Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 2 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 4 2 PRESSUPOSTOS TEÓRICOS DA REABILITAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA: PLURALIDADE CONCEITUAL ............................................ 5 2.1 Hipótese cardíaca versus hipótese cerebral ......................................... 7 2.2 Localizacionismo versus holismo ......................................................... 8 2.3 Funcionalismo versus cognitivismo .................................................... 10 3 O QUE É REABILITAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA ................................. 12 4 A TERAPIA OCUPACIONAL .................................................................... 21 4.1 Terapia ocupacional no brasil ............................................................. 22 4.2 O objeto de especificidade da terapia ocupacional ............................ 23 4.3 Modelos teóricos em terapia ocupacional .......................................... 25 5 ALGUMAS DEMONSTRAÇÕES DE TRATAMENTO ATRAVÉS DA REABILITAÇÃO ........................................................................................................ 28 5.1 Reabilitação neuropsicológica na depressão: um enfoque terapêutico ocupacional 28 6 A NEUROPSICOLOGIA E A ARTETERAPIA COMO REABILITAÇÃO NOS TRANSTORNOS DE ANSIEDADE ........................................................................... 31 6.1 Arteterapia e a Reabilitação Neuropsicológica ................................... 31 6.2 Fundamentos da Neuropsicologia no transtorno de ansiedade ......... 32 6.3 Atividades de Arteterapia que auxiliam na Reabilitação Neuropsicológica dos Transtornos da Ansiedade .................................................. 37 7 REABILITAÇÃO COGNITIVA E MUSICOTERAPIA ................................. 41 7.1 Reabilitação Neuropsicológica da Memória ....................................... 52 7.2 Funções Executivas ........................................................................... 54 7.3 Reabilitação Neuropsicológica das Funções Executivas.................... 57 8 ASPECTOS COGNITIVOS DO TRANSTORNO AFETIVO BIPOLAR ...... 58 3 8.1 Reabilitação neuropsicológica e transtorno afetivo bipolar................. 63 9 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................... 66 4 1 INTRODUÇÃO Prezado aluno! O Grupo Educacional Faveni , esclarece que o material virtual é semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta , para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe convier para isso. A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida e prazos definidos para as atividades. Bons estudos! 5 2 PRESSUPOSTOS TEÓRICOS DA REABILITAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA: PLURALIDADE CONCEITUAL A reabilitação neuropsicológica pode ser conceituada de várias formas, podendo ser definida como um processo ativo de educação e capacitação, focado no manejo apropriado de alterações cognitivas adquiridas. O objetivo é obter o melhor potencial físico, mental e social do indivíduo, para que esse possa remanescer ou integrar-se em um meio social. Desse modo, a reabilitação neuropsicológica almeja otimizar a máxima adaptação do funcionamento cognitivo, comunicativo e comportamental de pacientes com alterações funcionais consecutivas a um dano neurológico ou psiquiátrico, conforme GINDR G; et al., (2009). Durante esse processo, é importante o raciocínio clínico com o intuito de promover a manutenção das funções total ou parcialmente preservadas para o ensino de estratégias compensatórias, a aquisição de novas habilidades e a adaptação às perdas permanentes. De acordo com Wilson, reabilitação cognitiva refere-se a qualquer estratégia de intervenção ou técnica, que torne clientes ou pacientes e suas respectivas famílias capacitadas a conviver, manejar, ultrapassar, reduzir ou aceitar déficits cognitivos causados por lesões cerebrais, conforme GINDR G; et al., (2009). Ainda, cabe enfatizar que a reabilitação neuropsicológica é mais ampla do que a reabilitação cognitiva, pois além do interesse em melhorar as capacidades cognitivas, também enfatiza os aspectos emocionais, psicossociais, comportamentais e físicos, que possam estar deficitários após a lesão cerebral. Mesmo frente a esta diferença conceitual e de alcance, muitas vezes reabilitação neuropsicológica e cognitiva são consideradas sinônimas. Mais especificamente, a reabilitação neuropsicológica cognitiva por definição refere-se ao uso de modelos do processamento normal como base para intervenção. Tais modelos contribuem como base para o desenvolvimento de técnicas de avaliação, assim como para definir o foco e métodos específicos de tratamento, conforme GINDR G; et al., (2009). 6 Isso porque as associações e dissociações entre componentes cognitivos devem ser identificadas na avaliação neuropsicológica para guiar o raciocínio clínico de planejamento terapêutico. Em casos em que não haja um quadro neurológico ou psiquiátrico causador de déficits cognitivos, o processo de intervenção é conhecido como habilitação, que está relacionada à aquisição e ao desenvolvimento de habilidades perceptivas, linguísticas, motoras, entre outras, conforme GINDR G; et al., (2009). Dessa forma, no âmbito da neuropsicologia, a habilitação propõe-se a auxiliar na aquisição e no desenvolvimento de habilidades que não foram ainda adquiridas pelo indivíduo ou que se encontram com desempenho fraco em suas tarefas diárias frente à demanda do ambiente. A habilitação neuropsicológica, geralmente, é relacionada a crianças e jovens, pois acometimentos congênitos (pré, peri ou neonatais) podem comprometer a aquisição e o desenvolvimento de dada função cognitiva, comunicativa e/ou comportamental, conforme GINDR G; et al., (2009). Assim, a intervenção pediátrica destina-se, muitas vezes, à habilitação de funções não desenvolvidas, daí o termo habilitar, em contraposição à recuperação de funções afetadas tardiamente em adultos por lesões adquiridas, reabilitar. No entanto, deve-se salientar a demanda crescente na fase adulta na clínica neuropsicológica: necessidade de melhorar funções como memória, componentes executivos, atenção e comunicação para maior desempenho laboral, acadêmico, entre outros contextos, conforme GINDR G; et al., (2009). A reabilitação neuropsicológica é um termo que vem se consolidando no Brasil. No entanto, em nível internacional, mesmo que esta nomenclatura esteja sendo bastante usada, sendo inclusive nome de periódico científico (Neuropsychological Rehabilitation), muitas revisões teóricas e estudos empíricos são ainda encontrados com diferentes descritores. Destacam-se os termos associados a “cognitivo (a) ” ou “neuropsicológico (a) ”: reeducação, readaptação, (re) treinamento, intervenção, terapia, tratamento, remediação, entre outros, como pode ser visto em revisões sistemáticas sobre reabilitação, nem sempre representando abordagens similares. De modo geral, todo o processo de intervençãoneuropsicológica em nível terciário de saúde baseia-se no conhecimento da plasticidade cerebral ou neural, conforme GINDR G; et al., (2009). 7 2.1 Hipótese cardíaca versus hipótese cerebral A descoberta de crânios pré-históricos do Antigo Egito (1.600 a. C.) revelam que nesta altura já eram utilizados conhecimentos e procedimentos médicos que utilizavam até mesmo a trepanação. A trepanação eram cirurgias realizadas através de perfurações no crânio. Edwin Smith descreveu em papiros a dificuldade de linguagem em pacientes com traumatismos cranianos e outras patologias do encéfalo. Nestes papiros Edwin Smith descreveu quarenta e oito indivíduos com lesões traumáticas após a sua análise detalhada e, deste modo, registram as primeiras tentativas de procurar a localização cortical das funções mentais mediante a descrição das lesões cerebrais (Feinberg & Farah, 1997 apud RODRIGUES C; 2013). Os povos da antiguidade defendiam que toda a expressão mental do indivíduo estava localizada no coração. Platão (428-348 a. C.) descreveu com detalhe relações entre o corpo (definindo-o como matéria mutável) e a alma humana (definindo-a como imaterial, eterna, inalterável). Aristóteles (384-322 a.C), aluno de Platão, dividiu a atividade mental e defendeu que a sua localização era no coração. Esta hipótese enfrentou uma grande resistência dos defensores da hipótese cerebral. O princípio da hipótese cerebral propôs que o cérebro seria a sede da mente e que este seria responsável pela localização de cada tipo de sensação, conforme RODRIGUES C; (2013). Um dos grandes defensores da hipótese cerebral foi Hipócrates (460-377 a.C), este afirmava que o cérebro era o órgão responsável pelo pensamento e pelas sensações. Galeno, através de estudos, em animais e cadáveres abandonados, rigorosos, contribuiu para a construção da Teoria Ventricular. Esta teoria tinha como princípio defender que a mente estava localizada nos ventrículos cerebrais. Lentamente a hipótese cerebral predominou a hipótese cardíaca, conforme RODRIGUES C; (2013). No final do século XVII, René Descartes (1596-1650 apud RODRIGUES C; 2013) construiu o ideal do dualismo cartesiano. O dualismo cartesiano tinha como princípio estabelecer a separação entre a mente e o cérebro. A sede da alma, para Descartes, era a glândula pineal, este era o lugar de encontro entre a mente e o corpo. No final deste período a hipótese cerebral já não tinha opositores. 