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AULA 1 POLÍTICAS SOCIAIS E FAMÍLIA Prof.ª Gisella Chanan A luno: Y uri G om es M allaco E m ail: yurim allaco27@ gm ail.com 2 INTRODUÇÃO Neste tema, vamos abordar o caminho das políticas sociais voltadas para a família, bem como a conquista da autonomia e da cidadania de famílias socialmente vulnerabilizadas. Ressaltaremos, ainda, o trabalho familiar na relação com o capital e o trabalho como modo de produção. TEMA 1 – O CAMINHO DAS POLÍTICAS SOCIAIS – FAMÍLIA Alice perguntou: “pode me dizer qual o caminho que eu devo tomar?” “Isso depende muito do lugar para onde você quer ir” – disse o gato. “Eu não sei para onde ir!” – Disse Alice. “Se você não sabe para onde ir, qualquer caminho serve.” (Carroll, 2000, p. 32) Qual o caminho das políticas sociais? Ele abrange as famílias? Quando falamos de política, é preciso refletir que se trata de interesses de grupos diversos que lutam pelo poder, buscando acesso a melhores possibilidades de realização desses interesses, ou seja, são caminhos diferentes. Por esse ângulo, o contexto em que se desenvolvem as políticas sociais nunca é neutro, pois sempre será marcado por interesses, conflitos e negociações entre os que reivindicam os direitos e aqueles que os concedem, entre os que se beneficiam e os que são prejudicados, em suma, entre os dominantes e os dominados. Sobre isso, Sposati et al. (2014, p.50) expõem que: Não se nega que a política social é um mecanismo que o Estado utiliza para intervir no controle das contradições que a relação capital-trabalho gera no campo da reprodução e reposição da força de trabalho, ou, ainda, que cumpre uma função ideológica na busca do consenso a fim de garantir a relação dominação-subalternidade e, intrinsecamente a esta a função política de alívio, neutralização das tensões existentes nessa relação. As políticas sociais tiveram, dentro de suas formas de proteção social, variações que resultaram dos contextos sociais, históricos e políticos pelos quais passaram governo e sociedade, ou seja, estavam sujeitas a cada realidade histórica específica. De forma gradual e diferenciada, elas foram sendo influenciadas pelo desenvolvimento das forças produtivas e pela pressão da classe trabalhadora, isto é, os caminhos foram determinados pelos seus interesses. Mas as políticas sociais, até o caminho de abrangência da família, são largas e se alteram conforme as medidas econômicas. A luno: Y uri G om es M allaco E m ail: yurim allaco27@ gm ail.com 3 Desde o pós-guerra, nos países capitalistas centrais, a oferta universal de bens e serviços proporcionados pela efetivação de políticas públicas pareceu mesmo descartar a família, privilegiando o indivíduo-cidadão. O progresso, a informação, a urbanização, o consumo fortaleceram a opção pelo indivíduo portador de direitos. (Carvalho, 2005, p. 267) Nos anos 1930, no Brasil, Getúlio Vargas instituiu, em suas primeiras ações, a criação do Ministério do Trabalho, que pretendia a harmonia das relações entre o capital e trabalho substituindo a ideia de luta de classe pela da conciliação. Com o respaldo na Constituição de 1934, os direitos passaram a ser assegurados ao povo brasileiro, destacando a legislação trabalhista com a Consolidação das Leis Trabalhistas – CLT; a regulamentação do trabalho feminino e dos menores no âmbito industrial; o salário mínimo; o repouso remunerado; a fixação da jornada de trabalho de oito horas; férias anuais remuneradas; regulamentação especial para o trabalho agrícola; amparo aos desvalidos; amparo à maternidade e à infância; direito à educação primária integral e gratuita. Pontuamos o grande avanço na edição de normas protetivas à mulher, o que solidificou todas as matérias relativas à atividade empregatícia feminina. Mas é preciso refletir que o Estado encontrou nas políticas sociais a melhor forma de regulação social por meio da CLT. Na década de 1970, notamos que as políticas sociais no Brasil também tiveram um importante momento de protagonismo feminino com o surgimento do clube de mães. Mais tarde, com o advento da Constituição Federal de 1988, outros textos legais foram constituídos, como o da criança e do adolescente, o do idoso, mas todos com a visão de que é dever da família, da sociedade e do Estado a proteção desses indivíduos. Essa proteção, por parte do Estado, se materializou com a Seguridade Social, as Políticas de Assistência Social, Saúde e Previdência Social. Ao longo desse caminho regido pelo sistema capitalista, a família e o Estado têm grande responsabilidade e vão se cruzar. TEMA 2 – O ESTADO E AS POLÍTICAS SOCIAIS PARA FAMÍLIAS Historicamente, a família é constituída com base nas relações de parentesco cultural e as novas tendências em padrões de organização seguem conforme as transformações econômicas e políticas. E as políticas sociais sempre foram constituídas de ações para a população mais vulnerável e dependendo do Estado: A luno: Y uri G om es M allaco E m ail: yurim allaco27@ gm ail.com 4 As crescentes demandas de proteção social são postas não apenas por “pobres” ou “desempregados”, mas por uma maioria de cidadãos, que se percebem ameaçados pelos riscos de, a qualquer momento, perderem a segurança advinda de seus tutores modernos: o trabalho assalariado e o Estado. (Carvalho, 2005, p. 268) A luta da família para a sobrevivência dos seus membros é um ponto-chave, mas, dentro, outros buscam a proteção e a socialização de seus componentes, transmissão do capital cultural, do capital econômico e também das relações de gênero e de solidariedade entre gerações. É importante atualmente ter uma visão da conjuntura, pois uma profunda reestruturação está acontecendo com o capitalismo e, de forma direta ou indireta, ela afeta a vida dos indivíduos e consequentemente a família em todos os aspectos e, conforme Carvalho (2005, p. 269), “[...] vêm produzindo uma sociedade complexa e multifacetada, uma sociedade global que, de um lado, mantém seus cidadãos fortemente interconectados e, por outro, extremamente vulnerabilizados em seus vínculos relacionais de inclusão e pertença”. O Estado, diante disso, realiza ações assistenciais para atendimento e, segundo Carvalho (2005), as políticas de assistência social e saúde têm buscado estratégias em compor com a família projetos e processos mais efetivos na proteção social. E, para isso, a autora esclarece que: Está na ordem do dia o chamado Welfare Mix, que promove uma combinação de recursos e de meios mobilizáveis na esfera do Estado, do mercado, das organizações sociais sem fins lucrativos e, ainda, aqueles derivados das microssolidariedades originárias na família, nas igrejas, no local (Martin, 1995), de modo que as políticas sociais se apresentam hoje como responsabilidades partilhadas. Carvalho (2005, p. 270) Ressaltamos que, historicamente, a prática assistencial de benevolência e caridade era realizada pela sociedade civil, em especial pelas instituições privadas de fins social, e o Estado se apropria de tal prática: “[...] não só da prática assistencial como expressão de benemerência como também catalisa e direciona os esforços de solidariedade social da sociedade civil” (Sposati et al., 2003). Para a Carvalho (2005), os serviços coletivos implementados pelas políticas sociais estão combinando diversas modalidades de atendimento ancoradas na família e na comunidade. A autora destaca ainda que [...] as políticas de combate à pobreza elegeram família e comunidade. A consciência geral de que a pobreza e a desigualdade castigam grande parcela da população brasileira estão a exigir políticas públicas mais efetivas e comprometidas com sua superação. Nesse compromisso, buscam assegurar uma rede de proteção e de desenvolvimento A luno: Y uri G om es M allacoE m ail: yurim allaco27@ gm ail.com 5 socioeconômico voltado às famílias e às comunidades vulnerabilizadas pela pobreza. (Carvalho, 2005, p. 270) No Brasil, uma das iniciativas governamentais tomadas nesse sentido foi o programa de renda mínima conhecido como Bolsa Família, criado pela Lei n. 10.836, de 9 de janeiro de 2004, que define ainda em seu artigo 8º: “A execução e a Gestão do Programa Bolsa Família são públicas e governamentais e dar-se- ão de forma descentralizada, por meio da conjugação de esforços entre os entes federados, observada a intersetorialidade, a participação comunitária e o controle social” Carvalho (2005) relata também outros programas de cunho emancipatório que tinham, porém, caráter mais descontínuo, tais como o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) e o Banco do Povo. Ressaltando que o Pronaf financia projetos individuais ou coletivos para agricultores familiares e assentados da reforma agrária. TEMA 3 – AS RELAÇÕES DA FAMÍLIA E O PROCESSO DE DESFILIAÇÃO A família segue as mudanças da sociedade, incorporando novos valores, funções e formas de organização em consequência das ideologias dominantes e das necessidades sociais, culturais, econômicas e políticas de cada época. Na sociedade capitalista, a família tem um papel fundamental, pois é considerada um espaço de proteção social, e o Estado, então, cria e mantém medidas de apoio familiar nas agendas governamentais. Carvalho (2005, p. 271) relata a importância do papel da família nas relações sociais: A família como expressão máxima da vida privada é lugar da intimidade, construção de sentidos e expressão de sentimentos, onde se exterioriza o sofrimento psíquico que a vida de todos nós põe e repõe. É percebida como nicho afetivo e de relações necessárias à socialização dos indivíduos, que assim desenvolvem o sentido de pertença a um campo relacional iniciador de relações includentes na própria vida em sociedade. É um campo de