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EPISTEMOLOGIA PRIMEIRA PARTE AS ORIGENS Epistemologia é uma palavra nova, assim como uma ciência nova também, que significa teoria da ciência. Serve para significar o estudo às ciências dos princípios sobre o qual se fundam, dos critérios de verificação e de verdade, do valor dos sistemas científicos. Podemos dizer que a epistemologia se origina em Platão. Toda filosofia comporta uma certa concepção sobre oi conhecimento, e é no Teeteto de Platão que encontramos uma exposição da teoria da ciência, porém ainda não foi aí que um sentido mais preciso e restrito apareceu para a palavra ciência. Somente a partir do século XVIII, no momento em que a atitude de confiança otimista e exaltação cega das ciências foi substituída por um ceticismo e uma crítica aguda nos confrontos do conhecimento científico, os filósofos começaram a dar atenção à essa ciência. O nascimento e desenvolvimento da filosofia da ciência deve-se diretamente à tomada de consciência da problematicidade desse conhecimento. Tal consciência era ainda ausente em Descartes, Newton, Kant, Comte, e Spencer. Somente nesse século (XVIII) que surgiu uma obra chamada: Discurso Preliminar à Enciclopédia (d’ Alembert) que explicava melhor o que seria a epistemologia. Porém foi no segundo terço do século que apareceram ao mesmo tempo duas obras que realmente iniciaram a epistemologia, mesmo o termo ainda não existindo na época, a Wissenshaftslehre em 1837 de Bernado Bolzano e a Philosophy of the inductive sciences em 1840 de Willian Whewell. A epistemologia é usada em dois sentidos: para indicar o estudo da origem e do valor do conhecimento humano em geral; ou para significar o estudo as ciências (físicas e humanas), dos princípios sobre o qual se fundam, dos critérios de verificação e de verdade, do valor dos sistemas científicos. A epistemologia constituiu-se como disciplina original através da junção entre a competência científica e a reflexão filosófica, junção exigida pelo próprio estádio da ciência e que a especialização científica devida ao desenvolvimento da mesma tinha tornado cada vez mais rara. O DOMÍNIO DA EPISTEMOLOGIA Para existir uma definição de algo precisa haver a junção do vocabulário e da decisão do que seja. E para chegar a esse consenso deve ter-se em conta ao mesmo tempo o uso que parece ser o mais divulgado e o que se pensar ser o mais racional. Assim, depois desses dois critérios equilibrados chega-se à definição. Sobre a epistemologia, a definição se dá após reduzi-la ao conhecimento. Esse conhecimento por sua vez, como é tratado por L. Rougier, é um conhecimento científico, pois “não existe outro conhecimento a não ser o científico”. A ciência se reconhece por um caráter científico às pesquisas sobre a telepatia ou simplesmente à fisiognomonia, ou ainda às disciplinas em que se agrupam sob designação de ciências normativas. Assim, a teoria do conhecimento procura principalmente situar o conhecimento científico entre outras formas possíveis de conhecimento. Embora seja admitidas a separação teórica entre epistemologia e a teoria do conhecimento, ela se torna muitas vezes difícil de ser observada. Tanto por causa de questões referentes a vocabulário – na falta de um termo simples, a expressão teoria do conhecimento é facilmente substituída por epistemologia – como também no que diz respeito ao conhecimento científico, ou seja, tanto a ciência quanto o espírito científico, constituem-se progressivamente, sem nunca atingir um estado de acabamento, e a epistemologia se propõe a percorrer todos os estádios através dos quais se chega ao que consideramos hoje como o conhecimento científico. A diferença entre epistemologia e filosofia é ainda mais complicada de ser determinada. Alguns autores eliminam qualquer ligação entre as duas desejam preservar a epistemologia de qualquer compromisso com a filosofia. Nos dias de hoje a epistemologia parece afastar-se mais dos filósofos e aproximar-se mais dos cientistas, pois desde o princípio do século, foram os matemáticos e não os filósofos que eliminaram as antinomias e resolveram a crise dos fundamentos. Nem sempre o retorno reflexivo aos princípios e métodos de uma ciência conduz a filosofia, assim como nem toda metaciência é necessariamente filosófica. Fazendo uma distinção entre filosofia da ciência e epistemologia percebe-se que elas se distinguem por uma diferença de limites. A relação da epistemologia com as ciências do homem é análoga àquela que mantém com as ciências matemáticas ou com as ciências da natureza ou seja, a epistemologia interna das matemáticas, por exemplo, é marcada pelo espírito e pelos métodos das matemáticas, e parece estranha às ciências do homem. A epistemologia parece pertencer tanto à ciência do homem quanto à matemática e a física. Não se pode limitar a epistemologia à análise da linguagem científica, porém, por outro lado, não se pode classificar a epistemologia entre as ciências do homem. AS VIAS DE ACESSO Foi aos poucos que a epistemologia desligou-se da filosofia e da teoria do conhecimento. Mesmo sabendo que o ponto de partida da filosofia kantiana é uma interrogação sobre a possibilidade da ciência não podemos considerar Kant como um epistemólogo. A sua análise da ciência é muito pouco circunstanciada, limitando-se a algumas noções fundamentais tidas como necessárias e definitivas e também porque a questão da