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CENTRO UNIVERSITÁRIO DE FORMIGA – UNIFOR-MG CURSO DE DIREITO PEDRO HENRIQUE PARREIRA CAMBRAIA MULTIPARENTALIDADE FORMIGA – MG 2022 PEDRO HENRIQUE PARREIRA CAMBRAIA MULTIPARENTALIDADE Trabalho apresentado ao professor Altair Resende de Alvarenga como requisito parcial da disciplina de Direito Civil Vl integrante da ementa curricular do sétimo período do curso de Direito do Centro Universitário de Formiga – UNIFOR-MG. FORMIGA – MG 2022 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 6 2. A MULTIPARENTALIDADE ACOLHIDA PELO STF, NO RE 898060/SC ............... 6 3. O CASO SUBJACENTE .......................................................................................... 7 4. A DECISÃO DO STF PARA O CASO CONCRETO ................................................ 7 5. A TESE APROVADA EM REPERCUSSÃO GERAL ............................................... 9 6. AS PRINCIPAIS PREMISSAS CONSTANTES DO ACÓRDÃO DO STF................ 9 7. EFEITOS A PARTIR DA TESE FIXADA ............................................................... 11 8. AVANÇO E CAUTELA .......................................................................................... 11 9. CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 12 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 13 RESUMO O propósito do presente artigo tem conexão com o estudo e compreensão do tema Multiparentalidade em seu enfoque jurisprudencial bem como, a interpretação de adversidades parentais na legislação brasileira. A primeira análise a ser observada está na conexão com a essência jurídica da existência familiar e a proteção dos direitos pessoais com relação à parentalidade biológica e socioafetiva. Após tal entendimento, será explorado ponto que obteve extensivo impacto no Supremo Tribunal Federal. Por fim será abordado sobre as repercussões da deliberação da corte em vista à sociedade brasileira. O mecanismo usado foi a pesquisa bibliográfica, com a ideia de desenvolver artigo descritivo, compreendendo argumento relacionados a tal regulamento do Direito Cível. Palavras-chave: multiparentalidade, socioafetiva e Direito Civil. ABSTRACT The purpose of this article is connected with the study and understanding of the theme Multiparentality in its jurisprudential approach as well as the interpretation of parental adversities in Brazilian legislation. The first analysis to be observed is in the connection with the legal essence of family existence and the protection of personal rights in relation to biological and socio-affective parenting. After this understanding, a point that had an extensive impact on the Federal Supreme Court will be explored. Finally, it will be discussed the repercussions of the court's deliberation in view of Brazilian society. The mechanism used was the bibliographic research, with the idea of developing a descriptive article, comprising arguments related to such regulation of Civil Law. Keywords: multiparenting, socio-affective and Civil Law. 6 1. INTRODUÇÃO A multiparentalidade, ou também chamada pluriparentalidade, está ligado à viabilidade de admissão de diversos tipos de relação familiar, conservando sempre os direitos advindos de cada uma dessas relações. No Brasil, houve e ainda há uma constante evolução no que tange o aspecto cultural, dessa forma o conceito de família, deve ser observado de acordo com seu desenvolvimento em uma coletividade. Foi dessa forma que ocorreu por parte do Supremo Tribunal Federal a declaração da multiparentalidade, com bases principiológicas para estabilização do tema em questão. Dispôs sobre a alternativa aceitável da multiparentalidade com fundamento na constituição e proteção do vínculo parental ao indivíduo. Assim sendo, o presente artigo visa o entendimento sobre a recepção do instituto da multiparentalidade, bem como de seu conceito, importância social e causas de acolhimento do tema em estudo. 2. A MULTIPARENTALIDADE ACOLHIDA PELO STF, NO RE 898060/SC O Supremo Tribunal Federal determinou a admissão da multiparentalidade com base em princípios constitucionais, direitos advindos da família e precedentes internacionais. Dessa forma é observado que não se pode prevalecer paternidade que traga prejuízo a outra. O prejuízo em questão causaria facilidade para aqueles que não buscam exercer suas obrigações. Há dois princípios que necessariamente precisam ter sua efetivação resguardados, são eles: princípio da paternidade e princípio da maternidade responsável. Assim a corte optou e reconheceu a presença da paternidade socioafetiva, mesmo em casos em que não existirem devido registro, excluindo de fato o pensamento de hierarquia entre paternidades. 7 Uma observação a ser notada é sobre as distinções entre as paternidades socioafetiva e biológica, que mesmo possuindo contexto desigual, produzem efeitos e obrigações dentro do Direito de Família. 