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4 - Políticas Sociais E Família

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AULA 1 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
POLÍTICAS SOCIAIS E FAMÍLIA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Prof.ª Gisella Chanan 
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INTRODUÇÃO 
Neste tema, vamos abordar o caminho das políticas sociais voltadas para 
a família, bem como a conquista da autonomia e da cidadania de famílias 
socialmente vulnerabilizadas. 
Ressaltaremos, ainda, o trabalho familiar na relação com o capital e o 
trabalho como modo de produção. 
TEMA 1 – O CAMINHO DAS POLÍTICAS SOCIAIS – FAMÍLIA 
Alice perguntou: “pode me dizer qual o caminho que eu devo tomar?” 
“Isso depende muito do lugar para onde você quer ir” – disse o gato. 
“Eu não sei para onde ir!” – Disse Alice. 
“Se você não sabe para onde ir, qualquer caminho serve.” (Carroll, 2000, 
p. 32) 
Qual o caminho das políticas sociais? Ele abrange as famílias? Quando 
falamos de política, é preciso refletir que se trata de interesses de grupos diversos 
que lutam pelo poder, buscando acesso a melhores possibilidades de realização 
desses interesses, ou seja, são caminhos diferentes. Por esse ângulo, o contexto 
em que se desenvolvem as políticas sociais nunca é neutro, pois sempre será 
marcado por interesses, conflitos e negociações entre os que reivindicam os 
direitos e aqueles que os concedem, entre os que se beneficiam e os que são 
prejudicados, em suma, entre os dominantes e os dominados. Sobre isso, Sposati 
et al. (2014, p.50) expõem que: 
Não se nega que a política social é um mecanismo que o Estado utiliza 
para intervir no controle das contradições que a relação capital-trabalho 
gera no campo da reprodução e reposição da força de trabalho, ou, 
ainda, que cumpre uma função ideológica na busca do consenso a fim 
de garantir a relação dominação-subalternidade e, intrinsecamente a 
esta a função política de alívio, neutralização das tensões existentes 
nessa relação. 
As políticas sociais tiveram, dentro de suas formas de proteção social, 
variações que resultaram dos contextos sociais, históricos e políticos pelos quais 
passaram governo e sociedade, ou seja, estavam sujeitas a cada realidade 
histórica específica. De forma gradual e diferenciada, elas foram sendo 
influenciadas pelo desenvolvimento das forças produtivas e pela pressão da 
classe trabalhadora, isto é, os caminhos foram determinados pelos seus 
interesses. 
Mas as políticas sociais, até o caminho de abrangência da família, são 
largas e se alteram conforme as medidas econômicas. 
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Desde o pós-guerra, nos países capitalistas centrais, a oferta universal 
de bens e serviços proporcionados pela efetivação de políticas públicas 
pareceu mesmo descartar a família, privilegiando o indivíduo-cidadão. O 
progresso, a informação, a urbanização, o consumo fortaleceram a 
opção pelo indivíduo portador de direitos. (Carvalho, 2005, p. 267) 
Nos anos 1930, no Brasil, Getúlio Vargas instituiu, em suas primeiras 
ações, a criação do Ministério do Trabalho, que pretendia a harmonia das relações 
entre o capital e trabalho substituindo a ideia de luta de classe pela da conciliação. 
Com o respaldo na Constituição de 1934, os direitos passaram a ser 
assegurados ao povo brasileiro, destacando a legislação trabalhista com a 
Consolidação das Leis Trabalhistas – CLT; a regulamentação do trabalho feminino 
e dos menores no âmbito industrial; o salário mínimo; o repouso remunerado; a 
fixação da jornada de trabalho de oito horas; férias anuais remuneradas; 
regulamentação especial para o trabalho agrícola; amparo aos desvalidos; 
amparo à maternidade e à infância; direito à educação primária integral e gratuita. 
Pontuamos o grande avanço na edição de normas protetivas à mulher, o 
que solidificou todas as matérias relativas à atividade empregatícia feminina. Mas 
é preciso refletir que o Estado encontrou nas políticas sociais a melhor forma de 
regulação social por meio da CLT. 
Na década de 1970, notamos que as políticas sociais no Brasil também 
tiveram um importante momento de protagonismo feminino com o surgimento do 
clube de mães. Mais tarde, com o advento da Constituição Federal de 1988, outros 
textos legais foram constituídos, como o da criança e do adolescente, o do idoso, 
mas todos com a visão de que é dever da família, da sociedade e do Estado a 
proteção desses indivíduos. Essa proteção, por parte do Estado, se materializou 
com a Seguridade Social, as Políticas de Assistência Social, Saúde e Previdência 
Social. 
Ao longo desse caminho regido pelo sistema capitalista, a família e o 
Estado têm grande responsabilidade e vão se cruzar. 
TEMA 2 – O ESTADO E AS POLÍTICAS SOCIAIS PARA FAMÍLIAS 
Historicamente, a família é constituída com base nas relações de 
parentesco cultural e as novas tendências em padrões de organização seguem 
conforme as transformações econômicas e políticas. E as políticas sociais sempre 
foram constituídas de ações para a população mais vulnerável e dependendo do 
Estado: 
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As crescentes demandas de proteção social são postas não apenas por 
“pobres” ou “desempregados”, mas por uma maioria de cidadãos, que 
se percebem ameaçados pelos riscos de, a qualquer momento, 
perderem a segurança advinda de seus tutores modernos: o trabalho 
assalariado e o Estado. (Carvalho, 2005, p. 268) 
A luta da família para a sobrevivência dos seus membros é um 
ponto-chave, mas, dentro, outros buscam a proteção e a socialização de seus 
componentes, transmissão do capital cultural, do capital econômico e também das 
relações de gênero e de solidariedade entre gerações. 
É importante atualmente ter uma visão da conjuntura, pois uma profunda 
reestruturação está acontecendo com o capitalismo e, de forma direta ou indireta, 
ela afeta a vida dos indivíduos e consequentemente a família em todos os 
aspectos e, conforme Carvalho (2005, p. 269), “[...] vêm produzindo uma 
sociedade complexa e multifacetada, uma sociedade global que, de um lado, 
mantém seus cidadãos fortemente interconectados e, por outro, extremamente 
vulnerabilizados em seus vínculos relacionais de inclusão e pertença”. 
O Estado, diante disso, realiza ações assistenciais para atendimento e, 
segundo Carvalho (2005), as políticas de assistência social e saúde têm buscado 
estratégias em compor com a família projetos e processos mais efetivos na 
proteção social. E, para isso, a autora esclarece que: 
Está na ordem do dia o chamado Welfare Mix, que promove uma 
combinação de recursos e de meios mobilizáveis na esfera do Estado, 
do mercado, das organizações sociais sem fins lucrativos e, ainda, 
aqueles derivados das microssolidariedades originárias na família, nas 
igrejas, no local (Martin, 1995), de modo que as políticas sociais se 
apresentam hoje como responsabilidades partilhadas. Carvalho (2005, 
p. 270) 
Ressaltamos que, historicamente, a prática assistencial de benevolência e 
caridade era realizada pela sociedade civil, em especial pelas instituições privadas 
de fins social, e o Estado se apropria de tal prática: “[...] não só da prática 
assistencial como expressão de benemerência como também catalisa e direciona 
os esforços de solidariedade social da sociedade civil” (Sposati et al., 2003). 
Para a Carvalho (2005), os serviços coletivos implementados pelas 
políticas sociais estão combinando diversas modalidades de atendimento 
ancoradas na família e na comunidade. A autora destaca ainda que 
[...] as políticas de combate à pobreza elegeram família e comunidade. 
A consciência geral de que a pobreza e a desigualdade castigam grande 
parcela da população brasileira estão a exigir políticas públicas mais 
efetivas e comprometidas com sua superação. Nesse compromisso, 
buscam assegurar uma rede de proteção e de desenvolvimento 
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socioeconômico voltado às famílias e às comunidades vulnerabilizadas 
pela pobreza. (Carvalho, 2005, p. 270) 
No Brasil, uma das iniciativas governamentais tomadas nesse sentido foi o 
programa de renda mínima conhecido como Bolsa Família, criado pela Lei 
n. 10.836, de 9 de janeiro de 2004, que define ainda em seu artigo 8º: “A execução 
e a Gestão do Programa Bolsa Família são públicas e governamentais e dar-se-
ão de forma descentralizada, por meio da conjugação de esforços entre os entes 
federados, observada a intersetorialidade, a participação comunitária e o controle 
social” 
Carvalho (2005) relata também outros programas de cunho emancipatório 
que tinham, porém, caráter mais descontínuo, tais como o Programa Nacional de 
Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) e o Banco do Povo. Ressaltando 
que o Pronaf financia projetos individuais ou coletivos para agricultores familiares 
e assentados da reforma agrária. 
TEMA 3 – AS RELAÇÕES DA FAMÍLIA E O PROCESSO DE DESFILIAÇÃO 
A família segue as mudanças da sociedade, incorporando novos valores, 
funções e formas de organização em consequência das ideologias dominantes e 
das necessidades sociais, culturais, econômicas e políticas de cada época. Na 
sociedade capitalista, a família tem um papel fundamental, pois é considerada um 
espaço de proteção social, e o Estado, então, cria e mantém medidas de apoio 
familiar nas agendas governamentais. 
