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Lazer, Trabalho e Sociedade

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Prévia do material em texto

Lazer, Trabalho 
e Sociedade
Material Teórico
Responsável pelo Conteúdo:
Prof. Dr. Pedro Fernando Avalone Athayde
Revisão Textual:
Prof.ª Me. Natalia Conti
Relações entre Lazer, Trabalho e Educação
• Introdução;
• Educação, Escola e Formação Humana: Entendendo os Termos;
• O Estado, a Escola e o Lazer;
• Educação Estética como a Educação dos Sentidos.
 · Reconhecer a possibilidade de uso do lazer como instrumen-
to educacional;
 · Compreender o papel do Estado e da escola na construção de 
uma educação para o lazer;
 · Conhecer os elementos de uma proposta de educação estética 
como a educação dos sentidos humanos.
OBJETIVO DE APRENDIZADO
Relações entre Lazer, Trabalho 
e Educação
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem 
aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua 
formação acadêmica e atuação profissional, siga 
algumas recomendações básicas: 
Assim:
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte 
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e 
horário fixos como seu “momento do estudo”;
Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma 
alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo;
No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos 
e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você 
também encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão 
sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados;
Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus-
são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o 
contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e 
de aprendizagem.
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte 
Mantenha o foco! 
Evite se distrair com 
as redes sociais.
Mantenha o foco! 
Evite se distrair com 
as redes sociais.
Determine um 
horário fixo 
para estudar.
Aproveite as 
indicações 
de Material 
Complementar.
Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma 
Não se esqueça 
de se alimentar 
e de se manter 
hidratado.
Aproveite as 
Conserve seu 
material e local de 
estudos sempre 
organizados.
Procure manter 
contato com seus 
colegas e tutores 
para trocar ideias! 
Isso amplia a 
aprendizagem.
Seja original! 
Nunca plagie 
trabalhos.
UNIDADE Relações entre Lazer, Trabalho e Educação
Introdução
Estamos finalizando nossa trajetória de estudo sobre os fenômenos que perpas-
sam a compreensão de nossa disciplina Lazer, Trabalho e Sociedade. Esperamos 
que tenha sido um caminho de muito aprendizado e contribuições para sua prática 
profissional no âmbito do lazer. Além disso, ansiamos que você tenha recebido co-
nhecimentos que o auxiliará a refletir sobre a realidade em que vive e sobre a qual 
pode intervir e – até mesmo – transformar.
Figura 1
Fonte: iStock/Getty Images
Você se lembra dos assuntos que tratamos até aqui? Realizamos muitas refle-
xões acerca da relação entre lazer, trabalho e sociedade. Vamos relembrar? Inicia-
mos compreendendo o que é o Trabalho, seu conceito e seus desdobramentos histó-
ricos, percebemos como nosso tempo é dividido (tempo de trabalho, de não-trabalho 
e “livre”), para então, entendermos como o lazer surgiu e o que ele representa em 
nossa sociedade. 
Posteriormente, abordamos as principais alterações sociais e no mundo do tra-
balho, para podermos compreender as características da sociedade contemporânea, 
localizando o papel ocupado ou desempenhado pelo trabalho. Além disso, tentamos 
observar de que forma essas mudanças impactam o fenômeno do lazer, transformam 
seu sentido e alteram suas funções sociais. 
8
9
Mais recentemente, compreendemos como o Lazer absorve as principais ca-
racterísticas da forma de organização do capitalismo, tanto em seu processo de 
produção quanto em sua distribuição, passando então a ser comercializado, como 
uma mercadoria da indústria do entretenimento.
Anteriormente verificamos a questão do lazer como um direito social. Um 
direito reconhecido em nossa Constituição de 1988 e ratificado por outros 
importantes instrumentos normativos. Destacamos que a perspectiva da garan-
tia do direito social ao lazer se relaciona com o exercício da cidadania, porém 
ambos devem ser pensados dentro das particularidades do contexto histórico e 
social brasileiro. 
Em um segundo momento da última unidade, ressaltamos a necessidade de 
articulação e complementariedade entre as diferentes áreas sociais, em uma pers-
pectiva de atendimento intersetorial aos direitos de cidadania. Dentro das interfa-
ces necessárias, enfatizamos a relação entre o direito social ao lazer e o direito à 
cidade, a partir do uso dos espaços públicos e abertos das cidades como território 
propício para o desenvolvimento da experiência do lazer.
Finalizamos a unidade anterior debatendo as políticas públicas como uma das 
estratégias principais de ação estatal para a garantia de acesso aos direitos, mais 
especificamente ao lazer. Porém, essas ações devem ser orientadas para garantir 
que o lazer seja uma forma de exercício de sua cidadania e, não apenas um lazer 
esvaziado de conteúdo (como forma de controle social, como o era em sua gênese).
Nessa nossa última parada, analisaremos a relação do direito ao lazer com outra 
importante área social; nos referimos à Educação. Dentro dessa relação, queremos 
explorar as possibilidades de lazer como experiência de liberdade e para isso, fare-
mos uma mediação com a formação dos sentidos como forma de educação para o 
lazer, verificando as possibilidades de utilizar as atividades de lazer como instrumen-
to para a adequação do indivíduo ao gênero humano. 
Importante!
