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1 Júlia Morbeck – @med.morbeck Objetivos 1- Compreender as alterações cardíacas que ocorrem em decorrência da pressão arterial sustentada; 2- Entender as complicações decorrentes do remodelamento cardíaco; 3- Analisar os fatores que influenciam na adesão do tratamento. Complicações da HAS não controlada ↠ Valores de pressão arterial (PA) elevados têm sido tradicionalmente associados ao risco para cardiopatia isquêmica, acidente vascular encefálico (AVE), doença renal crônica (DRC) e mortalidade precoce (DIRETRIZ, 2020). ↠ Mais recentemente, foram publicados diversos estudos de coorte, muitos com grandes amostras. Eles demonstraram que a elevação da PA propicia riscos similares aos demonstrados para DAC e AVE para a incidência de outros desfechos CV (DIRETRIZ, 2020). ↠ Entre eles, incluem-se insuficiência cardíaca (IC), com e sem fração de ejeção (FE) preservada, fibrilação atrial, cardiopatias valvares, doença arterial periférica, doença renal crônica (DRC), demência e doença de Alzheimer (DIRETRIZ, 2020). ↠ Provavelmente, diabetes melito, disfunção erétil e degeneração macular da senilidade decorrem de elevações sustentadas da PA (DIRETRIZ, 2020). ↠ O aumento sustentado da PA é um gatilho para o desenvolvimento da hipertrofia da camada média da parede arterial, por promover alterações quantitativas e qualitativas de seus componentes (elastina, colágeno e células musculares lisas) que levam a adaptações mecânicas (DIRETRIZ, 2020). Tais achados foram descritos, tanto em modelos animais quanto em estudos in vitro e culturas de órgãos ex vivo, em que células mecanossensitivas responderam ao aumento de estresse com produção de matriz. Portanto, a HA acelera o envelhecimento vascular, uma resposta mecanobiológica local ao aumento de estresse induzido pelo aumento da PA e, consequentemente, da rigidez arterial (rigidez como consequência) (DIRETRIZ, 2020). Remodelamento Cardíaco Ao longo da vida, o coração sofre transformações ligadas ao processo natural de crescimento, maturidade e envelhecimento ou como resposta a situações locais ou sistêmicas que requerem alteração na força contrátil (p. ex., se o indivíduo desenvolve hipertensão arterial sistêmica é necessária maior força para impulsionar o sangue) (BOGLIOGO, 10ª ed.). ↠ Quando há sobrecarga de pressão (p. ex., por hipertensão arterial ou estreitamento de uma valva), a força contrátil precisa aumentar. Adicionalmente, há aumento da tensão na parede (BOGLIOGO, 10ª ed.). ↠ Remodelamento ventricular é o processo pelo qual fatores mecânicos, neuro-hormonais e genéticos alteram o tamanho, a forma e a função ventricular (SOCESP, 4ª ed.). ↠ Hipertrofia corresponde a uma alteração no metabolismo celular. Para que tal mudança ocorra, ainda que fatores neuro-hormonais interfiram, o papel principal é do estímulo mecânico, que é de algum modo convertido em sinais bioquímicos. Nas células, ocorre reprogramação, levando à expressão coordenada de genes envolvidos na síntese de mais componentes do sistema contrátil, de modo semelhante ao que ocorre na vida fetal (contração mais lenta e prolongada e aumento do metabolismo anaeróbico) (BOGLIOGO, 10ª ed.). ↠ Os principais pontos do remodelamento cardíaco são a hipertrofia de miócitos e a dilatação cardíaca, com aumento da formação de matriz intersticial (SOCESP, 4ª ed.). APG 03 – “MUDANÇA NECESSÁRIA” 2 Júlia Morbeck – @med.morbeck ↠ Esse processo adaptativo inicia-se como mecanismo compensatório a fim de manter a força contrátil e preservar o estresse da parede (SOCESP, 4ª ed.). IMPORTANTE: Embora a hipertrofia ventricular melhore o desempenho do trabalho cardíaco, também constitui um importante fator de risco de morbidade e mortalidade cardíacas subsequentes. A hipertrofia e o remodelamento inadequados podem resultar em alterações na estrutura (i. e., massa muscular, dilatação das câmaras) e na função (i. e., comprometimento da função sistólica ou diastólica), as quais frequentemente levam à disfunção adicional da bomba e à sobrecarga hemodinâmica (PORTH, 10ª ed.). Entretanto, com a progressão da degeneração miocárdica, esse processo torna-se mal adaptado e contribui para a piora da insuficiência cardíaca com fração de ejeção de ventrículo esquerdo reduzida (ICFEVEr) (SOCESP, 4ª ed.). ↠ O remodelamento cardíaco é estimulado primariamente pelo estiramento mecânico, porém, vários fatores, incluindo isquemia, hormônios e peptídios vasoativos, podem modificar os efeitos do fator mecânico (SOCESP, 4ª ed.). ↠ A hipertrofia e o remodelamento do miocárdio envolvem uma série de eventos complexos nos níveis molecular e celular. O miocárdio é composto por miócitos (ou células musculares) e não miócitos (PORTH, 10ª ed.). Os miócitos são as unidades funcionais do músculo cardíaco. Seu crescimento é limitado por um incremento no tamanho da célula e não por um aumento na quantidade de células (PORTH, 10ª ed.). Os não miócitos incluem macrófagos cardíacos, fibroblastos, músculo liso vascular e células endoteliais. Essas células, localizadas no espaço intersticial, preservam a capacidade de aumentar o número de células e fornecer suporte aos miócitos (PORTH, 10ª ed.). Os não miócitos também determinam muitas das alterações inadequadas que ocorrem durante a hipertrofia do miocárdio. Por exemplo, o crescimento descontrolado dos fibroblastos cardíacos está associado ao aumento da síntese das fibras de colágeno, à fibrose do miocárdio e à rigidez da parede ventricular. Assim como a rigidez da parede ventricular aumenta a carga de trabalho do coração, a fibrose e o remodelamento podem levar a anormalidades na condução elétrica, nas quais o coração se contrai de modo descoordenado – a chamada dissincronia cardíaca – causando redução da função cardíaca sistólica (PORTH, 10ª ed.). ↠ O interstício cardíaco também é muito sensível aos mesmos estímulos mecânicos, inflamatórios e neuro- hormonais que afetam o crescimento dos miócitos. Em condições normais, a matriz extracelular tem um papel biológico determinante nos mecanismos cardíacos. As mudanças na matriz intersticial provocam alterações nas propriedades sistólica