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AN02FREV001/REV 4.0 1 PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA Portal Educação CURSO DE HIDROLOGIA BÁSICA Aluno: EaD - Educação a Distância Portal Educação AN02FREV001/REV 4.0 2 CURSO DE HIDROLOGIA BÁSICA MÓDULO I Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização ou distribuição do mesmo sem a autorização expressa do Portal Educação. Os créditos do conteúdo aqui contido são dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas. AN02FREV001/REV 4.0 3 SUMÁRIO MÓDULO I 1 INTRODUÇÃO A HIDROLOGIA 2 APLICAÇÕES DA HIDROLOGIA 3 CICLO HIDROLÓGICO 4 BACIAS HIDROGRÁFICAS 4.1 CARACTERÍSTICAS FÍSICAS 4.1.1 Área de Drenagem 4.1.2 Forma da Bacia 4.1.3 Sistemas de Drenagem 4.1.4 Características de Relevo da Bacia 4.2 CARACTERÍSTICAS CLIMÁTICAS 5 BALANÇO HÍDRICO 5.1 CONCEITO DE BALANÇO HÍDRICO 5.2 EQUACIONAMENTO DO BALANÇO HÍDRICO 5.3 APLICAÇÃO DO BALANÇO HÍDRICO MÓDULO II 6 PRECIPITAÇÃO 6.1 FORMAS DE PRECIPITAÇÃO 6.2 CAUSAS E TIPOS DA PRECIPITAÇÃO 6.3 MEDIDAS PLUVIOMÉTRICAS 6.3.1 Grandezas Características das medidas pluviométricas 6.3.2 Instrumentos de Medição 6.4 ANÁLISE DOS DADOS DE PRECIPITAÇÃO 6.5 DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL 6.6 DISTRIBUIÇÃO TEMPORAL 7 EVAPOTRANSPIRAÇÃO AN02FREV001/REV 4.0 4 7.1 GRANDEZAS CARACTERÍSTICAS 7.2 FATORES QUE INTERFEREM NA EVAPOTRANSPIRAÇÃO 7.3 INSTRUMENTOS DE MEDIDA DE EVAPORAÇÃO 7.3.1 Tanque Classe A 7.3.2 Evaporímetro de Piche 7.4 TRANSPIRAÇÃO 7.4.1 Medida de Transpiração 7.5 MEDIDA DA EVAPOTRANSPIRAÇÃO 8 INFILTRAÇÃO 8.1 GRANDEZAS CARACTERÍSTICAS 8.2 FATORES QUE INTERFEREM NA INFILTRAÇÃO 8.3 INSTRUMENTOS DE MEDIÇÃO DA CAPACIDADE DE INFILTRAÇÃO MÓDULO III 9 MEDIÇÃO DE VAZÃO 9.1 MEDIÇÃO DIRETA DA VAZÃO 9.2 MEDIÇÃO DIRETA PELO NÍVEL DE ÁGUA 9.3 DETERMINAÇÃO POR PROCESSOS QUÍMICOS 9.4 MEDIÇÃO A PARTIR DAS VELOCIDADES 9.4.1 Método do Molinete 10 CURVA CHAVE 11 VAZÕES MÉDIAS 12 REGULARIZAÇÃO DE VAZÕES 12.1 CURVAS DE PERMANÊNCIA 13 VAZÕES MÁXIMAS E MÍNIMAS, GERAÇÃO DE SÉRIES SINTÉTICAS E DISTRIBUIÇÃO DE FREQUÊNCIA 13.1 VAZÕES MÁXIMAS 13.2 VAZÕES MÍNIMAS 13.3 GERAÇÃO DE SÉRIES SINTÉTICAS 13.4 DISTRIBUIÇÃO DE FREQUÊNCIA 14 MODELO MATEMÁTICO DE TRANSFORMAÇÃO DE CHUVA-VAZÃO 14.1 MODELOS CHUVA-VAZÃO CALIBRADOS AN02FREV001/REV 4.0 5 14.1.1 Método do Hietograma 14.1.2 Método do Hidrograma Unitário 14.1.3 Hidrograma Unitário em uma bacia a partir de dados de chuva e vazão 14.2 MODELOS CHUVA-VAZÃO NÃO CALIBRADOS 14.2.1 Método Racional 14.2.2 Método do Racional Modificado MÓDULO IV 15 PROPAGAÇÃO DE ONDAS 15.1 PROPAGAÇÃO DE ONDAS NO CANAL 15.1.1 Propagação da vazão líquida no canal 15.1.2 Propagação da vazão sólida no canal 15.2 PROPAGAÇÃO DE ONDAS NO RESERVATÓRIO 15.2.1 Propagação da vazão líquida no reservatório 15.2.2 Propagação da vazão sólida no reservatório 15.3 AMORTECIMENTO EM RESERVATÓRIOS 15.4 OPERAÇÃO DE RESERVATÓRIOS 15.4.1 Método da Curva Volume X Duração 16 ÁGUA SUBTERRÂNEA – PRINCÍPIOS E ENSAIOS PARA EXPLORAÇÃO 16.1 CONCEITOS BÁSICOS 16.2 CLASSIFICAÇÃO DOS AQUÍFEROS 16.3 PRINCIPAIS FUNÇÕES DOS AQUÍFEROS 16.3.1 Impactos Ambientais sobre os Aquíferos 17 PARÂMETROS HIDROGEOLÓGICOS FUNDAMENTAIS 17.1 POROSIDADE 17.2 PERMEABILIDADE 17.3 TRASMISSIBILIDADE 17.4 COEFICIENTE DE ARMAZENAMENTO 18 CONSIDERAÇÕES FINAIS REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AN02FREV001/REV 4.0 6 MÓDULO I 1 INTRODUÇÃO A HIDROLOGIA A hidrologia é uma ciência interdisciplinar e tem evoluído expressivamente devido aos problemas crescentes observados nas bacias hidrográficas, como a ocupação inadequada, o aumento significativo da utilização da água para diversos fins e principalmente em face aos resultados dos impactos sobre o meio ambiente (TUCCI, 2009). A US Federal Council for Sciences and Tecnology define hidrologia como a ciência que trata da água na Terra, sua ocorrência, circulação e distribuição, suas propriedades físicas e químicas e sua relação com o meio ambiente, incluindo sua relação com a vida. Uma análise mais ampla das investigações relacionadas com os aspectos científicos da hidrologia pode ser encontrada no relatório do National Resourch Concil de 1991. É uma obra de referência sobre oportunidades no campo das ciências hidrológicas identificando as melhorias necessárias para a pesquisa e infraestrutura educacional. 2 APLICAÇÕES DA HIDROLOGIA A Hidrologia Aplicada está voltada para os diferentes problemas que envolvem a utilização dos recursos hídricos, preservação do meio ambiente e ocupação da bacia. No primeiro caso estão envolvidos os aspectos de disponibilidade hídrica, regularização de vazão, planejamento, operação e gerenciamento dos recursos hídricos. Dentro dessa visão os principais projetos que normalmente são AN02FREV001/REV 4.0 7 desenvolvidos com a participação significativa do hidrólogo são: aproveitamentos hidrelétricos, abastecimento de água, irrigação e regularização para navegação. Quanto à preservação do meio ambiente, modificações do uso do solo, regularização para controle de qualidade da água, impacto das obras hidráulicas sobre o meio ambiente aquático e terrestre, são exemplos de problemas que envolvem aspectos multidisciplinares em que a hidrologia tem uma parcela importante. A ocupação da bacia pela população gera duas preocupações distintas: o impacto do meio sobre a população por meio de enchentes e; o impacto do homem sobre a bacia, mencionado na preservação do meio ambiente. A ação do homem no planejamento e desenvolvimento da ocupação do espaço na Terra requer cada vez mais uma visão ampla sobre as necessidades da população, os recursos terrestres e aquáticos disponíveis e o conhecimento sobre o comportamento dos processos naturais na bacia, para racionalmente compatibilizar necessidades crescentes com recursos limitados (TUCCI, 2009). Segundo Righetto (1998), a Hidrologia exerce grande influência em: Escolha de fontes de abastecimento de água para uso doméstico ou industrial (Figura 1c); Projeto de construção de obras hidráulicas: fixação das dimensões hidráulicas de obras de arte, tais como: pontes, bueiros etc.; projeto de barragens: localização e escolha do tipo de barragem, de fundação e de extravasador; dimensionamento; estabelecimento de método de construção; Drenagem: estudo das características do lençol freático; exame das condições de alimentação e de escoamento natural do lençol (precipitação, bacia de contribuição e nível d’ água nos cursos ‘d água); Irrigação: problema de escolha do manancial; estudo de evaporação e infiltração (Figura 1a); Regularização de cursos d’ água e controle de inundações: estudo das variações de vazão; previsão de vazões máximas; exame das oscilações de nível e das áreas de inundação; AN02FREV001/REV 4.0 8 Controle de Poluição: análise da capacidade de recebimento de corpos receptores dos efluentes de sistemas de esgotos: vazão mínima de cursos d’ água, capacidade de reaeração e velocidade de escoamento; Controle da Erosão: análise de intensidade e frequência das precipitações máximas, determinação de coeficiente de escoamento superficial; estudo da ação erosiva das águas e da proteção por meio de vegetação e outros recursos; Navegação: observação de dados e estudos sobre construções e manutenção de canais navegáveis; Aproveitamento Hidrelétrico: previsão das vazões máximas, mínimas e médias dos cursos d’água para o estudo econômico e o dimensionamento das instalações; verificação da necessidade de reservatório de acumulação; determinaçãodos elementos necessários ao projeto e construção do mesmo: bacias hidrográficas, volumes armazenáveis, perdas por evaporação e infiltração (Figura 1b); Operação de sistemas hidráulicos complexos; Recreação e preservação do meio ambiente; e Preservação e desenvolvimento da vida aquática. FIGURA 1- APLICAÇÕES DA HIDROLOGIA FONTE: Disponível em: <http://br.vaisala.com/br/hydrology/applications/Pages/default.aspx.