais tinham suas ações norteadas pela filosofia neotomista e por isso referenciavam-se em valores preconizados pela Igreja Católica, dentre eles a necessidade do estabelecimento da harmonia entre as clas- ses sociais e o entendimento de que o homem é um ser dotado de inteligência, fato que permi- tiria a ele superar as condições de vida em que se encontrava. Ao lado do princípio da inteligibilidade, de acordo com Guedes (2001), encontra-se o prin- cípio da liberdade, entendido pela filosofia neotomista como o respeito à liberdade do indi- viduo atendido. Não obstante, como a questão social era entendida como uma questão moral, os profissionais agiam junto às ineficiências apre- sentadas pelos indivíduos e pelo conjunto social. Reforçando a concepção de que os indivíduos têm a possibilidade de, por meio de esforços próprios, superar as condições de vida em que se encontram, a moral predominante no sistema capitalista dispõe que não existem meios que os impeçam de exercer sua liberdade, como bem apontam Brites et al. (2001, p. 126) à medida RUPTURA DO SERVIÇO SOCIAL CONSERVADOR PARA A CONSTRUÇÃO PROJETO ÉTICO POLÍTICO 104 que em tal sistema “[...] a moral dominante entende que o indivíduo é o único responsável pela sua condição de vida, e que não existem impedimentos concretos para a realização da liberdade”. Desta feita, a moral burguesa, orientada pela ideologia liberal, estabelece que o indivíduo é o responsável pelas condições de vida em que se encontra ao mesmo tempo em que reconhece a existência de desigualdades entre as pessoas, mas as concebe como fenômenos naturais, pois assim como Barroco (2005, p. 165) pontua: É certo que se entende que o êxito de cada um depende somente da vontade e do esforço pessoal de cada indivíduo, o que implica uma noção de justiça social: o Estado só faz regulamentar o que já foi decidido pelo mercado em condições de liberdade e igualdade. Isso, no entanto, não significa que se considere que todos podem chegar ao mesmo nível de riqueza, uma vez que se concebe que os indivíduos nascem com potencialidades e capacida- des diferenciadas e se esforçam em níveis RUPTURA DO SERVIÇO SOCIAL CONSERVADOR PARA A CONSTRUÇÃO PROJETO ÉTICO POLÍTICO 105 diferenciados. Sendo assim, as diferenças sociais são tratadas como conquistas in- dividuais que devem ser recompensadas ou como problemas pessoais psicosso- ciais ou morais [...] Partindo dessa concepção, as contradições ine- rentes e próprias do modo de produção capitalista são convertidas em questões de ordem pessoal, problemáticas apresentadas por indivíduos que não tiveram sucesso no desenvolvimento de suas habilidades e que por isso não possuem a riqueza da qual outrem dispõe. Sob a perspectiva liberal, a liberdade é um valor concebido e referenciado para a aquisição da pro- priedade privada bem como para a luta por interesses individuais. Ademais, Forti (2008) argumenta que este pensamento conservador colaborou para que, durante muito tempo, os assistentes sociais tivessem dificuldades de compreensão dos reais determinantes da questão social, contribuindo, assim, para a caracterização de: RUPTURA DO SERVIÇO SOCIAL CONSERVADOR PARA A CONSTRUÇÃO PROJETO ÉTICO POLÍTICO 106 [...] uma cultura profissional acrítica, sem um horizonte utópico que os impulsio- nasse para o questionamento e às ações consequentes em prol da construção de diferentes rumos face às diretrizes sociais postas e assumidas pela profissão. (FOR- TI, 2008, p. 187) Entretanto, esse panorama começa a ser colocado em xeque na década de 1960 juntamente com o Serviço Social tradicional, quando, no Brasil, ocorre a efervescência de movimentos da socie- dade civil de cunho reivindicatório ligados à área estudantil e ao movimento agrário. À época, o país era governado por João Goulart, presidente que possuía um forte discurso progressista ao defender a realização de reformas de base. O país, na entrada dos anos 1960, enfrentava sérios problemas, dentre eles a alta no preço dos alimentos, aumento na migração camponesa para as cidades, aumento de tensões sociais, aliança entre burguesia multinacional e nacio- nal contra o populismo, ao mesmo tempo em que movimentos reivindicatórios dos trabalha- dores rurais adquiriam feições políticas. RUPTURA DO SERVIÇO SOCIAL CONSERVADOR PARA A CONSTRUÇÃO PROJETO ÉTICO POLÍTICO 107 Por ser uma profissão inserida na divisão social e técnica do trabalho e, por isso, indissociável da trama histórica que tece a realidade, o Serviço Social também foi influenciado pelo novo con- texto histórico do país, de questionamentos sobre a ordem vigente e de movimentações de setores da sociedade. Netto (2005) confirma tal assertiva e ainda pontua que a decadência do Serviço Social tra- dicional e de suas práticas foi resultante de uma crise estrutural do modo de produção capitalista, mais precisamente o fim dos 30 anos gloriosos do capitalismo, e ocorreu numa gama de países nos quais essa profissão se institucionalizara. Ademais: O tensionamento das estruturas sociais do mundo capitalista, tanto nas suas áreas centrais quanto periféricas, ganhou uma nova dinâmica e gestou-se um quadro favorável para a mobilização das classes subalternas em defesa de seus interesses imediatos. [...] Nas suas variadas expres- sões, aqueles movimentos punham em questão a racionalidade do Estado bur- guês, suas instituições e, no limite, ne- gavam a ordem burguesa e seu estilo de RUPTURA DO SERVIÇO SOCIAL CONSERVADOR PARA A CONSTRUÇÃO PROJETO ÉTICO POLÍTICO 108 vida; em todos os casos, recolocavam na agenda as ambivalências da cidadania fundada na propriedade (privada) e redi- mensionavam a atividade política, multi- plicando os seus sujeitos e as suas arenas. (NETTO, 2005,p. 07) Nesse sentido, Miranda e Cavalcanti (2005) expõem que na década de 160 ocorreu uma crise de caráter ideológico e político da profissão, a qual colocou em xeque sua eficácia, questionou sua burocratização, sua natureza importada e seu atrelamento à classe dominante. Dessa forma, destaca-se que a eclosão do Movimento de Reconceituação na América Latina foi uma consequência da crise estrutural do modo de produção capitalista, a qual impôs aos países latino-americanos as consequências negativas de seu desenvolvimento e que, nos apontamentos de Netto (2001, p. 146), é parte constitutiva do “[...] processo internacional de erosão do Serviço Social ‘tradicional’ [...]”. RUPTURA DO SERVIÇO SOCIAL CONSERVADOR PARA A CONSTRUÇÃO PROJETO ÉTICO POLÍTICO 109 No bojo desse movimento encontra-se o ques- tionamento e se lança um debate sobre o papel do Serviço Social frente à crise vivenciada pelos países nos quais está institucionalizado bem como do tradicionalismo profissional que não responde de maneira efetiva à nova realidade posta pelo sistema capitalista. Nessa perspectiva, Yazbek (2006, p. 6-7) salienta que: A profissão assume as inquietações e in- satisfações deste momento histórico e direciona seus questionamentos ao Ser- viço Social tradicional através de um am- plo movimento, de um processo de revi- são global, em diferentes níveis: teórico, metodológico, operativo e político. Este movimento de renovação que surge no Serviço Social na sociedade latino-ame- ricana impõe aos assistentes sociais a ne- cessidade de construção de um novo pro- jeto comprometido com as demandas das classes subalternas, particularmente ex- pressas em suas mobilizações. É no bojo deste movimento, de questionamentos à RUPTURA DO SERVIÇO SOCIAL CONSERVADOR PARA A CONSTRUÇÃO PROJETO ÉTICO POLÍTICO 110 profissão, não homogêneos e em confor- midade com as realidades de cada país, que a interlocução com o marxismo vai configurar para o Serviço Social latino-a- mericano a apropriação de outra matriz teórica: a teoria social de Marx. Embora esta apropriação se efetive em tortuoso processo. Ocorre que, mesmo permeado por este con- texto, os Códigos de Ética Profissional de 1965 e 1975 permaneceram em sua essência tal qual se encontravam na década de 1940, com peque- nas modificações, não refletindo os anseios da categoria profissional, como Barroco (2005, p. 114) argumenta: Embora entre 1965 e 1986, momentos da primeira reformulação do Código de Ética Profissional e da ruptura com a ética tradicional, estejam se objetivando várias expressões de negação do ethos tradicio- nal, isto não se traduz nos códigos, que permanecem pautados no tradicionalis- mo, embora apontem para a influência das duas vertentes emergentes nesse pro- RUPTURA DO SERVIÇO SOCIAL CONSERVADOR PARA A CONSTRUÇÃO PROJETO ÉTICO POLÍTICO 111 cesso: a perspectiva modernizadora e a reatualizadora do conservadorismo tra- dicional. A aparente impermeabilidade dos códigos frente ao contexto de questionamento profissional e de ascensão dos movimentos sociais encontra explicação no fato de que durante o período em que o Movimento de Reconceituação estava em franco desenvolvimento na América Latina, o Brasil passava por um processo de transforma- ção na forma de condução política do Estado. Em 1964, uma união estabelecida entre capital internacional, a burguesia nacional e os milita- res derrubou o governo democrático e instituiu um governo ditatorial, o qual objetivava repri- mir os movimentos da classe subalterna, assim como liquidar a ameaça comunista e reorien- tar a economia brasileira. A ascensão militar ao poder político do país representou um profundo golpe contra os emergentes movimentos sociais de cunho progressista e também para o Serviço Social, tor- nando peculiar os rebatimentos do Movimento de Reconceituação na realidade brasileira, onde RUPTURA DO SERVIÇO SOCIAL CONSERVADOR PARA A CONSTRUÇÃO PROJETO ÉTICO POLÍTICO 112 este se constituiu a partir da realização de semi- nários e encontros profissionais que objetivavam discutir metodologia e a teorização referentes ao Serviço Social. Nesse sentido, Netto (2011) aponta que o pro- cesso de renovação do Serviço Social no Brasil caracterizou-se pelo desenvolvimento de três tendências durante o período compreendido entre a segunda metade da década de 1960 até a década seguinte, a saber: a perspectiva moder- nizadora, a reatualizadora do conservadorismo e a de intenção de ruptura. De acordo com o autor, a perspectiva moder- nizadora, desenvolvida nos marcos da ditadura militar, privilegiou a permanência de valores e ©shutterstock RUPTURA DO SERVIÇO SOCIAL CONSERVADOR PARA A CONSTRUÇÃO PROJETO ÉTICO POLÍTICO 113 princípios profissionais “tradicionais”, mas a par- tir de novas roupagens, à luz da teoria estrutural funcionalista com o objetivo de proporcionar legi- timidade ao papel e aos procedimentos do Serviço Social. Netto (2011) pontua ainda que somente com o amadurecimento do movimento de reconceituação, ocorrido na década de 1970, é que se tornou inteli- gível que tal perspectiva expressou a renovação da profissão nos moldes da ditadura militar. Yazbek (2006) assevera tal afirmação ao apon- tar que no Brasil, por conta do cerceamento da liberdade de opinião política, tal movimento se iniciou por meio da opção por um projeto “tecnocrático/modernizador” que se expres- sam nos documentos dos encontros de Araxá e Teresópolis. Ao realizar a opção pela “modernização con- servadora” nos moldes do sistema econômico, político e ideológico vigente no país, não se evi- dencia a ausência de profissionais combativos e que se articulavam em torno da destruição do conservadorismo no interior da categoria pro- fissional e na sociedade como um todo, pelo contrário, uma vez que suas atuações se davam RUPTURA DO SERVIÇO SOCIAL CONSERVADOR PARA A CONSTRUÇÃO PROJETO ÉTICO POLÍTICO 114 em espaços como as Comunidades Eclesiais de Base e outras organizações que, diferentemente da primeira citada, passaram a desenvolver suas ações na clandestinidade. Na época da ditadura militar, aconteceram dois seminários sobre teorias do Serviço Social, sendo o Seminário de Araxá (MG) e o Seminário de Tere- sópolis (RJ). O documento de Araxá, como ficou famoso, foi escrito por 39 profissionais do Serviço Social, e discutia sobre o rompimento com as ba- ses conservadoras da profissão, como por exem- plo, o processo de Casos, Grupos e Comunidades. Vale ressaltar que a proposta não era sobre um rompimento geral, mas sim uma reformulação, utilizando o tradicional em novos pilares. Fonte: a autora. RUPTURA DO SERVIÇO SOCIAL CONSERVADOR PARA A CONSTRUÇÃO PROJETO ÉTICO POLÍTICO 115 A MATRIZ MODERNIZADORA DO SERVIÇO SOCIAL Com a primeira vertente concorre a tendência reatualizadora do conservadorismo, a qual, nos dizeres de Netto (2011), aglutinou um conjunto de profissionais resistentes às mudanças e que defendiam a recuperação de elementos conserva- dores da profissão, relativos à sua estreita relação com a Igreja Católica e que caracterizou os pri- meiros anos da existência profissional, aliada a uma “nova” base teórico metodológica, recusando tanto a teoria positivista quanto a teoria crítica. Na vertente em questão, o que se verifica é uma reatualização do passado “[...] com um consciente esforço para fundá-lo em matrizes intelectuais mais sofisticadas” (NETTO, 2011, p. 157). O autor ainda salienta que a terceira pers- pectiva constitutiva do processo de renovação profissional é conhecida como intenção de rup- tura. Essa tendência caracteriza-se pela crítica que realiza ao Serviço Social tradicional e pelo RUPTURA DO SERVIÇO SOCIAL CONSERVADOR PARA A CONSTRUÇÃO PROJETO ÉTICO POLÍTICO 116 intento de romper com seus parâmetros teóri- cos, metodológicos, técnicos e políticos. Para tanto, ela recorre à tradição teórica de Marx. Embora sua inserção na realidade se realize nos anos iniciais dadécada de 1970, apenas com o acirramento da crise do regime militar e com o desenvolvimento do “marxismo acadêmico” é que essa perspectiva se torna sólida. Em suma, essa vertente é marcada pela opo- sição ao tradicionalismo profissional, mas apresenta certas fragilidades decorrentes da lacuna existente entre a intenção de romper com a herança conservadora da profissão e as possibilidades concretas de fazê-lo. Tendo por referencial a análise de Netto (2011), pode-se destacar que o desenvolvimento de uma perspectiva crítica no interior da catego- ria profissional foi fruto de um contexto social e histórico que impulsionou o seu surgimento. Faleiros (2005, p. 25) valida a assertiva em ques- tão ao expor que: Nesse contexto, a formulação de um pen- samento crítico no serviço social, vincu- lado à luta de classes, não foi obra de ne- nhum “iluminado”, mas o resultado de RUPTURA DO SERVIÇO SOCIAL CONSERVADOR PARA A CONSTRUÇÃO PROJETO ÉTICO POLÍTICO 117 um processo histórico complexo de lutas, de resistência ao imperialismo e à ordem dominante, de organização das classes subalternas e de construção de um proje- to político de aliança de intelectuais com os dominados, explorados e oprimidos, na luta por mudanças profundas. Ainda que o Movimento de Reconceituação tenha proporcionado à categoria profissional a aproximação com teorias diferentes da posta pelo Serviço Social tradicional e se esboças- sem as primeiras tentativas de reflexão sobre a atuação profissional e de críticas quanto à sua forma e conteúdo, o compromisso com a classe trabalhadora e a postura crítica com relação ao tradicionalismo que permeava a profissão só são efetivados com o esgotamento do regime mili- tar no país. Contexto no qual ressurgem as lutas dos movimentos sociais abafados pelo governo ditatorial e em que a categoria profissional dis- põe de condições para, de fato, romper com a ética da “neutralidade”. RUPTURA DO SERVIÇO SOCIAL CONSERVADOR PARA A CONSTRUÇÃO PROJETO ÉTICO POLÍTICO 118 PROJETOS SOCIETÁRIOS Os projetos societários possuem estreita rela- ção com os projetos profissionais e, de acordo com Netto (2004), possuem em seu interior o modelo de sociedade que objetivam ser consti- tuído, os valores que justificam essa construção e os meios pelos quais ele será efetivado. No posicionamento de Netto (2004, p. 143), “Em sociedades como a nossa, os projetos societários são, necessária e simultaneamente, projetos de classe [...]”, os quais possuem uma dimensão política, que envolvem as relações de poder. Teixeira e Braz (2009, p. 04) comungam com a visão de Netto e ainda pontuam que: Todo projeto [...] numa sociedade clas- sista, têm uma dimensão política [...] Ou seja, se desenvolvem em meio às contra- dições econômicas e políticas engendra- das na dinâmica das classes sociais anta- gônicas. Na sociedade em que vivemos (a do modo de produção capitalista), elas são a burguesia e o proletariado. RUPTURA DO SERVIÇO SOCIAL CONSERVADOR PARA A CONSTRUÇÃO PROJETO ÉTICO POLÍTICO 119 Face ao exposto, entende-se que os proje- tos societários podem ser tanto de cunho transformador da ordem social posta quanto conservador, e, necessariamente, presentes em todos os demais projetos coletivos, inclusive no interior dos projetos profissionais. Netto (2004) destaca que tanto os projetos profissionais quanto os projetos societários são coletivos, mas a diferença existente entre ambos reside no fato de que os projetos societários são mais abrangentes e suas propostas são direciona- das para todo o conjunto social. No que se refere aos projetos profissionais, o autor aponta que estes: [...] apresentam a autoimagem de uma profissão, elegem os valores que a legi- timam socialmente, delimitam e priori- zam seus objetivos e funções, formulam os requisitos (teóricos, práticos e institu- cionais) para o seu exercício, prescrevem normas para o comportamento dos pro- fissionais e estabelecem as bases das suas relações com os usuários de seus servi- ços, com as outras profissões e com as or- ganizações e instituições sociais privadas e públicas [...] (NETTO, 2004, p. 144) RUPTURA DO SERVIÇO SOCIAL CONSERVADOR PARA A CONSTRUÇÃO PROJETO ÉTICO POLÍTICO 120 O autor destaca ainda que os projetos profissio- nais são construções de categorias profissionais, ou seja, um sujeito coletivo e para que ele se solidi- fique e adquira legitimidade perante a sociedade é imprescindível que sua base seja composta por um corpo profissional muito bem organizado. Assim, o Serviço Social enquanto uma pro- fissão socialmente necessária possui um projeto profissional que fora construído a partir do rom- pimento com o histórico conservadorismo e do redimensionamento profissional, que culminou no estabelecimento de um compromisso com as lutas da classe trabalhadora no sentido de desenvolver ações profissionais que não apenas atendam às suas demandas, mas que favoreça a correlação de forças, fortalecendo o projeto de sociedade dessa classe. Nesse sentido, Silva (1995, p. 421) aponta que: [...] o que se denominou projeto ético polí- tico [...] vinculou-se fortemente com uma capacidade de pensar a realidade a partir do método crítico dialético, em que toma o fundamento econômico da questão social como ponto de partida para a realização das diversas análises sobre a realidade social. RUPTURA DO SERVIÇO SOCIAL CONSERVADOR PARA A CONSTRUÇÃO PROJETO ÉTICO POLÍTICO 121 Dessa forma, as análises realizadas pelo profis- sional são convertidas em estratégias de atuação que se efetivam na realidade social por meio dos instrumentais de trabalho do assistente social, tendo em vista o direcionamento conferido pelo profissional para o atendimento das necessi- dades da classe trabalhadora, usuária de seus serviços profissionais. Por ser constituído e legitimado por uma categoria, isso não confere ao projeto profissio- nal um caráter homogêneo e não significa de maneira alguma que não são realizados apon- tamentos, críticas ou questionamentos quanto à sua pertinência ou conteúdo, ao contrário, como bem sinaliza Netto (2008, p. 145): Mais exatamente, todo o corpo profissional é um campo de tensões e de lutas. A afirmação e consolidação de um projeto profissional em seu próprio interior não suprime as divergên- cias e contradições. Tal afirmação deve fazer- -se mediante o debate, a discussão, a persu- asão – enfim, pelo confronto de ideias e não por mecanismos coercitivos e excludentes. [...] mesmo um projeto que conquiste hege- monia nunca será exclusivo. RUPTURA DO SERVIÇO SOCIAL CONSERVADOR PARA A CONSTRUÇÃO PROJETO ÉTICO POLÍTICO 122 Ademais, para o autor, os projetos profissio- nais demandam sempre uma fundamentação de natureza ética. Contudo, essa base ética, reque- rida por tais projetos, não se limita às normas morais ou à prescrição de direitos e deveres, mas abarca também as opções ideológicas, políticas e teóricas dos profissionais, uma vez que “[...] uma indicação ética só adquire efetividade his- tórico-concreta quando se combina com uma direção político profissional” (NETTO, 2008, p. 148), daí o caráter ético-político do projeto profissional do Serviço Social. No que se refere à sua relação com o projeto societário, o projeto ético político do Serviço Social é marcadamente atrelado a um projeto de sociedade que reclama a transformação em sua estrutura econômica, pois, assim como Teixeira e Braz (2009, p. 05) salientam: Não há dúvidas de que o projeto ético-po- lítico do Serviço Social brasileiro está vin- culado a um projeto de transformação da sociedade. Essa vinculação se dá pela pró- pria exigência que a dimensão política da intervenção profissional põe. Ao atuarmos RUPTURA DO SERVIÇO SOCIAL CONSERVADOR PARA A CONSTRUÇÃO PROJETO ÉTICO POLÍTICO 123 no movimento contraditório das classes, acabamos por imprimir uma direção so- cial às nossas ações profissionais que favo- recem a um ou a outro projeto societário. O projeto ético-políticodo Serviço Social, enquanto uma projeção coletiva de um grupo, se relaciona com os interesses mais amplos da sociedade, uma vez que possui uma ligação com algum dos projetos societários existentes em seu interior. Urge esclarecer que, inserido numa conjun- tura adversa, tal qual presenciamos atualmente, o projeto ético-político do Serviço Social, assim como a própria categoria profissional, estão sendo colocados à prova, haja vista que o projeto societário burguês, hegemônico na realidade brasileira, é colidente e dissonante ao projeto defendido pelo Serviço Social, pois, assim como Forti (2008, p. 208-209) esclarece: Vivemos uma crise profunda que, tendo em vista as marcas do redimensionamento da economia, da redução da participação do Estado e da abertura à concorrência interna- cional, iniciada no país nos anos 1990, nos leva a questionamentos sobre os rumos da RUPTURA DO SERVIÇO SOCIAL CONSERVADOR PARA A CONSTRUÇÃO PROJETO ÉTICO POLÍTICO 124 história humana, do país e do Serviço Social. Assistimos ao paradoxo de um país de vasto potencial econômico, como é o Brasil, que, ao lado de sofisticação tecnológica para pro- dução, exibe crescente aumento da precari- zação do trabalho, fome, violência e desam- paro de um significativo contingente de seus cidadãos. [...] assistimos à criminalização da pobreza, a um “retorno” da consideração da “questão social” como caso de polícia e não de política, à “informalização” e à vulnera- ção do trabalho pelo subcontrato, pela inser- ção temporária gerando fragilidade técnica e organizativa, pela perda de direitos, pela di- minuição de postos, pela instabilidade/inse- gurança e pela sua intensificação. A esse respeito, Netto (2005) destaca que o con- texto no qual o Serviço Social está inserido, junto às