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O papel da escravidão para a consolidação do capitalismo comercial nas Américas

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O PAPEL DA ESCRAVIDÃO PARA A CONSOLIDAÇÃO DO CAPITALISMO COMERCIAL NAS AMÉRICAS 
Bárbara Cristina Jacintho[footnoteRef:0] [0: Graduanda em Relações Internacionais pela Universidade Federal de Uberlândia. 
2 Graduando em Relações Internacionais pela Universidade Federal de Uberlândia.] 
Isaque Alves Silva2
RESUMO	2
INTRODUÇÃO	2
PASSADO ESCRAVAGISTA	3
CONCLUSÃO	5
REFERÊNCIAS	6
	
RESUMO
O capitalismo industrial nas Américas tem suas origens profundamente enraizadas na mão-de-obra escravizada, seja ela advinda do tráfico negreiro na África, ou da própria população nativa dos países colonizados. Isto posto, buscaremos demonstrar de que forma a utilização do regime escravista como ferramenta para aumentar seus lucros foi essencial para a consolidação do capitalismo tal qual conhecemos atualmente. Além disso, a atuação violenta das grandes potências europeias da época, Portugal, Espanha e Inglaterra, deixou marcas profundas engendradas em nosso passado enquanto vítimas de uma colonização forçosa por parte dos portugueses, deixando sequelas evidentes na formação cultural das inúmeras culturas espalhadas pela América Latina. 
INTRODUÇÃO
	
