Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
METODOLOGIA CIENTÍFICA AULA 1 Prof.ª Ana Paula Weinfurter Lima Coimbra de Oliveira A luno: Y uri G om es M allaco E m ail: yurim allaco27@ gm ail.com 2 CONVERSA INICIAL Olá! Bem-vindo, hoje abordaremos as informações fundamentais para a compreensão de como se realiza uma pesquisa científica. Os conhecimentos conseguidos serão fundamentais para a compreensão da importância da pesquisa, dos tipos de pesquisa existentes e do processo de elaboração de um trabalho científico. Nesta aula abordaremos os seguintes temas: Pesquisa científica; Evolução da pesquisa no Brasil; Classificação dos tipos de pesquisa; Pesquisa qualitativa; Pesquisa quantitativa. Bons estudos! CONTEXTUALIZANDO A Metodologia Científica tem papel central na formação de estudantes em diferentes áreas do conhecimento, uma vez que se presta a despertar nos acadêmicos o interesse na busca por conhecimento e por respostas a seus questionamentos científicos. A palavra metodologia significa estudo do método. A palavra método tem origem grega (methodos) e significa caminho, enquanto logia vem do grego logos, que tem relação com discurso, estudo ou teoria. Dessa forma, a metodologia seria o estudo do caminho a ser seguido para determinada finalidade ou fim. Os recursos científicos a serem utilizados em pesquisas nas diferentes áreas do conhecimento são os mais diversos, dependendo das características dos assuntos pesquisados. Ou seja, uma pesquisa elaborada para a colocação de um novo medicamento no mercado será conduzida de forma bastante diferente que uma pesquisa antropológica sobre o comportamento humano. No entanto, apesar de suas diferenças, é necessário seguir uma padronização na construção do texto, escolha do método e apresentação de resultados e conclusões. A luno: Y uri G om es M allaco E m ail: yurim allaco27@ gm ail.com 3 TEMA 1 – PESQUISA CIENTÍFICA Antes de falarmos de pesquisa, é necessário, primeiramente, entender o que é ciência. Sabe-se que, ao privilegiar o uso da razão no lugar de suas crenças religiosas e concepções pessoais, o homem passou a ser capaz de alcançar respostas melhores e mais realistas para seus questionamentos. De acordo com Lakatos e Marconi (2007, p. 80) ciência seria “um conjunto de proposições logicamente correlacionadas sobre o comportamento de certos fenômenos que se deseja estudar”. Enquanto isso, com base na versão para consulta on-line do dicionário Michaelis, ciência seria: 1 Conhecimento sistematizado como campo de estudo […]. 2 Observação e classificação dos fatos inerentes a um determinado grupo de fenômenos e formulação das leis gerais que o regem. 3 O saber adquirido pela leitura e meditação. 4 Soma dos conhecimentos práticos que servem a determinado fim. 5 Conjunto de conhecimentos humanos considerados no seu todo, segundo sua natureza. 6 Sistema racional usado pelo ser humano para se relacionar com a natureza a fim de obter resultados favoráveis. 7 Estudo focado em qualquer área do conhecimento. 8 Conjunto de conhecimentos teóricos e práticos canalizados para um determinado ramo de atividade [...]. 9 FILOS Ramo específico do conhecimento, caracterizado por seu princípio empírico e lógico, com base em provas concretas, que legitima sua validade. É possível verificar algumas características que se repetem quando se busca definir o que é ciência. Entre elas estão: a observação de fenômenos, as tentativas de explicar situações e condições observáveis, o embasamento por testes e provas, entre outras. Isso nos faz refletir que a ciência está intimamente relacionada à busca pela resolução de problemas e situações, bem como à busca pelo conhecimento e entendimento do funcionamento daquilo que existe no mundo. Mas, para ser entendido como ciência, todo esse conhecimento precisa ser conseguido com base em provas e resultados, ou seja, com embasamento científico. Assim, quando trabalhamos com o conhecimento e com a pesquisa científica, é importante que saibamos separar nossos achados daquilo que é A luno: Y uri G om es M allaco E m ail: yurim allaco27@ gm ail.com 4 considerado como “senso comum”. O conhecimento de senso comum pode ser definido como aquele que é conseguido pelo indivíduo com base no convívio e na vivência de diversas situações com outras pessoas (Oliveira, 2011). Sendo assim, os resultados de uma pesquisa devem permitir que sejam tiradas conclusões com possibilidade de comprovação, independentemente daquilo que já é amplamente aceito e que, mesmo sem existência real de problematização, acaba sendo tomado pela população como algo válido (senso comum). Em pesquisa científica também se deve evitar posição puramente ideológica, de modo que toda a discussão deve estar baseada em história ou dados concretos, muito embora seja característica própria da ciência a eterna “guerra” entre diferentes paradigmas e essa disputa seja justamente o “combustível” de novas descobertas. O ponto de partida de uma pesquisa científica seria encontrar um questionamento com base no qual se possa estabelecer um método para obtenção de resultados e elaboração de uma discussão pautada em argumentos e que seja capaz de levar a uma conclusão convincente sobre o referido questionamento. Em outras palavras, o conhecimento científico surgiria com base na escolha de um objeto de investigação específico e na determinação de um método para condução dessa investigação. TEMA 2 – EVOLUÇÃO DA PESQUISA NO BRASIL Nos últimos anos, a pesquisa teve um aumento quantitativo importante no Brasil, no entanto o impacto dessas pesquisas mundialmente, ou seja, seu progresso qualitativo, não chegou a ser tão expressivo. Entre 2007 e 2010 foi implantado no Brasil o Plano de Ação em Ciência, Tecnologia e Inovação para o Desenvolvimento Nacional (PACTI). De acordo com Rezende (2011), havia quatro estratégias norteadoras para esse plano: 1. Expansão e Consolidação do Sistema Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação; 2. Promoção da Inovação Tecnológica nas Empresas; 3. Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação em Áreas Estratégicas; 4. Ciência, Tecnologia e Inovação para o Desenvolvimento Social. A luno: Y uri G om es M allaco E m ail: yurim allaco27@ gm ail.com 5 Ao realizar um balanço dos resultados obtidos com a implantação desse plano, em 2010, foi possível perceber que houve uma série de melhorias no campo científico. Entre as melhorias percebidas encontram-se: o aumento de bolsas de estudo CNPq e CAPES, aumento nos recursos de financiamento para pesquisa, bem como a ampliação de ações internacionais de cooperação no campo de ciência e tecnologia. O PACTI também trouxe como benefício a implantação da chamada Nova Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP) e o estabelecimento de conexão de alta velocidade para todas as universidades e instituições destinadas à pesquisa no Brasil. Com isso, percebeu-se nos últimos anos um importante aumento no quantitativo da produção científica e das publicações brasileiras. Sendo que, segundo observação feita por Rezende (2011), nosso país detinha 2,69% da produção científica mundial em 2009, o que já correspondia ao dobro do valor levantado para o ano 2000. Segundo dados publicados em uma reportagem do Jornal Folha de São Paulo, em novembro de 2014, o Brasil subiu bastante no ranking mundial de países com maior produção, indo da 24ª posição em 1993 para 17ª em 2003 e, finalmente, para 13ª em 2013. E, ao levar em consideração as pesquisas na área de medicina clínica, o Brasil deu um salto nos números de artigos publicados que figuram entre os mais citados no mundo, passando de 14.324 artigos de 2003-2007 para 34.957 entre os anos de 2008-2012 (Leite, 2014). Esses dados revelam uma melhora também do ponto de vista de qualidade das publicações brasileirasnos últimos tempos. Essa melhoria na qualidade das publicações mostrava-se não só como algo necessário, mas essencial, tendo em vista que durante muito tempo o Brasil fez parte da relação de países considerados como meros “consumidores de inovação em Ciência e Tecnologia”, apoiado grandemente em pesquisa básica, ficando atrás de países desenvolvidos e tecnologicamente mais avançados, conhecidos como aqueles que pensam cientificamente e efetivamente inventam, descobrem e produzem coisas novas. Segundo dados de 2011 da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), os programas de pós-graduação formaram no Brasil de 2007 a 2010 um total de 140 mil portadores de títulos, sendo 100 mil mestres, 32 mil doutores e 8 mil mestres profissionais (Moritz et al., 2011). A luno: Y uri G om es M allaco E m ail: yurim allaco27@ gm ail.com 6 No entanto, ainda há muito a evoluir nesse sentido, pois os avanços da ciência e da pesquisa não dependem apenas dos recursos financeiros que são aplicados no setor e do número de pesquisadores envolvidos. Um país só se torna efetivamente forte em produção científica a partir do momento em que sua sociedade passa a ver na ciência e em suas descobertas algo realmente essencial, algo que traz inúmeros benefícios e que, além do avanço tecnológico, também é capaz de proporcionar soluções e melhoria na qualidade de vida de toda a população. Essa característica é muito bem ilustrada no texto dos professores que compõem o Fórum de Reflexão Universitária da UNICAMP: [...] a existência de ciência num país depende mais da visão do mundo que sua sociedade possui, do que da fração do PIB aplicada na compra de telescópios, espectrômetros, computadores, e outros equipamentos necessários à pesquisa. [...] Ter uma sociedade com cultura científica capaz de gerar conhecimento original não é o mesmo que ter alguns poucos