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Agropecuária na Amazônia e Conflitos Agrários

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Geogra�a Regional do Brasil
Aula 04: Amazônia e agropecuária
Apresentação
A luta popular pela Reforma Agrária acontece desde o Brasil Colônia e tem se estendido durante todos os governos, quer
sejam eles neoliberais, populistas, militares ou com aprovação de demandas sociais.
O Brasil tem uma estrutura fundiária que bene�cia o latifundiário, que produz para o exterior e penaliza o pequeno
proprietário que atende ao mercado interno.
Na região amazônica os con�itos de terra envolvem grileiros, posseiros, latifundiários, grandes empreendedores e
indígenas, em um amplo processo de ampliação do agronegócio, sobretudo associado à soja e à agropecuária extensiva.
Objetivos
Discutir o crescimento da agropecuária na Amazônia;
Relacionar a grilagem e os con�itos agrários na Amazônia;
Identi�car os con�itos rurais na Amazônia.
O crescimento da agropecuária na Amazônia
Após os ciclos de ocupação nos biomas Mata Atlântica (com açúcar, cacau e café), na caatinga (com algodão) e cerrado (com
a soja), foi a vez da Amazônia receber atenção do governo federal, especialmente durante a ditadura militar.
O Programa de Integração Nacional (PIN, do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária - INCRA) foi apresentado em
1970 e possuía o objetivo de estender a rede rodoviária e implantar programas de colonização o�cial nas áreas de atuação da
Superintendência da Amazônia (SUDAM).
Na �gura a seguir observe o conjunto dos principais planos, programas e projetos criados no período compreendido entre 1970
e 1990 para a Amazônia Legal. Atenção ao que está marcado em marrom-claro, que corresponde aos trechos destinados à
colonização dirigida.
 Fonte: Journals
Na área do Ministério da Agricultura, o programa visava à colonização e à reforma agrária, prevendo para tanto a elaboração e a
execução de estudos e a implantação de projetos agropecuários e agroindustriais. Nesse sentido eram previstas também
desapropriações, seleção, treinamento, transporte e assentamento de colonos, e a organização de comunidades urbanas e
rurais com seus serviços básicos (FGV/CPDOC, 2020).
A política de expansão agropecuária para a região do Complexo Amazônico deu-se, principalmente, com a efetivação do PIN e
do Programa de Redistribuição de terras (PROTERRA).
Atenção
Qual era a proposta original? Ocupar "vazios demográ�cos", como se índios não estivessem ocupando a região. De onde a
população deveria vir para ocupar a região? Do Nordeste, onde a pressão por terras e reforma agrária estava crescendo, desde os
anos 1950. 
Repare, no entanto, que embora o projeto previsse a colonização e a reforma agrária, foi a primeira estratégia em que a
Amazônia foi priorizada.
Nessa época, grande parte das terras amazônicas foram adquiridas por
empresários, empresas, latifundiários, entre outros (vindos especialmente
do Sul e do Sudeste), mediante uma série de benefícios como dedução de
impostos, incentivos �scais e empréstimos subsidiados pelo governo.
Ou seja, “distribuíram” terra a preços irrisórios no meio da �oresta equatorial mais rica do mundo, para ela fosse incorporada ao
processo de produção do capital em escala nacional e internacional, sem preocupação com as questões ambientais e com a
população existente.
Na Região Sul, muitos pequenos agricultores viram suas terras serem incorporados pelos latifundiários ou o parcelamento dos
minifúndios não mais atenderem às suas necessidades de sobrevivência. Os sulistas entendiam que as propagandas
governamentais para ocupar a Amazônia eram propostas interessantes para obtenção de terra e reprodução de sua vida no
campo.
As cooperativas sulistas responsáveis pelos projetos amazônicos particulares tinham como critério de seleção dos colonos ser
um pequeno proprietário, com renda para se sustentar por um ano. Os critérios de seleção para os projetos o�ciais destinavam-
se a homens entre 21 e 60 anos, casados, com �lhos, com boa conduta; deviam possuir tradição agrícola e não ter propriedade
rural.
