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Gg Remodelamento Cardíaco O desenvolvimento da hipertrofia do miocárdio constitui um dos principais mecanismos utilizados pelo coração para compensar um aumento na carga de trabalho. Embora a hipertrofia ventricular melhore o desempenho do trabalho cardíaco, também constitui um importante fator de risco de morbidade e mortalidade cardíacas subsequentes. A hipertrofia e o remodelamento inadequados podem resultar em alterações na estrutura (i. e., massa muscular, dilatação das câmaras) e na função (i. e., comprometimento da função sistólica ou diastólica), as quais frequentemente levam à disfunção adicional da bomba e à sobrecarga hemodinâmica. A hipertrofia e o remodelamento do miocárdio envolvem uma série de eventos complexos nos níveis molecular e celular. O miocárdio é composto por miócitos (ou células musculares) e não miócitos. Os miócitos são as unidades funcionais do músculo cardíaco. Seu crescimento é limitado por um incremento no tamanho da célula e não por um aumento na quantidade de células. Os não miócitos incluem macrófagos cardíacos, fibroblastos, músculo liso vascular e células endoteliais. Essas células, localizadas no espaço intersticial, preservam a capacidade de aumentar o número de células e fornecer suporte aos miócitos. Os não miócitos também determinam muitas das alterações inadequadas que ocorrem durante a hipertrofia do miocárdio. Por exemplo, o crescimento descontrolado dos fibroblastos cardíacos está associado ao aumento da síntese das fibras de colágeno, à fibrose do miocárdio e à rigidez da parede ventricular. Assim como a rigidez da parede ventricular aumenta a carga de trabalho do coração, a fibrose e o remodelamento podem levar a anormalidades na condução elétrica, nas quais o coração se contrai de modo descoordenado – a chamada dissincronia cardíaca – causando redução da função cardíaca sistólica Pesquisas recentes enfocaram o tipo de hipertrofia que se desenvolve em pessoas com insuficiência cardíaca. No nível celular, as células musculares cardíacas respondem aos estímulos do estresse imposto sobre a parede ventricular pela pressão e pela sobrecarga de volume, iniciando diversos processos que levam à hipertrofia. Estes incluem estímulos que produzem: • Hipertrofia simétrica, com um aumento proporcional no comprimento e na largura dos músculos, como ocorre nos atletas • Hipertrofia concêntrica, com um aumento na espessura da parede, como ocorre na hipertensão • Hipertrofia excêntrica, com um aumento desproporcional no comprimento do músculo, como ocorre na MCD Quando o estímulo primário para a hipertrofia é a sobrecarga de pressão, o aumento no estresse da parede leva à replicação paralela das miofibrilas, ao espessamento dos miócitos individuais e à hipertrofia concêntrica. A hipertrofia concêntrica pode preservar a função sistólica durante um período, mas ao final o trabalho realizado pelo ventrículo excede a reserva vascular, predispondo à isquemia. Quando o estímulo primário é a sobrecarga do volume ventricular, o aumento no estresse da parede leva à replicação das miofibrilas em séries, ao alongamento das células musculares cardíacas e à hipertrofia excêntrica. A hipertrofia excêntrica causa diminuição na espessura da parede interventricular, aumentando o volume diastólico e a tensão da parede. Insuficiência Cardíaca INTRODUÇÃO A insuficiência cardíaca é definida como uma síndrome complexa, resultante de qualquer distúrbio funcional ou estrutural do coração, a qual ocasiona ou aumenta o risco de desenvolver manifestações de débito cardíaco baixo e/ou congestão pulmonar ou sistêmica. (PORTH) A síndrome da insuficiência cardíaca pode ser produzida por qualquer condição cardíaca que reduza a capacidade de bombeamento do coração. (PORTH) Insuficiência Cardíaca e Hipertrofia do Coração TUTORIA 3 @juliaasoare_ Entre as causas mais comuns de insuficiência cardíaca, podemos citar DAC, hipertensão, CMD e cardiopatia valvar. (PORTH) É possível prevenir a insuficiência cardíaca em muitos casos, ou adiar a progressão por meio da detecção e intervenção precoces. A importância dessas abordagens é enfatizada pelas diretrizes do ACC/AHA, que incorporaram um sistema de classificação da insuficiência cardíaca com a inclusão de quatro estágios: (PORTH) 1. 1Estágio A – Risco alto de desenvolver insuficiência cardíaca, mas sem anormalidades estruturais identificadas nem sinais de insuficiência cardíaca 2. .Estágio B – Presença de cardiopatia estrutural, mas sem histórico de sinais e sintomas de insuficiência cardíaca 3. .Estágio C – Sintomas atuais ou anteriores de insuficiência cardíaca com cardiopatia estrutural 4. .Estágio D – Cardiopatia estrutural avançada e sintomas de insuficiência cardíaca em repouso, com terapia clínica máxima. Esse sistema de estadiamento reconhece que existem fatores de risco estabelecidos e anormalidades estruturais que são característicos dos quatro estágios da insuficiência cardíaca. (PORTH) EPIDEMIOLOGIA A despeito de avanços na terapêutica da IC, a síndrome mantém-se como patologia grave, afetando, no mundo, mais de 23 milhões de pessoas. (DIRETRIZ BRASILEIRA) A sobrevida após 5 anos