demais profissões, passa a exigir uma discussão coletiva que envolva todo o corpo pro- fissional, onde se realize um confronto amplo de ideias e posicionamentos ao passo que “[...] só nos resta, enquanto categoria profissional, pre- servar, contra ventos e marés, a autonomia para conduzir e aprofundar as exigências do projeto ético-político [...]” (NETTO, 2005, p. 24). RUPTURA DO SERVIÇO SOCIAL CONSERVADOR PARA A CONSTRUÇÃO PROJETO ÉTICO POLÍTICO 125 Frente a esse contexto é que os profissionais de Serviço Social são chamados a desenvolver suas ações à luz de um projeto profissional constru- ído coletivamente, nos marcos do rompimento com o conservadorismo, e que assume publica- mente o seu compromisso com a luta da classe trabalhadora. Cabe-nos agora continuar o pro- cesso reflexivo acerca da atuação profissional na realidade e do projeto ético-político do Serviço Social, tendo em vista que, assim como Netto (2008, p. 154) nos esclarece, o projeto profissio- nal é “[...] também um processo, em contínuo desdobramento”. Desta feita, entender os rumos da categoria profissional na atual conjuntura e com ele o significado do pro- jeto ético-político se faz mister uma vez que é apenas a partir da reflexão, ancorada na matriz teórico-metodo- lógica crítica, que são desvelados os limites e © sh ut te rs to ck RUPTURA DO SERVIÇO SOCIAL CONSERVADOR PARA A CONSTRUÇÃO PROJETO ÉTICO POLÍTICO 126 possibilidades da intervenção profissional e que ainda possibilita a construção de estratégias de intervenção que responda, de fato, aos anseios da classe trabalhadora. O PROJETO ÉTICO-POLÍTICO DO SERVIÇO SOCIAL E O PROJETO NEOLIBERAL A realidade político-econômica brasileira con- tribuiu para uma atualização de posicionamento cada vez mais crítica do fazer profissional do Serviço Social, exigindo uma revisão teórica de seu pressuposto teórico-técnico-metodológico comprometida com a classe trabalhadora. Assim, o Serviço Social, à luz da vertente modernizadora da profissão, e mais precisamente com a constituição do seu projeto ético-polí- tico que se consolida no contexto de transição dos anos 1970 aos 1980, período este de rede- mocratização da sociedade brasileira, deu um salto de avanço e amadurecimento nos marcos da década de 1990. RUPTURA DO SERVIÇO SOCIAL CONSERVADOR PARA A CONSTRUÇÃO PROJETO ÉTICO POLÍTICO 127 O Serviço Social deixou pra trás o conser- vadorismo profissional, sintonizado com as transformações societárias que afetam direta- mente a economia, o trabalho, a produção, a política, o Estado, marcadas pela acumulação flexível (Harvey) e pelo modelo do neolibera- lismo vigente no país. A década de 1970 demarca de maneira sólida o rompimento com o conservadorismo histo- ricamente constitutivo da essência do Serviço Social e que norteava o desenvolvimento do trabalho desse profissional até então. Dentre os fatores históricos que concorre- ram para o alcance de tal patamar, destaca-se o esgotamento do regime militar, ocorrido a ©shutterstock RUPTURA DO SERVIÇO SOCIAL CONSERVADOR PARA A CONSTRUÇÃO PROJETO ÉTICO POLÍTICO 128 partir de 1974, por conta do fracasso de suas propostas enquanto um sistema que proporcio- naria o desenvolvimento próspero do Brasil e de sua inviabilidade política, bem como o res- surgimento de movimentos sociais e de lutas em torno da abertura democrática. Netto (2008) valida tal assertiva ao pontuar que a entrada dos operários da indústria auto- mobilística do ABC paulista na cena política, representando uma frente popular comba- tiva e contrária à permanência dos militares no poder, representou um duro golpe para o regime ditatorial na medida em que estes sujei- tos conseguiram aglutinar também outra gama de trabalhadores assalariados e movimentos sociais às lutas em favor da abertura democrá- tica. Assim sendo: [...] o protagonismo operário traz à tona a crise do regime ditatorial, torna-a intei- ramente visível no final dos anos 1970 e a conduz a seu momento terminal: compele a oposição burguesa a avançar, inviabiliza a reprodução do regime ditatorial e cria condições para projeções societárias dife- rentes no Brasil. (NETTO, 2008, p. 663) RUPTURA DO SERVIÇO SOCIAL CONSERVADOR PARA A CONSTRUÇÃO PROJETO ÉTICO POLÍTICO 129 Nesse contexto, o Serviço Social se apropria das condições histórico-sociais postas e estabelece seu compromisso ético e político profissio- nal com a classe trabalhadora, rompendo com as amarras impostas pelo conservadorismo e dando seus primeiros passos rumo à adoção efetiva de uma teoria social crítica. Ademais, nos anos finais da década de 1970, um acontecimento em especial representa o esta- belecimento desse compromisso com a classe trabalhadora. Em 1979, ocorre o III Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais, que mais tarde ficou conhecido como o “Congresso da Virada”, evento no qual essa categoria profissional esta- beleceu publicamente um compromisso com a luta das classes subalternas. Bravo (2009) salienta que mudanças foram introduzidas na programação original do Congresso pela recém-constituída Comissão Executiva Nacional de Entidades Sindicais de Assistentes Sociais (CENEAS), dentre as quais a autora destaca: RUPTURA DO SERVIÇO SOCIAL CONSERVADOR PARA A CONSTRUÇÃO PROJETO ÉTICO POLÍTICO 130 ■ A troca dos homenageados, que passaram a ser os trabalhadores combativos e que luta- ram pela democracia; ■ A análise das políticas setoriais deveriam ser realizadas a partir da perspectiva da tota- lidade e levando-se em conta sua ligação com o modo de produção capitalista; ■ Integrantes de movimentos sociais partici- pariam em todas as mesas e painéis; ■ Realização de uma discussão referente às condições de trabalho e remuneração dos assistentes sociais, bem como a realização de uma mesa de encerramento composta por líderes sindicais e de movimentos sociais. A autora pontua ainda que durante o evento “foram realizadas assembleias diárias para ava- liar as alterações e garantir a direção social crítica aprovada na primeira assembleia reali- zada” (BRAVO, 2009, p. 689). Essas alterações foram as responsáveis pela “virada” ocorrida no Congressona medida em que colocaram na ordem do dia reflexões e RUPTURA DO SERVIÇO SOCIAL CONSERVADOR PARA A CONSTRUÇÃO PROJETO ÉTICO POLÍTICO 131 análises vinculadas ao novo contexto social e his- tórico no qual o Serviço Social estava inserido, enquanto uma profissão com atuação essencial- mente ligada à realidade social assim como à classe operária, que historicamente constituiu- -se como usuária de seus serviços profissionais. Netto (2008, p. 669) enfatiza a importância desse evento para a categoria profissional tendo em vista que: Sublinhar a relevância política do III Congresso é fundamental. Entretanto, a sua relevância não se esgota aí: a ruptura com o monopólio político conservador teve implicações que contribuíram deci- sivamente para o desenvolvimento global do Serviço Social no Brasil. Esse congresso representou para a categoria profis- sional o início de um conjunto de proposições que representam um marco histórico do compromisso do projeto profissional com a classe trabalhadora, às suas demandas e lutas, e que tornaria evidente a necessidade de transformações em seus aparatos institucionais, ou seja, na estrutura curricular de formação dos profissionais e revisão do Código de Ética Profissional. Dessa forma: RUPTURA DO SERVIÇO SOCIAL CONSERVADOR PARA A CONSTRUÇÃO PROJETO ÉTICO POLÍTICO 132 [...] já na entrada dos anos 1980, na antiga Abess foi possível desalojar o conservado- rismo (político e acadêmico) e dar curso à elaboração de consistentes projetos de for- mação profissional, redimensionando efe- tivamente a qualificação acadêmica dos as- sistentes sociais [...]. (NETTO, 2008, p. 670) Tanto a elaboração do novo currículo para cur- sos de graduação em Serviço Social quanto a revisão do Código de Ética Profissional foram objetos de análise e discussões coletivas do corpo profissional na década de 1980, momento no qual se acirraram as lutas em torno da aber- tura democrática e que derrotaram o regime ditatorial. Após 1982, as oposições e articulações políti- cas em torno das eleições diretas para presidente foram favorecidas e já no ano seguinte a grande mobilização pela “Diretas Já” tomou forma. Permeados por esse contexto, a categoria pro- fissional deu um salto qualitativo no que diz respeito às bases de sua sustentação político pro- fissional no interior dessa nova conjuntura e que representava, de maneira legal e efetiva, o esta- belecimento de um compromisso ético e político RUPTURA DO SERVIÇO SOCIAL CONSERVADOR PARA A CONSTRUÇÃO PROJETO ÉTICO POLÍTICO 133 com os usuários de seus serviços profissionais. Além disso, apontava para um direcionamento social crítico e para a construção de um projeto de profissão. Barroco (2005) destaca que a influência gramsciana foi evidente na elaboração desse novo currículo e na revisão do Código de Ética Profissional, que deu origem à versão de 1986, pontuando ainda que: A formação profissional recebe novos di- recionamentos, passando a contar como um currículo explicitamente orientado para uma formação crítica e comprome- tida com as classes subalternas. Em 1986, o Código de Ética [...] é reelaborado, bus- cando-se garantir uma ética profissional objetivadora da nova moralidade profis- sional. (BARROCO, 2005 A, p. 168) Nessa perspectiva, Ramos (2005, s/p.) valida a assertiva de Barroco (2005 A) ao expor que: Em 1982, é regulamentado o Currículo Mínimo para os cursos de Serviço Social do país, a partir da proposta discutida desde 1979. Essa nova proposta curricu- lar representou, juntamente com o Códi- RUPTURA DO SERVIÇO SOCIAL CONSERVADOR PARA A CONSTRUÇÃO PROJETO ÉTICO POLÍTICO 134 go de Ética de 1986, uma profunda reno- vação profissional [...] O centro da revisão curricular de 1979/1982 foi a conexão da formação com a realidade brasileira em um momento de redemocratização e as- censão das lutas dos trabalhadores. Desse modo, é importante ressaltar que a mola propulsora dessa metamorfose ocorrida no inte- rior da categoria profissional foi a realidade social com suas possibilidades e contradições, inerentes ao sistema econômico que conduz a forma pela qual a realidade está organizada. Ademais, a adoção da teoria social crítica contribuiu sobremaneira para a constituição de um novo perfil profissional e consubstan- ciou o novo rumo ético-político da profissão a partir daquele momento. A apropriação de tal referencial teórico se deu, primeiramente, de uma forma equivocada, mas, após o amadure- cimento da própria categoria profissional, esses impasses foram superados e na década de 1980: [...] os eventos nacionais, gradativamente, revelam um contorno crítico e politizado. A produção marxista supera os equívocos das primeiras aproximações, o ethos pro- RUPTURA DO SERVIÇO SOCIAL CONSERVADOR PARA A CONSTRUÇÃO PROJETO ÉTICO POLÍTICO 135 fissional é auto-representado pela inser- ção do assistente social na divisão sócio- -técnica do trabalho, como trabalhador assalariado e cidadão (BARROCO, 2005, p. 168). No que se refere à revisão operada sobre o Código de Ética Profissional, Silva (1995) destaca que ela se desenvolveu durante cerca de três anos e envolveu um contingente profissional significa- tivo em todos os estados brasileiros. A autora salienta ainda que tal instrumento teve origem “[...] a partir de um movimento que se contra- punha ao conservadorismo e tentava resgatar um espaço social para os atores que se articu- laram em busca da redemocratização” (SILVA, 1995 p. 141). Importante destacar que o Código de Ética Profissional de 1986 rompeu com a perspectiva da neutralidade profissional e assumiu expli- citamente o compromisso profissional com a classe trabalhadora. Para Paiva e Sales (2003, p. 175), tal instrumento representou: [...] um marco da ruptura ética e ideopo- lítica do Serviço Social com a perspectiva do neotomismo e também com o funcio- RUPTURA DO SERVIÇO SOCIAL CONSERVADOR PARA A CONSTRUÇÃO PROJETO ÉTICO POLÍTICO 136 nalismo, influências tradicionais do Ser- viço Social até então. Isto fica evidente quando, de maneira simples, esse código postula novos deveres para os assistentes sociais, tais como democratizar as infor- mações e tentar alterar a correlação de forças no âmbito institucional. Ao referir-se aos avanços contidos no Código de 1986, Barroco (2005) confirma a visão de Paiva e Sales (2005) e ainda expõe que este instru- mento se propôs a garantir o desenvolvimento de uma atuação profissional referenciada pela busca de capacitação que permitisse ao assis- tente social “[...] pesquisar, elaborar, gerir e decidir a respeito das políticas sociais e pro- gramas institucionais [...]” (BARROCO, 2005 C, p. 119). Desta feita, tanto a revisão curricular quanto a do Código de Ética Profissional, ocorridas na década de 1980, foram importantes aconte- cimentos para o início da constituição de um projeto de profissão crítico e comprometido com a classe trabalhadora. Assertiva que encon- tra respaldo em Barroco (2005 A, p. 170): RUPTURA DO SERVIÇO SOCIAL CONSERVADOR PARA A CONSTRUÇÃO PROJETO ÉTICO POLÍTICO 137 O Código e a reformulação curricular de 1982 são marcos de um mesmo proje- to que pressupõe o compromisso ético- político com as classes subalternas e a ex- plicitação da direção social da formação e da prática profissional. Teoricamente considerados [...] como orientadores de um ethos que expressa a moralidade do projeto de ruptura. Ainda na década de 1980 se constitui como um importante elemento para a formação e consolidação deste novo projeto profissional a mobilização da sociedade civil e de movimen- tos sociais em torno da Assembleia Nacional Constituinte, instituída em 1986, com a fina- lidade de elaboração de uma nova Carta Constitucional. A esse respeito, Behring e Boschetti (2008) argumentam que, no período pós abertura democrática, foi constituída uma Articulação Nacional de Entidades pela Mobilização Popular na Constituinte, a qual reuniu lideranças, movi- mentossociais, partidos políticos e indivíduos comprometidos com os princípios da democra- cia e que fizeram parte de grupos de trabalho que RUPTURA DO SERVIÇO SOCIAL CONSERVADOR PARA A CONSTRUÇÃO PROJETO ÉTICO POLÍTICO 138 discutiam as possibilidades de inserção de artigos na Carta Constitucional. Nas palavras das autoras: Alguns trabalhos mostram o processo de luta, a participação dos sujeitos políticos, profissionais e de usuários, e que foram decisivos para a formatação legal dos di- reitos sociais no Brasil, pela primeira vez sob inspiração beveridgiana. (BEHRING; BOSCHETTI, 2008, p. 144) Assim sendo, não é demais destacar que a Constituição Federal (CF) promulgada em 1988, também conhecida como Constituição Cidadã, é expressão das lutas de movimentos sociais e da sociedade civil organizada, primeiramente, em torno da abertura política e, posteriormente, da imposição ao Estado de suas demandas e a explicitação da necessidade de sua incorpora- ção e conversão em direitos sociais. Por meio da consagração de direitos sociais e da instituição do tripé da Seguridade Social, formado pelas políticas de Assistência Social, Saúde e Previdência Social, sendo as duas primei- ras não contributivas e a última uma política de direitos condicionada à contribuição, desenvol- ve-se o aparato legal por meio do qual o Estado RUPTURA DO SERVIÇO SOCIAL CONSERVADOR PARA A CONSTRUÇÃO PROJETO ÉTICO POLÍTICO 139 se torna a figura central na elaboração e imple- mentação de políticas sociais que garantam aos cidadãos a materialização dos direitos sociais postos na CF. Desse modo, evidencia-se que a década de 1980, juntamente ao seu contexto social e his- tórico, representa para a categoria profissional um marco no seu processo de amadurecimento, assim como Iamamoto (2005, p. 90) argumenta: Assim, os anos 1980 marcam a travessia para a maioridade intelectual e profissional dos assistentes sociais, para a sua cidada- nia acadêmico-política. Essa maturação foi decisivamente condicionada pela inserção da categoria profissional nas lutas mais amplas pela conquista e aprofundamento da democratização da vida social: do Es- tado e da sociedade no país, no horizonte da socialização da política e da economia. Muito embora o novo currículo de 1982 assim como o Código de Ética de 1986 tenham sido importantes instrumentos norteadores do novo RUPTURA DO SERVIÇO SOCIAL CONSERVADOR PARA A CONSTRUÇÃO PROJETO ÉTICO POLÍTICO 140 compromisso assumido pela categoria profis- sional, estes apresentaram certas fragilidades, as quais precisaram ser revistas já na década seguinte. De acordo com Gentilli (2005), o currículo de 1982 foi extremamente relevante na medida em que introduziu elementos teóricos importantes e que coadunavam com o novo posiciona- mento assumido pela categoria, mas rechaçava o aspecto técnico do trabalho profissional, oca- sionando equívocos e lacunas no processo de formação profissional. O autor argumenta que: Deixou-se, em decorrência disto, de apro- fundar o conhecimento da especificidade profissional; esqueceu-se de tornar o as- sistente social um técnico competente e eficiente, além de crítico; superestimou- -se o papel da crítica ideológica e subesti- mou-se a importância das determinantes empíricas fundamentais para a formação profissional. (GENTILLI, 2005, p. 129) No que tange às fragilidades apresentadas pelo Código de Ética de 1986 e que resultaram em sua reformulação, Paiva e Sales (2005) apon- tam para sua inconsistência teórica e filosófica, RUPTURA DO SERVIÇO SOCIAL CONSERVADOR PARA A CONSTRUÇÃO PROJETO ÉTICO POLÍTICO 141 bem como para as debilidades apresentadas em sua operacionalização no cotidiano profissio- nal. Nas palavras das autoras, tal instrumento: [...] se propunha muito mais a dar conta do aspecto político e educativo do que dessa di- mensão normativa. [...] Tinha-se quase um ensinamento do como fazer, e não do que se deve ou não deve fazer frente aos compromis- sos assumidos. (PAIVA; SALES, 2005, p. 176) Ademais, as autoras enfatizam que um código deve expor a forma pela qual a ação profissional pode ser desenvolvida, à luz de princípios éticos constitutivos do projeto profissional. Paiva e Sales (2005) pontuam ainda que o Código de 1986 foi considerado por muitos sujeitos pro- fissionais “[...] como uma ‘carta de intenções’, com algumas expressões nos seus artigos que são vagas, ambíguas e sem um significado mais objetivo”. Assim sendo, o período compreendido entre fins da década de 1980 e início dos anos 1990 apontou a necessidade de articulação da cate- goria profissional tendo em vista a reflexão e RUPTURA DO SERVIÇO SOCIAL CONSERVADOR PARA A CONSTRUÇÃO PROJETO ÉTICO POLÍTICO 142 discussão conjunta das necessárias reformula- ções nos instrumentos que viabilizam a atuação do assistente social na realidade, período no qual são deflagradas transformações na estrutura eco- nômica da sociedade brasileira ao mesmo tempo em que o projeto ético-político do Serviço Social adquire bases sólidas e se afirma no interior da categoria profissional como um horizonte a ser buscado pelos assistentes sociais. No início da década de 1990 a categoria pro- fissional adquire sua maturidade ao passo que, assim como Koike (2009, p. 12) afirma: Com renovada capacidade intelectiva, éti- co-política e organizativa, a categoria profis- sional, as unidades acadêmicas, docentes e discentes da graduação e pós-graduação, sob a coordenação de suas entidades representa- tivas apresentaram-se, à entrada dos anos de 1990, para um amplo repensar coletivo e de- mocrático da profissão. Cabia redimensio- nar o projeto profissional, a partir de então denominado projeto ético-político, frente às alterações no mundo do trabalho, nas mani- festações da questão social, nas práticas do Estado e suas relações com as classes sociais. RUPTURA DO SERVIÇO SOCIAL CONSERVADOR PARA A CONSTRUÇÃO PROJETO ÉTICO POLÍTICO 143 Importante ressaltar que o contexto que perme- ava essa discussão era o de avanço do ideário neoliberal sobre a realidade brasileira, o qual se efetivara por meio de sólidas bases propor- cionadas pelo governo de Fernando Henrique Cardoso. De acordo com Soares (2003), a partir da orientação neoliberal, a forma de organiza- ção da sociedade e do Estado se transforma à medida que esse sistema preconiza uma série de mudanças “[...] centradas na desregulamen- tação dos mercados, na abertura comercial e financeira, na privatização do setor público e na redução do Estado [...]” (SOARES, 2003, p. 19). A adoção do receituário neoliberal não ocorre por mero acaso, mas se trata de um mecanismo adotado pelo próprio modo de produção capi- talista para superação de uma crise estrutural inerente à sua natureza, tendo em vista salva- guardar o seu processo de acumulação. RUPTURA DO SERVIÇO SOCIAL CONSERVADOR PARA A CONSTRUÇÃO PROJETO ÉTICO POLÍTICO 144 Assim é que na década de 1990 assistimos à difusão do ideário neoliberal sobre a sociedade brasileira, solapando os recém-conquistados direi- tos sociais num contexto em que o Estado deixa de investir em políticas sociais, as quais, nos dizeres de Soares (2003, p. 27), “[...] passam a ser substi- tuídas por ‘programas de combate à pobreza’, que tratam de [...] ‘minimizar’ os efeitos do ajuste sobre os ‘mais pobres’ ou os ‘mais frágeis’”. Ademais, a autora pontua que o neolibera- lismo significa um retrocesso histórico uma vez que desloca a responsabilidade pelo bem-estar social do âmbito coletivo e a transfere aos indi- víduos e comunidades. Sob essa trama complexa e contraditória é que o projeto ético-político do Serviço Social adquire sua maturidade e são constituídas as estruturas que lhe efetiva na realidade. Assertiva que encontra respaldo em Koike (2009, p. 11): É nos anos 1990, porém, no duro embate com a ofensiva neoliberal que captura o Estado brasileiro, agravando ainda mais a histórica concentração de renda e suprimindo direitosgarantidos em lei, que o projeto profissional do Serviço Social se consolida no país. RUPTURA DO SERVIÇO SOCIAL CONSERVADOR PARA A CONSTRUÇÃO PROJETO ÉTICO POLÍTICO 145 Nessa perspectiva, Teixeira e Braz (2009) siste- matizam o projeto profissional e pontuam que ele adquire materialidade por meio da produ- ção de conhecimentos no interior do Serviço Social, das instâncias político-organizativas da profissão e de sua dimensão jurídico-política. De acordo com os autores, é por meio da pro- dução de novos conhecimentos que se apresentam a sistematização do processo de trabalho profis- sional bem como o exercício reflexivo sobre ele. Sob este prisma, Teixeira e Braz (2009) afir- mam que são as instâncias político-organizativas que compreendem os fóruns de deliberação e as entidades da profissão e que permitem a dis- cussão coletiva da categoria profissional acerca do projeto ético-político. Já a dimensão jurídico-política, conforme apon- tamentos dos autores, diz respeito às bases legais, ou seja, leis, resoluções, documentos e textos políticos aprovados pela categoria profissional e indispen- sáveis para o desenvolvimento de seu processo de trabalho e que abrange tanto um sistema norma- tivo de caráter geral, do qual as legislações sociais fazem parte assim como as demais leis que regem RUPTURA DO SERVIÇO SOCIAL CONSERVADOR PARA A CONSTRUÇÃO PROJETO ÉTICO