Carvalho (2005, p. 271) relata a importância do papel da família nas 
relações sociais: 
A família como expressão máxima da vida privada é lugar da intimidade, 
construção de sentidos e expressão de sentimentos, onde se exterioriza 
o sofrimento psíquico que a vida de todos nós põe e repõe. É percebida 
como nicho afetivo e de relações necessárias à socialização dos 
indivíduos, que assim desenvolvem o sentido de pertença a um campo 
relacional iniciador de relações includentes na própria vida em 
sociedade. É um campo de mediação imprescindível. 
Ressaltamos que a família vem se transformando constantemente, e 
diversos elementos surgiram nesse campo de mediação relatado pela autora. 
Dessa forma, Castel (2000 apud Carvalho, 2005) entende que a família convive 
em um processo social de inclusão e exclusão social, o qual permite ao indivíduo 
retornar indiretamente à família como condição de inclusão. 
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No contexto brasileiro, marcado pela extrema desigualdade social, as 
famílias têm encontrado dificuldades para cumprir essas tarefas básicas para os 
seus membros, em decorrência das situações de vulnerabilidade nas quais se 
encontram. Para Castels (2000 apud Carvalho, 2005, p. 271): “[...] o indivíduo 
possui trabalho e vínculos sociofamiliares, encontra-se potencialmente incluído 
nas redes de integração social. Se lhe falta o trabalho ou os vínculos, escorrega 
para zonas de vulnerabilidade. E, se perde trabalho e vínculos, pode tombar em 
processos de ‘desafiliação’ social”. 
Conforme a autora, os vínculos sociofamiliares asseguram ao indivíduo a 
segurança de pertencimento social. E ainda relata que condição objetiva e 
subjetiva de pertença não pode ser descartada quando se projetam processos de 
inclusão social (Carvalho, 2005). 
Pontuamos que a realidade das famílias pobres e em situação de 
vulnerabilidade não possibilita as condições necessárias para sua sobrevivência, 
e a ausência do Estado não garante às famílias o mínimo para a sua 
sobrevivência. 
Para Carvalho (2005), exploramos o potencial empreendedor da família no 
plano dos micronegócios geradores de renda, mas pouco na melhoria da 
qualidade de vida do coletivo no microterritório que habitam. 
Para isso, a autora aponta alguns equívocos das políticas públicas sendo: 
 Eleger apenas a mulher na família como porta de relação e parceria; 
 Pensar idealizadamente num padrão de desempenho da família, que 
ostenta diversas formas de expressão, condições de maior ou menor 
vulnerabilidade afetiva, social ou econômica, ou ainda fases de seu 
ciclo vital com maior vulnerabilidade, disponibilidade e potencial; 
 Oferecer apenas assistência compensatória, com escasso 
investimento no desenvolvimento da autonomia do grupo familiar. 
(Carvalho, 2005, p. 273) 
A autora pontua que, independentemente de alterações e mudanças na 
composição e nos arranjos familiares, a família é um forte agente de proteção 
social de seus membros. 
Segundo Carvalho (2015), é necessária uma via de mão dupla ser 
garantida. “Esse raciocínio se aplica às demais políticas na relação com a família. 
Por exemplo, às políticas de saúde: a família é sujeito coletivo que opera na saúde 
de seus membros, mas não basta alçá-la à parceria. É preciso produzir saúde 
para e com a família” (Carvalho, 2015, p. 273). 
 
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TEMA 4 – CIDADANIA – POLÍTICA SOCIAL E FAMÍLIA 
As mudanças ocorreram trazendo impacto na vida social e familiar, 
sobretudo na transformação dos valores e dos comportamentos que marcaram a 
transição do tradicional modelo de família patriarcal para um familiar mais 
igualitária e democrática. 
A Constituição Federal de 1988 — fruto da luta de vários movimentos 
sociais organizados pela ampliação de seus direitos sociais em um momento de 
grande efervescência política — prevê em seu artigo 226 que “a família, base da 
sociedade, tem especial proteção do Estado”, para tanto, levando-nos à reflexão 
de que ela é responsável por prover as necessidades básicas do ser humano, 
sendo elemento-chave na formação de seus valores morais e éticos. 
O texto constitucional passou a reconhecer como entidades familiares as 
comunidades formadas pelo casamento, pela união estável ou aquela composta 
por qualquer um dos pais e seus descendentes; dispor da igualdade de direitos e 
deveres do homem e da mulher na sociedade conjugal e facilitar a dissolução do 
casamento pelo divórcio (Brasil, 1988, s/p). 
Ressaltamos que, por intermédio da Constituição Federal de 1988, o direito 
à família alcança nova dimensão, e outros textos legais ampliam as formas de 
composição familiar, garantindo a todos os seus membros proteção, segurança e 
dignidade humano. 
O Código Civil de 2002 trouxe inovações em termos de Direito da Família, 
considerando as evoluções sociais ocorrida no país, os diferentes arranjos 
familiares e as alterações significativas da legalidade do direito. 
Ainda na Constituição Federal, é iniciado um redimensionamento das 
políticas públicas voltadas para o atendimento das necessidades humanas e para 
a promoção de um bem-estar coletivo, com garantia de direitos sociais, políticos 
e econômicos: o tripé da Seguridade Social, um conjunto integrado e composto 
pelas políticas de saúde, assistência social e previdência social. 
Ressaltamos que as ações assistenciais à nova realidade de “direito do 
cidadão” estão regidas por alguns princípios, dispostos no art. 4º. da referida lei, 
dentre os quais, a universalização dos direitos sociais, a fim de tornar o 
destinatário da ação assistencial alcançável pelas demais políticas públicas. 
Dentro desse contexto, as autoras Sposati et al. (2014, p. 52) relatam que 
“[...] por mais paradoxal que possa parecer, o avanço das políticas sociais 
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terminou por menos a ação do Estado em prover a justiça social e mais resultado 
das lutas concretas da população”. 
Dessa forma, segundo as autoras temos duas faces que fazem parte da 
política social, sendo uma a de um instrumento de superação, ou até mesmo 
redução, de tensão sociais com menos conflitos frente à relação capital-trabalho, 
e a outra a de espaço de expressão de interesses contraditórios das classes 
sociais em que se estabelece uma forma luta em detrimento das necessidadesobjetivas do capital. 
Assim, Sposati et al. (2014, p. 52) relatam que “[...] as políticas sociais são 
mais que condições de reprodução das condições de vida do trabalhador: são 
formas de realização de direitos sociais e, consequentemente, da cidadania”. Mas 
as autoras consideram a cidadania como conceito ambíguo que historicamente foi 
marcado pela perspectiva liberal, no que diz respeito à participação das decisões 
políticas. 
Para as autoras, tal “[...] afirmação supõe um Estado, mesmo burguês, 
onde teoricamente os direitos são assegurados universalmente. Porém, o simples 
reconhecimento dessa universalidade não garante a realização da igualdade” 
(Sposati et al., 2014, p. 52). A permanente tensão que paira na defesa de direitos 
reflete a exploração de uma classe pela outra e lutas sociais ampla e, ainda, de 
acordo com Sposati et al. (2014, p. 52), a “presença do mecanismo assistencial 
nas políticas sociais brasileiras conforma a vida do trabalhador em condições 
precárias, insuficientes, que terminam por reiterar o grau de exploração”. 
Pontuamos que, nesse contexto de luta de classes, as autoras nos levam 
a perceber que não podemos menosprezar “[...] os efeitos políticos e ideológicos 
das políticas sociais, mas identificando que aí reside o espaço contraditório que 
permite o avanço das lutas populares” (Sposati et al., 2014, p. 53). Isso, de acordo 
com Sposati et al. (2014, p. 53) permite uma hipótese [...] de que no assistencial 
está contida a possibilidade de negação dele próprio e de sua constituição como 
espaço de expansão da cidadania às classes subalternizadas”. Dessa forma, cabe 
ao Estado assumir o seu papel assistencial, assegurando as condições mínimas 
de vida para a população, que é a forma concreta de acesso de bens e serviços 
(Sposati et al., 2014, p. 53). 
Assim, como as autoras relatam, a luta pela cidadania está nos movimentos 
sociais, nas reivindicações coletivas, na criação de espaços de prática e política, 
que são alguns dos elementos fundamentais na sua construção. 
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As classes subalternizadas, lutando por sua sobrevivência, organizam-
se e apelam para o atendimento de seus direitos sociais, como trabalho, 
remuneração, alimentação, saúde, moradia, educação. Esse movimento 
envolve processos de esclarecimento, arregimentação, debate e 
mobilização que supõem a liberdade e a resistência à opressão. (Sposati 
et al., 2014, p. 53) 
Ressaltamos que a proteção conquistada pela Constituição de 1988 é um 
processo para futuras possibilidades de ações políticas de reivindicação e 
incorporação de novos direitos. Para as autoras há uma nova forma de 
concretização da cidadania que é coletiva: 
A legitimação de demandas coletivas se coloca em confronto ao Estado 
liberal, enquanto este se funda no individuo como categoria social e 
política, com autonomia referida a si e não ao grupo a que pertence. 
(Sposati et al., 2014, p. 56) 
TEMA 5 – FAMÍLIA E TRABALHO FAMILIAR 
Historicamente, o capitalismo, ao garantir a manutenção do sistema 
econômico mundial, provoca mudanças profundas na sociedade e 
consequentemente na família. E, ao promover essas mudanças, provoca 
alterações significativas em suas estruturas, mudando regras de sua ordem 
interna, visando garantir a sua existência e produz transformações não apenas no 
campo econômico, mas também no político, no social e no cultural mundial. 