Você se recorda dessa temática e dos termos citados acima? Provavelmente sim, pois 
eles foram abordados dentro da nossa disciplina de “Lazer e Entretenimento”, quando 
colocamos em destaque as possibilidades educativas do lazer. Entretanto, entendemos 
que esse é um tema de suma importância, sobretudo para aqueles que pretendem 
atuar/intervir profi ssionalmente dentro dessa área. Nesse sentido, convidamos você 
para aprofundarmos esse debate. Então, vamos lá!
Trocando ideias...
9
UNIDADE Relações entre Lazer, Trabalho e Educação
Educação, Escola e Formação Humana: 
Entendendo os Termos
Educação é a arma mais poderosa que podemos usar para mudar o mundo.
Nelson Mandela
Figura 2
Fonte: iStock/Getty Images
A epígrafe em destaque confirma algo que nos parece bastante óbvio e con-
sensual em nossa sociedade, a importância da educação. Se realizássemos uma 
pesquisa com a população em geral, provavelmente a maioria absoluta confirmaria 
isso. Os políticos - na sua maior parte - discursam em favor da educação, prome-
tem fazer dela uma prioridade, embora nem sempre essa promessa se cumpra. 
A despeito das falsas promessas políticas, a educação continua sendo um ele-
mento de suma importância para o desenvolvimento de uma sociedade e de seus 
indivíduos, além de um mecanismo de inclusão e ascensão social das camadas mais 
baixas. Até aqui, você pode perceber que falamos em educação de uma forma 
genérica e abrangente, porém existe um espaço específico que é o local por exce-
lência onde a educação se desenvolve; referimo-nos à escola.
Nessa parte inicial de nossa unidade, pretendemos abordar as relações entre 
a educação, escola e um elemento que, de acordo com nossa abordagem, pode 
se constituir em um importante instrumento educativo, o lazer. Para iniciarmos a 
análise das possibilidades educativas do lazer, primeiro devemos compreender o 
significado dessas palavras, para não cairmos em uma compreensão equivocada 
do nosso objeto.
10
11
Importante!
Já falamos da importância da educação, porém quando você pensa em “Educação”, 
por exemplo, o que vem à sua cabeça?Você sempre pensa nela com um signifi cado 
positivo? Ou o descaso de nossas autoridades públicas faz com que você sempre 
pense nela como negativo? 
Trocando ideias...
Além do desrespeito que algumas pessoas têm com a educação, existe ainda 
outra dimensão negativa que é a possibilidade de que ela seja utilizada com fins de-
sumanizantes. Ficou em dúvida a respeito dessa afirmação? Em sua opinião, 
estamos sendo muito céticos ou pessimistas? Bom... então, que tal vermos 
um exemplo histórico relacionado a nossa afirmação? 
Na Alemanha do período nazista houve uma grande preocupação com os pro-
cessos educacionais, sendo utilizados como instrumentos para convencer a popula-
ção de que existia uma raça superior às outras, principalmente à dos judeus, e que 
isso justificaria uma série de barbaridades. No caso do Brasil, regimes autoritários e 
antidemocráticos (civil e militar) também realizaram muitos investimentos na regu-
lamentação e controle das políticas educacionais, adequando-as a suas convicções 
políticas e sociais. Hoje, com o passar da história e o maior conhecimento sobre 
os problemas desses modelos de governo, não resta dúvidas de que esses projetos 
educacionais não se estruturavam sobre as bases de uma orientação voltada para 
o desenvolvimento e emancipação humana. Agora está mais claro para você o 
que queríamos dizer com nossa afirmação?
Diferentemente dos exemplos acima, nossas proposições educacionais resga-
tam a perspectiva emancipatória, de formação de sujeitos críticos, autônomos e 
criativos. Por essa razão é importante que sejamos claros sobre quais são as pers-
pectivas que orientam nossa exposição acerca das relações entre educação, escola 
e lazer.
Você se recorda que, anteriomente, falamos a respeito do que é o trabalho? E de que 
chegamos à compreensão de que o Homem é um ser natural, mas que se diferencia 
dos demais, pois é o único que exerce o Trabalho – alteração intencional sobre a 
natureza - para atender suas necessidades humanas? 
Também lembra que tratamos de algumas características que definem o traba-
lho? Por exemplo, demonstramos que, ao modificar a natureza, esta impõe uma 
resistência à ação humana, o que faz com que o homem desenvolva novos proce-
dimentos e/ou instrumentos para seguir ou aperfeiçoar o que havia sido planejado. 
Destacamos que esse processo, ao mesmo tempo em que altera a natureza, mo-
difica o ser humano, que sai com um novo conhecimento, ou seja, aprendizado.
11
UNIDADE Relações entre Lazer, Trabalho e Educação
Esse desenvolvimento humano a partir da aquisição de um novo conheci-
mento será transmitido entre as gerações, sobretudo com o aprimoramento 
da linguagem. Essa passagem de informação dos trabalhadores mais experien-
tes (mais hábeis) para os menos experientes permitirá que as novas gerações 
economizem tempo em suas próximas tentativas de transformar a natureza e, 
simultaneamente, realizem novas descobertas que atualizem aquele conheci-
mento anteriormente transmitido.
