Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
D Introdução Existem quatro pilares que norteiam os cuidados paliativos: a boa comunicação entre equipe e paciente e familiares; o controle apropriado dos sintomas; trabalho em equipe multiprofissional; e apoio à família no processo de morte e durante o luto. É necessário que a equipe multiprofissional desenvolva uma boa comunicação com o paciente e sua família que permita conhecer as preocupações do paciente e conversar com ele sobre sua condição de saúde. A falta de conhecimento técnico sobre sua doença, possibilidades de tratamento e evolução causam angustia no paciente e nos cuidadores e geram expectativas falsas que, quando não alcançadas, levam a frustração Para evitar isto, os profissionais de saúde precisam informar sobre a doença, seus sintomas, sua gravidade, as possíveis formas de manejo e o prognóstico, para que o paciente tenha a possibilidade de planejar seu futuro. Nesse âmbito, a comunicação de más notícias se torna um desafio dentro dos cuidados paliativos, que precisa ser vivenciado pela equipe multiprofissional de forma a diminuir a dor e o sofrimento do paciente e seus acompanhantes. Comunicação O objetivo da comunicação é estabelecer uma boa compreensão entre as pessoas. Muitos fatores interferem na forma e na qualidade da comunicação com o paciente, como as abordagens escolhidas pelo serviço, a idade, o ambiente cultural, o nível de cansaço, a religiosidade, a expectativa, o nível de compreensão e o treinamento recebido pelo cuidador. Alguns estudos mostram que a forma como a informação é passada é mais lembrada pelo paciente do que a notícia em si. Assim, a comunicação da má notícia precisa ser feita de forma cautelosa. O profissional deve ser honesto, mas não pode deixar o paciente desesperançoso. Precisa ser solidário, mas ao mesmo tempo, profissional. Quando é necessário comunicar uma má notícia, o médico se encontra em uma situação complicada. A família e o paciente estão aguardando uma possibilidade de cura e melhoria e o sentimento de frustração é comum quando isto não acontece. Os profissionais de saúde também apresentam dificuldades para lidar com os sentimentos vivenciados pela família, quando precisam dar uma notícia desagradável e geralmente vivenciam desconforto, medo e ansiedade. Os médicos também apresentam certa dificuldade em lidar com seus próprios sentimentos. Existe uma confusão entre empatia e a falta de limite profissional, fazendo com que os sentimentos sejam vistos como erros cometidos, dificultando a comunicação. Demonstrar os sentimentos não é errado e muitos pacientes consideram que é o mais adequado a ser feito nesse tipo de situação. Além das dificuldades já citadas, a informação deve ser transmitida baseada nos princípios fundamentais da bioética: beneficência, autonomia, justiça e não maleficência. Existem duas dimensões da comunicação: a linguagem verbal e a linguagem não verbal. • Na verbal, a mensagem é transmitida de forma nítida, utilizando códigos que o receptor possa entender. • A dimensão não verbal é mais complexa e necessita de maior cuidado. É preciso prestar atenção ao ambiente onde a comunicação está acontecendo, buscando a privacidade do ouvinte. Na comunicação de más notícias, a dimensão não verbal é a mais importante. Os sentimentos expressados podem suavizar ou exacerbar as emoções e podem dar o tom que qualifica a notícia como boa ou má. As principais queixas de familiares que já passaram por esse tipo de situação foram: falta de disponibilidade dos médicos para dialogar com a família; ocultação de informações e criação de falsas esperanças; vocabulário inadequado e transmissão muito rápida de informações; informações contraditórias entre os membros da equipe; linguagem corporal incongruente com o que estava sendo falado. Más Notícias Uma má notícia é definida como qualquer informação que pode alterar de forma drástica a percepção que o paciente tem sobre seu futuro, ela é uma