Nesse contexto, Mioto (2015, p. 701) afirma que “o trabalho familiar implica 
reportar a grande cisão entre o mundo do trabalho e o da família [...] com uma 
intensa e visível atividade econômica”, ou seja, começa a haver uma separação 
entre essas duas esferas tornando-se privada a vida familiar, resultando na prática 
da proteção social e na regulação da família pelo Estado. 
Mioto (2015, p. 701) situa a família burguesa nos marcos do capitalismo e 
como consequência do processo de acumulação de capital: 
Nessa época, tratados econômicos consideravam a economia 
doméstica, a comercial e a financeira como contínuas para a 
configuração de uma família “separada” da economia empresarial e 
financeira. Assim, nasce uma família identificada como “instância 
privada”, isenta de responsabilidades públicas e, ao mesmo tempo, com 
disponibilidade de recursos privados com base na criação e no controle 
de um capital privado. 
Para a autora, isso marcou uma grande diferença entre as famílias 
detentoras do capital e as famílias que para essas trabalhavam, provocando a 
visão de família desvinculada do trabalho e das relações econômicas. 
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[...] o processo de separação entre trabalho e família não ocorreu 
igualmente para todas as classes, considerando tanto as famílias que 
ainda são unidades produtivas (como as vinculadas à produção agrícola 
e à produção artesanal) quanto as dos trabalhadores assalariados. Para 
a autora, essas famílias continuaram, ao longo do tempo, sendo uma 
unidade econômica para a qual confluem rendimentos de diferentes 
fontes destinados a uma “bolsa comum”, em geral administrada pela 
mulher/dona da casa. (Saraceno, 1996 apud Mioto, 2015, p. 702) 
Portanto, todos os ganhos dos membros da família são administrados pela 
mulher em função do coletivo familiar. 
Segundo Mioto (2015), nesse contexto, a economia assalariada aprofunda 
desigualdades dentro da família pela divisão entre os que recebem salário e os 
que não recebem. Dessa forma, no contexto familiar, o trabalho ultrapassa as 
dimensões meramente técnica material interferindo as relações sociais. 
Para Mioto (2015, p. 702), isso “gera desequilíbrios e tensões entre os seus 
membros, especialmente entre os que ganham dinheiro de forma direta e os que 
o ganham de forma indireta, quer dizer, através do valor adjunto do trabalho 
doméstico”. 
Com a industrialização e as mudanças no mundo do trabalho e a inserção 
da mulher no mercado de trabalho foram determinantes para uma série de 
mudanças contexto da família. E sobre isso, Mioto (2015, p. 703) afirma que “[...] 
a entrada massiva das mulheres no mercado de trabalho e com a instauração das 
famílias de dupla carteira, bem como com as transformações nas configurações 
familiares e na pirâmide demográfica, o trabalho doméstico passa a ser fortemente 
tematizado”. 
O contexto do trabalho doméstico passa a ser discutido no campo marxista 
durante a década de 1970, na esteira do ressurgimento dos movimentos 
organizados de mulheres por direitos no mundo capitalista central. E segundo 
Gelinski e Pereira (2005 apud Mioto, 2015, p. 703), 
[...] o debate sobre o trabalho doméstico iniciou-se com base em dois 
aspectos principais: um se refere à conceituação a respeito de sua 
natureza e as relações com o modo de produção capitalista; o outro se 
relaciona à posição de classe das mulheres e à sua relação com o 
movimento socialista. 
E em direção análoga o autor Meil (2004 apud Mioto, 2015, p. 703) 
[...] indica que o debate sobre o trabalho doméstico, no bojo da teoria 
social de Marx, também se centrou em dois aspectos: um se relaciona à 
natureza desse trabalho (produtivo ou improdutivo); o outro, à afirmação 
do trabalho doméstico como uma forma específica de produção (ou não) 
e suas relações com o modo de produção capitalista. 
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Os autores debatem o assunto do trabalho doméstico em uma perspectiva 
do modo de produção. Na família como unidade de produção, mulheres e crianças 
participam diretamente das atividades consideradas econômicas. 
Segundo Mioto (2015, p. 704) é explicita “[...] a complexidade da inter-
relação família/mulher e trabalho/economia, que se realiza tanto a partir do 
trabalho remunerado, quanto do não remunerado — ambos fundamentais na 
sustentação da subsistência e do bem-estar dos membros de uma sociedade”.É fundamental ressaltar ainda que, com a entrada das mulheres no trabalho 
atende, em alguma medida, às necessidades financeiras dos grupos familiares, 
mas altera as formas de garantia privada de proteção, o que se torna 
problemático, pois a família sempre assumiu papel proeminente na provisão de 
bem-estar familiar. 
Para Meil (2004 apud Mioto, 2015, p. 704), “essa perspectiva [...] permitiu 
evidenciar que a economia segue ‘incrustrada’ dentro da família”. Mioto (2015) 
ressalta que “uma das chaves importantes desse debate uma das chaves 
importantes desse debate está no está no reconhecimento do trabalho no âmbito 
da reprodução, e não apenas no campo da produção”. 
Por fim, Saraceno (2013 apud Mioto. 2015, p. 706) dá um passo além na 
análise do processo de desagregação das atividades familiares ao propor o termo 
trabalho familiar: 
ao fato de propor maior desconcentração das atividades que fazem parte 
do trabalho doméstico. ou seja, inclui, além das tarefas domésticas e do 
cuidado, o tempo utilizado e o esforço desprendido pela família nas 
relações com as instituições [...] em segundo lugar, porque a 
nomenclatura se refere ao trabalho não remunerado e, finalmente, 
porque vincula esse trabalho à família. Este, mesmo estando fortemente 
associado às mulheres, não pode ser reduzido a uma questão de 
gênero, pois, entre outras razões, não envolve apenas as mulheres e 
não pode ser resolvido no campo da relação de gênero. Por esses 
motivos é que se adota a terminologia trabalho familiar. 
 
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REFERÊNCIAS 
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. 1988. 41. ed. São Paulo: 
Editora Saraiva, 2008. 
BRASIL. Lei n. 10.836, de 9 de janeiro de 2004, que cria o Programa Bolsa 
Família, e dá outras providências. Brasília. Disponível em: 
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2004/Lei/L10.836.htm>. 
Acesso em: 22 set. 2019. 
CARROLL, L. Alice perguntou: Gato Cheshire... pode... Pensador. Disponível 
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SPOSATI, A. O. et al. Assistência na trajetória das políticas sociais 
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AULA 2 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
POLÍTICAS SOCIAIS E FAMÍLIA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Profª Gisella Chanan 
 
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INTRODUÇÃO 
No referente tema estaremos abordando na análise da ideia de 
centralidade da família na política da assistência social, ancorada no 
reconhecimento da importância da família no contexto da vida social. 
Ressaltando que a família perpassa em todos os níveis de proteção da Política 
de Assistência Social em seus projetos, programas, serviços e benefícios. 
TEMA 1 – A CENTRALIDADE DA FAMÍLIA NA POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA 
SOCIAL 
Este retrato de família 
está um tanto empoeirado. 
Já não se vê no rosto do pai 
quanto dinheiro ele ganhou. 
A primeira estrofe da poesia Retrato de família, de Carlos Drummond de 
Andrade (1987), revela um olhar para o passado em direção ao futuro, 
permitindo não somente recuperar, mas também ressignificar esse passado e 
olhar para a família. 
Segundo Teixeira (2015, p. 21), a família tem “ressurgido” no contexto das 
políticas sociais “pós-ajuste” como agente de proteção social. Nesse sentido, é 
essencial [...] ressaltar a centralidade da família como objeto, sujeito e 
instrumento das políticas públicas. 
A centralidade da família nas políticas sociais está explicitada no art. XVI 
da Declaração Universal dos Direitos Humanos da ONU como foco da proteção 
da sociedade e do Estado. Além disso, a Constituição Federal de 1988 (Brasil, 
1988), no art. 226, considera a família como a base da sociedade e atribui a ela, 
em seu art. 227, o dever de assegurar os direitos fundamentais de crianças e 
adolescentes. 
Ressaltamos que a centralidade familiar também está reafirmada na Lei 
Orgânica da Assistência Social (LOAS), no Estatuto da Criança e do 
Adolescente (ECA) e em outras legislações. 
Teixeira (2015, p. 217) ressalta que em todas as “[...] passagens de 
legislações e [em todo] posicionamento teórico é visível a adoção de um novo 
paradigma: o de que a família deve ser apoiada, protegida e capacitada para 
proteger e cuidar de seus membros dependentes”. 
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Na Norma Operacional Básica do Sistema Único de Assistência Social 
(NOB/SUAS), a centralidade tem como base a compreensão de que as outras 
necessidades e públicos da assistência social estão, de alguma maneira, 
vinculados à família, quer seja no momento de utilização dos programas, 
projetos e serviços da assistência, quer seja no início do ciclo que gera a 
necessidade do indivíduo vir a ser alvo da atenção da política. “A família é o 
núcleo social básico de acolhida, convívio, autonomia, sustentabilidade e 
protagonismo social” (NOB, SUAS, 2005, p. 17). 