POLÍTICO 146 a vida em sociedade, e outro especificamente pro- fissional, do qual fazem parte o Código de Ética Profissional, a lei de regulamentação da profissão e as diretrizes curriculares. Com relação ao Código de Ética, importante instrumento para o desenvolvimento do processo de trabalho profissional, a sua construção foi pau- tada pela perspectiva de superação das fragilidades inerentes ao Código de 1986, resguardando os avanços expressos em seu interior. Nesse sentido, Paiva et al. (2005, p. 161) argumentam que: [...] essa revisão só tem sentido se forem superadas as insuficiências ali inscritas, preservando-se as conquistas expressas naquele Código [...] Não se trata, pois, de abrir mão dos princípios e dos objeti- vos que, no Código de 1986, garantiram à profissão uma vinculação explícita às forças sociais progressistas e uma propos- ta profissional compatível com essa dire- ção social. Entendemos, portanto, que a necessária revisão deve operar-se com a manutenção de uma clara opção por um projeto social e de um nítido projeto profis- sional. RUPTURA DO SERVIÇO SOCIAL CONSERVADOR PARA A CONSTRUÇÃO PROJETO ÉTICO POLÍTICO 147 Paiva e Sales (2005) validam essa afirmação e ainda evidenciam que o processo de constru- ção da versão do Código de Ética de 1993 se desenvolveu a partir da perspectiva de constituir esse instrumento como um norte ético-polí- tico, estabelecendo de maneira clara os valores e compromissos éticos profissionais, e a partir da necessidade de aperfeiçoamento de sua dimen- são normativa, elencando uma série de normas jurídico-legais a fim de respaldar a intervenção profissional no cotidiano. Ademais, há de se ressaltar que durante sua elaboração havia o anseio, por parte da categoria profissional, de convertê-lo em um instrumento que defendesse o exercício profissional do assis- tente social bem como a qualidade dos serviços prestados. Assim sendo, Paiva e Sales (2005, p. 181) afirmam que: [...] sua estrutura é composta de quatro títulos, sendo o terceiro destinado a nor- matizar as diferentes relações que o pro- fissional estabelece no exercício do Ser- viço Social – com usuários, instituições RUPTURA DO SERVIÇO SOCIAL CONSERVADOR PARA A CONSTRUÇÃO PROJETO ÉTICO POLÍTICO 148 empregadoras, outros profissionais e en- tidades -, bem como regular, por meio de capítulos específicos, o sigilo profissional e a relação do assistente social com a Jus- tiça. O Código de Ética Profissional de 1993 possui princípios que fundamentam os dispostos nos artigos que o compõe e no entendimento de Paiva e Sales (2005) eles são complementares entre si, proporcionando a base sobre a qual a ação profissional será desenvolvida. Dessa forma, temos que o primeiro prin- cípio trata-se do “reconhecimento da li- berdade como valor ético central e das demandas a ela inerentes: autonomia, emancipação e plena expansão dos indi- víduos sociais” (CFESS, 1993, s/p). Na visão das autoras, a liberdade só pode ser entendida enquanto tal se ela se desenvolver de maneira coletiva, considerando as individuali- dades de cada sujeito: RUPTURA DO SERVIÇO SOCIAL CONSERVADOR PARA A CONSTRUÇÃO PROJETO ÉTICO POLÍTICO 149 Para tanto, é preciso garantir as deman- das que a ela se vinculam – autonomia, emancipação e plena expansão dos indi- víduos sociais. Sabe-se, contudo, que esse projeto de realização da liberdade é co- lidente coma dinâmica social capitalista, que em si é limitadora da liberdade, quase sempre reduzida aos seus termos formais e jurídicos. (PAIVA; SALES, 2005, p. 182) O segundo princípio refere-se à “defesa intransi- gente dos direitos humanos e recusa do arbítrio e do autoritarismo” (CFESS, 1993, s/p), o qual passa a exigir do profissional a adoção de uma postura contrária a qualquer tipo de violência física e moral dos indivíduos, degradando a sua dignidade enquanto ser humano. Esse posicionamento requer do assistente social um compromisso com a população que atende, uma vez que as expressões da questão social vêm se acirrando cada vez mais, contribuindo para o processo de embrutecimento da sociedade que, alimentada “[...] pela ideologia dominante cini- camente indiferente, faz vista grossa às várias e sutis formas de violação dos direitos humanos” (PAIVA; SALES, 2005, p. 185). RUPTURA DO SERVIÇO SOCIAL CONSERVADOR PARA A CONSTRUÇÃO PROJETO ÉTICO POLÍTICO 150 O princípio que se segue diz respeito à “ampliação e consolidação da cidadania, considerada tarefa primordial de toda a sociedade com vistas a garantia dos di- reitos civis, políticos e sociais das classes trabalhadoras” (CFESS, 1993, s/p). De acordo com Paiva e Sales (2005), esse princípio é muito importante para o projeto ético-político profissional na medida em que o assistente social atua na viabilização de direitos aos usuários dos serviços prestados pela instituição na qual está inserido. Assim sendo, o processo de trabalho profissional se organiza em torno das deman- das dos usuários, dos direitos e políticas sociais. Na concepção das autoras, a cidadania “[...] consiste na universalização dos direitos sociais, políticos e civis, pré-requisitos estes fundamen- tais à sua realização” (PAIVA; SALES, 2005, p. 187). O quarto princípio consiste na “defesa do aprofundamento da democracia, enquanto socialização da participação política e da riqueza socialmente produzida” (CFESS, 1993, s/p). RUPTURA DO SERVIÇO SOCIAL CONSERVADOR PARA A CONSTRUÇÃO PROJETO ÉTICO POLÍTICO 151 O patamar de desenvolvimento da demo- cracia ora requerida evidencia a necessidade de socializar a riqueza produzida por meio do trabalho coletivo e distribuir a renda oriunda desse trabalho de maneira igualitária. A democracia almejada pela categoria profis- sional requisita igualdade de acesso dos sujeitos a condições de vida dignas bem como igual- dade de oportunidades. Nesse sentido, as autoras pontuam que a cate- goria profissional, ao se posicionar em favor dessa concepção de democracia e cidadania, questiona a lógica do modo de produção capitalista. Assim, de acordo com Paiva e Sales (2005, p. 190): No âmbito da relação que se estabelece entre o assistente social e o usuário, ser democrático significa romper com as práticas tradicionais de controle, tutela e subalternização. E, mais, contribuir para o alargamento dos canais de participação dos usuários nas decisões institucionais, entre outras coisas, por meio da ampla socialização de informações sobre os di- reitos sociais e serviços. RUPTURA DO SERVIÇO SOCIAL CONSERVADOR PARA A CONSTRUÇÃO PROJETO ÉTICO POLÍTICO152 O princípio seguinte expõe o “posicionamento em favor da equidade e justiça social, de modo a assegurar a universalidade de acesso aos bens e serviços relativos aos programas e políticas sociais, bem como sua gestão democrática” (CFESS, 1993, s/p). Para Paiva e Sales (2005), a justiça social aponta para a necessidade do estabelecimento da igualdade entre os indivíduos, não apenas a igualdade formal, mas que ela se efetive na reali- dade. A concepção das autoras acerca da justiça social é de que ela tenta corrigir as deturpações oriundas do modo de produção capitalista e se constitui como um valor que deve ser buscado. Desse modo: A defesa da equidade e da justiça social funciona, pois, como signo da luta pelo efetivo processo de democratização do acesso e usufruto dos serviços sociais. Ao par dessa referência e medida fundamen- tais, a ação profissional se põe por inteiro a serviço do compromisso com a univer- salidade de direitos e de alcance das con- quistas e riquezas sociais. (PAIVA; SALES, 2005, p. 191) RUPTURA DO SERVIÇO SOCIAL CONSERVADOR PARA A CONSTRUÇÃO PROJETO ÉTICO POLÍTICO 153 O sexto princípio aponta a necessidade de “empenho na eliminação de todas as formas de preconceito, o respeito à diversidade, à partici- pação de grupos socialmente discriminados e à discussão das diferenças” (CFESS, 1993, s/p). Paiva e Sales (2005) salientam que essa temá- tica é de extrema importância na discussão ética. De acordo com as autoras, o preconceito é um pensamento que se origina a partir da expe- riência vivida e que se manifesta por meio de estereótipos, sendo ainda generalizador. O indivíduo só se livra de seus preconceitos a partir da superação do senso comum e quando assume para si a responsabilidade de fazer parte de um processo de desalienação. Assim sendo, os assistentes sociais precisam: [...] formular estratégias de ação visando contribuir para a desalienação dos dife- rentes atores com os quais contracena- mos no espaço institucional. Outrossim, é dever do assistente social incentivar o respeito à diversidade, a participação dos grupos discriminados e a explicitação e o debate das diferenças. Esta é uma das mais RUPTURA DO SERVIÇO SOCIAL CONSERVADOR PARA A CONSTRUÇÃO PROJETO ÉTICO POLÍTICO 154 importantes parcelas que nos compete como profissionais e cidadãos na cons- trução de uma cultura humanista, demo- crática e plural. (PAIVA; SALES, 2005, p. 196) A “garantia do pluralismo, por meio do respeito às correntes profissionais democráticas existen- tes e suas expressões teóricas, e do compromisso com o constante aprimoramento intelectual” (CFESS, 1993, s/p).é o sétimo princípio partícipe do Código de Ética Profissional e constitutivo do projeto ético-político. Para Paiva e Sales (2005), esse princípio supõe uma convivência entre as diferentes matrizes teó- ricas e políticas existentes no interior do Serviço Social, garantindo a cada uma delas liberdade de expressão. Válido ressaltar que a concepção de plura- lismo aqui esboçada refere-se ao pluralismo com hegemonia, ou seja, um pluralismo que permite a discussão de ideias e pontos de vista diferentes, no qual o debate se concentra no combate às ideias e posições políticas, mesmo mediante a predominância de uma corrente teórica. RUPTURA DO SERVIÇO SOCIAL CONSERVADOR PARA A CONSTRUÇÃO PROJETO ÉTICO POLÍTICO 155 O oitavo princípio dispõe sobre a “opção por um projeto profissional vinculado ao processo de construção de uma nova ordem societária, sem dominação – exploração de classe, etnia e gênero” (CFESS, 1993, s/p). De acordo com Paiva e Sales (2005), a cate- goria profissional estabeleceu seu compromisso ético-político a partir de ideais igualitários e libertários inerentes às lutas da classe trabalha- dora. Partindo de tal princípio, os assistentes sociais devem desenvolver suas ações profis- sionais a partir da perspectiva emancipatória. As transformações deflagradas no interior da categoria profissional e que culminaram na cons- tituição de seu novo perfil são decorrentes das mudanças ocorridas na própria sociedade brasileira. DESMISTIFICANDO CONCEITOS – SERVIÇO SOCIAL – ASSISTÊNCIA SOCIAL E ASSISTENCIALISMO Agora que já refletimos sobre o quanto o Serviço Social vem evoluindo à medida que as transformações da sociedade ocorrem, vejamos a diferença entre: RUPTURA DO SERVIÇO SOCIAL CONSERVADOR PARA A CONSTRUÇÃO PROJETO ÉTICO POLÍTICO 156 SERVIÇO SOCIAL: é uma profissão de nível su- perior regulamentada pela Lei 8.662/1993. ASSISTENTE SOCIAL: é um profissional com graduação superior de Bacharel em Serviço Social (em curso reconhecido pelo MEC) que, para trabalhar, deve obrigatoriamente ter o seu registro no Conselho Regional de Serviço Social (CRESS) do estado em que trabalha. ASSISTÊNCIA SOCIAL: é uma política pública prevista na Constituição Federal como um direito de todo cidadão e cidadã, as- sim como a saúde, a educação, a previdência social. É regulamentada pela Lei Orgânica da Assistência Social (Loas) e pelo Sistema Único da Assistên- cia Social (Suas). ASSISTENCIALISMO: é uma prática voluntária de oferta de um serviço por meio de uma doação, favor, boa vontade, e não como um direito. Fonte: Adaptado de Assistente... (2016). RUPTURA DO SERVIÇO SOCIAL CONSERVADOR PARA A CONSTRUÇÃO PROJETO ÉTICO POLÍTICO 157 RUPTURA DO SERVIÇO SOCIAL CONSERVADOR PARA A CONSTRUÇÃO PROJETO ÉTICO POLÍTICO 158 CONSIDERAÇÕES FINAIS Caro (a) aluno (a), chegamos ao término da segunda unidade. Apresentamos a você as vertentes teóricas que são o norte da prática profissional do Serviço Social, o processo de ruptura com o conservadorismo e como isso influenciou na elaboração do Código de Ética que rege a profissão. Também trouxemos a matriz modernizadora do Serviço Social. Tudo isso teve o objetivo de demonstrar como foi a evolução histórica da profissão bem como as teorias que são a base da intervenção profissional. Analisamos também a relação entre a ação capita- lista e o trabalho do assistente social que tinha na contrariedade das classes sociais sua motivação. Esclarecemos o processo de mudança que caracterizou o processo de renovação do Serviço Social Brasileiro e também a política cultural e educacional que era ativa nesse período. Também desmistificamos alguns conceitos relacionados à profissão, esclarecendo as diferen- ças entre Serviço Social, que, como sabemos, é uma profissão de nível superior regulamentada pela Lei 8.662/1993; assistente social, que é um RUPTURA DO SERVIÇO SOCIAL CONSERVADOR PARA A CONSTRUÇÃO PROJETO ÉTICO POLÍTICO 159 profissional com graduação superior de Bacharel em Serviço Social (em curso reconhecido pelo MEC), que, para trabalhar, deve obrigatoria- mente ter o seu registro no CRESS do estado em que trabalha; assistência social, que, como já estudado, é uma política pública prevista na CF como um direito de todo cidadão e cidadã, assim como a saúde, a educação, a previdência social. É regulamentada pela LOAS e pelo SUAS; e, por fim, o assistencialismo, que é uma prática voluntária de oferta de um serviço por meio de uma doação, favor, boa vontade e não como um direito. É importante que você saiba a diferença des- ses conceitos, para repassar essas informações, pois muitos ainda pensam que é tudo a mesma coisa, e como vimos, não é. Dessa forma, encerramos nossa segunda unidade, e convidamos você a refletir verda- deiramente sobre os temas apresentados. Boa leitura, bom estudo. Até a próxima unidade! 1. Sabemos que a aproximação do Serviço Social à teoria positivista não resultou em transformações na sua maneira de pensar e agir sobre a sociedade, sendo assim, qual foi o resultado dessa aproximação? 2. O Código de Ética de 1947 era conservador, como já vimos ao decorrer deste capítulo, regendo que o profissional deveria atuar seguindo os princípios cristãos que eram vinculados à Igreja Católica. Sendo assim, exemplifique o que mais o referido Código versavasobre a atuação do assistente social. 3. No final da década de 1970, houve um acon- tecimento em especial. Qual foi o aconteci- mento e o que ele estabeleceu? 4. Diferencie assistência social, Serviço Social, assistente social e assistencialismo. 5. A categoria profissional almeja democracia, mas isso exige alguns requisitos. Quais são? Segue trecho de um artigo sobre a diferença entre assistência social e assistencialismo. Es- peramos que goste! A Assistência Social e o Assistencialismo: desafio da garantia de direitos pelos Assis- tentes Sociais Segundo o guia de políticas e programas do Ministério do Desenvolvimento Social e Com- bate à Fome (MDS), a assistência social, a par- tir da Constituição Federal de 1988, passou a integrar o Sistema de Seguridade Social, como política pública não contributiva. Portanto, como direito do cidadão e dever do Estado. Mas vincular a assistência social a direito é algo complicado. Para a autora Potyara, em seu artigo Assistência Social e Democracia no Brasil Contemporâneo: a assistência social é geralmente iden- tificada com um ato mecânico e emer- gencial de mera provisão, desvinculada da linguagem dos direitos e de projetos coletivos de mudança social. A própria palavra em si nos remete a termos asso- ciativos, tais como assistencialismo, ajuda, esmo- la, piedade, e outras coisas do gênero. É histórica a associação dos termos assistência e assisten- cialismo, no que diz respeito às políticas sociais. O histórico da Assistência Social, antes de se tornar uma política pública, é caracte- rizado pelo assistencialismo, pelo clien- telismo, pela caridade, pelo voluntariado e estes sentidos ainda estão presentes no cotidiano desta política (PESTANO, 2006). A Assistência Social, como preceitua o Artigo 203 da Carta Magna, será prestada a quem dela necessitar. Nestes termos, já não é requisito a pobreza, mas sim a vulnerabilidade momen- tânea ou a fragilidade em si mesma, como a maternidade, velhice, infância, por exemplo. Art. 1º A assistência social, direito do cidadão e dever do Estado, é Política de Seguridade Social não contributiva, que provê os míni- mos sociais, realizada através de um conjunto integrado de ações de iniciativa pública e da sociedade, para garantir o atendimento às ne- cessidades básicas. Art. 2º A assistência social tem por objetivos: I – a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice; II – o amparo às crianças e adolescentes carentes; III – a promoção da integração ao merca- do de trabalho; IV – a habilitação e reabilitação das pesso- as portadoras de deficiência e a promoção de sua integração à vida comunitária; V – a garantia de 1 (um) salário mínimo de benefício mensal à pessoa portadora de deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover a própria manu- tenção ou de tê-la provida por sua família. Parágrafo único. A assistência social realiza-se de forma integrada às políticas setoriais, visan- do ao enfrentamento da pobreza, à garantia dos mínimos sociais, ao provimento de con- dições para atender contingências sociais e à universalização dos direitos sociais. A assistência social pode ser considerada como uma estratégia para responder à questão das necessidades sociais e enfrentamento da po- breza. Assistência enquanto direito e dever do Estado, assumindo status de política pública no tripé do projeto de seguridade social, jun- tamente com a Previdência e Saúde. No campo da seguridade a assistência social é proteção, portanto, deve operar preventi- va e protetivamente nas situações de risco social. Deve prover proteção social básica e especial, isto é, a assistência social estuda o processo de proteção social, de previdên- cia e da saúde. Não se limita ao domicílio, pois chega até aos que estão nas ruas; não se limita ao legal ou ao formal; não restrin- ge, por exemplo, a atenção ao transgressor. Ela é extensiva. (SPOSATI, 2004) No momento em que a lei normatiza os obje- tivos para a Assistência Social, torna-se maior a responsabilidade do profissional de Serviço Social, que irá efetivar essas normas, devido à complexidade social existente. De uma forma geral, é na pessoa do Assistente Social que o receptor da política de assistência vai perceber, ou não, que a ação ali em movi- mento é o exercício de seu direito e não um fa- vor ou um ato de assistencialismo do Estado; ou na pior das hipóteses, do agente que a está praticando, o assistente social. Não deve também o Assistente Social violar a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, conforme o estabelecido no item X, mesmo que considere fundamental fazê-lo para, por exemplo, proteger e amparar crian- ças e adolescentes, item II, do artigo 203. Também é claro, que pelo artigo 5º, item XI, a casa é inviolável, ninguém nela pode entrar sem autorização judicial, portanto, o Assisten- te Social ao prestar proteção à infância ou à velhice, deve agir consciente de sua limitação, sabedor de que a intervenção na moradia deve obedecer ao estabelecido em lei. Na atuação em presídios, o assistente social deve orientar ao preso e à sua família, do direi- to a informações, item XIV, do artigo 5º. Deve, também, defender os direitos do preso, con- forme item III, que prevê que ninguém será submetido à tortura. A trajetória do direito no Brasil perpassa por muitos momentos históricos e políticos em que o Estado conduziu e ditou normas e dire- trizes para a sua concessão e controle. E neste controle entre o direito e a assistência, muitas vezes concedida como ajuda, o profissional que mais esteve em foco foi o Assistente So- cial; que só se institucionalizou como profis- são, rompendo com a filantropia, a partir do momento em que o Estado passa a intervir di- retamente nas relações trabalhistas, a fim de atuar na “questão social”. O serviço social era o recurso mobilizado pelo Estado. A profissão, diante de um código de ética com- prometido com a sociedade, na defesa de um projeto ético-político estruturado, leva a cabo a defesa irredutível dos direitos de seu usuário. Visualizar a trajetória da Assistência Social é per- ceber a própria trajetória do Serviço Social e, mais ainda, a trajetória do direito e da cidadania. A Assistência Social enquanto direito é ato de cidadania. E enquanto necessidade básica é dever do Estado. Nestes sentidos tão singula- res e complexos está a atuação de um profis- sional que atua na contrapartida da garantia de direitos e humanização do sistema com o comprometimento ético político da profissão. Fonte: Rodrigues e Guedes (2011). MATERIAL COMPLEMENTAR Código de Ética do/a Assistente Social Comentado Autor: Maria Lucia Barroco e Sylvia Helena Terra Editora: Cortez Sinopse: Este livro preenche uma lacuna, pois não havia até agora um texto acadêmico destinado a comentar o Código de Ética em vigor, de 1993, na sua totalidade. As autoras comentam o Código em seus fundamentos sócio-históricos e ontológicos, bem como em suas reais possibilidades de materialização, no contexto de uma sociabilidade fundada na acumulação e na propriedade privada. GABARITOGABARITOGABARITO 1. A aproximação reatualizou a faceta conser- vadora da profissão, afora o fato de que, a partir daquele momento, as questões de ordem social eram explicadas por meio de técnicas científicas. 2. Frente ao Código Conservador, os profissio- nais deviam seguir os princípios cristãos e isso implicava também em seguir um de seus de- veres fundamentais que era honrar os com- promissos que foram assumidos, sempre res- peitando a lei de Deus, os direitos do homem, embasando suas ações no bem comum e na lei, lembrando do juramento feito diante do testemunho de Deus. E também deveria res- peitar o usuário de seus serviços, tendo por base a sua dignidade enquanto ser humano, inspirando-se na fé cristã. 3. Em 1979, aconteceu o III Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais, que posteriormente fi- couconhecido como o “Congresso da Virada”. 4. Foi nesse Congresso que a categoria profis- sional do Serviço Social estabeleceu publi- camente um compromisso com a luta das classes subalternas. GABARITO SERVIÇO SOCIAL: é uma profissão de nível superior regulamentada pela Lei 8.662/1993. ASSISTENTE SOCIAL: é um profissional com graduação superior de Bacharel em Serviço Social (em curso reconhecido pelo MEC), que, para trabalhar, deve obrigatoriamente ter o seu registro no Conselho Regional de Servi- ço Social (CRESS) do estado em que trabalha. ASSISTÊNCIA SOCIAL: É uma política pú- blica prevista na Constituição Federal como um direito de todo cidadão e cidadã, assim como a saúde, a educação, a previdência social. É regulamentada pela Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS) e pelo Sistema Único da Assistência Social (SUAS). ASSISTENCIALISMO: é uma prática voluntária de oferta de um serviço por meio de uma doa- ção, favor, boa vontade e não como um direito. 