possibilidade da ciência não é tratada por si mesma, mas sim como um meio para resolver o verdadeiro problema: a dúvida se pode conferir a metafísica o mesmo caráter cientifico da geometria ou a física. A epistemologia atual não pode ignorar totalmente os ensinamentos filosóficos, pois hoje, encontramos sob formas modernas o conhecimento que era encontrado nos problemas de antigamente. Alguns cientistas tornaram-se filósofos, mas um filósofo não se arrisca a aderir a epistemologia sem antes ter adquirido uma cultura cientifica bastante grande. Mas podemos encontrar, tanto cientistas que falta visão filosófica como filósofos que curiosos com dom científico. Podemos dizer que a epistemologia pode ser científica ou filosófica, mas mais interessante seria designa-la como via de acesso científico e via de acesso filosófico à epistemologia. Mais interessante ainda seria chamar a epistemologia de interna e obrigatória ou externa e facultativa, sendo a primeira a que nasce de qualquer forma, querendo ou não, no caminho do cientista; e a segunda que é praticada deliberadamente, em seguida a uma decisão arbitrária, é cultivada por si própria. Analisando histórica e criticamente, a ciência se compreende bem através do passado, enquanto a história oferece um bom meio para analisar, através da época, das datas, das circunstancias e contribuem para formar os princípios da ciência. Assim, a epistemologia distingue-se da história das ciências na medida que a história é para ela um meio e não um fim. Através da historia, sua investigação se torna crítica. A solução a historia por parte do epistemólogo pode ser tanto intermitente e ocasional, como permanente e sistemático. A psicologia genética é uma das disciplinas fundamentais que devem ocorrer para o estabelecimento de uma epistemologia genética. A epistemologia genética estabelece transição entre a psicologia genética e a epistemologia em geral, ainda prendendo-se à epistemologia historicamente crítica de acordo com que toma o desenvolvimento do conhecimento. OS PROBLEMAS A epistemologia segundo seus problemas se divide em dois grupos: o que abrange a totalidade das ciências, e o que são específicos de um só grupo ou ramo da ciência. Alguns cientistas que querem a todo custo separar a epistemologia da filosofia, rejeitam essa classificação, pois para eles a epistemologia é um conjunto de epistemologias regionais estando cada uma determinada, ou no máximo, aum grupo restrito da ciência. A ciência enraíza-se por vários caminhos e essa proliferação com seus cruzamentos e junções não podem satisfazer o espírito dos cientistas que não contam-se com uma dispersão sem colocar problemas de coordenação. De acordo com esses problemas coloca-se ainda um outro problema geral no que diz respeito às relações entre dois grandes grupos, entre os quais se divide a ciência: ciências formais e ciências do real. Um dos problemas encontrado diz respeito a esses dois grupos de ciências. Quanto às ciências formais foi a partir de dias mais atuais que a lógica, figura ao lado da matemática, não havendo preocupação quando se estuda a natureza do raciocínio matemático. Os problemas epistemológicos que fazem parte da ciência do real, põem-se de modo exemplar em relação à física. Outro problema nasceu conseqüentemente por causa do surgimento da linguagem, dos instrumentos, das sociedades0 políticas, da religião, da arte e da ciência. Há ainda problemas ligados à hierarquias das diversas disciplinas. Sempre podemos observar que uma teoria é derivada da outra, mas uma tende a dominar o conjunto. Todos esses problemas se não são totalmente novos, tomaram uma forma e uma amplitude novas na época contemporânea. SEGUNDA PARTE O AGRUPAMENTO DAS CIENCIAS Apesar das ciências se aplicarem em diferentes objetos, ela será sempre a mesma, pois ela não sofre nenhuma alteração por parte desses objetos. A física engloba a biologia, e o que na psicologia pe comum ao homem e aos animais, como os sentidos, a memória, a imaginação e as paixões. As ciências fundamentais se dividem em disciplinas particulares entre as quais há as especializações dos sábios. Porém essa dispersão é perigosa e para compensa-la, a tendência para alguma suposta unificação faz sentir-se cada vez mais. Na verdade cada ciência sai do seu isolamento e através desses laços faz-se uma unidade entre todas as partes do saber. As ciências se agrupam em alguns conjuntos. Este é um fato que a epistemologia deve começar a constatar, mesmo que ele interfira sobre o seu significado. Assim, a ciência mais uma vez se divide em dois grupos: ciências humanas e ciências econômicas. A classificação das ciências, ou seja, a organização sistemática não é atingida quando nos contentamos em repartir as numerosas ciências em conjuntos fundamentais estabelecendo hierarquicamente segundo Comte. Essa ordem é feita cronologicamente ao desenvolvimento dessas ciências. Novas ciências podem ainda nascer, como a cibernética, a qual ligamos ao desenvolvimento da informática, porém a ordem hierárquica precisa ser respeitada. É preciso também não esquecer que o estabelecimento de uma hierarquia vem de um princípio normativo e que a ordem hierárquica corre o risco de ser modificada. O que vale não é lutar pela não multiplicação da ciência e sim tentar organiza- las num sistema bem ordenado de forma que se completem entre si.
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