e diastólica do coração (SOCESP, 4ª ed.). ↠ A fibrose provoca rigidez miocárdica e heterogeneidade mecânica e elétrica, que desempenham papel importante na gênese de arritmias e deterioração das funções sistólica e diastólica (SOCESP, 4ª ed.). ↠ A morte celular também é determinante no remodelamento cardíaco, porque causa a perda de massa contrátil, com consequente hipertrofia de células miocárdicas e fibrose reparativa (SOCESP, 4ª ed.). Tradicionalmente, a perda de miócitos era explicada pela necrose, porém, nas últimas décadas, evidências mostram que a apoptose também contribui para a IC (SOCESP, 4ª ed.). As causas da apoptose na transição para a falência ventricular são inúmeras. Destacam-se isquemia, estiramento mecânico, estresse da parede, estimulação neuro-hormonal e das citocinas (SOCESP, 4ª ed.). TIPOS DE HIPERTROFIA ↠ A hipertrofia miocárdica é causada pelo aumento de miofibrilas e mitocôndrias (SOCESP, 4ª ed.). ↠ Pesquisas recentes enfocaram o tipo de hipertrofia que se desenvolve em pessoas com insuficiência cardíaca. No nível celular, as células musculares cardíacas respondem aos estímulos do estresse imposto sobre a parede ventricular pela pressão e pela sobrecarga de volume, iniciando diversos processos que levam à hipertrofia. Estes incluem estímulos que produzem: (PORTH, 10ª ed.). 3 Júlia Morbeck – @med.morbeck ➢ Hipertrofia simétrica, com um aumento proporcional no comprimento e na largura dos músculos, como ocorre nos atletas ➢ Hipertrofia concêntrica (B), com um aumento na espessura da parede, como ocorre na hipertensão (PORTH, 10ª ed.). Na sobrecarga pressórica, ocorre desenvolvimento desarcômeros em paralelo, com maior aumento da massa em relação ao volume ventricular (SOCESP, 4ª ed.). OBS.: A hipertrofia concêntrica pode preservar a função sistólica durante um período, mas ao final o trabalho realizado pelo ventrículo excede a reserva vascular, predispondo à isquemia (PORTH, 10ª ed.). ➢ Hipertrofia excêntrica (C), com um aumento desproporcional no comprimento do músculo, como ocorre na MCD (PORTH, 10ª ed.). No caso da sobrecarga volumétrica, ocorre hipertrofia de sarcômeros em série, com maior aumento do volume ventricular em relação à massa (SOCESP, 4ª ed.). OBS.: Os melhores indicadores de hipertrofia são o tamanho dos núcleos e o peso do órgão, pois se alteram tanto na sobrecarga de pressão quanto na de volume, em comparação com o normal para a idade e o sexo. Ainda assim, quanto ao peso, não há valores bem estabelecidos de normalidade, pois há variação conforme a massa corpórea. Em adultos, peso acima de 350 g em homens e 300 g em mulheres é considerado elevado, mas alguns autores já chamam de hipertróficos corações com pesos um pouco menores que esses (BOGLIOGO, 10ª ed.). ↠ Qualquer que seja o tipo de hipertrofia, a vascularização do órgão também aumenta, mantendo-se em geral a proporção numérica capilar/fibra miocárdica. Mesmo assim, como o volume dos miocardiócitos está aumentado, pode haver carência relativa do aporte de sangue (isquemia relativa). Assim, podem ocorrer morte de pequenos grupos de células e, posteriormente, surgir focos de fibrose intersticial (BOGLIOGO, 10ª ed.). MORTE CELULAR E REMODELAMENTO CARDÍACO: PAPEL DAS CÉLULAS- TRONCO Classicamente, os miócitos cardíacos, assim como as células nervosas, eram tidos como células pós-mitóticas terminais, altamente diferenciadas e incapazes de regenerar-se. As células endoteliais, musculares lisas e fibroblastos, por sua vez, são capazes de proliferar. Só há pouco tempo, entretanto, demonstrou-se que também os miócitos cardíacos são capazes de sofrer mitose; autores têm sugerido um índice mitótico de 0,015%, o que seria suficiente para gerar 100 g de miocárdio em menos de três meses (SOCESP, 4ª ed.). A relevância clínica desses achados experimentais foi sedimentada em 2001 com a demonstração da existência de divisão de miócitos na periferia de áreas necróticas, em pacientes com infarto agudo do miocárdio. Havia dúvida se essas células que proliferavam eram preexistentes no miocárdio ou provinham de precursores a distância que migravam para esse ponto de regeneração (SOCESP, 4ª ed.). Em 2002, Quaini et al. demonstraram que células de receptores de transplante cardíaco são capazes de migrar e repovoar o enxerto, sugerindo que a capacidade do tecido cardíaco de regenerar-se ocorria, ao menos em parte, pela migração de células pluripotentes extracardíacas (SOCESP, 4ª ed.). A visão do coração como um órgão pós-mitótico tem perdido espaço para um novo conceito no qual as células do miocárdio são continuamente substituídas por novas populações recém-formadas de miócitos, células musculares lisas vasculares e endoteliais. A homeostase cardíaca seria, portanto, regulada por um compartimento de células-tronco cardíacas multipotentes que teriam a habilidade de se transformar em diversas linhagens do miocárdio (SOCESP, 4ª ed.). Representação esquemática dos padrões de hipertrofia miocárdica do ventrículo esquerdo. Na hipertensão arterial a hipertrofia é uniforme na parede ventricular e no septo interventricular. Na sobrecarga de volume, a hipertrofia é excêntrica. Na hipertrofia compensatória pós-infarto, há perda regional de cardiomiócitos e os demais sofrem hipertrofia na tentativa de manutenção da eficiência da bomba. 