>. Acesso em: 06 jan. 2014. AN02FREV001/REV 4.0 9 3 CICLO HIDROLÓGICO O ciclo hidrológico é o fenômeno global de circulação fechada da água entre a superfície terrestre e a atmosfera, impulsionado fundamentalmente pela radiação solar associada à gravidade e a rotação da terra (TUCCI, 2009). Porém em uma escala regional este ciclo hidrológico é aberto, ou seja, os volumes de água evaporados em um determinado local não precipitam necessariamente neste mesmo local. No ciclo hidrológico ocorre à evaporação da água dos oceanos, rios e lagos, o vapor resultante é transportado pelo movimento das massas de ar. O vapor pode ser condensado em determinadas condições, formando as nuvens que por sua vez podem resultar em precipitação. Essa precipitação que ocorre sobre a terra pode ser dispersa de várias formas. A maior parte fica retida temporariamente no solo próximo onde precipitou que por sua vez, retorna à atmosfera através da evaporação e transpiração das plantas. Uma parte da água que sobra escoa sobre a superfície do solo ou para os rios, enquanto que a outra parte penetra profundamente no solo, abastecendo o lençol de água subterrâneo. A Figura 2 demonstra como ocorrem essas relações entre as fases da água no ciclo. AN02FREV001/REV 4.0 10 FIGURA 2 - CICLO DA ÁGUA OU CICLO HIDROLÓGICO FONTE: Disponível em: <http://ga.water.usgs.gov/edu/watercyclo.html>. Acesso em: 06 jan. 2014. As principais variáveis hidrológicas consideradas no ciclo hidrológico são: E: evaporação (mm/d); q: umidade específica do ar em gramas de vapor d’ água por quilo de ar, ou g/kg; P: precipitação (mm); i: intensidade de chuva (mm/h); Q: deflúvio superficial ou vazão (m³/s); f: taxa de infiltração (mm/h); ET: evapotranspiração (mm/d). AN02FREV001/REV 4.0 11 4 BACIAS HIDROGRÁFICAS A bacia hidrográfica é uma área de captação natural de água da precipitação que faz convergir os escoamentos para um único ponto de saída, a foz, também chamada de exutório. É composta por um conjunto de superfícies-vertentes constituídas pela superfície do solo e de uma rede de drenagem formada por cursos de água que confluem até resultar um leito único (FINOTTI et al., 2009). Uma bacia hidrográfica abrange, então, toda a área de captação natural da água da chuva que converge o escoamento superficial para o canal principal e seus tributários (Figura 3). FIGURA 3 - CONSTITUINTES DE UMA BACIA HIDROGRÁFICA FONTE: Disponível em: <https://sites.google.com/site/adelaideines/RedeHidrografica.pdf>. Acesso em: 06 jan. 2014. AN02FREV001/REV 4.0 12 A Lei 9.433 de 8 de janeiro de 1997 no seu artigo 1° institui que a bacia hidrográfica é a unidade territorial para implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos e atuação do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, portanto, é de grande importância a compreensão da definição de bacia hidrográfica e suas divisões. As bacias hidrográficas podem conter bacias menores, em uma subdivisão até se chegar aos cursos de água menores, aos pequenos rios e aos córregos em uma região. Assim o tamanho da bacia na divisão depende do objetivo a que se propõe a divisão (FINOTTI et al., 2009). 4.1 CARACTERÍSTICAS FÍSICAS Consideram-se dados fisiográficos de uma bacia todos aqueles dados que podem ser extraídos de mapas, fotografias aéreas e imagens de satélite. Basicamente são áreas, comprimentos, declividades e coberturas do solo medidos diretamente ou expressos por índices (TUCCI, 2009), que influem no escoamento superficial. 4.1.1 Área de Drenagem A área é um dado fundamental para definir a potencialidade hídrica de uma bacia, uma vez que a bacia é a região de captação da água da chuva. Assim, a área da bacia multiplicada pela lâmina precipitada ao longo de um intervalo de tempo define o volume de água recebido ao longo deste intervalo de tempo (COLLISCHONN e TASSI, 2008). A área de uma bacia hidrográfica (Figura 4) pode ser obtida por planimetragem direta de mapas que já incorporam a projeção vertical ou também por cálculos matemáticos de mapas arquivados eletronicamente através do SIG – Sistema de Informação Geográfica (TUCCI, 2009). AN02FREV001/REV 4.0 13 FIGURA 4 - DELIMITAÇÃO DA ÁREA DE UMA BACIA HIDROGRÁFICA. FONTE: Disponível em: < http://telmadmonteiro.blogspot.com.br/2011/01/hidreletricas-na-bacia- hidrografica-do.html>. Acesso em: 07 jan. 2014. 4.1.2 Forma da Bacia A forma da bacia influencia no escoamento superficial e, consequentemente o hidrograma resultante de uma determinada chuva. As grandes bacias hidrográficas em geral apresentam forma de leque ou pera, já as pequenas bacias apresentam formas mais variadas possíveis em função da estrutura geológica dos terrenos. Existem alguns índices utilizados para se determinar a forma das bacias, relacionando-as com formas geométricas conhecidas e são utilizados para comparar AN02FREV001/REV 4.0 14 bacias e para comporem parâmetros das equações empíricas de correlações entre vazões e características físicas das bacias. Dentre eles serão calculados o fator de forma, o índice de compacidade (PORTO et al., 1999) e o índice de circularidade. Fator Forma (kf) O Fator Forma relaciona a forma da bacia com a de um retângulo, correspondendo à razão entre a largura média e o comprimento axial da bacia (da foz ao ponto mais longínquo do espigão). A forma da bacia, bem como a forma do sistema de drenagem, pode ser influenciada por algumas características, principalmente pela geologia. Podem atuar também sobre alguns processos hidrológicos ou sobre o comportamento hidrológico da bacia (CARDOSO et al., 2006). O fator de forma pode ser descrito pela equação proposta por VILLELA e MATTOS, 1975: Sendo que: F = Fator forma; A = Área de drenagem (m2); L = Comprimento do eixo da bacia (m). Índice de Compacidade (kc) O índice de compacidade é a relação entre o perímetro da bacia e o perímetro de um círculo de mesma área que a bacia. √ Onde: P = perímetro da bacia em km A = área da bacia em km2 Como o círculo é a figura geométrica plana que comporta uma dada área com o menor perímetro, este índice nunca será menor que 1. Bacias que se AN02FREV001/REV 4.0 15 aproximam geometricamente de um círculo convergem o escoamento superficial ao mesmo tempo para um trecho relativamente pequeno do rio principal (Figura 5). Caso não existam outros fatores que interfiram, os menores valores de kc indicam maior potencialidade de produção de picos de enchentes elevados (PORTO et al., 1999). FIGURA 5 - FORMAS CIRCULAR E ESBELTA DE UMA BACIA HIDROGRÁFICA FONTE: PORTO et al., 1999. Índice de Circularidade (Ic) Simultaneamente ao coeficiente de compacidade, o índice de circularidade tende para a unidade à medida que a bacia se aproxima da forma circular e diminui à medida que a forma torna alongada (CARDOSO, 2006). AN02FREV001/REV 4.0 16 Onde: Ic = índice de circularidade; A = área de drenagem (m2); p = perímetro (m). Caso não existam outros fatores que interfiram, quanto mais próximo de 1 o valor de Fc, isto é, quanto mais a forma da bacia se aproximar da forma do quadrado do seu comprimento axial,maior a potencialidade de produção de picos de cheias (PORTO et al., 1999). 4.1.3 Sistemas de Drenagem O sistema de drenagem de uma bacia hidrográfica é composto por um rio principal e seus afluentes, seu estudo possibilita a estimativa da velocidade com que a água deixa a bacia. Suas características podem ser descritas pela ordem dos cursos d’água, densidade de drenagem, extensão média do escoamento superficial e sinuosidade do curso de água. Ordem dos cursos d’água A ordem dos cursos d’água representa o grau de ramificação do sistema de drenagem da bacia (ARAI et al., 2012), pode ser determinada seguindo o critério introduzido por Horton (1945) e modificado por Strahler (1957) conforme a Figura 6. No sistema de Strahler (1957) são considerados de primeira ordem todos os canais que não possuem tributários, os canais de segunda ordem são os que se originam da confluência de dois canais de primeira ordem, podendo ter afluentes também de primeira ordem, os canais de terceira ordem originam-se da confluência de dois canais de segunda ordem, podendo receber afluentes também de primeira e segunda ordem, sucessivamente (SILVEIRA, 2001). A junção de um canal de dada ordem a um canal de ordem superior não altera a ordem deste (CARDOSO et al., 2006). AN02FREV001/REV 4.0 17 FIGURA 6 - CLASSIFICAÇÃO DOS RIOS QUANTO À ORDEM FONTE: PORTO et al., 1999. Densidade de drenagem O sistema de drenagem é formado pelo rio principal e seus tributários. Seu estudo indica a maior ou menor velocidade com que a água deixa a bacia hidrográfica, sendo assim, é o índice que indica o grau de desenvolvimento do sistema de drenagem, ou seja, fornece uma indicação da eficiência da drenagem da bacia, sendo expressa pela relação entre o somatório dos comprimentos de todos os canais da rede – sejam eles perenes, intermitentes ou temporários – e a área total da bacia (CARDOSO, C.A. et al, 2006). A densidade da rede de drenagem é dada pela equação: AN02FREV001/REV 4.0 18 em que: Dd = (km km-2) densidade de drenagem Lt = (km) comprimento total dos cursos d’água na bacia A = (km2) área da bacia (SILVEIRA, 2001). 4.1.4 Características de Relevo da Bacia Declividade da Bacia A declividade relaciona-se com a velocidade em que se dá o escoamento superficial, afetando, portanto, o tempo que leva a água da chuva para concentrar-se nos leitos fluviais que constituem a rede de drenagem das bacias, sendo que os picos de enchente, infiltração e susceptibilidade para erosão dos solos dependem da rapidez com que ocorre o escoamento sobre os terrenos da bacia (VILLELA; MATTOS, 1975). Pode ser calculada por meio da fórmula: (∑ ) Onde: I = Declividade média da bacia (%) D = Equidistância entre as curvas de nível (m) A = Área da bacia (m2) CNi = Comprimento total das curvas de nível (m) Elevação Média da Bacia Hidrográfica A elevação média de uma bacia é um fator importante com relação à temperatura e a precipitação (PORTO, 1999). Uma das equações utilizadas para esse cálculo é: AN02FREV001/REV 4.0 19 ∑ Sendo que: E = Elevação média da bacia (m) ei = Elevação média entre duas curvas de nível consecutivas (m) ai = Área entre curvas de nível ABH = Área da bacia Obs.: as áreas devem ser expressas com a mesma unidade. Curva Hipsométrica A curva hipsométrica (Figura 7) é a representação gráfica do relevo médio de uma bacia. Representa o estudo da variação da elevação dos vários terrenos da bacia com referência ao nível médio do mar. Essa variação pode ser indicada por meio de um gráfico que mostra a percentagem da área de drenagem que existe acima ou abaixo das várias elevações. Podem também ser determinadas por meio das quadrículas associadas a um vetor ou planimetrando-se as áreas entre as curvas de nível (CARVALHO & SILVA, 2006). AN02FREV001/REV 4.0 20 FIGURA 7 - CURVA HIPSOMÉTRICA DE UMA BACIA HIDROGRÁFICA FONTE: Disponível em: <http://pt.scribd.com/doc/112123350/8/Curva-Hipsometrica>. Acesso em: 05 jan. 2014. A Figura 7 representa uma curva hipsométrica de uma bacia hidrográfica, a qual apresenta as altitudes, média, mediana, máxima e mínima desta bacia. 