mediação imprescindível. Ressaltamos que a família vem se transformando constantemente, e diversos elementos surgiram nesse campo de mediação relatado pela autora. Dessa forma, Castel (2000 apud Carvalho, 2005) entende que a família convive em um processo social de inclusão e exclusão social, o qual permite ao indivíduo retornar indiretamente à família como condição de inclusão. A luno: Y uri G om es M allaco E m ail: yurim allaco27@ gm ail.com 6 No contexto brasileiro, marcado pela extrema desigualdade social, as famílias têm encontrado dificuldades para cumprir essas tarefas básicas para os seus membros, em decorrência das situações de vulnerabilidade nas quais se encontram. Para Castels (2000 apud Carvalho, 2005, p. 271): “[...] o indivíduo possui trabalho e vínculos sociofamiliares, encontra-se potencialmente incluído nas redes de integração social. Se lhe falta o trabalho ou os vínculos, escorrega para zonas de vulnerabilidade. E, se perde trabalho e vínculos, pode tombar em processos de ‘desafiliação’ social”. Conforme a autora, os vínculos sociofamiliares asseguram ao indivíduo a segurança de pertencimento social. E ainda relata que condição objetiva e subjetiva de pertença não pode ser descartada quando se projetam processos de inclusão social (Carvalho, 2005). Pontuamos que a realidade das famílias pobres e em situação de vulnerabilidade não possibilita as condições necessárias para sua sobrevivência, e a ausência do Estado não garante às famílias o mínimo para a sua sobrevivência. Para Carvalho (2005), exploramos o potencial empreendedor da família no plano dos micronegócios geradores de renda, mas pouco na melhoria da qualidade de vida do coletivo no microterritório que habitam. Para isso, a autora aponta alguns equívocos das políticas públicas sendo: Eleger apenas a mulher na família como porta de relação e parceria; Pensar idealizadamente num padrão de desempenho da família, que ostenta diversas formas de expressão, condições de maior ou menor vulnerabilidade afetiva, social ou econômica, ou ainda fases de seu ciclo vital com maior vulnerabilidade, disponibilidade e potencial; Oferecer apenas assistência compensatória, com escasso investimento no desenvolvimento da autonomia do grupo familiar. (Carvalho, 2005, p. 273) A autora pontua que, independentemente de alterações e mudanças na composição e nos arranjos familiares, a família é um forte agente de proteção social de seus membros. Segundo Carvalho (2015), é necessária uma via de mão dupla ser garantida. “Esse raciocínio se aplica às demais políticas na relação com a família. Por exemplo, às políticas de saúde: a família é sujeito coletivo que opera na saúde de seus membros, mas não basta alçá-la à parceria. É preciso produzir saúde para e com a família” (Carvalho, 2015, p. 273). A luno: Y uri G om es M allaco E m ail: yurim allaco27@ gm ail.com 7 TEMA 4 – CIDADANIA – POLÍTICA SOCIAL E FAMÍLIA As mudanças ocorreram trazendo impacto na vida social e familiar, sobretudo na transformação dos valores e dos comportamentos que marcaram a transição do tradicional modelo de família patriarcal para um familiar mais igualitária e democrática. A Constituição Federal de 1988 — fruto da luta de vários movimentos sociais organizados pela ampliação de seus direitos sociais em um momento de grande efervescência política — prevê em seu artigo 226 que “a família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado”, para tanto, levando-nos à reflexão de que ela é responsável por prover as necessidades básicas do ser humano, sendo elemento-chave na formação de seus valores morais e éticos. O texto constitucional passou a reconhecer como entidades familiares as comunidades formadas pelo casamento, pela união estável ou aquela composta por qualquer um dos pais e seus descendentes; dispor da igualdade de direitos e deveres do homem e da mulher na sociedade conjugal e facilitar a dissolução do casamento pelo divórcio (Brasil, 1988, s/p). Ressaltamos que, por intermédio da Constituição Federal de 1988, o direito à família alcança nova dimensão, e outros textos legais ampliam as formas de composição familiar, garantindo a todos os seus membros proteção, segurança e dignidade humano. O Código Civil de 2002 trouxe inovações em termos de Direito da Família, considerando as evoluções sociais ocorrida no país, os diferentes arranjos familiares e as alterações significativas da legalidade do direito. Ainda na Constituição Federal, é iniciado um redimensionamento das políticas públicas voltadas para o atendimento das necessidades humanas e para a promoção de um bem-estar coletivo, com garantia de direitos sociais, políticos e econômicos: o tripé da Seguridade Social, um conjunto integrado e composto pelas políticas de saúde, assistência social e previdência social. Ressaltamos que as ações assistenciais à nova realidade de “direito do cidadão” estão regidas por alguns princípios, dispostos no art. 4º. da referida lei, dentre os quais, a universalização dos direitos sociais, a fim de tornar o destinatário da ação assistencial alcançável pelas demais políticas públicas. Dentro desse contexto, as autoras Sposati et al. (2014, p. 52) relatam que “[...] por mais paradoxal que possa parecer, o avanço das políticas sociais A luno: Y uri G om es M allaco E m ail: yurim allaco27@ gm ail.com 8 terminou por menos a ação do Estado em prover a justiça social e mais resultado das lutas concretas da população”. Dessa forma, segundo as autoras temos duas faces que fazem parte da política social, sendo uma a de um instrumento de superação, ou até mesmo redução, de tensão sociais com menos conflitos frente à relação capital-trabalho, e a outra a de espaço de expressão de interesses contraditórios das classes sociais em que se estabelece uma forma luta em detrimento das necessidadesobjetivas do capital. Assim, Sposati et al. (2014, p. 52) relatam que “[...] as políticas sociais são mais que condições de reprodução das condições de vida do trabalhador: são formas de realização de direitos sociais e, consequentemente, da cidadania”. Mas as autoras consideram a cidadania como conceito ambíguo que historicamente foi marcado pela perspectiva liberal, no que diz respeito à participação das decisões políticas. Para as autoras, tal “[...] afirmação supõe um Estado, mesmo burguês, onde teoricamente os direitos são assegurados universalmente. Porém, o simples reconhecimento dessa universalidade não garante a realização da igualdade” (Sposati et al., 2014, p. 52). A permanente tensão que paira na defesa de direitos reflete a exploração de uma classe pela outra e lutas sociais ampla e, ainda, de acordo com Sposati et al. (2014, p. 52), a “presença do mecanismo assistencial nas políticas sociais brasileiras conforma a vida do trabalhador em condições precárias, insuficientes, que terminam por reiterar o grau de exploração”. Pontuamos que, nesse contexto de luta de classes, as autoras nos levam a perceber que não podemos menosprezar “[...] os efeitos políticos e ideológicos das políticas sociais, mas identificando que aí reside o espaço contraditório que permite o avanço das lutas populares” (Sposati et al., 2014, p. 53). Isso, de acordo com Sposati et al. (2014, p. 53) permite uma hipótese [...] de que no assistencial está contida a possibilidade de negação dele próprio e de sua constituição como espaço de expansão da cidadania às classes subalternizadas”. Dessa forma, cabe ao Estado assumir o seu papel assistencial, assegurando as condições mínimas de vida para a população, que é a forma concreta de acesso de bens e serviços (Sposati et al., 2014, p. 53). Assim, como as autoras relatam, a luta pela cidadania está nos movimentos sociais, nas reivindicações coletivas, na criação de espaços de prática e política, que são alguns dos elementos fundamentais na sua construção. A luno: Y uri G om es M allaco E m ail: yurim allaco27@ gm ail.com 9 As classes subalternizadas, lutando por sua sobrevivência, organizam- se e apelam para o atendimento de seus direitos sociais, como trabalho, remuneração, alimentação, saúde, moradia, educação. Esse movimento envolve processos de esclarecimento, arregimentação, debate e mobilização que supõem a liberdade e a resistência à opressão. (Sposati et al., 2014, p. 53) Ressaltamos que a proteção conquistada pela Constituição de 1988 é um processo para futuras possibilidades de ações políticas de reivindicação e incorporação de novos direitos. Para as autoras há uma nova forma de concretização da cidadania que é coletiva: A legitimação de demandas coletivas se coloca em confronto ao Estado liberal, enquanto este se funda no individuo como categoria social e política, com autonomia referida a si e não ao grupo a que pertence. (Sposati et al., 2014, p. 56) TEMA 5 – FAMÍLIA E TRABALHO FAMILIAR Historicamente, o capitalismo, ao garantir a manutenção do sistema econômico mundial, provoca mudanças profundas na sociedade e consequentemente na família. E, ao promover essas mudanças, provoca alterações significativas em suas estruturas, mudando regras de sua ordem interna, visando garantir a sua existência e produz transformações não apenas no campo econômico, mas também no político, no social e no cultural mundial. Nesse contexto, Mioto (2015, p. 701) afirma que “o trabalho familiar implica reportar a grande cisão entre o mundo do trabalho e o da família [...] com uma intensa e visível atividade econômica”, ou seja, começa a haver uma separação entre essas duas esferas tornando-se privada a vida familiar, resultando na prática da proteção social e na regulação da família pelo Estado. Mioto (2015, p. 701) situa a família burguesa nos marcos do capitalismo e como consequência do processo de acumulação