"Entre os escolhidos havia pequenos proprietários ou seus
�lhos, pequenos arrendatários, meeiros, posseiros,
assalariados rurais e urbanos; portanto, o critério dos
programas o�ciais era menos rígido do que os das iniciativas
particulares. Conclui-se que não havia um modelo �xo de
migrante, pois o critério era bastante abrangente”"
- SILVA, 2005
Acredite, no entanto, que a situação era das piores. Os colonos sulistas viviam o primeiro ano em barracas e muitos foram
atingidos por malária. Não havia infraestrutura e�ciente para escoamento da produção e o preço das mercadorias não era
muito alto. Por outro lado, eles pouco conheciam os ecossistemas locais e não tinham a prometida orientação técnica de uso
do solo.
Muitos desejavam voltar para o Sul, mas tinham acreditado nas promessas governamentais e já haviam efetivado a venda de
seus pequenos lotes de terra em sua região de origem.
Os maiores incentivos governamentais eram voltados para médios e grandes empreendedores que buscavam a produção de
mercadorias voltadas para o mercado externo, sobretudo soja, carne bovina, madeira e minerais.
Esses incentivos, realizados desde o governo ditatorial de Castello Branco (e aprofundados na administração de Ernesto
Geisel), destinavam-se ao fomento da pecuária, da extração madeireira e da mineração, atividades que, simultaneamente,
requerem grandes quantidades de terra e destinavam-se à exploração de recursos naturais.
"“[...] Além disso grandes grupos nacionais e multinacionais
com pouca ou nenhuma atividade ligada à agricultura
tornaram-se proprietários fundiários na Amazônia brasileira,
tais como Volkswagen, Bradesco, Bamerindus, Supergasbras,
Atlântica Boa Vista, Manah, entre outros”"
- PRIETO, 2017
Um outro problema histórico-regional e que causa bastante preocupação refere-se ao processo de grilagem.
O termo tem origem no antigo artifício de se colocar documentos novos em uma caixa com grilos, fazendo com que os papéis
�cassem amarelados (em função dos dejetos dos insetos) e roídos, conferindo-lhes, assim, aspecto mais antigo, semelhante a
um documento original. A grilagem é um dos mais poderosos instrumentos de domínio e concentração fundiária no meio rural
brasileiro (BRASIL, 2009).
 Fonte: Tjdft
Na região amazônica muito tem se constatado a falsi�cação de documentos de posse, e, uma vez que existia uma forte
associação entre grileiros, advogados e empresários, a veracidade ou não desses documentos era contestada pelas
“evidências e testemunhas”.
Ainda hoje existe uma enorme disputa entre os povos que nasceram na terra e aqueles que alegam ter seu direito legal
mediante compra, e o processo de grilagem ainda continua. O próprio Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária
(INCRA) tem se preocupado com a questão do uso indevido de terras públicas.
Em levantamento inédito, o Incra está mapeando a estrutura fundiária do país de modo a localizar, um a um, os casos de fraude
e falsi�cação de títulos de propriedade de terras. A grilagem é um dos mais poderosos instrumentos de domínio e
concentração fundiária no meio rural brasileiro.
Em todo o país, o total de terras sob suspeita de serem griladas é de
aproximadamente 100 milhões de hectares — quatro vezes a área do Estado
de São Paulo ou a área da América Central mais México.
Na Região Norte os números são preocupantes: da área total do Estado do Amazonas, de 157 milhões de hectares, suspeita-se
que nada menos que 55 milhões tenham sido grilados, o que corresponde a três vezes o território do Paraná. No Pará, um
fantasma vendeu a dezenas de sucessores aproximadamente nove milhões de hectares de terras públicas (BRASIL, 1999).
Saiba mais
O problema é que a grilagem é responsável pela expulsão de pequenos posseiros e colonos da região amazônica e induz ao
desmatamento. Grande parte das terras griladas acabam nas mãos dos proprietários dos agronegócios, sobretudo associados à
soja e à pecuária extensiva. Saiba mais sobre a grilagem e desmatamento.