4.2 CARACTERÍSTICAS CLIMÁTICAS Os estudos do clima são de fundamental importância, para a compreensão dos processos e modelamento das formas superficiais (TRENTIN, 2007). Conforme Moreira & Pires Neto (1998), os estudos do clima permitem identificar a intensidade dos processos que atuam na superfície terrestre, assim como a sua distribuição no espaço, sendo que a velocidade de alteração das rochas ou intemperismo, por exemplo, é fortemente condicionada pela temperatura e precipitação. AN02FREV001/REV 4.0 21 O conhecimento dos padrões predominantes de precipitação pluviométrica em diferentes escalas e sua variabilidade passa a ter uma importância ainda maior no planejamento dos recursos hídricos, no estudo hidrológico, no planejamento urbano e no planejamento agrícola, entre outros (BALDO, 2006). 5 BALANÇO HÍDRICO 5.1 CONCEITO DE BALANÇO HÍDRICO O balanço entre entradas e saídas de água em uma bacia hidrográfica é denominado balanço hídrico. A principal entrada de água de uma bacia é a precipitação. A saída de água da bacia pode ocorrer por evapotranspiração e por escoamento. Estas variáveis podem ser medidas com diferentes graus de precisão (COLLISCHONN E TASSI, 2008). O balanço hídrico de uma bacia permite avaliar a variação no tempo da quantidade de água armazenada (superficial e subterrânea) e dos respectivos fluxos (precipitação, escoamento e evapotranspiração), o que permite tirar conclusões importantes sobre o regime hidrológico e das possibilidades de utilização dos recursos hídricos. Também, com a consolidação do balanço hídrico, se consolida a possibilidade da modelagem dos vários processos hidrológicos presentes na transformação chuva-vazão (FILL et al., 2005). A Figura 8 ilustra essa relação entre as variáveis que participam do balanço hídrico. AN02FREV001/REV 4.0 22 FIGURA 8 - SECÇÃO TRANSVERSAL DE UMA BACIA HIDROGRÁFICA COM AS VARIÁVEIS HIDROLÓGICAS ENVOLVIDAS NO SEU BALANÇO HÍDRICO FONTE: Lima, 2008. AN02FREV001/REV 4.0 23 5.2 EQUACIONAMENTO DO BALANÇO HÍDRICO Em uma metodologia descrita pela UNESCO, 1982, o balanço hídrico superficial para uma bacia hidrográfica pode ser definido como: P + QSI + QUI - (ET + QSO + QUO) = ∆S P = precipitação (mm) QSI = vazão de entrada superficial (mm) QUI = contribuição subterrânea (mm) ET = evapotranspiração (mm) QSO = vazão de saída de água superficial (mm) QUO = vazão de saída de água subterrânea (mm) ∆S = balanço hídrico 5.3 APLICAÇÃO DO BALANÇO HÍDRICO A principal utilização do balanço hídrico é identificar locais onde uma determinada cultura pode ser explorada com maior eficácia. Os balanços hídricos têm sido utilizados para estimar parâmetros climáticos e, a partir deles, estabelecer comparações entre as condições predominantes em locais diferentes. Se a mesma metodologia de cálculo do balanço hídrico for adotada para todos os locais de uma mesma região, é possível identificar os locais climaticamente favoráveis para a exploração de uma determinada cultura a partir da comparação dos resultados obtidos (TOMASELLA & ROSSATO, 2005). O balanço hídrico torna-se praticamente indispensável na definição e quantificação das exigências climáticas das culturas econômicas, nas diferentes AN02FREV001/REV 4.0 24 fases fenológicas, possibilitando o mapeamento das aptidões climáticas dessas culturas na área ou região de interesse (CAMARGO & CAMARGO, 1993).FIM DO MÓDULO I AN02FREV001/REV 4.0 25 PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA Portal Educação CURSO DE HIDROLOGIA BÁSICA Aluno: EaD - Educação a Distância Portal Educação AN02FREV001/REV 4.0 26 CURSO DE HIDROLOGIA BÁSICA MÓDULO II Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização ou distribuição do mesmo sem a autorização expressa do Portal Educação. Os créditos do conteúdo aqui contido são dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas. AN02FREV001/REV 4.0 27 MÓDULO II 6 PRECIPITAÇÃO Entende-se por precipitações atmosféricas como sendo o conjunto de águas originadas do vapor de água atmosférico que cai em estado líquido ou sólido, sobre a superfície da terra. O conceito engloba, portanto, não somente a chuva, mas também a neve, o granizo, o nevoeiro, o sereno e a geada (GARCEZ & ALVAREZ, 1988). A chuva é a causa mais importante dos processos hidrológicos de interesse da engenharia e é caracterizada por uma grande aleatoriedade espacial e temporal (COLLISCHONN & TASSI, 2008). Conhecer o padrão de precipitações de uma região é importante para se conhecer a disponibilidade hídrica do local; para isso são necessários estudos a partir de séries históricas de precipitação com longos períodos de observação (o ideal é de no mínimo 30 anos). Esses estudos têm a função de fornecer o padrão de comportamento das precipitações e permitir que os projetos e planos que envolvem essa variável sejam feitos com maior confiabilidade (FINOTTI et al, 2009). 6.1 FORMAS DE PRECIPITAÇÃO A quantidade de vapor d’água presente na atmosfera é essencial para que possa ocorrer a precipitação, porém existem outros fatores meteorológicos importantes nesse processo. As formas de precipitação onde a umidade atmosférica precipita sobre a superfície terrestre segundo Lima (2008), podem ser: AN02FREV001/REV 4.0 28 Garoa: precipitação uniforme consistindo de gotas de diâmetro inferior a 0,5 mm, de intensidade geralmente baixa (inferior a 1 mm/h) (Figura 9). FIGURA 9 - GAROA EM CIDADE FONTE: Disponível em: <bocoiola.blogspot.com.br>. Acesso em: 04 jan. 2014. Chuva: precipitação cujas gotas apresentam diâmetro superior a 0,5 mm. A intensidade pode geralmente enquadrar-se em três categorias: leve (até 2,5 mm/h), moderada (2,6 a 7,5 mm/h), pesada (superior a 7,5 mm/h) (Figura 10). AN02FREV001/REV 4.0 29 FIGURA 10 - CHUVA NO ASFALTO FONTE: Disponível em: <http://morandonaamerica.com/2011/06/caindo-do-ceu/>. Acesso em 06 jan. 2014. Granizo: precipitação na forma de pedras de gelo. Ocorre durante tempestades, quando há formação de violentas correntes ascendentes e descendentes nas nuvens. É um fenômeno que ocorre no final da primavera ou do verão, ao invés de no inverno, pois uma das condições é que a temperatura próxima ao solo seja superior a 0ºC (Figura 11). FIGURA 11 - GRANIZO NO ASFALTO FONTE: Disponível em: <http://tribunadeuruguaiana.blogspot.com.br/2011/09/choveu-5mm-granizo-e- temperatura-ronda.html>. Acesso em: 07 jan. 2014. AN02FREV001/REV 4.0 30 Neve: cristais de gelo formados a partir do vapor de água quando a temperatura do ar é de 0ºC ou menos (Figura 12). FIGURA 12. NEVE PRÓXIMO AS MONTANHAS. FONTE: Disponível em: <http://cienciaeagua.blogspot.com.br/search?updated-max=2011-05- 07T13:52:00-07:00&max-results=7&start=14&by-date=false>. Acesso em: 07 jan. 2014. 6.2 CAUSAS E TIPOS DA PRECIPITAÇÃO O processo de formação das nuvens de chuva está associado ao movimento ascendente de uma massa de ar úmido. Neste processo a temperatura do ar vai diminuindo até que o vapor do ar começa a condensar. Isto ocorre porque a quantidade de água que o ar pode conter sem que ocorra condensação é maior para o ar quente do que para o ar frio. Quando este vapor se condensa, pequenas gotas começam a se formar, permanecendo suspensas no ar por fortes correntes ascendentes e pela turbulência. Porém, em certas condições, as gotas das nuvens crescem, atingindo tamanho e peso suficiente para vencer as correntes de ar que as sustentam. Nestas condições, a água das nuvens se precipita para a superfície da Terra, na forma de chuva. A formação das nuvens de chuva está, em geral, associada ao movimento ascendente de massas de ar úmido. A causa da ascensão AN02FREV001/REV 4.0 31 do ar úmido é considerada para diferenciar os principais tipos de chuva: frontais, convectivas ou orográficas (COLLISCHONN & TASSI, 2008). Chuva frontal ou cliclônica São chuvas associadas às chamadas frentes, ou seja, o conflito entre massas de ar (Figura 13a). Chuvas convectivas Resultam da ascensão do ar cuja temperatura ficou maior que a do meio. O contraste de temperatura que dá início ao processo de convecção pode resultar de várias causas, como por exemplo, pelo aquecimento da superfície. Chuvas convectivas podem variar de leve a pesada, dependendo das condições de umidade e do contraste térmico. Frequentemente as tempestades com trovão são do tipo convectivo, originando pancadas fortes de chuva, que despejam grande volume de água, em curto período de tempo, e sobre uma área relativamente pequena (Figura 13b). Chuvas orográficas Resultam da ascensão do ar sobre barreiras físicas, como as montanhas, por exemplo. (Figura 13c) A orografia é menos efetiva em remover a umidade do ar, em comparação com os outros dois mecanismos de ascensão. Todavia, ela é muito efetiva em causar precipitação numa mesma área ou região, ano após ano, ou mesmo continuamente durante longos períodos (GILMAN, 1964). AN02FREV001/REV 4.0 32 FIGURA 13 - TIPOS DE CHUVAS FONTE: COLLISCHONN & TASSI, 2008. 