Certamente, você consegue perceber que esse conhecimento gerado não é 
transmitido de forma natural e espontânea e tampouco por meio da carga genéti-
ca. No entanto, os conhecimentos produzidos pela humanidade vão se acumulando 
e compondo um acervo que expressa o nível de desenvolvimento do gênero hu-
mano. No entanto, vale relembrar que esse acervo não é transmitido naturalmente 
a todos os homens e mulheres. Portanto, é necessário um esforço que envolve 
transmissão, assimilação e atualização desse conhecimento. A esse esforço de di-
fusão do conhecimento construído pela humanidade aos próprios seres humanos 
de novas gerações chamamos de educação. Aqui... já chegamos a uma primeira 
compreensão sobre o papel e que vem a ser a educação!
Não é central, para o nosso entendimento, retomar o processo histórico, desen-
volvido em outros momentos dessa disciplina. No entanto, gostaríamos apenas de 
recordar que, quando estávamos superando o feudalismo como modo de organi-
zação social, a humanidade criou uma instituição para se responsabilizar pela siste-
matização e cuidado desse processo de transmissão e assimilação do conhecimento 
humano. Você certamente já imagina de que instituição nós estamos falando. 
Se você respondeu “a escola”, você está correto! 
Sendo você uma pessoa atenta aos acontecimentos do dia-a-dia, pode estar se question-
ando e nos questionando o seguinte: Mas, afinal, não é só na escola que aprendemos as coi-
sas. Há outros espaços e momentos da nossa vida em que também vivenciamos o processo 
de “transmissão e assimilação de conhecimentos humanos”. A sua percepção está correta! 
A escola não é o único lugar onde ocorre o processo de educação do ser humano. Vários es-
paços proporcionam essa socialização de conhecimentos como a igreja, o clube, a família, o 
emprego, o convívio com amigos, entre outros. Enfim... o aprendizado pode estar em todos 
esses ambientes onde a consciência individual se constrói socialmente. A todos esses outros 
espaços, podemos chamar de educação não formal.
Ex
pl
or
No caso específico da escola, temos a sistematização dos conhecimentos, por-
tanto compreendemos que este é o processo educativo “formal”, onde são levados 
em consideração alguns critérios para a escolha e organização dos conteúdos, bem 
como um processo de avaliação do processo de ensino-aprendizagem.
Saviani (2003) nos apresenta uma síntese importante sobre o que é a educação: 
Consequentemente, o trabalho educativo é o ato de produzir, direta e in-
tencionalmente, em cada indivíduo singular, a humanidade que é produzida 
histórica e coletivamente pelo conjunto dos homens. Assim, o objeto da 
12
13
educação diz respeito, de um lado, à identificação dos elementos culturais 
que precisam ser assimilados pelos indivíduos da espécie humana para que 
eles se tornem humanos e, de outro lado e concomitantemente, à descober-
ta das formas mais adequadas para atingir esse objetivo. (p. 13).
Infelizmente, nem todas as pessoas durante a sua vida terão as condições ma-
teriais necessárias para acessar o saber sistematizado pela ciência e pela arte. Isso 
porque, assim como o lazer, essas dimensões também parametrizam seu acesso e 
difusão a partir das demandas do mercado. Para exemplificar o que estamos di-
zendo, atualmente para frequentar um bom espetáculo artístico, uma exposição de 
arte, uma peça de tetro, uma apresentação musical, você terá que desembolsar um 
bom dinheiro. Ou seja, a falta de uma condição financeira mais favorável impede 
que as pessoas tenha acesso àquele acervo construído pela humanidade.
Sendo assim, a escola teria uma função social de extrema relevância, ao garantir 
a assimilação desse tipo de conhecimento, proporcionando ao indivíduo sua huma-
nização e socialização. 
Para essa assimilação é necessário elencar os conteúdos culturais essenciais para que o 
indivíduo se “torne humano”. Esse é o processo de seleção dos elementos que devem 
ser assimilados pelo educando. Toda escolha remete a critérios. A partir dessa afi rmação 
devemos ter em mente qual é o papel, então, da educação. Defendemos uma educação 
comprometida com a humanidade e com sua emancipação, que se preocupe em fazer 
com que os indivíduos percebam as determinações de sua existência e que sobre elas 
possa intervir.
Ex
pl
or
A escola poderia ser esse espaço de colocar as crianças e jovens em contato 
com o acervo cultural e artístico produzido pela humanidade. Essa noção ganha 
força, se pensarmos que o acesso à escola é um direito social e uma obrigação do 
Estado e da família e, por conseguinte, boa parte da população passará por ela. 
Seria, portanto, o espaço mais democrático e acessível para a garantia de um con-
junto de direitos de cidadania.
Importante!
Acesso à escola no Brasil: Segundo dados da ONG Todos pela Educação, no ano de 2014, 
o Brasil atingiu 93,6% de alunos matriculados nas escolas. Entretanto, precisamos ter 
cuidado ao olhar para esses números. Pois a democratização do acesso à educação tam-
bém deve seracompanhada pela qualidade do ensino realizado nas escolas. Além disso, 
ainda convivemos com taxas de analfabetismo e em 2014 ainda tínhamos 2,7 milhões 
de jovens sem estudar no país.
Fonte: https://goo.gl/ovSPPh
Importante!