de diagnóstico pode ser de apenas 35%, com prevalência que aumenta conforme a faixa etária (aproximadamente de 1% em indivíduos com idade entre 55 e 64 anos, chegando a 17,4% naqueles com idade maior ou igual a 85 anos). (DIRETRIZ BRASILEIRA) A insuficiência cardíaca pode ocorrer em qualquer faixa etária, mas afeta principalmente os idosos. (PORTH) Ainda que as taxas de morbidade e mortalidade por DCV tenham diminuído nas últimas décadas, a incidência de insuficiência cardíaca está aumentando a uma taxa alarmante. (PORTH) Nos EUA, a insuficiência cardíaca custa à nação mais de US$ 30 bilhões ao ano, tendo afetado mais de 5 milhões de americanos em 2009, além disso, aproximadamente, 400 mil a 700 mil pessoas são diagnosticadas com insuficiência cardíaca a cada ano. (PORTH) Na América Latina, com suas peculiaridades sociais, econômicas e culturais, um perfil clínico distinto é encontrado. (DIRETRIZ BRASILEIRA) Baixo investimento na saúde, inadequado acesso ao atendimento e acompanhamento insuficiente nos serviços em nível primário ou terciário são potenciais fatores de risco, e, consequentemente, inúmeros processos fisiopatológicos favorecem o desenvolvimento da IC. (DIRETRIZ BRASILEIRA) No Brasil, dados do registro BREATHE (Brazilian Registry of Acute Heart Failure mostraram como principal causa de re-hospitalizações a má aderência à terapêutica básica para IC, além de elevada taxa de mortalidade intra- hospitalar, posicionando o Brasil como uma das mais elevadas taxas no mundo ocidental. (DIRETRIZ BRASILEIRA) Nosso país ainda apresenta controle inadequado de hipertensão arterial e diabetes, e a persistência de doenças negligenciadas está entre causas frequentes da IC (DIRETRIZ BRASILEIRA) A doença reumática e a doença de chagas (DC), embora menos relevantes do que no passado, continuam presentes, gerando quadros graves. Sendo a doença de chagas esteve relacionada ao atendimento ambulatorial de até 21% de portadores de IC. (DIRETRIZ BRASILEIRA) FISIOPATOLOGIA Débito cardíaco é a quantidade de sangue que os ventrículos ejetam a cada minuto. O coração tem a surpreendente capacidade de ajustar seu débito cardíaco para atender às necessidades variáveis do corpo. Durante o sono, o débito cardíaco declina, e durante os exercícios, aumenta de modo acentuado. A capacidade de aumentar o débito cardíaco durante o aumento das atividades é denominada reserva cardíaca. Por exemplo, nadadores que participam de competições e maratonistas têm grandes reservas cardíacas. Durante os exercícios, o débito cardíaco desses atletas aumenta rapidamente, atingindo 5 a 6 vezes o nível de repouso.Em significativo contraste com os atletas sadios, as pessoas com insuficiência cardíaca comumente utilizam a reserva cardíaca durante o repouso. Para elas, subir um lance de escadas pode ser suficiente para causar falta de ar, por exceder a reserva cardíaca. @juliaasoare_ Controle do desempenho e do débito cardíaco. O débito cardíaco, como principal determinante do desempenho cardíaco, reflete a frequência dos batimentos do coração a cada minuto (frequência cardíaca) e a quantidade de sangue bombeada a cada batida (volume sistólico). Pode ser expresso como o produto da frequência cardíaca e volume sistólico (i. e., débito cardíaco = frequência cardíaca × volume sistólico). A frequência cardíaca é regulada por um equilíbrio entre as atividades do sistema nervoso simpático, que aumenta a frequência cardíaca, e do sistema nervoso parassimpático, que a reduz; enquanto o volume sistólico é uma função da pré-carga, da pós-carga e da contratilidade do miocárdio. Pré-carga e pós-carga: O trabalho que o coração realiza consiste principalmente na ejeção do sangue que retornou para os ventrículos durante a diástole na circulação pulmonar ou sistêmica, que é determinada em grande parte pela pré-carga e pela pós-carga. A pré-carga reflete o volume ou as condições de carregamento do ventrículo no final da diástole, pouco antes do início da sístole. É o volume de sangue que distende o músculo cardíaco no final da diástole e, normalmente, é determinada pelo retorno venoso para o coração. Durante o ciclo cardíaco, o volume máximo de sangue que enche o ventrículo está presente no final da diástole. Conhecido como volume diastólico final, esse volume causa um aumento no comprimento das fibras musculares miocárdicas. Dentro de algumas limitações, conforme o volume diastólico final ou a pré-carga aumentam, o volume sistólico aumenta em função do mecanismo de Frank- Starling. A pós-carga representa a força que o músculo cardíaco contrátil deve gerar para ejetar o sangue do coração cheio. Os principais componentes da pós-carga são a resistência vascular sistêmica (periférica) e a tensão da parede ventricular. Quando a resistência vascular sistêmica é elevada, como na hipertensão arterial, deve ser gerado um aumento na pressão intraventricular esquerda para primeiramente abrir a valva aórtica e, em seguida, movimentar o sangue para fora do ventrículo e para dentro da circulação sistêmica. Esse aumento da pressão é igual a um aumento no estresse ou na tensão da parede ventricular. Como resultado, uma pós-carga excessiva pode comprometer a