	O presente artigo toma como uma de suas bases os escritos de Eric Williams (1964) acerca da relação histórica que pode ser desenhada entre a formação do capitalismo e a origem do racismo estrutural nas Américas advindo do tráfico negreiro pelas mãos das grandes potências europeias da época. 
O período da Revolução Industrial foi fundamental para a consolidação do regime capitalista como o conhecemos hoje. Neste sentido, a tese de Williams busca demonstrar qual o papel da escravidão negra e nativa para a geração do capital que financiou a Era Industrial, principalmente em se tratando de Grã-Bretanha. As consequências da exploração desenfreada dos recursos naturais e da mão-de-obra negra e indígena são sentidas na pele até hoje pelas gerações que sucederam esses séculos de extorsão. 
Para entendermos melhor como o sistema capitalista de produção atual se instalou é preciso dar alguns passos para trás e traçar uma linha do tempo datada de meados do século XVIII. Nessa época, a Inglaterra era a grande potência econômica mundial e sua produção contava com diversas formas de trabalho industrial ‒ inclusive a escrava que, através da exploração de uma mão-de-obra barata, possibilitou boa parte da expansão dessa indústria (WILLIAMS, 1964). 
No entanto, após 1783, o sistema engessado em que viviam começa a demonstrar sinais de ruptura: importantes grupos de interesses bem como grandes cidades comerciais e industriais passaram a adotar um discurso abolicionista contra o monopólio das Índias Ocidentais (WILLIAMS, 1964). 
PASSADO ESCRAVAGISTA
	Embora a Inglaterra tenha sido uma das grandes exploradoras da mão-de-obra escrava, não foi a primeira nem tampouco a última. Os portugueses foram
Os precursores desta feição particular do mundo moderno: a escravidão de negros africanos; e dominavam os territórios que os forneciam. Adotaram-na por isso, em sua colina, quase de início — possivelmente de início mesmo —, precedendo os ingleses, sempre imitadores retardatários, de quase um século (PRADO JR., 1945). 
Com a era das navegações, os portugueses saíram em busca do Novo Mundo e encontraram nas Américas o terreno perfeito para a exploração de recursos. Todavia, esse processo ocorreu de formas diferentes ao longo do continente americano: ao norte a colonização deu-se através do povoamento, funcionando como um mecanismo de escoamento “para os excessos demográficos da Europa” (PRADO JR., 1945). Já ao sul do continente, a colonização tomou formas completamente originais com características mercantis, pautada pela exploração massiva dos recursos naturais e da produção de bens de grande valor comercial através de mão-de-obra negra e indígena. 
A convergência das tradições europeias com a nova sociedade que se formava nas colônias tropicais marcaram profundamente nossa historiografia escravocrata. Dessa forma, Prado Jr. afirma que esse processo foi fundamental para a consolidação da economia brasileira e de sua sociedade à medida em que:
No seu conjunto, e vista no plano mundial e internacional, a colonização dos trópicos toma o aspecto de uma vasta empresa comercial, mais complexa que a antiga feitoria, mas sempre com o mesmo caráter que ela, destinada a explorar os recursos naturais de um território virgem em proveito do comércio europeu. É este o verdadeiro sentido da colonização tropical, de que o Brasil é uma das resultantes; e ele explicará os elementos fundamentais, tanto no social como no econômico, da formação e evolução histórica dos trópicos americanos (PRADO JR., 1945). 
A gênese conturbada das Américas e suas tradições forçosamente importadas pelos grandes colonizadores perduram até os dias atuais, salientando a importância da compreensão de seu passado colonial que apenas recentemente passou a ser tratado com atenção (mas ainda não suficiente) e que nos fornece dados necessários para analisarmos a formação do sistema capitalista nesta região. 
Um exemplo desse nascimento conturbado é o Brasil: desde seus primórdios, o território brasileiro foi amplamente explorado em termos de recursos e mão-de-obra escrava. Ao solucionarem o problema geográfico que era o Caminho das Índias, os portugueses toparam com o continente americano e, de início, “pode-se dizer que não encontramos nada de proveito" como nos afirmou o famoso Américo Vespúcio, hora piloto dos espanhóis e hora dos portugueses (PRADO JR., 1945).
Todavia, ao descobrirem o pau-brasil, uma espécie vegetal semelhante a outra já conhecida no Oriente que era comumente usada como corante para tinturaria, iniciou-se um intenso tráfico dessa matéria por parte dos franceses e portugueses[footnoteRef:1] em meados do século XVI. Toda essa exploração, no entanto, não foi suficiente para constituir no Brasil um núcleo efetivo de povoamento uma vez que “a indústria extrativa do pau-brasil tinha necessariamente de ser nômade; não era capaz, por isso, de dar origem a um povoamento regular e estável” (PRADO JR., 1945). Além disso, a mão-de-obra escravizada que foi importada para o Brasil naquela época advinha predominantemente da África (Guiné, Congo, Angola e Moçambique sendo grandes expoentes do tráfico negreiro) como pode ser observado na imagem à seguir: [1: Os espanhóis, embora tivessem concorrido com eles nas primeiras viagens de exploração, abandonaram o campo em respeito ao tratado de Tordesilhas (1494) e à bula papal que dividira o mundo a se descobrir por uma linha imaginária entre as coroas portuguesa e espanhola.] 
Imagem 1: mapa do tráfico negreiro no Brasil
Fonte: COSTA (2016).
	Ainda no continente americano, a mina de prata de Potosí, na Colômbia, compunha mais um dos locais com uma presença alarmante de escravizados. Após um episódio mortal em Potosí, a Coroa espanhola passou a utilizar os escravizados africanos no lugar dos nativos. Acreditou-se que, com isso, a Coroa passaria a valorizar a mão-de-obra escravizada para evitar baixas devido aos recorrentes excessos físicos e punições. Para legitimar a livre circulação de traficantes de escravos em seus territórios, a Coroa expediu o Asiento que funcionava como um tratado comercial ou contrato através do qual um país recebia da coroa espanhola uma rota comercial ou o monopólio de comércio de um produto, o que incluía o comércio de escravos. Para mais, no Brasil e na América Hispânica, os escravizados africanos foram utilizados majoritariamente nas lavouras de exportação dentro do sistema de plantation (COSTA, 2016). 
CONCLUSÃO
As origens do trabalho escravo nas possessões coloniais, resultado das expansões marítimas iniciadas por Portugal, tiveram fundamentos exclusivamente econômicos, já que os trabalhadores europeus ao se depararem com a quantidade de trabalho numa terra demasiadamente grande, por um salário socialmente insignificante no Novo Mundo, se viram numa melhor condição produzindo para a subsistência. Nesse sentido, mesmo apesar das desvantagens,a implantação da escravidão nas Américas foi a alternativa necessária que supriu as demandas de produção em grande escala voltadas para a exportação, as quais compõem o cerne do capitalismo comercial (WILLIAMS, 1964). 
Destarte, a prática escravista foi implantada em toda a extensão continental, por todas as potências colonizadoras, cuja rivalidade internacional em torno do monopólio comerciall vigente financiou a implantação do modelo capitalista, ao passo que concretizou o sentimento racista engendrado na sociedade europeia colonizadora, ora contra os índios, ora contra os negros. Não obstante, cabe ressaltar as diferenças no modelo escravagista em ambas etnias, bem como seus impactos. Se por um lado, nas possessões ibéricas os índios foram intensamente massacrados, dado o fato de que sua escravidão entrelaçava aspectos religiosos, como a conversão ao cristianismo com condenação à morte, por outro, nas possessões britânicas a escravidão dos aborígenes nunca fora incisiva. Ao contrário disso, a escravidão negra foi abundantemente intensiva em todo o continente (WILLIANS, 1969). 
Ademais, a escravidão no Novo Mundo e o monopólio foram os pilares do capitalismo comercial, o qual produziu a riqueza necessária para que o capitalismo industrial se desenvolvesse na Inglaterra novecentista. E foi com a exportação desse modelo para o resto do mundo, que a história se desenvolveu tal qual a conhecemos contemporaneamente: com o término da escravidão nos moldes coloniais de produção em grande escala, e a consolidação do racismo institucional contemporâneo (WILLIAMS, 1969).
REFERÊNCIAS
COSTA, Hipólito José da. A escravidão nas Américas. Disponível em: <https://www.geledes.org.br/escravidao-nas-americas/>. Acesso em: 15 out. 2021.
PRADO JR., Caio. 1945. História Econômica do Brasil. 26° edição. Editora Brasiliense. 
WILLIAMS, Eric. Capitalismo e escravidão. 1964. 1° edição. Companhia das Letras. São Paulo.

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