13
UNIDADE Relações entre Lazer, Trabalho e Educação
Qual seria, então, o papel da escola? De novo, vamos concordar com o pensa-
mento de Saviani (2003) que nos diz:
A escola existe, pois, para propiciar a aquisição dos instrumentos que 
possibilitam o acesso ao saber elaborado (ciência), bem como o próprio 
acesso aos rudimentos desse saber. As atividades da escola básica devem 
organizar-se a partir dessa questão. Se chamamos isso de currículo, po-
deremos então afirmar que é a partir do saber sistematizado que se estru-
tura o currículo da escola elementar. Ora, o saber sistematizado, a cultura 
erudita, é uma cultura letrada. Daí que a primeira exigência para o acesso 
a esse tipo de saber seja aprender a ler e escrever. Além disso, é preciso 
conhecer também a linguagem dos números, a linguagem da natureza 
e a linguagem da sociedade. Está aí o conteúdo fundamental da escola 
elementar: ler, escrever, contar, os rudimentos das ciências naturais e das 
ciências sociais (história e geografia humanas). (p. 15) 
Será que agora fica mais claro para você que essa escola defendida acima 
não é acessível à maioria da população? Embora pareçam óbvias essas caracte-
rísticas, elas não estão presentes em todas as escolas, em especial nas que fa-
zem parte das redes públicas. Ao invés de um lugar de estímulo ao pensamento 
autônomo e à criatividade, algumas escolas viraram um lugar de acomodação, 
disciplinamento e destinado a moldar as consciências de nossas crianças para 
se conformarem com a realidade existente. 
Portanto, numa sociedade em que as relações sociais de produção se estru-
turam a partir da regência do capital sobre o trabalho, a função predominante 
da escola será a de direta e/ou indiretamente ajustar as crianças e jovens à 
forma de produzir dessa sociedade. Em outras palavras, a escola age de forma 
a justificar e legitimar a produção da vida material e preparando os alunos/edu-
candos a se adequarem a essas condições. E de que forma essa adequação 
acontece? Um exemplo é pela venda de sua força de trabalho para conseguir 
minimamente satisfazer suas necessidades básicas de sobrevivência.
Compreenda aqui, que não estamos falando de preparar a mão-de-obra, porque na 
maioria das vezes a escola não cumpre esse papel, mas sim de preparar os espíritos 
para reprodução. 
Mas, como assim a escola faz esse papel de preparar os espíritos? O que 
isso significa? Importante destacar que não se trata aqui de espiritualidade ou 
religiosidade. Refere-se ao fato de não dar acesso à maior parte do conhecimento 
historicamente desenvolvido pelo homem (lembra-se do papel da escola definido 
acima por Saviani?).
Em outras palavras, o que estamos questionando no parágrafo acima é que a es-
cola tem contribuído para a formação unilateral dos seres humanos. Unilateral? O 
que isso quer dizer? Unilateral é quando a escola resume sua proposta educativa 
ao desenvolvimento de um único aspecto da vida dos homens e mulheres, estamos 
falando da nossa ocupação na divisão social do trabalho. E de que forma isso se 
14
15
realiza dentro dos muros escolares? Quando nossas escolas supervalorizam o 
conhecimento técnico necessário ao desempenho da atividade profissional, em 
detrimento de outros conhecimentos importantes para o desenvolvimento integral 
dos sujeitos, como, por exemplo, os conhecimentos artísticos, culturais, esportivos, 
estéticos, entre outros. 
Ou seja, a escola contribui para um entendimento no qual a nossa valorização na 
sociedade se restringe àquilo que realizamos profissionalmente. Essa lógica está tão 
disseminada e internalizada em nossa sociedade que, muitas vezes, não nos damos 
conta dela. Vejamos, por exemplo, que quando perguntamos a uma pessoa o que ela 
é, normalmente ela nos responde com o que ela faz. “O que você é? Eu sou professora. 
Eu sou mecânico. Eu sou empresário etc.”.
Percebemos, então, que a escola tem contribuído com a reprodução dessa ma-
neira de ser, em que as pessoas se coisificam – pois são a mercadoria que possuem: 
força de trabalho – e, ao mesmo tempo, as mercadorias tomam a vida das pessoas, 
passam a ser o ideal de felicidade dos seres humanos.
Marx e Engels escreveram que a partir do momento em que o sujeito se coloca 
na divisão social do trabalho, ele dispõe de uma esfera de atividade exclusiva e de-
terminada, que lhe é imposta e da qual não pode sair para não perder seus meios 
de vida. Eles exemplificam que o homem acaba optando por ser caçador, pescador, 
pastor ou crítico, não lhe sendo possível desenvolver diferentes atividades sem que 
tenha que se especializar/profissionalizar em apenas uma delas.
Mas seria possível fazer diferente disso? Poderíamos alterar o tipo de for-
mação unilateral dada aos indivíduos? Há a possibilidade de uma sociedade 
sem divisão social do trabalho? Conforme abordamos nas unidades anteriores, 
ao estudarmos as alterações nas organizações sociais e em seu modo de produção, 
para responder positivamente a essas questões seria necessária a construção de 
uma nova sociabilidade. 
Essa possibilidade, quando pensada tomando como referência apenas o tempo 
da nossa vida, pode nos parecer algo extremamente utópico, porém se tivermos 
como horizonte a dimensão histórica da humanidade é muito provável que essa 
mudança venha a acontecer em um tempo futuro. O nome dessa nova formação 
social e modo como ela irá se organizar é algo impossível de prever, pois seria um 
exercício de futurologia. Entretanto, para que essa alteração seja positiva aos seres 
humanos, é necessário garantir que o indivíduo esteja próximo ao gênero humano 
e que este conheça o funcionamento social e as tensões relacionadas à sua organi-
zação e, esse é exatamente o papel da escola!