3. O CASO SUBJACENTE O caso concreto analisado no presente artigo foi um Recurso Extraordinário interposto por pai perante filha em recusa à decisão proferida pelo Superior Tribunal de Justiça de Santa Catarina, nos embargos infringentes. Devido recurso teve o recorrente que embasava suas alegações no fato de acreditar que na verdade, pai seria aquela pessoa que criasse o indivíduo. Dessa forma sua filha biológica teria que ir cobrar obrigações do pai socioafetivo devidamente registrado. O Superior Tribunal de Federal entendeu de forma contraria ao entendimento da defesa do pai, aonde dispôs que o vínculo socioafetivo não exclui os deveres do pai biológico, sendo recusado o provimento RE 898060. É importante lembrar que o acordo entre as vontades das partes há de existir para que a multiparentalidade seja afirmada, não podendo haver discordância. 4. A DECISÃO DO STF PARA O CASO CONCRETO A maioria dos ministros da corte do Supremo Tribunal Federal optaram em dar improcedência ao Recurso Extraordinário, são eles: Luiz Fux, Marco Aurélio, Dias Toffoli, Carmen Lúcia. Ricardo Lewandowski, Gilmar Mendes, Celso de Mello e Rosa Weber. Apenas os ministros Edson Fachin e Teori Zavascki votaram de forma contraria. O relator ministro Luiz Fux, teve seu entendimento para negatória ao recurso embasado no princípio da paternidade consciente. Para ele, não cabe ao Poder Judiciário deliberar sobre hierarquias entre os tipos de paternidade, sendo que caso 8 filho demonstre vontade de reconhecimento, ambas paternidades devem ser reconhecidas, seja biológica ou socioafetiva. Em seu voto citou que a pluriparentalidade vem sento aceita na jurisprudência brasileira e que a paternidade socioafetiva de fato não exclui os deveres e obrigações impostas à paternidade biológica. Os demais ministros que votaram pela improcedência seguiram teses equiparadas às apresentadas pelo relator. O Ministro Gilmar Mendes enfatizou que a tese adotada pelo pai foi uma forma de se desviar das obrigações impostas geradas pela paternidade biológica. Já o ministro Dias Toffoli foi além ao citar o direito de amar, evidenciando a lógica de consequências em que há entre pai e filho, mencionando obrigações essenciais como direito a educação, saúde e comida. Para ele o fato é que, mesmo não existindo o amor do pai biológico, existem as obrigações a serem cumpridas. No mesmo sentido a ministra Cármen Lucia esclareceu que o amor em uma relação familiar não deve ser imposto, mas que cuidados devem. No caso emconcreto, esses cuidados em relação à paternidade têm de ser assegurados. Celso de Mello escolheu embasar seu voto no direito à felicidade em correlação a impossibilidade de aceitar, seja qual for, formas de descriminação. Sua narrativa tem como pilar a Constituição da Republica de 1988. Os ministros que votaram ao contrário da maioria, Fachin e Zavascki optaram por uma corrente de superioridade da paternidade socioafetiva contra biológica no caso em concreto. De acordo com os ministros o direito em questão está ligado apenas ao conhecimento da origem biológica. No fim, ficou regulado o não provimento do Recurso Extraordinário bem como o entendimento ao reconhecer a multiparentalidade e a viabilidade de registros variados, resguardando assim os direitos advindos da paternidade biológica e socioafetiva. Os votos contrários foram vencidos, enfatizando a segurança jurídica dentro do direito de famílias. 9 5. A TESE APROVADA EM REPERCUSSÃO GERAL O Supremo Tribunal Federal no que tange o julgamento do RE 898060, fixou a seguinte tese: “A paternidade socioafetiva, declarada ou não em registro público, não impede o reconhecimento do vínculo de filiação concomitante baseado na origem biológica, salvo nos casos de aferição judicial do abandono afetivo voluntário e inescusável dos filhos em relação aos pais”. {STF, Ac. Tribunal- Pleno, RE 898.060/ SC, Repercussão geral 622, rel. Min. Luiz Fux, j. 22.9.16) Dessa forma fica evidenciado que o direito brasileiro passou a aceitar a dupla paternidade, efetivando assim a multiparentalidade, podendo filho reconhecer tanto a paternidade biológica quando a socioafetiva, constando assim no documento de identificação. Tal reconhecimento tem como objetivo maior resguardar os direitos e obrigações existentes dentro de uma relação familiar, trazendo grande avanço no que tange a questão da filiação, aonde o Poder Judiciário pode ser invocado para efetivar o conhecimento da pluriparentalidade. Por conseguinte, quando uma pessoa tem um filho, seus direitos e obrigações em relação à paternidade biológica não são excluídas por circunstâncias advindas de outra paternidade, seja ela socio afetiva. É importante lembrar da necessidade de consentimento do filho no reconhecimento da pluriparentalidade, salvo abandono efetivo eletivo e inescusável de filho em relação a pai/mãe. 6. AS PRINCIPAIS PREMISSAS CONSTANTES DO ACÓRDÃO DO STF Foram citadas diversas considerações acerca do acordão proferido pelo Superior Tribunal Federal, sendo destacados alguns pontos. 