contradição entre as expectativas de futuro do paciente e seu real estado de saúde. São situações que ameaçam a vida, o bem-estar e as relações interpessoais A má notícia pode envolver não somente a descoberta do diagnóstico, mas também a evolução e agravamento da doença e a necessidade de encaminhamento para outros serviços,. no entanto, é sempre de perspectiva do paciente. Assim, é impossível determinar o impacto da informação sem ter questionado e compreendido suas expectativas. Comunicação de Más Notícias HAM III @juliaa_soare Uma má notícia é uma informação que muda negativamente a vida do paciente. Pode ser a impossibilidade de alimentação oral, necessidade de gastrostomia, prescrição de medicação injetável como insulina, diagnóstico de doença incurável, entre outras situações. O médico precisa estar preparado para dar a má notícia e precisa elaborar uma estratégia para abordar os sentimentos de tristeza e frustração do paciente. E, assim, possibilitar que com porte das informações sobre sua condição, o paciente possa participar nas tomadas de decisão sobre o tratamento. Uma comunicação de qualidade estabelecida entre o médico e o paciente possibilita que o doente se sinta mais encorajado e faça mais perguntas sobre sua situação, diminuindo o sofrimento causado pelo medo de uma doença e um tratamento desconhecido. Quando o médico explica mais detalhadamente e instrui melhor o paciente, ele tem uma compreensão melhor e torna-se mais colaborativo, com uma melhor adesão terapêutica. O sofrimento que uma má notícia causa é reduzido quando o médico demonstra consideração pelos sentimentos do paciente e conversa com ele de forma clara, possibilitando o questionamento e tirando um tempo para responder suas dúvidas. Isso traz ao doente uma sensação de apoio da equipe médica mesmo quando a cura não é alcançável. Os profissionais de saúde podem elaborar algumas estratégias antes de iniciar a conversa com o paciente e devem prestar atenção a alguns pontos: • Estabelecer uma relação médico- -paciente-família adequada, demonstrando interesse e respeito pelos anseios do paciente; • Conhecer os detalhes da história médica do paciente, permitindo uma comunicação mais clara e fluída; • Preparar a si próprio para a conversar, repassar os pontos mais importantes que precisam ser conversados e observar as reações; • Ver o paciente como uma pessoa, conhecer suas motivações, seus medos, seus projetos de vida, suas formas de enfrentar as dificuldades; • Entender quanto o paciente deseja saber; • Entender que existem questões que não podem ser respondidas pela ciência e que é possível que o paciente faça perguntas que não tenham respostas; • Usar a sinceridade e falar sempre a verdade para não criar esperanças irreais; • Demonstrar empatia e confiança; • Agir com segurança e de maneira assertiva; • Ter uma escuta atenta ao paciente, prestando atenção a sua linguagem verbal e não verbal; • Permitir que o paciente expresse suas emoções; • Respeitar os valores e as crenças do paciente; • Trabalhar os próprios sentimentos, entender suas próprias reações e preocupações. Informar ao paciente sua real situação, suas possibilidades terapêuticas e responder seus questionamentos é permitir que ele exerça sua autonomia. A autonomia é um dos princípios norteadores da bioética e é a capacidade de se autogovernar, de poder fazer escolhas autônomas. Ela só pode ser exercida caso o paciente tenha conhecimento técnico o suficiente para refletir e fazer suas escolhas. Protocolo Spikes A maioria dos médicos, no entanto, utiliza sua experiência na prática clínica para decidir como se comportar ao transmitir uma má notícia. Sabemos que o resultado nem sempre é satisfatório. Apesar de ser objeto de estudo em muitos cursos de Medicina em nível internacional, o tema ainda é pouco abordado por professores e estudantes no Brasil.O protocolo Spikes descreve seis passos de maneira didática para comunicar más notícias: • O primeiro passo (Setting