ejeção ventricular e aumentar a tensão da parede. Contratilidade miocárdica: A contratilidade do miocárdio, também conhecida como inotropismo, se refere ao desempenho contrátil do coração. Representa a capacidade dos elementos contráteis (filamentos de actina e miosina) do músculo cardíaco de interagir e encurtar contra uma carga. A contratilidade aumenta o débito cardíaco, independentemente da pré-carga e da pós-carga. A interação entre os filamentos de actina e miosina durante a contração e o relaxamento do músculo cardíaco (i. e., ligação e desligamento das pontes cruzadas) requerem o uso da energia fornecida pela degradação do ATP e a presença de íons cálcio (Ca++). Assim como no músculo esquelético, quando um potencial de ação passa pela fibra muscular cardíaca, o impulso é disseminado para o interior da fibra muscular ao longo das membranas dos túbulos transversais (T). Os potenciais de ação dos túbulos T, por sua vez, causam a liberação de Ca++ do retículo sarcoplasmático. Esses íons Ca++ se difundem para o interior das miofibrilas e catalisam as reações químicas que promovem o deslizamento dos filamentos de actina e miosina entre si, produzindo o encurtamento muscular. Além dos íons Ca++ liberados do retículo sarcoplasmático, uma grande quantidade de Ca++ extracelular também se difunde para o interior do sarcoplasma, por meio dos canais de Ca++ de tipo L voltagem-dependentes nos túbulos T, no momento do potencial de ação. Sem o Ca++ extra que entra pelos canais de Ca++ de tipo L, a força da contração cardíaca seria consideravelmente inferior. A abertura dos canais de Ca++ de tipo L é facilitada pelo segundo mensageiro monofosfato cíclico de adenosina (cAMP), cuja formação está acoplada aos receptores beta-adrenérgicos. @juliaasoare_ As catecolaminas (noradrenalina e adrenalina) exercem seus efeitos inotrópicos por meio da ligação a esses receptores. O canal de cálcio de tipo L também contém outros tipos de receptores de medicamentos. Os medicamentos bloqueadores de canais de Ca++ di- hidropiridina (p. ex., nifedipino) exercem seus efeitos por meio da ligação a um sítio, enquanto o diltiazem e o verapamil parecem se ligar a receptores fortemente relacionados, mas não idênticos, em outra região. O bloqueio dos canais de Ca++ no músculo cardíaco por esses medicamentos resulta em uma redução na contratilidade ao longo de todo o coração, bem como em diminuição na velocidade do marca-passo do nodo sinusal e na velocidade de condução do nodo AV. Outro mecanismo que pode modular o inotropismo é a bomba de troca de íons sódio (Na+)/Ca++ e a bomba de Ca++ dependente de ATPase na membrana celular miocárdica. Essas bombas transportam o Ca++ para fora da célula, evitando, assim, que a célula seja sobrecarregada com Ca++. Se a saída do Ca++ for inibida, a elevação do Ca++ intracelular pode aumentar o inotropismo. Os digitálicos e glicosídios cardíacos correlatos são agentes inotrópicos que exercem seus efeitos inibindo a bomba de íons Na+/potássio (K+)-ATPase, o que aumenta o Na+ intracelular; isso, por sua vez, leva ao aumento no Ca++ intracelular via bomba de troca de Na+/Ca++ Disfunção sistólica versus diastólica. A fisiopatologia da insuficiência cardíaca é separada em insuficiências ou disfunções sistólica e diastólica, com base na fração de ejeção ventricular Fração de ejeção é a porcentagem de sangue bombeada para fora dos ventrículos a cada contração. Uma fração de ejeção normal é de aproximadamente 55 a 70%. Na disfunção ventricular sistólica, a contratilidade do miocárdio está comprometida, levando a uma diminuição na fração de ejeção e no débito cardíaco. A disfunção ventricular diastólica é caracterizada por uma fração de ejeção normal, mas com relaxamento ventricular diastólico comprometido, levando a uma diminuição no enchimento ventricular que, por fim, causa diminuição na pré-carga, no volume sistólico e no débito cardíaco. Muitas pessoas com insuficiência cardíaca apresentam uma combinação de elementos de disfunções ventriculares sistólica e diastólica, e a divisão entre disfunção sistólica e disfunção diastólica pode ser razoavelmente artificial, em particular conforme esteja relacionada às manifestações e ao tratamento. É importante observar que a disfunção ventricular não é sinônimo de insuficiência cardíaca, mas pode levar ao seu desenvolvimento. Com ambas as disfunções ventriculares, sistólica e diastólica, os mecanismos compensatórios em geral conseguem manter a função cardíaca em repouso adequada, até os estágios finais da insuficiência cardíaca. Disfunção diastólica: Ainda que a insuficiência cardíaca em geral esteja associada ao comprometimento da função sistólica, em cerca de 55% dos casos a função sistólica é preservada e a insuficiência cardíaca ocorre exclusivamente com base na disfunção diastólica ventricular esquerda. Embora esses corações apresentem contração normal, o relaxamento é anormal. O enchimento anormal do ventrículo compromete o débito cardíaco, especialmente durante o exercício. Para qualquer volume ventricular determinado, as pressões ventriculares estão elevadas, acarretando sinais de congestão venosa pulmonar e sistêmica, de modo idênticoao observado