Nesse sentido, a Política Nacional de Assistência Social (PNAS) (2004, p. 
15) afirma que “a construção da política pública de assistência social precisa 
levar em conta três vertentes de proteção social: as pessoas, as suas 
circunstâncias e dentre elas seu núcleo de apoio primeiro, isto é, a família”. 
A PNAS trouxe vários avanços, entre eles a matricialidade sociofamiliar, 
compreendida a partir das diretrizes estabelecidas para o território nacional, com 
a opção pela “centralidade na família para concepção e implementação dos 
benefícios, serviços, programas e projetos” (Brasil, 2004, p. 33). 
E, para isso, a PNAS (2004, p. 41) reconhece que: 
[...] as fortes pressões que os processos de exclusão sociocultural 
geram sobre as famílias brasileiras, acentuando suas fragilidades e 
contradições, faz-se primordial sua centralidade no âmbito das ações 
da política de assistência social, como espaço privilegiado e 
insubstituível de proteção e socialização primárias, provedora de 
cuidados aos seus membros, mas que precisa também ser cuidada e 
protegida. 
Mas identificamos que há uma preocupação com a responsabilidade 
familiar, pois, conforme defendido no âmbito da Política Nacional de Assistência 
Social (2004, p. 41), a família, 
[...] independentemente dos formatos ou modelos que assume, é 
mediadora das relações entre os sujeitos e a coletividade, delimitando 
continuamente os deslocamentos entre o público e o privado, bem 
como geradora de modalidades comunitárias de vida”. 
Segundo Rizzini et al. (2006 apud Teixeira, 2015), há um descompasso 
entre a importância que se atribuiu à família e à falta de condições mínimas de 
vida, suporte e serviços familiares oferecidos pelo poder público, o que na 
prática ocorre mesmo é uma responsabilização da família pela proteção social 
de seus membros. 
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Para a autora, é pertinente a redução de recursos que dão conta das 
demandas e dos serviços destinados às famílias que possam promover 
mudanças nas condições de vida e nos serviços socioeducativos. 
A autora ressalta que 
Em todas essas passagens de legislações e posicionamento de 
teóricos, é visível a adoção de um novo paradigma: o de que a família 
deve ser apoiada, protegida e capacitadapara proteger e cuidar de 
seus membros dependentes [...] essa premissa há a de que não é 
possível fazer políticas públicas sem as parcerias, sem a gestão em 
redes com entidades públicas e privadas. 
De acordo com Dal Prá (2016 apud Mioto, 2012), é pelo campo do 
cuidado se expressa a responsabilização da família, onde articulam-se 
estratégias de imposição ou transferências dos custos do cuidado para as 
famílias, seja no âmbito financeiro, emocional e de trabalho. 
A autora Steffenos (2011 apud Teixeira, 2015, p. 215) salienta “[...] uma 
tendência de apontar a família como responsável por seus dependentes, 
incluindo os idosos, sendo chamada a assumir esses novos encargos, 
independentemente de laços afetivos e de condições para cumpri-los”. 
Portanto, a política social com centralidade na família exige dos 
formuladores, gestores e operacionalizadores o entendimento dessas 
especificidades para que a família possa ser devidamente amparada pelo 
Estado, ao mesmo tempo em que a responsabiliza pela proteção de seus 
membros. Teixeira (2015, p. 217) ainda acrescenta que o sistema de proteção 
social “é a visível adoção do princípio da subsidiariedade da intervenção do 
Estado que, nunca exclusivamente estatal, e só aparece quando a família falha 
na proteção e cuidados”. 
Assim, quando a família não consegue realizar o bem-estar de seus 
membros contará com a ajuda da rede de proteção, ou seja, o Estado não é 
protagonista, uma vez que sua função é prover apoio. 
TEMA 2 – POLÍTICAS DE APOIO À FAMÍLIA 
Segundo o Ministério de Desenvolvimento Social – MDS (Brasil, 2010, 
p. 42), o SUAS “é um sistema público não contributivo e participativo, que tem 
por função a gestão do conteúdo específico da assistência social no campo da 
proteção social brasileira”. Considerando isso, “a proteção social deve garantir 
as seguintes seguranças: segurança de sobrevivência (de rendimento e de 
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autonomia); de acolhida; de convívio ou vivência familiar” (Brasil, 2010, p. 31). 
Também a NOB/SUAS de 2012 (Brasil, 2012) reafirma a proteção social da 
assistência social: a segurança da acolhida; a segurança social de renda; a 
segurança do convívio ou convivência familiar, comunitária e social; a segurança 
de desenvolvimento da autonomia individual, familiar e social, segurança de 
sobrevivência a riscos circunstanciais. 
Para Teixeira (2009, 2010 apud Teixeira, 2015, p. 232), as normas do 
MDS para o trabalho com famílias, em especial o socioeducativo, envolve 
discussões de questões internas de grupos referentes ao trabalho doméstico e a 
reflexões do cotidiano ou de resoluções de conflitos familiares. 
Segundo a autora essas práticas são herdeiras da educação 
disciplinadora e normalizadora da família, que assumem versões 
modernizadoras que lhe escamoteiam dimensões normativas dos 
papéis sociais, dos comportamentos esperados para pai e mãe, em 
nome de processos educativos que visam potencializar o grupo familiar 
e gerar sua autonomia. 
Destacando Campos (2008 apud Teixeira, 2015), essa responsabilização 
da família nos cuidados de seus membros é sustentada cultural e socialmente, 
sendo que grande parte dessas responsabilidades e expectativas recai em 
especial sobre a mulher. 
Teixeira (2015, p. 236) ressalta ainda o trabalho com família, 
[...] assumindo versões normatizadoras e disciplinadoras sobre os 
papéis sociais hegemônicos e os comportamentos esperados, o que 
inibe a dimensão emancipatória que poderia ter ou proporcionar. 
Todavia, isso pode ser redirecionado a partir de novas diretrizes que, 
de fato, se traduzam em um trabalho social que visa à autonomia, 
cidadania e protagonismo social das famílias. 
Pontuamos a obrigação do Estado de disponibilizar, por meio da Política 
de Assistência Social, os serviços, programas e projetos para as famílias nos 
mais variados contextos e localidades do país. Esse trabalho deve ser realizado 
na perspectiva da garantia de direitos, no protagonismo desse usuário e na 
construção da autonomia. 
TEMA 3- PROTEÇÃO SOCIAL DE ASSISTÊNCIA SOCIAL 
Segundo Di Giovanni (1998, p. 10 apud PNAS 2004, p. 31), “entende-se 
por Proteção Social as formas institucionalizadas que as sociedades constituem 
para proteger parte ou o conjunto de seus membros”. Além disso, a PNAS 
(2004, p. 15) reconhece que: 
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[...] a situação atual para a construção da política pública de 
assistência social precisa levar em conta três vertentes da proteção 
social: as pessoas, as suas circunstâncias e dentre elas seu núcleo de 
apoio primeiro, isto é a família. A proteção social exige a capacidade de 
maior aproximação possível do cotidiano da vida das pessoas, pois é 
nele que riscos, vulnerabilidades se constituem. 
Além disso, as ações da proteção social, entre outros aspectos, visam a 
produzir: 
[...] aquisições materiais, sociais, socioeducativas ao cidadão e cidadã 
e suas famílias para suprir suas necessidades de reprodução social de 
vida individual e familiar; desenvolver suas capacidades e talentos para 
a convivência social, protagonismo e autonomia. (NOB/SUAS 2005, 
p. 89) 
Para a PNAS (2004, p. 31), a proteção social deve garantir as seguintes 
seguranças: segurança de sobrevivência (de rendimento e de autonomia); de 
acolhida; de convívio ou vivência familiar. Dentre essas garantias, a segurança 
de renda tem suscitado grandes debates, questionando a responsabilidade do 
Estado em assegurar tal proteção à referida população. Essa situação gera 
preconceitos, atribuindo “acomodação” e “vagabundagem” a quem se beneficia 
dessa segurança. Trata-se de conceitos que foram, ao longo dos anos, 
enraizados na sociedade. 
No entanto, o Sistema Único de Assistência Social firma o 
posicionamento de que a pobreza e as vulnerabilidades são decorrentes do 
modelo econômico, social e político historicamente constituído no Brasil e, 
assim, a proteção é dever do Estado, como direito social. Assim, a PNAS (2004, 
p. 31) afirma que: 
A segurança de rendimentos não é uma compensação do valor do 
salário mínimo inadequado, mas a garantia de que todos tenham uma 
forma monetária de garantir sua sobrevivência, independentemente de 
suas limitações para o trabalho ou do desemprego. É o caso de 
pessoas com deficiência, idosos, desempregados, famílias numerosas, 
famílias desprovidas das condições básicas para sua reprodução social 
em padrão digno e cidadã. 
A proteção social de assistência social, conforme preconiza a PNAS 
(2004), é hierarquizada e divide-se em: básica e especial, de acordo com os 
níveis de complexidade do processo de proteção, em média e alta 
complexidade, por decorrência do impacto de riscos no indivíduo e em sua 
família. 