grandes cientistas. Com recursos expressivos aplicados de forma continuada e um programa de formação de pesquisadores no exterior, um país pode gerar, em pouco tempo, grupos de pesquisa altamente qualificados, com alguns pesquisadores de nível internacional capazes de obter importantes prêmios acadêmicos. Entretanto, esses grupos estarão inteiramente desvinculados da realidade social do país e terão poucas chances de fertilizar, com suas descobertas, o sistema industrial e de serviços e gerar emprego e renda. Têm-se hoje no mundo vários países nessas condições, países cujos cientistas receberam até prêmios Nobel, mas cuja população continua a viver majoritariamente na miséria e na ignorância. (FÓRUM DE REFLEXÃO UNIVERSITÁRIA – UNICAMP) E pensando nas perspectivas para o futuro, na visão de Moritz et al. (2011), espera-se que até 2020 a pós-graduação brasileira já seja capaz de atuar efetivamente como uma espécie de “consciência social ampliada” voltada para os novos tempos e para dar condições a “aprendizagens significativas”. E tudo isso deve ocorrer em um contexto em que os profissionais que atuam nessa área da educação utilizem sua capacidade para aplicar práticas que contribuam para uma qualificação consistente de pessoas que atuem de forma relevante em um Brasil inovador e com visão de futuro. TEMA 3 – CLASSIFICAÇÃO DOS TIPOS DE PESQUISA Há mais de uma forma para classificação dos diferentes tipos de pesquisas. A luno: Y uri G om es M allaco E m ail: yurim allaco27@ gm ail.com 7 Ao levarmos em consideração o nível de profundidade do estudo realizado, as pesquisas podem ser classificadas em: pesquisa exploratória, pesquisa descritiva e pesquisa explicativa. Quando classificamos as pesquisas de acordo com os procedimentos utilizados para obtenção dos dados ou informações que as embasam, podemos separá-las basicamente em dois grupos. Há um grupo de pesquisas cujas fontes de dados/informações são bibliográficas ou documentais, e outro grupo em que predominam as fontes de dados/informações fornecidos por pessoas ou obtidos por meio de medições e determinações. Nesse último grupo figuram os estudos chamados experimentais, estudos de caso, caso-controle, levantamentos e demais estudos com pesquisa de campo. Vamos olhar mais de perto quais seriam as características dos diferentes tipos de pesquisa, classificados de acordo com a profundidade do estudo. Tabela 1 – Características dos diferentes tipos de pesquisa Exploratória Descritiva Explicativa Objetivo: tornar determinado objeto de estudo mais familiar. Obter mais informações sobre certo assunto Objetivo: realizar uma análise ou correlação entre variáveis, sendo que tais variáveis dizem respeito a fatos ou fenômenos. Objetivo: determinar ou identificar quais são os fatores que causam ou que contribuem para a ocorrência dos fenômenos que se busca estudar. Problema de pesquisa: em geral não tem relação entre variáveis. Costuma-se ter uma única variável, com relação a qual são obtidas informações. Problema de pesquisa: focado na investigação, sem interferência direta do pesquisador, da frequência de determinado fato ou fenômeno, estabelecendo suas características e sua relação com outros fatores. Problema de pesquisa: em geral esses estudos não se limitam à descrição de fatos ou fenômenos, concentrando-se nas explicações das causas e das relações de tais fatos/fenômenos com outros fatores. A luno: Y uri G om es M allaco E m ail: yurim allaco27@ gm ail.com 8 Planejamento ou estrutura: é flexível, de modo que pode se constituir em uma revisão bibliográfica ou documental, um levantamento de dados, um estudo de caso ou até mesmo outros tipos de pesquisa. Planejamento e estrutura: pode ser estruturada como um levantamento, um estudo de caso ou mesmo outro tipo de pesquisa. O importante é que o trabalho estabeleça relação/correlação entre pelo menos duas variáveis. Planejamento e estrutura: as pesquisas explicativas são estruturadas como estudos tipo caso- controle ou como pesquisas experimentais. Instrumentos de pesquisa: entrevistas, formulários, avaliações clínicas, de comportamento, de situação entre outros. Instrumentos de pesquisa: questionários, formulários de pesquisa, entrevistas, fichas de registro de observações. Instrumentos de pesquisa: população ou amostra. As pesquisas científicas também podem ser classificadas levando em consideração diferentes características, conforme demonstrado na tabela a seguir. Tabela 2 – Classificação de pesquisa científicas Classificação Tipos de pesquisa Quanto à finalidade Pesquisa básica ou fundamental Pesquisa aplicada ou tecnológica Quanto à natureza Pesquisa observacional Pesquisa experimental Quanto à forma de abordagem Pesquisa qualitativa Pesquisa quantitativa: descritiva analítica Quanto aos objetivos Pesquisa exploratória Pesquisa explicativa A luno: Y uri G om es M allaco E m ail: yurim allaco27@ gm ail.com 9 Quanto aos procedimentos técnicos Pesquisa bibliográfica Pesquisa documental Pesquisa de laboratório Pesquisa de campo Quanto ao desenvolvimento no tempo Pesquisa transversal Pesquisa longitudinal Pesquisa prospectiva Pesquisa retrospectiva Fonte: Fontelles et al, 2009. TEMA 4 – PESQUISA QUALITATIVA Os métodos qualitativos de pesquisa permitem que seja estudado, com maior profundidade, o contexto de ocorrência de determinado fenômeno, além de possibilitarem a observação de vários aspectos em uma pequena população de estudo. A principal preocupação em pesquisas qualitativas é a real aproximação com o objeto de estudo, por meio, por exemplo, do levantamento de dados, de características e comportamentos em um grupo de indivíduos, procurando trabalhar esses dados na busca por seu significado. Desse modo, não há preocupaçãoefetiva em medir determinado fenômeno, sobretudo em grandes populações, mas sim em entender o contexto em que certo fenômeno acontece ou suas razões de ocorrência. Também é possível dizer que a pesquisa qualitativa é adequada para investigações em que se busca entender um fenômeno específico. Para isso, utiliza-se de interpretações, comparações e descrições de modo a compreender sua essência, inter-relações com outros fenômenos e até mesmo inferir algumas consequências sem, em geral, preocupar-se com quantificação e amostragem. É comum em pesquisas qualitativas que os sujeitos ou objetos de pesquisa sejam selecionados com certa “intencionalidade”, ou seja, estes não são escolhidos de modo aleatório, mas sim levando em consideração alguns critérios preestabelecidos e que têm relação direta com os objetivos do estudo. Além disso, também é possível levar em consideração a comodidade no contato com os indivíduos, a disponibilidade ou mesmo a importância destes para o A luno: Y uri G om es M allaco E m ail: yurim allaco27@ gm ail.com 10 embasamento e esclarecimento do tema e da hipótese propostos (Oliveira, 2011). Como técnicas para coleta de dados, costumam-se utilizar: observações diretas ou participantes, entrevistas com profundidade, elaboração de redes de relações e entrevistas em grupo (Víctora et al, 2000). De acordo com Oliveira (2011), nesse tipo de pesquisa a configuração é baseada em cinco características principais: 1. Ambiente natural: o pesquisador costuma fazer trabalho intensivo de campo, mantendo, dessa forma, um contato mais prolongado com o ambiente e com o objeto de estudo. Assim, o ambiente natural é usado como fonte direta de dados, e o pesquisador funciona como principal instrumento. 2. Dados descritivos: os dados apresentados nessas pesquisas são predominantemente descritivos, e estas são ricas em descrições tanto de pessoas quanto de acontecimentos ou situações, além de fotografias, desenhos etc. 3. Preocupação com o processo: o principal intuito do pesquisador é estudar como determinado problema (levantado como problema de pesquisa) se relaciona com o cotidiano e como este se manifesta em atividades e procedimentos. Dessa forma, a preocupação com o processo é muito maior que com o produto. 4. Preocupação com o significado: nos estudos qualitativos há preocupação em captar a perspectiva dos participantes, ou seja, busca-se verificar o significado que os participantes dão àquelas questões que estão sendo abordadas. 5. Processo de análise indutivo: não constitui uma preocupação buscar, antes do início das pesquisas, evidências que realmente comprovem as hipóteses levantadas. Os resultados baseiam-se na consolidação de discussões por meio da avaliação dos dados em um processo “de baixo para cima”, por processo de análise indutivo. Em resumo, segundo Oliveira (2011, p. 24), a pesquisa qualitativa ou naturalista “ (...) envolve a obtenção de dados descritivos, obtidos no contato direto do pesquisador com a situação estudada, enfatiza mais o processo do que o produto e se preocupa em retratar a perspectiva dos participantes. Entre as A luno: Y uri G om es M allaco E m ail: yurim allaco27@ gm ail.com 11 várias formas que pode assumir uma pesquisa qualitativa, destacam-se a pesquisa do tipo etnográfico e o estudo de caso.” Um exemplo que nos ajuda a visualizar essa correlação pode ser encontrado na pesquisa realizada por Gonçalves (1998), que trata da questão da adesão ao tratamento para tuberculose em Pelotas, RS. Tendo como pressuposto que cultura de um grupo afeta as suas decisões sobre saúde, doença, medicalização, cura e morte, a pesquisadora constrói uma problemática de pesquisa que enfoca aspectos da cultura de um grupo de pessoas vinculadas ao Programa de Controle da Tuberculose - PCT - promovido pelo Ministério da Saúde e suas relações com a adesão ou não ao tratamento da doença. Gonçalves, partindo de pressupostos antropológicos relativos à