em pessoas cujo coração está dilatado e contrai inadequadamente. A prevalência da insuficiência diastólica aumenta com a idade, sendo mais alta nas mulheres e em pessoas com hipertensão e fibrilação atrial. @juliaasoare_ Entre as condições causadoras de disfunção diastólica, estão aquelas que impedem a expansão do ventrículo (p. ex., efusão pericárdica, pericardite constritiva), aumentam a espessura da parede e reduzem a dimensão da câmara (p. ex., hipertrofia do miocárdio, MCH), e adiam o relaxamento diastólico (p. ex., envelhecimento, cardiopatia isquêmica). O envelhecimento com frequência é acompanhado por um adiamento no relaxamento do coração durante a diástole, de modo que o enchimento diastólico tem início enquanto o ventrículo ainda está rígido e resistente à distensão para aceitar um aumento no volume. Um adiamento semelhante ocorre na isquemia do miocárdio, que resulta da falta de energia para romper o rigor estabelecido entre os filamentos de actina e miosina, bem como para transportar o Ca++ para fora do citosol e de volta ao interior do retículo sarcoplasmático. A função diastólica também é influenciada pela frequência cardíaca, a qual determina o tempo disponível para que ocorra o enchimento ventricular. Um aumento na frequência cardíaca abrevia o tempo de enchimento diastólico. Portanto, a disfunção diastólica pode ser agravada por taquicardia ou arritmia e melhorar com uma queda na frequência cardíaca, a qual possibilita um tempo maior para o enchimento do coração. Com a disfunção diastólica, o sangue não consegue se movimentar livremente no interior do VE e isso faz com que a pressão intraventricular aumente com qualquer volume. As pressões elevadas são transferidas do VE para dentro do átrio esquerdo e do sistema venoso pulmonar, causando uma diminuição na complacência do pulmão que aumenta o trabalho respiratório e evoca sintomas de dispneia. O débito cardíaco encontra-se diminuído, não em consequência de uma redução da fração de ejeção ventricular conforme a observada com a disfunção sistólica, mas em decorrência de uma diminuição no volume (pré-carga) disponível para o débito cardíaco adequado. O débito cardíaco inadequado durante a prática de exercícios pode levar à fadiga das pernas e dos músculos acessórios da respiração. Disfunção ventricular direita versus esquerda. A insuficiência cardíaca é classificada de acordo com o lado do coração (ventricular direita ou ventricular esquerda) primariamente afetado. Embora o evento inicial que leva à insuficiência cardíaca possa ser de origem ventricular direita ou esquerda, a insuficiência cardíaca a longo prazo normalmente envolve ambos os lados. As alterações fisiopatológicas ocorridas no próprio miocárdio, incluindo as respostas compensatórias em condições como o infarto do miocárdio, não diferem significativamente entre as disfunções ventriculares direita e esquerda. Disfunção ventricular direita. A insuficiência cardíaca do lado direito compromete a capacidade de transporte do sangue desoxigenado da circulação sistêmica para a circulação pulmonar. Consequentemente, quando o ventrículo direito é insuficiente, ocorre uma redução na quantidade de sangue deslocada adiante, para a circulação pulmonar, e em seguida para o lado esquerdo do coração, finalmente causando redução do débito cardíaco ventricular esquerdo. Além disso, se o ventrículo direito não ocasiona o movimento anterógrado do sangue, ocorre acúmulo ou congestão de sangue no sistema venoso sistêmico. Isso eleva as pressões diastólica final ventricular direita, atrial direita e venosa sistêmica. Um importante efeito da insuficiência cardíaca do lado direito é o desenvolvimento de edema periférico. Os efeitos da ação da gravidade fazem com que o edema seja mais pronunciado nas partes inferiores do corpo. Quando a pessoa está em posição ortostática, observa-se edema nos membros inferiores; em decúbito dorsal, o edema é observado na área acima do sacro. O @juliaasoare_ acúmulo do líquido do edema é evidenciado por um ganho de peso (i. e., 560 mℓ de líquido acumulado resultam em um ganho de peso de 0,45 kg). A verificação diária do peso pode ser utilizada como um meio de avaliar o acúmulo de líquido em uma pessoa com insuficiência cardíaca crônica. Como regra, um ganho de peso superior a 0,9 kg em 24 h ou 2,2 kg em 1 semana é considerado um sinal de agravamento da insuficiência. A insuficiência cardíaca do lado direito também produz congestão das vísceras. À medida que a distensão venosa progride, o sangue se acumula nas veias hepáticas que drenam na veia cava inferior, e o fígado fica ingurgitado. Isso pode causar hepatomegalia e dor no quadrante superior direito. Na insuficiência cardíaca do lado direito grave e prolongada, a função hepática está comprometida e as células hepáticas podem morrer. A congestão da circulação porta também pode levar ao ingurgitamento do baço e ao desenvolvimento de ascite. A congestão do trato gastrintestinal pode interferir na digestão e na absorção de nutrientes, causando anorexia e desconforto abdominal. As veias jugulares, que estão acima do nível do coração, normalmente são invisíveis na posição ortostática ou sentada com