Segundo Zola (2015 p. 65), as formas de proteção social são definidas 
em eixos sendo que: 
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Do primeiro eixo, fazem parte programas, projetos, serviços e 
benefícios públicos sociais básicos para os cuidados da criança e do 
adolescente, que possibilitam seu desenvolvimento, processo 
educativo e a proteção básica. Nos segundo e terceiro eixo, são 
observadas situações de contingências e riscos sociais, com 
demandas de serviços especializados, considerados de proteção social 
especial, distinguidos na realidade brasileira de média e alta 
complexidade. 
3.1 Proteção social básica e especial 
O serviço de proteção básica tem um caráter preventivo e visa 
proporcionar a inclusão social, o fortalecimento dos vínculos familiares e 
comunitários, tendo como objetivo “prevenir situações de risco por meio do 
desenvolvimento de potencialidades e aquisições, e o fortalecimento de vínculos 
familiares e comunitários (PNAS, 2004, p. 33), e a ampliação de acesso a 
direitos, destinando-se à: 
[...] população que vive em situaçãode vulnerabilidade social 
decorrente da pobreza, privação (ausência de renda, precário ou nulo 
acesso aos serviços públicos) e, ou, fragilização de vínculos afetivos – 
relacionais e de pertencimento social (discriminações etárias, étnicas, 
de gênero ou por deficiências, dentre outras). 
Ainda segundo a PNAS (2004, p. 35), o trabalho com famílias, nesse tipo 
de proteção, 
[...] deve considerar novas referências para a compreensão dos 
diferentes arranjos familiares, superando o reconhecimento de um 
modelo único baseado na família nuclear, e partindo do suposto de que 
são funções básicas das famílias: prover a proteção e a socialização 
dos seus membros; constituir-se como referências morais, de vínculos 
afetivos e sociais; de identidade grupal, além de ser mediadora das 
relações dos seus membros com outras instituições sociais e com o 
Estado. 
A proteção social especial, de acordo com a PNAS (2004, p. 37), 
[...] é a modalidade de atendimento assistencial destinada a famílias e 
indivíduos que se encontram em situação de risco pessoal e social, por 
ocorrência de abandono, maus tratos físicos e, ou, psíquicos, abuso 
sexual, uso de substâncias psicoativas, cumprimento de medidas 
socioeducativas, situação de rua, situação de trabalho infantil, entre 
outras. 
Segundo a Lei Orgânica da Assistência Social, a proteção básica e a 
proteção especial são ofertadas precipuamente no Centro de Referência de 
Assistência Social (CRAS) e no Centro de Referência Especializado de 
Assistência Social (CREAS), respectivamente, e pelas entidades sem fins 
lucrativos de assistência social. Essa seria a “porta de entrada” dos usuários à 
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rede de Proteção Social Básica do SUAS, locais onde são executados serviços 
de Proteção Social Básica, dando acesso a outros serviços, programas, projetos 
e benefícios relativos à segurança de sobrevivência (de rendimento e de 
autonomia), de acolhida, e da vivência familiar ou a segurança do convívio de 
acolhida (PNAS, 2004). 
Segundo o Caderno de Orientações Técnicas – CRAS (2009, p. 9): 
CRAS é uma unidade de proteção social básica do SUAS, que tem por 
objetivo prevenir a ocorrência de situações de vulnerabilidades e riscos 
sociais nos territórios, por meio do desenvolvimento de potencialidades 
e aquisições, do fortalecimento de vínculos familiares e comunitários, e 
da ampliação do acesso aos direitos de cidadania. 
Ressaltando ainda que esses “serviços, de caráter preventivo, protetivo e 
proativo, podem ser ofertados diretamente no CRAS, desde que disponha de 
espaço físico e equipe compatível” (CRAS, 2009, p.09). 
Ressaltamos que a Proteção Social Especial (PSE) (CREAS, 2011, p. 
18), 
[...] por meio de programas, projetos e serviços especializados de 
caráter continuado, promove a potencialização de recursos 
para a superação e prevenção do agravamento de situações de risco 
pessoal e social, por violação de direitos, tais como: violência física, 
psicológica, negligência, abandono, violência sexual (abuso e 
exploração), situação de rua, trabalho infantil, práticas de ato 
infracional, fragilização ou rompimento de vínculos, afastamento do 
convívio familiar, dentre outras. 
Além disso, as “ações desenvolvidas na PSE devem ter centralidade na 
família e como pressuposto o fortalecimento e o resgate de vínculos familiares e 
comunitários, ou a construção de novas referências, quando for o caso” 
(CREAS, 2011, p.18). 
3.2 Tipificação nacional dos serviços socioassistenciais 
A Resolução n. 109, de 11 de novembro de 2009, definida como a 
Tipificação Nacional dos Serviços Socioassistenciais, foi concebida a partir das 
deliberações da VI Conferência Nacional de Assistência Social, bem como das 
metas previstas no Plano Decenal de Assistência Social, promovendo uma 
padronização, em nível nacional, dos serviços socioassistenciais. 
A referida resolução foi tema de discussão e deliberação no Conselho 
Nacional da Assistência Social referente à democratização da gestão do SUAS, 
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nela compreendida a participação intergovernamental com as Entidades de 
Assistência Social. 
Seu artigo 1º (MDS, 2009) define os serviços: 
I - Serviços de Proteção Social Básica: 
a) Serviço de Proteção e Atendimento Integral à Família (PAIF); 
b) Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos; 
c) Serviço de Proteção Social Básica no domicílio para pessoas com 
deficiência e idosas. 
II - Serviços de Proteção Social Especial de Média Complexidade: 
a) Serviço de Proteção e Atendimento Especializado a Famílias e 
Indivíduos (PAEFI); 
b) Serviço Especializado em Abordagem Social; 
c) Serviço de Proteção Social a Adolescentes em Cumprimento de 
Medida Socioeducativa de Liberdade Assistida (LA), e de Prestação de 
Serviços à Comunidade (PSC); 
d) Serviço de Proteção Social Especial para Pessoas com Deficiência, 
Idosas e suas Famílias; 
e) Serviço Especializado para Pessoas em Situação de Rua. 
III - Serviços de Proteção Social Especial de Alta Complexidade: 
a) Serviço de Acolhimento Institucional, nas seguintes modalidades: 
- abrigo institucional; 
- casa-lar; 
- casa de passagem; 
- residência inclusiva. 
b) Serviço de Acolhimento em República; 
c) Serviço de Acolhimento em Família Acolhedora; 
d) Serviço de Proteção em Situações de Calamidades Públicas e de 
Emergências. 
A partir de então, essa passou a ser a regra-matriz padronizadora, o que 
derivou a adoção de similares parâmetros pelos Conselhos Municipais, haja 
vista que o próprio CNAS editou outra resolução, a de n. 16, de 5 de maio de 
2010, regulando o seguinte: 
Art. 6º A inscrição dos serviços, programas, projetos e benefícios 
socioassistenciais nos Conselhos de Assistência Social Municipais e do 
Distrito Federal é o reconhecimento público das ações realizadas pelas 
entidades e organizações sem fins econômicos, ou seja, sem fins 
lucrativos, no âmbito da Política de Assistência Social. 
§ 1º Os serviços de atendimento deverão estar de acordo com a 
Resolução CNAS n. 109, de 11 de novembro de 2009, que trata da 
Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais, e com o Decreto 
n. 6.308, de 14 de dezembro de 2007. 
Considerando que o Sistema Único de Assistência Social, ainda recente, 
veio para consolidá-la como política pública, pontuamos que são necessárias 
ações diferenciadas, levando em conta os níveis de proteção que a política 
coloca abrangendo as famílias e seus indivíduos que passam por 
vulnerabilidades e riscos sociais, pois eles tiveram seus direitos violados ou 
estão em situações risco e de total exclusão. 
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E, por fim, a Tipificação dos Serviços Socioassistenciais, como resolução 
normativa, ganha caráter permanente e planejado. 
TEMA 4 – PROGRAMAS DA POLÍTICA DA ASSISTÊNCIA SOCIAL 
Conforme a base da Política Nacional de Assistência Social – PNAS, o 
Serviço de Proteção e Atendimento Integral a Família – PAIF é concebida a 
partir do reconhecimento das vulnerabilidades e dos riscos sociais que atingem 
as famílias, que exigem estratégias de prevenção e enfrentamento da questão 
social. Através do Decreto n. 5.085, de 19 de maior de 2004, o PAIF tornou se 
ação continuada da Assistência Social, passando a integrar a rede de serviços e 
sendo financiada pelo Governo Federal. Vale destacar que a PAIF, “pactuado e 
assumido pelas diferentes esferas de governo, surtiu efeitos concretos na 
sociedade brasileira” (PNAS, 2004, p. 34). 
Segundo a Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais (2009, 
p. 6), o PAIF “consiste no trabalho social com famílias, de caráter continuado, 
com a finalidade de fortalecer a função protetiva das famílias, de modo a 
prevenir a ruptura de vínculos familiares e comunitários”, bem como as situações 
de risco. Ressalta-seque a Tipificação tem o papel de contribuir com a 
viabilização dos direitos dos usuários do SUAS, colaborando para a melhoria de 
sua qualidade de vida e atuando no desenvolvimento da autonomia e do 
protagonismo social das famílias e dos indivíduos acompanhados, mediante 
ações de caráter preventivo, protetivo e proativo (Tipificação Nacional de 
Serviços Socioassistenciais, 2009). 