6.3 MEDIDAS PLUVIOMÉTRICAS De modo geral a medida das precipitações atmosféricas é simples, sendo feita pela computação da quantidade de água recolhida em uma determinada área (GARCEZ & ALVAREZ, 1988), essas medidas podem ser realizadas em aparelhos denominados pluviômetros ou pluviógrafos, geralmente em intervalos de tempo de 24 horas. AN02FREV001/REV 4.0 33 6.3.1 Grandezas Características das medidas pluviométricas Conforme Tucci (2009) as grandezas características das medidas pluviométricas podem ser definidas como: Altura pluviométrica (P ou r) É a espessura mediada lâmina de água precipitada que recobriria a região atingida pela precipitação admitindo-se que essa água não infiltrasse, não evaporasse, nem escoasse para fora dos limites da região. A unidade habitual é o milímetro de chuva, definido como quantidade de precipitação correspondente ao volume de 1L por m2. Duração (t) É o período de tempo durante o qual a chuva cai. As unidades normalmente utilizadas são o minuto ou a hora. Intensidade da precipitação (i) É a precipitação por unidade de tempo, obtida com a relação . Expressa-se normalmente em mm/h ou mm/min. Frequência de probabilidade ou tempo de recorrência (Tr) O Tr é o número médio de anos durante o qual espera-se que a precipitação analisada seja igualada ou superada. O seu inverso é a probabilidade de um fenômeno igual ou superior ao analisado, se apresentar em um ano qualquer (probabilidade anual). AN02FREV001/REV 4.0 34 6.3.2 Instrumentos de Medição Os principais aparelhos utilizados para realizar as medidas da precipitação atmosférica são os pluviômetros e os pluviógrafos, os quais são descritos a seguir: Pluviômetros Sãorecipientes para coletar a água precipitada com algumas dimensões padronizadas. O pluviômetro mais utilizado no Brasil tem uma forma cilíndrica com uma área superior de captação da chuva de 400 cm2, de modo que um volume de 40 mL de água acumulado no pluviômetro corresponda a 1 mm de chuva (Figura 14). O pluviômetro é instalado a uma altura padrão de 1,50 m do solo e a uma certa distância de casas, árvores e outros obstáculos que podem interferir na quantidade de chuva captada (COLLISCHONN & TASSI, 2008). FIGURA 14 - CARACTERÍSTICAS DE UM PLUVIÔMETRO. FONTE: COLLISCHONN & TASSI, 2008. AN02FREV001/REV 4.0 35 Pluviógrafos Os pluviógrafos são instrumentos que fazem o registro contínuo das variações das alturas da precipitação ao longo do tempo (Figura 15). Segundo Garcez & Alvarez (1988), quando é necessário conhecer a intensidade da chuva, é necessário realizar o registro contínuo das precipitações, ou seja, quantidade de água recolhida no aparelho, sendo assim utiliza-se o pluviógrafo. FIGURA 15 - ESQUEMA DE FUNCIONAMENTO DE UM PLUVIÓGRAFO. FONTE: Disponível em: <http://www.dec.ufcg.edu.br/saneamento/Dren02.html>. Acesso em 04 jan. 2014. A principal vantagem do pluviógrafo em relação ao pluviômetro é que permite analisar detalhadamente os eventos de chuva e sua variação ao longo do dia. AN02FREV001/REV 4.0 36 6.4 ANÁLISE DOS DADOS DE PRECIPITAÇÃO O objetivo de uma estação pluviométrica é o de obter uma série histórica sem interrupções das precipitações e suas intensidades ao longo dos eventos de chuva. Porém, podem ocorrer casos em que exista períodos sem informações ou com erros nas observações, sendo assim, é importante que inicialmente esses dados sejam analisados e corrigidos para posteriormente serem utilizados. De acordo com Garcez & Alvarez (1988) o preparo inicial dos dados consta de: Tabulação e correção Eliminação e correção de erros grosseiros e sistemáticos (por exemplo, os devido ao mau funcionamento dos aparelhos de relojoaria etc.). As séries assim corrigidas devem ser tabuladas e dispostas em fichas padronizadas. Análise comparativa da validade dos dados médios Para garantir a correção das observações é sempre útil comparar as precipitações mensais, anuais (e mesmo semanais ou determinadas chuvas) e suas distribuições com as obtidas nos mesmos períodos (ou em períodos equivalentes) em estações vizinhas. Essas comparações podem fornecer indicações sobre a validade dos dados. Podem ocorrer falhas nas observações, devido a problemas com aparelhos de registro e/ou com o operador do posto. Essas falhas devem ser preenchidas por métodos estatísticos. Dentre eles, os mais comuns para preenchimento de falhas são o Método de Ponderação Regional e o Método de Regressão Linear. AN02FREV001/REV 4.0 37 6.5 DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL A variabilidade espacial de chuvas é aleatória, ou seja, sem padrões definidos assim como na distribuição temporal. Estas informações são raras dentro da realidade brasileira. Esta variabilidade levou a dois procedimentos básicos: a padronização de isoietas que produzem as condições mais favoráveis, e a determinação da curva altura pluviométrica-área-duração que permite transferir o resultado pontual para o espacial. Adota-se cerca de 10 milhas² ou cerca de 25 km² em que os valores pontuais de intensidade média máximas não se reduzem. A medida que a intensidade aumenta esses valores podem ser reduzidos (TEIXEIRA, 2010). 6.6 DISTRIBUIÇÃO TEMPORAL Estudos realizados mostram que existe uma grande viabilidade na distribuição temporal das chuvas durante as tempestades. Para esta variação, não existe um padrão definido e o processo é totalmente aleatório diferente do registro de um pluviômetro onde se lê total precipitado em um determinado período. Por este motivo que alguns padrões foram desenvolvidos para as condições mais desfavoráveis ou que produzem maiores hidrogramas, com a finalidade de representar a distribuição temporal das chuvas (TEIXEIRA, 2010). 7 EVAPOTRANSPIRAÇÃO Como a evaporação é o conjunto de fenômenos físicos que transformam em vapor a água precipitada sobre a superfície do solo e a água dos mares, lagos, rios AN02FREV001/REV 4.0 38 e dos reservatórios de acumulação; e a transpiração é o processo de evaporação decorrente de ações fisiológicas dos vegetais. A evapotranspiração define-se como conjunto de processos físicos e fisiológicos que transformam a água da existente na superfície da Terra em vapor. 7.1 GRANDEZAS CARACTERÍSTICAS De acordo com Garcez & Alvarez (1988), são grandezas características da evapotranspiração: Perdas por evaporação ou por transpiração Quantidade de água evaporada (ou transpirada) por unidade de área horizontal durante um certo tempo. Essa grandeza costuma ser medida em mm. Intensidade de evaporação ou de transpiração Rapidez com que se processa o fenômeno de evaporação ou de transpiração. Essa grandeza é expressa comumente em mm/hora ou mm/dia. 7.2 FATORES QUE INTERFEREM NA EVAPOTRANSPIRAÇÃO Os principais fatores que afetam a evaporação são a temperatura, a umidade do ar, a velocidade do vento e a radiação solar. Temperatura À medida que a temperatura aumenta a intensidade de evaporação é favorecida porque torna maior a quantidade de vapor de água que pode estar presente no mesmo volume de ar, quando é atingido o grau de saturação do ar. Grau de umidade relativa do ar atmosférico AN02FREV001/REV 4.0 39 O grau de umidade relativa do ar atmosférico pode ser definido como a relação entre a quantidade de vapor de água presente e a quantidade de vapor de água que o mesmo volume de ar conteria se estivesse saturado de umidade (PINTO, HOLTZ & MARTINS, 1967), expresso em porcentagem. Quanto maior o grau de umidade, menor a intensidade de evaporação. O fenômeno é regulado pela lei de Galton descrita pela equação: Onde: E = intensidade de evaporação; C = constante que faz parte de fatores relacionados à evaporação; p0 = pressão de saturação do ar à temperatura da água; pa = pressão de vapor de água no ar atmosférico. Vento O vento intervém ativamente no fenômeno da evaporação, aumentando a intensidade desta por afastar a proximidade das superfícies de evaporação as massas de ar de elevado grau de umidade (Garcez & Alvarez, 1988). Radiação solar O calor radiante fornecido pelo Sol constitui a energia motora do ciclo hidrológico (GARCEZ & ALVAREZ, 1988). 7.3 INSTRUMENTOS DE MEDIDA DE EVAPORAÇÃO A evaporação é medida de forma semelhante à precipitação, utilizando unidades de mm para caracterizar a lâmina evaporada ao longo de um determinado intervalo de tempo. As formas mais comuns de medir a evaporação são o Tanque Classe A e o Evaporímetro de Piche (COLLISCHONN & TASSI, 2008). AN02FREV001/REV 4.0 40 7.3.1 Tanque Classe A O tanque Classe A (Figura 16) é um recipiente metálico que tem forma circular com um diâmetro de 121 cm e profundidade de 25,5 cm. Construído em aço ou ferro galvanizado, deve ser pintado na cor alumínio e instalado numa plataforma de madeira a 15 cm da superfície do solo. Deve permanecer com água variando entre 5,0 e 7,5 cm da borda superior (COLLISCHONN & TASSI, 2008). FIGURA 16 - TANQUE CLASSE A PARA MEDIÇÃO DA EVAPORAÇÃO. FONTE: COLLISCHONN & TASSI, 2008. A medição de evaporação no Tanque Classe A é realizada diariamente diretamente numa régua, ou ponta linimétrica, instalada dentro do tanque, sendo que são compensados os valores da precipitação do dia. Por essa razão o Tanque AN02FREV001/REV 4.0 41 Classe A é instalado em estações meteorológicas em conjunto com umpluviômetro (COLLISCHONN & TASSI, 2008). 