8 2.2 Localizacionismo versus holismo O século XIX marca o nascimento da neuropsicologia enquanto campo do conhecimento humano. A hipótese cardíaca estava totalmente desacreditada e a hipótese cerebral estava plenamente estabelecida. Porém, muitas dúvidas persistiam. Quais as estruturas responsáveis pela cognição? Elas atuam em conjunto ou de maneira independente? Este período é marcado pela controvérsia entre localizacionismo versus holismo, conforme HAMDAN A; et al., (2011 apud HAMDAN A; et al., 2011). O maior expoente do localizacionismo das funções mentais foi o médico alemão Franz Gall (1758-1828 apud HAMDAN A; et al., 2011). Gall acreditava que as faculdades mentais encontravam-se em estruturas cerebrais, havendo tantas estruturas cerebrais quantas faculdades ou processo mentais. Para tanto, Gall correlacionou o grau de desenvolvimento desses órgãos com a formação de proeminências em partes correspondentes ao crânio, criando uma nova especialidade médica a frenologia. Para Gall, por meio da palpação manual dessas proeminências do crânio poderia se determinar a natureza e as propensões futuras do indivíduo. Gall acreditava na existência da localização cerebral circunscrita das funções mentais (Gall & Spurzheim, 1809 apud HAMDAN A; et al., 2011). O maior opositor das ideias de Gall foi o fisiologista francês Jean Pierre Flourens (1794-1867 apud HAMDAN A; et al., 2011). Flourens defendeu a visão holística da função mental, ou seja, que as funções mentais não dependiam de partes particulares do cérebro, mas sim que elas atuam envolvendo o cérebro como um todo. Esse autor não acreditava que o cérebro fosse uma massa homogenia, mas que funcionava de modo integrado. A controvérsia entre localizacionistas e holistas acirrou-se com os trabalhos de Paul Broca (1824- 1880 apud HAMDAN A; et al., 2011), médico francês que estabeleceu as primeiras correlações entre lesões cerebrais circunscritas e as patologias da linguagem (Feinberg & Farah, 1997 apud HAMDAN A; et al., 2011). Por meio de estudos anatômicos, Broca descobriu que a expressão verbal estava associada ao terço posterior do giro frontal inferior esquerdo. Sua descoberta foi de grande importância, pois foi a primeira evidência da localização de uma função mental complexa. 9 O neuropatologista alemão Karl Wernicke (1848-1909 apud HAMDAN A; et al., 2011) conduziu estudos de grande importância para a compreensão da afasia. Wernicke (1874 apud HAMDAN A; et al., 2011) descreveu casos em que a lesão de uma parte do cérebro, o terço posterior do giro temporal superior esquerdo, determinava a perda da capacidade de compreensão da linguagem, enquanto que a linguagem expressiva motora permanecia intacta. Concluiu que essa região cerebral era responsável pela compreensão da linguagem. A controvérsia localizacionismo versus holismo das funções mentais ganhou novos contornos com os trabalhos pioneiros do psicólogo bielo-russo Lev Vygotsky (1896-1934 apud HAMDAN A; et al., 2011). Vygostky apresentou uma análise inovadora sobre o funcionamento cerebral em relação às visões localizacionistas e holistas, advogando que as funções das partes e do todo se encontram organizadas em inter-relações funcionais complexas que variam em conformidade com os diferentes estágios de desenvolvimento humano (Vygostky, 1999 apud HAMDAN A; et al., 2011). O neuropsicólogo soviético Alexander Luria (1902-1977 apud HAMDAN A; et al., 2011) desenvolveu as ideias originais de Vygostsky, a partir do estudo do comportamento anormal dos pacientes com lesão cerebral (Luria, 1981 apud HAMDAN A; et al., 2011). Demonstrou a importância dos símbolos para a linguagem, afirmando que o cérebro é um sistema altamente diferenciado, cujas partes são responsáveis por aspectos desse todo e a linguagem é um elemento importante nesse processo. De acordo com HAMDAN A; et al., (2011), a concepção neuropsicológica de Luria afirma que o funcionamento cerebral ocorre com a participação conjunta de três blocos funcionais do cérebro. O primeiro, bloco de ativação, é responsável pelo tônus cortical ou estado de ativação do córtex cerebral. A formação reticular, tanto a ascendente como a descente, é a estrutura mais importante, sobretudo em suas conexões com o córtex frontal, conforme HAMDAN A; et al., (2011). O segundo bloco funcional, o do input, é responsável pela recepção, monitoração e armazenamento da informação. Ocupa as regiões posteriores do córtex cerebral: lobos parietal, temporal e occipital, responsável pelas respectivas zonas táctil, cinestésica, auditiva e visual, conforme HAMDAN A; et al., (2011). 10 O terceiro bloco, chamado de bloco de programação e controle da atividade, abarca os setores corticais situados no lobo frontal. Este bloco cumpre suas funções mediante relações bilaterais, tanto com as regiões posteriores (bloco do input) como com a formação reticular (bloco da ativação), conforme HAMDAN A; et al., (2011). De acordo com HAMDAN A; et al., (2011), é o bloco responsável pelo planejamento, programação, regulação e verificação do comportamento intencional. Luria estabeleceu dois objetivos para a neuropsicologia: Localizar as lesões cerebrais responsáveis pelos distúrbios do comportamento para um diagnóstico preciso, conforme HAMDAN A; et al., (2011). Explicar o funcionamento das atividades psicológicas superiores relacionadas com as partes do cérebro,conforme HAMDAN A; et al., (2011). 2.3 Funcionalismo versus cognitivismo O século XX é marcado pela consolidação da Neuropsicologia como especialidade do conhecimento. A neuropsicologia cresceu muito a partir do final da primeira metade do século XX, conseguindo uma posição diferenciada da neurologia, da psicologia e da psiquiatria. O seu desenvolvimento foi significativo durante os períodos da I e da II Guerra Mundiais, precisamente devido à necessidade de reabilitar soldados com traumatismos crânio-encefálicos. Neste período, foram elaborados programas de reabilitação destinados pela primeira vez às sequelas cognitivas, que até então eram direcionados de forma fisioterápica, como sequelas motoras, conforme HAMDAN A; et al., (2011). O termo “ reabilitação cognitiva” tornou – se popular a partir do final da década de oitenta, no século XX. As tentativas para reabilitar pacientes com lesões cerebrais existiram desde a antiguidade grega e egípcia, como evidenciam os Papiros de Edwin Smith. A era moderna da reabilitação de pessoas com lesão cerebral começou, provavelmente, na Alemanha, durante a Primeira Guerra Mundial, como resultado da sobrevivência de militares com traumatismo craniano. A reabilitação cognitiva progrediu durante a Segunda Guerra Mundial, como desdobramento dos esforços de 11 guerra na Alemanha, Inglaterra, União Soviética e Estados Unidos (Wilson, 2003 apud HAMDAN A; et al., 2011). A neuropsicologia atual estuda os temas clássicos da psicologia atenção, aprendizagem, percepção e memória utilizando métodos da psicologia experimental e do campo da psicometria para a construção dos testes. As modernas técnicas de investigação cerebral (eletroencefalograma, tomografia computadorizada, ressonância magnética funcional) superaram a importância da avaliação neuropsicológica na localização das funções mentais. A controvérsia entre localizacionismo e holismo foi substituída pela discussão em torno de uma nova controvérsia: funcionalismo versus cognitivismo. Está controvérsia é essencial em relação à avaliação neuropsicológica e à construção dos testes psicológicos (Hebben & Milberg, 2002 apud HAMDAN A; et al., 2011). As técnicas tradicionais de avaliação neuropsicológica advêm da tradição funcionalista que considera que a predição do desempenho do indivíduo é o objetivo primário da avaliação e o construto psicológico é secundário. A bateria Halstead- Reitan é um bom exemplo desta abordagem (Strauss, Sherman & Spreen, 2006 apud HAMDAN A; et al., 2011). Por outro lado, os testes construídos na tradição cognitivista enfatizam primariamente o construto psicológico e a predição clínica como alvo secundário da avaliação. O California Verbal Learning Test (Strauss, Sherman, & Spreen, 2006 apud HAMDAN A; et al., 2011) foi criado primariamente empregando teorias da memória para investigar as alterações decorrentes de lesões cerebrais. Em outras palavras, a controvérsia atual está relacionada a questões metodológicas e interpretativas resultantes dos processos de avaliação neuropsicológica (Hebben & Milberg, 2002 apud HAMDAN A; et al., 2011). A história recente da identidade profissional do neuropsicólogo começou a ser estabelecida nos inícios dos anos 1970. Em 1967, foi fundada a International Neuropsychological Society - Sociedade Neuropsicológica Internacional (INS) por um grupo de psicólogos de vários países interessados nas relações entre o cérebro e o comportamento. Em 1975, um grupo de psicólogos americanos fundou a National Academy of Neuropsychology (NAN) para auxiliar na prática clínica dos neuropsicólogos, conforme HAMDAN A; et al., (2011). 12 Em 1980, a neuropsicologia foi estabelecida como uma área dentro da American Psychological Associacion (APA), através da Divisão 40 (Clinical Neuropsychology). Por fim, em 1996, a APA reconheceu a neuropsicologia como uma especialidade da psicologia (Hebben & Milberg, 2002 apud HAMDAN A; et al., 2011). No Brasil, a especialidade da neuropsicologia foi estabelecida pelo Conselho Federal de Psicologia em 2004, quando os objetivos da área e os quesitos básicos para a formação de especialistas neste campo foram delimitados. A neuropsicologia brasileira apresenta vários desafios tanto para os pesquisadores quanto para os profissionais da área. Em síntese, a partir da contribuição de diversos autores, podemos reconstruir o percurso histórico da neuropsicologia em três diferentes períodos caracterizados por diferentes controvérsias: hipótese cardíaca versus hipótese cerebral, localizacionismo versus holismo e funcionalismo versus cognitivismo, conforme HAMDAN A; et al., (2011), A neuropsicologia continua a se desenvolver, aperfeiçoando cada vez mais os seus métodos de investigação e aumentando progressivamente o conhecimento sobre o funcionamento cerebral e suas relações com as patologias do comportamento humano. A partir desta compreensão histórica, pode-se delinear a multiplicidade de temas de pesquisa de particular interesse tanto para fundamentar a prática da neuropsicologia no Brasil como para subsidiar o desenvolvimento teórico da neuropsicologia a partir de estudos comparados entre culturas diversas, conforme HAMDAN A; et al., (2011). 