O trabalho social com famílias assistidas pelo PAIF é desenvolvido pela 
equipe de referência do CRAS, e sua gestão territorial, pelo coordenador do 
CRAS, auxiliado pela equipe técnica, sendo essas, portanto, “funções exclusivas 
do poder público e não de entidades privadas de assistência social” (CRAS, 
2009, p.10). 
As ações do PAIF consistem em: acolhida; oficinas com famílias; ações 
comunitárias; ações particularizadas e encaminhamentos. Segundo a Tipificação 
(2009, p. 6), o Serviço de Proteção e Atendimento Especializado a Famílias e 
Indivíduos (PAEFI) consiste em: 
Serviço de apoio, orientação e acompanhamento a famílias com um ou 
mais de seus membros em situação de ameaça ou violação de direitos. 
Compreende atenções e orientações direcionadas para a promoção de 
direitos, a preservação e o fortalecimento de vínculos familiares, 
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comunitários e sociais e para o fortalecimento da função protetiva das 
famílias diante do conjunto de condições que as vulnerabilizam e/ou as 
submetem a situações de risco pessoal e social. 
Ressaltando que esse é um serviço de média complexidade e que seu 
atendimento se fundamenta no respeito à heterogeneidade, às potencialidades, 
aos valores, às crenças e às identidades das famílias. 
TEMA 5 – PROGRAMAS DE TRANSFERÊNCIA DE RENDA 
Os programas de transferência de renda do Governo Federal sob 
responsabilidade da Secretaria do Desenvolvimento Social do Ministério da 
Cidadania são: Bolsa Família, Renda Mínima, Renda Cidadã, Benefício de 
Prestação Continuada (BPC), Programa de Erradicação do Trabalho Infantil 
(PETI) e o Programa Ação Jovem. 
Conforme a PNAS (2004), no âmbito Sistema Único De Assistência Social 
(SUAS), os programas são: 
Art. 2º [...] 
Parágrafo único - A assistência social realiza-se de forma integrada às 
políticas sociais setoriais, visando ao enfrentamento da pobreza, à 
garantia dos mínimos sociais, ao provimento de condições para 
atender contingências sociais e à universalização dos direitos sociais. 
[...] 
Art. 24 - Os programas de assistência social compreendem ações 
integradas e complementares com objetivos, tempo e área de 
abrangência definidas para qualificar, incentivar e melhorar os 
benefícios e os serviços assistenciais. 
O Governo Federal, com a aprovação do Decreto n. 5.209, de 17 de 
setembro de 2004, no artigo 1º, decreta que o BPC será regido por esse decreto 
e pelas disposições que serão estabelecidas pelo Ministério do Desenvolvimento 
Social e Combate à Fome, cabendo a esse ministério, conforme o artigo 2º, a 
coordenação, a gestão e a operacionalização do programa. O artigo 4º do 
mesmo decreto estabelece os objetivos básicos do programa, que são: 
i – promover o acesso à rede de serviços públicos, em especial, de 
saúde, educação e assistência social; 
ii – combater a fome e promover a segurança alimentar e nutricional; 
iii – estimular a emancipação sustentada das famílias que vivem em 
situação de pobreza e extrema pobreza; 
iv – combater a pobreza; e 
v – promover a intersetorialidade, a complementaridade e a sinergia 
das ações sociais do poder público (Brasil, 2008). 
O programa tem seu objetivo central na redução da fome e no combate à 
pobreza das famílias que são beneficiárias, além de garantir a elas o acesso às 
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demais políticas públicas que melhoram a sua condição de vida e que permitam 
emancipar-se e sair da situação de pobreza ou de extrema pobreza. 
Conforme o artigo 14 do referido Decreto, compete aos municípios a 
constituição de coordenações composta por representantes das áreas da saúde, 
educação, assistência social e segurança alimentar, que sejam responsáveis 
pelas ações do programa. Eles devem, ainda, inserir informações sobre as 
famílias no cadastro único, além de disponibilizar os serviços e as estruturas 
públicas na área de saúde, educação e assistência social, estabelecendo 
parcerias com os demais âmbitos do governo e acompanhando as 
condicionalidades. 
Para Carloto (2015, p. 186), “os programas de transferência de renda se 
orientam majoritariamente às mulheres. Em função do caráter ‘feminizado’, 
desses programas, existe uma tendência em considerá-los uma política pública 
para mulheres”. 
Um primeiro ponto de interseção das nossas políticas está na própria 
concepção do Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal, que 
reúne informações de famílias que possuem renda mensal por pessoa de até 
meio salário mínimo ou ainda aquelas com renda familiar total de até três 
salários. O Cadastro tem indicadores socioeconômicos importantes, que 
permitem identificar situações de vulnerabilidade social para além do critério de 
renda. Isso possibilita aos gestores planejar políticas públicas a partir da 
identificação das demandas e necessidades, bem como selecionar famílias para 
serem integradas aos programas de acordo com o perfil. 
Segundo Goldani (2002, p. 38 apud Carloto, 2015, p. 184), “os programas 
de renda mínima que garantem um rendimento ‘mínimo’ para as famílias e não 
para os indivíduos justificando que a pobreza ocorre na família e cabe a ela ser 
solidária na gestão e no consumo dos rendimentos”. 
Finalizamos pontuando que, para que a família possa prevenir, proteger, 
promover e incluir socialmente seus membros, ela precisa ter condições 
garantidas de sustentabilidade, e os programas de transferência da renda direta 
às famílias e os demais serviços que devem ser ofertados pelo município 
proporcionam a elas algumas dessas garantias. 
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REFERÊNCIAS 
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Secretaria Nacional de Assistência e Secretaria Nacional de Renda de 
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Cidadania. Decreto n. 5.209, de 17 de setembro de 2004. Disponível em: 
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2004/decreto/d5209.htm>. 
Acesso em: 8 ago. 2019. 
______. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Sistema 
Único de Assistência Social. Orientações Técnicas: Centro de Referência de 
Assistência Social – CRAS. Brasília: MDS, 2009. Disponível em: 
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entacoes_Cras.pdf>. Acesso em: 8 ago. 2019. 
______. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Sistema 
Único de Assistência Social. Orientações Técnicas: Centro de Referência 
Especializado de Assistência Social – CREAS. Brasília: MDS, 2011. Disponível 
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M. S.; CARLOTO, C. M. (orgs.). Familismo, Direitos e Cidadania: contradições 
da política social. São Paulo: Cortez, 2015, p. 211-240. 
ZOLA, M. B. Políticas Sociais, família e proteção social: um estudo acerca 
das políticas familiares em diferentes cidades/países. In: MIOTO, R. C. T.; 
CAMPOS, M. S.; CARLOTO, C. M. (orgs.). Familismo, Direitos e Cidadania: 
contradições da política social. São Paulo: Cortez, 2015, p. 45-94. 
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AULA 3 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
POLÍTICAS SOCIAIS E FAMÍLIA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Profª Gisella Chanan 
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CONVERSA INICIAL 
Nesta aula, abordaremos as transformações sociais e econômicas e seus 
impactos na estrutura e na organização da familia. Para esse estudo, é 
fundamental salientar que a família é ainda a responsável por garantir o capital 
social e cultural de seus membros, condicionando em parte as posições sociais 
futuras. 
TEMA 1 – ANÁLISE E CONCEITO: FAMILISMO 
Os fatores históricos, econômicos, políticos e culturais são responsáveis 
pelas mudanças ocorridas na sociedade e principalmente na família. Torna-se, 
então, imprescindível relatar o reconhecimento da importância da família pelo 
ordenamento jurídico, o qual, conforme Zola (2015, p. 57), [...] “reconhece também 
que a tendência da centralidade na família para a proteção social de seus 
membros, transfere atribuições e sobrecarga, destacando a mulher”. Assim, é 
preciso perceber que a transferência de responsabilidade social do setor público 
para as famílias oprime a mulher em suas tarefas e serviços desempenhados no 
seio familiar. 
Campos e Mioto (2003, p. 165) enfatizam que a família sempre esteve 
relacionada com a política social, diferenciando-se em três tipos: “a família do 
provedor masculino, o ‘familismo’ e a família no Estado de Bem-Estar Social de 
orientação social-democrata”. 
A família do provedor masculino remete às relações regidas pelo preceito 
de que as mulheres seriam subordinadas aos homens. Segundo Zola (2015, 
p. 57), é uma perspectiva tradicional de proteção social realizada a partir da família 
nuclear, centrada no modelo previdenciário. Esse modelo de família nuclear 
assenta-se em valores instituídos que corroboram com uma suposta supremacia 
masculina, o que acaba atribuindo às atividades masculinas maior importância do 
que às atividades femininas. 
Conforme Zola (2015, p. 57), a família do provedor masculino, no modelo 
previdenciário tem por base dois eixos sendo: “[...] o seguro social público para a 
cobertura dos riscos do curso de vida, doenças, velhice, morte e, de outro lado, a 
existência de solidariedade familiar, baseada nas trocas internas e no apoio da 
mulher aos cuidados familiares”. 
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Campos e Mioto (2003 apud Zola, 2015, p. 58) “consideram essa 
modalidade de cobertura de renda e de direitos sociais, aos dependentes do 
homem, como de ‘direitos derivados’ e não de primeira classe”. Zola (2015, p. 58) 
adverte que é atribuída à mulher a função de provedora de cuidados 
desenvolvidos pela família, ou seja, cabe à mulher [...] a reprodução social e de 
provisão e manutenção do cotidiano e do próprio grupo familiar”. 