7.3.2 Evaporímetro de Piche O evaporímetro de Piche é constituído por um tubo cilíndrico, de vidro, de 25 cm de comprimento e 1,5 cm de diâmetro (Figura 17). O tubo é graduado e fechado em sua parte superior; a abertura inferior é tampada por uma folha circular de papel de filtro padronizado fixada por capilaridade e pressionada por uma mola (GARCEZ & ALVAREZ, 1988). A extremidade inferior é tapada, depois de o tubo estar cheio com água destilada, com um disco de papel de filtro de 3 cm de diâmetro e 0,5 cm de espessura, que deve ser previamente molhado com água (COLLISCHONN & TASSI, 2008). A água destilada se evapora progressivamente pela folha de papel de filtro, e a diminuição do nível de água no tubo permite calcular a taxa de evaporação (GARCEZ & ALVAREZ, 1988). FIGURA 17 - EVAPORÍMETRO DE PICHE. FONTE: Disponível em: <http://www.soilcontrol.com.br/produto/92573/evaporimetro-de-piche.aspx>. Acesso em: 07 jan. 2014. AN02FREV001/REV 4.0 42 7.4 TRANSPIRAÇÃO A vegetação retira água do solo e transmite à atmosfera por ação da transpiração das suas folhas. Este fenômeno é função da capacidade de evaporação da atmosfera, dependendo, portanto, do grau de umidade relativa do ar, da temperatura e da velocidade do vento (PINTO, HOLTZ & MARTINS, 1967). Como vimos, a transpiração é a transferência da água do solo, e uma das variáveis mais importantes é a umidade do solo. Quando o solo está úmido as plantas transpiram livremente, e a taxa de transpiração é controlada pelas variáveis atmosféricas. Porém, quando o solo começa a secar o fluxo de transpiração começa a diminuir. As próprias plantas têm certo controle ativo sobre a transpiração ao fechar ou abrir os estômatos, que são as aberturas na superfície das folhas por onde ocorre a passagem do vapor para a atmosfera (COLLISCHONN & TASSI, 2008). 7.4.1 Medida de Transpiração Os processos de medida da transpiração podem ser classificados em três categorias de acordo com GARCEZ & ALVAREZ (1988): Processo baseado na medida direta do vapor de água transpirado; Processo baseado na medida da mudança de peso da planta e do terreno que a alimenta; Processo baseado na medida da quantidade de água necessária para a alimentação da planta e de sua transpiração (lisímetros). Os lisímetros (Figura 18) são depósitos ou tanques enterrados, abertos na parte superior, os quais são preenchidos com o solo e a vegetação característica dos quais se deseja medir a evapotranspiração. O solo recebe a precipitação, e é drenado para o fundo do aparelho onde a água é coletada e medida. O depósito é AN02FREV001/REV 4.0 43 pesado diariamente, assim como a chuva e os volumes escoados de forma superficial e que saem por orifícios no fundo do lisímetro (COLLISCHONN & TASSI, 2008). FIGURA 18 - LISÍMETRO PARA MEDIÇÃO DA EVAPOTRANSPIRAÇÃO. FONTE: COLLISCHONN e TASSI, 2008. 7.5 MEDIDA DA EVAPOTRANSPIRAÇÃO A evapotranspiração pode ser medida em condições ideais de umidade do solo, sendo assim chamada de evapotranspiração potencial. Enquanto a taxa que ocorre para condições reais de umidade do solo é a Evapotranspiração Real. Sendo que a evapotranspiração real é sempre igual ou inferior à evapotranspiração potencial segundo GANGOPADHYAYA et al. (1968). A medição da evapotranspiração é relativamente mais complicada do que a medição da evaporação. Existem dois métodos principais de medição de evapotranspiração: os lisímetros (que foram citados anteriormente) e as medições micrometeorológicas. AN02FREV001/REV 4.0 44 Com os dados obtidos com o auxílio do lisímetro se calcula a evapotranspiração por balanço hídrico entre dois dias subsequentes de acordo com a equação: E = P - Qs – Qb – ΔV Onde: E = evapotranspiração; P = chuva (medida num pluviômetro); Qs = escoamento superficial (medido); Qb = escoamento subterrâneo (medido no fundo do tanque); ΔV = variação de volume de água (medida pelo peso). A medição de evapotranspiração por métodos micrometeorológicos envolve a medição das variáveis do vento e umidade relativa do ar em alta frequência. Para a realização dessas medições são necessários sensores de resposta muito rápida para medir a velocidade do ar e sua umidade, e um processador capaz de integrar os fluxos de velocidade ascendente do vento (w’) e umidade (q’) ao longo do tempo (COLLISCHONN & TASSI, 2008). 8 INFILTRAÇÃO Infiltração é a passagem da água da superfície para o interior do solo. Portanto, é um processo que depende fundamentalmente da água disponível para infiltrar, da natureza do solo, do estado da sua superfície e das quantidades de água e ar, inicialmente presentes no seu interior (TUCCI, 2009). A infiltração de água no solo é importante para o crescimento da vegetação, para o abastecimento dos aquíferos (reservatórios de água subterrânea), para armazenar a água que mantém o fluxo nos rios durante as estiagens, para reduzir o escoamento superficial, reduzir as cheias e diminuir a erosão (COLLISCHONN & TASSI, 2008). AN02FREV001/REV 4.0 45 8.1 GRANDEZAS CARACTERÍSTICAS Garcez & Alvarez (1988) apresentam as sete grandezas características da infiltração, sendo elas: Capacidade de infiltração É a quantidade de água máxima que um solo, em condições preestabelecidas, pode absorver por unidade de superfície horizontal, durante a unidade de tempo. Pode ser medida pela altura de água que se infiltrou, expressa em mm/hora. Distribuição granulométrica É a distribuição das partículas constitutivas de solos granulares em função das dimensões das mesmas. Costuma ser representada graficamente pela curva de distribuição granulométrica. Porosidade É a relação entre o volume de vazios e o volume total do solo; geralmente é expressa em porcentagem. A porosidade está em relação íntima com a granulometria e com a forma dos grãos. Velocidade de filtração É a velocidade média fictícia de escoamento da água através de um solo saturado, considerando-se como seção de escoamento não apenas a soma das seções dos interstícios, mas toda a superfície atuante. Numericamente é igual a quantidade de água que passa através da unidade de superfície de material filtrante durante a unidade de tempo. É expressa em m/s, ou em m/dia ou em m3/m2dia ou ainda em mm/s. AN02FREV001/REV 4.0 46 Coeficiente de permeabilidade É a velocidade da filtração da água em um solo saturado, quando se tem um escoamento com perda de carga unitária a uma certa temperatura. Esse coeficiente mede a maior ou menor facilidade que cada solo, quando saturado, oferece ao escoamento da água através de seus interstícios. Ele é expresso em m/dia, cm/s, m3/m2dia. Suprimento específico É a quantidade máxima de água que se pode obter de um solo saturado por meio de drenagem natural. Geralmente é expresso em porcentagem do volume de solo saturado. Retenção específica É a quantidade de água que fica retida (por adesão e capilaridade) no solo, após este ser submetido a um máximo de drenagem natural. É expressa em porcentagem do volume do solo saturado. 8.2 FATORES QUE INTERFEREM NA INFILTRAÇÃO A infiltração é um processo que depende, em maior ou menor grau, de diversos fatores, dentre eles PINTO, HOLTZ & MARTINS (1967) define alguns: Tipo de solo A capacidade de infiltração varia diretamente com a porosidade, o tamanho das partículas do solo e o estado de fissuração das rochas. As características presentes em pequena camada superficial, com espessura da ordem de 1 cm, tem influência sobre a capacidade de infiltração. Cobertura vegetal A presença da vegetação atenua ou elimina a ação da compactação da água da chuva e permite o estabelecimentode uma camada de matéria orgânica em AN02FREV001/REV 4.0 47 decomposição que favorece a atividade escavadora de insetos e animais, favorece também a infiltração, pois dificulta o escoamento superficial da água. Cessada a chuva retira a umidade do solo, pelas suas raízes, possibilitando maiores valores da capacidade de infiltração no início das precipitações. Grau de umidade do solo Parte da água que precipita sobre o solo seco é absorvida por ação de capilaridade que se soma a ação da gravidade. Se o solo, no início da precipitação, já apresenta certa umidade, tem uma capacidade de infiltração menor do que a que teria se estivesse seco. Efeito da precipitação sobre o solo A água da chuva chocando-se contra o solo promovem a compactação da sua superfície, diminuindo a capacidade de infiltração, destacam e transportam os materiais finos que pela sua sedimentação posterior tendem a diminuir a porosidade da superfície; umedecem a superfície do solo, saturando as camadas próximas aumentando a resistência à penetração da água e, atuam sobre as partículas de substâncias coloidais que ao entumecer reduzem a dimensão dos espaços intergranulares. Compactação devido ao homem e aos animais Em locais onde há tráfego constante homens, veículos, animais (pastagens) a superfície é submetida a compactação que a torna relativamente impermeável. Influência de outros fatores A capacidade