a cabeça em um ângulo superior a 30°. Na insuficiência cardíaca do lado direito grave, as veias jugulares externas se tornam distendidas e podem ser visualizadas quando a pessoa está sentada ou em pé. As causas da disfunção ventricular direta incluem condições que impedem o fluxo sanguíneo nos pulmões ou que comprometem a eficácia do bombeamento do ventrículo direito. A insuficiência ventricular esquerda é a causa mais comum de insuficiência ventricular direita. A hipertensão pulmonar prolongada também causa disfunção e insuficiência ventricular direita. A hipertensão pulmonar ocorre em pessoas com doença pulmonar crônica, pneumonia grave, embolia pulmonar ou estenose aórtica ou mitral. Quando a insuficiência cardíaca do lado direito ocorre em resposta à doença pulmonar crônica, é denominada cor pulmonale. Outras causas comuns incluem estenose ou regurgitação das valvas tricúspide ou pulmonar, infarto ventricular direito e miocardiopatia. A disfunção ventricular direita com insuficiência cardíaca também é causada por defeitos cardíacos congênitos, como tetralogia de Fallot e defeito do septo interventricular. Disfunção Ventricular Esquerda: A insuficiência cardíaca do lado esquerdo compromete o movimento do sangue a partir da circulação pulmonar (de baixa pressão) até o lado arterial (de alta pressão) da circulação sistêmica. Com o comprometimento da função cardíaca esquerda, ocorre uma diminuição no débito cardíaco para a circulação sistêmica. O sangue se acumula no VE, no átrio esquerdo e na circulação pulmonar, o que causa uma elevação na pressão venosa pulmonar. Quando a pressão nos capilares pulmonares (normalmente de cerca de 10 mmHg) excede a pressão osmótica capilar (em geral ao redor de 25 mmHg), ocorre uma transferência do líquido intravascular para o interstício dos pulmões, resultando em edema pulmonar. O episódio de edema pulmonar costuma ocorrer à noite, após a permanência da pessoa em posição reclinada durante algum tempo e a remoção das forças gravitacionais do sistema circulatório. Nesse momento, o líquido do edema sequestrado nos membros inferiores ao longo do dia retorna para o compartimento vascular e é redistribuído para a circulação pulmonar. As causas mais comuns de disfunção ventricular esquerda são a hipertensão e o infarto agudo do miocárdio. A insuficiência cardíaca ventricular esquerda e a congestão pulmonar podem se desenvolver muito rapidamente em pessoas com infarto agudo do miocárdio. Até mesmo quando a área infartada é pequena, pode haver uma área adjacente de tecido isquêmico.Isso pode resultar em grandes áreas de hipocinesia ou acinesia da parede ventricular, e no rápido aparecimento de congestão e edema pulmonar. @juliaasoare_ A estenose ou regurgitação da valva aórtica ou mitral também gera o nível de retorno do lado esquerdo que resulta em congestão pulmonar. Conforme a pressão pulmonar aumenta como resultado da congestão, pode haver progressão para insuficiência cardíaca do lado direito. Insuficiência com débito alto versus débito baixo. A insuficiência com débito alto é um tipo incomum de insuficiência cardíaca causada por uma necessidade excessiva de débito cardíaco. Na insuficiência com débito alto, a função do coração pode estar acima do normal e inadequada, devido às necessidades metabólicas excessivas. As causas de insuficiência com débito alto incluem anemia grave, tireotoxicose, condições que causam desvios arteriovenosos e doença de Paget. A insuficiência com débito baixo é causada por distúrbios que comprometem a capacidade de bombeamento do coração, como cardiopatia isquêmica e miocardiopatia. A insuficiência com débito baixo é caracterizada por evidências clínicas de vasoconstrição sistêmica, com extremidades frias, pálidas e por vezes cianóticas. Nos casos avançados de insuficiência com débito baixo, as reduções acentuadas no volume sistólico são evidenciadas por uma menor amplitude da pressão de pulso. Contrariamente, na insuficiência com débito alto, as extremidades normalmente são quentes e ruborizadas, e a pressão de pulso é normal ou apresenta amplitude aumentada. Mecanismos Compensatórios Na insuficiência cardíaca, a reserva cardíaca é mantida em grande parte por respostas compensatórias ou adaptativas, como o mecanismo de Frank-Starling, a ativação de influências neuro-humorais como os reflexos do sistema nervoso simpático, o mecanismo renina- angiotensina-aldosterona, PN cardíacos, substâncias vasoativas produzidas localmente, além de hipertrofia e remodelamento do miocárdio. A primeira dessas adaptações ocorre rapidamente, em minutos ou horas após a disfunção miocárdica, e pode ser adequada para manter o desempenho de bombeamento geral do coração em níveis relativamente normais. A hipertrofia e o remodelamento do miocárdio ocorrem lentamente, no decorrer de meses a anos, e desempenham papel importante na adaptação à sobrecarga hemodinâmica a longo prazo. Na insuficiência cardíaca, as diminuições iniciais na função cardíaca podem ser imperceptíveis, uma vez que esses mecanismos compensatórios mantêm o débito cardíaco. Entretanto, além de contribuírem para a adaptação do coração insuficiente, tais mecanismos também favorecem a