5. A igualdade de acesso dos sujeitos a con- dições de vida dignas bem como igualdade de oportunidades UNIDADE III U N ID A D EIII Professora Me. Maria Cristina Araújo de Brit Cunha Professora Esp. Fernanda Carvalho Basilio Hernandez O SERVIÇO SOCIAL NO CONTEXTO DAS POLÍTICAS SOCIAIS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM ■ Conceituar o que é questão social e suas múltiplas expressões. ■ Entender a questão social como objeto de intervenção do assistente social. ■ Identificar o papel das políticas sociais no enfrentamento das expressões da questão social. ■ Explicar o contexto do Serviço Social nas políticas sociais. U N ID A D E PLANO DE ESTUDO A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: ■ O Serviço Social no contexto das políticas sociais face às expressões da questão social ■ O processo histórico da participação popular no Brasil ■ Processo histórico de construção da política de assistência social no Brasil III Professora Me. Maria Cristina Araújo de Brit Cunha Professora Esp. Fernanda Carvalho Basilio Hernandez O SERVIÇO SOCIAL NO CONTEXTO DAS POLÍTICAS SOCIAIS O SERVIÇO SOCIAL NO CONTEXTO DAS POLÍTICAS SOCIAIS 175 INTRODUÇÃO Nesta unidade, iremos estudar o significado da questão social e o seu desdobramento face às múltiplas manifestações, que se constitui no objeto de intervenção do cotidiano da ação profissional do assistente social, a partir da pers- pectiva da análise crítica dos seguintes eixos: os impactos da revolução industrial, o processo de globalização, o desemprego estrutural no con- texto da sociedade capitalista. É um tema instigante pelo fato de tratar de questões sociais relevantes que revelam as maze- las da nossa sociedade, das denuncias severas às precárias condições de vida dos brasileiros que vivem à margem da linha da pobreza, ou seja, trata-se da fome e da miséria que assola a classe empobrecida. Por outro, buscou-se trazer, para o centro de nosso estudo, o debate acerca da ação interven- tiva do assistente social no cenário das políticas sociais, onde atua diretamente nas expressões da questão social pelo acesso aos direitos dos serviços socioassistenciais, para o atendimento das necessidades de indivíduos e famílias que O SERVIÇO SOCIAL NO CONTEXTO DAS POLÍTICAS SOCIAIS 176 se encontram em situação de vulnerabilidade, seja material ou social, incluindo-se também a classe trabalhadora e, ao mesmo tempo em que contribui para o processo de reprodução desta força de trabalho, mantendo-a viva e apta para a ocupação sazonal do capital. Dada a relevância e a importância para a formação profissional, tem-se como proposta apresentar e contextualizar o cenário das políticas sociais reguladas pelo Estado e sua configuração como respostas ao enfrentamento das inúme- ras demandas sociais que surgem na sociedade contemporânea. Espero que aprecie o estudo e que este o(a) motive o suficiente para que possa absorver o máximo de aprendizagem. Boa leitura, bom estudo! O SERVIÇO SOCIAL NO CONTEXTO DAS POLÍTICAS SOCIAIS 177 O SERVIÇO SOCIAL NO CONTEXTO DAS POLÍTICAS SOCIAIS FACE AS EXPRESSÕES DA QUESTÃO SOCIAL Buscando compreender e decifrar a intervenção do Serviço Social nas múltiplas expressões da questão social, Iamamoto (2000, p. 115) salienta que sendo as múltiplas expressões da questão social o objeto sobre o qual incide o trabalho profissional, é importante reconhecer que um dos aspectos centrais da questão social, hoje, é a ampliação do desemprego e a ampliação da precarização das relações de trabalho. © sh ut te rs to ck O SERVIÇO SOCIAL NO CONTEXTO DAS POLÍTICAS SOCIAIS 178 O processo de globalização, de forma acirrada, desencadeia a incorporação de novos padrões nacionais de atividades econômicas, levando à competição externa e à elevação da produtividade e rentabilidade. E a falta de uma política protetora do emprego e da indústria nacional, em que pre- domina a lógica do capital, faz com que aumente o desemprego no país, uma vez que os operários são substituídos por mão de obra terceirizada. De acordo com Iamamoto (2000), o desdo- bramento da questão social é também a questão da formação da classe operária e de sua entrada no cenário político, da necessidade de seu reco- nhecimento em nível de Estado e, portanto, da implantação de políticas que, de alguma forma, levem em consideração seus interesses. Os primeiros indícios de o povo querer um governo que não ignore as necessidades do indi- víduo começam a surgir com os movimentos pós-ditadura, que surgiram no processo da aber- tura política. A consolidação disso ocorre em 1988 com a nova Constituição Federal (CF), conhecida como a Carta Cidadã, por trazer como tripé constitucional as áreas de Saúde, Previdência Social e Assistência Social que, O SERVIÇO SOCIAL NO CONTEXTO DAS POLÍTICAS SOCIAIS 179 a partir desse momento, deixam de ser uma atitude de um governo populista que usava o Serviço Social como forma de benevolência. O PROCESSO HISTÓRICO DA PARTICIPAÇÃO POPULAR NO BRASIL A década de 1960 ficou marcada pela ascensão de movimentos de esquerda que ocasionará num movimento reverso, a fim de conter tais ideologias como descreve Dias: Nos primeiros anos da década [1960], re- gistrou-se, num nível praticamente sem procedentes na história brasileira, cresci- mento da influência da esquerda na vida nacional, assim como a proliferação de movimentos sociais diversos, representa- tivos dos trabalhadores - do campo e da cidade - e estudantes. Foi um período de hegemonia do Partido Comunista Brasi- leiro (PCB) sobre o universo da esquerda, com seu projeto de revolução democráti- co-nacional,a qual, considerada como eta- pa prévia à revolução socialista, articula- O SERVIÇO SOCIAL NO CONTEXTO DAS POLÍTICAS SOCIAIS 180 va-se com campanhas pelas reformas de base (agrária, universitária etc), de cunho nacionalista e anti-imperialista. (DIAS, 2003, p. 09) Com o intuito de conter o crescimento dos movimentos esquerdistas, influenciados por Revoluções Socialistas, a solução foi dar um golpe, como no caso do Brasil, de caráter militar: O golpe militar teria sido, segundo Campos (1994), uma medida emergencial e transi- tória para a subversão e evitar o mal maior, gestado principalmente durante o gover- no João Goularte: a revolução da esquerda. Criticando determinadas avaliações aca- dêmicas para as quais não teriam ocorri- do, na primeira metade da década de 1960, real ameaça à ordem burguesa, Gorender (1987) avalia que esse período registrou o ponto mais alto das lutas populares neste século e que nos primeiros meses de 1964, havia uma situação pré-revolucionária. Por isso mesmo,em sua avaliação, o golpe de di- reita assumiu característica de contra- pre- ventiva revolução (DIAS, 2003 apud CAM- POS, 1994; GORENDER, 1987 p. 18). O SERVIÇO SOCIAL NO CONTEXTO DAS POLÍTICAS SOCIAIS 181 No período da ditadura militar, a participação da população nas esferas das decisões políticasfoi praticamente eliminada. Cabia ao comando militar estabelecer as regras e a ordem. A pró- pria Assembleia Nacional foi fechada. Os atos institucionais eram formas de cobrir violen- tamente qualquer manifesto contra o regime instituído. Segundo Couto (2004, p. 122), em abril de 1964, o presidente Castelo Branco decreta o 1º Ato Institucional (Al-1), no qual ficava insti- tuído a cassação dos direitos políticos, por dez anos, “[...] aposentou-se um grande número de funcionários públicos civis e militares, os sindi- catos e a União Nacional dos Estudantes (UNE) sofreram intervenções e foram fechados; foram criadas comissões de inquéritos militares; e foram centradas no presidente a decisão sobre política econômica e a tarefa de acabar com os comunistas”. Tanto o Ato Institucional nº 1 como os subsequentes tiveram o papel de moldar as condições objetivas para que o regime O SERVIÇO SOCIAL NO CONTEXTO DAS POLÍTICAS SOCIAIS 182 econômico, político e social fosse implan- tado na sua totalidade, sem interferência e seguindo a lógica de que aos militares era delegada a tarefa de conduzir o país para seu pleno desenvolvimento, sem pe- ríodo de sobressaltos. (COUTO, 2004, p. 122) Na sequência, o AI-2 foi decretado em outu- bro de 1965. Este, por sua vez, abolia a eleição direta e acabava com os partidos políticos, só se permitindo a existência de dois partidos: a Aliança Renovadora Nacional (Arena), na qual se localizava toda sustentação do governo, e o Movimento Democrático Brasileiro (MDB), que, apesar do nome ser a “esquerda”, os opo- sicionistas, era uma oposição “comportada”. E, em consequência, dentre diversas mudan- ças, é importante salientar a forma eleitoral estabelecida, que devido à abolição do voto direto, já mencionado, a eleição se dava por intermédio do Colégio Eleitoral. O Ato Institucional nº 3, de 5 de fevereiro de 1966, determinava o voto indireto para os car- gos de governador e vice-governador, e para O SERVIÇO SOCIAL NO CONTEXTO DAS POLÍTICAS SOCIAIS 183 os prefeitos, o voto por indicação; o AI-4, de 7 de Dezembro de 1966, por sua vez, revogava Constituição de 1946. Com tantos movimentos censurados, a perda dos direitos ocasionou uma indignação na socie- dade civil, expressada por meio de manifestação de diversos segmentos da população. É diante do aumento da indignação de milha- res de brasileiros descontentes que o presidente Costa e Silva, no dia 13 de dezembro de 1968, decreta o AI-5, que retirava definitivamente direitos civis e políticos, o qual caracteriza o regime militar como um período de ditadura: Esse ato consagrou efetivamente o regi- me ditatorial e, por 11 anos, o país foi go- vernado baseado no AI-5. Por meio dele, o Congresso foi fechado, o Executivo foi autorizado a legislar em todas as matérias previstas na Constituição, foram suspen- sas em todas as garantias constitucionais ou legais de vitaliciedade, inamovibili- dade e estabilidade. Permitiu-se ao pre- sidente demitir, remover, aposentar, ou transferir juízes, empregados de autar- quias e militares. (COUTO, 2004, p. 125) O SERVIÇO SOCIAL NO CONTEXTO DAS POLÍTICAS SOCIAIS 184 Em sequência ao AI-5, o governo editou a Constituição de 1969: O campo dos direitos sociais trabalhista permaneceu preservado, quando se refe- riam ao trabalhador de maneira individual. Em relação aos direitos políticos, manteve a proibição de voto aos analfabetos e àque- les que não saibam se exprimir em língua nacional. A garantia de voto foi colocada em uma realidade em que as eleições para presidente da República e para governado- res, bem como as de senadores, não exis- tem; e o regime de exceção foi acionado em qualquer situação considerada perigo- sa pelo governo. (COUTO, 2004, p.125) Tendo como respaldo legal os atos institucio- nais, foi na década de 1970 que se instaurou a censura à imprensa, que sob qualquer ação ofen- siva era entendida como uma ameaça ao Estado autoritário, sendo que os censores tinham todo poder legal junto com a polícia para fazer com que tais leis não fossem destacadas. O SERVIÇO SOCIAL NO CONTEXTO DAS POLÍTICAS SOCIAIS 185 Dessa forma, o Brasil, como toda a América Latina, passou a vivenciar a perda dos direitos polí- ticos e civis, vindo acompanhado dessa série de fatos um agravamento das desigualdades sociais: O regime militar instituído pós-64, for- temente centralizador, contribui para a ampliação das desigualdades na socieda- de. Além disso, com a perda das garantias e liberdades democráticas, em evidente prejuízo dos direitos humanos, aprofun- daram-se os problemas de justiça social. (BATTINI, 2003, p. 35) Nesse sentido, a liberdade e a democracia, tornam-se valores muito caros à sociedade brasileira. Os movimentos de resistência ao governo militar buscaram, antes de tudo, o res- tabelecimento dos princípios democráticos. Em contrapartida à forte censura do regime militar, nessa mesma década de 1970, há um significativo “ressurgimento” da sociedade civil (DAGNINO, 2002). Esse “ressurgimento” avança ou aos poucos até ocasionar no fortalecimento dos movimen- tos sociais de todos os tipos, assim como salienta a Battini (2003 s/p.): O SERVIÇO SOCIAL NO CONTEXTO DAS POLÍTICAS SOCIAIS 186 Como reação a tal centralização, na dé- cada de 1980, advém a chamada abertura democrática, fruto direto das crises polí- ticas e econômicas então existentes. For- talecem-se os movimentos sociais urba- nos e rurais, bem assim o sindicalismo. Os movimentos sociais, mesmo sofrendo ame- aças constantes, perseveraram em busca de melhores condições para a população. Foram esses mesmos movimentos sociais, juntamente com a população civil em geral e os demais mecanismos de mobilização popular, que contri- buíram para que a sociedade não permanecesse por mais tempo no regime ditatorial. O período de transição entre o regime dita- torial e a democracia vai se caracterizar na luta pela retomada de princípios democráticos. Sem dúvida, este processo foi protagonizado pela sociedade civil, com movimentos sociais enca- beçados pela Igreja Católica, partidos políticos e mesmo pela comunidade em geral. Considerada o único núcleo possível de resistência um Estado autoritário, a so- ciedade civil se organizou de maneira substancialmente unificada no combate a O SERVIÇO SOCIAL NO CONTEXTO DAS POLÍTICAS SOCIAIS 187 esse Estado, desempenhando papel fun- damental no longo processo de transição democrática. A luta unificada contra o autoritarismo, que reunia os mais diver- sos setores sociais (movimentos sociais de vários tipos, sindicatos de trabalhado- res, associações de profissionais - como advogados, jornalistas -, universidades, igrejas, imprensa, partidos políticos de oposição, etc.), contribuiu para uma vi- são homogeneizada da sociedade civil que deixou marcas profundas no comba- te teórico e político. (DAGNINO, 2002, p. 09) O período de “abertura política” só será possível no governo de Geisel (1974), mas somente em 1988 se efetivara com a promulgação da nova Constituição Federal. Ao ingressar na década de 1980, o Brasil apresenta um quadro preocupante, como relata Couto (2004, p. 133-134): O cenário brasileiro da época apresentava resultados trazidos do período anterior: a ampliação do déficit público, o endivida- O SERVIÇO SOCIAL NO CONTEXTO DAS POLÍTICAS SOCIAIS 188 mento externo, a crise fiscal, dada a diferen- ça entre o volume despendido pelo governo pela área social e o volume de arrecadação dos recursos, e a crescente mobilização e reivindicação popular pela democratiza- ção da sociedade e pelo atendimento do agravamento da questão social. O governo de João Figueiredo (1979-1984), pres- sionado pelas intensas mobilizações populares coordenadas pelas organizações da sociedade civil, aos poucos foi retomando direitos que o período militar retirara. A Lei da Anistia foi um grande passo que possibilitou a anistia aos perseguidos e aos perseguidores, juntamentecom a abertura partidária, que proporcionou o fim do bipartida- rismo, acarretando a criação de novos partidos. Além disso, diversos movimentos de todos os gêneros se fortaleceram e se expandiram, obrigando o governo a ceder à pressão. Um dos grandes movimentos desse período, sem dúvida nenhuma, foi o movimento pelas “Diretas Já”, o qual culminou na eleição, mesmo que de maneira indireta, de Tancredo Neves, um civil O SERVIÇO SOCIAL NO CONTEXTO DAS POLÍTICAS SOCIAIS 189 apoiado pela oposição e pela população. Mas, tendo em vista seu trágico falecimento, Neves nem ao menos chegou a governar, sendo subs- tituído por seu vice, José Sarney, no período de 1985 a 1990. Muitas mudanças ocorrem no contexto eco- nômico, social e político, do final dos anos 1980 ao início dos 1990, tendo como pano de fundo o ingresso do neoliberalismo, que traz consigo muitas outras características que agravará as relações principalmente no âmbito social, como descreve Dagnino (2002, p. 10): Nos seus efeitos sobre as diferentes áreas da vida social e política, combinando avan- ços, estagnação e até mesmo retrocessos. Esse entendimento permite dar conta da complexa dinâmica que apresenta a cons- trução da democracia como um processo multifacetado que resulta da disputa entre distintos projetos políticos que, no interior da sociedade civil e sobre a própria natu- reza e os limites desse processo. Assim, se a correlação de forças entre esses vários projetos permitiu avanços importantes O SERVIÇO SOCIAL NO CONTEXTO DAS POLÍTICAS SOCIAIS 190 durante o final dos anos 1980, na déca- da de 1990 o efeito dos ajustes estruturais constitutivos das políticas neoliberais veio determinar dificuldades significativas no ritmo da democratização. O agravamen- to das desigualdades sociais e econômicas é um efeito amplamente reconhecido da implantação dessas políticas. Assim ficou marcado o processo de redemo- cratização do país que não pode ser entendido como um movimento linear, ou seja, de fácil compreensão, e de fatos previstos. PROCESSO HISTÓRICO DE CONSTRUÇÃO DA POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NO BRASIL Na perspectiva de análise do processo histó- rico da política da assistência social no Brasil, tem-se como premissa um período que evi- dencia uma intensificação da participação em massa da sociedade civil, no qual o país estava sendo palco de uma política assistencialista, com O SERVIÇO SOCIAL NO CONTEXTO DAS POLÍTICAS SOCIAIS 191 predomínio de desigualdade e exclusão social. Assim ao fazer uma relação entre o Estado e as camadas da sociedade mais empobrecida, esta sempre foi pelo cunho assistencial, reforçando a benemerência da sociedade. É nesse contexto que se dá o auge dos movi- mentos sociais em diferentes setores fortalecidos em prol de uma sociedade mais justa e igualitá- ria, em uma luta por direitos, sendo que estes foram instituídos no Brasil com a CF de 1988, enfatizando o sistema de Seguridade Social. A partir desse sistema, tem início a constru- ção de uma nova concepção para a assistência social brasileira, sendo regulamentada em 1993, como política social pública, tendo em vista um campo novo o dos direitos, da universalização dos acessos e de responsabilidade estatal. É rele- vante pontuar que o protagonismo dos assistentes sociais brasileiros na elaboração da LOAS foi fun- damental. De acordo com Yazbek (2006, p. 127): A LOAS estabelece uma nova matriz para a assistênciasocial brasileira, ini- ciando um processo que tem comopers- pectiva torná-la visível como política pú- blica e direito dos que dela necessitarem. O SERVIÇO SOCIAL NO CONTEXTO DAS POLÍTICAS SOCIAIS 192 A inserção na Seguridade aponta para seu caráter de política de proteção social articulada a outras políticas do campo social voltadas para garantias de direitos e de condições dignas de vida. Diante disso, dentre as mudanças na concepção da assistência social, sem dúvidas, um avanço que permite sua passagem do assistencialismo e de sua tradição de não política para o campo da política pública, assim como política de Estado que passa a ter um intuito de defesa a atenção dos interesses e necessidades sociais dos segmentos mais empobrecidos da sociedade, configuran- do-se, também, como estratégia fundamental no combate à pobreza, à discriminação e à subal- ternidade econômica, cultural e política em que vive grande parte da população brasileira. O marco das participações políticas no cenário brasileiro se dá a partir da promulgação da CF de 1988, quando ocorreram as mudanças de paradigmas para os cidadãos brasileiros, pois, a partir dela, deu-se maior ênfase à questão dos direitos sociais, apro- vando o caráter de Estado Democrático de Direito. Assim como nas políticas sociais públicas de assis- tência social composta na CF nos seguintes artigos: O SERVIÇO SOCIAL NO CONTEXTO DAS POLÍTICAS SOCIAIS 193 Art. 203. A assistência social será presta- da a quem dela necessitar, independente de contribuição à Seguridade Social [...]; Art. 204. As ações governamentais na área da assistência social serão realizadas com recursos do orçamento da segurida- de social, previstos no artigo 195 além de outras fontes, e organizadas com base nas seguintes diretrizes: I - descentralização político-administra- tiva, cabendo a coordenação e as normas gerais à esfera federal a coordenação e a execução dos respectivos programas ás esferas estadual e municipal, bem como a entidades beneficentes e de assistência so- cial; II - participação da população, por meio de organizações representativas, na for- mulação das políticas e no controle das ações em todos os níveis. (BRASIL, 1988) Com a CF de 1988 são instaurados direitos e sub- sídios em defesa do cidadão, articulando uma política pautada em direitos civis, políticos e sociais. O SERVIÇO SOCIAL NO CONTEXTO DAS POLÍTICAS SOCIAIS 194 Diante deste resgate histórico das reações populares e sua participação nos destinos do Brasil, podemos dizer que o povo brasileiro nada tem de passivo, ao contrário, a história nos mostra que desde a colonização até a pro- mulgação da CF de 1988, a população sempre esteve protagonizando sua história e lutando por seus direitos, embora muitas conquistas ainda estejam em processo de construção, pois a CF abriu um amplo leque de possibilidades, de conquistas e de participação. A Constituição de 1988 inova ao trazer, em seu artigo 194, a Seguridade Social como um “conjunto integrado de ações de iniciativa dos A CF é a maior lei brasileira e tornou-se um guia para todas as outras leis, sendo assim a LOAS teve o objetivo de complementar e detalhar o que está na CF, pautada no desafio de executar a política pública de assistência social de forma descentralizada e participativa (Brasil, 2006). Fonte: Brasil (2006). O SERVIÇO SOCIAL NO CONTEXTO DAS POLÍTICAS SOCIAIS 195 Poderes Públicos e da Sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à pre- vidência e à assistência social”. A assistência social passa, então, a ser incumbida ao poder público, devendo estruturar-se com base nos objetivos da lei, com “caráter democrático e descentralizado da gestão administrativa com a participação da comunidade, em especial de trabalhadores, empresários e aposentados”. Mesmo com a Assistência Social incluída no tripé da Seguridade Social em 1988, devido ao contexto político vivenciado na época, foi possível a promulgação da LOAS somente em Encontramos em Iamamoto e Carvalho (2000) res- paldo para validar tal que o processo de trabalho desenvolvido pelo assistente social não redunda na criação de algum objeto, pois quando este agente se afirma enquanto profissional, é chamado a atuar na execução de políticas sociais, elaboradas tanto por organismos públicos quanto privados. Fonte: a autora. O SERVIÇO SOCIAL NO CONTEXTO DAS POLÍTICAS SOCIAIS 196 1993. Isso se dá, pois, em meadosda década de 1990, elabora-se o primeiro projeto contendo as diretrizes e os princípios da LOAS e, mesmo aprovado pelo legislativo, foi vetado pelo pri- meiro presidente a ser eleito por voto direto desde o Período Militar, Fernando Collor de Melo, , justificando que a proposição não estava vinculada à assistência social responsável. Posteriormente, acontecimentos marcariam para sempre a história do Brasil. O impeach- ment de Collor traria à presidência seu vice, Itamar Franco, o qual, juntamente com a arti- culação dos assistentes sociais organizados em uma comissão interlocutora e com o apoio do Conselho Federal de Serviço Social (CFESS), da Associação Brasileira de Ensino Pesquisa e Extensão de Serviço Social (ABEPESS), e com o auxílio dos Conselhos Regionais de Serviço Social (CRESS), discutiram e debateram artigo por artigo do texto proposto. Esse momento único ficaria conhecido como Conferência Zero da Assistência Social, na qual se faziam presentes “parlamentares, líderes de governo, emissários do ministro, e a deputada Fátima Pellaes, relatora do projeto de lei” (SPOSATI, O SERVIÇO SOCIAL NO CONTEXTO DAS POLÍTICAS SOCIAIS 197 2004, p. 58-59). Foi dessa reunião histórica que seria aprovado o texto base que permanece com- pondo a Lei Orgânica da Assistência Social e que foi aprovada em dezembro de 1993. A partir dessa conquista de âmbito legal, o até então Conselho Nacional de Serviço Social (CNSS), é substituído pelo Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS), que será um órgão ímpar na luta pela efetivação da Lei Orgânica. Mesmo com a aprovação da LOAS em 1993, somente em 1995 que foi realizada a I Conferência Nacional da Assistência Social, resultado de uma mobilização contínua da população civil organizada articulada com o CNAS. A Política Nacional da Assistência Social (PNAS)–, presente primeiramente na LOAS, deve ser entendida como uma política em cons- trução, pois somente a partir da IV Conferência Nacional da Assistência Social, realizada em dezembro de 2003, na cidade de Brasília, que se aprova a PNAS na perspectiva de se implantar o Sistema Único da Assistência Social (SUAS), objetivando estruturar as diretrizes propostas inicialmente na LOAS (RAICHELIS, 2005). O SERVIÇO SOCIAL NO CONTEXTO DAS POLÍTICAS SOCIAIS 198 CONSIDERAÇÕES FINAIS Chegamos ao final da terceira unidade, na qual avançamos nossos estudos para ampliar o conhecimento sobre o contexto sócio histó- rico em que se inscreve o objeto de estudo do Serviço Social: a questão social e seus desdo- bramentos nas múltiplas expressões sociais que representam as várias faces do sistema econô- mico vigente. O grande propósito deste estudo foi evidenciar do que trata as demandas sociais como desafio para o Estado, a sociedade e o Serviço Social. Vimos que entender a ação profissional do assistente social, e de que forma este intervém na realidade social, requer um mergulho na história econômica e política do país, com um olhar mais crítico sobre como se estabelecem as relações de produção e reprodução social na sociedade capitalista. Sabe-se que ainda temos muitos desafios a enfrentar no campo profissional, dada a situa- ção de desigualdades sociais presentes na nossa sociedade e que demandam do Serviço Social a necessidade de intervenção sob o olhar técnico O SERVIÇO SOCIAL NO CONTEXTO DAS POLÍTICAS SOCIAIS 199 para a realidade que se apresenta pelas diver- sas expressões das questões socais, a exemplo do desemprego, a violência, a fome, número de escolas insuficientes, o acesso à saúde, a habita- ção, crianças, adolescentes e adultos em situação de rua, dependência de álcool e outras drogas, entre tantas outras consequências de violação de direitos que imperam no sistema capitalista vigente. A resposta a esses desafios está intima- mente relacionada à intervenção profissional do assistente social na realidade dos sujeitos que procuram por atendimento nos setores públicos e privados para o acesso às políticas públicas e sociais. As políticas sociais surgem dos movimentos sociais por pressão ao Estado, em resposta às precárias condições de vida gera- das pelas desigualdades sociais. 