forma de inserção no mundo cultural, opta por uma metodologia qualitativa de pesquisa que permite maior penetração do pesquisador no mundo dos pesquisados, obtendo assim dados que não se limitavam ao seguimento ou ao abandono formal conforme o cadastro do PCT, mas a um intrincado processo de aproximações e distanciamentos do tratamento para tuberculose a partir de diferenças de gênero, idade, expectativas e trajetórias sociais dos pacientes, entre outras coisas. Fica evidente nessa pesquisa que o dado relativo às formas diferentes de adesão ao tratamento só se constitui como evidência na medida em que se pressupõe que os "pacientes" são, acima de tudo, "agentes", os quais podem fazer, e de fato fazem, uso diferenciado do tratamento proposto. (Victora, et al, 2000) Uma das principais limitações das pesquisas qualitativas vem do fato de demandar um longo período de dedicação para permitir a realização de um trabalho com profundidade e bastante detalhado. Outra limitação seria a importância da experiência do pesquisador em campo, tendo em vista que em geral esse tipo de pesquisa não se baseia apenas na simples realização de uma entrevista. Desse modo, não costuma ser viável realizar essas pesquisas com um grande número de indivíduos ou com amostras grandes, o que acaba por inviabilizar certas generalizações na discussão dos resultados. TEMA 5 – PESQUISA QUANTITATIVA Nas pesquisas quantitativas, trabalha-se com variáveis, e os dados são expressos numericamente, empregando-se a quantificação tanto no momento de coleta das informações quanto no momento de sua análise. Para análise dos dados, são utilizados métodos ou regras estatísticas, entre eles médias, coeficientes de correlação, regressões etc. Em geral busca-se caracterizar as variáveis do ponto de vista de sua dispersão ou tendência central, ou verificar sua frequência. Nesse tipo de pesquisa busca-se a validação de hipóteses por meio do uso de dados estruturados e da análise de um número grande de casos A luno: Y uri G om es M allaco E m ail: yurim allaco27@ gm ail.com 12 (indivíduos, produtos etc.) que sejam representativos e que permitam, assim, um curso final de ação (Oliveira, 2011). Tendo em vista sua característica de análise, é possível conseguir maior precisão e, dessa forma, seus resultados permitem quantificação, utilização no planejamento de ações coletivas e na generalização de resultados da amostra, sobretudo quando essa amostra selecionada para estudo é representativa do todo. A determinação do tamanho da amostra e de sua composição para uso em pesquisas quantitativas utiliza ferramentas da estatística. Essa composição deve ser muito bem delimitada caso se pretenda, ao final da pesquisa, inferir soluções ou aplicações para a população de dados como um todo, ou seja, deve- se fazer a composição da amostra pressupondo que as determinações realizadas para um grupo determinado sejam capazes de representar a totalidade. Em estudos populacionais, pode-se trabalhar com amostragens do tipo aleatória ou estratificada, sendo essas técnicas mais comuns em estudos de coorte, prevalência ou caso-controle (Víctora et al, 2000). A forma mais comum de coleta de dados em pesquisas quantitativas é a aplicação de questionários, compostos em geral por questões fechadas com opções de resposta já previamente determinadas pelo pesquisador. Entre as limitações desse tipo de técnica de coleta de dados, podemos citar a ocorrência de possíveis mal-entendidos na escolha das opções de resposta. Isso pode ocorrer devido ao contato breve do pesquisador com o entrevistado e o fato de não haver possibilidade de resposta diferente daquelas já previamente estabelecidas durante a construção do instrumento de coleta. No entanto, essa limitação pode ser corrigida ao realizar a aplicação desse questionário em um estudo ou projeto-pilotopara uma população aleatória, com o objetivo de verificar antecipadamente a necessidade de ajustes no instrumento antes da sua aplicação à população do estudo. As pesquisas quantitativas podem ser divididas em dois grupos, com base na complexidade de análise e de apresentação dos resultados (Fontelles et al., 2009): 1. Pesquisa descritiva: nas pesquisas quantitativas do tipo descritiva, a forma de condução do estudo pelo pesquisador, em geral, não permite testes de hipóteses com base nos dados levantados. O objetivo do estudo A luno: Y uri G om es M allaco E m ail: yurim allaco27@ gm ail.com 13 costuma ser a obtenção de uma descrição do fato, da característica ou da população em si. Dessa forma, as hipóteses podem ser levantadas posteriormente, pois a pesquisa descritiva não visa inicialmente avaliar o mérito, mas sim descrever as características de algo que ocorre em determinada amostra ou população. 2. Pesquisa analítica: esse tipo de pesquisa quantitativa busca explicar o contexto de ocorrência de um fenômeno em uma amostra ou grupo. Sendo assim, pode ser considerada mais complexa que a pesquisa descritiva. As pesquisas analíticas demandam uma avaliação mais aprofundada, pois buscam determinar uma relação entre causa e efeito de determinado fenômeno. Mas, em síntese, a principal diferença entre estudos analíticos e descritivos reside no fato de os estudos analíticos permitirem a realização de predições com relação à população da qual faz parte a amostra estudada, além da possibilidade de aplicação de testes de hipótese. FINALIZANDO Analisando tudo que foi abordado a respeito da pesquisa científica, é possível verificar que a escolha da metodologia a ser utilizada para obtenção dos dados ou informações deve estar intimamente atrelada aos objetivos e ao objeto de pesquisa. Em outras palavras, dependendo do objetivo a que se presta determinado estudo e dependendo também do objeto (aquilo que se pretende estudar), um tipo de pesquisa dará melhores resultados do que outro. Ou seja, dependendo do tipo de abordagem escolhida, você será ou não capaz de chegar a resultados que realmente atendem aos objetivos propostos e que permitem responder às hipóteses levantadas. Apesar de terem sido abordadas separadamente nesta aula, há momentos em que, dependendo dos resultados que se busca, pode haver inclusive a necessidade de combinação de técnicas qualitativas e quantitativas em uma mesma pesquisa. Pois é possível encarar as abordagens qualitativas e quantitativas como complementares, em vez de concorrentes. A luno: Y uri G om es M allaco E m ail: yurim allaco27@ gm ail.com 14 REFERÊNCIAS CIÊNCIA. Dicionário Michaelis on-line. Disponível em: <http://michaelis.uol.com.br/moderno-portugues/busca/portugues- brasileiro/ciencia/>. Acesso em: 19 dez. 2017. FONTELLES, M. et al. Metodologia da pesquisa científica: diretrizes para a elaboração de um protocolo de pesquisa. Rev. para. Med, v. 23, n. 3, 2009. FÓRUM DE REFLEXÃO UNIVERSITÁRIA – UNICAMP. Os desafios da pesquisa no Brasil. São Paulo em perspectiva. v. 16, n. 4, p.15-23, 2002. LAKATOS, E. M.; MARCONI, M. A. Fundamentos de metodologia científica. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2007. LEITE, M. Em 20 anos, país vai de 24º a 13º em ranking de pesquisa. Folha de São Paulo, São Paulo, 1º nov. 2014. Caderno Ciência. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/ciencia/2014/11/1541834-em-20-anos-pais-vai- de-24-a-13-em-ranking-de-pesquisa.shtml>. Acesso em: 19 dez. 2017. MORITZ, G., et al. A pós-graduação brasileira: evolução e principais desafios no ambiente de cenários prospectivos. XI Colóquio Internacional sobre Gestão Universitária na América do Sul / II Congresso Internacional IGLU. Florianópolis, 2011. OLIVEIRA, M. F. de. Metodologia científica: um manual para a realização de pesquisas em administração. Catalão: UFG, 2011. 72 p. REZENDE, S. M. Produção científica e tecnológica no Brasil: conquistas recentes e desafios para a próxima década. RAE, São Paulo, v. 51, n. 2, p. 202 - 209, 2011. VICTORA, C. G. et al. Metodologias qualitativa e quantitativa. In: _____. Pesquisa qualitativa em saúde – uma introdução ao tema. Porto Alegre: Tomo Editorial, 2000. A luno: Y uri G om es M allaco E m ail: yurim allaco27@ gm ail.com 1 METODOLOGIA CIENTÍFICA AULA 2 Prof.ª Ana Paula Weinfurter Lima Coimbra de Oliveira A luno: Y uri G om es M allaco E m ail: yurim allaco27@ gm ail.com 2 CONVERSA INICIAL Olá! Hoje vamos estudar sobre a aplicação da ética nas pesquisas envolvendo seres humanos e sobre comitês de ética em pesquisa. Os assuntos que a serem tratados nesta aula são: Histórico da pesquisa com seres humanos. Comitês de ética em pesquisa envolvendo seres humanos. Resolução 466 de 2012. Termos de consentimento e de assentimento. Plataforma Brasil. Bons estudos! CONTEXTUALIZANDO As diversas áreas das ciências da saúde passaram nas últimas décadas por uma série de avanços tecnológicos e, em certos casos, tais avanços geraram a necessidade de discussões e reflexões acerca de seus limites e possibilidades de utilização. Em outras palavras, a magnitude alcançada pelos avanços técnico- científicos determinou que não seria mais possível a aplicação do método científico sem realizar a ponderação entre riscos e benefícios. Com base nessas necessidades, desenvolveu-se a bioética como um campo do conhecimento que busca dar respostas aos desafios e às mudanças que surgiram, sobretudo no século XX. A bioética surgiu principalmente para dar suporte a debates relacionados ao respeito, ao cuidado e à proteção de todos os seres vivos e de seu hábitat, em contextos que vão além das relações morais e daquilo que consta instituído em códigos deontológicos ou códigos de ética das diferentes profissões (Motta et al., 2012). Dessa forma, para educar moralmente, é necessário educar pelo