de infiltração pode ser elevada pela atuação de fenômenos naturais que provocam o aumento da permeabilidade como: - escavações feitas por animais; - decomposição das raízes dos vegetais; - temperatura da água que influi na sua viscosidade, fazendo com que a infiltração nos meses frios seja menor que nos meses quentes. - presença de ar nos vazios do solo, sendo expulso pela água quando penetra no solo. AN02FREV001/REV 4.0 48 8.3 INSTRUMENTOS DE MEDIÇÃO DA CAPACIDADE DE INFILTRAÇÃO Os métodos comumente utilizados para se determinar a capacidade de infiltração da água no solo são: Infiltrômetro de anel com aplicação de água por inundação. Aplicam-se uma determinada vazão de água em uma área delimitada por tubos e a capacidade de infiltração em um dado instante é obtida pelo quociente entre a vazão de admissão da água e a área de seção do tubo, conforme a Figura 19. FIGURA 19 - REPRESENTAÇÃO ESQUEMÁTICA DE UM INFILTRÔMETRO DE ANEL. FONTE: Disponível em: <http://cientec.net/cientec/InformacoesTecnicas_Irriga/Solo_Infiltracao.asp>. Acesso em: 05 jan. 2014. Simuladores de chuva ou infiltrômetro de aspersão Nesse caso em uma área delimitada a água é aplicada por meio de aspersores horizontais e a capacidade de infiltração em um dado instante é medida pela diferença entre as vazões de admissão e de efluência superficial dividida pela área de aplicação (Figura 20). AN02FREV001/REV 4.0 49 FIGURA 20 - SIMULADOR DE CHUVA FONTE: Edino Ferreira da Silva. Disponível em: <http://www.iapar.br/modules/galeria/detalhe.php?foto=162&evento=52>. Acesso em: 07 jan. 2014. FIM DO MÓDULO II AN02FREV001/REV 4.0 50 PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA Portal Educação CURSO DE HIDROLOGIA BÁSICA Aluno: EaD - Educação a Distância Portal Educação AN02FREV001/REV 4.0 51 CURSO DE HIDROLOGIA BÁSICA MÓDULO III Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização ou distribuição do mesmo sem a autorização expressa do Portal Educação. Os créditos do conteúdo aqui contido são dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas. AN02FREV001/REV 4.0 52 MÓDULO III 9 MEDIÇÃO DE VAZÃO A vazão ou volume escoado por unidade de tempo é a principal grandeza que caracteriza um escoamento. Normalmente é expressa em metros cúbicos por segundo (m3/s) ou em litros por segundo (L/s) (TEIXEIRA, 2010). Existem diferentes métodos para a medição de vazão, dentre eles, destacam-se por ser mais frequentemente utilizados: Medição direta; Medição direta pelo nível de água; Determinação por processos químicos; Medição a partir das velocidades. Os instrumentos mais comuns para medição de velocidade de água em rios são os molinetes, que são pequenas hélices que giram impulsionadas pela passagem da água. Em situações de medições expeditas, ou de grande carência de recursos, as medições de velocidade podem ser feitas utilizando flutuadores, com resultados muito menos precisos (COLLISCHONN & TASSI, 2008). 9.1 MEDIÇÃO DIRETA DA VAZÃO Consiste em interceptar todo o fluxo de água em um recipiente calibrado e cronometrar o tempo de enchimento de um volume conhecido. Porém pode ser utilizado somente para pequenas vazões e apesar desse inconveniente, esse [VDS1] Comentário: VL05 – Texto para videoleitura AN02FREV001/REV 4.0 53 método apresenta ótima precisão para medir descargas de rios ou canais muito pequenos, equipados com vertedor triangular, que permite a concentração do fluxo de água em jato (TUCCI, 2009). 9.2 MEDIÇÃO DIRETA PELO NÍVEL DE ÁGUA Para medição pelo nível de água usam-se um dos dois instrumentos seguintes: Calhas medidoras Qualquer dispositivo que provoque a passagem do escoamento do rio de um regime fluvial a um torrencial serve para esse tipo de medida. Como exemplo podemos citar as calhas Parshall (Figura 21), medidores De Marchi, entre outros. A mudança de regime obriga a existência de profundidade crítica dentro da instalação. A vazão será a função dessa profundidade e das características do medidor (PINTO, HOLTZ & MARTINS, 1967). AN02FREV001/REV 4.0 54 FIGURA 21 - CALHA PARSHALL FONTE: PORTO, FILHO & SILVA, 2001. Vertedores A construção de um vertedor no leito do rio permite a determinação das vazões a partir unicamente da cota da lâmina vertente. Se for utilizado em vertedor padronizado (tipo Thompson, Scimeni etc.), a vazão é calculada diretamente através de gráficos ou tabelas com razoável precisão pode-se recorrer a uma taragem direta ou em modelos (GARCEZ & ALVAREZ, 1988) (Figura 22). AN02FREV001/REV 4.0 51 FIGURA 22 - VERTEDOR TRIANGULAR FONTE: PORTO, FILHO & SILVA, 2001. 9.3 DETERMINAÇÃO POR PROCESSOS QUÍMICOS A vazão é medida a partir do lançamento de uma substância química bem a montante da seção de medida e da determinação da dosagem dessa substância em amostras colhidas na seção. (GARCEZ & ALVAREZ, 1988). Utilizando a seguinte equação: onde, q = vazão de injeção da substância química; c = concentração inicial do traçador; C = concentração das amostras depois da diluição do rio; Q = vazão do rio, se obtém a vazão no canal analisado. AN02FREV001/REV 4.0 52 9.4 MEDIÇÃO A PARTIR DAS VELOCIDADES O conhecimento da velocidade do fluxo em todos os pontos de uma seção permite calcular a vazão (TUCCI, 2009). De acordo com o Manual Técnico da Agência Nacional de Recursos Hídricos sobre “Medição de vazão em grandes Rios” (ANA, 2009), para o emprego do método de medição convencional, é necessária a determinação da velocidade em um número relativamente grande de pontos na seção transversal, podendo-se realizar a integração das velocidades por dois processos: Traçando, com base nas velocidades medidas, as curvas de igual velocidade – as isótacas –, calcula-se a área entre isótacas consecutivas e multiplica-se essa área pelo valor médio das isótacas limítrofes. Somam-se esses resultados parciaispara obter-se a vazão total; Definindo-se na seção uma série de verticais e medindo-se as velocidades em vários pontos situados sobre essas verticais, para então, com auxílio do respectivo perfil de velocidade, determinar a velocidade média na vertical. A velocidade média da vertical, multiplicada por uma área de influência igual ao produto da profundidade na vertical pela soma das semidistâncias das verticais adjacentes, fornece a vazão parcial (vazão na área de influência da vertical analisada), cuja soma destas parcelas será a Vazão Total na seção. 9.4.1 Método do Molinete Um dos métodos mais utilizados para a determinação da vazão a partir da velocidade é pelo método do molinete, em que a medição da velocidade é feita em pontos de diferentes profundidades para que seja efetuado o cálculo da velocidade AN02FREV001/REV 4.0 53 média na vertical. O número de pontos varia de acordo com a profundidade média do rio, utilizando o chamado método detalhado, ou ainda o método de dois pontos. A vazão é obtida pelo produto da área da seção molhada pela velocidade do escoamento da corrente líquida. Sendo que a velocidade será obtida com o número de rotações atingidas no conta-giros conectado ao aparelho molinete. Os molinetes (Figura 23) são equipamentos que contêm uma hélice que gira quando é colocada no sentido do fluxo da água. O princípio mais utilizado é que a rotação da hélice em torno do eixo abre e fecha um circuito elétrico, contando o número de voltas durante um intervalo de tempo fixo, obtendo-se assim uma relação entre a velocidade do fluxo e a rotação da hélice do tipo: Onde: V = é velocidade da corrente em m/s; N = é o número de rotações por segundo; Z e Y são constantes de cada aparelho aferido (cada aparelho é calibrado com uma fórmula) (CHEVALLIER, 2009). AN02FREV001/REV 4.0 54 FIGURA 23 - MOLINETE PARA MEDIÇÃO DE VELOCIDADE DA ÁGUA. FONTE: COLLISCHONN & TASSI, 2008. O método para determinação da vazão consiste nos seguintes passos (STUDART, 2003 apud PEREIRA, NETO & TUCCI, 2003): 1. Divisão da seção do rio em certo número de posições para levantamento do perfil de velocidades; 2. Levantamento do perfil de velocidades; 3. Cálculo da velocidade média de cada perfil; 4. Determinação da vazão pelo somatório do produto de cada velocidade média por sua área de influência. Em campo, na seção escolhida, a descarga líquida será medida dividindo a seção transversal em várias verticais, em função da largura do curso d’água com auxílio de um cabo graduado em metro, instalado em ambas as margens. Efetuou- se a medição batimétrica da seção transversal pela profundidade em cada vertical e AN02FREV001/REV 4.0 55 respectivamente a velocidade da corrente de água com um molinete fluviométrico, contador de pulsos magnético e cronômetro digital. A distância entre as seções verticais são preestabelecidas e encontradas na literatura (TABELA 1). TABELA 1. DISTÂNCIA ENTRE AS SECÇÕES VERTICAIS DE ACORDO A LARGURA DO RIO. Largura do rio (m) Distância entre as secções verticais (m) <3 0,3 3 a 6 0,5 6 a 15 1,0 15 a 30 2,0 30 a 50 3,0 50 a 80 4,0 80 a 150 6,0 150 a 250 8,0 >250 12,0 FONTE: DNAEE (1977) apud Santos 2001. Método dois pontos (FIGUEIREDO, ALMEIRA & VENTURA, 2013): de acordo com a profundidade da vertical será definido a quantidade de pontos e suas alturas em cada vertical. O método dois pontos segue a seguinte regra: para verticais com profundidades de até 60cm a contagem de rotação do molinete será feita em apenas uma altura que será a 60% da profundidade. Para verticais com profundidade superior a 60cm a contagem de rotação do molinete será feita em duas alturas, sendo uma a 20% da profundidade total e outra a 80%. Na Figura 24 pode ser observado as verticais, P1, P2, P3 e P4, a medição deve ser iniciada sempre pela margem esquerda. AN02FREV001/REV 4.0 56 FIGURA 24 – PERFIL DE UMA SEÇÃO TRANSVERSAL, COM ALTURAS INDICATIVAS UTILIZANDO MÉTODO DOIS PONTOS FONTE: FIGUEIREDO, ALMEIRA & VENTURA, 2013. 