fisiopatologia da insuficiência cardíaca. Mecanismo de Frank-Starling. O mecanismo de Frank- Starling opera por meio de um aumento na pré-carga. Com o aumento do enchimento diastólico, ocorre ampliação no estiramento das fibras miocárdicas e uma aproximação mais ideal das cabeças dos filamentos grossos de miosina aos sítios de ligação da troponina nos @juliaasoare_ filamentos finos de actina, resultando em aumento na força da contração subsequente. No coração com função normal, o mecanismo de Frank- Starling atua para corresponder aos débitos dos dois ventrículos. Um aumento na contratilidade, ou no inotropismo, aumentará o débito cardíaco em qualquer volume diastólico final, causando deslocamento da curva para cima e à esquerda, enquanto uma diminuição no inotropismo causará o deslocamento da curva para baixo e à direita. Na insuficiência cardíaca, o inotropismo está diminuído em comparação ao normal. Portanto, o volume sistólico não será tão alto quando no inotropismo normal, independentemente do aumento na pré-carga. Na insuficiência cardíaca, uma diminuição no débito cardíaco e no fluxo sanguíneo renal leva ao aumento da retenção de sódio e água, a um aumento resultante no volume vascular e no retorno venoso para o coração, bem como a um aumento no volume diastólico final ventricular. De modo limitado, conforme a pré-carga e o volume diastólico final do ventrículo aumentam, ocorre uma consequente elevação no débito cardíaco. Ainda que isso possa preservar o débito cardíaco em repouso, a elevação crônica da pressão DFVE resultante é transmitida para os átrios e para a circulação pulmonar, causando congestão pulmonar. Um maior estiramento muscular, como observado com o mecanismo de Frank-Starling, também causa aumento na tensão da parede ventricular, com consequente aumento do consumo de oxigênio do miocárdio. A tensão aumentada da parede amplia as demandas de oxigênio do miocárdio, o que pode produzir isquemia e contribuir para o comprometimento adicional do inotropismo, deslocando a curva de Frank-Starling ainda mais para baixo e à direita. Em tal situação, o aumento na pré-carga deixa de contribuir para a compensação e passa a agravar a insuficiência cardíaca. O uso de diuréticos em pessoas com insuficiência cardíaca ajuda a reduzir o volume vascular e o enchimento ventricular, diminuindo a carga do coração e reduzindo a tensão da parede ventricular. Atividade do sistema nervoso simpático. A estimulação do sistema nervoso simpático desempenha um papel importante na resposta compensatória à diminuição do débito cardíaco e do volume sistólico. Tanto o tônus simpático cardíaco quanto os níveis de catecolaminas (adrenalina e noradrenalina) estão elevados nos estágios tardios da maioria dos tipos de insuficiência cardíaca. Por meio da estimulação direta da frequência e da contratilidade cardíacas, da regulação do tônus vascular e da intensificação da retenção renal de sódio e água, o sistema nervoso simpático inicialmente ajuda a manter a perfusão dos diversos órgãos do corpo. Naqueles que progridem para insuficiência cardíaca mais grave, o sangue é desviado para as circulações mais críticas (cerebral e coronariana). Embora o objetivo da resposta do sistema nervoso simpático seja aumentar a pressão arterial e o débito cardíaco, constituindo o mecanismo compensatório mais imediato, pode se tornar uma adaptação inadequada. O aumento na atividade simpática por meio da estimulação dos receptores beta-adrenérgicos do coração acarreta taquicardia, vasoconstrição e arritmias cardíacas. Existem evidências de que a estimulação simpática prolongada também pode levar à dessensibilização dos receptores beta-adrenérgicos, sem afetar os receptores alfa-adrenérgicos. A falta de receptores beta-adrenérgicos funcionais em relação aos receptores alfa-adrenérgicos pode levar à vasoconstrição e a um aumento na resistência vascular sistêmica. O aumento na resistência vascular sistêmica resulta em aumento da pós-carga cardíaca e do estresse junto à parede ventricular, aumentando assim o consumo de oxigênio do miocárdio. @juliaasoare_ Mecanismo renina-angiotensina-aldosterona. Um dos efeitos mais importantes da redução do débito cardíaco na insuficiência cardíaca é a redução do fluxo sanguíneo renal e da taxa de filtração glomerular, levando à retenção de sódio e água. Com a diminuição do fluxo sanguíneo renal, ocorre aumento progressivo da secreção de renina pelos rins, acompanhado de aumentos paralelos nos níveis circulantes de angiotensina II. O aumento da concentração de angiotensina II contribui diretamente para uma vasoconstrição generalizada e excessiva, além de facilitar a liberação de noradrenalina e inibir a sua recaptação pelo sistema nervoso simpático. A angiotensina II também proporciona um poderoso estímulo para a produção de aldosterona pelo córtex adrenal. A aldosterona aumenta a reabsorção tubular de sódio, que é acompanhada por um aumento na retenção de água. Como a aldosterona é metabolizada no fígado, seus níveis aumentam ainda mais quando a insuficiência cardíaca causa congestão hepática. A angiotensina II tambémaumenta o nível do hormônio antidiurético (ADH), que atua como vasoconstritor