exemplo, no cotidiano, de modo que estes princípios não sejam incorporados apenas às nossas atividades profissionais, mas também ao aprimoramento do sentido ético de nossas ações (Júnior et al., 2016). A luno: Y uri G om es M allaco E m ail: yurim allaco27@ gm ail.com 3 Parece apropriado, portanto, apresentar um trecho do depoimento de Eric Kandel, expresso no trabalho de Kipper (2010) para iniciarmos nossas reflexões relacionadas à ética em pesquisa. Eric Kandel era um psiquiatra e geneticista que nasceu na Alemanha e imigrou antes da invasão de Hitler, indo para os EUA. Acompanhe um depoimento de Kandel: Quando pensamos sobre valores éticos na ciência (nós cientistas), somos tentados a assumir que estes valores são óbvios; eles estão implícitos no que fazemos... Foi neste contexto que me lembrei recentemente, quando escrevi sobre minha vida pessoal e profissional, que nem sempre foi assim. Mesmo cientistas que parecem a eles próprios bem-intencionados e, algumas vezes, para os outros também, podem ir por um caminho que, imperceptivelmente para eles, se torna completamente antiético. (Kipper, 2010, p. 225) TEMA 1 – HISTÓRICO DA PESQUISA COM SERES HUMANOS No início do que chamamos de ciência moderna, Galileu (1564-1642), com a aprovação de Francis Bacon (1561-1626), procurava dar a certeza de que a ciência era uma atividade objetiva, benéfica para a humanidade (por promover conhecimento) e eticamente neutra (por dar importância apenas a valores morais relacionados a uma prática correta) (Kottow, 2008). André Vesalio (1514-1564) buscou estudar a anatomia humana por meio da avaliação de cadáveres, o que confrontava as regras teológicas e morais da época, que consideravam a abertura e dissecação de cadáveres um sacrilégio ou uma profanação. A não ser que se tratasse de um homem e provavelmente um bandido. Os estudos de Vesalio buscavam desmentiras informações dadas por Galeno (129-199) de que o estudo de porcos e macacos era capaz de dar as informações necessárias para compreender a anatomia interna do ser humano. A autorização oficial do uso de cadáveres humanos para fins de estudo só foi dada pelo Papa Clemente VII, em 1537 (Kottow, 2008; Kipper, 2010). O século XVII ficou marcado como o auge das pesquisas envolvendo animais, o que levou a uma série de debates acerca desse tema, até que, no século XIX, foram criadas as primeiras sociedades de proteção dos animais, e a autoexperimentação passou a ser um fenômeno característico dessa época. Podemos citar como exemplos dessa prática o estudo dos efeitos da morfina A luno: Y uri G om es M allaco E m ail: yurim allaco27@ gm ail.com 4 realizado por Sertüner em si mesmo e também Davy, que inalava óxido nitroso com o intuito de conhecer suas propriedades (Kottow, 2008; Kipper, 2010). Em meio a todo esse cenário, ainda no século XIX, Claude Bernard já indicava que não havia como justificar o progresso científico se, para alcançá-lo, fosse necessário desrespeitar o bem-estar das pessoas envolvidas. Dessa forma, ele buscou estabelecer alguns princípios éticos que pudessem direcionar os pesquisadores na realização de seus trabalhos, incluindo a ideia da necessidade de consentimento por parte dos indivíduos participantes das pesquisas (Kipper, 2010). No entanto, a história das pesquisas envolvendo seres humanos é pontuada por uma série de fatos carregados de situações abusivas com relação aos participantes dos estudos. Em 1905, Pierre-Charles Bongrand elaborou uma tese de doutorado na qual apresenta uma série de experimentos que o levaram à conclusão de que, mesmo que por vezes pudessem ser considerados até imorais, certos experimentos eram “ocasionalmente necessários”. Segundo Bongrand, seriam justificáveis análises conduzidas em prol da ciência desde que fossem realizadas em condições controladas e em populações em que isso pudesse ser justificável, como moribundos, prisioneiros e condenados à morte, mas não em populações vulneráveis como crianças, gestantes ou pessoas pobres (Kottow, 2008). Em 1914, aparecem os primeiros indícios da participação do paciente em decisões de caráter clínico. Nessa época conduzir procedimentos cirúrgicos sem o consentimento prévio da pessoa passou a ser considerado ato ilícito. Essa atitude ganhou reforço em 1957, com a introdução da expressão “consentimento informado”. Alexander Mitscherlish e Fred Mielke publicaram, em 1978, um importante livro que documentava e comentava os julgamentos dos médicos nazistas no tribunal de Nuremberg (1947). Nesse tribunal foram julgados os atos relacionados a “pesquisas” desenvolvidas durante a Segunda Guerra (1939- 1945), as quais levaram ao sacrifício de pessoas que eram consideradas à época da guerra como “vidas indignas de serem vividas”. Nesse período, indivíduos foram usados, por exemplo, para testar a tolerância humana a condições A luno: Y uri G om es M allaco E m ail: yurim allaco27@ gm ail.com 5 extremas de déficit de oxigênio e de injeção de organismos patogênicos, entre outras tantas situações (Kottow, 2008; Albuquerque, 2013). Das situações ocorridas nesse período surgiu, em 1949, o Código de Nuremberg. Este código, apesar de ter sido criado com base nos fatos julgados no tribunal de Nuremberg, constituiu o primeiro documento internacional sobre ética em pesquisa (Kottow, 2008; Kipper, 2010; Motta et al., 2012). Com base na concepção do Código de Nuremberg, indicou-se, por exemplo, a necessidade de realização de uma fase de estudos pré-clínicos antes da fase de testes em seres humanos. Além disso, o registro da necessidade de obtenção de consentimento, dado de forma voluntária, constituiu um avanço muito relevante conseguido com base nesse código. A partir desse momento, o consentimento voluntário do indivíduo passa a ser essencial para sua inclusão como sujeito na pesquisa, e o fornecimento de informações claras sobre os processos e procedimentos que serão empregados no estudo envolvendo o indivíduo é de responsabilidade do pesquisador. Dessa forma, o pesquisador se responsabiliza pela transmissão de informações claras e de qualidade para obtenção de um consentimento realmente esclarecido por parte do participante. Como principal limitação do código, pode-se citar o fato de que os envolvidos em sua elaboração na época estavam excessivamente preocupados com a autonomia individual. Mas, o que havia de mais importante a ser aprendido com as barbáries que lhe deram origem era que, na verdade, sua essência estava relacionada à destruição de outro ser humano, e não apenas à ausência de consentimento (Kottow, 2008). Outra situação importante ocorrida nessa época diz respeito ao projeto Tuskegee Syphilis Study, em que se conduziu um estudo para conhecimento da história natural da sífilis. O estudo foi realizado entre 1932 e 1972, utilizando 399 pacientes negros que recebiam placebo, mesmo após a descoberta da penicilina como tratamento eficaz para essa patologia na década de 40. Além disso, outro problema grave dessa pesquisa diz respeito ao fato de que a maioria dos pacientes sequer sabia que estava fazendo parte de uma pesquisa (Kottow, 2008; Motta et al., 2012; Albuquerque, 2013). A luno: Y uri G om es M allaco E m ail: yurim allaco27@ gm ail.com 6 Com base nas denúncias relacionadas a esse estudo, o governo dos Estados Unidos criou a Comissão Nacional para a Proteção de Sujeitos Humanos em Pesquisas Biomédicas e Comportamentais. Essa comissão atuou entre 1974 e 1978 e, com base nas discussões ocorridas, foi publicado o Relatório de Belmont, o qual foi considerado na época um marco na ética em pesquisa e permitiu a criação da teoria dos princípios, proposta por Tom Beauchamp e James Childress, considerada a primeira teoria na área de bioética (Kipper, 2010; Albuquerque, 2013). O relatório de Belmont, publicado em 1978, introduz “intencionalmente a linguagem dos princípios éticos ao exigir que toda pesquisa seja respeitosa com as pessoas, benéfica para a sociedade e equânime em seu balanço entre riscos e benefícios” (Kottow, 2008, p. 13). Outro importante avanço no campo da bioética ocorreu na década de 1960. Naquela época, tendo em vista o aumento das atividades de pesquisa na área das ciências da Saúde, verificou-se a necessidade de ir além do Código de Nuremberg no que diz respeito à ética em pesquisa. Buscava-se, então, a elaboração de uma normatização ética mais completa, o que incitou a criação de grupos de estudo entre os integrantes da Associação Médica Mundial (AMM). Em 1964, com base nas discussões que ocorreram na AMM, foi elaborada a Declaração de Helsinque. Com essa declaração deu-se início à análise acadêmica das pesquisas na área de Saúde, que passou posteriormente para a responsabilidade da bioética (Kipper, 2010). O Conselho Britânico de Pesquisa Médica publicou um documento, simultaneamente à Declaração de Helsinque, no qual é enfatizado que, ao estudar um novo procedimento médico, este deve ser comparado com o melhor método já disponível (Kottow, 2008). Descarta-se, dessa forma, o uso de placebos, a não ser que uma terapia eficaz ainda não esteja disponível. Esse documento é muito semelhante à Declaração de Helsinque, sendo também muito claro na colocação dos indivíduos e da sua proteção à frente dos interesses da ciência ou mesmo da sociedade em situações de pesquisa. Segundo esse documento, isso deve ser observado, sobretudo, nos casos de indivíduos que se encontram incapazes de dar seu consentimento de forma livre e esclarecida. A luno: Y uri G om es M allaco E m ail: yurim allaco27@ gm ail.com 7 Em 1975 houve uma revisão da Declaração de Helsinque, com base na qual foi reforçada a necessidade do consentimento informadoe instituiu-se a