Em uma nova organização social, haveria a possibilidade, então, de garantir uma 
educação voltada à formação humana de maneira omnilateral, superando a formação 
unilateral, ou seja, o indivíduo poderia efetivamente ser o que bem entendesse, sem a 
exclusividade ou restrição a uma única atividade, poderia ser pescador, poeta, artista, 
músico e professor, sem ter que ser apenas uma delas profissionalmente.
15
UNIDADE Relações entre Lazer, Trabalho e Educação
O professor Gaudêncio Frigotto (2001) nos ajuda a pensar como seria esse 
modelo educacional, quando indica cinco aspectos centrais para um projeto de 
Educação Profissional centrado numa perspectiva emancipadora. Dentre os quais 
destacaremos apenas um deles.
No campo educativo, necessitamos reiterar, sem constrangimento, a con-
cepção de educação básica (fundamental e média) pública, laica, unitária, 
gratuita e universal, centrada na ideia de direito subjetivo de cada ser 
humano. Uma educação omnilateral, tecnológica ou politécnica for-
madora de sujeitos autônomos e protagonistas de cidadania ativa e 
articulada a um projeto de Estado radicalmente democrático e a um 
projeto de desenvolvimento “sustentável”. Afirmar a ideia de que essa 
educação por ser básica e de qualidade social, é a que engendra o sentido 
da emancipação humana e a melhor preparação técnica para o mundo 
da produção no atual patamar científico tecnológico. (p. 82, grifos nossos)
Até o momento falamos sobre a educação e a escola, porém você pode estar se 
perguntando “onde está o lazer?”. E que tal, então, formularmos outras questões a 
partir dessa dúvida. De que forma o lazer pode contribuir com uma educação 
ominilaterial? Como podemos pensar esse fenômeno dentro do ambiente 
escolar? Ele tem o potencial para contribuir para uma educação transforma-
dora e que auxilie na construção de sujeitos autônomos e protagonistas da 
sociedade em que vivem? Que tal buscarmos as respostas a essas questões.
O Estado, a Escola e o Lazer
Durante as unidades de conteúdo anteriores dessa disciplina buscamos sem-pre uma abordagem histórica e uma análise crítica sobre o fenômeno do lazer. 
Nesse percurso, apontamos, por exemplo, o uso compensatório e funcionalista 
do lazer, concebendo-o como um instrumento a serviço do controle e desmobi-
lização dos trabalhadores. Entretanto, essas não são as únicas possibilidades de 
perceber e se relacionar com o lazer. 
Nesse sentido, não há como negarmos que o lazer está atrelado à ludicidade, 
ao prazer, à busca pela felicidade, não é mesmo? Esses não são sentimentos 
que normalmente você tem em mente quando planeja seus momentos e ati-
vidades de lazer? Ninguém planeja uma viagem de férias esperando que vá 
se estressar ou se entregar ao consumo exagerado. Ainda que tenhamos que 
gastar um dinheiro razoável com a viagem, o que almejamos é aquilo que 
esse momento irá nos proporcionar em termos de alegria, felicidade e pra-
zer. Correto?
16
17
Figura 3
Fonte: iStock/Getty Images
Essa ideia de felicidade, ainda que temporária, do exemplo acima é um gancho 
para lembrarmos que nem sempre os homens buscaram a felicidade como fim de 
suas vidas. Na Idade Média, com a grande influência da Igreja, as pessoas eram 
levadas a acreditar que as condições adversas em que viviam eram uma espécie 
de penitência. Havia a disseminação de ideias de que os homens eram natural-
mente ruins (ideia que também chegou a ser defendida a partir de preceitos socio-
lógicos) e que sua passagem pelo mundo era para purificar sua alma do pecado 
original e libertá-la do corpo que a aprisionava. Sendo assim, acreditava-se que 
os homens não estavam no mundo material para serem felizes, pois isso estaria 
a sua espera em outro plano. 
Com o Renascimento, percebeu-se a passagem do teocentrismo para o an-
tropocentrismo. A partir daí, com o advento da ciência, o homem percebe que a 
verdade pode ser descoberta e não revelada. Por conseguinte, muda-se o ideário de 
vida e com isso os homens passam a construir seu ideal de felicidade em dois eixos, 
que eram as bases do projeto da Modernidade: 1) A compreensão dos homens so-
bre a estrutura da natureza – que permitiria o domínio crescente do homem sobre 
a natureza a fim de que se produzisse em abundância para acabar com a miséria; e 
2) A organização racional da vida em sociedade – que supunha o afastamento das 
explicações teológicas sobre a vida em sociedade que determinavam a ação dos 
homens (como os homens deveriam se comportar).
Percebe-se que é um projeto para todos os homens, não somente para alguns. 
Nessa época, levantam-se bandeiras muito progressistas e de emancipação humana 
e prometeu-se “liberdade, igualdade e fraternidade” entre os homens.
17
UNIDADE Relações entre Lazer, Trabalho e Educação
Importante!