4 Júlia Morbeck – @med.morbeck Em condições de aumento da perda celular (como na ICFEVEr), as células-tronco seriam recrutadas em maior número. A progressão da disfunção ventricular ocorreria por desbalanço entre a morte celular (por necrose ou apoptose) e a capacidade tecidual de regeneração (SOCESP, 4ª ed.). METABOLISMO ENERGÉTICO O miocárdio, em situações de normalidade, usa os ácidos graxos como principal fonte de energia, sendo responsável por 70% do ATP produzido. No entanto, em situações de estresse (isquemia, sobrecarga pressórica), o miocárdio dá preferência à glicose como produtora de ATP, já que ela é mais eficiente e gera maior quantidade de ATP por molécula de oxigênio utilizada (SOCESP, 4ª ed.). Nessas situações, o balanço oferta/demanda de oxigênio é um fator importante. Conforme o processo de remodelamento progride, porém, essa adaptação metabólica torna-se insuficiente, ocorrendo redução na capacidade de oxidar glicose e diminuição da eficiência energética. Recentemente disfunção de mitocôndrias tem sido proposta como tendo parte importante na IC com fração de ejeção preservada de ventrículo esquerdo (ICFEVEp) (SOCESP, 4ª ed.). CARDIOPATIA HIPERTENSIVA (HIPERTROFIA VENTRICULAR) ↠ A hipertrofia ventricular constitui, portanto, uma resposta adaptativa que possibilita ao coração vencer a sobrecarga de pressão e manter o débito cardíaco. Ocorrida a hipertrofia do ventrículo esquerdo, o indivíduo permanece compensado hemodinamicamente por anos ou décadas, apesar da hipertensão arterial; nesse período, fala-se em fase compensada da cardiopatia hipertensiva (BOGLIOGO, 10ª ed.). ↠ A capacidade de hipertrofia, no entanto, é limitada. Se a pressão arterial não é controlada, chega um momento em que o miocárdio não consegue se hipertrofiar mais nem se manter hipertrofiado. O débito cardíaco não é mais mantido, resultando em sobrecarga de volume diastólico e dilatação da cavidade (hipertrofia excêntrica), caracterizando insuficiência cardíaca. Esta constitui a fase descompensada da cardiopatia hipertensiva (BOGLIOGO, 10ª ed.). ↠ Mesmo na fase compensada e por causa do aumento progressivo da espessura da parede ventricular, a complacência do ventrículo esquerdo diminui (surge sobrecarga do átrio esquerdo) e aumenta a necessidade de oxigênio, o que contribui para a isquemia miocárdica e faz com que surjam focos de fibrose intersticial (BOGLIOGO, 10ª ed.). OBS.: Na forma compensada, o paciente pode ser assintomático, embora o risco de morte súbita seja aumentado (BOGLIOGO, 10ª ed.). Insuficiência Cardíaca ↠ A insuficiência cardíaca é definida como uma síndrome complexa, resultante de qualquer distúrbio funcional ou estrutural do coração, a qual ocasiona ou aumenta o risco de desenvolver manifestações de débito cardíaco baixo e/ou congestão pulmonar ou sistêmica (PORTH, 10ª ed.). EPIDEMIOLOGIA ↠ A IC tem alta prevalência e grande impacto na morbidade e mortalidade em todo o mundo, sendo hoje um grave problema de saúde pública (SOCESP, 4ª ed.). ↠ A insuficiência cardíaca pode ocorrer em qualquer faixa etária, mas afeta primariamente os idosos. Ainda que as taxas de morbidade e mortalidade por DCV tenham diminuído nas últimas décadas, a incidência de insuficiência cardíaca está aumentando a uma taxa alarmante. Aproximadamente, 400 mil a 700 mil pessoas são diagnosticadas com insuficiência cardíaca a cada ano, nos EUA (SOCESP, 4ª ed.). ↠ No Brasil, dados do Ministério da Saúde mostram que, em 2007, quase 40% das internações hospitalares foram relacionadas à IC descompensada. Essa proporção foi de 70% no grupo etário com mais de 60 anos (SOCESP, 4ª ed.). ETIOLOGIA E CLASSIFICAÇÃO ↠ A síndrome da insuficiência cardíaca pode ser produzida por qualquer condição cardíaca que reduza a Cardiopatia hipertensiva. Corte transversal de coração mostrando acentuada hipertrofia concêntrica do ventrículo esquerdo (VE), em paciente com hipertensão arterial sistêmica. A cavidade ventricular esquerda é virtual. Notam-se, ainda, áreas esbranquiçadas de fibrose nas paredes lateral e diafragmática, sinal de isquemia prévia. 5 Júlia Morbeck– @med.morbeck capacidade de bombeamento do coração (PORTH, 10ª ed.). ↠ Entre as causas mais comuns de insuficiência cardíaca, podemos citar DAC, hipertensão, CMD e cardiopatia valvar. Como muitos processos que levam à insuficiência cardíaca são de longa duração e progridem gradualmente, é possível prevenir a insuficiência cardíaca em muitos casos, ou adiar a progressão por meio da detecção e intervenção precoces. A importância dessas abordagens é enfatizada pelas diretrizes do ACC/AHA, que incorporaram um sistema de classificação da insuficiência cardíaca com a inclusão de quatro estágios: (PORTH, 10ª ed.). ➢ Estágio A: Risco alto de desenvolver insuficiência cardíaca, mas sem anormalidades estruturais identificadas nem sinais de insuficiência cardíaca. ➢ .Estágio B: Presença de cardiopatia estrutural, mas sem histórico de sinais e sintomas de insuficiência cardíaca. ➢ Estágio C: Sintomas atuais ou anteriores de insuficiência cardíaca com cardiopatia estrutural. ➢ Estágio D: Cardiopatia estrutural avançada e sintomas de insuficiência cardíaca em repouso, com terapia clínica máxima. Esse sistema de estadiamento reconhece que existem fatores de risco estabelecidos e anormalidades estruturais que são característicos dos quatro estágios da insuficiência cardíaca. As pessoas normalmente progridem de um estágio para o outro, exceto se a progressão da doença for adiada ou interrompida pelo tratamento (PORTH, 10ª ed.). FISIOPATOLOGIA DA IC Débito cardíaco é a quantidade de sangue que os ventrículos ejetam a cada minuto (PORTH, 10ª ed.). ↠ O coração tem a surpreendente capacidade de ajustar seu débito cardíaco para atender às necessidades variáveis do corpo. Durante o sono, o débito cardíaco declina, e durante os exercícios, aumenta de modo acentuado. A capacidade de aumentar o débito cardíaco durante o aumento das atividades é denominada reserva cardíaca (PORTH, 10ª ed.). Por exemplo, nadadores que participam de competições e maratonistas têm grandes reservas cardíacas. Durante os exercícios, o débito cardíaco desses atletas aumenta rapidamente, atingindo 5 a 6 vezes o nível de repouso (PORTH, 10ª ed.). ↠ Em significativo contraste com os atletas sadios, as pessoas com insuficiência cardíaca comumente utilizam a reserva cardíaca durante o repouso. Para elas, subir um lance de escadas pode ser suficiente para causar falta de ar, por exceder a reserva cardíaca (PORTH, 10ª ed.). CONCEITOS A pré-carga reflete o volume ou as condições de carregamento do ventrículo no final da diástole, pouco antes do início da sístole. É o volume de sangue que distende o músculo cardíaco no final da diástole e, normalmente, é determinada pelo retorno venoso para o coração (PORTH, 10ª ed.). Durante qualquer ciclo cardíaco, o volume máximo de sangue que enche o ventrículo está presente no final da diástole. Conhecido como volume diastólico final, esse volume causa um aumento