necessidade de criação de Comitês de Ética em Pesquisa com Seres Humanos. E, nesse contexto, também foi aconselhado que não houvesse publicação de artigos eticamente questionáveis. Dessa forma, em casos nos quais o participante esteja por alguma razão impossibilitado de fornecer seu consentimento de forma livre e informada, este não pode ser incluído em estudos que não o beneficiem diretamente ou que tragam a ele riscos desnecessários. No âmbito das ciências da saúde, a regulação da atividade científica tem como normas mais conhecidas as declarações da Associação Médica Mundial. No entanto, além dessas, existem as normas do Conselho de Organizações Internacionais de Ciências Médicas (CIOMS/OMS) e do Conselho Nuffield de bioética, bem como os documentos do Conselho Europeu e diversas declarações voltadas para assuntos específicos, como as pesquisas com embriões, pesquisas com material genético e estudos epidemiológicos (Kottow, 2008). Revisada em 2000, em 2008 e em 2014, a Declaração de Helsinque continua sendo a principal referência na América Latina por conta de sua característica de fácil consulta e também pelo seu compromisso em proteger os pacientes e participantes. TEMA 2 – COMITÊS DE ÉTICA EM PESQUISA ENVOLVENDO SERES HUMANOS Conforme comentamos anteriormente, na revisão da Declaração de Helsinque, realizada em 1975, foi reforçada a necessidade de criação de comitês de ética, dada a necessidade de garantir que os participantes fornecessem consentimento de forma livre e esclarecida. Em 1986 foi proposta no Brasil a construção de um documento para garantia da consulta à população pesquisada. Surgiu, assim, o Código de Direitos de Saúde das Comunidades, proposto pela Sociedade Brasileira de Medicina Tropical e pela Associação Brasileira de Antropologia. Esse código A luno: Y uri G om es M allaco E m ail: yurim allaco27@ gm ail.com 8 trazia diretrizes que previam o direito à informação e a garantia de que não houvesse prejuízo dos participantes nas pesquisas em saúde em comunidades (Schuch; Víctora, 2015). De acordo com Oliveira et al. (2013), as propostas de criação de comitês de ética em pesquisa (CEP) também figuram nas Diretrizes Éticas Internacionais para a Pesquisa Biomédica em Seres Humanos de 1993 do Conselho de Organizações Internacionais de Ciências Médicas (CIOMS/OMS) e na Resolução n. 01/88 do Conselho Nacional de Saúde (CNS) do Brasil. A Resolução n. 01/88 foi publicada pouco tempo depois da criação do Conselho Nacional de Saúde (CNS) e, não só propunha, mas trazia a obrigatoriedade de criação de comitês de ética em instituições que realizassem pesquisas na área da saúde. Além disso, determinava a necessidade de aplicação do consentimento informado, sendo que esse consentimento só poderia deixar de ser utilizado em casos de pesquisas consideradas com riscos “menores que o mínimo”. Entretanto, como comenta Kipper (2010), essa resolução não teve o impacto esperado na comunidade científica. Sendo assim, o CNS se viu obrigado a reavaliar os critérios a serem aplicados nacionalmente em pesquisas envolvendo seres humanos. Foi criado, então, um grupo de trabalho com essa finalidade, o que culminou com a publicação da Resolução 196/96, nomeada como Diretrizes e Normas Regulamentadoras de Pesquisas Envolvendo Seres Humanos. Com base na publicação da Resolução 196/96, a criação de CEPs passa a ser exigida em nível nacional e de forma que todo o trabalho de pesquisa envolvendo seres humanos passa a ter de ser avaliado obrigatoriamente por um CEP antes do início de sua execução. Nessa norma a pesquisa envolvendo seres humanos está caracterizada dessa forma: “pesquisa que, individual ou coletivamente, tenha como participante o ser humano, em sua totalidade ou partes dele, e o envolva de forma direta ou indireta, incluindo o manejo de seus dados, informações ou materiais biológicos” (Brasil, 1996, item II.18, p. 3). Os comitês de ética em pesquisa com seres humanos são criados com o intuito de proteger e salvaguardar os sujeitos de pesquisa, de modo que seja garantida a condução do projeto dentro de padrões éticos e obedecendo aos A luno: Y uri G om es M allaco E m ail: yurim allaco27@ gm ail.com 9 princípios da justiça, da equidade, da beneficência e da não maleficência (Oliveira et al., 2013). Ainda de acordo com Oliveira et al. (2013), os CEPs passaram a ser constituídos no Brasil em 1997 e, em 2012, já havia um total de 645 desses comitês. Com base nessa Resolução, os CEPs devem ser compostos por um número balanceado de homens e mulheres. Deve-se dar preferência à composição com membros que não sejam exclusivamente da área de Saúde, permitindo ao comitê um caráter de multidisciplinaridade que dá melhor suporte às discussões e apreciações éticas. Também é importante ressaltar que é garantida independência de atuação aos membros do CEP, por meio da Resolução 196/96. Ou seja, os membros do comitê não podem ser pressionados em suas decisões, quer seja pelos seus superiores ou pelos interessados na pesquisa. Por fim, o Manual Operacional adotado pelos CEPs no Brasil determina que, pelo menos uma vez ao ano, sejam realizados seminários ou encontros com o intuito de discutir aspectos éticos verificados com frequência nos estudos avaliados. Dessa forma, as discussões contribuiriam para o aperfeiçoamento dos membros do comitê com relação aos assuntos estudados (Brasil, 2007). A partir do ano de 2012 no Brasil, o curso Bioética Aplicada às Pesquisas Envolvendo Seres Humanos passou a ser disponibilizado para realização a distância. Esse curso é ofertado anualmente pela Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca (ENSP), da Fundação Oswaldo Cruz, Conselho Nacional de Saúde / CONEP e Secretaria de Gestão Participativa / Ministério da Saúde, com um total de mais de mil vagas por turma (Oliveira et al., 2013). TEMA 3 – RESOLUÇÃO 466/2012 A Resolução 196/96, como comentamos no tema anterior, levou à criação dos CEP e ao surgimento da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa CONEP. No entanto, esta foi revogada pela Resolução 466/12, a qual entrou em vigor em junho de 2013. A luno: Y uri G om es M allaco E m ail: yurim allaco27@ gm ail.com 10 Há uma série de diferenças entre essas duas resoluções, tendo sido feitas modificações, supressões e inclusões de diversos trechos. Entre as inclusões, pode-se citar a definição de alguns termos, entre eles: achados da pesquisa, assentimento livre e esclarecido, assistência ao participante da pesquisa, benefícios da pesquisa, instituição coparticipante de pesquisa, participante da pesquisa, pesquisa em reprodução humana, pesquisador, provimento de material prévio, relatório parcial, relatório final e termo de consentimento livre e esclarecido (Andrade, 2013). Como consequência, o termo “sujeito da pesquisa”, que era utilizado na resolução 196/96, passa a ser substituído pelo termo “participante da pesquisa”, sendo então suprimida a definição de sujeito da pesquisa na versão de 2012. A definição de pesquisa foi totalmente alterada em 2012, passando a ser como segue: “Pesquisa – processo formal e sistemático que visa à produção, ao avanço do conhecimento e/ou à obtenção de respostas para problemas mediante emprego de método científico” (Brasil, 2013, item II.12, p. 2). Na Resolução 466/12 passou-se a determinar que a Instituição proponente seria aquela à qual o pesquisador está vinculado – ao contrário do que figurava na resolução 196/96, na qual a Instituição proponente era definida como aquela em que eram realizadas as investigações científicas. Outra alteração importante diz respeito à questão do ressarcimento devido aos participantes da pesquisa. Na versão de 2012 da Resolução a questão do ressarcimento figura da seguinte maneira: “Ressarcimento – compensação material, exclusivamentede despesas do participante e seus acompanhantes, quando necessário, tais como transporte e alimentação” (Brasil, 2013, item II.21, p. 3). No item III da resolução 466/12 que trata dos aspectos éticos da pesquisa envolvendo seres humanos houve também importantes alterações, como pode ser observado no quadro a seguir, que traz uma comparação entre os textos das duas resoluções: A luno: Y uri G om es M allaco E m ail: yurim allaco27@ gm ail.com 11 Quadro 1 – Diferenças entre as resoluções 196/96 e 466/12 Resolução 196/96 Resolução 466/12 As pesquisas envolvendo seres humanos devem atender às exigências éticas e científicas fundamentais. As pesquisas envolvendo seres humanos devem atender aos fundamentos éticos e científicos pertinentes. A eticidade em pesquisa implica: A eticidade em pesquisa implica: a) consentimento livre e esclarecido dos indivíduos alvo e a proteção a grupos vulneráveis e aos legalmente incapazes (autonomia). Neste sentido, a pesquisa envolvendo seres humanos deverá sempre tratá-lo em sua dignidade, respeitá-lo em sua autonomia e defendê-lo em sua vulnerabilidade. a) respeito ao participante da pesquisa em sua dignidade e autonomia, reconhecendo sua vulnerabilidade, assegurando sua vontade de contribuir e permanecer, ou não, na pesquisa, por intermédio de manifestação expressa, livre e esclarecida. b) ponderação entre riscos e benefícios, tanto atuais como potenciais, individuais ou coletivos comprometendo-se com o máximo de benefícios e o mínimo de danos e riscos. b) ponderação entre riscos e benefícios, tanto conhecidos como potenciais, individuais ou coletivos, comprometendo-se com o máximo de benefícios e o mínimo de danos e riscos. c) garantia de que danos previsíveis serão evitados (não maleficência). c) garantia de que danos previsíveis serão evitados. d) relevância social da pesquisa com vantagens significativas para os