Com o passar do tempo, a burguesia abandonou as bandeiras de luta e, passou a jus-
tificar sua condição social, a partir de explicações enviesadas, tais como: Liberdade – 
limitada à propriedade privada, ou seja, “todos podem livremente acumular”, mesmo 
que seja à custa da exploração do trabalho. Igualdade – reduziu-se à igualdade jurídica: 
“todos os homens são iguais perante a lei”, uma condição incompleta quando não há 
igualdade em outras esferas, como a econômica, política, social e cultural. Fraternidade 
– restringiu-se ao âmbito da filantropia, ou seja, no âmbito da caridade com os desva-
lidos – aqueles que sem capacidade de acumular riquezas se encontram em uma situ-
ação de risco ou vulnerabilidade social.
Importante!
Se fizermos um balanço dos eixos do projeto da Modernidade, perceberemos 
que a ciência se desenvolveu bastante, crescendo enormemente nosso conhe-
cimento sobre a natureza, o corpo humano, as relações sociais e os avanços 
tecnológicos. No entanto, ao avaliarmos a organização racional da vida em 
sociedade, o uso da tecnologia, as relações que estabelecemos com o meio 
ambiente, com o nosso corpo e com outros sujeitos também notaremos que os 
avanços da humanidade, necessariamente, não nos conduziram a uma socieda-
de mais saudável e harmônica.
Figura 4
Fonte: iStock/Getty Images
Apesar de todos os problemas enfrentados, o ideal generoso de uma vida com sen-
tido e feliz a todos os seres humanos não foi exterminado. E o lazer, por sua especifi-
cidade, traz à tona a possibilidade de realização de atividades prazerosas e com caráter 
emancipatório, que busquem dar sentido à existência humana.
18
19
Como assim dar sentido à existência humana? Como já afirmamos anterior-
mente, nem todas as atividades de lazer buscam a alienação e a manipulação das 
pessoas, ou mesmo, induzi-las ao consumo. Podemos pensar juntos alguns exemplos 
de atividades de lazer que dão sentido à nossa existência, garantindo momentos de 
alegria, prazer e felicidade dentro de nossas vidas. 
Importante!
Vamos lá! Pense ai junto a seu colega de turma quais são esses momentos. Há muita 
diferença entre os exemplos de vocês? Vamos aqui apresentar algumas possibilidades: 
a realização semanal de uma prática esportiva com os amigos, sem a necessidade de 
cobrança por um rendimento esportivo, mais preocupada com a socialização e com a 
oportunidade de encontro e diversão coletiva; a ida ao teatro para assistir a uma grande 
peça que nos emociona ou que nos faz “não parar de rir”; a ida ao cinema para assistir a 
um fi lme que nos faça refl etir sobre a sociedade ou sobre nós mesmos; a elaboração e a 
degustação de uma boa comida junto aos amigos e/ou familiares; entre outras.
Trocando ideias...
Certamente, nem todas as pessoas se interessam ou acham essas atividades pra-
zerosas e, tampouco, veem o mesmo sentido nelas. E, sendo assim, poderíamos 
nos perguntar: O que as impede de vivenciar e gostar dessas atividades? Se 
não estão experimentando atividades como essas, o que estão fazendo em 
seu momento de lazer? 
Por vezes, o que acontece é que as pessoas preenchem seu tempo livre, cada 
vez mais, com serviços e produtos da indústria do entretenimento ou com as novas 
tecnologias móveis e as redes sociais. Aqui é importante ressaltar que nem todos os 
produtos oferecidos por essa indústria ou redes sociais são de baixa qualidade. Nos-
sos exemplos, inclusive, fazem referência a alguns de seus produtos (teatro, cinema 
e gastronomia). O detalhe a ser destacado é que, normalmente, a qualidade estará 
diretamente vinculada ao preço, tornando esses serviços de alto custo e, portanto, 
inacessíveis ao cidadão comum. 
Mas de que forma podemos produzir o gosto por atividades de lazer que não 
foram mercantilizadas ou dominadas pela indústria do entretenimento? Esse ques-
tionamento é importante para percebermos o papel do Estado e da escola no 
desenvolvimento de uma “educação para o lazer”, que ajude a criar o gosto por ati-
vidades que nos levem a uma atitude reflexiva, crítica e criativa. Em outras palavras, 
atividades que estimulem nosso desenvolvimento humano a partir das múltiplas 
potencialidades dos indivíduos (omnilateralidade).
Na Unidade anterior destacamos o lazer como um direito social, destacando seu 
reconhecimento pela legislação brasileira, em especial no artigo 6º da Constituição 
Federal de 1988. Essa garantia importante para os cidadãos vem acompanhada de um 
dever do Estado brasileiro na promoção e garantia desse direito. 
19
UNIDADE Relações entre Lazer, Trabalho e Educação
No entanto, não podemos compreender, de forma equivocada, que o Estado ve-
nha a ser uma instituição apartada da sociedade civil. Ao contrário, ambos formam 
uma totalidade relacional. Dessa forma, assim como a sociedade civil, o Estado 
apresenta suas contradições e, portanto, é necessário que a sociedade se mobilize 
e lute para garantir que suas demandas sejam atendidas pelas ações estatais.
Os direitos sociais, dentre eles o lazer, são direitos que asseguram que a civilida-
de humana seja universalizada, por isso a obrigação de o Estado proporciona-los a 
todas as pessoas. Pensando no direito ao lazer, há a necessidade de que a socieda-
de civil se organize para exigir que sejam construídos equipamentos de lazer (par-ques, cinemas, teatros, espaços esportivos públicos) e pela elaboração de políticas 
públicas para o setor – tema também tratado em unidades anteriores.