no comprimento das fibras musculares miocárdicas. Dentro de algumas limitações, conforme o volume diastólico final ou a pré-carga aumentam, o volume sistólico aumenta em função do mecanismo de Frank-Starling (PORTH, 10ª ed.). A pós-carga representa a força que o músculo cardíaco contrátil deve gerar para ejetar o sangue do coração cheio. Os principais componentes da pós-carga são a resistência vascular sistêmica (periférica) e a tensão da parede ventricular. Quando a resistência vascular sistêmica é elevada, como na hipertensão arterial, deve ser gerado um aumento na pressão intraventricular esquerda para primeiramente abrir a valva aórtica e, em seguida, movimentar o sangue para fora do ventrículo e para dentro da circulação sistêmica. Esse aumento da pressão é igual a um aumento no estresse ou na tensão da parede ventricular. Como resultado, uma pós-carga excessiva pode comprometer a ejeção ventricular e aumentar a tensão da parede (PORTH, 10ª ed.). A contratilidade do miocárdio, também conhecida como inotropismo, se refere ao desempenho contrátil do coração. Representa a capacidade dos elementos contráteis (filamentos de actina e miosina) do músculo cardíaco de interagir e encurtar contra uma carga. A contratilidade aumenta o débito cardíaco, independentemente da pré- carga e da pós-carga (PORTH, 10ª ed.). A interação entre os filamentos de actina e miosina durante a contração e o relaxamento do músculo cardíaco (i. e., ligação e desligamento das pontes cruzadas) requerem o uso da energia fornecida pela degradação do ATP e a presença de íons cálcio (Ca++) (PORTH, 10ª ed.). Disfunção sistólica X Disfunção diastólica ↠ A classificação separa a fisiopatologia da insuficiência cardíaca em insuficiências ou disfunções sistólica e diastólica, com base na fração de ejeção ventricular (PORTH, 10ª ed.). Fração de ejeção é a porcentagem de sangue bombeada para fora dos ventrículos a cada contração. Uma fração de ejeção normal é de aproximadamente 55 a 70% (PORTH, 10ª ed.). ↠ Na disfunção ventricular sistólica, a contratilidade do miocárdio está comprometida, levando a uma diminuição na fração de ejeção e no débito cardíaco (PORTH, 10ª ed.). 6 Júlia Morbeck – @med.morbeck ↠ A disfunção ventricular diastólica é caracterizada por uma fração de ejeção normal, mas com relaxamento ventricular diastólico comprometido, levando a uma diminuição no enchimento ventricular que, por fim, causa diminuição na pré-carga, no volume sistólico e no débito cardíaco (PORTH, 10ª ed.). Muitas pessoas com insuficiência cardíaca apresentam uma combinação de elementos de disfunções ventriculares sistólica e diastólica, e a divisão entre disfunção sistólica e disfunção diastólica pode ser razoavelmente artificial, em particular conforme esteja relacionada às manifestações e ao tratamento (PORTH, 10ª ed.). É importante observar que a disfunção ventricular não é sinônimo de insuficiência cardíaca, mas pode levar ao seu desenvolvimento. Com ambas as disfunções ventriculares, sistólica e diastólica, os mecanismos compensatórios em geral conseguem manter a função cardíaca em repouso adequada, até os estágios finais da insuficiência cardíaca (PORTH, 10ª ed.). DISFUNÇÃO SISTÓLICA ↠ Primariamente definida como uma diminuição na contratilidade do miocárdio, caracterizada por uma fração de ejeção inferior a 40%. Um coração normal ejeta em torno de 65% do sangue presente no ventrículo ao final da diástole. Na insuficiência cardíaca sistólica, a fração de ejeção declina progressivamente com o aumento dos graus de disfunção miocárdica (PORTH, 10ª ed.). OBS.: Nos tipos mais graves de insuficiência cardíaca, a fração de ejeção pode diminuir para uma porcentagem com dígito único ↠ Com uma diminuição na fração de ejeção, há um aumento resultante no volume diastólico final (pré-carga), na dilatação ventricular e na tensão da parede ventricular e uma elevação na pressão diastólica final ventricular. O aumento do volume, somado ao retorno venoso normal, leva a um aumento na pré-carga ventricular (PORTH, 10ª ed.). ↠ Acredita-se que a elevação na pré-carga seja um mecanismo compensatório para ajudar a manter o volume sistólico por meio do mecanismo de Frank- Starling, apesar da diminuição da fração de ejeção. Embora atue como um mecanismo compensatório, o aumento da pré-carga também pode levar a uma das consequências mais deletérias da disfunção ventricular sistólica – o acúmulo de sangue nos átrios e no sistema venoso (que é esvaziado no interior dos átrios), causando edema pulmonar ou periférico (PORTH, 10ª ed.). IMPORTANTE: A disfunção sistólica comumente resulta de condições que comprometem o desempenho contrátil do coração (p. ex., cardiopatia isquêmica e miocardiopatia), produzem uma sobrecarga de volume (p. ex., insuficiência valvar e anemia) ou geram uma sobrecarga de pressão (p. ex., hipertensão e estenose valvar) sobre o coração.A extensão da disfunção ventricular sistólica pode ser estimada medindo- se o débito cardíaco e a fração de ejeção, e por meio da avaliação das manifestações de insuficiência cardíaca do lado direito, em particular de congestão pulmonar (PORTH, 10ª ed.). DISFUNÇÃO DIASTÓLICA ↠ Ainda que a insuficiência cardíaca em geral esteja associada ao comprometimento da função sistólica, em cerca de 55% dos casos a função sistólica é preservada e a insuficiência cardíaca ocorre exclusivamente com base na disfunção diastólica ventricular esquerda. Embora esses corações apresentem contração normal, o relaxamento é anormal (PORTH, 10ª ed.). ↠ O enchimento anormal do ventrículo compromete o débito cardíaco, especialmente durante o exercício. Para qualquer volume ventricular determinado, as pressões ventriculares estão elevadas, acarretando sinais de congestão venosa pulmonar e sistêmica, de modo idêntico ao observado em pessoas cujo coração está dilatado e contrai inadequadamente (PORTH, 10ª ed.). ↠ A prevalência da insuficiência diastólica aumenta com a idade, sendo mais alta nas mulheres e em pessoas com hipertensão e fibrilação atrial (PORTH, 10ª ed.). OBS.: Entre as condições causadoras de disfunção diastólica, estão aquelas que impedem a expansão do