de capital: Nessa época, tratados econômicos consideravam a economia doméstica, a comercial e a financeira como contínuas para a configuração de uma família “separada” da economia empresarial e financeira. Assim, nasce uma família identificada como “instância privada”, isenta de responsabilidades públicas e, ao mesmo tempo, com disponibilidade de recursos privados com base na criação e no controle de um capital privado. Para a autora, isso marcou uma grande diferença entre as famílias detentoras do capital e as famílias que para essas trabalhavam, provocando a visão de família desvinculada do trabalho e das relações econômicas. A luno: Y uri G om es M allaco E m ail: yurim allaco27@ gm ail.com 10 [...] o processo de separação entre trabalho e família não ocorreu igualmente para todas as classes, considerando tanto as famílias que ainda são unidades produtivas (como as vinculadas à produção agrícola e à produção artesanal) quanto as dos trabalhadores assalariados. Para a autora, essas famílias continuaram, ao longo do tempo, sendo uma unidade econômica para a qual confluem rendimentos de diferentes fontes destinados a uma “bolsa comum”, em geral administrada pela mulher/dona da casa. (Saraceno, 1996 apud Mioto, 2015, p. 702) Portanto, todos os ganhos dos membros da família são administrados pela mulher em função do coletivo familiar. Segundo Mioto (2015), nesse contexto, a economia assalariada aprofunda desigualdades dentro da família pela divisão entre os que recebem salário e os que não recebem. Dessa forma, no contexto familiar, o trabalho ultrapassa as dimensões meramente técnica material interferindo as relações sociais. Para Mioto (2015, p. 702), isso “gera desequilíbrios e tensões entre os seus membros, especialmente entre os que ganham dinheiro de forma direta e os que o ganham de forma indireta, quer dizer, através do valor adjunto do trabalho doméstico”. Com a industrialização e as mudanças no mundo do trabalho e a inserção da mulher no mercado de trabalho foram determinantes para uma série de mudanças contexto da família. E sobre isso, Mioto (2015, p. 703) afirma que “[...] a entrada massiva das mulheres no mercado de trabalho e com a instauração das famílias de dupla carteira, bem como com as transformações nas configurações familiares e na pirâmide demográfica, o trabalho doméstico passa a ser fortemente tematizado”. O contexto do trabalho doméstico passa a ser discutido no campo marxista durante a década de 1970, na esteira do ressurgimento dos movimentos organizados de mulheres por direitos no mundo capitalista central. E segundo Gelinski e Pereira (2005 apud Mioto, 2015, p. 703), [...] o debate sobre o trabalho doméstico iniciou-se com base em dois aspectos principais: um se refere à conceituação a respeito de sua natureza e as relações com o modo de produção capitalista; o outro se relaciona à posição de classe das mulheres e à sua relação com o movimento socialista. E em direção análoga o autor Meil (2004 apud Mioto, 2015, p. 703) [...] indica que o debate sobre o trabalho doméstico, no bojo da teoria social de Marx, também se centrou em dois aspectos: um se relaciona à natureza desse trabalho (produtivo ou improdutivo); o outro, à afirmação do trabalho doméstico como uma forma específica de produção (ou não) e suas relações com o modo de produção capitalista. A luno: Y uri G om es M allaco E m ail: yurim allaco27@ gm ail.com 11 Os autores debatem o assunto do trabalho doméstico em uma perspectiva do modo de produção. Na família como unidade de produção, mulheres e crianças participam diretamente das atividades consideradas econômicas. Segundo Mioto (2015, p. 704) é explicita “[...] a complexidade da inter- relação família/mulher e trabalho/economia, que se realiza tanto a partir do trabalho remunerado, quanto do não remunerado — ambos fundamentais na sustentação da subsistência e do bem-estar dos membros de uma sociedade”.É fundamental ressaltar ainda que, com a entrada das mulheres no trabalho atende, em alguma medida, às necessidades financeiras dos grupos familiares, mas altera as formas de garantia privada de proteção, o que se torna problemático, pois a família sempre assumiu papel proeminente na provisão de bem-estar familiar. Para Meil (2004 apud Mioto, 2015, p. 704), “essa perspectiva [...] permitiu evidenciar que a economia segue ‘incrustrada’ dentro da família”. Mioto (2015) ressalta que “uma das chaves importantes desse debate uma das chaves importantes desse debate está no está no reconhecimento do trabalho no âmbito da reprodução, e não apenas no campo da produção”. Por fim, Saraceno (2013 apud Mioto. 2015, p. 706) dá um passo além na análise do processo de desagregação das atividades familiares ao propor o termo trabalho familiar: ao fato de propor maior desconcentração das atividades que fazem parte do trabalho doméstico. ou seja, inclui, além das tarefas domésticas e do cuidado, o tempo utilizado e o esforço desprendido pela família nas relações com as instituições [...] em segundo lugar, porque a nomenclatura se refere ao trabalho não remunerado e, finalmente, porque vincula esse trabalho à família. Este, mesmo estando fortemente associado às mulheres, não pode ser reduzido a uma questão de gênero, pois, entre outras razões, não envolve apenas as mulheres e não pode ser resolvido no campo da relação de gênero. Por esses motivos é que se adota a terminologia trabalho familiar. A luno: Y uri G om es M allaco E m ail: yurim allaco27@ gm ail.com 12 REFERÊNCIAS BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. 1988. 41. ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2008. BRASIL. Lei n. 10.836, de 9 de janeiro de 2004, que cria o Programa Bolsa Família, e dá outras providências. Brasília. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2004/Lei/L10.836.htm>. Acesso em: 22 set. 2019. CARROLL, L. Alice perguntou: Gato Cheshire... pode... Pensador. Disponível em: <https://www.pensador.com/frase/MTkwMDc2NQ/>. Acesso em: 22 set. 2019. CARVALHO, M. do C. B. de. Família e políticas públicas. ACOSTA, A. R.; VILTALES, M. A. F. (orgs.). Família: redes, laços e políticas públicas. São Paulo: Cortez / Instituto de Estudos Especiais – PUC/SP, 2005. MIOTO, R. C. T. Política social e trabalho familiar: questões emergentes no debate contemporâneo Serv. Soc. Soc. n.124, São Paulo, out./dez. 2015. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/sssoc/n124/0101-6628-sssoc-124- 0699.pdf>. Acesso em: 22 set. 2019. SPOSATI, A. O. et al. Assistência na trajetória das políticas sociais brasileiras: uma questão em análise. 8. ed. São Paulo: Cortez, 2003. A luno: Y uri G om es M allaco E m ail: yurim allaco27@ gm ail.com AULA 2 POLÍTICAS SOCIAIS E FAMÍLIA Profª Gisella Chanan A luno: Y uri G om es M allaco E m ail: yurim allaco27@ gm ail.com 2 INTRODUÇÃO No referente tema estaremos abordando na análise da ideia de centralidade da família na política da assistência social, ancorada no reconhecimento da importância da família no contexto da vida social. Ressaltando que a família perpassa em todos os níveis de proteção da Política de Assistência Social em seus projetos, programas, serviços e benefícios. TEMA 1 – A CENTRALIDADE DA FAMÍLIA NA POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL Este retrato de família está um tanto empoeirado. Já não se vê no rosto do pai quanto dinheiro ele ganhou. A primeira estrofe da poesia Retrato de família, de Carlos Drummond de Andrade (1987), revela um olhar para o passado em direção ao futuro, permitindo não somente recuperar, mas também ressignificar esse passado e olhar para a família. Segundo Teixeira (2015, p. 21), a família tem “ressurgido” no contexto das políticas sociais “pós-ajuste” como agente de proteção social. Nesse sentido, é essencial [...] ressaltar a centralidade da família como objeto, sujeito e instrumento das políticas públicas. A centralidade da família nas políticas sociais está explicitada no art. XVI da Declaração Universal dos Direitos Humanos da ONU como foco da proteção da sociedade e do Estado. Além disso, a Constituição Federal de 1988 (Brasil, 1988), no art. 226, considera a família como a base da sociedade e atribui a ela, em seu art. 227, o dever de assegurar os direitos fundamentais de crianças e adolescentes. Ressaltamos que a centralidade familiar também está reafirmada na Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS), no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e em outras legislações. Teixeira (2015, p. 217) ressalta que em todas as “[...] passagens de legislações e [em todo] posicionamento teórico é visível a adoção de um novo paradigma: o de que a família deve ser apoiada, protegida e capacitada para proteger e cuidar de seus membros dependentes”. A luno: Y uri G om es M allaco E m ail: yurim allaco27@ gm ail.com 3 Na Norma Operacional Básica do Sistema Único de Assistência Social (NOB/SUAS), a centralidade tem como base a compreensão de que as outras necessidades e públicos da assistência social estão, de alguma maneira, vinculados à família, quer seja no momento de utilização dos programas, projetos e serviços da assistência, quer seja no início do ciclo que gera a necessidade do indivíduo vir a ser alvo da atenção da política. “A família é o núcleo social básico de acolhida, convívio, autonomia, sustentabilidade e protagonismo social” (NOB, SUAS, 2005, p. 17). Nesse sentido, a Política Nacional de Assistência Social (PNAS) (2004, p. 15) afirma que “a construção da política pública de assistência social precisa levar em conta três vertentes de proteção social: as pessoas, as suas circunstâncias e dentre elas seu núcleo de apoio primeiro, isto é, a família”. A PNAS trouxe vários avanços, entre