No entanto, assim como ponderamos no caso da democratização à educação 
no Brasil, é importante que a ampliação do acesso venha acompanhada por uma 
preocupação com o conteúdo das atividades que serão desenvolvidas nesses espa-
ços. Do ponto de vista emancipatório, nosso desejo é por atividades e experiências 
de lazer que promovam a humanidade nos homens – parafraseando Saviani. Nesse 
sentido, o Estado tem um papel educativo fundamental e não deveria promover ou 
fomentar em seus espaços públicos programações/atividades que reproduzam um 
conteúdo alienante ou que represente uma cultura mercantilizada.
Não cabe aos agentes públicos e políticos justificar suas ações no campo do lazer com saídas 
populistas, traduzidas pelo pensamento de que “é o conteúdo que agrada o povo”. O gosto é 
uma construção histórica e cultural e, nesse sentido, cabe compreendermos as políticas de 
lazer como um possível ato educativo na construção do gosto humano, que esteja a favor 
do enriquecimento cultural das classes desfavorecidas (mais pobres) e não uma reprodução 
de atividades esvaziadas de conteúdo, funcionalistas, manipulatórias ou compensatórias 
(MARCELLINO, 1987). 
Ex
pl
or
Para compreender melhor essa afirmação precisamos relembrar que a forma 
como a sociedade capitalista se organiza e se orienta acaba sendo reproduzida 
em vários âmbitos da nossa vida, inclusive nos conhecimentos genéricos da cul-
tura humana. Embora não fossem originalmente uma mercadoria, eles acabam 
assumindo essa característica e transformando-se na propriedade privada de al-
guém. Ao assumirem essa nova condição, deixam de ser um patrimônio cultural 
de acesso universal e, portanto, tornam-se inacessíveis à maioria da população, 
que não pode pagar por eles.
Como, então, garantir que “o conteúdo que agrada o povo” seja um conteúdo 
crítico, de qualidade e que se comprometa com o desenvolvimento genérico do ser 
humano? Quem e como garantir que as atividades de lazer possam expressar um 
momento de experiência de liberdade e de humanidade?
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Partindo do pressuposto de que o gosto é aprendido, uma das possibilidades de 
responder à questão acima é por meio da educação dos sentidos, proposta que já 
desenvolvemos da disciplina “Lazer e Entretenimento” e que a citação abaixo nos 
ajuda a compreender melhor. 
[...] é por isso a emancipação total de todos os sentidos e qualidades 
humanos; mas é precisamente esta emancipação, porque todos os sen-
tidos e qualidades se fizeram humanos, tanto objetiva como subjetiva-
mente. O olho se fez um olho humano, assim como seu objeto se tornou 
um objeto social, humano, vindo do homem para o homem. Os sentidos 
fizeram-se assim imediatamente teóricos em sua prática. Relacionam-se 
com a coisa por amor da coisa, mas a coisa mesma é uma relação hu-
mana e objetiva para si e para o homem e inversamente. Carecimento 
e gozo perderam com isso sua natureza egoísta e a natureza perdeu sua 
mera utilidade, ao converter-se a utilidade em utilidade humana. Igual-
mente, os sentidos e o gozo dos outros homens converteram-se em mi-
nhas próprias apropriações. Além destes órgãos imediatos constituem-
-se assim órgãos sociais, na forma da sociedade; assim, por exemplo, a 
atividade imediatamente na sociedade com os outros, etc., converte-se 
em um órgão de minha exteriorização de vida e um modo de apropria-
ção da vida humana. (MARX, 1974, p.17)
Sem querer ser repetitivo, mas conscientes da importância dessa temática, fa-
çamos uma nova incursão sobre o tema da educação dos sentidos e seu vínculo à 
educação estética. 
Educação Estética como a Educação 
dos Sentidos
A essa altura da nossa unidade final, esperamos que você já tenha notado que o 
importante papel que a escola ocupa na sociedade, vai muito além do fato dela ser 
o espaço para a transmissão de conteúdos e conhecimentos técnicos necessários à 
inserção no mundo do trabalho – embora essa sua função não deva ser ignorada e 
tampouco abandonada. É importante enxergarmos a escola como parte integrante 
da sociedade, que reproduz os problemas e dilemas dessa sociedade, mas que, ao 
mesmo tempo, traz em si a capacidade de transformá-la. Um exemplo desse seu 
potencial transformador seria a sua possível contribuição no atendimento aos direi-
tos de cidadania, em especial o lazer.
Como fazer da escola esse espaço de garantia de direitos? Você conhece 
algum exemplo? Não é muito difícil encontrarmos respostas a essas questões. 
Uma delas seria colocar os espaços e equipamentos das escolas públicas à dis-
posição da comunidade. Cabe destacar que não estamos falando de algo inédito 
ou complicado, no Brasil muitos governos locais já realizaram – ou continuam 
realizando – ações nesse sentido, garantindo a abertura das escolas nos finais de 
semana, especialmente aquelas situadas em territórios vulneráveis. 
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UNIDADE Relações entre Lazer, Trabalho e Educação
Figura 5
Fonte: iStock/Getty Images
As quadras esportivas, a piscina, a biblioteca, a cinemateca (quando existir), a 
sala de informática, o auditório, enfim, a escola como um todo deve estar à disposi-
ção para o atendimento do direito ao lazer e o consequente usufruto da população 
local. Isso porque, em muitas cidades ou bairros periféricos, a quadra da escola é 
o único espaço esportivo daquela comunidade. E, por diferentes motivos, muitas 
vezes esse espaço não está acessível à população. 