sujeitos da pesquisa e minimização do ônus para os sujeitos vulneráveis, o que garante a igual consideração dos interesses envolvidos, não perdendo o sentido de sua destinação sócio-humanitária (justiça e equidade). d) relevância social da pesquisa, o que garante a igual consideração dos interesses envolvidos, não perdendo o sentido de sua destinação sócio-humanitária. III.2 - Todo procedimento de qualquer natureza envolvendo o ser humano, cuja aceitação não esteja ainda consagrada na literatura científica, será considerado como pesquisa e, portanto, deverá obedecer às diretrizes da presente Resolução. Os procedimentos referidos incluem entre outros, os de natureza instrumental, ambiental, nutricional, educacional, A luno: Y uri G om es M allaco E m ail: yurim allaco27@ gm ail.com 12 sociológica, econômica, física, psíquica ou biológica, sejam eles farmacológicos, clínicos ou cirúrgicos e de finalidade preventiva, diagnóstica ou terapêutica. III.3 - As pesquisas em qualquer área do conhecimento, envolvendo seres humanos, deverá observar as seguintes exigências: III.2 - As pesquisas, em qualquer área do conhecimento envolvendo seres humanos, deverão observar as seguintes exigências: a) ser adequada aos princípios científicos que a justifiquem e com possibilidades concretas de responder a incertezas. Igual. b) estar fundamentada na experimentação prévia realizada em laboratórios, animais ou em outros fatos científicos. b) estar fundamentada em fatos científicos, experimentação prévia e/ou pressupostos adequados à área específica da pesquisa. c) ser realizada somente quando o conhecimento que se pretende obter não possa ser obtido por outro meio. Igual. d) prevalecer sempre as probabilidades dos benefícios esperados sobre os riscos previsíveis. d) buscar sempre que prevaleçam os benefícios esperados sobre os riscos e/ou desconfortos previsíveis. e) obedecer à metodologia adequada. Se houver necessidade de distribuição aleatória dos sujeitos da pesquisa em grupos experimentais e de controle, assegurar que, a priori, não seja possível estabelecer as vantagens de um procedimento sobre outro através de revisão de literatura, métodos observacionais ou métodos que não envolvam seres humanos. e) utilizar os métodos adequados para responder às questões estudadas, especificando-os, seja a pesquisa qualitativa, quantitativa ou quali-quantitativa. f) ter plenamente justificada, quando for o caso, a utilização de placebo, em termos de não maleficência e de necessidade metodológica. Remanejada para o item b III.3. Inclusão: f) se houver necessidade de distribuição aleatória dos participantes da pesquisa em grupos experimentais e de controle, assegurar que, a priori, não seja A luno: Y uri G om es M allaco E m ail: yurim allaco27@ gm ail.com 13 possível estabelecer as vantagens de um procedimento sobre outro, mediante revisão de literatura, métodos observacionais ou métodos que não envolvam seres humanos. Fonte: Adaptado de Andrade, 2013, p. 7-8. Ao realizarmos a comparação entre a Resolução 196/96 e a Resolução 466/12, também é importante ressaltar algumas outras alterações. Na Resolução de 2012, foram incluídas questões relacionadas às pesquisas na área de ciências humanas e sociais, uma necessidade que já era ressaltada por muitos pesquisadores. Com base nessa resolução, passa-se a afirmar que virtualmente não há pesquisa envolvendo seres humanos em que não haja riscos, independente do seu tipo. Além disso, foram acrescentadas informações de documentos internacionais da área de ética e bioética publicados após o ano de 1996 (data de publicação da primeira resolução), como: a Declaração Universal sobre Bioética e Direitos Humanos e a Declaração Universal sobre o Genoma Humano (Soffiatti; Franca, 2013). TEMA 4 – TERMOS DE CONSENTIMENTO E DE ASSENTIMENTO A necessidade de consentimento por parte dos participantes em pesquisas já era determinada no Código de Nuremberg e na Declaração de Helsinque. Sendo que, segundo Rodrigues Filho et al. (2014, p. 326), a Declaração de Helsinque indica que: a) a pesquisa clínica em um ser humano não pode ser empreendida sem seu livre consentimento, depois de totalmente esclarecido – caso legalmente incapaz, deve ser obtido o consentimento do responsável legal; b) o paciente da pesquisa clínica deve estar em estado mental, físico e legal que o habilite a exercer plenamente seu poder de decisão; e c) o consentimento, como é norma, deve ser dado por escrito. Entretanto, a responsabilidade da pesquisa clínica é sempre do pesquisador e nunca recai sobre o paciente, mesmo após ter sido obtido o seu consentimento. Mais tarde, a Resolução 196/96, além de definir a criação dos CEPs e da CONEP, também abordou o Consentimento Informado, que depois passou a ser chamado de Consentimento Livre e Esclarecido. Com essa Resolução, foram valorizados o sigilo e a confidencialidade dos dados obtidos, além da garantia de A luno: Y uri G om es M allaco E m ail: yurim allaco27@ gm ail.com 14 respeito à autonomia do participante, o qual precisa formalizar sua participação no estudo mediante a assinatura do termo de consentimento (Motta et al., 2012; Schuch; Víctora, 2015). A Resolução 466/12 mantém muitas das características da resolução anterior, mas inclui também questões relacionadas à regulação das atividades dos próprios CEPs, incorporando informações que detalham atribuições e responsabilidades dos participantes e dos agentes fiscalizadores. Entre as regulamentações dispostas nessa Resolução, estão a definição e as orientações a respeito da construção e aplicação do Consentimento Livre e Esclarecido e também a respeito da determinação dos riscos e benefícios da pesquisa, bem como orientações sobre o próprio funcionamento do sistema CEP/CONEP com suas atribuições e competências(Schuch; Víctora, 2015). A assinatura do TCLE, por se tratar de uma decisão voluntária, só pode ser tomada por um indivíduo que possua o discernimento e a autonomia necessários para tal. Além disso, para ser considerado válido, o consentimento está atrelado à existência de um processo informativo anterior à sua assinatura. Para elaboração do TCLE, este deve ser dividido em duas partes, sendo uma relacionada à informação e outra relacionada ao consentimento propriamente dito. Dessa forma pretende-se inicialmente esclarecer todas as características da pesquisa (etapas de execução, riscos e benefícios etc.) de modo que, após receber as informações, o participante possa dar seu consentimento tendo realmente compreendido todos os procedimentos nos quais ele estará envolvido. Dessa forma, a linguagem a ser utilizada deve ser a mais clara possível, empregando termos e expressões mais comuns e pertencentes à comunicação cotidiana. Além disso, quando da necessidade de fornecimento de alguma explicação antes da assinatura do termo, deve ser garantido ao participante que o pesquisador não exercerá qualquer influência no intuito de garantir a participação do indivíduo. A Resolução CNS 466/12 estabelece que o TCLE deverá conter, de modo obrigatório, os seguintes requisitos: a) a justificativa, os objetivos e todos os procedimentos que serão utilizados na pesquisa, com informação detalhada; b) explicação dos possíveis desconfortos e riscos decorrentes da participação, além dos benefícios esperados, cautelas a serem empregadas para evitar e/ou reduzir efeitos e condições adversas que possam causar dano; c) esclarecimento sobre A luno: Y uri G om es M allaco E m ail: yurim allaco27@ gm ail.com 15 a forma de acompanhamento e assistência a que terão direito, bem como acompanhamentos posteriores ao encerramento e/ou a interrupção da pesquisa; d) assegurar ao participante plena liberdade de recusar- se a participar ou retirar seu consentimento, em qualquer fase da pesquisa, sem penalização; e) garantir o sigilo e a privacidade dos participantes durante todas as fases da pesquisa; f) assegurar que cada participante receberá uma via do TCLE; g) garantir o reembolso das despesas dos participantes, quando for pertinente; e h) assegurar indenização por eventuais danos decorrentes da pesquisa. (Rodrigues Filho et al., 2014, p. 327) Em muitos países, entre eles o Brasil, não é atribuída capacidade legal de fornecimento de consentimento a indivíduos menores de 18 anos. No entanto, a cada dia se fortalece mais a concepção de que é direito das crianças e adolescentes receber informações claras sobre a pesquisa em que se pretende incluí-los, além de ser reservado a eles também o direito de participar ativamente do processo de decisão. Na área de saúde, a aplicação de Assentimento Livre e Esclarecido (ALE) é condição obrigatória para inclusão de crianças e adolescentes como participantes em pesquisas. Conforme apontam Lobato e colaboradores (2016, p. 543): Para que o ALE atinja seu objetivo ético, são imperiosos três elementos: informação, conhecimento e voluntariedade. As informações devem ser divulgadas a crianças e adolescentes, para que possam entender a natureza da pesquisa, seus objetivos, métodos, benefícios previstos, potenciais riscos e o incômodo que possa lhes acarretar, considerando sua compreensão e respeitando suas singularidades. O conhecimento sobre a natureza da pesquisa, e de seus direitos enquanto participantes, é de suma importância para que crianças e adolescentes se envolvam ativamente no processo de decisão, assegurando sua voluntariedade e a posterior avaliação de sua participação. TEMA 5 – PLATAFORMA BRASIL A Plataforma Brasil foi lançada em 8 de setembro de 2011, tendo sido concebida com o intuito de concentrar os registros das pesquisas envolvendo seres humanos no Brasil. A Plataforma constitui uma ferramenta