ventrículo (p. ex., efusão pericárdica, pericardite constritiva), aumentam a espessura da parede e reduzem a dimensão da câmara (p. ex., hipertrofia do miocárdio, MCH), e adiam o relaxamento diastólico (p. ex., envelhecimento, cardiopatia isquêmica) (PORTH, 10ª ed.). ↠ O envelhecimento com frequência é acompanhado por um adiamento no relaxamento do coração durante a diástole, de modo que o enchimento diastólico tem início enquanto o ventrículo ainda está rígido e resistente à distensão para aceitar um aumento no volume. Um adiamento semelhante ocorre na isquemia do miocárdio, que resulta da falta de energia para romper o rigor estabelecido entre os filamentos de actina e miosina, bem como para transportar o Ca++ para fora do citosol e de volta ao interior do retículo sarcoplasmático (PORTH, 10ª ed.). IMPORTANTE: A função diastólica também é influenciada pela frequência cardíaca, a qual determina o tempo disponível para que ocorra o enchimento ventricular. Um aumento na frequência cardíaca abrevia o tempo de enchimento diastólico. Portanto, a disfunção diastólica pode ser agravada por taquicardia ou arritmia e melhorar com uma queda na frequência cardíaca, a qual possibilita um tempo maior para o enchimento do coração (PORTH, 10ª ed.). 7 Júlia Morbeck – @med.morbeck ↠ Com a disfunção diastólica, o sangue não consegue se movimentar livremente no interior do VE e isso faz com que a pressão intraventricular aumente com qualquer volume. As pressões elevadas são transferidas do VE para dentro do átrio esquerdo e do sistema venoso pulmonar, causando uma diminuição na complacência do pulmão que aumenta o trabalho respiratório e evoca sintomas de dispneia (PORTH, 10ª ed.). ↠ O débito cardíaco encontra-se diminuído, não em consequência de uma redução da fração de ejeção ventricular conforme a observada com a disfunção sistólica, mas em decorrência de uma diminuição no volume (pré-carga) disponível para o débito cardíaco adequado. O débito cardíaco inadequado durante a prática de exercícios pode levar à fadiga das pernas e dos músculos acessórios da respiração (PORTH, 10ª ed.). Disfunção ventricular direita X Disfunção ventricular esquerda ↠ A insuficiência cardíaca é classificada de acordo com o lado do coração (ventricular direita ou ventricular esquerda) primariamente afetado. Embora o evento inicial que leva à insuficiência cardíaca possa ser de origem ventricular direita ou esquerda, a insuficiência cardíaca a longo prazo normalmente envolve ambos os lados (PORTH, 10ª ed.). DISFUNÇÃO VENTRICULAR DIREITA ↠ A insuficiência cardíaca do lado direito compromete a capacidade de transporte do sangue desoxigenado da circulação sistêmica para a circulação pulmonar. Consequentemente, quando o ventrículo direito é insuficiente, ocorre uma redução na quantidade de sangue deslocada adiante, para a circulação pulmonar, e em seguida para o lado esquerdo do coração, finalmente causando redução do débito cardíaco ventricular esquerdo (PORTH, 10ª ed.). ↠ Além disso, se o ventrículo direito não ocasiona o movimento anterógrado do sangue, ocorre acúmulo ou congestão de sangue no sistema venoso sistêmico. Isso eleva as pressões diastólica final ventricular direita, atrial direita e venosa sistêmica (PORTH, 10ª ed.). ↠ Um importante efeito da insuficiência cardíaca do lado direito é o desenvolvimento de edema periférico. Os efeitos da ação da gravidade fazem com que o edema seja mais pronunciado nas partes inferiores do corpo (PORTH, 10ª ed.). OBS.: Quando a pessoa está em posição ortostática, observa-se edema nos membros inferiores; em decúbito dorsal, o edema é observado na área acima do sacro. O acúmulo do líquido do edema é evidenciado por um ganho de peso (i. e., 560 mℓ de líquido acumulado resultam em um ganho de peso de 0,45 kg). A verificação diária do peso pode ser utilizada como um meio de avaliar o acúmulo de líquido em uma pessoa com insuficiência cardíaca crônica. Como regra, um ganho de peso superior a 0,9 kg em 24 h ou 2,2 kg em 1 semana é considerado um sinal de agravamento da insuficiência (PORTH, 10ª ed.). ↠ A insuficiência cardíaca do lado direito também produz congestão das vísceras. À medida que a distensão venosa progride, o sangue se acumula nas veias hepáticas que drenam na veia cava inferior, e o fígado fica ingurgitado. Isso pode causar hepatomegalia e dor no quadrante superior direito. Na insuficiência cardíaca do lado direito grave e prolongada, a função hepática está comprometida e as células hepáticas podem morrer. A congestão da circulação porta também pode levar ao ingurgitamento do baço e ao desenvolvimento de ascite. A congestão do trato gastrintestinal pode interferir na digestão e na absorção de nutrientes, causando anorexia e desconforto abdominal (PORTH, 10ª ed.). OBS.: Na insuficiência cardíaca do lado direito grave, as veias jugulares externas se tornam distendidas e podem ser visualizadas quando a pessoa está sentada ou em pé (PORTH, 10ª ed.). CAUSAS DA DISFUNÇÃO VENTRICULAR DIREITA As causas da disfunção ventricular direta incluem condições que impedem o fluxo sanguíneo nos pulmões ou que comprometem a eficácia do bombeamento do ventrículo direito (PORTH, 10ª ed.). A insuficiência ventricular esquerda é a causa mais comum de insuficiência ventricular direita (PORTH, 10ª ed.). A hipertensão pulmonar prolongada também causa disfunção e insuficiência ventricular direita. A hipertensão pulmonar ocorre em pessoas com doença pulmonar crônica, pneumonia grave, embolia pulmonar ou estenose aórtica ou mitral. Quando a insuficiência cardíaca do lado direito ocorre em resposta à doença pulmonar crônica, é denominada cor pulmonale (PORTH, 10ª ed.). Outras causas comuns incluem estenose ou regurgitação das valvas tricúspide ou pulmonar, infarto ventricular direito e miocardiopatia. A 8 Júlia Morbeck – @med.morbeck disfunção ventricular direita com insuficiência cardíaca também é causada por defeitos cardíacos congênitos, como tetralogia de Fallot e defeito do septo interventricular (PORTH, 10ª ed.). DISFUNÇÃO VENTRICULAR ESQUERDA ↠ A insuficiência cardíaca do lado esquerdo compromete o movimento do sangue a partir da circulação