10 CURVA CHAVE A relação entre o nível de água e a vazão que escoa livremente no leito fluvial pode ser determinada por uma curva cota-descarga ou curva-chave. Essa pode ser estabelecida a partir de uma série de medições de descarga, devidamente espaçadas ao longo das oscilações normais do nível de forma a cobrir tanto as vazões de cheia quanto vazões de seca (FINOTTI et al., 2009). As funções matemáticas utilizadas mais comumente são: , ou Onde: Q = vazão (m3/s); H0 = cota de descarga nula; AN02FREV001/REV 4.0 57 K e m = coeficientes adimensionais ajustados em função dos dados do posto fluviométrico. De acordo com Finotti et al. (2009), para que se encontre o valor da vazão para uma seção, a partir somente da leitura de réguas ou dos linígrafos, são necessários pontos medidos nas mais variadas condições de vazão em um número mínimo de 10 leituras e complementação com mais pontos, à medida que avança a operação do posto de monitoramento para melhorar a precisão da curva-chave. Pois a sua existência possibilita mais facilmente a obtenção de dados de vazão apenas pela leitura do nível do curso de água. 11 VAZÕES MÉDIAS A vazão ou precipitação média é a média de toda a série de vazões ou precipitações registradas, e é muito importante na avaliação da disponibilidade hídrica total de uma bacia. ̅ ∑ O estudo das vazões médias mensais é útil principalmente para cálculos prévios de potência e energia de usinas hidrelétricas (GARCEZ & ALVAREZ, 1988). A vazão média específica é a vazão média dividida pela área de drenagem da bacia. As vazões médias mensais representam o valor médio da vazão para cada mês do ano, e são importantes para analisar a sazonalidade de um rio. 12 REGULARIZAÇÃO DE VAZÕES O escoamento em rios apresenta uma variação sazonal que frequentemente impede seu uso ao longo de todo ano. A regularização de vazão por meio de AN02FREV001/REV 4.0 58 reservatórios é uma prática utilizada para usos como: abastecimento de água, irrigação, produção de energia elétrica, navegação e diluição de despejos (TUCCI, 2009). Para se determinar indiretamente o volume de regularização pode-se utilizar o método da curva de permanência ou também basear-se nas curvas de probabilidade de vazões mínimas. A seguir abordaremos como se construir uma curva de permanência. 12.1 CURVAS DE PERMANÊNCIA A curva de permanência (ou curva de duração) relaciona a vazão ou nível de um rio e a probabilidade de ocorrerem vazões maiores ou iguais ao valor da ordenada. Esta curva pode ser estabelecida com base nos valores diários, semanais ou mensais (TUCCI, 2009). A elaboração da curva de permanência é uma das análises estatísticas que são importantes na hidrologia sendo utilizada em estudos hidrelétricos, navegação, qualidade da água, entre outros. Para se construir uma curva de permanência de vazões médias diárias, mensais ou anuais, pode-se utilizar a seguinte sequência: 1. A faixa total das vazões utilizadas na análise é dividida em classes, dispostas em ordem decrescente. O tamanho do intervalo de classe, ΔQ, é calculado segundo a equação: Searcy (1963) recomenda a separação das vazões em 20 a 30 intervalos de classe, bem distribuídos, e define a curva de permanência como um histograma cumulativo de vazões, com base nos intervalos de classe. AN02FREV001/REV 4.0 59 2. Em seguida, contando-se o número de observações dentro de cada classe. E na construção de um gráfico de barras das vazões (intervalos),em ordenada e o número de observações correspondentes, em abscissa, obtém-se uma curva, da representação gráfica da distribuição das frequências absolutas das ocorrências. 3. O número de observações em cada classe é acumulado, a partir do intervalo que contém a vazão máxima (a classificação é decrescente). 4. Essa contagem das observações acumuladas é, então, transformada em porcentagem. Para isso, dividem-se os valores acumulados pelo número total de registros de vazão e multiplica-se o resultado por 100. 5. Um gráfico é construído com os valores das vazões, em ordenada, e as contagens percentuais acumuladas correspondentes, em abscissa, traçando-se uma linha suave através dos pontos plotados. Obtém-se, assim, uma curva, onde no eixo das abscissas tem-se a contagem do tempo percentual em que ocorreram vazões iguais ou superiores a uma dada vazão de referência. 13 VAZÕES MÁXIMAS E MÍNIMAS, GERAÇÃO DE SÉRIES SINTÉTICAS E DISTRIBUIÇÃO DE FREQUÊNCIA 13.1 VAZÕES MÁXIMAS A vazão máxima de um rio é entendida como sendo o valor associado a um risco de ser igualado ou ultrapassado, que pode produzir enchentes nas margens. Elas podem ser controladas por obras hidráulicas como condutos, bueiros e vertedores, que permitem a drenagem do escoamento. A estimativa da vazão máxima é de suma importância para o dimensionamento de tais obras (TUCCI, 2009). Segundo TUCCI (2009), a vazão máxima pode ser estimada com base em: AN02FREV001/REV 4.0 60 Ajuste de uma distribuição estatística; Na regionalização de vazões; e Na precipitação. 13.2 VAZÕES MÍNIMAS A análise de vazões mínimas é semelhante à análise de vazões máximas, exceto pelo fato que no caso das vazões mínimas o interesse é pela probabilidade de ocorrência de vazões iguais ou menores do que um determinado limite. No caso da análise utilizando probabilidades empíricas, esta diferença implica que os valores de vazão devem ser organizados em ordem crescente, ao contrário da ordem decrescente utilizada no caso das vazões máximas) (COLLISCHONN & TASSI, 2008). As vazões mínimas são geralmente consideradas as de estiagem, sendo representadas pelos valores mais baixos da série histórica. No entanto, a vazão mínima mensal é o valor mais inferior de cada mês e não é necessariamente uma vazão correspondente a um período de estiagem. Normalmente, a vazão mínima é aplicada para avaliação da demanda mínima que um rio pode oferecer (DESTEFANI, 2005). Normalmente, as análises estatísticas de vazões mínimas são realizadas sobre as vazões mínimas de 7 dias, 15 dias ou 30 dias de duração. Nesse caso, para cada ano do registro histórico encontra-se a vazão mínima média de 7 dias (médias móveis de 7 dias) (COLLISCHONN & TASSI, 2008). 13.3 GERAÇÃO DE SÉRIES SINTÉTICAS Muitas vezes, o registro de dados históricos são insuficientes para se compor uma amostra para fazer estimativas com riscos de incertezas aceitáveis no AN02FREV001/REV 4.0 61 campo da hidrologia. Desse modo, é necessária a utilização de séries sintéticas que possam representar melhor os dados inexistentes. A utilização de séries sintéticas permite quantificar a incerteza associada aos fenômenos naturais, em geral, e ao regime de escoamentos, em particular. Mediante o tratamento estatístico dos resultados a que conduzem, torna-se ainda possível associar critérios probabilísticos ao cumprimento das metas traçadas para os sistemas em cuja análise se recorreu à geração de séries sintéticas (SILVA & PORTELA, 2010). As características básicas da série histórica podem ser capturadas por modelos estocásticos capazes de produzir séries sintéticas de afluências, diferentes da série histórica, mas igualmente prováveis. Dessa forma, a informação contida na série histórica pode ser mais completamente extraída, permitindo a avaliação de riscos e incertezas pertinentes a um sistema hidroelétrico (MACEIRA; PENNA & DAMÁZIO, 2006). Séries sintéticas de vazões diárias podem ser utilizadas em hidrologia em, por exemplo, simulação de vazões máximas ou refinamento de decisões obtidas com simulação mensal (MULLER & KAVISKI, 2007). 13.4 DISTRIBUIÇÃO DE FREQUÊNCIA Em estatística população designa um conjunto de elementos com alguma característica comum, por exemplo: os rios portugueses ou as precipitações anuais numa bacia hidrográfica. Pode-se dizer que a estatística se ocupa do estudo das propriedades das populações, estas que podem ser finitas ou infinitas conforme for finito ou infinito o número dos seus elementos. No entanto, e porque a observação de toda a população nem sempre é possível, o estudo das propriedades dessa população tem de ser feito sobre seu subconjunto finito que se supõe ser representativo e se designa por amostra (GUIMARÃES, 2011). Quando, a partir da informação contida em uma amostra, tiram-se conclusões, expressas em termos de probabilidade, sobre toda a população entra-se no domínio da inferência estatística. Considere-se uma amostra constituída por um AN02FREV001/REV 4.0 62 determinado conjunto de dados x1,x2,...,xn. A diferença entre o maior e o menor dos valores dos dados, chama-se amplitude dos dados, I. Para resumir grandes quantidades de dados é usual distribui-los em classes. O número de indivíduos pertencentes a cada classe denomina-se frequência absoluta da classe. A razão entre a frequência absoluta da classe e a frequência total (número total de valores da amostra) chama-se frequência relativa da classe. À distribuição dos dados em classes com as respectivas frequências absolutas, chama-se distribuição de frequências ou distribuição empírica e à distribuição dos dados em classes com as respectivas frequências relativas, chama- se distribuição de frequências relativas ou distribuição das percentagens. Geralmente, o número de classes, m, deverá ser entre 5 e 20, no entanto, pode se utilizar para cálculo do número de classes, a fórmula sugerida por STURGES: Determinado o número de classes e uma vez conhecida a amplitude dos dados I, a amplitude de cada classe, C, pode ser determinada por: Com essas informações pode-se construir um histograma da distribuição dos dados, sendo como o da Figura 25. AN02FREV001/REV 4.0 63 FIGURA 25 - HISTOGRAMA DA DISTRIBUIÇÃO DE PRECIPITAÇÕES. FONTE: GUIMARÃES, 2011. 