Ao longo do processo deocupação da Amazônia, as atividades de agropecuárias têm se expandido, sobretudo associadas à
pecuária bovina e à produção de grãos, principalmente soja e arroz.
Dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (CEPEA) mostram que, entre 1996 e 2018, o agronegócio no
Brasil foi responsável por uma média de 20% a 30% do PIB brasileiro. Isso representa um impacto muito positivo para a
economia do país, uma vez que a produção de insumos, agropecuária, indústria e serviços é fonte de riqueza, sobretudo
quando se refere à exportação (CEPEA, 2019).
Segundo o Ministério da Agricultura (BRASIL, 2020), o país é o segundo maior produtor de soja do mundo (atrás apenas dos
Estados Unidos) e, apesar de ter o segundo maior rebanho de gado (atrás da Índia), é o maior exportador de carne bovina.
No grá�co, observe o crescimento da área plantada de soja na Região Norte do Brasil, sobretudo a partir de 2016, no governo
de Michel Temer.
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 Área plantada de soja na Região Norte – 1990 a 2016 / Fonte: IBGE - Produção Agrícola Municipal.
Dessa forma, a crítica não deve ser feita com relação à produção em si e sua contribuição econômica, mas de�nitivamente
devemos observar a forma degradante como ela tem sido feita e como tem impactado a região do complexo amazônico no
sentido ambiental e social.
Além disso, a característica da exportação da soja como commodity (ou seja, como produto primário sem bene�ciamento e
sem valor agregado) faz com que as fronteiras agrícolas tenham que se expandir cada vez mais em nome de uma maior
produção que garanta a competição direta pelo mercado externo com os EUA.
Saiba mais
Segundo Domingues e Bermann (2012, p. 9), a soja foi a responsável pela agricultura comercial no Brasil no sentido de apoiar “a
aceleração da mecanização das lavouras brasileiras, a modernização dos sistemas de transportes, a expansão da fronteira
agrícola, o incremento do comércio internacional e a aceleração da urbanização do país”.
Foi uma forma de interiorização da população brasileira, que antes estava concentrada apenas no Sul, no Sudeste e em partes
do litoral. Em contrapartida, ela se dá por grupos de grandes empresas que “ocupam espaços no campo antes ocupados por
culturas diversi�cadas e familiares, reduzindo o emprego, a capacidade de produção de alimentos tradicionais e
comprometendo a segurança alimentar da população” (DOMINGUES; BERMANN, p. 9).
Na Amazônia, isso signi�cou mais de um milhão de hectares de �oresta abrindo espaço para os campos de soja somente no
ano de 2005. De acordo com Domingues e Bermann (2012), porém, a fragilidade do solo amazônico não consegue comportar
mais de três anos de produção, além da contaminação do lençol freático pelos agrotóxicos.
A seguir, uma �gura que demonstra, em vermelho, o desmatamento na Amazônia até 2014.
 Fonte: Adaptado de IPAM
Este é mais um fator para se justi�car o desmatamento de novas áreas, uma vez que o solo empobrecido e sem produtividade
é abandonado, surgindo a necessidade de abertura de outras mais para continuar a produção.
As áreas abandonadas representam um solo arenoso sem cobertura vegetal — que, como vimos inicialmente, é o que confere
os nutrientes necessários para a obtenção de uma �oresta densa e frondosa. Ou seja, o que é abandonado pela plantação de
soja é um solo propenso ao processo de “savanização” ou “arenização”, também já estudado.
Sobre a pecuária, além da abertura de áreas para pastagem, a
derrubada de árvores corresponde a ⅓ das emissões brasileiras dos
gases do efeito estufa e as queimadas aumentam ainda mais este
índice.
Além disso, no quesito desmatamento, temos os estudos de Rivero et al. (2009), que aponta essa atividade como aquela que
tem maior relação direta com a derrubada da �oresta. Ainda segundo os autores, as cabeças de gado tiveram um crescimento
quase seis vezes superior do que no restante das regiões do país (desde o ano de 1990 até 2006).