pulmonar (de baixa pressão) até o lado arterial (de alta pressão) da circulação sistêmica (PORTH, 10ª ed.). ↠ Com o comprometimento da função cardíaca esquerda, ocorre uma diminuição no débito cardíaco para a circulação sistêmica. O sangue se acumula no VE, no átrio esquerdo e na circulação pulmonar, o que causa uma elevação na pressão venosa pulmonar.Quando a pressão nos capilares pulmonares (normalmente de cerca de 10 mmHg) excede a pressão osmótica capilar (em geral ao redor de 25 mmHg), ocorre uma transferência do líquido intravascular para o interstício dos pulmões, resultando em edema pulmonar (PORTH, 10ª ed.). O episódio de edema pulmonar costuma ocorrer à noite, após a permanência da pessoa em posição reclinada durante algum tempo e a remoção das forças gravitacionais do sistema circulatório. Nesse momento, o líquido do edema sequestrado nos membros inferiores ao longo do dia retorna para o compartimento vascular e é redistribuído para a circulação pulmonar (PORTH, 10ª ed.). CAUSAS DA DISFUNÇÃO VENTRICULAR ESQUERDA As causas mais comuns de disfunção ventricular esquerda são a hipertensão e o infarto agudo do miocárdio (PORTH, 10ª ed.). Mesmo quando a área infartada é pequena, pode haver uma área adjacente de tecido isquêmico. Isso pode resultar em grandes áreas de hipocinesia ou acinesia da parede ventricular, e no rápido aparecimento de congestão e edema pulmonar (PORTH, 10ª ed.). A estenose ou regurgitação da valva aórtica ou mitral também gera o nível de retorno do lado esquerdo que resulta em congestão pulmonar. Conforme a pressão pulmonar aumenta como resultado da congestão, pode haver progressão para insuficiência cardíaca do lado direito (PORTH, 10ª ed.). INSUFICIÊNCIA COM DÉBITO ALTO X DÉBIDO BAIXO Ambas são descritas em termos do débito cardíaco (PORTH, 10ª ed.). A insuficiência com débito alto é um tipo incomum de insuficiência cardíaca causada por uma necessidade excessiva de débito cardíaco. Na insuficiência com débito alto, a função do coração pode estar acima do normal e inadequada, devido às necessidades metabólicas excessivas. As causas de insuficiência com débito alto incluem anemia grave, tireotoxicose, condições que causam desvios arteriovenosos e doença de Paget (PORTH, 10ª ed.). A insuficiência com débito baixo é causada por distúrbios que comprometem a capacidade de bombeamento do coração, como cardiopatia isquêmica e miocardiopatia. A insuficiência com débito baixo é caracterizada por evidências clínicas de vasoconstrição sistêmica, com extremidades frias, pálidas e por vezes cianóticas Nos casos avançados de insuficiência com débito baixo, as reduções acentuadas no volume sistólico são evidenciadas por uma menor amplitude da pressão de pulso. Contrariamente, na insuficiência com débito alto, as extremidades normalmente são quentes e ruborizadas, e a pressão de pulso é normal ou apresenta amplitude aumentada (PORTH, 10ª ed.). Mecanismos Compensatórios ↠ Na insuficiência cardíaca, a reserva cardíaca é mantida em grande parte por respostas compensatórias ou adaptativas, como o mecanismo de Frank-Starling, a ativação de influências neuro-humorais como os reflexos do sistema nervoso simpático, o mecanismo renina- angiotensina-aldosterona, PN cardíacos, substâncias vasoativas produzidas localmente, além de hipertrofia e remodelamento do miocárdio (PORTH, 10ª ed.). ↠ A primeira dessas adaptações ocorre rapidamente, em minutos ou horas após a disfunção miocárdica, e pode ser adequada para manter o desempenho de bombeamento geral do coração em níveis relativamente normais (PORTH, 10ª ed.). ↠ A hipertrofia e o remodelamento do miocárdio ocorrem lentamente, no decorrer de meses a anos, e desempenham papel importante na adaptação à sobrecarga hemodinâmica a longo prazo 9 Júlia Morbeck – @med.morbeck ↠ Na insuficiência cardíaca, as diminuições iniciais na função cardíaca podem ser imperceptíveis, uma vez que esses mecanismos compensatórios mantêm o débito cardíaco. Contudo, além de contribuírem para a adaptação do coração insuficiente, tais mecanismos também favorecem a fisiopatologia da insuficiência cardíaca (PORTH, 10ª ed.). MECANISMO DE FRANK-STARLING ↠ O mecanismo de Frank-Starling opera por meio de um aumento na pré-carga. Com o aumento do enchimento diastólico, ocorre ampliação no estiramento das fibras miocárdicas e uma aproximação mais ideal das cabeças dos filamentos grossos de miosina aos sítios de ligação da troponina nos filamentos finos de actina, resultando em aumento na força da contração subsequente (PORTH, 10ª ed.). ↠ Conforme ilustrado na figura abaixo, não há uma curva única de Frank-Starling. Um aumento na contratilidade, ou no inotropismo, aumentará o débito cardíaco em qualquer volume diastólico final, causando deslocamento da curva para cima e à esquerda, enquanto uma diminuição no inotropismo causará o deslocamento da curva para baixo e à direita (PORTH, 10ª ed.). ↠ Um maior estiramento muscular, como observado com o mecanismo de Frank-Starling, também causa aumento na tensão da parede ventricular, com consequente aumento do consumo de oxigênio do miocárdio. A tensão aumentada da parede amplia as demandas de oxigênio do miocárdio, o que pode produzir isquemia e contribuir para o comprometimento adicional do inotropismo, deslocando a curva de Frank-Starling ainda mais para baixo e à direita. Em tal situação, o aumento na pré-carga deixa de contribuir para a compensação e passa a agravar a insuficiência cardíaca. (PORTH, 10ª ed.). ATIVIDADE DO SISTEMA NERVOSO SIMPÁTICO ↠ A estimulação do sistema nervoso simpático desempenha um papel importante na resposta compensatória à diminuição do débito cardíaco e do volume sistólico. Tanto o tônus simpático cardíaco quanto os níveis de catecolaminas (adrenalina e noradrenalina) estão elevados nos estágios tardios da maioria dos tipos de insuficiência cardíaca. Por meio da estimulação direta da frequência e da contratilidade cardíacas, da regulação do tônus vascular e da intensificação da retenção renal de sódio e água, o sistema nervoso simpático inicialmente ajuda a manter a perfusão dos diversos órgãos do corpo. Naqueles que progridem