14 MODELO MATEMÁTICO DE TRANSFORMAÇÃO DE CHUVA-VAZÃO 14.1 MODELOS CHUVA-VAZÃO CALIBRADOS 14.1.1 Método do Hietograma Hidrógrafa, hidrograma, ou fluviograma é a representação gráfica da variação da vazão em relação ao tempo. Isolando-se picos do hidrograma podem-se analisar alguns fenômenos de interesse em Hidrologia. A contribuição total para o escoamento na seção considerada é devido (CARVALHO & SILVA, 2006): À precipitação recolhida diretamente pela superfície livre das águas; Ao escoamento superficial direto (incluindo o escoamento subsuperficial); Ao escoamento básico (contribuição do lençol de água subterrânea). AN02FREV001/REV 4.0 64 14.1.2 Método do Hidrograma Unitário Hidrograma Unitário é o hidrograma resultante de um escoamento superficial unitário (1 mm, 1cm, 1 polegada) gerado por uma chuva uniforme distribuída sobre a bacia hidrográfica, com intensidade constante de certa duração. Para uma dada duração de chuva, o hidrograma constitui uma característica própria da bacia; ele reflete as condições de deflúvio para o desenvolvimento da onda de cheia. Neste curso não será abordado com mais propriedade esse tópico (CARVALHO & SILVA, 2006). A teoria do hidrograma unitário considera que a precipitação efetiva e unitária tem intensidade constante ao longo de sua duração e distribui-se uniformemente sobretoda a área de drenagem. Com a teoria do hidrograma unitário é possível calcular a resposta da bacia a eventos de chuva diferentes, considerando que a resposta é uma soma das respostas individuais. (COLLISCHONN & TASSI, 2008). Existem algumas maneiras de se obter um hidrograma unitário, a seguir será descrito como obter um Hidrograma Unitário (HU) em uma bacia com dados de chuva e vazão. 14.1.3 Hidrograma Unitário em uma bacia a partir de dados de chuva e vazão Collischonn & Tassi, (2008) descreve que o hidrograma unitário de uma bacia hidrográfica pode ser estimado observando a sua resposta a chuvas de curta duração, sua forma depende da duração da chuva e é necessário dispor de registros de vazão e precipitação simultâneos. O hidrograma unitário para esta duração de chuva pode ser obtido através dos passos descritos por Collischonn & Tassi, (2008), sendo eles: [VDS2] Comentário: VL06 – Texto para videoleitura. AN02FREV001/REV 4.0 65 Calcular o volume de água precipitado sobre uma bacia hidrográfica: Onde: Vtot = volume total precipitado sobre a bacia; Ptot: = a precipitação; A = área de drenagem da bacia. Fazer a separação do escoamento superficial, onde para cada instante t, a vazão que escoa superficialmente é a diferença entre a vazão observada e a vazão de base: Onde: Qe = vazão que escoa superficialmente; Qobs = vazão observada no posto fluviométrico; Qb = vazão base. Determinar o volume escoado superficialmente, calculando a área do hidrograma superficial: ∑ Onde: Ve = é o volume escoado superficialmente; Qei = vazão que escoa superficialmente; Dt = intervalo de tempo dos dados. Determinar o coeficiente de escoamento: AN02FREV001/REV 4.0 66 Onde: Ve = volume escoado superficialmente; Vtot = volume total precipitado sobre a bacia hidrográfica. Determinar a chuva efetiva: Onde: Pef = chuva efetiva; C = coeficiente de escoamento; Ptot = precipitação total. Determinar as ordenadas do Hidrograma Unitário: Onde: Qu = ordenada do hidrograma unitário; Pu = chuva chuva unitária (10 mm, 1 mm); Pef = precipitação efetiva; Qe = ordenada do hidrograma de escoamento superficial. O gráfico de hidrogramas de eventos de chuvas intensas e de duração curta tem apresentado mais ou menos a mesma duração de chuva, sendo possível identificar as características do hidrograma unitário da bacia para esta duração (Figura 26). AN02FREV001/REV 4.0 67 FIGURA 26 - HIDROGRAMAS OBSERVADOS ADIMENSIONALIZADOS SOBREPOSTOS PARA GERAR O HIDROGRAMA UNITÁRIO DE UMA BACIA COM DADOS. FONTE: COLLISCHONN & TASSI, 2008. Na Figura 26 são apresentados quatro hidrogramas resultantes de chuvas de curta duração em uma mesma bacia. Embora com intensidades e vazões máximas diferentes em cada um dos eventos, os hidrogramas foram adimensionalizados pelo total de chuva efetiva, e apresentam mais ou menos a mesma vazão de pico e o mesmo volume. AN02FREV001/REV 4.0 68 14.2 MODELOS CHUVA-VAZÃO NÃO CALIBRADOS 14.2.1 Método Racional A estimativa da vazão do escoamento produzido pelas chuvas em determinada área é fundamental para o dimensionamento dos canais coletores, interceptores ou drenos. Existem várias equações para estimar esta vazão, sendo muito conhecido o uso da equação racional (CARVALHO & SILVA, 2006). Método limitado a pequenas áreas (até 80 ha) sendo utilizado quando se tem muitos dados de chuva e poucos dados de vazão. A equação racional estima a vazão máxima de escoamento de uma determinada área sujeita a uma intensidade máxima de precipitação, com um determinado tempo de concentração, é: Onde: Q = vazão máxima de escoamento (m3.s-1); C = coeficiente de runoff; I = intensidade média máxima de precipitação (mm.h-1); A = área de contribuição da bacia (ha). Segundo (CARVALHO & SILVA, 2006) as limitações e premissas da fórmula racional são: Não considera o tempo para as perdas iniciais. Não considera a distribuição espacial da chuva. Não considera a distribuição temporal da chuva. Não considera o efeito da intensidade da chuva no coeficiente C. AN02FREV001/REV 4.0 69 Não considera o efeito da variação do armazenamento da chuva. Não considera a umidade antecedente no solo. Não considera que as chuvas mais curtas eventualmente podem dar maior pico. A fórmula racional só pode ser aplicada para áreas até 80 ha. 14.2.2 Método do Racional Modificado Este método deve ser utilizado para áreas maiores que 80 ha até 200 ha: Onde: L = comprimento axial da bacia (km). FIM DO MÓDULO III AN02FREV001/REV 4.0 70 PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA Portal Educação CURSO DE HIDROLOGIA BÁSICA Aluno: EaD - Educação a Distância Portal Educação AN02FREV001/REV 4.0 71 CURSO DE HIDROLOGIA BÁSICA MÓDULO IV Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização ou distribuição do mesmo sem a autorização expressa do Portal Educação. Os créditos do conteúdo aqui contido são dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas. AN02FREV001/REV 4.0 72 MÓDULO IV 15 PROPAGAÇÃO DE ONDAS 15.1 PROPAGAÇÃO DE ONDAS NO CANAL A propagação no canal está dividida em dois componentes: Propagação da vazão líquida; Propagação da vazão sólida. 15.1.1 Propagação da vazão líquida no canal A operação de propagação é realizada com um passo de tempo diário e não requer cálculos interativos, fazendo com que o modelo seja eficiente para simular tempos longos (50 - 100 anos) sobre médias/ grandes bacias (1.000 a 10.000 km2). (MORO, 2005). Os dados utilizados pelo modelo são: comprimento, declividade, profundidade, declividade lateral e “n” do canal, e declividade e “n” da margem de inundação. A taxa de escoamento e a velocidade média são calculadas usando a equação de Manning (CHOW, 1964). O tempo de propagação no canal é relacionado com o escoamento por uma reação não linear: Onde: TT = tempo de propagação (h); AN02FREV001/REV 4.0 73 χ1 e χ2 = parâmetros determinados para cada trecho quando o escoamento é dentro do canal; qr = taxa de escoamento (m3/h). Segundo (ROSSETTI et al., 2008), esse cálculo é realizado para a profundidade máxima do canal e profundidade de 10% do tempo da profundidade máxima. O procedimento é repetido para uma profundidade de 150% do tempo de profundidade máxima. Assim, quando a taxa de escoamento excede a profundidade máxima do canal, a relação torna-se: Onde: χ3 e χ4 = parâmetros determinados para cada trecho quando o escoamento excede o valor de cheia do canal. O coeficiente de armazenamento (SC) é estimado usando as seguintes equações: O escoamento de saída do trecho considerado é determinado por: Em que: O = escoamento de saída (m3); I = escoamento de entrada (m3); Si-1 = armazenamento no trecho do dia anterior (m 3). AN02FREV001/REV 4.0 74 15.1.2 Propagação da vazão sólida no canal A propagação do sedimento no canal consiste em dois componentes operados simultaneamente (deposição e degradação). A deposição no canal é baseada na velocidade de queda da
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