eles a matricialidade sociofamiliar, compreendida a partir das diretrizes estabelecidas para o território nacional, com a opção pela “centralidade na família para concepção e implementação dos benefícios, serviços, programas e projetos” (Brasil, 2004, p. 33). E, para isso, a PNAS (2004, p. 41) reconhece que: [...] as fortes pressões que os processos de exclusão sociocultural geram sobre as famílias brasileiras, acentuando suas fragilidades e contradições, faz-se primordial sua centralidade no âmbito das ações da política de assistência social, como espaço privilegiado e insubstituível de proteção e socialização primárias, provedora de cuidados aos seus membros, mas que precisa também ser cuidada e protegida. Mas identificamos que há uma preocupação com a responsabilidade familiar, pois, conforme defendido no âmbito da Política Nacional de Assistência Social (2004, p. 41), a família, [...] independentemente dos formatos ou modelos que assume, é mediadora das relações entre os sujeitos e a coletividade, delimitando continuamente os deslocamentos entre o público e o privado, bem como geradora de modalidades comunitárias de vida”. Segundo Rizzini et al. (2006 apud Teixeira, 2015), há um descompasso entre a importância que se atribuiu à família e à falta de condições mínimas de vida, suporte e serviços familiares oferecidos pelo poder público, o que na prática ocorre mesmo é uma responsabilização da família pela proteção social de seus membros. A luno: Y uri G om es M allaco E m ail: yurim allaco27@ gm ail.com 4 Para a autora, é pertinente a redução de recursos que dão conta das demandas e dos serviços destinados às famílias que possam promover mudanças nas condições de vida e nos serviços socioeducativos. A autora ressalta que Em todas essas passagens de legislações e posicionamento de teóricos, é visível a adoção de um novo paradigma: o de que a família deve ser apoiada, protegida e capacitadapara proteger e cuidar de seus membros dependentes [...] essa premissa há a de que não é possível fazer políticas públicas sem as parcerias, sem a gestão em redes com entidades públicas e privadas. De acordo com Dal Prá (2016 apud Mioto, 2012), é pelo campo do cuidado se expressa a responsabilização da família, onde articulam-se estratégias de imposição ou transferências dos custos do cuidado para as famílias, seja no âmbito financeiro, emocional e de trabalho. A autora Steffenos (2011 apud Teixeira, 2015, p. 215) salienta “[...] uma tendência de apontar a família como responsável por seus dependentes, incluindo os idosos, sendo chamada a assumir esses novos encargos, independentemente de laços afetivos e de condições para cumpri-los”. Portanto, a política social com centralidade na família exige dos formuladores, gestores e operacionalizadores o entendimento dessas especificidades para que a família possa ser devidamente amparada pelo Estado, ao mesmo tempo em que a responsabiliza pela proteção de seus membros. Teixeira (2015, p. 217) ainda acrescenta que o sistema de proteção social “é a visível adoção do princípio da subsidiariedade da intervenção do Estado que, nunca exclusivamente estatal, e só aparece quando a família falha na proteção e cuidados”. Assim, quando a família não consegue realizar o bem-estar de seus membros contará com a ajuda da rede de proteção, ou seja, o Estado não é protagonista, uma vez que sua função é prover apoio. TEMA 2 – POLÍTICAS DE APOIO À FAMÍLIA Segundo o Ministério de Desenvolvimento Social – MDS (Brasil, 2010, p. 42), o SUAS “é um sistema público não contributivo e participativo, que tem por função a gestão do conteúdo específico da assistência social no campo da proteção social brasileira”. Considerando isso, “a proteção social deve garantir as seguintes seguranças: segurança de sobrevivência (de rendimento e de A luno: Y uri G om es M allaco E m ail: yurim allaco27@ gm ail.com 5 autonomia); de acolhida; de convívio ou vivência familiar” (Brasil, 2010, p. 31). Também a NOB/SUAS de 2012 (Brasil, 2012) reafirma a proteção social da assistência social: a segurança da acolhida; a segurança social de renda; a segurança do convívio ou convivência familiar, comunitária e social; a segurança de desenvolvimento da autonomia individual, familiar e social, segurança de sobrevivência a riscos circunstanciais. Para Teixeira (2009, 2010 apud Teixeira, 2015, p. 232), as normas do MDS para o trabalho com famílias, em especial o socioeducativo, envolve discussões de questões internas de grupos referentes ao trabalho doméstico e a reflexões do cotidiano ou de resoluções de conflitos familiares. Segundo a autora essas práticas são herdeiras da educação disciplinadora e normalizadora da família, que assumem versões modernizadoras que lhe escamoteiam dimensões normativas dos papéis sociais, dos comportamentos esperados para pai e mãe, em nome de processos educativos que visam potencializar o grupo familiar e gerar sua autonomia. Destacando Campos (2008 apud Teixeira, 2015), essa responsabilização da família nos cuidados de seus membros é sustentada cultural e socialmente, sendo que grande parte dessas responsabilidades e expectativas recai em especial sobre a mulher. Teixeira (2015, p. 236) ressalta ainda o trabalho com família, [...] assumindo versões normatizadoras e disciplinadoras sobre os papéis sociais hegemônicos e os comportamentos esperados, o que inibe a dimensão emancipatória que poderia ter ou proporcionar. Todavia, isso pode ser redirecionado a partir de novas diretrizes que, de fato, se traduzam em um trabalho social que visa à autonomia, cidadania e protagonismo social das famílias. Pontuamos a obrigação do Estado de disponibilizar, por meio da Política de Assistência Social, os serviços, programas e projetos para as famílias nos mais variados contextos e localidades do país. Esse trabalho deve ser realizado na perspectiva da garantia de direitos, no protagonismo desse usuário e na construção da autonomia. TEMA 3- PROTEÇÃO SOCIAL DE ASSISTÊNCIA SOCIAL Segundo Di Giovanni (1998, p. 10 apud PNAS 2004, p. 31), “entende-se por Proteção Social as formas institucionalizadas que as sociedades constituem para proteger parte ou o conjunto de seus membros”. Além disso, a PNAS (2004, p. 15) reconhece que: A luno: Y uri G om es M allaco E m ail: yurim allaco27@ gm ail.com 6 [...] a situação atual para a construção da política pública de assistência social precisa levar em conta três vertentes da proteção social: as pessoas, as suas circunstâncias e dentre elas seu núcleo de apoio primeiro, isto é a família. A proteção social exige a capacidade de maior aproximação possível do cotidiano da vida das pessoas, pois é nele que riscos, vulnerabilidades se constituem. Além disso, as ações da proteção social, entre outros aspectos, visam a produzir: [...] aquisições materiais, sociais, socioeducativas ao cidadão e cidadã e suas famílias para suprir suas necessidades de reprodução social de vida individual e familiar; desenvolver suas capacidades e talentos para a convivência social, protagonismo e autonomia. (NOB/SUAS 2005, p. 89) Para a PNAS (2004, p. 31), a proteção social deve garantir as seguintes seguranças: segurança de sobrevivência (de rendimento e de autonomia); de acolhida; de convívio ou vivência familiar. Dentre essas garantias, a segurança de renda tem suscitado grandes debates, questionando a responsabilidade do Estado em assegurar tal proteção à referida população. Essa situação gera preconceitos, atribuindo “acomodação” e “vagabundagem” a quem se beneficia dessa segurança. Trata-se de conceitos que foram, ao longo dos anos, enraizados na sociedade. No entanto, o Sistema Único de Assistência Social firma o posicionamento de que a pobreza e as vulnerabilidades são decorrentes do modelo econômico, social e político historicamente constituído no Brasil e, assim, a proteção é dever do Estado, como direito social. Assim, a PNAS (2004, p. 31) afirma que: A segurança de rendimentos não é uma compensação do valor do salário mínimo inadequado, mas a garantia de que todos tenham uma forma monetária de garantir sua sobrevivência, independentemente de suas limitações para o trabalho ou do desemprego. É o caso de pessoas com deficiência, idosos, desempregados, famílias numerosas, famílias desprovidas das condições básicas para sua reprodução social em padrão digno e cidadã. A proteção social de assistência social, conforme preconiza a PNAS (2004), é hierarquizada e divide-se em: básica e especial, de acordo com os níveis de complexidade do processo de proteção, em média e alta complexidade, por decorrência do impacto de riscos no indivíduo e em sua família. Segundo Zola (2015 p. 65), as formas de proteção social são definidas em eixos sendo que: A luno: Y uri G om es M allaco E m ail: yurim allaco27@ gm ail.com 7 Do primeiro eixo, fazem parte programas, projetos, serviços e benefícios públicos sociais básicos para os cuidados da criança e do adolescente, que possibilitam seu desenvolvimento, processo educativo e a proteção básica. Nos segundo e terceiro eixo, são observadas situações de contingências e riscos sociais, com demandas de serviços especializados, considerados de proteção social especial, distinguidos na realidade brasileira de média e alta complexidade. 