para insuficiência cardíaca mais grave, o sangue é desviado para as circulações mais críticas (cerebral e coronariana) (PORTH, 10ª ed.). ↠ Embora o objetivo da resposta do sistema nervoso simpático seja aumentar a pressão arterial e o débito cardíaco, constituindo o mecanismo compensatório mais imediato, pode se tornar uma adaptação inadequada. O aumento na atividade simpática por meio da estimulação Curvas da função ventricular esquerda. Curva A: Curva da função normal, com um débito cardíaco normal e pressão de enchimento DFVE ideal. Curva B: Insuficiência cardíaca compensada, com débito cardíaco normal nas pressões DFVE mais altas. Curva C: Insuficiência cardíaca descompensada, com uma diminuição no débito cardíaco e elevação DFVE, com elevação final da pressão capilar pulmonar e desenvolvimento de congestão pulmonar. Curva D: Choque cardiogênico, com uma diminuição extrema no débito cardíaco e um aumento acentuado nas pressões DFVE. 10 Júlia Morbeck – @med.morbeck dos receptores beta-adrenérgicos do coração acarreta taquicardia, vasoconstrição e arritmias cardíacas. De modo agudo, a taquicardia aumenta significativamente a carga de trabalho do coração, o que incrementa a demanda de oxigênio do miocárdico, e tanto a isquemia quanto a miocardiopatia contribuem para o agravamento da insuficiência cardíaca (PORTH, 10ª ed.). MECANISMO RENINA-ANGIOTENSINA-ALDOSTERONA ↠ Um dos efeitos mais importantes da redução do débito cardíaco na insuficiência cardíaca é a redução do fluxo sanguíneo renal e da taxa de filtração glomerular, levando à retenção de sódio e água. Com a diminuição do fluxo sanguíneo renal, ocorre aumento progressivo da secreção de renina pelos rins, acompanhado de aumentos paralelos nos níveis circulantes de angiotensina II. O aumento da concentração de angiotensina II contribui diretamente para uma vasoconstrição generalizada e excessiva, além de facilitar a liberação de noradrenalina e inibir a sua recaptaçãopelo sistema nervoso simpático (PORTH, 10ª ed.). ↠ A angiotensina II também proporciona um poderoso estímulo para a produção de aldosterona pelo córtex adrenal. A aldosterona aumenta a reabsorção tubular de sódio, que é acompanhada por um aumento na retenção de água. Como a aldosterona é metabolizada no fígado, seus níveis aumentam ainda mais quando a insuficiência cardíaca causa congestão hepática. A angiotensina II também aumenta o nível do hormônio antidiurético (ADH), que atua como vasoconstritor e inibidor da excreção de água (PORTH, 10ª ed.). ↠ Na insuficiência cardíaca, o aumento progressivo de líquido leva à dilatação ventricular e ao aumento da tensão da parede. Por fim, o aumento da demanda de oxigênio que acompanha a elevação da tensão da parede supera o mecanismo compensatório de Frank-Starling, reduzindo o inotropismo e causando progressão da insuficiência cardíaca (PORTH, 10ª ed.). PEPTÍDEOS NATRIURÉTICOS ↠ O músculo cardíaco produz e secreta uma família de hormônios peptídicos correlatos (NP), promotores de potentes efeitos diuréticos, natriuréticos e sobre o músculo liso vascular, os quais também interagem com outros mecanismos neuro-humorais que afetam a função cardiovascular. Entre os quatro NP conhecidos mais comumente associados à insuficiência cardíaca, estão o peptídio natriurético atrial (ANP) e o peptídio natriurético cerebral (BNP) (PORTH, 10ª ed.). Como seu nome indica, o ANP é liberado pelas células atriais em resposta ao estiramento atrial, à pressão ou à sobrecarga de líquido. O BNP é secretado primariamente pelos ventrículos em resposta ao aumento da pressão ventricular ou à sobrecarga de líquido (PORTH, 10ª ed.). ↠ Em resposta ao aumento do estiramento das câmaras e da pressão, promovem natriurese e diurese rápidas e transitórias, por meio do aumento na taxa de filtração glomerular e da inibição da reabsorção tubular de sódio e água (PORTH, 10ª ed.). ↠ Os níveis circulantes de ANP e BNP estão consistentemente elevados nas pessoas com insuficiência cardíaca (PORTH, 10ª ed.). ENDOTELINAS ↠ As endotelinas, liberadas pelas células endoteliais na circulação, são peptídios vasoconstritores potentes. Assim como a angiotensina II, a endotelina também pode ser sintetizada e liberada por diversos tipos celulares, incluindo os miócitos cardíacos. Foram identificados quatro peptídios de endotelina (endotelina 1 [ET-1], ET-2, ET-3 e ET-4) (PORTH, 10ª ed.). ↠ Observou-se que as endotelinas induzem a proliferação de células musculares lisas vasculares e a hipertrofia dos miócitos cardíacos; aumentam a liberação de ANP, aldosterona e catecolaminas; e exercem efeitos antinatriuréticos sobre os rins (PORTH, 10ª ed.). ↠ A produção de ET-1 é regulada por muitos fatores significativos para a função cardiovascular e com implicações para a insuficiência cardíaca (PORTH, 10ª ed.). Manifestações Clínicas da IC ↠ Dependem da extensão e do tipo de disfunção cardíaca presente, bem como da rapidez com que se desenvolve. Uma pessoa com insuficiência cardíaca anteriormente compensada estável pode desenvolver sinais de insuficiência cardíaca pela primeira vez quando a condição avançar a um ponto crítico, como no aumento progressivo da hipertensão pulmonar em pessoas com regurgitação da valva mitral (PORTH, 10ª ed.). ↠ A gravidade e a progressão dos sintomas dependem da extensão e do tipo de disfunção presente (sistólica versus diastólica, do lado direito versus esquerdo) (PORTH, 10ª ed.). 