1. O auge dos movimentos sociais em diversos setores foi fortalecido em prol de uma socie- dade mais justa e igualitária. Discorra sobre o contexto histórico que esse evento ocorreu. 2. Qual o objetivo da LOAS em relação a Cons- tituição Federal de 1988? 3. No processo de abertura política, que é quando os movimentos pós-ditadura sur- gem, começam a aparecer também os pri- meiros indícios de o povo querer um gover- no que não ignore suas necessidades. Como isso se consolida? 4. Qual a premissa tida na perspectiva de aná- lise do processo histórico da política de as- sistência social no Brasil? 5. O que é e quando foi aprovada a PNAS? O QUE É QUESTÃO SOCIAL? Dentro do universo do Serviço Social fala-se constantemente em questão social. Mas o que significa questão social, como surgiu e quais são suas expressões? A “expressão ‘questão social’ tem um histórico re- cente e começou a ser utilizada na terceira déca- da do século XIX. Surge para nomear o fenômeno do pauperismo. A pauperização da população trabalhadora é o resultado do capitalismo indus- trial e crescia da mesma maneira que aumentava a produção”, segundo Netto (2001 p. 42). Questão social é produto e expressão da con- tradição entre capital e trabalho. O complexo da questão social é um desafio histó- rico estrutural, que resulta das contradições con- cretas entre capital e trabalho, a partir do moder- no processo de industrialização capitalista, tendo como determinantes o empobrecimento da clas- se trabalhadora, a consciência dessa classe e a luta política dessa classe contra seus opressores. Essa contradição é oriunda do desenvolvimen- to da sociedade, em que o homem tem acesso à cultura, natureza, ciência e às forças produti- vas do trabalho social; e do outro lado, cresce a distância entre concentração/acumulação de capital e aumenta a miséria, a pauperização. Vejamos algumas questões objetivas e subje- tivas para o surgimento da questão social: Questões objetivas para o surgimento da ques- tão social: → Surgimento de novos problemas vinculados às modernas condições de trabalho urbano; → Aparecimento da burguesia e proletariado; → Introdução de uma nova forma de explora- ção, diferente da escravista e feudal, escondi- da na produção (liberdade); → Pauperização crescente da classe trabalhadora. Questões subjetivas para o surgimento da questão social: → Consciência da classe trabalhadora de sua situação de exploração, permitindo que pas- sasse de uma “classe em si” a uma classe “para si”, impondo os seus interesses; → Organização dos trabalhadores para encon- trar respostas às suas necessidades sociais; → Inclusão das demandas dos trabalhadores no discurso dos políticos, classe dominante, como uma questão que ameaçava a coesão social. → Reconhecimento que o pauperismo era um fato histórico, produzido e reproduzido social- mente, passível de enfrentamento e superação. → Pressão dos trabalhadores para uma regula- ção baseada na cidadania. Fica claro que a industrialização, acompanha- da da urbanização, constituiu o processo de- sencadeador da questão social, em que as relações sociais e econômicas pré-industriais foram desmanteladas pelo avanço das forças produtivas que respondem primariamente pe- las mudanças estruturais. A pobreza, para ser a pré-condição estrutural da questão social, precisou ser politicamente problematizada. Segundo Pereira (2003 p. 119) “[...] os graves de- safios atuais são produtos da mesma contradi- ção entre capital e trabalho, que gerou a questão social no século XIX, mas que, contemporanea- mente, assumiram enormes proporções e não foram suficientemente problematizados.” Desse modo, a questão social só se torna “ques- tão social” quando ela for problematizada o su- ficiente, reconhecida e assumida por umdos setores da sociedade, com o objetivo de en- frentá-la, torná-la pública e de transformá-la em demanda política, no sentido de “resolver” o problema. Não basta reconhecê-la enquan- to realidade bruta da pobreza e da miséria; é preciso ser problematizada em seus dilemas, mas no cenário da crise do nosso Estado de bem-estar, da justiça social, do papel do Esta- do e do sentido da responsabilidade pública. Assim, a questão social só se apresenta em suas objetivações, em projetos que determi- nam prioritariamente o capital sobre o traba- lho, em que o objetivo é acumular capital e não garantir condições de vida para a população. E as consequências da apropriação desigual do produto social são as mais diversas: → Desemprego; Analfabetismo; Fome; Violên- cia; Favelas, entre outros. É nesse contexto que trabalham os assistentes so- ciais com a questão social, nas mais variadas ex- pressões cotidianas, e como os sujeitos a vivenciam no trabalho, família, habitação, saúde, assistência social, no acesso aos serviços públicos etc. Hoje, é um dos desafios do assistente social que precisa apreender a questão social e perceber as inúmeras formas de pressão social, de cons- trução e reconstrução da vida cotidiana, pois é no presente que são recriadas novas maneiras de viver, que indicam um futuro que está ini- ciando, justamente em um momento em que o gênero humano é individualista e desmotivado em um universo da mercantilização universal. Destacamos também o cenário em que se insere o Serviço Social hoje, como afirma Ia- mamoto (2004, p. 29): “[...] as novas bases de produção da questão social, cujas múltiplas expressões são o objeto do trabalho cotidiano do assistente social”. Segundo Arcoverde (1999, p. 79), os profissio- nais precisam decifrar as mediações que na atualidade permeiam a questão social, desfa- zendo seus nós. E procuram dar visibilidade às formas de resistência e lutas por vezes ocultas, mas presentes na realidade. É na base da pro- dução capitalista que se produz e reproduz a questão social, onde os assistentes sociais tra- balham junto aos indivíduos . E é no contex- to do trabalho que a questão social iniciou, se manifestou e até hoje se permeia. É preciso decifrar os determinantes e as múlti- plas expressões da questão social. Esta encon- tra-se enraizada na contradição fundamental que demarca essa sociedade, assumindo no- vas formas a cada época. O profissional de Serviço Social precisa estar atento às constantes mudanças, sejam elas eco- nômicas, sociais e/ou culturais, pois são fatores que favorecem ou desafiam a nossa atuação profissional. Com conhecimento teórico meto- dológico, conseguimos analisar a conjuntura para uma atuação técnico-operativa eficaz nes- se modelo neoliberal contemporâneo. Não basta criticar. É através da intervenção profissional, da observação, do levantamento de indicadores, da problematização da ques- tão social que surgirão novas políticas para a “solução” dos problemas. Fonte: Cicliati (2010, on-line). MATERIAL COMPLEMENTAR Germinal Ano: 1993 Sinopse: O filme aborda os movimentos grevistas de um grupo de mineiros no norte da França do século XIX contra a exploração da qual são vítimas. Entretanto, ao se levantarem contra o sistema, passam a ser alvo da repressão das autoridades. MATERIAL COMPLEMENTAR Questão Social - particularidades no Brasil Autor: Josiane Soares Santos Editora: Cortez Sinopse: Os fenômenos constitutivos da chamada questão social se reproduzem no tempo presente com uma intensidade e volume desconhecidos em outras épocas históricas: são inquestionáveis as diversas formas de expressão da desigualdade social que estão longe de se reduzir à pobreza. Para desvendá-las, este livro mergulha nos fundamentos da crítica da economia política, tratando a questão social como parte da dinâmica capitalista e das lutas sociais contra a exploração do trabalho. GABARITOGABARITOGABARITO 1. Observando o processo histórico da assis- tência social no Brasil, tem-se como premissa um período que evidencia uma intensifica- ção da participação em massa da sociedade civil, em que o país estava sendo palco de uma política assistencialista, com predomí- nio de desigualdade e exclusão social, as- sim ao fazer uma relação entre o Estado e as camadas da sociedade mais empobrecidas, sempre foi pelo cunho assistencial, refor- çando a benemerência da sociedade. 2. A Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS) teve o objetivo de complementar e detalhar a já completa Constituição, pautada no desafio de executar a política pública de assistência social de forma descentralizada e participativa. 3. A consolidação disso ocorre em 1988 com a nova Carta Institucional, conhecida como a Carta Cidadã, por trazer como tripé consti- tucional as áreas de Saúde, Previdência So- cial e Assistência Social que, a partir desse momento, deixam de ser uma atitude de um governo populista que usava o Serviço Social como forma de benevolência. GABARITO 4. Tem-se como premissa um período que evi- dencia uma intensificação da participação em massa da sociedade civil, em que o país estava sendo palco de uma política assisten- cialista, com predomínio de desigualdade e exclusão social. Assim, ao fazer uma relação entre o Estado e as camadas da sociedade mais empobrecida, percebe-se que sempre foi pelo cunho assistencial, reforçando a be- nemerência da sociedade. 5. É somente a partir da IV Conferência Nacio- nal da Assistência Social, realizada em de- zembro de 2003, na cidade de Brasília, que se aprova a PNAS - Política Nacional de Assis- tência Social, na perspectiva de se implan- tar o Sistema Único da Assistência Social (SUAS), objetivando estruturar as diretrizes propostas inicialmente na Lei Orgânica da Assistência Social. UNIDADE IV U N ID A D EIV Professora Me. Maria Cristina Araújo de Brit Cunha Professora Esp. Fernanda Carvalho Basilio Hernandez DIFERENTES ESPAÇOS DE ATU- AÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL NA CONTEMPORANEIDADE OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM ■ Entender os espaços de atuação do Serviço Social. ■ Verificar como a profissão relaciona-se em cada espaço sócio-ocupacional. ■ Identificar as particularidades que a con- temporaneidade traz à profissão. ■ Relatar os desafios que são postos ao Serviço Social na contemporaneidade. U N ID A D E PLANO DE ESTUDO A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: ■ A ação interventiva do assistente social em instituições públicas ■ A ação interventiva do assistente social em instituições do terceiro setor ■ A ação interventiva do assistente social em instituições empresariais IV Professora Me. Maria Cristina Araújo de Brit Cunha Professora Esp. Fernanda Carvalho Basilio Hernandez DIFERENTES ESPAÇOS DE ATU- AÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL NA CONTEMPORANEIDADE DIFERENTES ESPAÇOS DE ATUAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL NA CONTEMPORANEIDADE 216 INTRODUÇÃO Caro (a) aluno (a), nesta quarta unidade você estudará sobre diferentes espaços de atua- ção do Serviço Social na contemporaneidade. Apresentaremos a conquista da gestão de polí- ticas públicas, ou seja, o profissional adquiriu um fortalecimento das ações socioassistenciais, dando um caráter técnico, politizado e de garan- tia de direitos sociais aos usuários da política social. Buscaremos entender os espaços de atuação do Serviço Social, bem como verificar como a profissão relaciona-se em cada espaço sócio-o- cupacional, como, por exemplo, nas empresas, nas organizações do terceiro setor e nos órgãos públicos. Além disso, identificaremos as particularida- des que a contemporaneidade traz à profissão e relataremos os desafios que são postos ao Serviço Social, assim como a implementação do Sistema Único de Assistência Social (SUAS). DIFERENTES ESPAÇOS DE ATUAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL NA CONTEMPORANEIDADE 217 Uma vez que o Serviço Social é uma profis- são inscrita na divisão sociotécnica do trabalho capitalista, exercendo, assim,seu fazer profis- sional no contexto da contradição e luta das classes fundamentais, burguesia e proletariado, resgataremos brevemente esse processo para que você compreenda todo o caminho de lutas traçado pelo Serviço Social. Esse saber é importante para que se entenda as mudanças ocorridas com o passar do tempo, assim como é importante conhecer as conquistas e batalhas travadas pela profissão e entender o contexto atual, em que o profissional do Serviço Social tem autonomia e uma infinidade de cam- pos de trabalho, nas três esferas, pública, privada e terceiro setor, dentro das quais um leque de opções se abre aos profissionais. Esperamos que esse conteúdo agregue conhe- cimento ao seu processo de aprendizagem e que você absorva-o o máximo que puder. Aproveite o estudo! DIFERENTES ESPAÇOS DE ATUAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL NA CONTEMPORANEIDADE 218 A AÇÃO INTERVENTIVA DO ASSISTENTE SOCIAL EM INSTITUIÇÕES PÚBLICAS Os anos de 1990 foram palco de um complexo processo de regressões no âmbito do Estado e da universalização dos direitos sociais, justi- ficado por uma tendência neoliberal, ou seja, “máximo para o capital e mínimo para o social”, o que acarretou diversas transformações nas relações de trabalho e nas políticas públicas. Essa realidade gerou inúmeras transforma- ções no que tange a reforma gerencial do Estado, assim como as políticas de proteção social, o que levou à necessidade de repensar novas for- mas de enfrentamento da questão social. Isto é, a relação capital e trabalho, que, por vezes, cabe ao Estado garantir a mediação desse conflito. Os direitos sociais consagrados na Constituição Federal (CF) de 1988 são fruto de uma intensa mobi- lização social, lutas sociais que marcaram a busca pela democratização do Estado brasileiro. Porém, o que se pode constatar é um processo de precariza- ção desses direitos antes conquistados, por meio de uma reforma conservadora do Estado e da economia, o que gera um sucateamento dos serviços públicos. DIFERENTES ESPAÇOS DE ATUAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL NA CONTEMPORANEIDADE 219 O agravamento da questão social decorrente do processo de reestruturação produtiva, ou seja, do modelo neoliberal adotado pelo Estado brasileiro na década de 1990, repercute no mundo do trabalho, tanto nos sujeitos com os quais o Serviço Social trabalha – os usuários dos serviços sociais públicos – como também no mercado de trabalho dos assistentes sociais, os quais, como trabalhadores assalariados, se encontram no bojo dos impactos dessa rees- truturação produtiva. Segundo Raichelis (2006), o campo das polí- ticas sociais e da luta por direitos ficou muito mais complexo, especialmente se considerar- mos que, apesar de todos os desmontes que têm atingido a esfera estatal, o Estado permanece sendo a forma mais efetiva de operar a uni- versalização dos direitos. Compreende-se que a constituição da esfera pública é parte inte- grante do processo de democratização da vida social, pela via do fortalecimento do Estado e da sociedade civil. DIFERENTES ESPAÇOS DE ATUAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL NA CONTEMPORANEIDADE 220 Dessa forma, cabe compreendermos historica- mente a atuação dos profissionais assistentes sociais, que se consolidam em espaços de instituições públicas, privadas, entidades socioassistenciais, sendo o Estado o maior empregador de profis- sionais assistentes sociais (IAMAMOTO, 2011). Conforme Raichelis (2006), no âmbito do Estado, os Assistentes Sociais atuam nas diver- sas esferas, ou seja, na municipal, na estadual e na nacional. Inicialmente, nesses âmbitos, os profissionais eram contratados apenas para a operacionalização das políticas público-sociais e, logo em seguida, visto o amadurecimento e reformulação que o Serviço Social passou no sentido da sua perspectiva teórico-metodo- lógico, ético-político e técnico-operativo, os profissionais se deslocaram ao âmbito do pla- nejamento e gestão das políticas públicas. Dentre tantas outras conquistas que a pro- fissão do Serviço Social adquiriu nesse tempo, cabe ressaltar a gestão de políticas públicas, ou seja, o profissional adquiriu um fortalecimento das ações socioassistenciais, dando um cará- ter técnico, politizado e de garantia de direitos sociais aos usuários da política social. DIFERENTES ESPAÇOS DE ATUAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL NA CONTEMPORANEIDADE 221 No período que precede a promulgação da CF de 1988, os profissionais do Serviço Social apresentaram notória presença no que tange a participação nas lutas e movimentos sociais para a democratização do Estado e de suas políticas. Segundo Raichelis (2006), os profissionais buscavam novas formas de atuação aliadas a um projeto societário ligado aos movimentos sociais, com vistas à democratização dos espa- ços públicos, na constituição de uma cultura de participação popular e controle social e na luta pela incorporação da assistência social enquanto política de seguridade social. Ainda em Raichelis (2006), nesse intenso campo de disputas históricas sociais, estão os profissionais do Serviço Social cada vez mais assumindo execução e controle da implantação do sistema único de cargos de gestão, sobretudo no que tange a formulação da assistência social. Em 2004, atendendo ao cumprimento das delibera- ções da IV Conferência Nacional de Assistência Social, o Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS) apro- vou a Política Nacional de Assistência Social (PNAS) que em seu escopo apresentava a perspectiva de implan- tação de um sistema único para a assistência social, o DIFERENTES ESPAÇOS DE ATUAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL NA CONTEMPORANEIDADE 222 SUAS. No ano de 2011, a presidente Dilma Rousseff sancionou Lei 12.435/2011, que institui e regulamenta o Sistema Único de Assistência Social no Brasil. Por meio do SUAS, a gestão vem recebendo destaque, sobretudo para sua efetiva implemen- tação, com objetivo de consolidar um sistema que promova protagonismo, potencialize auto- nomia e garanta direitos sociais. Segundo Raichelis (2006), o profissional do Serviço Social enquanto gestor ainda é uma dis- cussão nova. Por isso tem encontrado espaço, sobretudo com a organização da política de assistência social em um sistema participativo “O SUAS é constituído pelo conjunto de servi- ços, programas, projetos e benefícios no âmbi- to da assistência social prestado diretamente – ou através de convênios com organizações sem fins lucrativos –, por órgãos e instituições públi- cas federais, estaduais e municipais da adminis- tração direta e indireta e das fundações manti- das pelo poder público”. Fonte: Yazbek (2008 apud BRASIL, 2008, p. 97). DIFERENTES ESPAÇOS DE ATUAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL NA CONTEMPORANEIDADE 223 e descentralizado. A autora ainda destaca que os cargos de gestão protagonizam importante papel na consolidação da política pública de assistência social. É de grande valia que a prática do Serviço Social proporcione força e visibilidade ao movi- mento que se organiza em torno da defesa, garantia e universalização de direitos, repen- sando novas estratégias para o enfrentamento das demandas sociais, sobretudo no interior do aparato institucional, lugar no qual os assis- tentes sociais são cada vez mais requisitados a superar práticas operacionais para desenvolver funções de formulação e gestão de políticas e programas sociais (RAICHELIS, 2006). Portanto, faz-se necessário a compreensão de que a intervenção do Serviço Social em institui- ções públicas é fundamental para a consolidação das políticas sociais como direitos universais, assim como a universalização do acesso a tais políticas pelo cidadão. Seja por uma prática pro- fissional na gestão de políticas e serviços, como por uma prática política que leve à conscien- tização do usuário como pessoa detentora de direitos. DIFERENTES ESPAÇOS DE ATUAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL NA CONTEMPORANEIDADE 224 A AÇÃO