Sobre familismo, as autoras Campos e Mioto (2003, p. 170 apud Zola, 
2015, p. 58) esclarecem que, “[...] na perspectiva da baixa oferta de serviços pelo 
Estado, tendo as famílias, ‘a responsabilidade principal pelo bem-estar social’”. 
Como há uma tendência a se considerar o modelo nuclear de família, do provedor 
masculino, o foco da ação política mantém-se na centralidade da família e na 
proteção de seus membros. 
As autoras ainda ressaltam que o familismo é pautado na solidariedade 
entre os membros e reiteram 
[...] as funções protetoras femininas e a naturalização da família como 
instância responsável pela reprodução social e se expressa em 
graduação diferentes, conforme a desresponsabilização pública, quer 
pela omissão e, também, pelo compartilhamento de metas ambiciosas, 
diante de situações adversas e de difícil solução, com parcos 
investimentos. (Campos; Mioto, 2003, p. 170 apud Zola, 2015, p. 59) 
Então, as políticas públicas transferem para a família as responsabilidades 
de proteção social aos seus membros, e a mulher, historicamente, assume os 
cuidados nessas relações familiares. 
No caso da família no Estado de Bem-Estar Social de orientação social-
democrata, Campos e Mioto (2003, p. 174 apud Zola, 2015, p. 59) esclarecem que 
[...] a centralidade da ação pública não é na família e sim nos direitos 
dos indivíduos, sendo responsabilidade do Estado a universalização dos 
serviços. Possibilita a equidade de oportunidade, e a “oferta de serviços 
de apoio aos encargos familiares constitui alternativas claras, 
favorecendo uma política de liberação do trabalho feminino para o 
mercado”. 
Para Zola (2015, p. 59), pauta-se, assim, pela prevenção, evitando o 
esgotamento da capacidade familiar. Nessa perspectiva da proteção social, o 
Estado garante os direitos socialmente conquistados em vez de transferir as 
responsabilidades para a família, ou seja, provê a manutenção e a extensão dos 
direitos no aspecto universal. 
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Concluímos que o Estado, focado nas ideias liberais, no caso brasileiro, 
propõe uma atuação residual, contando que as famílias detêm a maior parcela de 
responsabilidade na provisão do bem-estar dos seus membros. 
TEMA 2 – REFLEXÕES SOBRE O CONCEITO DE FAMÍLIA 
Sabemos que a família sofre alterações e mudanças na composição e nos 
arranjos familiares, sendo forte agente de proteção social de seus membros. E 
são muitas as reflexões sobre a definição de família, que, inclusive, pode ser 
diferente daquilo a que estamos acostumados a ver. Assim, para pensar 
criticamente a família contemporânea inserida em uma sociedade capitalista 
neoliberal, em um país subdesenvolvido sujeito às leis do mercado internacional, 
há que, antes de tudo, compreender os fundamentos da família como instituição. 
Segundo Gelinski e Moser (2015, p. 127), “Inúmeras controvérsias cercam 
a definição de família. Extensamente estudada quanto as suas formas e funções 
ela ainda é um tema em construção. Na análise de políticas públicas ficaem 
evidência a multiplicidade de conceitos e critérios operacionais que definem as 
famílias”. 
A palavra família, etimologicamente, deriva do latim “famulus”, que significa 
escravo doméstico. Na sociedade ocidental moderna, o conceito de família 
significa o grupo de pessoas que se relacionam entre si formando grau de 
parentesco e compartilhando o mesmo sobrenome por matrimônio ou por adoção. 
Para Gelinski e Moser (2015, p. 128) “na literatura brasileira, em particular, 
é possível perceber dois grupos de estudos sobre famílias. [O primeiro grupo se] 
caracteriza a formação da sociedade brasileira [...] impactos na legislação sobre 
a família e sobre as questões civis a ela relacionadas”. 
A concepção patriarcal influenciaria de maneira decisiva o marco jurídico 
que regularia a vida em família e em sociedade, como a legislação sobre 
casamento de 1890. De forma semelhante, mudanças na concepção da 
família no século XIX apontariam para novos marcos legislativos (como 
o Código Civil de 1916) que oferecem amparo à família nuclear. (Kroth, 
2008 apud Gelinski; Moser, 2015, p. 128) 
O segundo grupo, conforme Gelinski e Moser (2015, p. 128), concebe “[...] 
os condicionantes históricos da formação da família brasileira [...] questões como 
provisão das famílias, sua constituição, de forma ampliada ou em rede, 
desempenho de papéis sociais, divisão de tarefas domésticas ou questões 
geracionais”. 
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 Ainda de acordo com Gelinski e Moser (2015, p. 128), “a ideia da família 
em rede se contrapõe à definição clássica de família”. Diante das alterações que 
o contexto familiar sofreu em suas estruturas, diversas realidades são postas, tais 
como: pais divorciados, amasiados, mães e pais solo, homossexuais, avôs e avós 
que assumem a criação dos netos. 
E conforme Sarti (2007, p. 68 apud Gelinski; Moser, 2015, p. 129): 
O parentesco, principalmente para famílias pobres, supera os laços de 
sangue e transforma vizinhos, ou amigos próximos, em parentes. Eles 
possibilitarão trocas de dinheiro, de apoio, e de afeto [...] assinala que a 
sobrevivência de grupos familiares chefiados por mulheres é 
possibilitada pela mobilização cotidiana de uma rede familiar que 
ultrapassa os limites da casa [...] uma rede local – não um lar, nem uma 
vizinhança [...] é uma unidade que permite a sobrevivência e que 
organiza o mundo das pessoas. 
Nessa linha, a família ganha o atributo ou a forma de uma rede local 
destinada a garantir a sobrevivência e, ao mesmo tempo, organizar a vida das 
pessoas (Gelinski; Moser, 2015). Assim, a família não é apenas uma unidade 
residencial, ela vai além em sua comunidade econômica e de relacionamentos. É 
no sentido de grupo com o qual se identificam e se mantêm emocionalmente, 
compartilhando seus problemas e suas lutas cotidianas. 
Conforme as modificações na sociedade ocorriam, novos modelos 
familiares foram surgindo, e a família nuclear — aquela composta de pai, mãe e 
filhos — foi aos poucos deixando de ser dominante, sendo hoje encontradas 
múltiplas estruturas familiares na sociedade. 
Vemos, assim, que não existe um único modelo de família, e sim diversas 
formas familiares, e nem mesmo modelos corretos ou errados de famílias. São 
novos olhares que devemos compreender e observaremos no próximo tema. 
TEMA 3 – NOVOS OLHARES SOBRE AS FAMÍLIAS 
Estudamos as mudanças no enfoque da concepção de família, as quais 
indicam que não existe um conceito único, pois os modelos familiares variam de 
acordo com o contexto histórico, político e econômico. 
Martino (2015, p. 97) relata que “durante os anos 1980 e 1990, primeiro na 
academia e depois no nível político, supera-se o conceito de família e se impõe o 
plural: famílias”. Essa mudança manifesta “o processo que ajudou a superar a 
imagem naturalizada e tradicional de família, composta por pai, mãe e filhos 
vivendo sob o mesmo teto, e passa a reconhecer outras formas familiares 
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consideradas até então como fora do padrão ou disfuncionais” (Beck-Gernsheim, 
2003 apud Martino, 2015, p. 97). 
Então, a diversidade dos novos arranjos familiares resume “dois processos, 
um relacionado às mudanças sociodemográficas e outro associado ao aumento 
da participação das mulheres no mercado de trabalho” (Martino, 2015, p. 97). Vale 
ressaltar que o sistema capitalista trouxe como processo civilizatório várias 
implicações profundas nos mais diversos ramos. E o sujeito contemporâneo, 
nesse contexto, se encarcera em sua própria individualidade, ou seja, passa a 
enxergar o mundo a partir de um prisma de individualidade. 
Para Jelin (2000, 2012) apud Martino (2015, p. 97), “[...] quando o processo 
de individualização e autonomia pessoal das mulheres e dos jovens minou o poder 
patriarcal e colocou a família como uma expressão marcante de escolhas 
individuais”. Assim, conforme Jelin (2000, 2012 apud Martino, 2015, p. 97), “a 
desnaturalização da ideia de família única tornou visíveis outros modelos de 
organização patriarcal no qual o chefe de família tem o controle e decisão sobre 
os outros membros”. 
Então, para (Martino, 2015, p. 97), “a família, por sua vez, deixou de ser 
vista a priori como um lugar de felicidade (Mioto, 2001) e, também, passou a ser 
vista como lugar de conflitos, tensões e abusos”. Pontuamos que esse lugar de 
conflitos na família é oriundo do sistema capitalista que propõe a individualidade 
da pessoa, notada em suas escolhas marcantes individuais. 
Conforme Martino (2015, p. 97) “alguns autores analisam a diversidade de 
arranjos familiares como expressão de processos culturais ligados à 
individualização e à construção de biografias mais flexíveis e autônomas, 
tornando o sistema mais equitativo nas relações de gênero”. 
A questão de gênero é relacional, sendo necessário refletir para assegurar 
que mulheres e homens possam ter relações mais equitativas em todas as 
dimensões. Como consequência disso, temos, por exemplo, o adiamento da idade 
de casamento e do nascimento do primeiro filho, o aumento da taxa de divórcio e 
as negociações de projetos de vida independentes (Cabella; Peri; Street, 2005; 
Arraigada, 2002 apud Martino, 2015). 