3 O QUE É REABILITAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA A reabilitação teve um início provável na Alemanha, durante a Primeira Guerra Mundial, tendo surgido com o objetivo de auxiliar a recuperação de soldados sobreviventes de lesões cerebrais. Durante a Segunda Guerra Mundial, na União Soviética, Luria teve papel importante na reabilitação neuropsicológica, pois foi o responsável pela organização de um hospital para soldados com lesões cerebrais (Nomura et al., 2000 apud PONTES L; et al., 2007). 13 A reabilitação tem como objetivo melhorar a qualidade de vida dos pacientes e familiares, otimizando o aproveitamento das funções total ou parcialmente preservadas por meio do ensino de “estratégias compensatórias, aquisição de novas habilidades e a adaptação às perdas permanentes”, conforme PONTES L; et al., (2007). O processo de reabilitação proporciona uma conscientização do paciente a respeito de suas capacidades remanescentes, o que leva a uma mudança na auto- observação e, possivelmente, uma aceitação de sua nova realidade (D’Almeida et al. 2004 apud PONTES L; et al., 2007). Segundo Wilson (1996 apud PONTES L; et al., 2007), diferencia a reabilitação cognitiva da reabilitação neuropsicológica. A reabilitação cognitiva visa “capacitar pacientes e familiares a conviver, lidar, contornar, reduzir ou superar as deficiências cognitivas resultantes de lesão neurológica”, mas foca-se principalmente na melhora das funções cognitivas por meio dos treinos cognitivos. Já a reabilitação neuropsicológica é mais ampla, pois, além de almejar tratar os déficits cognitivos, objetiva também tratar as alterações de comportamento e emocionais, melhorando a qualidade de vida do paciente, (Wilson 1996 apud PONTES L; et al., 2007). Prigatano (1999 apud PONTES L; et al., 2007) afirma que a reabilitação cognitiva é apenas um componente da reabilitação neuropsicológica, e esta abarca ainda a psicoterapia, o estabelecimento de um ambiente terapêutico, o trabalho com familiares e o trabalho de ensino protegido com os pacientes. Existe mais de uma maneira de se planejar um programa de reabilitação eficiente. É importante salientar para o cliente que nem sempre é possível restaurar a função cognitiva prejudicada, mas é possível compensá-la, encontrando maneiras de minimizar os problemas cotidianos. O primeiro passo é realizar uma avaliação neuropsicológica para que se mensurem os prejuízos cognitivos e as funções intactas. A avaliação comportamental é um complemento da avaliação neuropsicológica. Uma das diferenças em relação aos testes padronizados é que geralmente a avaliação comportamental é parte do tratamento em si. Elaidentifica problemas a serem trabalhados e também pode avaliar a eficácia de tal tratamento, conforme PONTES L; et al., (2007). O terapeuta ou psicólogo continua a avaliar o cliente enquanto o tratamento está em andamento. Assim, o tratamento pode ser modificado ou alterado em resposta a uma informação observada. A avaliação comportamental deriva do behaviorismo, filosofia que embasa a análise do comportamento (Skinner, 1974/2006 14 apud PONTES L; et al., 2007) e que foi fundada por John B. Watson e aprimorada por B. F. Skinner (Baum, 1999 apud PONTES L; et al., 2007). De Vreese et al. (2001 apud PONTES L; et al., 2007) esclarecem que os hábitos, o afeto e a motivação do cliente podem interferir significativamente no nível de funcionamento diário e por isso precisam ser levados em conta no processo de avaliação, devendo ser analisados como parte das contingências e produtos destas. Nomura et al. (2000 apud PONTES L; et al., 2007) enfatizam a importância do papel do terapeuta, que deve ter uma postura de respeitar o ritmo e a velocidade do cliente, cuidando para que sua própria ansiedade não interfira no trabalho com o paciente. Fonte: uniad.org.br Reabilitação neuropsicológica pode ser definida como o conjunto de intervenções que objetivam melhorar os problemas cognitivos, emocionais e sociais decorrentes de uma lesão encefálica auxiliando a pessoa a alcançar maior independência e qualidade de vida (Wilson, 2003 apud LIMA R; 2015). 15 Diferentes termos são utilizados para definir as intervenções realizadas com pacientes que possuem lesões congênitas ou adquiridas, ou ainda transtornos funcionais. Em neuropsicologia, os mais comuns são: reabilitação cognitiva, treino cognitivo e reabilitação neuropsicológica (Wilson, 2005; Wilson, 2008; Ciccerone et al., 2011; Grindi et al., 2012; Wilson, 2013 apud LIMA R; 2015). A reabilitação cognitiva (RC) descreve estratégias de intervenção ou técnicas que auxiliam na redução dos déficits cognitivos causados por lesões ou disfunções. O objetivo é estimular as funções cognitivas alteradas e, para isto, pode dispor de uma sequência de treinos cognitivos (Wilson, 2005; Wilson, 2008; Ciccerone et al., 2011; Grindi et al., 2012 apud LIMA R; 2015). . O termo “reabilitação neuropsicológica” (RN) é usado para descrever processo clínico mais amplo destinado a melhorar déficits no funcionamento cognitivo e comportamental decorrentes de dano cerebral ou transtorno funcional (Lopez-Luengo, 2001; Ginarte-Aria, 2002; Ginarte-Arias, 2002; Wilson, 2013 apud LIMA R; 2015). Independente dos objetivos da reabilitação é esperado que as atividades realizadas promovam mudanças em áreas importantes para a vida diária do paciente, isto é, que tenha validade ecológica (Abrisqueta-Gomez, 2012 apud LIMA R; 2015). Para a intervenção nos transtornos do desenvolvimento, nos quais as funções cognitivas estão prejudicadas desde sua aquisição, o uso do termo “reabilitação” pode ser alvo de críticas, pois o prefixo “–re” sugere recuperação de uma função que foi desenvolvida, mas perdida (Ginarte-Aria, 2002 apud LIMA R; 2015). Para estes casos, alguns autores têm preferido utilizar o conceito “habilitação neuropsicológica” (Gindri et al., 2012; Navatta, 2015 apud LIMA R; 2015). Entretanto, o uso do termo RN é mais disseminado na literatura internacional (Lorusso et al., 2011; Amonn et al., 2013 apud LIMA R; 2015) e seu uso parece plausível para os transtornos do neurodesenvolvimento, desde que não se tenha uma visão limitada à restituição das funções cognitivas prejudicadas. Do ponto de vista histórico é possível observar avanço significativo nos modelos teóricos, métodos e técnicas utilizados na RN. Wilson (2008 apud LIMA R; 2015) referiu quatro grandes mudanças: Definição de metas para o planejamento da RN – negociadas com o paciente, família e equipe; auxilia na regulação motivacional; as metas são focadas em demandas cotidianas; permitem a identificação de 16 prioridades, avaliação do progresso e dividem a RN em etapas. Um acrônimo que resume tais princípios é o SMART (ER) (em Inglês, specific, measurable, achievable, realistic, timely, evaluation e review, isto é, as metas devem ser específicas, mensuráveis, atingíveis, realistas, com prazo definido, avaliável e revisável) (Wilson, 2008; 2009; Miotto, 2015 apud LIMA R; 2015); O reconhecimento de que, além das dificuldades cognitivas, os aspectos emocionais e psicossociais também podem ser incluídos na reabilitação há evidências empíricas de que tais aspectos podem influenciar os déficits cognitivos. Além disso, consequências psicossociais e comorbidades psiquiátricas de um transtorno podem influenciar negativamente a resposta do paciente à RN (Wilson, 2008 apud LIMA R; 2015); Aumento do uso da tecnologia para a compensação dos déficits cognitivos a tecnologia pode ser utilizada no contexto da avaliação, e também para auxiliar o paciente a desenvolver mecanismos compensatórios para os déficits apresentados (Wilson, 2008 apud LIMA R; 2015); A realização da RN necessita de diferentes bases teóricas – um único modelo teórico é insuficiente para lidar com as diferentes demandas e consequências de um transtorno. Neste sentido, Wilson (2008; 2013 apud LIMA R; 2015) têm descrito um modelo compreensivo/ holístico para a RN baseado nos pressupostos definidos pelos pioneiros Yehuda Bem-Yishay e George Prigatano. As atividades desenvolvidas em programas de RN numa abordagem holística/ compreensiva são sistemáticas e visam promover mudanças na vida diária do paciente e de sua família. Entre elas estão o treino cognitivo, aprendizagem do uso de estratégias compensatórias, organização e planejamento de rotinas e prática de atividades funcionais. A RN pode ser realizada individualmente ou em grupo, por meio de módulos complementados por atividades psicoeducativas, orientação e também psicoterapêuticas. Além disso, requer a participação de equipe interdisciplinar (Abrisqueta-Gomez, 2012 apud LIMA R; 2015). 