INTERVENTIVA DO ASSISTENTE SOCIAL EM INSTITUIÇÕES DO TERCEIRO SETOR O estudo, a discussãoe a reflexão sobre o terceiro setor é assunto atual e pertinente no contexto acadêmico, à medida que se busca uma com- preensão específica e atualizada sobre a atuação de diferentes profissionais nessas organizações, considerando a busca da qualidade social para os serviços prestados. O Terceiro Setor se configurou, no decorrer dos últimos vinte anos, dentro de um contexto social, econômico e político marcado por uma tendência neoliberal a qual como já visto ante- riormente, o Estado recua em suas funções sociais, ou seja, um período marcado por incer- tezas, instabilidades e mudanças aceleradas. A terminologia terceiro setor passou a ser difun- dida em meados da década de 1970 e tem sido utilizada para se referir às organizações formadas pela sociedade civil, cujo objetivo não é a busca pelo lucro, mas a satisfação de um interesse social. DIFERENTES ESPAÇOS DE ATUAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL NA CONTEMPORANEIDADE 225 Costuma-se utilizar a ilustração segundo a qual o terceiro setor situa-se abaixo do pri- meiro (Estado) e do segundo (mercado) setores. Podemos dizer que a sociedade atual está estru- turada a partir de três grandes setores: o Estado, sendo este o primeiro setor; o mercado, como segundo setor; e organizações da sociedade civil sem finalidade de lucro com atuações de inte- resse público sendo o terceiro setor. Conforme Mânica (2006), o terceiro setor é tradicionalmente entendido como a área den- tro da qual se encontram todas as entidades que não fazem parte do Estado e do mercado. Nesse viés, difundiu-se a utilização, como referência para classificação no terceiro setor, dos crité- rios estabelecidos pelo Handbook on Nonprofit Institutions in the System of National Accounts, editado pela Organização das Nações Unidas, em conjunto com a Universidade John Hopkins. DIFERENTES ESPAÇOS DE ATUAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL NA CONTEMPORANEIDADE 226 EXPLICATIVO – ESTADO, INICIATIVA PRIVADA E SOCIEDADE CIVIL Fonte: A autora. DESCRIÇÃO DE IMAGENS PÁGINA 118 – Sem nome Dayse INÍCIO DESCRIÇÃO – A imagem refere-se a um esquema explicativo sobre a tríade Estado, Iniciativa Privada e Sociedade Civil. O Estado está relacionado aos recursos públicos para fins públicos como instituições governamentais (esferas municipal, estadual e federal). Já a Iniciativa Privada está relacionada aos recursos privados para fins privados como empresas, organizações que visam o lucro. Por fim, temos a Sociedade Civil que está relacionada aos recursos privados e públicos para fins públicos, estendendo-se aos cidadãos reunidos em associações voluntárias. FIM DESCRIÇÃO. IGOR - VALIDADO ANDERSON - VALIDADO DIFERENTES ESPAÇOS DE ATUAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL NA CONTEMPORANEIDADE 227 Segundo tal metodologia, fazem parte do terceiro setor as entidades que detenham, cumulativa- mente, as seguintes características: I - natureza privada; II - ausência de finalidade lucrativa; III – institucionalizadas; IV – autoadministradas e V - voluntárias. (Mânica, 2006). Nesse contexto, continua Mânica (2006, p. 2-3): Tais critérios, como se pode perceber, têm como função comprovar a desvinculação do terceiro setor em face dos demais, de forma que o item (III) demonstra a exis- tência formal da entidade, indispensável a seu reconhecimento como tal; os itens (I), (IV) e (V) demonstram que a entidade não faz parte do Estado, sendo sua natu- reza de direito privado, sua administração própria (sem interferência externa) e sua criação espontânea (não decorrente de de- terminação legal); e o item (II) demonstra que a entidade não pertence ao mercado. DIFERENTES ESPAÇOS DE ATUAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL NA CONTEMPORANEIDADE 228 Vale ressaltar que, segundo Costa (2014), essa divisão cabe apenas a fim didático, pois a realidade social não se configura de forma frag- mentada em três setores, mas numa totalidade social, isto é, o político, o econômico e o social articulam-se indissociavelmente determinando a conjuntura e as demandas sociais. A fim de esclarecimento, “sociedade civil” é compreendida como aquela que, embora mante- nha uma relação indissociável com o Estado, se mantém fora dele. Além de que, para compreen- der esse termo, se faz necessário remeter à ideia de cidadania, pois civil implica que a sociedade é formada de cidadãos a quem são atribuídos direitos e deveres, e esses últimos são compre- endidos em função dos direitos civis, direitos políticos e direitos sociais (COSTA, 2014). Para Costa (2014), o terceiro setor é formado por organizações sem fins lucrativos, geradas e mantidas com ênfase na participação volun- tária , num âmbito não governamental, dando sequência a práticas tradicionais de caridade, de filantropia, porém, expande o seu sentido para a incorporação do conceito de cidadania e de suas múltiplas manifestações na sociedade civil. DIFERENTES ESPAÇOS DE ATUAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL NA CONTEMPORANEIDADE 229 O terceiro setor compreende, fora da lógica do Estado e do mercado, a sociedade civil que se organiza e busca soluções próprias para suas necessidades e problemas. Essas se revestem de caráter público na medida em que se dedicam às demandas sociais. Tendo em vista o alcance de um trabalho qua- litativamente diferenciado daquele que sempre marcou a história dessas organizações, o assisten- cialismo e a filantropia avançam da perspectiva filantrópica e caritativa para uma atuação profis- sional e técnica, na qual os usuários são sujeitos de direitos. Conforme pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e o Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (IPEA), divulgada em 2004, o Brasil possui 276 mil fundações e associações onde trabalham 1,5 milhões de pessoas, pagando salários e remu- nerações no valor de 17,5 bilhões. Segundo Costa (2014), a emergência do terceiro setor pode ser explicada pelas seguintes razões: DIFERENTES ESPAÇOS DE ATUAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL NA CONTEMPORANEIDADE 230 ■ A CF de 1988 e as leis orgânicas que for- maram a legislação social, gerando uma necessidade do reordenamento técnico e administrativo das instituições estatais e da rede privada, por serem garantidoras dos direitos sociais e de cidadania, com ênfase na participação popular. ■ A gradativa e intencional substituição das funções do Estado de Bem-Estar Social pelo chamado Estado Mínimo, resultante da implantação também gradativa da polí- tica neoliberal, levando ao sucateamento das políticas sociais públicas. ■ E o acirramento da questão social: desigual- dade, pobreza, fome, violência etc. Por meio da dinâmica traçada pelo terceiro setor, uma coisa é certa: é fundamental sua pre- sença na sociedade, uma vez que os cidadãos se encontram mais conscientes e convictos de seus direitos, mas, sobretudo, da importância de sua participação no processo de transforma- ção de realidades (COSTA, 2014). DIFERENTES ESPAÇOS DE ATUAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL NA CONTEMPORANEIDADE 231 CARACTERÍSTICAS DO SETOR TERCIÁRIO Atuam em uma diversidade e variedade de questões que afetam a sociedade na área da assistência social, da saúde, do meio ambien- te, da cultura, educação, lazer, esporte etc. Nas áreas da assistência social, educação e saú- de, geralmente, prestam atendimento a pesso- as e famílias que estão à margem do processo produtivo ou fora do mercado de trabalho. Trabalham na defesa e garantia dos direitos dessa população. São de caráter privado, mas desenvolvem um trabalho de interesse público. Não têm finalidade de lucro no sentido mer- cantil da palavra. Não são estatais, embora mantenham víncu- los com o poder público. Contam com o trabalho de um corpo de vo- luntariado. Fonte: Costa (2003). DIFERENTES ESPAÇOS DE ATUAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL NA CONTEMPORANEIDADE 232 De acordo com Costa (2014), é de suma importância a atuação de diferentes profissio- nais no processo de configuração do terceiro setor no cenário brasileiro, sobretudo frente ao seu conceito, características,desafios e diver- sidades, considerando o caráter profissional e técnico que os serviços prestados por esse setor necessitam abranger. Havendo a necessidade do reordenamento administrativo e técnico dessas instituições, é preciso construir instrumentos e ferramentas de gestão adequadas às suas especificidades e singu- laridades, sendo que a interdisciplinaridade dos profissionais pode contribuir significativamente nesse processo. Considerando a especificidade profissional do assistente social, este tem papel fundamental nessa área. Vamos conhecer, a partir de agora, o perfil necessário para a atuação do assistente social no terceiro setor, o qual requer uma sólida for- mação profissional sobre: - Os determinantes da questão social brasi- leira e suas diferentes manifestações. - As políticas sociais setoriais para o enfre- tamento dessas manifestações. DIFERENTES ESPAÇOS DE ATUAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL NA CONTEMPORANEIDADE 233 - A relação Estado, mercado e terceiro setor, dis- cernindo o papel e função de cada um no contexto da formulação e execução dessas políticas; não esquecendo que cabe ao Estado o dever de pro- ver políticas sociais adequadas e eficientes para o enfrentamento da questão social (COSTA, 2003). Além disso, baseados na Lei de Regulamentação da Profissão de Assistente Social (Lei 8.6662, de 07/06/93), podemos ainda visualizar algumas atribuições específicas do assistente social que atua na área do terceiro setor: - Implantar, no âmbito institucional, a Política de Assistência Social, conforme as diretrizes da Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS) e Sistema Único da Assistência Social (SUAS), de acordo com a área e o segmento atendido pela instituição; - Subsidiar e auxiliar a administração da ins- tituição na elaboração, execução e avaliação do Plano Gestor Institucional, tendo como refe- rência o processo do planejamento estratégico para organizações do terceiro setor; - Desenvolver pesquisas junto aos usuários da instituição, definindo o perfil social dessa população, obtendo dados para a implantação de projetos sociais interdisciplinares; DIFERENTES ESPAÇOS DE ATUAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL NA CONTEMPORANEIDADE 234 - Identificar, continuamente, necessida- des individuais e coletivas, apresentadas pelos segmentos que integram a instituição, na pers- pectiva do atendimento social e da garantia de seus direitos, implantando e administrando benefícios sociais; - Realizar seleção socioeconômica, quando for o caso, de usuários para as vagas disponí- veis, a partir de critérios pré-estabelecidos, sem perder de vista o atendimento integral e de qua- lidade social, nem o direito de acesso universal ao atendimento; - Estender o atendimento social às famílias dos usuários da instituição, com projetos específicos e formulados a partir de diagnósticos preliminares; - Intensificar a relação instituição/família, obje- tivando uma ação integrada de parceria na busca de soluções dos conflitos que se apresentarem; - Fornecer orientação social e fazer encami- nhamentos da população usuária aos recursos da comunidade, integrando e utilizando-se da rede de serviços sócio assistenciais; DIFERENTES ESPAÇOS DE ATUAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL NA CONTEMPORANEIDADE 235 - Participar, coordenar e assessorar estudos e dis- cussões de casos com a equipe técnica, relacionados à política de atendimento institucional e nos assun- tos concernentes à política de assistência social; - Realizar perícia, laudos e pareceres técnicos relacionados à matéria específica da assistência social, no âmbito da instituição, quando solici- tado. (CFESS, 2002) No interior das instituições do terceiro setor, a atuação do assistente social, sempre tendo como fim último o atendimento integral e de qualidade social, trabalhará no enfoque da garantia do direito de inclusão ao atendimento. Mas também priorizará ações que caracteri- zem o alcance dos objetivos, metas e diretrizes preconizados pelo planejamento estratégico institucional, para o qual deverá ter contribui- ção significativa. Portanto, o Serviço Social no terceiro setor encontra um espaço amplo de atuação, e essa se apresenta como garantia dos cidadãos como aqueles que possuem direitos, elevando o aten- dimento de mero caráter filantrópico para um atendimento técnico e politizado. DIFERENTES ESPAÇOS DE ATUAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL NA CONTEMPORANEIDADE 236 A AÇÃO INTERVENTIVA DO ASSISTENTE SOCIAL EM INSTITUIÇÕES EMPRESARIAIS Sob a ótica das novas determinações econô- micas e sociais, configuram-se as demandas que estão sendo postas aos assistentes sociais na atualidade, pois o Serviço Social vem se desenvolvendo enquanto profissão por meio de práticas ligadas às questões sociais deste qua- dro conjuntural da contemporaneidade. As profissões surgem como especializações do trabalho coletivo para atender necessidades. Sendo dessa forma, o Serviço Social surge em um contexto de administração de carências sociais, sendo legitimado pelo capital na qualidade de principal requisitante institucional para o enfren- tamento de “problemas sociais” (MOTA, 1998). A prática do Serviço Social na empresa encontra-se intimamente ligada a essa ideia. Segundo Mota (1998), nela, a despeito de algu- mas singularidades, o Serviço Social também é assumido como um instrumento de intervenção DIFERENTES ESPAÇOS DE ATUAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL NA CONTEMPORANEIDADE 237 nos “problemas sociais”, entendidos como situa- ções de carências do trabalhador que interferem na produtividade da força de trabalho. Desse modo, segundo Mota (1998), os assisten- tes sociais são considerados profissionais da área de recursos humanos, assumindo uma função téc- nica específica no interior das empresas: mediar soluções de carências e conflitos dos trabalhadores. A função técnica de criar condições favoráveis ao favorecimento do processo de trabalho tem se afirmado na hipótese política da convivência pacífica entre empregados e empregadores, como uma condição necessária ao desenvolvimento do processo de trabalho gerenciado pela empresa. Isso porque essa área tem sua razão de ser enrai- zada no gerenciamento “científico” da força de trabalho mediante um padrão de eficiência. Por esse motivo, estão presentes aspectos polí- ticos e técnicos, relacionados tanto no conjunto das ações do assistente social como na criação de suas referências teórico-práticas, resultantes do próprio desenvolvimento da prática social na empresa, do qual o destino não é apolítico nem a-histórico. DIFERENTES ESPAÇOS DE ATUAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL NA CONTEMPORANEIDADE 238 Consequentemente, admite-se que, ao ingressar nas empresas, os assistentes sociais se deparam com o dever de ratificar sua utilidade na solução de “problemas sociais”, por meio da construção de uma identidade de intenções pro- fissionais e empresariais (MOTA, 1998). A partir desse ponto, pode-se então deduzir que a prática do Serviço Social nas empresas encon- tra-se entre as condições de vida e trabalho do empregado e as determinações da entidade. Por um lado, tem a tarefa de atender demandas do tra- balhador, por outro, tem na visão da empresa um retrato do que estas significam para a produção. Sabe-se que a empresa é uma unidade de pro- dução que objetiva lucros, para tanto, faz-se necessário garantir que seus empregados sejam sadios, dispostos e que se mantenham produ- zindo bem. Sendo assim, diante do baixo nível de renda do trabalhador, a empresa necessita pres- tar algum auxílio extra salário ao empregado. Segundo Mota (1998), ao comprar a força de tra- balho, deve-se arcar com os resultados das baixas condições de vida do trabalhador, sendo condicio- nada a atender essas demandas sociais, quer seja DIFERENTES ESPAÇOS DE ATUAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL NA CONTEMPORANEIDADE 239 sob o aspecto material, quer seja face às manifesta- ções de comportamentos indesejáveis à produção como uma condição para seu funcionamento. Por fim, sabe-se queessa tarefa não é uma especialidade técnica dos dirigentes da empresa, ao contrário, para assumi-la é preciso contra- tar técnicos que o façam, a saber, os assistentes sociais. Portanto, com as empresas preocupadas em redefinir e integrar as políticas de recur- sos humanos às demais políticas e estratégias organizacionais, buscando alternativas de ges- tão da força de trabalho, o assistente social não pode esquivar-se desses acontecimentos. Identificaremos, a seguir, a atuação do assis- tente social em empresas as quais lhe exige o desenvolvimento de algumas características básicas, como: - Ter conhecimento para que não deixe sem respostas quem vier buscar informações. Para isso, o profissional de Serviço Social tem que dominar as políticas da empresa, bem como conhecer a rotina de todos os empregados para que possa responder as perguntas que surgirem de forma coerente. DIFERENTES ESPAÇOS DE ATUAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL NA CONTEMPORANEIDADE 240 - Ter competência para que as atividades exe- cutadas por esses profissionais sejam feitas da melhor forma possível, com exatidão e agilidade. - Manter atmosfera positiva de forma que os usuários, ao procurarem o setor de Serviço Social, sintam-se num ambiente agradável, onde a comunicação é feita de forma horizon- tal, fluente e clara. - Trabalhar com cooperação para que sua equipe de trabalho obtenha êxito, por meio da responsabilidade para com as metas da empresa, buscando sempre melhorar a produtividade e a qualidade (ABREO; RIBEIRO, 2016). Além de todas essas características, o assis- tente social precisa de um esforço extra para poder superar a rotina, buscando a melhor satis- fação do cliente, mostrando-se interessado e envolvido com o problema, pois o que importa atualmente não é só satisfazer as necessidades, mas também conquistar o cliente. Na atual conjuntura, observamos que as empresas têm solicitado profissionais que tenham flexibilidade. Sob esta ótica, o profissional de Serviço Social que trabalha principalmente em DIFERENTES ESPAÇOS DE ATUAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL NA CONTEMPORANEIDADE 241 setores privados defronta-se com a exigência de uma nova cultura do trabalho, que requisita deles a adequação de hábitos, como: - A integração orgânica do trabalhador na instituição. - A intensificação do ritmo na execução de tarefas. - A implantação do trabalho em equipe, bus- cando a cooperação; dentre outros (ABREO; RIBEIRO, 2016). Segundo Mota (1998), o assistente social atua na área de Recursos Humanos a fim de proporcio- nar a sociabilidade do trabalhador, elevando-o, dessa forma, a um comportamento produtivo. Sendo assim, o profissional do Serviço Social atende a perspectiva da empresa em condicio- nar o trabalhador a aderir às novas exigências que esta lhe impõe. Além dessa ótica de trabalho, na atualidade percebe-se um novo espaço institucional, no qual o assistente social tem exercido funções como a de assessoramento aos membros das diretorias das empresas. DIFERENTES ESPAÇOS DE ATUAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL NA CONTEMPORANEIDADE 242 Na atualidade, o profissional do Serviço Social tem sido requisitado para estratégias de gerencia- mento que procuram o aumento da qualidade e da produtividade por meio da formação de ati- tudes que geram um “clima favorável” para que alcancem as metas da organização (MOTA, 1998). Os assistentes sociais no Brasil, no que con- cerne a sua prática em empresas, têm buscado aperfeiçoar a sua ação profissional, sobretudo no que se refere às relações no ambiente de trabalho. Para tanto, para o profissional do Serviço Social cabe desenvolver sua capacidade técnica para lidar com as informações e com as ino- vações tecnológicas, assim como as demandas que são dinâmicas neste campo, ou seja, requer uma capacidade crítica e flexível para atender às rápidas mudanças. DIFERENTES ESPAÇOS DE ATUAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL NA CONTEMPORANEIDADE 243 CONSIDERAÇÕES FINAIS Chegamos ao final da quarta unidade de estudo, de forma que podemos entender os diferen- tes espaços de atuação do Serviço Social na contemporaneidade. Vimos que se faz necessário a compreen- são de que a intervenção do Serviço Social em instituições públicas é fundamental para a con- solidação das políticas sociais como direitos universais, assim como a universalização do acesso a tais políticas pelo cidadão. Ainda nesse contexto. também identificamos como se encontra a estrutura da sociedade atual a partir de três grandes setores: o Estado, que denominamos de primeiro setor, com ênfase na gestão de políticas públicas, quando o profissional adquiriu um fortalecimento das ações socioas- sistenciais, dando um caráter técnico, politizado e de garantia de direitos sociais aos usuários da política social; o mercado, como segundo setor, em que os assistentes sociais são considerados profissionais da área de recursos humanos, assu- mindo uma função técnica específica no interior das empresas: mediar soluções de carências e DIFERENTES ESPAÇOS DE ATUAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL NA CONTEMPORANEIDADE 244 conflitos dos trabalhadores; e organizações da sociedade civil, que atuam sem finalidade de lucro com atuações de interesse público, ou seja, é de suma importância a atuação de diferentes profis- sionais no processo de configuração do terceiro setor no cenário brasileiro, sobretudo frente ao seu conceito, características, desafios e diversida- des, considerando o caráter profissional e técnico que os serviços prestados por esse setor necessi- tam abranger. E, por fim, a inserção do Serviço Social nas instituições privadas, as quais convocam o assis- tente social para atuar como gestor de projetos sociais, gerenciamento de recursos humanos e de benefícios, contribuindo, assim, de forma indi- reta na produtividade da empresa, uma vez que o capital humano é de suma importância para tal. 1. Por meio de uma forte mobilização social e lutas sociais, os direitos sociais foram con- sagrados, marcando a busca por um Estado democrático. Porém, nesse contexto, é pos- sível se constar algo. O que é? 2. É sabido que, para atuar no terceiro setor, o assistente social deve ter uma sólida forma- ção profissional sobre determinados temas. Indique quais são. 3. Podemos dizer que a sociedade atual está estruturada a partir de três grandes setores. Identifique-os. 4. Como podemos deduzir a prática do Serviço Social nas empresas? 