Já Ariza e de Oliveira (2007 apud Martino, 2015, p. 98) “indicam o caráter 
seletivo e heterogêneo desses processos sociais, tanto em termos de classes 
sociais como países e regiões”. Para Martino (2015), os autores citados 
reverenciam a família com tendência à redefinição das relações de gênero. 
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Contudo, ainda para Martino (2015, p. 98), 
[...] na literatura sobre a família, a redefinição das responsabilidades 
familiares é mais difícil para os pobres, assim como encontrar pontos de 
contato entre os interesses individuais e coletivos. Parece que negociar 
padrões de distribuição de tarefas é mais difícil nas famílias onde os 
recursos são escassos. 
Devemos refletir que as famílias passaram por transformações na sua 
estrutura, nas suas relações e na sua organização, visto que todas as situações 
de vulnerabilidades sociais tornam mais difíceis, ainda como apontado pela 
autora. 
O autor Esping-Andersen (2000 apud Martino, 2015, p. 102) “[...] sustenta 
que uma dimensão essencial da análise é a medida na qual as famílias absorvem 
os riscos sociais”. Além disso, ele também afirma 
[...] que regime de bem-estar familiarista é aquele em que a política 
responsabiliza em maior grau a família pelo bem-estar dos seus 
membros. [...] O familismo corresponde a uma política familiar pouco 
desenvolvida, associada a sistemas de proteção social baseada no 
homem provedor e na centralidade da família como provedora de 
cuidados e de bem-estar. (Esping-Andersen, 2000 apud Martino, 2015, 
p. 102) 
Pontuamos que esse regime de bem-estar familiaristaque o autor aponta 
é entendido como coletivização das necessidades da família, ou seja, um conjunto 
de responsabilidades sobre o bem-estar e a satisfação das necessidades de todos 
os seus membros, expressando também a porcentagem do Estado nisso e em 
seus serviços públicos, como creches para crianças e assistência aos idosos. Já 
no familismo corresponde a uma menor provisão de bem-estar por parte do 
Estado com relação à família. 
Assim, compreendemos que o familismo no Brasil está enraizado nas 
políticas sociais e que os elementos que constituem as famílias fazem parte da 
engrenagem das diferentes fases do desenvolvimento do capitalismo. A família 
está profundamente conectada às bases da formação social e econômica do país. 
TEMA 4 – A FAMÍLIA E SUAS TRANSFORMAÇÕES 
São grandes as transformações que ocorrem na família e, para Mioto 
(2010, p. 53) “a consciência das grandes transformações que ocorreram no âmbito 
da família [...] têm [...] se manifestado no cotidiano dos serviços em geral”, ou seja, 
existe uma consciência acerca dessas transformações. 
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Mas, de acordo com Mioto (2010, p. 53), “observa-se a existência de um 
consenso sobre a diversidade de arranjos familiares, sobre o caráter temporário 
dos vínculos conjugais e sobre outras questões ligadas à área de reprodução 
humana e da liberalização dos costumes”. Ainda se observa que muito raramente 
encontramos técnicos que não trabalham com a ideia da diversidade de famílias 
(Mioto, 2010). 
São técnicos que observamos em reuniões intersetoriais, que descrevem 
em seus relatórios sociais essa terminologia, rotulando as famílias nesse padrão 
de família nuclear. Dessa forma, utilizam o termo “famílias desestruturadas” para 
rotular aquelas que fugiam do modelo ou do padrão descrito pela escola estrutural 
funcionalista (Mioto, 2010, p. 53). 
Sobre as transformações das famílias e de sua estrutura e composição, 
Mioto (2010, p. 53) afirma que: 
Apesar das mudanças na estrutura, a expectativa social relacionada às 
suas tarefas e obrigações continua preservada. Ou seja, espera-se um 
mesmo padrão de funcionalidade, independentemente do lugar em que 
estão localizadas na linha da estratificação social, calcada em 
postulações culturais tradicionais referentes aos papéis paterno e, 
principalmente, materno. 
Vemos que ainda são ações baseadas em expectativas relacionadas aos 
papéis típicos de uma concepção funcional de famílias. Para Mioto (2010, p. 53), 
a mulher continua sendo a responsável pelo cuidado e pela educação dos filhos, 
e o homem-pai, pelo provimento e exercício da autoridade familiar. São 
julgamentos morais que técnicos ainda utilizam em relação à figura materna, por 
exemplo: é responsabilidade da mulher levar o filho para a vacinação. 
É muito mais que uma questão de semântica, segundo Mioto (2010, p. 53), 
o termo “famílias desestruturadas” continua sendo de uso corrente, “[...] utilizado 
para nomear as famílias que falharam no desempenho das funções de cuidado e 
proteção dos seus membros e trazem dentro de si as expressões de seus 
fracassos, como alcoolismo, violência e abandonos”. E, por fim, Mioto (2010, p. 
54) ratifica a tendência de soluções residuais aos problemas familiares. 
Ressaltamos que a política de assistência social tem, em seus princípios, 
a matricialidade sociofamiliar, a qual não consegue superar a tendência familista, 
pois, se por um lado o termo significa que a família é a matriz para concepção e 
na sua implementação, que em hipótese pode romper a fragmentação do 
atendimento, por outro, toma a família como instância primeira ou núcleo básico 
da proteção social aos seus membros, devendo ser apoiada para exercer, em seu 
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próprio domínio interno, as funções de proteção social, portanto, continua-se a 
responsabilizar a família, em especial as mulheres, pelos cuidados e por outras 
tarefas de reprodução social. 
É necessário superar essa tradição histórica do trabalho social com 
famílias, de concepções de família-padrão, família irregular, e, enfim, utilizar uma 
metodologia de trabalho com famílias que, de fato, aborde, de forma dialética e 
articulada, assuntos internos e externos ao núcleo familiar. 
TEMA 5 – AS TRANSFORMAÇÕES SOCIAIS E O IMPACTO NA FAMÍLIA 
Com a Revolução Industrial, ocorreram transformações e uma divisão na 
unidade doméstica, que se tornou local apenas de reprodução das relações 
capitalistas de exploração. 
Esse sistema capitalista se consolida na função de produzir bens que são 
necessários para o consumo e a sobrevivência da família. Nesse contexto, a 
mulher, que tinha uma função subalterna, agora passa a ter importância na 
economia familiar. 
Conforme Alencar (2010, p. 61), “[...] o impacto das transformações 
econômicas e sociais nas condições de vida da classe trabalhadora através da 
família se deve à centralidade que esta ocupa no âmbito da sobrevivência 
material”. 
Os membros da família dependem da inserção social e se articulam das 
mais diversas formas, estabelecendo alternativas para superar as condições de 
precariedade social, diante de um contexto de desemprego ou de inserção 
precária no mundo do trabalho. 
Para Telles (1992 apud Alencar, 2010, p. 61), 
Através do ingresso no mercado de trabalho, do desenvolvimento de 
pequenas atividades informais para a obtenção de algum tipo de renda 
complementar e outras tantas estratégias, como a construção de 
moradias e as diversas práticas de solidariedade, os indivíduos tentam 
suprir uma rede de proteção social fragilizada. 
Segundo Alencar (2010, p. 62), os estudos sobre as funções da família na 
sociedade capitalista tornam evidente seu papel como unidade de renda e de 
consumo. Para a autora, “a centralidade da família está ratificada para a 
compreensão de certos processos sociais e econômicos, que gravitam em torno 
da esfera da produção e da reprodução, reconstituindo uma unidade histórica que, 
no campo analítico, por vezes é esquecida”. 
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Como relata Dal Prá (2016, p. 7), 
[...] Neste contexto intensificam-se dois processos, sendo um deles o 
de focalização através de um investimento massivo do Estado em 
programas de transferência de renda em detrimento das políticas 
universalizantes e de proteção aos trabalhadores e outro de 
responsabilização da família na provisão de bem-estar onde esta 
ressurge como a primeira referência fundamental na política social. 
Compreendemos a forte presença do mercado, ou seja, do próprio sistema 
capitalista, em que o Estado assume uma menor provisão de bem-estar, e as 
unidades familiares devem assumir a principal responsabilidade de entre seus 
membros. 
Para Alencar (2010, p. 63), diante da 
[...] crise econômica e da evidente retração do Estado da esfera social, 
ressurgem os discursos e as práticas de revalorização da família que, 
fundamentados numa concepção ideológica de cunho conservador, 
promovem e disseminam a proposição de que a família é a grande 
responsável por prover as necessidades dos indivíduos. 
Ainda que se tenha políticas sociais de investimentos, como o Bolsa 
Família e outros de programas de geração de renda, conforme Alencar (2010, 
p. 63), “[...] as estratégias de combate à pobreza têm que necessariamente 
interferir nas relações de mercado, uma vez que é no mercado que se originam 
as condições de desigualdade social do capitalismo, contribuindo profundamente 
para a reprodução dos mecanismos de exclusão social”. 
Ressaltamos que a pobreza está entre as várias manifestações da questão 
social decorrente da dinâmica histórica do desenvolvimento do capitalismo e, 
como fenômeno complexo, multidimensional e relativo, permite desconsiderar seu 
entendimento como decorrente apenas da insuficiência

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