up) se refere à preparação do médico e do espaço físico para o evento. Deve-se identificar um local privado e confortável para a conversa. Desligar os celulares para minimizar interrupções. Retirar barreiras físicas entre o médico e o paciente como mesas, tentando sentar lado a lado com o paciente. Reler o prontuário e se assegurar da história médica do paciente. Envolver amigos e parentes na conversa caso seja desejo do paciente. • O segundo (Perception) verifica até que ponto o paciente tem consciência de seu estado. É quando o médico faz perguntas abertas para identificar quanto o paciente já sabe sobre sua condição. Nesse momento, baseando-se nas informações que o paciente traz é possível corrigir desinformações e levar a nortear a conversa para uma melhor compreensão do paciente. Nesta etapa é possível perceber se o paciente sabe o que está acontecendo, se está em processo de negação da doença, se tem algum pensamento mágico, ou se tem expectativas não realistas de tratamento. • O terceiro (Invitation) procura entender quanto o paciente deseja saber sobre sua doença. @juliaa_soare Deve-se dar espaço para o paciente pedir ao médico para compartilhar as informações. Alguns pacientes se calam nesse momento e não convidam o médico para explicar a sua doença, nesses casos o paciente precisa de mais tempo para processar as informações que já tem e entender o que está acontecendo. Se isso acontecer, o protocolo não precisa ser finalizado. Pode-se retomar em outra oportunidade. Assim como o paciente tem o direito de saber da própria saúde, ele também tem o direito de não querer receber a informação. O paciente tem autonomia para escolher uma pessoa para receber a notícia por ele. • O quarto (Knowledge) será a transmissão da informação propriamente dita. Nesse passo o médico informa sobre a doença em quantidade, qualidade e velocidade adequadas para que o paciente entenda e tome decisões sobre seu tratamento. É necessário ter clareza e precisão e evitar detalhes dispensáveis e excesso de informação. Deve-se respeitar a vontade do paciente de conhecer sua doença, dando os detalhes que ele questionar, o nome do diagnóstico, o prognóstico, as opções terapêuticas, os riscos de cada uma delas. Caso o paciente apresente alguma doença ameaçadora da vida, como câncer, deve-se evitar informar com exatidão os meses ou anos de vida esperados, pois os médicos tendem a superestimar a expectativa e dar falsas esperanças ao paciente. • O quinto passo (Emotions) é reservado para responder empaticamente à reação demonstrada pelo paciente. É o tempo reservado para que o paciente expresse suas emoções após saber da notícia. Após a revelação da notícia, o paciente precisa de um tempo para compreende-la e reagir as informações. Deixe que o paciente expresse suas emoções e acolha as reações negativas, faça com que o paciente se sinta acolhido. É importante ter lenços de papel disponíveis na sala. • O sexto (Strategy and Summary) diminui a ansiedade do paciente ao lhe revelar o plano terapêutico e o que pode vir a acontecer Repasse de forma resumida o que foi dito. Confira se o paciente se sente preparado para discutir opções de tratamento. Ofereça as opções terapêutica e planeje com ele os próximos passos. Referências: LINO, Carolina Arcanjo et al. Uso do protocolo Spikes no ensino de habilidades em transmissão de más notícias. Revista Brasileira de Educação Médica, v. 35, p. 52-57, 2011. Sombra Neto, Luis Lopes, Silva, Vanessa Lauanna Lima, Lima, Carolina Dornellas Costa, Moura, Hannah Torres de Melo, Gonçalves, Ana Luiza Mapurunga, Pires, Adriana Pinheiro Bezerra, & Fernandes, Veruska Gondim. (2017). Habilidade de Comunicação da Má Notícia: o Estudante de Medicina Está Preparado? Revista Brasileira de Educação Médica, 41(2), 260- 268. Victorino, AB, Nisenbaum, EB, Gibello, J, Bastos, MZN, & Andreoli, PBA. (2007). Como comunicar más notícias: revisão bibliográfica. Revista da SBPH, 10(1), 53-63. @juliaa_soare
Compartilhar