3.1 Proteção social básica e especial O serviço de proteção básica tem um caráter preventivo e visa proporcionar a inclusão social, o fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários, tendo como objetivo “prevenir situações de risco por meio do desenvolvimento de potencialidades e aquisições, e o fortalecimento de vínculos familiares e comunitários (PNAS, 2004, p. 33), e a ampliação de acesso a direitos, destinando-se à: [...] população que vive em situaçãode vulnerabilidade social decorrente da pobreza, privação (ausência de renda, precário ou nulo acesso aos serviços públicos) e, ou, fragilização de vínculos afetivos – relacionais e de pertencimento social (discriminações etárias, étnicas, de gênero ou por deficiências, dentre outras). Ainda segundo a PNAS (2004, p. 35), o trabalho com famílias, nesse tipo de proteção, [...] deve considerar novas referências para a compreensão dos diferentes arranjos familiares, superando o reconhecimento de um modelo único baseado na família nuclear, e partindo do suposto de que são funções básicas das famílias: prover a proteção e a socialização dos seus membros; constituir-se como referências morais, de vínculos afetivos e sociais; de identidade grupal, além de ser mediadora das relações dos seus membros com outras instituições sociais e com o Estado. A proteção social especial, de acordo com a PNAS (2004, p. 37), [...] é a modalidade de atendimento assistencial destinada a famílias e indivíduos que se encontram em situação de risco pessoal e social, por ocorrência de abandono, maus tratos físicos e, ou, psíquicos, abuso sexual, uso de substâncias psicoativas, cumprimento de medidas socioeducativas, situação de rua, situação de trabalho infantil, entre outras. Segundo a Lei Orgânica da Assistência Social, a proteção básica e a proteção especial são ofertadas precipuamente no Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) e no Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS), respectivamente, e pelas entidades sem fins lucrativos de assistência social. Essa seria a “porta de entrada” dos usuários à A luno: Y uri G om es M allaco E m ail: yurim allaco27@ gm ail.com 8 rede de Proteção Social Básica do SUAS, locais onde são executados serviços de Proteção Social Básica, dando acesso a outros serviços, programas, projetos e benefícios relativos à segurança de sobrevivência (de rendimento e de autonomia), de acolhida, e da vivência familiar ou a segurança do convívio de acolhida (PNAS, 2004). Segundo o Caderno de Orientações Técnicas – CRAS (2009, p. 9): CRAS é uma unidade de proteção social básica do SUAS, que tem por objetivo prevenir a ocorrência de situações de vulnerabilidades e riscos sociais nos territórios, por meio do desenvolvimento de potencialidades e aquisições, do fortalecimento de vínculos familiares e comunitários, e da ampliação do acesso aos direitos de cidadania. Ressaltando ainda que esses “serviços, de caráter preventivo, protetivo e proativo, podem ser ofertados diretamente no CRAS, desde que disponha de espaço físico e equipe compatível” (CRAS, 2009, p.09). Ressaltamos que a Proteção Social Especial (PSE) (CREAS, 2011, p. 18), [...] por meio de programas, projetos e serviços especializados de caráter continuado, promove a potencialização de recursos para a superação e prevenção do agravamento de situações de risco pessoal e social, por violação de direitos, tais como: violência física, psicológica, negligência, abandono, violência sexual (abuso e exploração), situação de rua, trabalho infantil, práticas de ato infracional, fragilização ou rompimento de vínculos, afastamento do convívio familiar, dentre outras. Além disso, as “ações desenvolvidas na PSE devem ter centralidade na família e como pressuposto o fortalecimento e o resgate de vínculos familiares e comunitários, ou a construção de novas referências, quando for o caso” (CREAS, 2011, p.18). 3.2 Tipificação nacional dos serviços socioassistenciais A Resolução n. 109, de 11 de novembro de 2009, definida como a Tipificação Nacional dos Serviços Socioassistenciais, foi concebida a partir das deliberações da VI Conferência Nacional de Assistência Social, bem como das metas previstas no Plano Decenal de Assistência Social, promovendo uma padronização, em nível nacional, dos serviços socioassistenciais. A referida resolução foi tema de discussão e deliberação no Conselho Nacional da Assistência Social referente à democratização da gestão do SUAS, A luno: Y uri G om es M allaco E m ail: yurim allaco27@ gm ail.com 9 nela compreendida a participação intergovernamental com as Entidades de Assistência Social. Seu artigo 1º (MDS, 2009) define os serviços: I - Serviços de Proteção Social Básica: a) Serviço de Proteção e Atendimento Integral à Família (PAIF); b) Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos; c) Serviço de Proteção Social Básica no domicílio para pessoas com deficiência e idosas. II - Serviços de Proteção Social Especial de Média Complexidade: a) Serviço de Proteção e Atendimento Especializado a Famílias e Indivíduos (PAEFI); b) Serviço Especializado em Abordagem Social; c) Serviço de Proteção Social a Adolescentes em Cumprimento de Medida Socioeducativa de Liberdade Assistida (LA), e de Prestação de Serviços à Comunidade (PSC); d) Serviço de Proteção Social Especial para Pessoas com Deficiência, Idosas e suas Famílias; e) Serviço Especializado para Pessoas em Situação de Rua. III - Serviços de Proteção Social Especial de Alta Complexidade: a) Serviço de Acolhimento Institucional, nas seguintes modalidades: - abrigo institucional; - casa-lar; - casa de passagem; - residência inclusiva. b) Serviço de Acolhimento em República; c) Serviço de Acolhimento em Família Acolhedora; d) Serviço de Proteção em Situações de Calamidades Públicas e de Emergências. A partir de então, essa passou a ser a regra-matriz padronizadora, o que derivou a adoção de similares parâmetros pelos Conselhos Municipais, haja vista que o próprio CNAS editou outra resolução, a de n. 16, de 5 de maio de 2010, regulando o seguinte: Art. 6º A inscrição dos serviços, programas, projetos e benefícios socioassistenciais nos Conselhos de Assistência Social Municipais e do Distrito Federal é o reconhecimento público das ações realizadas pelas entidades e organizações sem fins econômicos, ou seja, sem fins lucrativos, no âmbito da Política de Assistência Social. § 1º Os serviços de atendimento deverão estar de acordo com a Resolução CNAS n. 109, de 11 de novembro de 2009, que trata da Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais, e com o Decreto n. 6.308, de 14 de dezembro de 2007. Considerando que o Sistema Único de Assistência Social, ainda recente, veio para consolidá-la como política pública, pontuamos que são necessárias ações diferenciadas, levando em conta os níveis de proteção que a política coloca abrangendo as famílias e seus indivíduos que passam por vulnerabilidades e riscos sociais, pois eles tiveram seus direitos violados ou estão em situações risco e de total exclusão. A luno: Y uri G om es M allaco E m ail: yurim allaco27@ gm ail.com 10 E, por fim, a Tipificação dos Serviços Socioassistenciais, como resolução normativa, ganha caráter permanente e planejado. TEMA 4 – PROGRAMAS DA POLÍTICA DA ASSISTÊNCIA SOCIAL Conforme a base da Política Nacional de Assistência Social – PNAS, o Serviço de Proteção e Atendimento Integral a Família – PAIF é concebida a partir do reconhecimento das vulnerabilidades e dos riscos sociais que atingem as famílias, que exigem estratégias de prevenção e enfrentamento da questão social. Através do Decreto n. 5.085, de 19 de maior de 2004, o PAIF tornou se ação continuada da Assistência Social, passando a integrar a rede de serviços e sendo financiada pelo Governo Federal. Vale destacar que a PAIF, “pactuado e assumido pelas diferentes esferas de governo, surtiu efeitos concretos na sociedade brasileira” (PNAS, 2004, p. 34). Segundo a Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais (2009, p. 6), o PAIF “consiste no trabalho social com famílias, de caráter continuado, com a finalidade de fortalecer a função protetiva das famílias, de modo a prevenir a ruptura de vínculos familiares e comunitários”, bem como as situações de risco. Ressalta-seque a Tipificação tem o papel de contribuir com a viabilização dos direitos dos usuários do SUAS, colaborando para a melhoria de sua qualidade de vida e atuando no desenvolvimento da autonomia e do protagonismo social das famílias e dos indivíduos acompanhados, mediante ações de caráter preventivo, protetivo e proativo (Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais, 2009). O trabalho social com famílias assistidas pelo PAIF é desenvolvido pela equipe de referência do CRAS, e sua gestão territorial, pelo coordenador do CRAS, auxiliado pela equipe técnica, sendo essas, portanto, “funções exclusivas do poder público e não de entidades privadas de assistência social” (CRAS, 2009, p.10). As ações do PAIF consistem em: acolhida; oficinas com famílias; ações comunitárias; ações particularizadas e encaminhamentos. Segundo a Tipificação (2009, p. 6), o Serviço de Proteção e Atendimento Especializado a Famílias e Indivíduos (PAEFI) consiste em: Serviço de apoio, orientação e acompanhamento a famílias com um ou mais de seus membros em situação de ameaça ou violação de direitos. Compreende atenções e orientações direcionadas para a promoção de direitos, a preservação e o fortalecimento de vínculos familiares, A luno: Y uri G om es M allaco E m ail: yurim allaco27@ gm ail.com 11 comunitários e sociais e para o fortalecimento da função protetiva das famílias diante do conjunto de condições que as vulnerabilizam e/ou as submetem a situações de risco pessoal e social. Ressaltando que esse é um serviço de média complexidade e que seu atendimento se fundamenta no respeito à heterogeneidade, às potencialidades, aos valores, às crenças e às identidades das famílias. TEMA 5 – PROGRAMAS DE TRANSFERÊNCIA DE RENDA Os programas de transferência de renda do Governo Federal sob responsabilidade da Secretaria do Desenvolvimento Social do Ministério da Cidadania são: Bolsa Família, Renda Mínima, Renda