O campo como questão agrária
Atualmente, o Norte e o Centro-Oeste são os principais eixos de violência no campo devido à não regularização fundiária em
áreas que deveriam ser para reforma agrária, mas que acabam com grileiros.
"A pecuária está presente tanto na fronteira mais antiga
quanto nas zonas de expansão da ocupação da �oresta. É
uma atividade que, pela sua importância na participação da
ocupação, necessita de análises mais precisas, bem como de
políticas públicas especí�cas para o seu desenvolvimento e
para a redução de seu impacto na fronteira do
desmatamento"
- RIVERO et al., 2009, p. 57
Além disso, a pecuária é a atividade econômica de maior impacto em toda região, sendo que está presente até mesmo nas
reservas extrativistas, como forma de acesso de um retorno rápido de investimento aos pequenos produtores, frente à queda e
desvalorização do preço dos produtos do extrativismo vegetal dos produtos da �oresta.
Apesar de ocorrerem em momentos históricos diferenciados, sendo a pecuária uma atividade anterior à expansão da soja na
Amazônia, ambas se dão no mesmo contexto atualmente. Em geral, o cruzamento de dados entre o desmatamento recente x
áreas de criação de gado x áreas produtoras de soja acabam coincidindo, como nos mostra os estudos de Domingues e
Bermann (2012).
A crise político-econômica a partir de 2014, que vinha
impedindo o governo de atuar ativamente no controle
territorial, estimulou o avanço das fronteiras agrícolas,
sobretudo na Amazônia Legal, resultando no aumento de
con�itos rurais e assassinatos. Observe a �gura.
A luta pela terra é uma realidade que acompanha a história
do Brasil. Inicialmente, foram os índios que lutaram contra o
colonizador. Posteriormente, os posseiros e proprietários de
áreas de grandes obras (como barragens) e, muito depois,
os camponeses em geral.
A partir dos anos 1980 a Amazônia ganhou espaço no cenário das lutas, por conta do avanço da fronteira agrícola em direção à
região. Povos que outrora estavam assentados na "borda" da �oresta, produzindo alimentos em pequenas propriedades, foram,
por meio de violência, pressionados por latifundiários e grileiros que chegavam, com apoio do regime militar e seu aparato de
repressão.
É dentro desse contexto que se compreende a explosão de assassinatos no meio rural na década de 1980, como pode ser
observado no grá�co a seguir.
 Mortos em conflitos rurais – 1975 a 2017 | Fonte: Elaborado a partir de CPT (2012 e 2017) e Oliveira (2007).
Ao mesmo tempo que aumentava o número de con�itos no campo, com respectiva morte de trabalhadores rurais, havia maior
concentração territorial da violência, sobretudo no chamado "Bico do Papagaio" (uma região que interliga os estados de
Tocantins, Maranhã e Pará), na Zona da Mata Nordestina e, na fronteira entre Rondônia e Mato Grosso.
 Conflitos na Amazônia Legal em 2017 | Fonte: CPT NACIONAL
Entre os agentes sociais envolvidos em con�itos noti�cados, os camponeses posseiros (posseiros, seringueiros, ribeirinhos,
pescadores etc.) destacam-se com 33,2% das ocorrências, seguido dos camponeses sem terra (28%), camponeses
assentados/proprietários (14,3%), indígenas (13,1%) e quilombolas (10,1%).
Já os protagonistas da violência são em grande medida os fazendeiros, empresários e grileiros (74% dos casos), seguidos de
mineradoras, madeireiras, hidrelétricas e o Estado (26% dos casos) (PEREIRA; OLIVEIRA, 2017).
O apoio de classes conservadoras, representadas por ruralistas, era muito
forte nesse período e a classe latifundiária não queria ceder um milímetro.
Chama a atenção o número de massacres contra camponeses, como foram
os casos de Corumbiara e de Eldorado dos Carajás. 