17 Alguns aspectos metodológicos importantes devem ser considerados durante a realização de um programa de RN (López-Luengo, 2000; Ginarte-Arias, 2002 apud LIMA R; 2015): a avaliação deve identificar áreas alteradas e preservadas; o treinamento deve ser individualizado e adaptado às necessidades do paciente; o trabalho deve envolver a participação familiar; deve levar em conta variáveis intervenientes; o treinamento se inicia por aspectos nucleares e se aproxima de atividades da vida diária; deve iniciar com atividades que exijam menor demanda atencional; deve usar materiais do cotidiano do paciente; diversificar materiais e estímulos (visuais, auditivos, táteis), ajustar o nível de dificuldades, para que o paciente não finalize uma sessão com mais erros que acertos; incluir componente educacional e instrutivo; deve realizar treinamento metacognitivo, explicando o que é a função cognitiva e as estratégias para trabalhá-la, ocorrer de maneira sequencial e hierárquica, usar materiais que motivem o paciente, o terapeuta deve proporcionar feedback sobre desempenho e evolução do paciente e recompensar sucessos obtidos; garantir a generalização para a vida diária e não somente melhora nos testes; controlar a eficácia da intervenção com registros sistemáticos e instrumentos para averiguar a percepção da melhora. Entre os princípios teóricos que subsidiam a prática da RN, a transferência é apontada como um dos principais objetivos deste tipo de intervenção (Barnett e Ceci, 2002; Gindri et al., 2012; Nikaedo, 2015 apud LIMA R; 2015). De forma geral, a transferência representa a melhora em um domínio cognitivo, tarefa ou habilidade não treinada como efeito da estimulação e treinamento de outro domínio, tarefa ou habilidade (Barnett e Ceci, 2002; Dahlin et al., 2009; Gindri et al., 2012; Nikaedo,2015 apud LIMA R; 2015). Os efeitos são avaliados em relação às dimensões do contexto no qual a transferência ocorreu, assim como o conteúdo, isto é, o que foi transferido. Por sua vez, estas dimensões podem variar dentro de um espectro representado por transferências mais próximas (relacionada ao indivíduo) até as mais distantes (relacionadas à interação do indivíduo com sua família, seus pares e outros grupos) (Barnett e Ceci, 2002 apud LIMA R; 2015). 18 A RN também pode ser complementada pelos princípios expostos pela classificação internacional de funcionalidade, incapacidade e saúde (CIF) da OMS (2003 apud LIMA R; 2015), atuando na redução das consequências funcionais dos prejuízos neurológicos e das desvantagens, isto é, influências das dificuldades que os indivíduos apresentam sobre as atividades que precisam desempenhar (escolares, por exemplo) (Loschiavo-Alvares et al., 2011 apud LIMA R; 2015). No que se refere à intervenção específica para a função executiva, Sohlberg e Mateer (2010 apud LIMA R; 2015) citam os principais métodos utilizados: Controle ambiental: organização do espaço físico (prevê uso de mediadores externos para auxiliar na organização e memória), manipulação dos fatores fisiológicos (nutrição, sono, medicação, nível de atividade), conforme LIMA R; (2015). Ensino de rotinas específicas para tarefas: aumento da autonomia para realização de determinadas tarefas, uso de planos e treinamentos comportamentais, conforme LIMA R; (2015). Treinamento para seleção e execução de planos cognitivos: realização de exercícios que envolvem planejamento, sequenciamento, iniciativa, execução, monitoramento e avaliação, oferecimento de oportunidades repetidas para execução das tarefas; tarefas de controle de tempo, conforme LIMA R; (2015). Estratégias metacognitivas/ treinamento em autoinstruções: aprendizado de técnicas de automonitoramento de uma tarefa; mediação por autoinstruções, uso de técnicas para resolução de problemas, treinamento para controlar o objetivo, conforme LIMA R; (2015). Na infância e adolescência são mais comuns estudos utilizando a RN, RC ou treino cognitivo (de atenção, memória e FE) em grupos com Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) e com traumatismo crânioencefálico (TCE) (Yelin, 1996; Toledo, 2006; Papazian et al., 2009; Tucha et al., 2011 apud LIMA R; 2015). Em contrapartida, são escassos os trabalhos internacionais intitulados como RN ou RC para a dislexia. A título de exemplo é possível citar estudos que utilizam programas computadorizados (ex. Cogmed) para treinar componentes específicos das FE 19 Funções executivas, como a memória operacional (Holmes e Gathercole, 2013; Karbach et al., 2015 apud LIMA R; 2015). Enfim, a reabilitação neuropsicológica tem como objetivo minimizar as funções cognitivas deficientes, no aspecto físico, psicológico e sócio adaptativo, através de diversas técnicas e estratégias, levando em conta a plasticidade neuronal e, essencialmente, as possibilidades do paciente. Tem-se como objetivo principal, uma atividade dinâmica para a readaptação do indivíduo ao seu meio ambiente. (Santos e Abrisqueta-Gomez, 2006 apud CORRÊA R; 2009). Como citado acima, a reabilitação neuropsicológica vai além da reabilitação cognitiva, ela é mais abrangente. A reabilitação cognitiva ocupa-se especificamente do tratamento das funções cognitivas (atenção, memória, percepção, compreensão etc.) e tem como objetivo promover uma melhora do desempenho em tarefas que demandam funções cerebrais determinadas. A reabilitação neuropsicológica, além de visar à melhora cognitiva, visa a corrigir, maximizar as aprendizagens e reaprendizagens das habilidades cognitivas de forma que os pacientes encontrem meios adequados e alternativos para alcançar metas funcionais específicas a fim de diminuir ou sanar as funções afetadas, conforme CORRÊA R; (2009). Prioriza o indivíduo como um todo e sua qualidade de vida, pois inclui problemas emocionais e comportamentais, fazendo com que o paciente se reintegre ao ambiente social, escolar e de trabalho de maneira mais adequada possível; atua além do consultório, com o objetivo de facilitar o desempenho em tarefas que requerem habilidades cognitivas (Gil, 2005 apud CORRÊA R; 2009). O primeiro passo é realizar uma avaliação neuropsicológica para se mensurar os prejuízos cognitivos e as funções intactas. Basicamente, a bateria de testes avalia um conjunto de habilidades e competências cognitivas, tais como orientação espaço- temporal, raciocínio, atenção, aprendizagem, memória verbal, visual, curto e longo prazo, funções executivas, linguagem, organização visuoespacial, funções perceptuais e motoras, conforme CORRÊA R; (2009). 20 A importância da avaliação neuropsicológica não se limita à apresentação de diagnóstico e prognóstico, mas também está em direcionar o processo de reabilitação cognitiva. Permite obter a inferência das características estruturais e funcionais do cérebro e do comportamento em situação de estímulo e resposta definidas, formular, planejar e executar estratégias as quais compõem o plano de reabilitação neuropsicológica, conforme CORRÊA R; (2009). E no final do processo de reabilitação neuropsicológica, realiza-se uma avaliação dos resultados obtidos para verificar se houve eficácia da intervenção, através dos relatos subjetivos, do desempenho efetivo nas tarefas e do comportamento cotidiano alcançado. Existem várias maneiras de se planejar um programa de reabilitação eficiente. É importante informar o paciente de que nem sempre é possível restaurar a função cognitiva prejudicada, mas é possível compensá-la, encontrando maneiras de minimizar os problemas do cotidiano, conforme CORRÊA R; (2009). Um programa de reabilitação neuropsicológica deve ser individualmente elaborado e organizado adequadamente à situação de aprendizagem e performance do paciente, revisto durante o tratamento e, se necessário, modificado, pois o curso clínico se modifica tanto pela recuperação quanto pelo desenvolvimento dos processos de maturação do cérebro e dos fenômenos da plasticidade neuronal, conforme CORRÊA R; (2009). O planejamento das atividades de reabilitação neuropsicológica necessita da definição dos objetivos específicos (a curto ou longo prazo), estabelecimento de metas a serem alcançadas e uma avaliação sistemática dos resultados obtidos. Os programas de reabilitação envolvem a estimulação de processos metacognitivos associados ao treino de funções cognitivas específicas. A metacognição é uma capacidade individual de automonitoramento em tarefas cognitivas ou aprendizagens, conforme CORRÊA R; (2009). Durante o processo de reabilitação, é importante que ocorram intervenções com o paciente, com técnicas cognitivas específicas para treino de atenção, de memória, de estratégias metacognitivas, de habilidades visuo-perceptuais (treino visual, auditivo, sinestésico) e visuo-construtivas. A intervenção com a família objetiva esclarecimentos sobre o quadro/diagnóstico (habilidades e dificuldades, problemas de comportamento), orientações para auxiliar a generalização das aquisições no 21 ambiente doméstico (organização do ambiente, métodos de trabalho com o paciente em casa). As intervenções com a escola têm por finalidade obter esclarecimentos, discutir métodos e estratégias de ensino e currículo adaptado; além de visitas ao ambiente escolar visando às modificações no ambiente, se necessárias. (Bueno et al., 2004 apud CORRÊA R; 2009). É importante que o paciente compreenda que o tratamento não é um fim em si mesmo. Cabe ao terapeuta o reforço do comportamento cognitivo aprendido e de novos que levem o paciente a refletir sobre seu aprendizado, a fim de melhorar seu autocontrole e autogerenciamento na vida diária, aprendendo a lidar melhorcom seus déficits neuropsicológicos. 