10 O primeiro detalhe a ser analisado é sobre o direito à busca da felicidade. Tal embasamento teve relevância no Recurso Extraordinário tendo em vista seu amparo jurídico no princípio da dignidade humana, descrito na Constituição Federal de 1988. Nesse aspecto coube ao judiciário observar a realidade social para só assim estabelecer direito. De certo modo isso quer dizer que a justiça não pode ser valer apenas de uma conceituação legal, mas também deve buscar se modelar de acordo com cada caso em concreto para que os direitos do indivíduo continuem resguardados. Esse direito é um tanto quanto novo para o ordenamento jurídico brasileiro, porem vem ganhando cada vez mais força, tendo em vista que no Poder Judiciário os juízes observam e levam em conta os princípios norteadores da Constituição de 1988 para assim, buscar firmar o direito à busca da felicidade. Dessa forma, tal direito influenciou de forma positiva para o reconhecimento jurídico da multiparentalidade. Esse entendimento levou ao direito de família inovação, causando assim diversos debates a respeito do tema. Também houve um rompimento maior com o antigo Código Civil de 1916, no sentido de que os pais socioafetivos agora por meio do vínculo estabelecido, possuem direito e obrigações devido correspondentes aos sentimentos transmitidos. Mas isso não quer dizer que as obrigações advindas dos pais biológicos serão extintas. Também há de se destacar que a decisão de não acolhimento do recurso extraordinário teve precedente internacionais que foram de muita importância para se chegar ao avanço encontrado no tema da multiparentalidade, contribuindo inclusive para o entendimento da não hierarquia de paternidades. Dessa forma houve de certo uma isonomia entre esses dois tipos de vínculos, aonde ambas paternidades foram analisadas e descritas sem diferenciação, não sendo considerado nenhuma preponderância de uma em relação a outra. Tal equilíbrio jurídico trouxe grande reforço para aquele indivíduo que, conscientemente queira registrar seu parente biológico e também aquele socioafetivo que foi construído durante as fases da vida. 11 7. EFEITOS A PARTIR DA TESE FIXADA O recurso julgado pelo Tribunal Superior Federal tem efeitos erga omnes, ou seja, o novo tema atingira todos os indivíduos e se aplicara a todos os casos que se assemelhem à reconhecimento de paternidade. O principal efeito foi efetivar a não necessidade de se escolher entre os tipos de paternidades, seja ela socioafetiva ou biológica, sendo autorizado haver vários registros em relação aos vínculos familiares. São destaques a possibilidade de se ter diversas paternidades, não sendo observado hierarquias estipuladas pelo Estado nem pelo Poder Judiciário. Houve também reflexos no princípio da igualdade da filiação, aonde o Estado não distingue os filhos, independentemente da origem de sua filiação. 8. AVANÇO E CAUTELA É notável o grande avanço que o tema discutido trouxe para o direito de família, tendo em vista a ampla possibilidade de serem constituídos mais tipos de famílias. O tema decidido teve reconhecimento nacional e mundial e fixou reflexos positivos no ordenamento jurídico brasileiro. Porém, de forma logica, há alguns pontos que se devem ser analisados na hora do chamamento da multiparentalidade. De forma há de se preservar também direitos relacionados, sendo observado questões pertinentes, que de certa forma podem mudar o curso de uma ação. A questão da pensão alimentícia pode ser elencada como tema que deve ser tratado com cautela no julgamento, tendo em vista os múltiplos pais que agora podem ser constituídos e registrados. Fica evidente o grande avanço e também o surgimento de outros tópicos a serem discutidos com o reconhecimento da multiparentalidade, trazendo uma nova perspectiva para o direito de família. 12 9. CONSIDERAÇÕES FINAIS São constantes a evolução humana e as mudanças sociais, dessa forma diversos conceitos conhecidos não são mais os mesmo que antigamente, como o próprio conceito de família que vem sofrendo significativas alterações Assim, com os estudos e entendimentos realizados neste artigo com enfoque no tema da multiparentalidade, é coerente dizer que o Supremo Tribunal Federal se colocou de forma posicionada, tendo em vista sua analise em caso concreto bem como a observância das diversas relações humanas existentes na sociedade. Sendo assim, o objetivo principal foi resguardar cada vez mais o direito advindo do vínculo familiar, de acordo com princípios constitucionais e normas do direito brasileiro. O Brasil, se tratando do tema abordado, pode ser considerado país exemplo no que tange as relações familiares no direito internacional, tendo em vista tema reconhecido que possui extrema importância. 13 REFERÊNCIAS STF reconhece dupla paternidade. Disponível em: <https://www.migalhas.com.br/Quentes/17,M1246020,61044- STF+reconhece+dupla+paternidade>. Acesso em: 18/04/2022. VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil: Família. 17ª ed. São Paulo: Atlas, 2017 CASSETTARI, Christiano. Multiparentalidade e Parentalidade Socioafetiva. 3 ed. rev. atual. e amp. São Paulo: Atlas, 2017. Processo familiar o direito ao conhecimento da origem biológicase difere da filiação socioafetiva. Disponível em: <https://www.conjur.com.br/2016-fev-14/processo- familiar-direito-conhecimento-origem-genetica-difere-feliaçao>. Acesso em: 18/04/2022.
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