Importante!
Outras ações podem ser desenvolvidas pela escola, além de disponibilizar seus 
espaços como equipamentos de lazer, como: programas de leitura; saraus de 
poesia; ciclos de cinema; espetáculos de música; dança e teatro, enfim, programas 
de atendimento do direito ao lazer podem ser elaborados e implementados numa 
ação conjunta entre o Estado, a escola e a comunidade. A Escola deve servir à 
comunidade como um espaço de cultura.
Importante!
Todavia, vale relembrar que além de garantir o espaço de acesso, os governos 
devem se preocupar com a qualidade das atividades desenvolvidas nesse local. Nes-
se sentido, a escola tem o poder de exercer um papel fundamental no atendimento 
do acesso ao lazer e interferir decisivamente na construção do gosto – na educação 
dos sentidos humanos, por meio de suas atividades curriculares nucleares. E este 
deve ser um papel de todas as disciplinas que compõem o currículo escolar, pro-
porcionando uma “educação para o lazer”. 
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Valter Bracht (2003) defende a proposta de educação para o lazer da seguin-
te forma:
A tese que gostaria de defender é a que não responsabilizemos exclusiva-
mente uma ou outra disciplina escolar pela educação para o lazer (a Edu-
cação Física e a Educação Artística, por exemplo), mas que a escola como 
um todo assuma a educação para o lazer como tarefa nobre e importante, 
o que implica em colocar em questão as próprias finalidades sociais da 
instituição escolar (p. 165).
A preocupação com a “educação para o lazer” deveria ser, portanto, uma res-
ponsabilidade de toda a educação escolar: literatura apurando o gosto humano pela 
leitura dos clássicos; educação artística socializando os conhecimentos necessários 
para a compreensão da arte; filosofia estimulando a reflexão crítica, enfim, todas 
as disciplinas articuladas com tal projeto educativo.
No entanto, nessa lógica produtivista que domina a funcionalidade da escola, 
não tem existido muito espaço para que a escola se preocupe com o projeto de 
“educação para o lazer” a partir da educação dos sentidos. A escola não tem sido 
um espaço favorável para que os indivíduos vejam melhor, ouçam melhor, enfim, 
que apurem sua “sensibilidade”, para então ter o gosto para conteúdos que sejam 
diferentes dos que são comercializados e que possam usufruir de atividades de 
lazer que gerem desenvolvimento humano, reflexão crítica e capacidade criativa. 
Caminhando para o encerramento desta Unidade é importanteressaltar que 
não é nosso intuito responsabilizar apenas a escola nesse processo de educação 
estética como educação dos sentidos. Temos consciência de que à escola já são 
atribuídas muitas responsabilidades e culpas que não são dela e não queremos 
aqui reforçar esse equívoco. Nosso objetivo é apenas suscitar a reflexão e o ques-
tionamento sobre o papel que a educação e a escola vêm realizando em nossa 
sociedade e pensar outras possibilidades de atuação. Há outros espaços que po-
deriam prestar o mesmo serviço de auxiliar na formação para o lazer, no sentido 
de um lazer que seja expressão de cidadania e liberdade. Isso nos remeteria a 
olhar novamente para as interfaces que o direito ao lazer estabelece com outras 
áreas sociais e dimensões de nossa vida.
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UNIDADE Relações entre Lazer, Trabalho e Educação
Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
 Livros
Lazer e humanização
MARCELLINO, N. C. Lazer e humanização. Campinas, SP: Papirus, 1983.
Dialética do Lazer
PADILHA, V. (org.) Dialética do Lazer. São Paulo: Cortez, 2006.
Escola e democracia – edição comemorativa
SAVIANI, D. Escola e democracia – edição comemorativa. Campinas: Autores Asso-
ciados, 2008.
 Vídeos
Rubem Alves – A Escola Ideal ( o papel do professor)
https://youtu.be/qjyNv42g2XU
 Filmes
Entre os muros da escola (Entre les Murs)
Entre os muros da escola (Entre les Murs). França. 2007. Direção: Laurent Cantet. 
Duração: 128 min.
Numa Escola de Havana
Numa Escola de Havana. Cuba. 2014. Direção: Ernesto Daranas Serrano. Duração: 
1h 48m.
Sociedade dos Poetas Mortos
Sociedade dos Poetas Mortos. EUA. 1989. Direção: Peter Weir. Duração: 2h 20m.
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Referências
BRACHT, V. Educação física escolar e lazer. In: WERNECK, C. L. G. e 
ISAYAMA, H. F. (orgs.) Lazer, recreação e educação física. Belo Horizonte, 
MG: Autêntica, 2003.
FRIGOTTO, G. Educação e Trabalho: bases para debater a Educação Profissional 
Emancipadora. Revista Perspectiva, Florianópolis, v.19, n.1, p.71-87, jan./
jun. 2001.
MARX, K. Manuscritos econômico-filosóficos. São Paulo: Abril, 1974.
SAVIANI, D. Pedagogia histórico-crítica: primeiras aproximações. 8 ed. revista e 
ampliada. Campinas, SP: Autores Associados, 2003.
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