Cidadã, Benefício de Prestação Continuada (BPC), Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI) e o Programa Ação Jovem. Conforme a PNAS (2004), no âmbito Sistema Único De Assistência Social (SUAS), os programas são: Art. 2º [...] Parágrafo único - A assistência social realiza-se de forma integrada às políticas sociais setoriais, visando ao enfrentamento da pobreza, à garantia dos mínimos sociais, ao provimento de condições para atender contingências sociais e à universalização dos direitos sociais. [...] Art. 24 - Os programas de assistência social compreendem ações integradas e complementares com objetivos, tempo e área de abrangência definidas para qualificar, incentivar e melhorar os benefícios e os serviços assistenciais. O Governo Federal, com a aprovação do Decreto n. 5.209, de 17 de setembro de 2004, no artigo 1º, decreta que o BPC será regido por esse decreto e pelas disposições que serão estabelecidas pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, cabendo a esse ministério, conforme o artigo 2º, a coordenação, a gestão e a operacionalização do programa. O artigo 4º do mesmo decreto estabelece os objetivos básicos do programa, que são: i – promover o acesso à rede de serviços públicos, em especial, de saúde, educação e assistência social; ii – combater a fome e promover a segurança alimentar e nutricional; iii – estimular a emancipação sustentada das famílias que vivem em situação de pobreza e extrema pobreza; iv – combater a pobreza; e v – promover a intersetorialidade, a complementaridade e a sinergia das ações sociais do poder público (Brasil, 2008). O programa tem seu objetivo central na redução da fome e no combate à pobreza das famílias que são beneficiárias, além de garantir a elas o acesso às A luno: Y uri G om es M allaco E m ail: yurim allaco27@ gm ail.com 12 demais políticas públicas que melhoram a sua condição de vida e que permitam emancipar-se e sair da situação de pobreza ou de extrema pobreza. Conforme o artigo 14 do referido Decreto, compete aos municípios a constituição de coordenações composta por representantes das áreas da saúde, educação, assistência social e segurança alimentar, que sejam responsáveis pelas ações do programa. Eles devem, ainda, inserir informações sobre as famílias no cadastro único, além de disponibilizar os serviços e as estruturas públicas na área de saúde, educação e assistência social, estabelecendo parcerias com os demais âmbitos do governo e acompanhando as condicionalidades. Para Carloto (2015, p. 186), “os programas de transferência de renda se orientam majoritariamente às mulheres. Em função do caráter ‘feminizado’, desses programas, existe uma tendência em considerá-los uma política pública para mulheres”. Um primeiro ponto de interseção das nossas políticas está na própria concepção do Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal, que reúne informações de famílias que possuem renda mensal por pessoa de até meio salário mínimo ou ainda aquelas com renda familiar total de até três salários. O Cadastro tem indicadores socioeconômicos importantes, que permitem identificar situações de vulnerabilidade social para além do critério de renda. Isso possibilita aos gestores planejar políticas públicas a partir da identificação das demandas e necessidades, bem como selecionar famílias para serem integradas aos programas de acordo com o perfil. Segundo Goldani (2002, p. 38 apud Carloto, 2015, p. 184), “os programas de renda mínima que garantem um rendimento ‘mínimo’ para as famílias e não para os indivíduos justificando que a pobreza ocorre na família e cabe a ela ser solidária na gestão e no consumo dos rendimentos”. Finalizamos pontuando que, para que a família possa prevenir, proteger, promover e incluir socialmente seus membros, ela precisa ter condições garantidas de sustentabilidade, e os programas de transferência da renda direta às famílias e os demais serviços que devem ser ofertados pelo município proporcionam a elas algumas dessas garantias. A luno: Y uri G om es M allaco E m ail: yurim allaco27@ gm ail.com 13 REFERÊNCIAS BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. 1988. 41. ed. São Paulo: Saraiva, 2008. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8742.htm>. Acesso em: 8 ago. 2019. _____. Lei n. 8.742, de 7 de dezembro de 1993. Dispõe sobre a organização da assistência social e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8742.htm>. Acesso em: 8 ago. 2019. _____. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Secretaria Nacional de Assistência Social. PNAS – Política Nacional de Assistência Social. Brasília, 2004. Disponível em: <https://www.mds.gov.br/webarquivos/publicacao/ assistencia_social/Normativas/PNAS2004.pdf>. Acesso em: 8 ago. 2019. _____. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Secretaria Nacional de Assistência Social. NOB/SUAS - Norma operacional básica do Sistema Único de Assistência Social. Brasília, 2005. Disponível em: <https:// www.mds.gov.br/webarquivos/public/NOBSUAS_2012.pdf>. Acesso em: 8 ago. 2019. ______. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Secretaria Nacional de Assistência Social. NOB/SUAS. Norma operacional básica do Sistema Único de Assistência Social. Brasília, 2012. Disponível em: <https://www.mds.gov.br/webarquivos/public/NOBSUAS_2012.pdf>. Acesso em: 8 ago. 2019. ______. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Secretaria Nacional de Assistência Social. Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais. Brasília: MDS, 2009. Disponível em: https://www.mds.gov.br/webarquivos/publicacao/assistencia_social/Normativas/ti pificacao.pdf. Acesso em: 8 ago. 2019. ______. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Secretaria de Avaliação e Gestão da Informação Avaliação de Políticas Públicas: reflexões acadêmicassobre o desenvolvimento social e o combate à fome. Brasília: MDS, 2014. Disponível em: <https://aplicacoes.mds.gov.br/sagirmps/ferramentas/docs/24.pdf>. Acesso em: 8 ago. 2019. _______. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Secretaria Nacional de Assistência e Secretaria Nacional de Renda de A luno: Y uri G om es M allaco E m ail: yurim allaco27@ gm ail.com 14 Cidadania. Decreto n. 5.209, de 17 de setembro de 2004. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2004/decreto/d5209.htm>. Acesso em: 8 ago. 2019. ______. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Sistema Único de Assistência Social. Orientações Técnicas: Centro de Referência de Assistência Social – CRAS. Brasília: MDS, 2009. Disponível em: <http://www.mds.gov.br/webarquivos/publicacao/assistencia_social/Cadernos/ori entacoes_Cras.pdf>. Acesso em: 8 ago. 2019. ______. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Sistema Único de Assistência Social. Orientações Técnicas: Centro de Referência Especializado de Assistência Social – CREAS. Brasília: MDS, 2011. Disponível em: <http://aplicacoes.mds.gov.br/snas/documentos/04-caderno-creas-final- dez.pdf>. Acesso em: 8 ago. 2019. DRUMMOND DE ANDRADE, C. Antologia poética. 22. ed. Rio de Janeiro: Record, 1987. TEIXEIRA, S. M. Política social contemporânea: a família como referência para as Políticas Sociais e para o trabalho social. In: MIOTO, R. C. T.; CAMPOS, M. S.; CARLOTO, C. M. (orgs.). Familismo, Direitos e Cidadania: contradições da política social. São Paulo: Cortez, 2015, p. 211-240. ZOLA, M. B. Políticas Sociais, família e proteção social: um estudo acerca das políticas familiares em diferentes cidades/países. In: MIOTO, R. C. T.; CAMPOS, M. S.; CARLOTO, C. M. (orgs.). Familismo, Direitos e Cidadania: contradições da política social. São Paulo: Cortez, 2015, p. 45-94. A luno: Y uri G om es M allaco E m ail: yurim allaco27@ gm ail.com AULA 3 POLÍTICAS SOCIAIS E FAMÍLIA Profª Gisella Chanan A luno: Y uri G om es M allaco E m ail: yurim allaco27@ gm ail.com 2 CONVERSA INICIAL Nesta aula, abordaremos as transformações sociais e econômicas e seus impactos na estrutura e na organização da familia. Para esse estudo, é fundamental salientar que a família é ainda a responsável por garantir o capital social e cultural de seus membros, condicionando em parte as posições sociais futuras. TEMA 1 – ANÁLISE E CONCEITO: FAMILISMO Os fatores históricos, econômicos, políticos e culturais são responsáveis pelas mudanças ocorridas na sociedade e principalmente na família. Torna-se, então, imprescindível relatar o reconhecimento da importância da família pelo ordenamento jurídico, o qual, conforme Zola (2015, p. 57), [...] “reconhece também que a tendência da centralidade na família para a proteção social de seus membros, transfere atribuições e sobrecarga, destacando a mulher”. Assim, é preciso perceber que a transferência de responsabilidade social do setor público para as famílias oprime a mulher em suas tarefas e serviços desempenhados no seio familiar. Campos e Mioto (2003, p. 165) enfatizam que a família sempre esteve relacionada com a política social, diferenciando-se em três tipos: “a família do provedor masculino, o ‘familismo’ e a família no Estado de Bem-Estar Social de orientação social-democrata”. A família do provedor masculino remete às relações regidas pelo preceito de que as mulheres seriam subordinadas aos homens. Segundo Zola (2015, p. 57), é uma perspectiva tradicional de proteção social realizada a partir da família nuclear, centrada no modelo previdenciário. Esse modelo de família nuclear assenta-se em valores instituídos que corroboram com uma suposta supremacia masculina, o que acaba atribuindo às atividades masculinas maior importância do que às atividades femininas. Conforme Zola (2015, p. 57), a família do provedor masculino, no modelo previdenciário tem por base dois