5. Conforme Mânica (2006), como o terceiro setor se caracteriza? Breve introdução à prática do Serviço Social em instituições privadas O presente artigo busca descrever um pou- co acerca da participação e contribuição que pode oferecer o profissional de Serviço Social (Assistente Social) junto às empresas. Especifi- camente, a relevância do trabalho deste profis- sional através de sua participação na dinâmi- ca institucional das empresas, por intermédio de projetos específicos de intervenção ou por meio de atendimentos sociais realizados aos colaboradores. Esta intervenção profissional com vista a uma melhor qualidade de vida ape- sar de não reordenar as relações de produção, contribui com o acesso à informação e encami- nhamentos que buscam sistematizar o atendi- mento à situação-problema apresentada pelo cliente, bem como, propiciar uma solução efi- caz. Questões relacionadas à saúde dos traba- lhadores tornam-se, cada dia mais um fator de preocupação para as empresas, fazendo com que passem a adotar políticas de prevenção e controle do ambiente de trabalho interno e, que exercem influência direta sobre a qualida- de de vida de seus colaboradores. [...] É atribuído, também, a esse profissional o pa- pel de intervenção direta nas relações sociais na empresa, o que pressupõe mudanças tanto junto aos trabalhadores como à organização profissional que prevê ou colabora na solução das dificuldades de ordem pessoal e social de seus membros, orientando de forma a se tor- narem integrados individualmente, ou em gru- po. O desafioenfrentado pelo Assistente Social é o de estruturar uma prática profissional que redirecione o modelo capitalista das relações de trabalho que exige uma construção estra- tégica que relacione direitos, necessidades e desejos dos trabalhadores à produtividade, e lucratividade. Na busca pela qualidade de vida como questão determinante da melhoria da relação entre empresa e colaboradores, o de- safio imposto ao Serviço Social é ainda maior. Grande parte das organizações observa não a promoção desta saúde, mas a redução dos da- nos gerados; não sua prevenção, mas o trata- mento dos efeitos, mesmo sabendo que eles representam custos superiores. [...] Hoje, a prática do Serviço Social nas empre- sas considera a mesma como uma organiza- ção social que incluem toda uma problemática do homem (trabalhador), para compreender, analisar e propor melhorias nas condições de trabalho visando, além do desenvolvimento físico, social e político dos colaboradores nes- ta realidade, à transformação do ambiente na busca de uma melhor qualidade de vida. Fonte: Stopassolli (2008). MATERIAL COMPLEMENTAR O Feitiço da Ajuda Autor: Ana Elizabete da Mota Editora: Saraiva Sinopse: “O Feitiço da Ajuda” traz uma relevante e inovadora contribuição à análise das determinações sociais da prática do Serviço Social na empresa capitalista, no marco das relações contraditórias entre as classes sociais, apontando para as possibilidades históricas da ação do Serviço Social na empresa. Sua cuidadosa fundamentação teórica articulada a um rico tratamento dos dados empíricos - obtidos a partir da pesquisa realizada em 22 empresas de Pernambuco - atribuem ao trabalho uma fecundidade explicativa e originalidade no deslindamento do feitiço da ajuda. GABARITOGABARITOGABARITO 1. O que se pode constatar é um processo de precarização desses direitos antes conquista- dos. Isso acontece por meio de uma reforma conservadora do Estado e da economia, o que gera um sucateamento dos serviços públicos. 2. Os determinantes da questão social brasi- leira e suas diferentes manifestações, as po- líticas sociais setoriais para o enfretamento dessas manifestações e a relação Estado, mercado e terceiro setor, devendo discernir o papel e função de cada um no contexto da formulação e execução dessas políticas. 3. O Estado, sendo este o primeiro setor; o mer- cado, como segundo setor; e organizações da sociedade civil sem finalidade de lucro com atuações de interesse público sendo o terceiro setor. 4. A prática nas empresas encontra-se entre as condições de vida e trabalho do empre- gado e as determinações da entidade. Por um lado, tem a tarefa de atender demandas do trabalhador, por outro, tem na visão da empresa um retrato do que estas significam para a produção. GABARITO 5. O terceiro setor é tradicionalmente enten- dido como a área dentro da qual se encon- tram todas as entidades que não fazem par- te do Estado e do mercado. UNIDADE V U N ID A D E V Professora Me. Maria Cristina Araújo de Brit Cunha Professora Esp. Fernanda Carvalho Basilio Hernandez SERVIÇO SOCIAL E AS PARTICULARIDADE DO EXERCÍCIO PROFISSIONAL OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM ■ Entender as atribuições do Serviço Social. ■ Compreender as particularidades do exercício profissional. ■ Verificar atribuições específicas do Serviço Social. ■ Identificar a dinâmica de assessoria e consultoria. ■ Relatar os avanços e desafios que são postos ao Serviço Social no que diz res- peito à supervisão. ■ Conhecer a atuação do assistente social em equipe multi/interdiciplinar no con- texto das políticas sociais. U N ID A D E PLANO DE ESTUDO A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: ■ Atribuições privativas do assistente social ■ Assessoria e consultoria em serviço social ■ Supervisão na área do Serviço Social ■ Atribuições do Serviço Social em equipes multi/interdisciplinares V Professora Me. Maria Cristina Araújo de Brit Cunha Professora Esp. Fernanda Carvalho Basilio Hernandez SERVIÇO SOCIAL E AS PARTICULARIDADE DO EXERCÍCIO PROFISSIONAL SERVIÇO SOCIAL E AS PARTICULARIDADE DO EXERCÍCIO PROFISSIONAL 256 INTRODUÇÃO Caro (a) aluno (a), nesta quinta unidade você conhecerá as atribuições e particularidades do exercício profissional. Para tanto, se faz necessário compreender o que compete ou não ao Serviço Social, assim como verificar as atribuições específi- cas do Serviço Social e as dinâmicas de assessoria, consultoria e os avanços e desafios que são pos- tos a profissão no que diz respeito à supervisão. Refletiremos conceitualmente sobre esse tema e apontaremos os possíveis problemas e as riquezas potenciais da assessoria/consulto- ria para o Serviço Social bem como o perfil do profissional. Dessa forma, tomando como referência a Lei 8.662, de 07 de junho de 1993, que dispõe sobre a profissão de assistente social e estabelece sua regulamentação, veremos o que determina o artigo 4º, que trata das competências do assis- tente social, e o artigo 5º, que trata das atribuições privativas da profissão. SERVIÇO SOCIAL E AS PARTICULARIDADE DO EXERCÍCIO PROFISSIONAL 257 Abordaremos, também, o trabalho comparti- lhado com outros profissionais na coordenação e implementação de projetos em diferentes campos das políticas sociais e nas atividades sociojurídicas, que impõem novas exigências para os assistentes sociais. Ao contrário do que muitas vezes se considera, o trabalho interdis- ciplinar demanda a capacidade de expor com clareza os ângulos particulares de análise e pro- postas de ações diante dos objetos comuns a diferentes profissões, cada uma delas buscando colaborar a partir dos conhecimentos e saberes desenvolvidos e acumulados pelas suas áreas. Esperamos que nesta unidade você consiga compreender o significado da profissão a par- tir da Lei de Regulamentação da Profissão, que vem nortear a prática profissional do assistente social. Boa leitura e bom estudo! SERVIÇO SOCIAL E AS PARTICULARIDADE DO EXERCÍCIO PROFISSIONAL 258 ATRIBUIÇÕES PRIVATIVAS DO ASSISTENTE SOCIAL No que diz respeito às atribuições privativas do assistente social, se faz necessário compre- ender que o profissional encontra-se tanto na gestão quanto na execução de políticas sociais, sobretudo nessa última, trabalha em programas e projetos para os quais há repasse de recursos materiais, direcionados para aqueles usuários que vivem em condição de vulnerabilidade social, com dificuldade de acessar a rede de serviços socioassistenciais. O momento em que o usuário busca respostas às suas demandas junto ao assistente social, ele procura um retorno profissional, que responda as suas necessidades básicas, mesmo aquelas de caráter imediato, como a ausência de alimen- tação, a dificuldade de acessar os serviços mais complexos na área de saúde pública, a busca por informação e orientação sobre a vida familiar, dentre outros serviços (TORRES, 2014). Assim, segundo Torres (2014, p. 47): SERVIÇO SOCIAL E AS PARTICULARIDADE DO EXERCÍCIO PROFISSIONAL 259 Propor ações profissionais requer do as- sistente social um estudo detalhado acerca das condições objetivas de vida do usuário e, fundamentalmente, do modo como este constrói relações na realidade social onde vive. Entretanto, as condições em que o trabalho do assistente social se realiza co- laboram para que a autonomia e o poder de decisão do profissional sejam restritos. Esse pequeno espaço favorece também a subordinação do profissional aos deter- minantes da organização e do gestor. Ou seja, o exercício profissional desenvolvi- do sob a perspectiva do gestor esbarra na questão da autonomia que o profissional tem para desenvolver seu trabalho. Outra referência fundamental que Torres (2014) ressalta é que o exercício profissional do assis- tente social ocorre por meio de uma dupla dimensão que se relaciona. São elas: - Dimensão interventiva: aquela em que se explicita não somente aconstrução, mas a efetivação das ações desenvolvidas pelo assistente social. Compreende interven- ção propriamente dita, o conhecimento das tendências teórico-metodológicas, a SERVIÇO SOCIAL E AS PARTICULARIDADE DO EXERCÍCIO PROFISSIONAL 260 instrumentalidade, os instrumentos técni- co-operativos e os do campo das habilidades, os componentes éticos e os componentes políticos, o conhecimento das condições objetivas de vida do usuário e o reconhe- cimento da realidade social. - Dimensão investigativa: compreende a produção do conhecimento, a elaboração de pesquisas e os aspectos analíticos que dão suporte, qualificam e garantem a con- cretização da ação interventiva. A dimensão interventiva junto à dimensão inves- tigativa é o que proporciona o caráter técnico da ação profissional, além de proporcionarem coerência, consistência teórica e argumentativa para a prática profissional. Torres (2014) ainda acrescenta que o exercício profissional realizado sob essa dupla dimensão amplia a discussão sobre a intervenção profissional, ressaltando a questão do compromisso e da competência, além de levantar a preocupação com o desen- volvimento teórico da profissão. Tomando como referência a Lei 8.662, de 07 de junho de 1993, que dispõe sobre a pro- fissão de assistente social e estabelece sua SERVIÇO SOCIAL E AS PARTICULARIDADE DO EXERCÍCIO PROFISSIONAL 261 regulamentação, determina o artigo 4º as com- petências do assistente social e o artigo 5º as atribuições privativas, como se segue: 1. coordenar, elaborar, executar, supervisionar e avaliar estudos, pesquisas, planos, progra- mas, e projetos na área de Serviço Social. 2. planejar, organizar e administrar programas e projetos em Unidade de Serviço Social; 3. assessoria e consultoria a órgãos da admi- nistração pública direta e indireta, empresas privadas e outras entidades, em matéria de Serviço Social; 4. realizar vistorias, perícias técnicas, laudos periciais, informações e pareceres sobre a matéria de Serviço Social; 5. assumir, no magistério de Serviço Social tanto em nível de graduação como pós-gra- duação, disciplinas e funções que exijam conhecimentos próprios e adquiridos em curso de formação regular; 6. treinamento, avaliação e supervisão direta de estagiários de Serviço Social; SERVIÇO SOCIAL E AS PARTICULARIDADE DO EXERCÍCIO PROFISSIONAL 262 7. dirigir e coordenar Unidades de Ensino e Cursos de Serviço Social, de graduação e pós-graduação; ASSESSORIA E CONSULTORIA EM SERVIÇO SOCIAL Segundo Matos (2014), parece-nos que o vulto da temática assessoria/consultoria no Serviço Social na atualidade é uma confluência de duas incidências. Tanto há demandas explícitas para esse trabalho para os assistentes sociais como também os assistentes sociais, notadamente os envolvidos na docência, vêm buscando espaços de assessoria. Continuando, o autor aponta que os que requi- sitam os profissionais de Serviço Social para assessoria/consultoria veem neste sujeito uma capacidade de conhecimentos a serem dispo- nibilizados, em geral sobre políticas sociais e na área de mobilização social, e os profissio- nais de Serviço Social que buscam a assessoria/ SERVIÇO SOCIAL E AS PARTICULARIDADE DO EXERCÍCIO PROFISSIONAL 263 consultoria identificam esse espaço como propí- cio para a efetivação do atual projeto de formação profissional do assistente social, ou como uma alternativa de trabalho. Os profissionais de Serviço Social vêm sendo demandados a assessorar a criação de políticas sociais, de serviços sociais, de trabalhos educa- tivos junto à população, entre outros serviços. Para tanto, iniciaremos por uma necessária reflexão conceitual sobre assessoria/consulto- ria e apontaremos os possíveis problemas e as riquezas potenciais da assessoria/consultoria para o Serviço Social. Por fim, discutiremos estratégias para o trabalho de assessoria/consul- toria rumo ao fortalecimento da democracia e dos direitos humanos na perspectiva tratada no atual Código de Ética dos Assistentes Sociais, sempre em articulação com experiências con- cretas sobre assessoria/consultoria retiradas da bibliografia disponível (MATOS, 2014). A bibliografia do Serviço Social brasileiro sobre assessoria/consultoria é recente e trazem, na sua maioria, reflexões sobre experiências de assessoria. Essas reflexões, geralmente ricas, são SERVIÇO SOCIAL E AS PARTICULARIDADE DO EXERCÍCIO PROFISSIONAL 264 marcadas por uma imprecisão sobre o tema e pela ausência de referência teórica sobre o assunto. Percebemos, em geral, uma nebulosa com- preensão de assessoria, ora entendida como a supervisão profissional, ora como trabalho interventivo junto a comunidades ou movimen- tos sociais, ora como militância política. Longe disso ser uma mera questão epistemológica, entendemos como importante desvelar o que estamos, na categoria profissional, chamando de assessoria/consultoria (MATOS, 2014). Segundo Matos (2014), assessoria é aquela ação que visa auxiliar, ajudar, apontar cami- nhos, não sendo o assessor um sujeito que opera a ação, e sim o propositor desta, junto a quem lhe demanda essa assessoria. Assim, definimos assessoria/consultoria como aquela ação que é desenvolvida por um profissional com conhe- cimentos na área, que toma a realidade como objeto de estudo e detém uma intenção de alte- ração da realidade. O assessor não é aquele que intervém, mas sim aquele que propõe caminhos e estratégias ao profissional ou à equipe que assessora e estes têm SERVIÇO SOCIAL E AS PARTICULARIDADE DO EXERCÍCIO PROFISSIONAL 265 autonomia em acatar ou não as suas proposições. Portanto, o assessor deve ser alguém estudioso, permanentemente atualizado e com capacidade de apresentar claramente as suas proposições. A distinção entre assessoria e consultoria é mínima, sendo que consultoria provém da ideia de consultar, que significa pedir opinião. Portanto, consultoria é mais pontual que assessoria, a qual remete a ideia de assistir (MATOS, 2014). Conforme Matos (2014), as assessorias são indicadas com a intencionalidade de viabilizar a articulação e aperfeiçoamento de uma equipe para desenvolvimento do seu projeto de prática por meio de um expert que a acompanhe teórica e tecnicamente. Uma vez definido o que seja assessoria e con- sultoria, passaremos aqui a chamar atenção para algumas iniciativas que se apresentam como assessoria/consultoria, mas não são segundo o autor: SERVIÇO SOCIAL E AS PARTICULARIDADE DO EXERCÍCIO PROFISSIONAL 266 - Assessoria não é sinônimo de supervisão. - Assessoria não é, necessariamente, traba- lho temporário. - A assessoria no Serviço Social não é aban- dono do trabalho assistencial. - Assessoria não é mera militância política. Segundo Matos (2014) os assistentes sociais podem ser excelentes assessores, desde que garantam a sua capacitação profissional conti- nuada, esta, aliás, uma necessidade intrínseca para atuação competente em qualquer área de trabalho. A formação profissional e a experiên- cia possibilitam, especialmente, um domínio sobre as políticas sociais e de práticas educati- vas com a população. Ainda em Matos (2014, p. 38), na atuali- dade existem algumas frentes de assessoria em potencial, a serem desenvolvidas e aprofunda- das pelos profissionais de Serviço Social. No que diz respeito às atribuições privativas, destaca a importância de fortalecer e aumentar as ativi- dades de assessoria dos assistentes sociais aos profissionais da mesma profissão. Essa frente de assessoria tem como objetivo aumentar a SERVIÇO SOCIAL E AS PARTICULARIDADE DO EXERCÍCIO PROFISSIONAL 267 qualidade da intervenção profissional, ou seja, uma proposta de formação profissional conti- nuada dos profissionais. Para Matos (2014, p. 38): [...] a partir de uma reflexão sobre a dico- tomia entre teoria e prática na profissão e preocupada com a viabilização de um projeto profissional competente, e que se posicione contra o avanço do projetoneoliberal, propõe como caminho uma articulação concreta entre a Academia e o meio profissional. Para tanto, se faz necessário romper com o raciocínio, na profissão, de que em um espaço se elabora teoricamente e, em outro, se aplica/inter- vém. É nessa perspectiva que se propõe como caminho a assessoria e/ou consul- toria como uma estratégia possível. Outra frente de assessoria que cabe ser estuda- da e ampliada pelos assistentes sociais é a as- sessoria, a organização política dos usuários. Pode possibilitar uma contribuição direta da categoria, por meio de sua prática profissio- nal, para a rearticulação e fortalecimento dos movimentos sociais (MATOS, 2014). SERVIÇO SOCIAL E AS PARTICULARIDADE DO EXERCÍCIO PROFISSIONAL 268 Portanto, essa exposição teve por objetivo apontar o que seria assessoria e consultoria e, sobretudo, lançar luzes às possibilidades que essa demanda indica para o profissional do Serviço Social. O que vale ressaltar é que por um lado se tem a possibilidade de um campo de atuação para o exercício profissional e, por outro, o desenvolvimento de uma prática com mais qualidade. Porém, cabe saber que esta realidade deve ser sempre retroalimentada com estudos e análise crítica da realidade. A assessoria e a consulto- ria, também, são uma importante possibilidade para aprofundar o constante diálogo entre o conhecimento teórico acumulado pela profis- são e a renovação crítica das suas estratégias técnico-operativas. SERVIÇO SOCIAL E AS PARTICULARIDADE DO EXERCÍCIO PROFISSIONAL 269 SUPERVISÃO NA ÁREA DO SERVIÇO SOCIAL A Supervisão em Serviço Social, para ser ana- lisada e compreendida, precisa ser configurada e considerada como parte integrante da forma- ção e do exercício profissional. Essa análise se faz sob uma perspectiva totalizante da profis- são, que envolve, na mesma reflexão, a teoria, a prática e as relações da categoria profissio- nal com a sociedade, nos diferentes momentos históricos. Nesse sentido, sua concepção nunca está acabada – ela vai se configurando histori- camente, a partir das determinações estruturais e contextuais, à medida que seus profissionais vão estruturando diferentes visões de mundo e de propostas de ação. A marcha do conhecimento da supervisão em Serviço Social aparece como uma perpétua oscilação entre as partes – supervisão – e o todo – Serviço Social –, os quais se devem esclare- cer mutuamente (BURIOLLA, 2003). De início, é importante assinalar que a supervisão não é um processo privativo do SERVIÇO SOCIAL E AS PARTICULARIDADE DO EXERCÍCIO PROFISSIONAL 270 Serviço Social, várias outras áreas a utilizam e já utilizavam muito antes. Assim, discor- rendo genericamente, a natureza do processo de supervisão já estava, de certa forma, con- figurada anteriormente à sua emergência no Serviço Social. Desse modo, tradicionalmente, falar de super- visão, seja em Serviço Social, seja em outras áreas, tem implicado analisá-la a partir de, basica- mente, três enfoques: administrativo, educativo e operacional. - Administrativo – a supervisão é considerada como o processo pelo qual se estabelece um método adequado ao controle de serviços, com vistas ao aperfeiçoamento profissional. Essa supervisão está ligada a tarefas admi- nistrativas e à melhor prestação de serviços. Para tanto, são acionados mecanismos de controle e de treinamento. - Educativo – aqui, a supervisão está relacio- nada ao processo educacional, portanto, ao ensino e à formação profissional; aos pro- cessos pedagógicos e aos programas de ação educacionais. Essa supervisão exige uma SERVIÇO SOCIAL E AS PARTICULARIDADE DO EXERCÍCIO PROFISSIONAL 271 sistematização constante da “matéria-prima” que vai sendo trabalhada, analisada ao decorrer do processo ensino-aprendizagem. - Operacional – a supervisão é vista como um processo operativo, quando se realiza direta- mente na área do agir, do fazer profissional. Nessa perspectiva, são empregados meios didáticos específicos para o alcance das metas desejadas na ação propriamente dita. Na prática, esses enfoques têm se inter-relacio- nado, sobressaindo ora um, ora outro, dependendo da atividade em evidência, o que faz com que, de forma geral, a supervisão seja concebida como um processo administrativo e educacional pelo qual uma pessoa, o “supervisor”, possuidora de conhecimentos e práticas, tem o compromisso de treinar outra, o “supervisionado”, possuidora de menos recursos ao nível do conhecimento e da prática (BURIOLLA, 2003). Acredito que essa concepção advenha e tenha seus fundamentos na própria etimologia da palavra supervisão, que é formada pelo pre- fixo latino “super” (por cima, sobre) e do sufixo “videre”, “visere” (significando ver, olhar, mirar) (BURIOLLA, 2003). SERVIÇO SOCIAL E AS PARTICULARIDADE DO EXERCÍCIO PROFISSIONAL 272 Segundo Buriolla (2003), o exercício prático da supervisão exige do profissional, que quer ou deve assumir essa função, um amadurecimento – o que significa que ele tenha competência profissional e adquira as qualidades, especialidades e habilida- des imprescindíveis a essa ação supervisora. Nesse sentido, requerem-se determinados critérios, requi- sitos, referências para o seu desempenho. Vendo a supervisão em Serviço Social sob esse ângulo, como um processo dinâmico de cons- tante busca, é que se pode garantir os parâmetros para salvaguardar a relação de unidade ensino- -aprendizagem. Nessa medida, alguns aspectos devem ser considerados e são relevantes para a concretização do papel do supervisor. ©shutterstock SERVIÇO SOCIAL E AS PARTICULARIDADE DO EXERCÍCIO PROFISSIONAL 273 CONCEITOS E ATRIBUIÇÕES DO SERVIÇO SOCIAL EM EQUIPES MULTI/ INTERDISCIPLINARES A interdisciplinaridade se impõe como um tema de extrema necessidade, cuja importância se mede pela frequência das aparições desse tema nos debates filosóficos e sociais, seja na acade- mia ou na prática cotidiana dos profissionais. A exigência interdisciplinar inscreve-se na descrição do conhecimento desde as origens do saber no Ocidente. Os sofistas gregos, patriar- cas da nossa pedagogia, já haviam definido o programa de uma Paideia, ensinamento que deveria fazer com que o aluno cumprisse um exame geral das disciplinas constitutivas da ordem intelectual. Esse programa enciclopédico foi recupe- rado e elaborado pelos romanos, na retórica, que transmitiram o esquema da orbis doctrinae (Doutrina do Mundo) aos mestres do ensino medieval. Com a instituição universitária, a partir do