4 A TERAPIA OCUPACIONAL Entender o processo histórico de uma profissão possibilita a compreensão sobre sua prática na atualidade segundo Barlotti e De Carlo (2001 apud BARRETO A; 2012), relatam o uso terapêutico das ocupações desde a antiguidade, entre gregos e romanos. Acreditava-se que a utilização das atividades (trabalho, exercício, arte e artesanato) poderia “curar” aqueles que estivessem “possuídos pelo demônio”. Aos demais doentes eram oferecidas com o propósito de manter o ambiente tranquilo e favorecer o contato com os “deuses”. Segundo as mesmas autoras por volta do século XVIII e do início do século XIX, a ocupação tornou-se largamente aceita para o tratamento do doente mental, quando o doutor Philippe Pinel, em 1791 assumiu a direção do asilo Bicêtre e deparou com a trágica situação na qual viviam os doentes mentais. Conforme Francisco (2008), a ocupação, naquele momento, foi o recurso principal. Segundo Soares (2007 apud BARRETO A; 2012) “a generalização do trabalho a todos os tipos de alienados gerou uma gradação da atividade, segundo o grau de “degradação” moral e intelectual do interno e a complexidade do trabalho oferecido”, movimento ficou conhecido como Tratamento Moral e consoante Francisco (2008 apud BARRETO A; 2012), foi difundido até a metade do século XIX na Europa e na América. Segundo Caniglia, no início do século XX, nos Estados Unidos, um grupo de profissionais que se intitulavam como terapeutas ocupacionais tentaram elaborar os princípios da profissão. Eram médicos, enfermeiros assistentes sociais, professores de arte e voluntários. Eles defendiam o equilíbrio 22 repouso-atividade e uma programação saudável de atividade, incluindo atividades produtivas, atividades lúdicas, atividades de autocuidado e contato pessoal. (CANIGLIA, 2005 apud BARRETO A; 2012). A Terapia Ocupacional como profissão da área de saúde surgiu nos Estados Unidos, e sua primeira escola foi fundada em Chicago, em 1915. A intenção era diminuir os efeitos da primeira Guerra Mundial os atendimentos eram realizados para reabilitação dos incapacitados físicos e mentais que retornavam dos campos de batalha. Esse período foi chamado de “reconstrução” ou da restauração dos potenciais físicos e mentais dos sequelados de guerra. (MOREIRA, 2008 apud BARRETO A; 2012). De acordo com Soares (2007 apud BARRETO A; 2012) nesta mesma época iniciou-se a organização da categoria, em 1917, na Sociedade Nacional para Promoção da Terapia Ocupacional (depois chamada Associação Americana de Terapia Ocupacional). Em 1923, a Associação Americana de Terapia Ocupacional estabeleceu os “Padrões Mínimos para Curso de Treinamento em Terapia Ocupacional”, o que colaborou bastante para a elevação do status da profissão. Neste período, serviços de Terapia Ocupacional eram bastante solicitados por hospitais, principalmente nos Estados Unidos, na área de Reabilitação Industrial. (CANIGLIA, 2005 apud BARRETO A; 2012), serviços que influenciou a terapia ocupacional no Brasil. 4.1 Terapia ocupacional no brasil No Brasil, a história da profissão remonta ao período posterior à Segunda Guerra Mundial e às estratégias de implantação de programas de reabilitação na América Latina, preconizadas por organismos internacionais (ONU, OIT, Unesco), apesar das antigas experiências de uso das “ocupações com objetivo terapêutico” em instituições asilares psiquiátricas no Brasil, devido à influência norte-americana, conforme BARRETO A; (2012). Segundo Bartalotti; de Carlo, no início da década de 60, os cursos de formação em Terapia Ocupacional foram implantados, preferencialmente, na área da reabilitação física. Gradativamente, porém, na formação dos terapeutas ocupacionais foram incorporados estágios na atenção psiquiátrica. (BARTALOTTI DE CARLO, 2001 apud BARRETO A; 2012). 23 Cabe ressaltar alguns nomes importantes para esse processo: Luís Cerqueira, Nise da Silveira, Elso Arruda e Suliano Filho; ambos psiquiatras, constituíram a terapia ocupacional no país e produziram textos teóricos importantes no período de 1950 a 1986. (SOARES, 2007 apud BARRETO A; 2012). A profissão se institucionalizou entre 1948 e 1980. A formação profissional era inicialmente por meio de cursos de treinamento em saúde mental pela Dra. Nise da Silveira em 1948, depois em reabilitação física em 1956, porém o curso se tornou de nível universitário em 1961, pela lei do Currículo Mínimo, com 3 anos de duração. O reconhecimento da profissão foi promulgado apenas em 1969, juntamente com a fisioterapia. (SOARES, 2007 apud BARRETO A; 2012). Ainda segundo a mesma autora, em 1970 criou-se o Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional – COFFITO, que se organizou em entidades regionais. Em 1980 foi criado o primeiro sindicato da categoria, também em conjunto com a Fisioterapia. A legitimação oficial da T.O possibilitou sua ampliação em faculdades e universidades e consequentemente uma discussão mais ampla dos seus conceitos, conforme BARRETO A; (2012). 4.2 O objeto de especificidade da terapia ocupacional Para Caniglia (2005 apud SILVA A; 2012), o termo objeto é indicativo de finalidade, fim, alvo, propósito, fruto, produto. O objeto é o fim a ser atingido, produzido, estudado, pesquisado, tratado, cuidado. O objeto de estudo refere-se a um objeto comum a várias profissões e áreas de conhecimento, como por exemplo, temas como a depressão, o inconsciente e o tônus muscular. Já o objeto profissional é único, da especificidade, legitimidade e identidade à profissão. De acordo com Bing (1981 apud CAZEIRO et al., 2011 apud SILVA A; 2012), a Terapia Ocupacional é a única profissão na qual seu objetivo principal centra-se na totalidade do ser humano ao realizar suas atividades. Cazeiro et al. (2011 apud SILVA A; 2012), afirma que as atividades cotidianas sempre estiveram presentes na profissão, mesmo que com denominações diferentes. Inicialmente eram denominadas atividades cotidianas ou de autocuidado, após passa a se utilizar mais frequentemente o termo Atividades da Vida Diária, que incluíam todas as atividades realizadas no dia- a-dia dos indivíduos. 24 Clark (2010 apud CAZEIRO et al. 2011 apud SILVA A; 2012), aponta que a Terapia Ocupacional é a única profissão que possui em suas diretrizes curriculares uma compreensão complexa, detalhada e cientificamente embasada sobre como as pessoas vivem na sua vida diária em seu contexto social, sendo essas pessoas com deficiência ou não. De acordo com Caniglia (2005 apud SILVA A; 2012), o objeto de estudo profissional da Terapia Ocupacional, é um aspecto da saúde do indivíduo, e apresenta diversas denominações de acordo com as características de cada país, grupo de pesquisa, universidades, etc. Dentre essa denominações a autora cita atividade humana, fazer humano, ação humana, desempenho ocupacional, função ocupacional, saúde práxica, fenômeno ocupacional, afazeres diários, atividades rotineiras, atividades do cotidiano, cotidiano ocupacional, performance funcional, rotina qualificada, cotidiano saudável, atividade significativa etc. (p. 47). Deste modo, após vários debates sobre a epistemologia da Terapia Ocupacional “acredita-se que muitas destas denominações para o objeto de trabalho profissional são nomes diferentes para o mesmo fenômeno”; sendo o termo “Atividade humana” o que aparece com mais frequência na bibliografia (CANIGLIA, 2005 p. 80 apud SILVA A; 2012). Para Bartalotti e De Carlo (2001 apud SILVA A; 2012), as atividades humanas se compõem por ações sequenciadas que possuem qualidades, demandam habilidades, materiais e estabelecem mecanismos internos para sua execução, sendo estas consideradas o elemento centralizador e orientador na construção complexa e contextualizada do processo terapêutico. Nas considerações de Soares (2007 apud SILVA A; 2012) oobjeto da Terapia Ocupacional é apresentado como a ação, o fazer humano, o cotidiano, a atividade humana, as atividades rotineiras, dentre outras denominações. Mas a autora aponta que uma profissão não pode ser definida apenas pelo seu objeto, pois este é apenas um aspecto da profissão, devendo ser considerados também os recursos terapêuticos, a metodologia de trabalho e a forma de agir profissionalmente. 25 4.3 Modelos teóricos em terapia ocupacional Os conhecimentos teóricos ministrados nos cursos de T.O são apontado como formas fundamentadas de intervenção. Segundo Hagedorn (2001 apud BARRETO A; 2012), os modelos são “uma representação simplificada de estrutura e conteúdo de um fenômeno ou sistema, que escreve ou explica as complexas relações entre os conceitos do sistema e integra os elementos da teoria e da prática”. Na busca pelo reconhecimento científico, a terapia ocupacional referenciou a estrutura de seus modelos de atuação nos procedimentos e teorias médicas e psicológicas, entre quais, cabe ressaltar, os exercícios físicos, a estimulação sensorial, as atividades sequenciais do desenvolvimento humano. Isso se deu pelo fato de serem os conhecimentos valorizados na época. (MEDEIROS, 2004 apud BARRETO A; 2012). A terapia ocupacional, porém, foi saindo gradualmente da tutela médica e se apropriando de um arsenal teórico para sustentar sua prática, afirmando, dessa forma, um status profissional. (DRUMMOND, 2007 apud BARRETO A; 2012). Na terapia ocupacional, os “Modelos Teóricos” indicam a abordagem teórica utilizada para fundamentar a prática do profissional. De acordo com Caniglia (2005 apud BARRETO A; 2012), “os modelos tratam das referências teóricas que contém conceitos e premissas teóricas que darão base e orientação para a utilização na clínica e na pesquisa”. Segundo Caniglia, vários estudos têm sido feitos para se detectarem quais modelos teóricos o terapeuta ocupacional busca para fundamentar sua prática. CANIGLIA (1991 apud BARRETO A; 2012), pesquisando referências teóricas utilizadas em Terapia Ocupacional, observou que vários profissionais se interessam pelo assunto: Reed identificou 35 modelos em Terapia Ocupacional; Helen e Hopkins apresentaram