eixos sendo: “[...] o seguro social público para a cobertura dos riscos do curso de vida, doenças, velhice, morte e, de outro lado, a existência de solidariedade familiar, baseada nas trocas internas e no apoio da mulher aos cuidados familiares”. A luno: Y uri G om es M allaco E m ail: yurim allaco27@ gm ail.com 3 Campos e Mioto (2003 apud Zola, 2015, p. 58) “consideram essa modalidade de cobertura de renda e de direitos sociais, aos dependentes do homem, como de ‘direitos derivados’ e não de primeira classe”. Zola (2015, p. 58) adverte que é atribuída à mulher a função de provedora de cuidados desenvolvidos pela família, ou seja, cabe à mulher [...] a reprodução social e de provisão e manutenção do cotidiano e do próprio grupo familiar”. Sobre familismo, as autoras Campos e Mioto (2003, p. 170 apud Zola, 2015, p. 58) esclarecem que, “[...] na perspectiva da baixa oferta de serviços pelo Estado, tendo as famílias, ‘a responsabilidade principal pelo bem-estar social’”. Como há uma tendência a se considerar o modelo nuclear de família, do provedor masculino, o foco da ação política mantém-se na centralidade da família e na proteção de seus membros. As autoras ainda ressaltam que o familismo é pautado na solidariedade entre os membros e reiteram [...] as funções protetoras femininas e a naturalização da família como instância responsável pela reprodução social e se expressa em graduação diferentes, conforme a desresponsabilização pública, quer pela omissão e, também, pelo compartilhamento de metas ambiciosas, diante de situações adversas e de difícil solução, com parcos investimentos. (Campos; Mioto, 2003, p. 170 apud Zola, 2015, p. 59) Então, as políticas públicas transferem para a família as responsabilidades de proteção social aos seus membros, e a mulher, historicamente, assume os cuidados nessas relações familiares. No caso da família no Estado de Bem-Estar Social de orientação social- democrata, Campos e Mioto (2003, p. 174 apud Zola, 2015, p. 59) esclarecem que [...] a centralidade da ação pública não é na família e sim nos direitos dos indivíduos, sendo responsabilidade do Estado a universalização dos serviços. Possibilita a equidade de oportunidade, e a “oferta de serviços de apoio aos encargos familiares constitui alternativas claras, favorecendo uma política de liberação do trabalho feminino para o mercado”. Para Zola (2015, p. 59), pauta-se, assim, pela prevenção, evitando o esgotamento da capacidade familiar. Nessa perspectiva da proteção social, o Estado garante os direitos socialmente conquistados em vez de transferir as responsabilidades para a família, ou seja, provê a manutenção e a extensão dos direitos no aspecto universal. A luno: Y uri G om es M allaco E m ail: yurim allaco27@ gm ail.com 4 Concluímos que o Estado, focado nas ideias liberais, no caso brasileiro, propõe uma atuação residual, contando que as famílias detêm a maior parcela de responsabilidade na provisão do bem-estar dos seus membros. TEMA 2 – REFLEXÕES SOBRE O CONCEITO DE FAMÍLIA Sabemos que a família sofre alterações e mudanças na composição e nos arranjos familiares, sendo forte agente de proteção social de seus membros. E são muitas as reflexões sobre a definição de família, que, inclusive, pode ser diferente daquilo a que estamos acostumados a ver. Assim, para pensar criticamente a família contemporânea inserida em uma sociedade capitalista neoliberal, em um país subdesenvolvido sujeito às leis do mercado internacional, há que, antes de tudo, compreender os fundamentos da família como instituição. Segundo Gelinski e Moser (2015, p. 127), “Inúmeras controvérsias cercam a definição de família. Extensamente estudada quanto as suas formas e funções ela ainda é um tema em construção. Na análise de políticas públicas ficaem evidência a multiplicidade de conceitos e critérios operacionais que definem as famílias”. A palavra família, etimologicamente, deriva do latim “famulus”, que significa escravo doméstico. Na sociedade ocidental moderna, o conceito de família significa o grupo de pessoas que se relacionam entre si formando grau de parentesco e compartilhando o mesmo sobrenome por matrimônio ou por adoção. Para Gelinski e Moser (2015, p. 128) “na literatura brasileira, em particular, é possível perceber dois grupos de estudos sobre famílias. [O primeiro grupo se] caracteriza a formação da sociedade brasileira [...] impactos na legislação sobre a família e sobre as questões civis a ela relacionadas”. A concepção patriarcal influenciaria de maneira decisiva o marco jurídico que regularia a vida em família e em sociedade, como a legislação sobre casamento de 1890. De forma semelhante, mudanças na concepção da família no século XIX apontariam para novos marcos legislativos (como o Código Civil de 1916) que oferecem amparo à família nuclear. (Kroth, 2008 apud Gelinski; Moser, 2015, p. 128) O segundo grupo, conforme Gelinski e Moser (2015, p. 128), concebe “[...] os condicionantes históricos da formação da família brasileira [...] questões como provisão das famílias, sua constituição, de forma ampliada ou em rede, desempenho de papéis sociais, divisão de tarefas domésticas ou questões geracionais”. A luno: Y uri G om es M allaco E m ail: yurim allaco27@ gm ail.com 5 Ainda de acordo com Gelinski e Moser (2015, p. 128), “a ideia da família em rede se contrapõe à definição clássica de família”. Diante das alterações que o contexto familiar sofreu em suas estruturas, diversas realidades são postas, tais como: pais divorciados, amasiados, mães e pais solo, homossexuais, avôs e avós que assumem a criação dos netos. E conforme Sarti (2007, p. 68 apud Gelinski; Moser, 2015, p. 129): O parentesco, principalmente para famílias pobres, supera os laços de sangue e transforma vizinhos, ou amigos próximos, em parentes. Eles possibilitarão trocas de dinheiro, de apoio, e de afeto [...] assinala que a sobrevivência de grupos familiares chefiados por mulheres é possibilitada pela mobilização cotidiana de uma rede familiar que ultrapassa os limites da casa [...] uma rede local – não um lar, nem uma vizinhança [...] é uma unidade que permite a sobrevivência e que organiza o mundo das pessoas. Nessa linha, a família ganha o atributo ou a forma de uma rede local destinada a garantir a sobrevivência e, ao mesmo tempo, organizar a vida das pessoas (Gelinski; Moser, 2015). Assim, a família não é apenas uma unidade residencial, ela vai além em sua comunidade econômica e de relacionamentos. É no sentido de grupo com o qual se identificam e se mantêm emocionalmente, compartilhando seus problemas e suas lutas cotidianas. Conforme as modificações na sociedade ocorriam, novos modelos familiares foram surgindo, e a família nuclear — aquela composta de pai, mãe e filhos — foi aos poucos deixando de ser dominante, sendo hoje encontradas múltiplas estruturas familiares na sociedade. Vemos, assim, que não existe um único modelo de família, e sim diversas formas familiares, e nem mesmo modelos corretos ou errados de famílias. São novos olhares que devemos compreender e observaremos no próximo tema. TEMA 3 – NOVOS OLHARES SOBRE AS FAMÍLIAS Estudamos as mudanças no enfoque da concepção de família, as quais indicam que não existe um conceito único, pois os modelos familiares variam de acordo com o contexto histórico, político e econômico. Martino (2015, p. 97) relata que “durante os anos 1980 e 1990, primeiro na academia e depois no nível político, supera-se o conceito de família e se impõe o plural: famílias”. Essa mudança manifesta “o processo que ajudou a superar a imagem naturalizada e tradicional de família, composta por pai, mãe e filhos vivendo sob o mesmo teto, e passa a reconhecer outras formas familiares A luno: Y uri G om es M allaco E m ail: yurim allaco27@ gm ail.com 6 consideradas até então como fora do padrão ou disfuncionais” (Beck-Gernsheim, 2003 apud Martino, 2015, p. 97). Então, a diversidade dos novos arranjos familiares resume “dois processos, um relacionado às mudanças sociodemográficas e outro associado ao aumento da participação das mulheres no mercado de trabalho” (Martino, 2015, p. 97). Vale ressaltar que o sistema capitalista trouxe como processo civilizatório várias implicações profundas nos mais diversos ramos. E o sujeito contemporâneo, nesse contexto, se encarcera em sua própria individualidade, ou seja, passa a enxergar o mundo a partir de um prisma de individualidade. Para Jelin (2000, 2012) apud Martino (2015, p. 97), “[...] quando o processo de individualização e autonomia pessoal das mulheres e dos jovens minou o poder patriarcal e colocou a família como uma expressão marcante de escolhas individuais”. Assim, conforme Jelin (2000, 2012 apud Martino, 2015, p. 97), “a desnaturalização da ideia de família única tornou visíveis outros modelos de organização patriarcal no qual o chefe de família tem o controle e decisão sobre os outros membros”. Então, para (Martino, 2015, p. 97), “a família, por sua vez, deixou de ser vista a priori como um lugar de felicidade (Mioto, 2001) e, também, passou a ser vista como lugar de conflitos, tensões e abusos”. Pontuamos que esse lugar de conflitos na família é oriundo do sistema capitalista que propõe a individualidade da pessoa, notada em suas escolhas marcantes individuais. Conforme Martino (2015, p. 97) “alguns autores analisam a diversidade de arranjos familiares como expressão de processos culturais ligados à individualização e à construção de biografias mais flexíveis e autônomas, tornando o sistema mais equitativo nas relações de gênero”. A questão de gênero é relacional, sendo necessário refletir para assegurar que mulheres e homens possam ter relações mais equitativas em todas as dimensões. Como consequência