on-line que funciona como uma base de dados nacional e que busca auxiliar na elaboração e avaliação de trabalhos científicos, bem como no avanço da ética em pesquisa em nosso país e no aprimoramento do sistema CEP/CONEP (Motta et al., 2012). A implantação da Plataforma Brasil tem como um de seus objetivos permitir o acompanhamento das pesquisas em todos os seus estágios, desde a submissão do projeto para apreciação até a aprovação pelo comitê de ética. Para A luno: Y uri G om es M allaco E m ail: yurim allaco27@ gm ail.com 16 tanto, além dos trâmites regulares, a Plataforma também permite que sejam enviados relatórios parciais de pesquisa além de relatórios finais, quando essas são concluídas. Além disso, a postagem de toda a documentação em meio digital, via sistema, também permite a liberação de acesso aos dados públicos das pesquisas aprovadas, para consulta por parte dos membros da sociedade (Schuch; Víctora, 2015). Uma vez que essa plataforma unifica nacionalmente os registros de pesquisa, uma de suas funções também diz respeito a dar suporte ao acompanhamento e regulação do trabalho dos CEPs em todo o país. Entre as informações disponíveis para consulta no site da Plataforma Brasil, encontram-se os relatórios quantitativos “CEP em números” e “CONEP em números”, com base nos quais é possível conhecer o número de projetos recebidos para apreciação, o número de pareceres emitidos, o tempo médio decorrido entre o primeiro parecer e a aprovação e o número de pendências emitidas. Para submissão do seu trabalho para apreciação ética, a primeira providência a ser tomada pelo pesquisador é a realização de seu cadastro como pesquisador na Plataforma Brasil. Para realizar o cadastro, o pesquisador precisará de um arquivo digitalizado de um documento oficial de identidade (com foto), o qual deve ser anexado em local apropriado indicado durante o processo de cadastro. Também é necessária a postagem de uma versão do currículo do pesquisador. O acesso à Plataforma é feito por meio do endereço: <http://plataformabrasil.saude.gov.br/login.jsf>. FINALIZANDO Verificamos nesta aula que a avaliação ética das pesquisas científicas constitui uma necessidade, sobretudo nas circunstâncias que envolvem seres humanos. A abordagem ética tornou-se imprescindível com base no conhecimento dos diversos estudos que foram conduzidos em tempos passados e que feriam diversos princípios morais, éticos e relacionados à dignidade humana. A luno: Y uri G om es M allaco E m ail: yurim allaco27@ gm ail.com 17 Dessa forma, com o passar dos anos a atuação dos Comitês de ética em todo o mundo e do sistema CEP/CONEP, especificamente no Brasil, passou a se tornar cada vez mais relevante. De tal forma que, hoje em dia, é possível argumentar que a existência e a atuação dos diversos instrumentos técnicos e dos comitês de regulação se prestam não somente à avaliação ética das pesquisas envolvendo seres humanos, mas, para além disso, agem na própria constituição de definições e sentidos relacionados à ética que deve ser avaliada. REFERÊNCIAS ALBUQUERQUE, A. Para uma ética em pesquisa fundada nos Direitos Humanos. Rev. Bioét. v. 21, n. 3, p. 412- 422, 2013. ANDRADE, S. M. O. de. Resolução 466/12 e Resolução 196/96: elementos diferenciais. Campo Grande, 2013. Disponível em: <file:///C:/Users/92003920/Downloads/Resolucao%20etica- %20comparacao%20196-96%20e%20%20466.pdf>. Acesso em: 28 nov. 2017. BRASIL. Conselho Nacional de Saúde. Diretrizes e Normas de Pesquisa em Seres Humanos. Resolução 196/96, de 9 out. 1996. DOU de 16 out. 1996. p. 21081-21085. _____. Resolução 466/12, de 12 dez. 2012. DOU n. 12, de 13 jun. 2013. p. 59. _____. Ministério da Saúde. Conselho Nacional de Saúde. Comissão Nacional de Ética em Pesquisa. Manual operacional para comitês de ética em pesquisa. 4. ed. rev. atual. Brasília: Ministério da Saúde, 2007. FIALHO, F. A.; PALACIOS, M. A participação de crianças em protocolosde pesquisa: uma revisão de literatura. Revista Brasileira de Bioética. v. 10, n. 1- 4, p. 77-91, 2014. KIPPER, D. J. Breve história da ética em pesquisa. Revista da AMRIGS. v. 54, n. 2, p. 224-228, 2010. KOTTOW, M. História da ética em pesquisa com seres humanos. R. Eletr. de Com. Inf. Inov. Saúde. Rio de Janeiro, v. 2, n. 1, p. Sup.7- Sup.18, 2008. A luno: Y uri G om es M allaco E m ail: yurim allaco27@ gm ail.com 18 LOBATO, L. et al. Conhecimento de crianças sobre o termo de assentimento livre e esclarecido. Rev. bioét. (Impr.). v. 24, n. 3, p. 542-556, 2016. MOTTA, L. C. de S. et al. Bioética: afinal, o que é isto? RevBrasClin Med. v. 10, n. 5, p. 431 – 439, 2012. NEVES JÚNIOR, W. A. das. et al. Ensino de bioética nas faculdades de medicina no Brasil. Rev. bioét. (Impr.). v. 24, n. 1, p. 98-107, 2016. OLIVEIRA, J. A. et al. Perfil dos integrantes dos Comitês de Ética em Pesquisa em Seres Humanos no Estado de Santa Catarina, Brasil. Revista Bioetikos. v. 7, n. 2, p. 129-138, 2013. SOFFIATTI, N. R. T.; FRANCA, B. H. S. Principais mudanças ocorridas na Resolução 466/12 revogando a Resolução 196/96. In: XXI Seminário de Iniciação Científica da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (SEMIC), 2013, Curitiba. Anais. Curitiba: PUC-PR, 2013. PPGB05. A luno: Y uri G om es M allaco E m ail: yurim allaco27@ gm ail.com 1 METODOLOGIA CIENTÍFICA AULA 3 Prof.ª Ana Paula Weinfurter Lima Coimbra de Oliveira A luno: Y uri G om es M allaco E m ail: yurim allaco27@ gm ail.com 2 CONVERSA INICIAL Olá! Nesta aula veremos quais são os passos a serem seguidos para a escolha de um assunto a ser pesquisado e desenvolvido, como também para a escolha da forma de condução da pesquisa, por meio da formulação dos questionamentos que nortearão os estudos. Trataremos, nesta aula, dos seguintes assuntos: Bases de dados para pesquisa. Descritores para utilização em pesquisas. Escolha do tema e delimitação do tema. Formulação de hipóteses. Tipos de hipóteses. CONTEXTUALIZANDO Antes de iniciarmos a redação de um projeto de pesquisa, precisamos nos preocupar com uma série de fatores. Após o advento da internet e com os avanços proporcionados por ela, pesquisar a respeito de diversos assuntos tornou-se tarefa relativamente fácil. Entretanto, a preocupação com a veracidade, a confiabilidade e a aplicabilidade daquilo que se encontra em uma pesquisa on-line tem que estar sempre em nosso cotidiano. Além disso, uma pesquisa científica não pode ser concebida e conduzida de qualquer maneira; há que se buscar seguir um método. O método científico é composto por uma série de etapas que podem ser assim resumidas: 1. Definição e delimitação de um problema de pesquisa; 2. Formulação de uma hipótese a partir desse problema de pesquisa; 3. Obtenção de dados relacionados ao problema de pesquisa; 4. Realização da análise, interpretação e discussão dos resultados, visando à comprovação ou refutação da hipótese levantada. Como pudemos perceber, o problema de pesquisa é o ponto central, pois é ele quem vai embasar a formulação da hipótese, a obtenção dos dados e a A luno: Y uri G om es M allaco E m ail: yurim allaco27@ gm ail.com 3 condução da pesquisa. Dessa forma, para conseguir elaborar boas discussões e tirar conclusões, o problema de pesquisa deve ser relevante. TEMA 1 – BASES DE DADOS PARA PESQUISA Para a composição da introdução, da revisão de literatura, da discussão e dos resultados em trabalhos científicos, é de suma importância buscar por fontes confiáveis de informação. Consideramos como confiável o conhecimento científico, obtido em pesquisas que seguiram determinado método e alcançaram conclusões que podem ser consideradas como uma boa aproximação da verdade. Falamos em “aproximação da verdade”, pois a ciência é dinâmica e o conhecimento científico está em constante aprimoramento e, dessa forma, alcançar a verdade absoluta em ciência é algo considerado virtualmente impossível. Ao fazer uma busca simples a respeito de um determinado assunto em saúde, é possível localizar uma quantidade enorme de informações, sendo inclusive muitas delas, por vezes, contraditórias. Esse fato também acaba por obrigar os leitores a desenvolverem um comportamento mais crítico para avaliação das informações obtidas. Por conta disso, as buscas por informações para utilização em pesquisas científicas costumam ser compostas principalmente por artigos científicos já publicados por outros pesquisadores e que falam a respeito do tema central ou problema de pesquisa sobre o qual se pretende tratar. A busca por artigos científicos, para uso em sua pesquisa, pode ser feita em alguns locais on-line chamados de bases de dados para pesquisa. Entre eles, podemos citar Scielo, LILACS, Highwire Press, Biblioteca Cochrane e PubMed. Esses sites agrupam uma série de revistas científicas importantes em nível nacional ou mesmo internacional. Algumas dessas revistas são disponibilizadas exclusivamente on-line, enquanto outras têm edições on-line e impressas. Na área da saúde, também há uma espécie de biblioteca on-line que agrupa material científico proveniente de mais de uma dessas bases de dados, A luno: Y uri G om es M allaco E m ail: yurim allaco27@ gm ail.com 4 conhecida como Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), cujo endereço de acesso é: http://bvsalud.org/. As pesquisas nessas bases de dados costumam ser feitas utilizando determinados descritores ou termos específicos. Os descritores utilizados nas Ciências da Saúde são o assunto do nosso próximo tópico. TEMA 2 – USO DE DESCRITORES EM PESQUISAS Na busca por artigos nas bases de dados, uma preocupação que poderia se apresentar aos pesquisadores seria a forma como a pesquisa deveria ser feita para que se obtenha realmente a