11 Júlia Morbeck – @med.morbeck ↠ Os sinais e sintomas incluem falta de ar e outras manifestações respiratórias, fadiga e tolerância limitada aos exercícios, retenção de líquido e edema, caquexia e desnutrição, e cianose. As pessoas com insuficiência cardíaca grave podem apresentar diaforese e taquicardia (PORTH, 10ª ed.). MANIFESTAÇÕES RESPIRATÓRIAS ↠ A falta de ar decorrente da congestão da circulação pulmonar é uma das principais manifestações da insuficiência cardíaca do lado esquerdo. A falta de ar (i. e., dificuldade respiratória) que pode ser percebida é denominada dispneia (PORTH, 10ª ed.). FADIGA, FRAQUEZA E CONFUSÃO MENTAL ↠ A fadiga e a fraqueza com frequência acompanham a diminuição do débito do VE. A fadiga cardíaca é diferente da fadiga geral, no sentido de normalmente estar ausente pela manhã, porém surgir e progredir com o aumento da atividade no decorrer do dia (PORTH, 10ª ed.). ↠ Na insuficiência cardíaca do lado esquerdo aguda ou grave, o débito cardíaco pode diminuir a níveis insuficientes para o suprimento adequado de oxigênio para o cérebro, causando assim confusão mental e alterações comportamentais (PORTH, 10ª ed.). Fatores que influenciam na adesão do tratamento ↠ Um documento da Organização Mundial da Saúde (OMS) publicado em 2003 definiu a adesão como o “grau em que o comportamento de uma pessoa – tomar o medicamento, seguir uma dieta e/ou executar mudanças no estilo de vida (MEV) – corresponde às recomendações acordadas com um prestador de assistência à saúde” (DIRETRIZ, 2020). ↠ Em 2012, em um novo documento da OMS, os autores diferenciam os processos, como a adesão aos medicamentos e o manejo da adesão. De acordo com tal diretriz, a adesão ao medicamento é um processo caracterizado por três grandes componentes: (DIRETRIZ, 2020). ➢ o início; ➢ a implementação; ➢ a descontinuação. O início é o tempo desde a prescrição até a tomada da primeira dose do medicamento; a implementação corresponde à coincidência entre a dose que o paciente toma e a dosagem prescrita; e a descontinuação marca a interrupção, quando se omite a próxima dose a ser tomada e se interrompe o tratamento posteriormente (DIRETRIZ, 2020). ↠ Os problemas de adesão nem sempre são fáceis de se detectar e quantifica-los é ainda mais difícil. Para melhorar o controle da HA, é importante reunir esforços no sentido de identificar os pacientes não aderentes ao tratamento proposto (DIRETRIZ, 2020). ↠ O abandono mostra-se frequente nos primeiros meses do tratamento, além de os pacientes poderem tomar os medicamentos em desacordo com a prescrição médica (DIRETRIZ, 2020). A falta de adesão ao tratamento é frequentemente definida quando os hipertensos fazem uso de menos de 80% dos medicamentos prescritos. No entanto, pode variar ao longo de um contínuo de zero e até ultrapassar 100% naqueles que usam mais do que foi prescrito, o que também se considera não adesão ao tratamento (DIRETRIZ, 2020). MÉTODOS DE AVALIAÇÃO DA ADESÃO DO PACIENTE ↠ Existem várias formas para medir a adesão ao tratamento medicamentoso anti-hipertensivo na prática clínica e em pesquisa, sendo classificados como: (DIRETRIZ, 2020). ➢ métodos diretos os que há comprovação objetiva da tomada do medicamento pelo paciente; ➢ métodos indiretos aqueles em que estratégias diversas estimam ou não a tomada do medicamento prescrito. ↠ A escolha do melhor método dependerá da finalidade do uso da informação obtida, dos recursos disponíveis para a avaliação, da aceitação, da conveniência para o paciente do método a ser utilizado e dos custos envolvidos (DIRETRIZ, 2020). ATENÇÃO: Medir a adesão ao tratamento é uma tarefa complexa. Não há um método considerado padrão-ouro que represente as várias dimensões que envolvem o processo DIRETRIZ, 2020). 12 Júlia Morbeck – @med.morbeck A OMS sugere o uso de um método indireto associado a um método direto para a medida da adesão para doenças crônicas. No contexto da HA, os métodos indiretos acabam sendo os mais utilizados, pois os métodos diretos ainda carecem de validação, são caros e estão somente disponíveis em ambientes de pesquisa (DIRETRIZ, 2020). FATORES QUE INTERFEREM NA ADESÃO AO TRATAMENTO ↠ A adesão ao tratamento é um processo complexo e multidimensional no qual se identificam barreiras reunidasem cinco dimensões que podem fornecer uma visão mais abrangente para os profissionais de saúde, visando a intervenções eficazes para o melhor controle da PA. (DIRETRIZ, 2020). ESTRATÉGIAS PARA PROMOVER A ADESÃO AO TRATAMENTO ANTI-HIPERTENSIVO ↠ A falta de adesão ao tratamento tem como principal consequência a falta de controle da HA e, portanto, o aumento de lesões em órgãos-alvo (LOA) e da morbimortalidade cardiovascular (CV). Essas consequências, por sua vez, têm grande impacto econômico, devido a maiores gastos de atendimentos de saúde e aposentadorias precoces. Por isso, a adoção de estratégias com o objetivo de promover uma melhor adesão ao tratamento anti-hipertensivo, seja de forma isolada ou em conjunto, tem como finalidade a mudança desse cenário (DIRETRIZ, 2020). ↠ Entre todas as estratégias disponíveis, as mais factíveis de serem implementadas no Brasil e com maiores evidências, destacam-se: (DIRETRIZ, 2020). ➢ Automedida da PA (Grau de Recomendação I/Nível de Evidência B); ➢ Esquemas posológicos com maior comodidade: menores doses possíveis, tomada em dose única diária, associação de anti-hipertensivos em um mesmo comprimido (Grau de Recomendação I/Nível de Evidência A); ➢ Implementação de equipes multiprofissionais no cuidado de pacientes hipertensos com médico, enfermeiro, farmacêutico, educador físico, nutricionista, psicólogo, assistente social e agentes comunitários de saúde (Grau de Recomendação I/Nível de Evidência B). CONCLUSÃO Otimizar os índices de adesão ao tratamento anti-hipertensivo contribui para a diminuição dos custos de morbidade, mortalidade e com a assistência à saúde (DIRETRIZ, 2020). Atualmente, dispõe-se de arsenal terapêutico por meio de tratamento medicamentoso e não medicamentoso com eficácia comprovada. A 13 Júlia Morbeck – @med.morbeck adesão às propostas de tratamento e consequente controle dos hipertensos ainda é um grande desafio para todos profissionais de saúde (DIRETRIZ, 2020). Dessa maneira, reunir esforços para atender às reais necessidades da população hipertensa mostra-se tarefa primordial para a mudança do atual panorama no contexto da HA (DIRETRIZ, 2020). Referências BARROSO et. al. Diretrizes Brasileiras de Hipertensão Arterial - 2020. Arquivos Brasileiros de Cardiologia, 2021. CONSOLIM-COLOMBO et. al. Tratado de Cardiologia SOCESP, 4ª edição – Barueri – São Paulo: Manole, 2019. NORRIS. PORTH Fisiopatologia, 10ª edição – Rio de Janeiro: guanabara Koogan, 2021. FILHO, G. B. Bogliogo, Patologia, 10ª edição – Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2021.
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