século XIII, tem-se o trivium (gramá- tica, retórica e dialética), que se articulam com o quadrivium (aritmética, geometria, astronomia SERVIÇO SOCIAL E AS PARTICULARIDADE DO EXERCÍCIO PROFISSIONAL 274 e música). Aqui, a aproximação dos homens inscreve-se no marco da integração do saber. Essa pedagogia da totalidade foi renovada sem interrupção até a época do Renascimento. Porém, esse programa que busca a totalidade foi subs- tituído pela divisão das ciências, e ainda mais agravado com a divisão sociotécnica do trabalho. Após passar por essa construção histórica, se faz importante saber que a multiplicidade faz referência às distintas disciplinas, à divisão dos campos científicos, ao desenvolvimento e necessidades dos ramos do saber. © sh ut te rs to ck SERVIÇO SOCIAL E AS PARTICULARIDADE DO EXERCÍCIO PROFISSIONAL 275 Para abordar qualquer campo determinado da realidade, cabem múltiplas disciplinas que confluem em sua resolução. A multidisciplina- ridade entre as disciplinas, ciências ou ramos do saber que dialogam, dão razão ao saber con- creto de um determinado problema. No campo da saúde, por exemplo, confluem o médico, a enfermagem, a psicologia, o serviço social etc., que refletem os diversos aspectos que operam a realidade que se aborda. A interdisciplinaridade faz referência ao método, ao modelo de trabalho e à aplicação dos conhecimentos e da técnica, ao modo de desenvolver um conhecimento ou conjunto deconhecimentos e disciplinas. Se multidiscipli- naridade refere-se às disciplinas e ramos do conhecimento, interdisciplinaridade refere-se ao modelo de aplicação, ao método como essas disciplinas se aplicam ou se realizam. Também não é uma justaposição, nem uma suma de saberes em cadeia, nem um conglome- rado de atuações grupais. A interdisciplinaridade é uma forma de conhecimento aplicado que se produz na intersecção dos saberes. É, portanto, SERVIÇO SOCIAL E AS PARTICULARIDADE DO EXERCÍCIO PROFISSIONAL 276 uma forma de entender e abordar um fenômeno ou uma problemática determinada. A interdisciplinaridade é atualmente um dos problemas teóricos e práticos mais essenciais para o progresso da ciência. O conceito de uni- dade interna dos diversos ramos do saber e o de suas relações recíprocas ocupam um lugar cada vez maior nas análises filosóficas, meto- dológicas e sociológicas. No campo da ciência consiste em certa razão de unidade das ações e relações recíprocas, de interpenetrações entre as chamadas disciplinas científicas. Esse modelo de trabalho supõe uma abertura recíproca, uma comunicação fecunda entre os distintos campos do conhecimento, sem tota- litarismo ou imposições, nem reducionismos que contraria a própria complexidade de todo o campo científico. SERVIÇO SOCIAL E AS PARTICULARIDADE DO EXERCÍCIO PROFISSIONAL 277 Sobre a interdisciplinaridade podemos afirmar que: • É um produto derivado do desenvolvimento científico técnico e social. • Não é a soma de saberes em uma cadeia, nem a justaposição ou conglomerado de atuações, senão a interação e intersecção dos conheci- mentos na produção de um novo saber. • Para realizar um trabalho interdisciplinar não precisa estar em uma mesma equipe, nem de- pender da mesma administração. Consiste em confluir e trabalhar as intervenções dos distin- tos profissionais ou campos do saber sobre o caso concreto, a situação concreta e sobre a realidade em questão, seja individual, social, familiar, institucional etc. • Supõe articular-se sobre uma problemática con- creta e determinada, em um intercâmbio de dis- ciplinas com abertura ao saber e ao campo de co- nhecimento e de aplicação de cada ciência, sem totalitarismos, reducionismos ou imposições. • Tem claros os limites do saber de cada um e res- peita os campos do conhecimento dos demais. Fonte: a autora. SERVIÇO SOCIAL E AS PARTICULARIDADE DO EXERCÍCIO PROFISSIONAL 278 Tal perspectiva de atuação não leva à diluição das identidades e competências de cada profis- são, ao contrário, exige maior explicitação das áreas disciplinares no sentido de convergirem para a execução de projetos a serem assumidos coletivamente. Para tanto, o trabalho multi/ interdisciplinar se torna fundamental e estraté- gico, bem como a ampliação do arco de alianças em torno de pautas e projetos comuns. Ao escolher uma profissão que tem como obje- to-sujeito de intervenção o ser humano, isso nos leva, em muitos momentos, a nos encontrarmos interatuando com outros profissionais que têm este mesmo objeto-sujeito de intervenção. A excessiva especialidade que se tem desenvolvido durante o último século nos tem levado a intervir em uma pequena parte do ser humano, e se perdeu de vista o ser humano como um todo integral. Cada uma das partes que o compõem é indispen- sável para que outras funcionem e para que exista o todo, chamado ser humano, é dizer que cada parte interdependente influencia e determina o todo. SERVIÇO SOCIAL E AS PARTICULARIDADE DO EXERCÍCIO PROFISSIONAL 279 Essa situação nos leva a pensar que essa exces- siva especialidade pode limitar a compreensão do problema, a busca de soluções e o exercício profissional. É por essa razão que, na atualidade, se consi- dera necessário transcender os estudos, análises e intervenções de fatos concretos de apenas uma profissão e especialidade, e se propõe como estratégia o trabalho em equipe interdisciplinar. MULTIDISCIPLINARIDADE Disciplinas que trabalham simultaneamente so- bre um mesmo problema, mas sem cruzamen- tos disciplinares. Cada especialista responde por sua ciência ou profissão. INTERDISCIPLINARIDADE Quando um especialista de determinada ciên- cia conta com a colaboração de outras. Fonte: as autoras. SERVIÇO SOCIAL E AS PARTICULARIDADE DO EXERCÍCIO PROFISSIONAL 280 Diante do exposto, passamos a considerar o trabalho interdisciplinar como um processo de construção de conhecimento, com uma mesma unidade de análises. Todo esse esforço levará à formulação de um marco comum, de conceitos e metodologia que integram uma nova unidade de análises comuns para todos. Para alcançar esse esforço, é necessário o intercâmbio científico permanente e o desenvol- vimento de uma atitude investigativa, buscando não somente as manifestações do problema, senão também suas causas, para descobrir alter- nativas preventivas. Manter essa atitude científica constante per- mite superar o ativismo, e impede o repetir de teorias sem uma reflexão crítica por meio da luz da prática. Incorporar a interdisciplinaridade como estratégia de trabalho permite vincular a teo- ria à prática, a racionalização de recursos e a abordagem do problema de intervenção de uma maneira integral, a qual se ganha somente com uma ação deliberativa permanente. SERVIÇO SOCIAL E AS PARTICULARIDADE DO EXERCÍCIO PROFISSIONAL 281 As equipes interdisciplinares se constroem na prática e a discussão e a análise constante são os instrumentos básicos permanentes. Portanto, uma equipe interdisciplinar requer um processo coletivo, onde os indivíduos se reúnem com uma atividade receptiva e flexível, apontando seus conhecimentos pessoais, habilidades, ide- ais, assim como suas motivações e experiências. Uma equipe interdisciplinar nunca perma- nece estática, assume diferentes características frente a diversas situações e tarefas. Um esforço constante e permanente de desenvolver um tra- balho em equipe leva a um enfrentamento de situações de diferentes índoles que se apresen- tam dependendo da conformação das equipes, assim como das características pessoais e pro- fissionais dos integrantes. Entre algumas das manifestações que assu- mem as equipes interdisciplinares, estão: ■ Todos fazem de tudo: chega-se a definir uma única maneira de intervenção e qual- quer dos profissionais da equipe ou todos no seu conjunto o realizam. Essa situação traz sérias consequências para o desen- volvimento profissional como a perda da SERVIÇO SOCIAL E AS PARTICULARIDADE DO EXERCÍCIO PROFISSIONAL 282 identidade profissional, pouca utilização da formação profissional de cada disciplina, falta de claridade do papel ou aporte profis- sional, falta de profundidade na intervenção, perda de espaços profissionais. ■ Cada profissional faz o seu trabalho: é dizer que cada profissional em separado desenvolve seu trabalho e periodicamente se reúne para fazer intercâmbio de experiên- cias ou compartilhar parte da informação. Então vamos identificar por que tal prática deve ser evitada, pois conduz a um comportamento que leva a uma série de limitações, tais como apresentar um diagnóstico e uma intervenção parcializada, aprofundar-se na área profissional, mas deixar de lado as outras partes do todo etc. Para superar as tendências anteriores e receber um equilíbrio entre os dois pontos, o trabalho em equipe deve partir de análises constantes da realidade e de seu objeto de intervenção. Assim, apontamos ações de como integrar e balancear as seguintes formas de intervenção: SERVIÇO SOCIAL E AS PARTICULARIDADE DO EXERCÍCIO PROFISSIONAL 283 ■ Ações comuns, que podem ser assumidas indistintamente pelos profissionais das diferentes disciplinas. ■ Ações específicas que devem ser assumidas por um profissional determinado. Em relação ao Serviço Social, identificamos algumas das limitações que se enfrentam no cotidiano profissional: ■ A pouca informação do papel do assistente social. ■ A ideia que ainda permeia diversosmeios de trabalho, o “assistencialismo”. ■ A excessiva preocupação em justificar a existência da profissão etc. Por outro lado, vamos elencar e destacar algumas das potencialidades que possuem os assisten- tes sociais, e que têm permitido ter um papel importante na construção de equipes interdis- ciplinares. Alguns exemplos são: SERVIÇO SOCIAL E AS PARTICULARIDADE DO EXERCÍCIO PROFISSIONAL 284 ■ Capacidade organizativa; ■ Visão integral das diferentes situações sociais; ■ Capacidade de liderança; ■ Compromisso social; ■ Solidariedade; ■ Habilidade no trabalho de grupos. Esses pontos fortes têm permitido aos assis- tentes sociais desempenhar um trabalho gestor nas diferentes equipes nas quais participam e se tem ganhado o respeito e reconhecimento de outros profissionais, que têm visto o assis- tente social como um elemento indispensável em uma equipe interdisciplinar. SERVIÇO SOCIAL E AS PARTICULARIDADE DO EXERCÍCIO PROFISSIONAL 285 CONSIDERAÇÕES FINAIS Chegamos ao final da quinta unidade do livro, de forma que podemos entender as atribuições e particularidades do exercício profissional. Vimos quais são as atribuições privativas do assistente social, tomando como referência a Lei 8.662, de 07 de junho de 1993, que dispõe sobre a profissão de assistente social e estabelece sua regulamentação, e determina, no artigo 4º, as competências do assistente social e, no artigo 5º, as atribuições privativas à profissão. Também pudemos distinguir assessoria e con- sultoria, na qual consultoria provém da ideia de consultar, que significa pedir opinião, e por sua vez, assessoria é mais pontual, dirigindo a ideia de assistir. Constatamos que a supervisão, na área do Serviço Social, remete à ideia de “olhar por cima”, “ver sobre”, e se faz de grande valia para o intercâmbio entre prática-ensino. Vimos que a interdisciplinaridade não é uma justaposição, nem uma suma de saberes em cadeia, nem um conglomerado de atuações gru- pais. Mas sim, uma forma de conhecimento aplicado que se produz no encontro entre os SERVIÇO SOCIAL E AS PARTICULARIDADE DO EXERCÍCIO PROFISSIONAL 286 saberes. Esse modelo de trabalho supõe uma abertura recíproca, uma comunicação fecunda entre os distintos campos do conhecimento, sem totalitarismo ou imposições, nem reducionis- mos que contraia a própria complexidade de todo o campo científico. E, por fim, vimos que as equipes interdisci- plinares se constroem na prática, e a discussão e a análise constante são os instrumentos básicos permanentes. Dessa forma, uma equipe inter- disciplinar requer um processo coletivo, onde os indivíduos se reúnem com uma atividade receptiva e flexível apontando seus conheci- mentos pessoais, habilidades, ideais. 1. Torres (2004) faz referência a duas dimen- sões que se relacionam, fazendo com que o exercício profissional aconteça. Identifique e explique cada uma. 2. Assessoria é a ação que tem como objetivo auxiliar, ajudar, apontar caminhos, sendo o assessor o sujeito que propõe ações, junto a quem lhe demanda a assessoria, e não aque- le que opera a ação (MATOS, 2004). Com base no autor, defina o que é assessoria. 3. Para discutirmos sobre supervisão, tanto em Serviço Social quanto em outras áreas, devemos analisá-la a partir de três pontos, que são eles: administrativo, educativo e operacional. 4. Explique cada um deles. 5. Diferencie a multidisciplinaridade e a inter- disciplinaridade. 6. Defina assessoria/consultoria. Prezado (a), segue trecho de um artigo que aborda a assessoria no Serviço Social. Assessoria: processo de trabalho doServiço Social Pode-se analisar a demanda de assessoria ao Serviço Social como sendo um processo de tra- balho à profissão. As assessorias são considera- das formas indiretas de prestações de serviços a órgãos governamentais, não governamen- tais e empresas privadas, citadas anteriormen- te, sendo que o profissional responsável pela execução desta atividade instrumental, nor- malmente não tem vínculo empregatício e atua como prestador de serviço para a organi- zação demandatária. A assessoria pode ser vista como uma forma de acompanhamento e monitoramento de uma determinada demanda, junto a um gru- po ou vários grupos que a executam, em que o assessor normalmente não tem vínculo per- manente com o local da prestação e realização do serviço. Normalmente são solicitadas pela equipe institucional, que atua diretamente na organização ou como em alguns casos pelos representantes da gestão. As assessorias podem ser consideradas formas indiretas de prestações de serviços a órgãos go- vernamentais, não governamentais e empresas privadas, em que o profissional responsável pela execução desta atividade instrumental, normal- mente não tem vínculo empregatício atuando como prestador de serviço à organização de- mandatária. Para a execução de uma assessoria faz-se necessário clareza acerca de quais são os objetivos pretendidos pelos demandatários da organização que a solicita. Também é preciso conhecer a organização a fim de tornar possível um processo de traba- lho investigativo e interventivo com retorno para a qualificação profissional de todos os envolvidos. Para a realização da assessoria, os profissionais devem ter como habilidades: ne- gociação, atualização e aprimoramento teóri- cos constantes, habilidade com apropriação e manejo da informática, iniciativa, espírito de liderança, criatividade, bom relacionamento interpessoal, da equipe e interdisciplinar em permanente desenvolvimento. A assessoria no âmbito do Serviço Social pode ser considerada uma ferramenta de trabalho incipiente. Porém, o Conselho Federal e os Conselhos Regionais do Serviço Social consi- deram-na como um instrumento de trabalho profissional, em que o assistente social irá “[...] acompanhar processos de trabalho da organi- zação e / ou de grupos, apontando possibilida- des, limites, alternativas no projeto pretendi- do. Deve contribuir para a leitura da realidade, o que facilita traçar o planejamento” (CRESS 10ª Região, 1999, p. 68). Porém, a assessoria pode ser considerada, apesar da incipiência de sua utilização como instrumento ou atividade da categoria pro- fissional, um novo espaço de intervenção do Serviço Social. Fonte: Goerck e Viccari (2004). MATERIAL COMPLEMENTAR Supervisão em Serviço Social Marta A. Feiten Buriolla Editora: Cortez Sinopse: Nesta obra fundamental para o estudo da supervisão, a autora analisa o conceito de supervisão em Serviço Social, de sua gênese até o momento atual, bem como o significado da relação entre supervisor e supervisionado e a multiplicidade de papéis assumidos pelo supervisor. 1. Dimensão interventiva: aquela em que se explicita não somente a construção, mas a efetivação das ações desenvolvidas pelo as- sistente social. Compreende intervenção, propriamente dita, o conhecimento das tendências teórico-metodológicas, a instru- mentalidade, os instrumentos técnico-ope- rativos e os do campo das habilidades, os componentes éticos e os componentes po- líticos, o conhecimento das condições obje- tivas de vida do usuário e o reconhecimento da realidade social. Dimensão investigativa: compreende a produção do conhecimento, a elaboração de pesquisas e os aspectos analíticos que dão suporte, qualificam e garantem a con- cretização da ação interventiva. 2. É ação desenvolvida por um profissional com conhecimentos na área, que toma a realidade como objeto de estudo e detém uma intenção de alteração da realidade. O assessor não é aquele que intervém, mas sim aquele que propõe caminhos e estraté- gias ao profissional ou à equipe que asses- sora e estes têm autonomia em acatar ou não as suas proposições. GABARITO 3. Administrativo – a supervisão é considera- da como o processo pelo qual se estabelece um método adequado ao controle de ser- viços, com vistas ao aperfeiçoamento pro- fissional. Essa supervisão está ligada a tare- fas administrativas e à melhorprestação de serviços. Para tanto, são acionados mecanis- mos de controle e de treinamento. Educativo – aqui, a supervisão está relacio- nada ao processo educacional, portanto, ao ensino e à formação profissional; aos proces- sos pedagógicos e aos programas de ação educacionais. Essa supervisão exige uma sis- tematização constante da “matéria-prima” que vai sendo trabalhada, analisada ao de- correr do processo ensino-aprendizagem. Operacional – a supervisão é vista como um processo operativo, quando se realiza direta- mente na área do agir, do fazer profissional. Nessa perspectiva, são empregados meios didáticos específicos para o alcance das me- tas desejadas na ação propriamente dita. GABARITO 4. MULTIDISCIPLINARIDADE Disciplinas que trabalham simultaneamen- te sobre um mesmo problema, mas sem cruzamentos disciplinares. Cada especialista responde por sua ciência ou profissão. INTERDISCIPLINARIDADE Quando um especialista de determinada ci- ência conta com a colaboração de outras. 5. Ação que é desenvolvida por um profissio- nal com conhecimentos na área, que toma a realidade como objeto de estudo e detém uma intenção de alteração da realidade. GABARITO CONCLUSÃO Olá! Chegamos ao final do nosso livro! Depois de ter conhecido e estudado conteúdos rela- cionados ao Serviço Social e Formação Pro- fissional certamente você será capaz de en- tender e se relacionar com o assunto de um jeito diferenciado. Na Unidade I do livro, abordamos como o Ser- viço Social se tornou profissão regulamenta- da por lei, a trajetória histórica, sua relação e a influência da Igreja Católica na formação do profissional, e como se tornou disciplina no campo das ciências humanas e sociais, como a profissão produz e reproduz as relações so- ciais e como o Serviço Social rompeu com o sistema conservador e construiu o projeto ético político. Na Unidade II, vimos como se deu o processo de ruptura e como isso colaborou para a elabora- ção do projeto ético-político, conhecemos tam- bém o início do debate profissional no rompi- mento com o sistema conservador e os códigos de ética conservadores. Abordamos também os temas: projeto neoliberal e societário. CONCLUSÃO Na Unidade III, analisamos o contexto das políticas sociais e o papel do Serviço Social nesse contexto, o conceito de questão social, as várias formas em que ela se manifesta e porque ela é objeto de trabalho do assisten- te social. Também discutimos sobre o papel das políticas sociais no combate às expres- sões da questão social e como a politica de assistência social foi construída no Brasil. Na Unidade IV, você conheceu os diversos campos de atuação do profissional do Serviço Social nos dias atuais e sua relação com cada um, assim como os desafios que são postos à profissão. Compreendeu, também, como é a atuação do assistente social nas instituições públicas, no terceiro setor e nas empresas. Já na Unidade V você pode conhecer as particu- laridades da profissão, bem como as atribuições privativas do assistente social e seu trabalho nas equipes multi/interdisciplinar. Conheceu, tam- bém, como é o trabalho de assessoria e consul- toria e supervisão em Serviço Social. CONCLUSÃO Enfim, por meio desta disciplina, pudemos trazer um pouco mais de conhecimento sobre esse tema que é tão relevante para sua forma- ção acadêmica e será útil na sua jornada pro- fissional. Esperamos sinceramente que você tenha gostado do conteúdo e que ele motive você a ser um profissional de sucesso. Até uma próxima oportunidade! REFERÊNCIASREFERÊNCIAS ASSISTENTE Social: um guia básico para co- nhecer um pouco mais sobre esta categoria profissional. Conselho Federal de Servi- ço Social (CFESS). Disponível em: <http:// www.cfess.org.br/arquivos/deliberacao3co- munica-material-midia-POSNACIONAL-final. pdf>. Acesso em: 25 abr. 2016. Associação Brasileira de Assistentes Sociais – ABAS. Código de Ética de 1947. Disponí- vel em: < http://www.cfess.org.br/arquivos/ CEP_1947.pdf>. Acesso em: 26 abr. 2016. ABREO, A. C. S.de; RIBEIRO, R. M.. O fazer pro- fissional do Assistente Social de empre- sas em Londrina. Disponível em: <http:// www.uel.br/revistas/ssrevista/c_v6n1_carol. htm>. Acesso em: 26 abr. 2016. BARROCO, M. L. S. Considerações sobre a ética na pesquisa a partir do Código de Éti- ca Profissional do Assistente Social. 2005. 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UNIDADE I O SERVIÇO SOCIAL E O PROCESSO HISTÓRICO DA PROFISSÃO Introdução Trajetória Histórica do Serviço Social e sua Relação com Igreja e o Estado A Influência da Igreja Católica no Processo de Formação Profissional do Assistente Social A Institucionalização do Serviço Social no Brasil O Serviço Social na Produção e Reprodução das Relações Sociais Considerações Finais GABARITO UNIDADE II RUPTURA DO SERVIÇO SOCIAL CONSERVADOR PARA A CONSTRUÇÃO PROJETO ÉTICO POLÍTICO Introdução Conservadorismo e Positivismo Serviço Social e a Reproduçao das Relações Socias Os Códigos de Ética Conservadores A Matriz Modernizadora do Serviço Social Projetos Societários O Projeto Ético-Político do Serviço Social e o Projeto Neoliberal Considerações Finais GABARITO UNIDADE III O SERVIÇO SOCIAL NO CONTEXTO DAS POLÍTICAS SOCIAIS Introdução O Serviço Social no Contexto das Políticas Sociais Face as Expressões da Questão Social O Processo Histórico da Participação Popular no Brasil Processo Histórico de Construção da Política de Assistência Social no Brasil Considerações Finais GABARITO UNIDADE IV DIFERENTES ESPAÇOS DE ATUAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL NA CONTEMPORANEIDADE Introdução A Ação Interventiva do Assistente Social em Instituições Públicas A Ação Interventiva do Assistente Social em Instituições do Terceiro Setor A Ação Interventiva do Assistente Social em Instituições Empresariais Considerações Finais GABARITO UNIDADE V SERVIÇO SOCIAL E AS PARTICULARIDADE DO EXERCÍCIO PROFISSIONAL Introdução Atribuições Privativas do Assistente Social Assessoria e Consultoria em Serviço Social Conceitos e Atribuições do Serviço Social em Equipes Multi/Interdisciplinares Considerações Finais Referências