informação que se está procurando. É nesse contexto que se encaixam os descritores de pesquisa. Um descritor de pesquisa seria uma palavra ou termo que é usado para indexação dos artigos nas bases de dados (Pompei, 2010). Sendo assim, a utilização de descritores padronizados para realizar a busca favorece a obtenção das informações desejadas. As bases de dados de pesquisa costumam ter diretórios nos quais constam os termos ou descritores a serem usados para pesquisa. Por exemplo, ao acessar o PubMed, que é uma ferramenta de acesso ao MEDLINE, os descritores constam no MeSH Database (Medical Subject Headings), o qual está dentro do próprio PubMed e contém os descritores que devem ser usados para pesquisa dentro da MEDLINE. O MeSH foi criado em 1963 pela U.S. National Library of Medicine (Brandau; Monteiro; Braile, 2005). Ao acessar o site da PubMed1, o MeSH Database aparece logo na página inicial, à direita da tela e abaixo do item More resources (Pompei, 2010). Após acessar esse link, deve-se acessar o MeSH browser, página na qual é possível digitar um assunto e verificar como ele consta indexado. Para se fazer uma boa pesquisa em bases de dados, é necessário acessar inicialmente esses diretórios de termos e digitar o assunto que se pretende buscar. Assim, com base no assunto que foi inserido, o diretório vai indicar quais são os descritores que você deve usar para pesquisa. Por exemplo: 1 Disponível em: <http://www.pubmed.com>. Acesso em: 21 dez. 2017. A luno: Y uri G om es M allaco E m ail: yurim allaco27@ gm ail.com 5 ao digitar no campo de busca a expressão uterine cancer, verifica-se que o MeSH heading seria uterine neoplasms e que, além deste, os termos que podem ser usados para busca seriam: Cancer of Uterus; Cancer of the Uterus; Neoplasms, Uterine; Neoplasms, Uterus; Uterine Cancer; Uterus Cancer e Uterus Neoplasms. A utilização de descritores específicos evitaque seja recuperada uma quantidade excessiva de artigos e, dessa forma, otimiza a busca e a seleção das informações. A Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) permite acesso à MEDLINE e também a algumas outras bases de dados. Para pesquisa na BVS, utilizam-se os Descritores em Ciências da Saúde (DeCS). O DeCS foi criado, em 1986, pela Bireme, a partir do MeSH (Brandau; Monteiro; Braile, 2005). Esses descritores podem ser consultados em site próprio2 ou então diretamente dentro do site da BVS, clicando em “Consulta ao DeCS”. Os bancos de descritores, tanto DeCS quanto MeSH, são atualizados periodicamente. Sendo assim, mesmo quando se fizer uma nova pesquisa sobre um mesmo assunto, o qual já se pesquisou anteriormente, é importante consultar novamente os descritores. Como exemplo desse fato, podemos citar a situação apontada por Brandau, Monteiro e Braile (2005, p. VIII), que evidenciaram que o DeCS em uma atualização de versão para 2004 “teve o acréscimo de 664 novos termos, alteração de 109 e exclusão de 20. Além disso, foram acrescentados 3.266 sinônimos, sendo 484 em descritores MeSH e 710 em qualificadores”. O uso de descritores, portanto, permite que seja realizada uma busca mais precisa e que, dessa forma, encontre-se exatamente aquilo que se procura. Tendo isso em vista, é importante ressaltar que a consulta a esses descritores é igualmente importante ao escrever um artigo com o intuito de encaminhá-lo para publicação. Escolher descritores padronizados para serem colocados como palavras-chave (logo abaixo do resumo) no artigo que está sendo escrito permite que, após ser publicado, esse artigo possa ser localizado nas bases de dados e citado por outros autores em suas pesquisas. 2 Disponível em: <http://decs.bvs.br>. Acesso em: 21 dez. 2017. A luno: Y uri G om es M allaco E m ail: yurim allaco27@ gm ail.com 6 TEMA 3 – ESCOLHA DO TEMA E DELIMITAÇÃO DO TEMA No início da produção de uma pesquisa científica, é natural ter apenas uma ideia vaga do que se pretende estudar. Nesse momento, em geral, já está delineado um assunto de interesse e já existe a preocupação de que o trabalho e os resultados apresentados sejam úteis. No entanto, ainda não se tem de fato um tema. Uma das melhores formas de determinar um tema para início de um projeto de pesquisa é elaborar o que chamamos de “questão inicial”. A questão inicial constitui uma dúvida ou questionamento por meio do qual o pesquisador busca expressar da maneira mais precisa possível aquilo que realmente pretende conhecer ou explicar a respeito do assunto escolhido. Entretanto, para exercer seu papel como norteadora do processo de pesquisa, a questão inicial deve ser clara, exequível e pertinente (Gerhardt; Silveira, 2009). A escolha do tema é, então, o passo inicial a ser tomado para delinear o seguimento da pesquisa. Dentro do tema proposto, deve ser selecionada uma questão de pesquisa, a qual corresponde à dúvida que será investigada pelo pesquisador dentro do tema proposto. Após estruturada a questão, devem ser selecionados os descritores a serem utilizados para busca nas bases de dados. Caso o pesquisador não esteja com sua questão de pesquisa bem delimitada ou caso escolha os descritores de modo inadequado, corre-se o risco de não encontrar a informação desejada ou de se deparar com uma imensa quantidade de informações, que por vezes estão relacionadas ao assunto, mas não diretamente ao tema delimitado. Isso confere uma dificuldade na busca de embasamento teórico para a pesquisa. Vamos exemplificar essa sequência de escolhas com um autor que se interesse em pesquisar sobre Qualidade de vida (esse seria o assunto), e dentro da Qualidade de vida ele se interesse especificamente pela Qualidade de vida em idosos (esse seria o tema), cuja questão inicial seria: há alterações na qualidade de vida com o envelhecimento? Dentro desse tema, seu interesse diz respeito à diminuição da qualidade de vida em idosos institucionalizados (essa seria a delimitação do tema), cuja questão de pesquisa seria: há diminuição da qualidade de vida em idosos que passam a viver em asilos?. O procedimento de delimitação do tema direciona todos os procedimentos a serem seguidos ao A luno: Y uri G om es M allaco E m ail: yurim allaco27@ gm ail.com 7 longo do estudo, os quais devem ser determinados com o intuito de dar solução ou esclarecer a questão de pesquisa. As características necessárias a uma questão de pesquisa podem ser resumidas na sigla “FINER”, indicando que ela deve ser factível, interessante, nova (inovadora), ética e relevante (Fontelles et al., 2009). Quadro 1 – Critério FINER para uma boa questão de pesquisa Características Requisitos Factível Número adequado de sujeitos Domínio técnico adequado Viável em termos de tempos e custos Escopo manejável Interessante Para o investigador Nova (inovadora) Confirma ou refuta achados anteriores Expande os achados anteriores Fornece novos achados Ética Cumpre as normas da resolução CNS196/96 Cumpre as normas das demais resoluções do CNS Relevante Para o conhecimento científico Para diretrizes clínicas e de saúde Para direcionamentos futuros de pesquisa Fonte: Fontelles et al., 2009. A relevância da questão de pesquisa está atrelada à sua contribuição para o avanço científico e o desenvolvimento social. Para definição e delimitação do tema, é importante iniciar o trabalho de forma organizada, selecionando alguns textos de base que pareçam relevantes e que realmente contribuam para um aprofundamento do assunto escolhido. A delimitação do tema é de suma importância para que a pesquisa seja factível e para que se possam delimitar objetivos específicos que nortearão as considerações finais e conclusões do estudo. Ela consiste em indicar e determinar a abrangência desse estudo. Se houver falha na delimitação do tema, A luno: Y uri G om es M allaco E m ail: yurim allaco27@ gm ail.com 8 o autor corre o risco de tratar de algo muito abrangente, e que não permite que se chegue a nenhuma conclusão plausível. Por exemplo, ao realizar uma pesquisa no campo do direito, não é possível realizar uma revisão de literatura sobre um tema geral como “direito tributário”. Seria algo extremamente amplo, sendo então necessário indicar o que especificamente se pretende pesquisar dentro do direito tributário. Antes de iniciar de fato uma pesquisa, deve-se verificar uma série de quesitos, como a existência de recursos para sua realização, a experiência da equipe de pesquisadores e o conhecimento deles sobre o tema proposto, além da verificação da real possibilidade de desenvolvimento do tema escolhido. Suponhamos o seguinte exemplo: um pesquisador determina, como período máximo, um ano para coleta e análise de dados para uma pesquisa na qual se pretende determinar a equivalência terapêutica e comprovar a eficácia de um medicamento novo em relação a um já existente no mercado no tratamento de determinada doença. Dificilmente o desenvolvimento dessa pesquisa será factível, pois estudos de equivalência e eficácia desse tipo demandam, em geral, coleta, análise de dados e observação dos voluntários submetidos ao tratamento por um período muito mais longo do que um ano para obtenção de resultados confiáveis. Há muitos casos em que a pesquisa idealizada não precisa ser necessariamente inédita, mas é importante levar em consideração que se deve ter algum grau de inovação ou “novidade”. A menos que se trate de uma revisão bem estruturada, a elaboração de uma pesquisa a qual apenas confirma dados que já estão bastante consolidados por publicações anteriores constitui, na verdade, um desperdício de tempo e de recursos. Pode-se trabalhar com dados que já foram obtidos em pesquisas anteriores, mas ao elaborar um novo projeto deve-se buscar expandir
Compartilhar