disso, temos, por exemplo, o adiamento da idade de casamento e do nascimento do primeiro filho, o aumento da taxa de divórcio e as negociações de projetos de vida independentes (Cabella; Peri; Street, 2005; Arraigada, 2002 apud Martino, 2015). Já Ariza e de Oliveira (2007 apud Martino, 2015, p. 98) “indicam o caráter seletivo e heterogêneo desses processos sociais, tanto em termos de classes sociais como países e regiões”. Para Martino (2015), os autores citados reverenciam a família com tendência à redefinição das relações de gênero. A luno: Y uri G om es M allaco E m ail: yurim allaco27@ gm ail.com 7 Contudo, ainda para Martino (2015, p. 98), [...] na literatura sobre a família, a redefinição das responsabilidades familiares é mais difícil para os pobres, assim como encontrar pontos de contato entre os interesses individuais e coletivos. Parece que negociar padrões de distribuição de tarefas é mais difícil nas famílias onde os recursos são escassos. Devemos refletir que as famílias passaram por transformações na sua estrutura, nas suas relações e na sua organização, visto que todas as situações de vulnerabilidades sociais tornam mais difíceis, ainda como apontado pela autora. O autor Esping-Andersen (2000 apud Martino, 2015, p. 102) “[...] sustenta que uma dimensão essencial da análise é a medida na qual as famílias absorvem os riscos sociais”. Além disso, ele também afirma [...] que regime de bem-estar familiarista é aquele em que a política responsabiliza em maior grau a família pelo bem-estar dos seus membros. [...] O familismo corresponde a uma política familiar pouco desenvolvida, associada a sistemas de proteção social baseada no homem provedor e na centralidade da família como provedora de cuidados e de bem-estar. (Esping-Andersen, 2000 apud Martino, 2015, p. 102) Pontuamos que esse regime de bem-estar familiaristaque o autor aponta é entendido como coletivização das necessidades da família, ou seja, um conjunto de responsabilidades sobre o bem-estar e a satisfação das necessidades de todos os seus membros, expressando também a porcentagem do Estado nisso e em seus serviços públicos, como creches para crianças e assistência aos idosos. Já no familismo corresponde a uma menor provisão de bem-estar por parte do Estado com relação à família. Assim, compreendemos que o familismo no Brasil está enraizado nas políticas sociais e que os elementos que constituem as famílias fazem parte da engrenagem das diferentes fases do desenvolvimento do capitalismo. A família está profundamente conectada às bases da formação social e econômica do país. TEMA 4 – A FAMÍLIA E SUAS TRANSFORMAÇÕES São grandes as transformações que ocorrem na família e, para Mioto (2010, p. 53) “a consciência das grandes transformações que ocorreram no âmbito da família [...] têm [...] se manifestado no cotidiano dos serviços em geral”, ou seja, existe uma consciência acerca dessas transformações. A luno: Y uri G om es M allaco E m ail: yurim allaco27@ gm ail.com 8 Mas, de acordo com Mioto (2010, p. 53), “observa-se a existência de um consenso sobre a diversidade de arranjos familiares, sobre o caráter temporário dos vínculos conjugais e sobre outras questões ligadas à área de reprodução humana e da liberalização dos costumes”. Ainda se observa que muito raramente encontramos técnicos que não trabalham com a ideia da diversidade de famílias (Mioto, 2010). São técnicos que observamos em reuniões intersetoriais, que descrevem em seus relatórios sociais essa terminologia, rotulando as famílias nesse padrão de família nuclear. Dessa forma, utilizam o termo “famílias desestruturadas” para rotular aquelas que fugiam do modelo ou do padrão descrito pela escola estrutural funcionalista (Mioto, 2010, p. 53). Sobre as transformações das famílias e de sua estrutura e composição, Mioto (2010, p. 53) afirma que: Apesar das mudanças na estrutura, a expectativa social relacionada às suas tarefas e obrigações continua preservada. Ou seja, espera-se um mesmo padrão de funcionalidade, independentemente do lugar em que estão localizadas na linha da estratificação social, calcada em postulações culturais tradicionais referentes aos papéis paterno e, principalmente, materno. Vemos que ainda são ações baseadas em expectativas relacionadas aos papéis típicos de uma concepção funcional de famílias. Para Mioto (2010, p. 53), a mulher continua sendo a responsável pelo cuidado e pela educação dos filhos, e o homem-pai, pelo provimento e exercício da autoridade familiar. São julgamentos morais que técnicos ainda utilizam em relação à figura materna, por exemplo: é responsabilidade da mulher levar o filho para a vacinação. É muito mais que uma questão de semântica, segundo Mioto (2010, p. 53), o termo “famílias desestruturadas” continua sendo de uso corrente, “[...] utilizado para nomear as famílias que falharam no desempenho das funções de cuidado e proteção dos seus membros e trazem dentro de si as expressões de seus fracassos, como alcoolismo, violência e abandonos”. E, por fim, Mioto (2010, p. 54) ratifica a tendência de soluções residuais aos problemas familiares. Ressaltamos que a política de assistência social tem, em seus princípios, a matricialidade sociofamiliar, a qual não consegue superar a tendência familista, pois, se por um lado o termo significa que a família é a matriz para concepção e na sua implementação, que em hipótese pode romper a fragmentação do atendimento, por outro, toma a família como instância primeira ou núcleo básico da proteção social aos seus membros, devendo ser apoiada para exercer, em seu A luno: Y uri G om es M allaco E m ail: yurim allaco27@ gm ail.com 9 próprio domínio interno, as funções de proteção social, portanto, continua-se a responsabilizar a família, em especial as mulheres, pelos cuidados e por outras tarefas de reprodução social. É necessário superar essa tradição histórica do trabalho social com famílias, de concepções de família-padrão, família irregular, e, enfim, utilizar uma metodologia de trabalho com famílias que, de fato, aborde, de forma dialética e articulada, assuntos internos e externos ao núcleo familiar. TEMA 5 – AS TRANSFORMAÇÕES SOCIAIS E O IMPACTO NA FAMÍLIA Com a Revolução Industrial, ocorreram transformações e uma divisão na unidade doméstica, que se tornou local apenas de reprodução das relações capitalistas de exploração. Esse sistema capitalista se consolida na função de produzir bens que são necessários para o consumo e a sobrevivência da família. Nesse contexto, a mulher, que tinha uma função subalterna, agora passa a ter importância na economia familiar. Conforme Alencar (2010, p. 61), “[...] o impacto das transformações econômicas e sociais nas condições de vida da classe trabalhadora através da família se deve à centralidade que esta ocupa no âmbito da sobrevivência material”. Os membros da família dependem da inserção social e se articulam das mais diversas formas, estabelecendo alternativas para superar as condições de precariedade social, diante de um contexto de desemprego ou de inserção precária no mundo do trabalho. Para Telles (1992 apud Alencar, 2010, p. 61), Através do ingresso no mercado de trabalho, do desenvolvimento de pequenas atividades informais para a obtenção de algum tipo de renda complementar e outras tantas estratégias, como a construção de moradias e as diversas práticas de solidariedade, os indivíduos tentam suprir uma rede de proteção social fragilizada. Segundo Alencar (2010, p. 62), os estudos sobre as funções da família na sociedade capitalista tornam evidente seu papel como unidade de renda e de consumo. Para a autora, “a centralidade da família está ratificada para a compreensão de certos processos sociais e econômicos, que gravitam em torno da esfera da produção e da reprodução, reconstituindo uma unidade histórica que, no campo analítico, por vezes é esquecida”. A luno: Y uri G om es M allaco E m ail: yurim allaco27@ gm ail.com 10 Como relata Dal Prá (2016, p. 7), [...] Neste contexto intensificam-se dois processos, sendo um deles o de focalização através de um investimento massivo do Estado em programas de transferência de renda em detrimento das políticas universalizantes e de proteção aos trabalhadores e outro de responsabilização da família na provisão de bem-estar onde esta ressurge como a primeira referência fundamental na política social. Compreendemos a forte presença do mercado, ou seja, do próprio sistema capitalista, em que o Estado assume uma menor provisão de bem-estar, e as unidades familiares devem assumir a principal responsabilidade de entre seus membros. Para Alencar (2010, p. 63), diante da [...] crise econômica e da evidente retração do Estado da esfera social, ressurgem os discursos e as práticas de revalorização da família que, fundamentados numa concepção ideológica de cunho conservador, promovem e disseminam a proposição de que a família é a grande responsável por prover as necessidades dos indivíduos. Ainda que se tenha políticas sociais de investimentos, como o Bolsa Família e outros de programas de geração de renda, conforme Alencar (2010, p. 63), “[...] as estratégias de combate à pobreza têm que necessariamente interferir nas relações de mercado, uma vez que é no mercado que se originam as condições de desigualdade social do capitalismo, contribuindo profundamente para a reprodução dos mecanismos de exclusão social”. Ressaltamos que a pobreza está entre as várias manifestações da questão social decorrente da dinâmica histórica do desenvolvimento do capitalismo e, como fenômeno complexo, multidimensional e relativo, permite desconsiderar seu entendimento como decorrente apenas da insuficiência
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