e inibidor da excreção de água. Na insuficiência cardíaca, o aumento progressivo de líquido leva à dilatação ventricular e ao aumento da tensão da parede. Por fim, o aumento da demanda de oxigênio que acompanha a elevação da tensão da parede supera o mecanismo compensatório de Frank-Starling, reduzindo o inotropismo e causando progressão da insuficiência cardíaca Angiotensina II e a aldosterona também estão envolvidas na regulação dos processos inflamatórios e reparatórios que se seguem à lesão tecidual. Nessa capacidade, ambas estimulam a produção de citocinas inflamatórias (p. ex., TNF e interleucina 6), atraem células inflamatórias (p. ex., neutrófilos e macrófagos), ativam macrófagos nos sítios de lesão e reparo, e estimulam o crescimento de fibroblastos e a síntese de fibras de colágeno. Peptídios natriuréticos A família dos peptídios natriuréticos é composta por três peptídios estruturalmente similares: peptídio natriurético atrial (ANP), peptídio natriurético cerebral (BNP – brain na- triuretic peptide) e peptídio natriurético tipo-C.23 (TRATADO DE CARDIOLOGIA) O peptídeo natriurético atrial é sintetizado nos átrios e liberado em resposta à distensão deles. (TRATADO DE CARDIOLOGIA) Em contraste, o peptídio natriurético cerebral é sintetizado primariamente nos ventrículos e secretado em vigência de sobre-cargas pressórica ou volumétrica para esses ventrículos. (TRATADO DE CARDIOLOGIA) Embora tanto o peptídio natriurético cerebral quanto o peptídio natriurético cerebral se elevem na insuficiência cardíaca, o peptídio natriurético cerebral se correlaciona melhor com o grau da insuficiência cardíaca. (TRATADO DE CARDIOLOGIA) O peptídio natriurético tipo-C é, basicamente, um regulador local do tônus vascular. (TRATADO DE CARDIOLOGIA) Nos rins, os peptídios natriuréticos promovem vasodilatação da arteríola aferente e vasoconstrição da eferente, e, portanto, aumentam a pressão capilar e a TFG. (TRATADO DE CARDIOLOGIA) Eles atuam também nas células mesangiais e aumentam a superfície de filtração. (TRATADO DE CARDIOLOGIA) Em nível tubular, esses peptídios inibem o efeito estimulatório nas bombas de Na+/H+ na bomba de Na+ no túbulo distal e nos canais de Na+ túbulos coletores. (TRATADO DE CARDIOLOGIA) Os peptídios natriuréticos inibem, também, a ação vaso- constritora do SNS, do SRAA, da AVP e da endotelina e agem no sistema nervoso central modulando o tônus vasomotor, a sede e a liberação de AVP. (TRATADO DE CARDIOLOGIA) Endotelina Endotelina é um potente peptídio vasoconstritor liberado pelas células endoteliais. (TRATADO DE CARDIOLOGIA) Três subtipos já foram identificados: endotelina-1, endotelina-2 e endotelina-3, todos potentes vasoconstritores. (TRATADO DE CARDIOLOGIA) A angiotensina II, a noradrenalina, a vasopressina arginina e a interleucina-1 estimulam a produção da endotelina, que, por sua vez, ativa receptores de endotelina tipo A, que causam vasoconstrição da musculatura lisa. (TRATADO DE CARDIOLOGIA) @juliaasoare_ A endotelina também tem potencial de estimular o crescimento e atuar no remodelamento cardíaco. (TRATADO DE CARDIOLOGIA) Mediadores inflamatórios. Atualmente, pesquisas em curso examinam a relação entre marcadores inflamatórios (especialmente a PCR) e a insuficiência cardíaca. (TRATADO DE CARDIOLOGIA) Níveis elevados de PCR foram associados a consequências adversas em portadores de insuficiência cardíaca, além de terem se mostrado preditivos do desenvolvimento de insuficiência cardíaca em grupos de alto risco. (TRATADO DE CARDIOLOGIA) Manifestações clínicas da insuficiência cardíaca. Dependem da extensão e do tipo de disfunção cardíaca presente, bem como da rapidez com que se desenvolve. Uma pessoa com insuficiência cardíaca anteriormente compensada estável pode desenvolver sinais de insuficiência cardíaca pela primeira vez quando a condição avançar a um ponto crítico, como no aumento progressivo da hipertensão pulmonar em pessoas com regurgitação da valva mitral. A insuficiência cardíaca manifesta também pode ser precipitada por condições como infecção, estresse emocional, hipertensão não controlada ou sobrecarga de líquido. Muitas pessoas com cardiopatia subjacente séria, independentemente de terem apresentado insuficiência cardíaca anterior, podem ser relativamente assintomáticas, desde que sigam cuidadosamente seu regime de tratamento. O excesso de sódio alimentar é uma causa frequente de descompensação cardíaca súbita. As manifestações da insuficiência cardíaca refletem os efeitos fisiológicos do comprometimento da capacidade de bombeamento do coração, da diminuição do fluxo sanguíneo renal e da ativação dos mecanismos compensatórios simpáticos. A gravidade e a progressão dos sintomas dependem da extensão e do tipo de disfunção presente (sistólica versus diastólica, do lado direito versus esquerdo). Os sinais e sintomas incluem falta de ar e outras manifestações respiratórias, fadiga e tolerância limitada aos exercícios, retenção de líquido e edema, caquexia e desnutrição, e cianose. As pessoas com insuficiência cardíaca grave podem apresentar diaforese e taquicardia. Importância da Adesão Terapêutica A adesão ao regime terapêutico é a chave para o sucesso