nove abordagens para a prática: Comportamental, Biomecânica, Cognitiva, Desenvolvimental, Neurodesenvolvimental, Sensório-motora, Ocupação Humana, Psicanalítica e Reabilitação. Anne Mosey três abordagens de referência: Analítica, Desenvolvimental e Aquisicional. Javetz e Katz apontaram nove modelos: Integrativo Sensorial, Neurodesenvolvimental, Comportamental, Cognitivo, Comportamento Ocupacional, Psicodinâmico, Desenvolvimental, Reabilitativo e Biomecânico. Briggs e outros autores apresentam quatro modelos para a Terapia Ocupacional Psicossocial: Psicanalítico, Comportamental, Humanístico e Desenvolvimental. Kielhofner levantou oito modelos: Adaptação Espaço Temporal, Biomecânico, Cognitivo Perceptual, Controle Motor, Distúrbios Cognitivos, Grupos de 26 Trabalho, Integrativo Sensorial e Ocupação Humana. Hagedorn descreveu 6 modelos: Ocupação Humana, Adaptação através da Ocupação, Desempenho Ocupacional, Habilidades Adaptativas, Incapacidade Cognitiva, Saúde através das Atividades, Caniglia (2005 apud BARRETO A; 2012). Caniglia (2005 apud BARRETO A; 2012) apresenta em seus estudos uma classificação para os modelos utilizados em terapia ocupacional, a saber: Modelo Profissional, Modelos Sanitaristas, Modelos Históricos, Modelos Filosóficos e Modelos Metodológicos. Conforme BARRETO A; (2012), optou-se por explicitar melhor esse último, pois se caracteriza em ter como base e utilização de teorias, métodos e técnicas específicas. As principais características destes modelos estão organizadas no Quadro 1: Fonte: bdm.unb.br- caniglia, 2005. 27 Fonte: bdm.unb.br- caniglia, 2005. Cabe ainda detalhar melhor as abordagens mais utilizadas pelos terapeutas ocupacionais em saúde mental. Uma delas é o modelo analítico, também conhecido como junguiano devido ao seu criador Carl Gustav Jung (1875-1961 apud BARRETO A; 2012). Segundo Vaz (2007 apud BARRETO A; 2012), os estudos de Jung foram trazidos para o Brasil na primeira metade do século XX por Nise da Silveira, ela considerava que Jung forneceria à terapia ocupacional amplas bases de terapêutica para neuróticos e para psicóticos. O modelo junguiano utiliza os conceitos tais como: inconsciente individual, inconsciente coletivo, arquétipos, persona, self, mandala, animus, anima, sombra, atitude e funções. O processo exige uma comunicação entre o consciente e o inconsciente, um diálogo constante entre vida exterior e a dimensão simbólica da vida interior. (JUNG, apud CANIGLIA, 2005 apud BARRETO A; 2012). Mângia e Nicácio (2001 apud BARRETO A; 2012) sugerem que um dos referenciais que se tornaram importantes para a Terapia Ocupacional no processo de constituição do campo da saúde mental foi a Psicodinâmica. Segundo as autoras, esses referenciais surgiram a partir da intenção de humanizar as instituições psiquiátricas, criticar o Tratamento Moral, a Ergoterapia, as práticas de ocupação do tempo ocioso e violações da identidade presentes nos ambientes asilares, sem, no entanto, romper com sua lógica. 28 Tedesco (2007 apud BARRETO A; 2012) define psicodinâmica como “o efeito das ideias psicanalíticas sobre diferentes áreas que enfocam o funcionamento mental e desenvolvem estratégias que lidam ou consideram o sofrimento psíquico”. Conceitua ainda a psicodinâmica da ação como o entendimento dos mecanismos inconscientes das ações ou dos comportamentos como peça importante para compreensão do ser humano e das estratégias desenvolvidas na relação terapêutica. Para Almeida e Trevisan (2010 apud BARRETO A; 2012), a Prática Centrada no Cliente constitui um referencial teórico da psicologia que é utilizado pelo terapeuta ocupacional e que tem grande importância na saúde mental. De acordo com as autoras este modelo possibilita desenvolver ações junto com os usuários, auxiliando- os no processo de identificação de suas demandas e superação dos obstáculos que se interpõem à sua participação social e desempenho satisfatório nas atividades cotidianas. A Prática Centrada no Cliente, proposta por pelo psicólogo Carl Rogers é uma abordagem canadense que privilegia a interação terapeuta e cliente no processo terapêutico, permitindo que o terapeuta torne-se um facilitador em tal processo. Tal abordagem visa habilitação nas áreas de desempenho ocupacional referentes ao lazer, produtividade e autocuidado, desde que dotados de significado para o indivíduo e adequados a seu momento e contexto de vida, conforme SILVA A; (2012). Verifica-se que este modelo constitui uma ferramenta de trabalho que coincide com os pressupostos da Reabilitação Psicossocial por valorizar a coparticipação e responsabilização do usuário por seu projeto terapêutico, e por demonstrar flexibilidade quanto à utilização de modelos de intervenção diversos que atendam as demandas de cada caso (MÂNGIA, 2002 apud BARRETO A; 2012). 5 ALGUMAS DEMONSTRAÇÕES DE TRATAMENTO ATRAVÉS DA REABILITAÇÃO 5.1 Reabilitação neuropsicológica na depressão: um enfoque terapêutico ocupacional 29 Avaliação e reabilitação terapêutica ocupacional: Oliveira, Gomes e Oliveira (2009 apud ANDRADE A; et al., 2010) ilustram que a ocorrência de depressão é associada a diversos fatores, tais como idade, estado civil, classe social e condições sociais. Os autores ainda afirmam que o transtorno depressivo é uma condição que afeta todos os indivíduos em alguma fase de suas vidas, seja como humor transitório ao se sentir abatido ou melancólico, ou como uma forma mais séria, que pode prejudicar o desempenho físico e psicológico, incluindo- se então as atividades ocupacionais do ser humano. De acordo com ANDRADE A; et al.,2010, a partir dessas questões, pode-se dizer que a Terapia Ocupacional adentra esse contexto como forma de reabilitar ou adaptar o indivíduo com transtorno depressivo às suas condições cotidianas, ocupacionais ou de lazer. Segundo Neistadt e Crepeau (2002 apud ANDRADE A; et al., 2010), “ocupação” em terapia ocupacional não se refere simplesmente a profissões ou treinamentos profissionais, e sim a todas as atividades que ocupam o tempo das pessoas e dão sentido a suas vidas, (Neistadt e Crepeau 2002 apud ANDRADE A; et al., 2010). Baseado na obra de Francisco (1988 apud ANDRADE A; et al., 2010), o terapeuta busca promover a saúde ocupacional, habilitando as pessoas para que possam engajar-se nos papéis, nas tarefas e atividades que tenham significados para elas no seu dia a dia e que sejam definidoras de suas vidas. Diante do exposto, a Terapia Ocupacional aliada à Neuropsicologia fornecerá subsídios para a complementação das avaliações, bem como a interligação de técnicas capazes de reabilitar, estimular ou desenvolver a capacidade cognitiva dos pacientes acometidos pela depressão. Estudos feitos por Camargo, Bolognani e Zuccolo (2008 apud ANDRADE A; et al., 2010), a bateria de testes fornecidos pela Neuropsicologia estabelece não só as fraquezas, mas também as forças cognitivas, promovendo por fim um ideal para nortear quais funções devem ser reforçadas, desenvolvidas, estimuladas e/ou preservadas. Concomitante a esse processo, Griéve (2006 apud ANDRADE A; et al., 2010) preconiza dois pontos a serem relevados para avaliação em terapia ocupacional: a avaliação funcional, observando-se o desempenho nas atividades de vida diária (AVD’s), e a avaliação baseada na deficiência, consistindo na utilização de testes 30 padronizados para identificar os componentes que se encontram prejudicados. Portanto, a avaliação tanto em Neuropsicologia como em Terapia Ocupacional, predispõe dados importantes para nortear o que será seguido na próxima etapa do processo: A reabilitação Segundo a Resolução do Conselho Federal de Psicologia n°. 002/2004, em seu artigo terceiro, o objetivo teórico da Neuropsicologia e da reabilitação neuropsicológica é ampliar os modelos já conhecidos e criar novas hipóteses sobre as interações cérebro-comportamentais (Resolução do conselho federal de psicologia, apud Osternack, 2008 apud ANDRADE A; et al., 2010). Assim sendo, de acordo com Rozenthal, Laks e Engelhardt (2009 apud ANDRADE A; et al., 2010), a Neuropsicologia deve ser considerada como um importante instrumento para a compreensão dos transtornos mentais, sendo de grande utilidade no processo de estruturação das intervenções terapêuticas mais diretivas para os déficits observados. Logo, a reabilitação neuropsicológica vem propor para o paciente um mapa de terapêutica adequada para enfatizar sua potencialidade em cima de suas deficiências, promovendo assim uma melhor qualidade de vida ao paciente. Ainda baseando-se em Rozenthal, Laks e Engelhardt (2009 apud ANDRADE A; et al., 2010), estudos preliminares sugerem que o uso de terapias voltadas para a resolução de problemas se mostra eficaz na redução dos sintomas depressivos e na melhora do desempenho em atividades da vida diária, podendo ser uma alternativa terapêutica importante para a população que permanece sintomática. Portanto, pode- se constatar que a Terapia Ocupacional apresenta um leque de opções terapêuticas para complementar junto com a Reabilitação Neuropsicológica as ações de nível de recuperação em meio ao quadro de transtorno depressivo. Essas opções constituem o objeto de trabalho da terapia ocupacional, abrangendo-se então atividades comuns ao dia a dia do paciente que, conforme sugerem Castro, Lima e Brunello (2001 apud ANDRADE A; et al., 2010), possibilitam a cada um “ser reconhecido e se reconhecer por outros fazeres”, permitindo conhecer suas histórias de vida. As autoras ainda complementam que as atividades dentro do contexto terapêutico auxiliam no trabalho de organização e cuidado do cotidiano, servindo como redes de sustentação para a construção da autonomia e da 31 independência, promovendo a convivência e a contextualização do sujeito na cultura e na sociedade. Portanto, auxiliando assim no tratamento do paciente com depressão. Um ponto de destaque também é o que esclarece Wilson (1996 apud ANDRADE A; et al., 2010) sobre a reabilitação neuropsicológica, informando que além de tratar os déficits cognitivos, esse tipo de tratamento também se propõe a auxiliar na recuperação das alterações de comportamento e emocionais, enquadrando-se, portanto, os transtornos depressivos. 