na prevenção e gestão de doenças cardiovasculares, existindo adesão quando o comportamento de uma pessoa, na toma de medicação, no cumprimento de uma dieta, e/ou nas mudanças no estilo de vida, coincide com as recomendações de um prestador de cuidados de saúde. (DA SILVA, 2016) Consideramos que para favorecer a adesão ao regime terapêutico, é necessário que os profissionais de saúde estabeleçam com as pessoas um diálogo. Para que sejam bem-sucedidos devem usar uma linguagem clara, atender às necessidades de informação e esclarecimento, às capacidades cognitivas, crenças culturais e situação socioeconómica das pessoas. (DA SILVA, 2016) O maior obstáculo ao controle da hipertensão arterial é a não adesão ao regime terapêutico. (DA SILVA, 2016) Com o intuito de reduzir a morbidade e a mortalidade, o tratamento proposto pela equipe de saúde é de fundamental importância, que apresenta um plano de controle barato e simples: modificações no estilo de vida (perda de peso, limitação da ingesta de álcool, aumento da atividade física, redução da ingesta de sódio, não fumar); dar explicações claras, ao paciente, sobre a doença; fazer prescrições medicamentosas de forma mais simplificada possível; facilitar a aquisição do medicamento pelo paciente e a escolha da medicação certa. (GIRÃO, 2021) A adesão terapêutica, nos últimos anos, tornou-se um grande problema, enfrentado na prática médica pela sua complexidade. Cerca de 40% a 60% dos pacientes não fazem uso da medicação prescrita. E quando a falta de adesão relaciona-se a itens como estilo de vida (dieta, sedentarismo, tabagismo, etilismo, entre outros fatores) a porcentagem aumenta ainda mais. Apesar de haver limitações dos dados disponíveis, os índices de adesão da HAS ficam abaixo da recomendação de 80% em diversos países. Em mais de dois terços de hipertensos, a PA é descontrolada pela falta de adesão ao tratamento. (GIRÃO, 2021) O termo adesão vai muito além do simples seguimento da prescrição medicamentosa, e envolve aspectos que influenciam a adesão ao tratamento, relacionados ao paciente (sexo, idade, etnia, estado civil, escolaridade e @juliaasoare_ nível socioeconômico); à doença (cronicidade, ausência de sintomas e conseqüências tardias); às crenças de saúde, hábitos de vida e culturais (percepção da seriedade do problema, desconhecimento, experiência com a doença no contexto familiar e auto-estima); ao tratamento dentro do qual existe a qualidade de vida (custos, efeitos indesejáveis, esquemas terapêuticos complexos);à instituição política de saúde (acesso ao serviço de saúde, tempo de espera versus tempo de atendimento); e, finalmente, ao relacionamento com a equipe de saúde. (GIRÃO, 2021) Lesão nos Órgãos Alvo O aumento da pressão de perfusão ocasionada pela hipertensão pode causar lesão direta dos órgãos-alvo. Além disso, o aumento da pressão intravascular pode lesionar as células endoteliais vasculares, o que aumenta o risco de desenvolvimento de doença vascular aterosclerótica A lesão dos órgãos-alvo afeta em particular os órgãos com estrutura altamente vascularizada ou que dependem fortemente de um suprimento de sangue adequado para a sua função apropriada, incluindo coração, cérebro, rins e retina nos olhos. Portanto, a hipertensão é uma causa líder de cardiopatia e doença cerebral isquêmica, doença renal em estágio terminal e comprometimento visual ou cegueira por retinopatia A elevação na pressão arterial aumenta a carga de trabalho do ventrículo esquerdo, por aumentar a pressão contra a qual o coração precisa bombear o sangue ejetado na circulação sistêmica. Com o passar do tempo, a pressão aumenta a carga de trabalho do coração, e a parede ventricular esquerda sofre remodelamento e hipertrofia para compensar o aumento do trabalho em decorrência da pressão. Essa hipertrofia ventricular esquerda é um fator de risco importante para o desenvolvimento de cardiopatia coronariana, arritmias cardíacas, morte súbita e insuficiência cardíaca congestiva, uma vez que o ventrículo não consegue bombear com eficiência A lesão dos rins é produzida por diversos mecanismos. Uma das formas mais significativas de a hipertensão causar lesão renal é por hipoperfusão glomerular, a qual promove glomeruloesclerose e fibrose tubulointersticial. A hipertensão também afeta o olho, em alguns casos de modo devastador. A retinopatia hipertensiva afeta a retina induzindo uma série de alterações microvasculares. O olho de um hipertenso inicialmente apresenta aumento do tônus vasomotor, que causa estreitamento arteriolar generalizado. Com a persistência da, essas alterações podem causar lacerações arteriovenosas (AV) mais graves e cegueira. Referências: Norris, Tommie L. Porth - Fisiopatologia . Disponível em: Minha Biblioteca, (10ª edição). Grupo GEN, 2021. Consolim-Colombo, Fernanda, M. et ai. Tratado de cardiologia SOCESP 4a ed. . Disponível em: Minha Biblioteca, (4ª edição). Editora Manole, 2019. COMITÊ COORDENADOR DA DIRETRIZ DE INSUFICIÊNCIA CARDÍACA. Diretriz brasileira de insuficiência cardíaca crônica e aguda. Arquivos brasileiros de cardiologia, v. 111, n. 3, p. 436-539, 2018. @juliaasoare_
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