6 A NEUROPSICOLOGIA E A ARTETERAPIA COMO REABILITAÇÃO NOS TRANSTORNOS DE ANSIEDADE 6.1 Arteterapia e a Reabilitação Neuropsicológica A arteterapia segundo Coqueiro et al (apud BORDIN, 2014, p.1 apud MACHADO B; 2016) “é um dispositivo terapêutico que absorve saberes das diversas áreas do conhecimento, constituindo-se como uma prática transdisciplinar, visando a resgatar o homem em sua integralidade através de processos de autoconhecimento e transformação”. Destarte diz que a arteterapia é uma atividade que ao lidar com estratégias lúdicas que irão integrar o homem nas suas diversas dimensões, pode ser vista como uma alternativa a ser aplicada em todos os espaços institucionais que tenham como objetivo a formação humana. A arteterapia ao promover as atividades também cria relações com o funcionamento cerebral, pois consegue promover o desenvolvimento cognitivo “[...] ordenando estímulos perceptivos, criando novas composições, ou seja, associações, adaptações, estimulando o processo de aquisição de linguagem. ” (SOUZA, 2009 apud MACHADO B; 2016). As aquisições cognitivas se dão por meio da reorganização cerebral, seja neuroquímica, estrutural e funcional. As mudanças que ocorrem não se dão apenas no meio exterior, mas também no interior (afetivo) o que irá acrescentar uma nova visão do entendimento da sua vida e da necessidade de superação das dificuldades do transtorno psicológico, conforme MACHADO B; (2016). 32 Dessa forma, segundo Souza (2009 apud MACHADO B; 2016), a arteterapia na neuropsicologia: [...] oferece a oportunidade de exploração de dificuldades e potencialidades pessoais por meio da expressão criativa, e do desenvolvimento dos recursos físicos, cognitivos e emocionais. Estimula a aprendizagem de habilidades, usando as diferentes linguagens artísticas para as experiências terapêuticas. ” De acordo com MACHADO B; (2016), o arteterapeuta e/ou neuropsicólogo ao escolher uma atividade artística, tais como: desenhar, pintar, colar, rasgar, cortar, inventar, dramatizar dentre outras, para o seu paciente com transtorno psicológico permite-lhe ressignificar e aprender novas formas de ser e atuar no cotidiano. Pois, ao realizar tais atividades, as habilidades estimuladas deverão ser reproduzidas em outros contextos. Segundo Souza 2009, a arte-reabilitação pode ajudar a recuperar algumas das funções prejudicadas e adequar um programa de estimulação cognitiva usando vários recursos como: música, arte, danças, estímulos pedagógicos, jogos, computadores, etc. O trabalho é direcionado e desenvolvido em função das orientações fornecidas pelos exames iniciais e dos testes neuropsicológicos realizados com o paciente, (Souza 2009 apud MACHADO B; 2016). Portanto, há a mudança do quadro neuropsicológico do paciente quando são realizadas atividades que promovam mudanças que abarcam o funcionamento do cérebro, seja em áreas específicas ou de forma ampla bem como, possa atingir os dois hemisférios. 6.2 Fundamentos da Neuropsicologia no transtorno de ansiedade A ansiedade é um sentimento de apreensão que aponta para as pessoas que há um perigo, traduzindo-se em manifestações fisiológicas como agitação, hiperatividade e movimentos precipitados e manifestaçõescognitivas como atenção e vigilância redobrada, pensamentos e possíveis desgraças. Essas manifestações podem ser passageiras ou permanentes variando sua intensidade a níveis imperceptíveis ou elevados (BATISTA e OLIVEIRA, 2005 apud SANT’ANA A; et al., 2017). 33 Os critérios diagnósticos marcados na DSM-V abrangem: ansiedade e preocupação excessiva e de difícil controle na maioria dos dias e com duração mínima de seis meses, ocasionando prejuízos no funcionamento da vida diária. O quadro deve conter também três de seis sintomas físicos tais como: inquietação, fatigabilidade, dificuldade de concentração, irritabilidade, tensão muscular ou perturbações do sono. (OLIVEIRA et al 2006 apud SANT’ANA A; et al., 2017). De acordo com JARROS R; (2011) a ansiedade é um estado emocional vivenciado com qualidade subjetiva do medo. É uma resposta a situações de perigo, ou ameaças reais, como aos estresses e desafios do cotidiano. É caracterizada por apresentar: Sintomas somáticos, como taquicardia, palpitação, dificuldade respiratória, tremor, calorões, calafrios, tensão muscular, náuseas, dor de cabeça, sudorese, etc., conforme JARROS R; (2011). De sintomas cognitivos, como dificuldade de concentração, pensamento catastrófico, hipervigilância, medo de perder o controle, conforme JARROS R; (2011) Sintomas comportamentais, como inquietude, isolamento e esquiva, conforme JARROS R; (2011). Sintomas emocionais, como medo, apreensão, irritabilidade e impaciência, conforme JARROS R; (2011). Sintomas perceptivos, como despersonalização, desrealização e hiper- reatividade aos estímulos (CORDIOLI; MANFRO, 2004 apud JARROS R; 2011). Por ser uma prática clínica nova no Brasil a neuropsicologia e a neuropsicologia infantil ainda carecem de regulamentações, escores e de padronizações de testes específicos para a população brasileira, e para a população infantil (REIS-YAMAUTI et al., 2014 apud SILVA J; et al., 2016). A neuropsicologia infantil tem como função primordial a investigação das áreas cognitivas e o comportamento infantil (SANTOS, 2005 apud SILVA J; et al., 2016). Sua aplicabilidade como ciência prevê os seus dois principais componentes, a avaliação neuropsicológica e a reabilitação neuropsicológica, sendo sucessivamente a compreensão das funções cerebrais, e as alterações comportamentais associadas às lesões encefálicas. A avaliação neuropsicológica infantil é voltada para as 34 peculiaridades da criança (FERNANDO; ASBAHR; PAULO, 2011 apud SILVA J; et al., 2016). Esta área tem um papel bastante importante no processo de mensuração das habilidades cognitivas de crianças, adolescentes, adultos e idosos a partir de um conjunto de procedimentos que engloba observações, entrevistas clínicas, administração de tarefas e ferramentas padronizadas de avaliação de desempenho, visando identificar e caracterizar o perfil das habilidades cognitivas, comunicativas e/ou emocionais do indivíduo com quadros neurológicos do indivíduo ou psiquiátricos, conforme SILVA J; et al., (2016). Segundo Salles (2016 apud SILVA J; et al., 2016) os transtornos de ansiedade na infância e adolescência podem estar associados a déficit de atenção e de memória que ocasionarão ao empobrecimento do rendimento escolar, podendo também haver problemas no comportamento, dificuldades em organizar o material, retraimento e/ou impulsividade. A neuropsicologia pode ser útil para definir a natureza e a gravidade de problemas comportamentais e emocionais resultantes de transtornos cerebrais conhecidos e de fatores de risco para transtornos no cérebro ou para disfunções sem causa identificável. Fornece informações valiosas sobre o comportamento social, o estado emocional e as adaptações às limitações do paciente que sofre ou não de algum tipo de transtorno, conforme SILVA J; et al., (2016). De acordo com Rodrigues (2011 apud SILVA J; et al., 2016), onde a mesma cita os autores Gray e Naughton (2007 apud SILVA J; et al., 2016) retratam que há uma relação entre a teoria da neuropsicologia da ansiedade e do funcionamento do sistema septo-hipocampal. Tal sistema detectaria um conflito entre os objetivos simultâneos disponíveis e para resolvê-lo, o sistema aumentaria o peso dado à informação negativa em áreas de processamento, sendo que esse aumento na informação efetivamente negativa produzia o aumento de ansiedade em algumas tarefas, reduzindo o efeito de interferência da memória em outras. 35 Gray e Naughton (2007 apud SILVA J; et al., 2016), acreditam que a estrutura cerebral relacionado a ansiedade seria a amígdala. Esta área é responsável em avaliar a natureza e intensidade da ameaça que provoca no indivíduo, atribuindo a ela uma conotação afetiva. Existe uma grande importância na função desempenhada pela a amígdala na dinâmica da ansiedade e na memória emocional, havendo por tanto, uma associação entre a emoção e memória. É reconhecida também por sua importância para a memorização emocional e o aprendizado onde poderá afetar uma variedade de comportamentos emocionais relacionados ao aprendizado, a vigilância e ao convívio social. Para conhecer melhor o funcionamento do mecanismo da ansiedade, será mostrado abaixo e exposto por Clark; Beck (2012 apud MACHADO B; 2016). Tabela: Aspectos Comuns da Ansiedade (CLARK; BECK, 2012 apud MACHADO B; 2016): Fonte: inesul.edu.br 36 Além dessas características da ansiedade, com relação a neuropsicologia de forma simplificada tem-se: “Na ansiedade há um “excesso” amigdaliano, com medos, reações vegetativas, fobias, angústia antecipatória, preocupações excessivas. ” (FERNANDO; CAIXETA,2007 apud MACHADO B; 2016). De acordo com Pereira; Tarantino (2016 apud MACHADO B; 2016) as três estruturas cerebrais envolvidas na ansiedade são: Córtex pré-frontal (relacionado ao planejamento de comportamentos e pensamentos complexos, expressão da personalidade, tomadas de decisões e modulação de comportamento social, conforme MACHADO B; (2016) Amigdala (importante centro regulador [...] do comportamento agressivo, respostas emocionais e da reatividade a estímulos biologicamente relevantes, além disso, para os conteúdos emocionais das nossas memórias), conforme MACHADO B; (2016). Hipocampo (está mais envolvida no registro e decifração dos padrões perceptuais do que nas reações emocionais). As importâncias dessas três estruturas cerebrais no funcionamento da ansiedade estão descritas abaixo, conforme MACHADO B; (2016) Sobre a neurobiologia da ansiedade tem-se, uma linha de investigação levou ao conceito de sistema cerebral de defesa, representado pela amígdala, pelo hipocampo e pela matéria cinzenta periaquedutal, que comanda comportamentos do tipo luta e fuga, relacionados com medo e pânico. [...] A outra se refere a chamada sistema de inibição comportamental, cujas estruturas críticas são o septo e o hipocampo, e que promove a investigação cautelosa e a inibição comportamental, relacionada com a ansiedade. [...] uma síntese recente, proposta por Gray e Mc Naughton, inclui o sistema cerebral de aproximação, que incentiva a busca de fontes de satisfação de necessidades biológicas. A ansiedade surgiria quando há tendências conflitantes de aproximação e esquiva, produzidas por um mesmo objeto ambivalente. O septo-hipocampo seria o órgão detector de conflito que geraria a ansiedade. [...] Evidências neurocirúrgicas destacam a importância do córtex pré-frontal na ansiedade humana, que é desencadeada, na maioria das vezes, por símbolos verbais e não-verbais de natureza psicossocial.[...] Estudos com neuroimagem morfométrica e funcional têm confirmado o papel dessas estruturas cerebrais na ansiedade normal e patológica do ser humano.[...] Evidências psicofarmacológicas e neuroquímicas, obtidas em animais de laboratório e também em seres humanos normais e com transtornosde ansiedade, revelaram o papel de neurotransmissores, como a serotonina e o GABA, e de hormônios como corticoides, estrogênios e da tieróide, na ansiedade.”( Graeff apud KAPCZINSKI, 2004 apud MACHADO B; 2016). 37 A partir das informações anteriores, a ansiedade altera o funcionamento de áreas específicas do cérebro da pessoa ansiosa, é o sistema cerebral de defesa que funciona de forma desacerbada em situações que não deveriam gerar ansiedade, mas pela alteração da percepção do indivíduo isso acarreta na alteração do sistema de defesa. As causas do funcionamento disfuncional do sistema de defesa podem ser ambientais, genéticas ou ambas. A intervenção neuropsicológica da ansiedade deve considerar as respostas fisiológicas, cognitivas, sociais e emocionais, conforme MACHADO B; (2016). Assim, as atividades terapêuticas devem atender a todos os aspectos citados para que ocorra a mudança no quadro apresentado pelo paciente. Cabe, ressaltar, que no processo terapêutico a questão da relação terapêutica que é a importância para a aderência do paciente na terapia, conforme MACHADO B; (2016). 6.3 Atividades de Arteterapia que auxiliam na Reabilitação Neuropsicológica dos Transtornos da Ansiedade Os atendimentos em arteterapia e neuropsicologia, voltados para os casos de ansiedade, devem considerar os resultados obtidos na avaliação neuropsicológica do paciente e nos atendimentos. Pode-se aliar várias terapias no atendimento da ansiedade, desta forma, tem-se além da arteterapia, atividades da psicoterapia neurocognitivo- comportamental. Além disso, dependendo do caso a ser atendido, deve ser realizado atendimentos com a família e as instituições escolares ou do trabalho, conforme MACHADO B; (2016). Assim, o enfoque está na reabilitação, sendo que as atividades devem atender aos sintomas comportamentais e cognitivos. Para que isso aconteça é necessário que sejam aplicadas atividades que contemplem o funcionamento neurpsicológico. Nos sintomas comportamentais, as estratégias deverão reduzir: a evitação de sinais ou situações de ameaça, esquiva, fuga, Inquietação, agitação, movimentos rítmicos, hiperventilação, congelamento, imobilidade, dificuldade para falar e aumento no sentimento de segurança e autoestima, conforme MACHADO B; (2016). 38 E, nos sintomas cognitivos, as atividades devem atender a diminuição do: medo de perder o controle, de ser incapaz de enfrentar, medo de ferimento físico ou morte, Medo de “ficar louco”, medo da avaliação negativa dos outros, pensamentos, imagens ou recordações aterrorizantes, percepções de irrealidade ou afastamento e da concentração deficiente, confusão, distração. Nesse sentido, serão indicadas atividades de arteterapia que permitam ao paciente reduzir os sintomas comportamentais e cognitivos dos transtornos de ansiedade, de acordo com Pazeres (2014 apud MACHADO B; 2016): Desenho: A coordenação motora fina é bastante trabalhada, portanto o controle é essencial, não só o motor, mas principalmente o intelectual. A atenção, a concentração e o contato com a realidade são explorados. O desenho de cópia, enfoca a atenção na realidade exterior, e é indicado em pessoas que fantasiam, sonham, obrigando-as a perceber e reproduzir a realidade tal como ela é. A imensa dificuldade que encontram em reproduzir, não é só o medo de errar, é a própria dificuldade de dar direcionamento em sua vida. É indicado para pessoas dispersas, sonhadoras, confusas e adolescentes. Indicados para pessoas deprimidas, com tônus vital rebaixado”, conforme MACHADO B; (2016). Pintura: Quando a pintura flui, fluem ali, emoções e sentimentos. A esfera afetiva emocional está mais abrangente, pois as pinceladas lembram o fluxo respiratório, a vida. Quanto mais expressão, mais autoconhecimento e mais autoconfiança. A pintura, assim como o desenho, pode ser livre, de cópia, ou dirigida. Com a pintura, trabalha-se a estruturação e a área afetiva emocional, chegando ao equilíbrio das emoções. E quanto mais diluída for a tinta, mais emocional é o resultado, conforme MACHADO B; (2016). Modelagem: O efeito da modelagem atua nas sensações físicas e viscerais, como também no sentimento e cognição. A técnica exige uma canalização de energia adequada, por partir do nada para a criação de algo podendo ser livre ou dirigida. A argila age como transformadora, de um estado de 39 desencontro para um estado de equilíbrio, podendo trazer à tona conflitos internos indesejáveis. Por ser moldável, integra o ser com o mundo exterior, mostrando-o que pode adaptar-se às situações, sendo fluida, recebe projeções e é dominada, favorecendo ao manipulador, a libertação das tensões, fadigas e depressões, pois é um material vivo e de ação calmante. No emocional mobiliza sentimentos e emoções primitivas, para que possam ser conhecidas e trabalhadas, conforme MACHADO B; (2016). Sucata: O trabalho com a sucata estimula a reconstrução, a criatividade, as percepções, a atenção, a construção, a transformação, o concreto e a mudança. É um material transformador, pois dá-se uma nova utilidade ao que antes era lixo. É a mudança através do concreto, é a busca de possibilidades de transformação e do reaproveitamento. Colagem: Nesta atividade, o cliente busca nos materiais, ideias que possam expressar e comunicar seus sentimentos, emoções e ideias em relação ao tema. O planejamento, o direcionamento, e a atenção do paciente, ajudam na estruturação de sua vida. É um recurso rico, pois o indivíduo planeja, analisa, fica atento, concentrado, organizado e paciente, conforme MACHADO B; (2016). A autora mostra também a importância das atividades na redução de comportamentos, sentimentos, motricidade que permitam à pessoa com transtornos de ansiedade melhorar o seu comportamento no dia a dia. Além dessas atividades, tem-se ainda a prática do origami, segundo Ueno (2003 apud MACHADO B; 2016), “ o origami é a tradicional arte japonesa de confeccionar figuras (animais, flores, peixes, objetos etc.) através de dobras. O nome origami foi criado em 1880, através da fusão do verbo "oru" (dobrar) e a palavra "kami" (papel). Conforme MACHADO B; (2016), ”A atividade é realizada com qualquer tipo de papel e não utiliza-se tesoura ou régua, o que beneficia na coordenação visomotora, bem como o aspecto cognitivo, pois desenvolve a representação mental do objeto que se constrói com o papel. O origami pode ser utilizado como uma das atividades para reduzir os efeitos dos transtornos de ansiedade, “ é capaz de desenvolver as habilidades motoras das duas mãos, já que são necessárias o uso conjunto delas para 40 se formar alguns símbolos, desenvolve as habilidades intelectuais e a criatividade usando todos os hemisférios do cérebro; desenvolve a memória, paciência e a atenção, já que as regras precisam ser seguidas à risca, (Sibovitz apud UENO, 2003 apud MACHADO B; 2016) ”. Além dessas práticas de arteterapia, existem as práticas de mindfulness inseridas no modelo de psicoterapia cognitivo comportamental, sendo que tais práticas vêm obtendo sucesso no manejo dos pacientes com transtorno de ansiedade. Conforme Vorkapic; Rangé (2013 apud MACHADO B; 2016) mindfulness, é um nome para o qual não há tradução fiel em português (alguns autores usam a expressão atenção plena), é baseada em técnicas budistas e define-se como uma forma específica de atenção concentração no momento atual, de modo intencional e sem julgamento. A meditação mindfulness tem se mostrado eficaz como intervenção terapêutica de transtornos mentais. As práticas de mindfulness, são capazes de atuar no funcionamento geral do indivíduo com transtorno de ansiedade, de acordo com Graeff; Brandão (1997 apud MACHADO B; 2016), permitem não só controlar a musculatura estriada, promovendo o relaxamento e regularizando a respiração, como também influencia
Compartilhar