Saiba mais
Em Corumbiara (RO), a Fazenda Santa Elina, de 18 mil hectares, foi ocupada em junho de 1995. Após dois dias de invasão, seu
proprietário solicitou a reintegração de posse, o que a justiça plenamente aprovou. Para cumprir o mandado judicial, o governo
reuniu policiais militares, mas, como não apresentou resultados, o governador do estado de Rondônia enviou umaequipe de
técnicos para prosseguir o ato, com negociação.
Havia 2.300 pessoas no assentamento. O grupo de ocupantes, porém, não queria ceder e o governo enviou quase 200 policiais
para a operação de reintegração, em agosto do mesmo ano. A propriedade foi invadida durante a madrugada por o�ciais do
governo e pistoleiros (contratados pelos fazendeiros) e houve a morte de 12 pessoas e 64 feridos, a maior parte camponeses
(ESTEVAM; MARQUES, 2015). Veja mais no vídeo Massacre de Corumbiara completa 20 anos.
Por sua vez, o Massacre de Eldorado dos Carajás aconteceu em abril de 1996, quando 19 trabalhadores rurais sem-terra foram
mortos pela força policial militar, no sudeste do estado do Pará. Nesse caso, não houve invasão ou assentamento.
Um grupo de trabalhadores estava fazendo uma caminhada em direção à capital do estado, Belém, e foi impedido de
prosseguir por policiais irregulares (sem identi�cação na farda e armados com fuzis, com munições verdadeiras), que
desenvolveram uma ação violeta que acabou no massacre (VÍTIMAS..., 2018).
No período de governo do Partido dos Trabalhadores, os con�itos pela terra
foram nitidamente atenuados com a política de negociação, o assentamento
de famílias rurais e a regularização de terras, como já mencionado. A
situação voltou a �car tensa, no entanto, com a crise político-econômica
que culminou com o impeachment da presidente Dilma Rousseff, pós-2014. 
Pelo grá�co a seguir é fácil compreender o aumento dos con�itos no âmbito agrário, a partir de 2014.
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 Conflitos rurais – 2011 a 2017 | Fonte: Elaborado a partir de CPT (2012 e 2017).
O Plano Nacional de Regularização Fundiária sancionado pelo Presidente Michel Temer, permite, entre um conjunto de
medidas, a legalização de áreas públicas invadidas na Amazônia (por meio de grilagem, por exemplo), e buscou retirar
exigências ambientais para a regularização dessas terras. Não é à toa que a norma jurídica �cou com o nome de "Lei da
Grilagem".
Diante dos altos preços das commodities no mercado internacional e com os incentivos para ampliar a fronteira agrícola, a
terra passou a ser considerada um ativo �nanceiro.
Para lutar contra a estrutura fundiária, as lideranças dos movimentos
dos sem-terra alavancaram a estratégia de montar acampamentos e
assentamentos em terras consideradas improdutivas. Todos aqueles
que se sentiam expropriados historicamente pelo capital lutaram
juntos por um futuro comum.
O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) é o mais organizado movimento socio-territorial que o Brasil já tinha
experimentado, que não reuniu somente grupos com interesses comuns, mas também de maneira independente e com
estratégias efetivas. Por causa disso, apanhou muito da repressão policial e das alas conservadoras que detinham o poder
midiático e da sociedade como um todo.
Esse grupo rural já nasceu como movimento de massa
buscando a reforma agrária tão prometida e pouco
cumprida por diferentes governos e políticas públicas. A
partir de suas palavras de ordem, é possível compreender
sua trajetória na �gura ao lado.
Somente a mudança na estrutura fundiária brasileira, com
redução da concentração fundiária e de renda, aliada à
punição dos envolvidos em con�itos, garantia de segurança
para os povos vulneráveis e avanço no processo de
demarcação e titulação, podem contribuir para a redução
dos con�itos e assassinatos no campo.
Atividade
1. (Enem 2011) Leia o texto a seguir.
A �oresta amazônica, com toda a sua imensidão, não vai estar aí para sempre. Foi preciso alcançar toda essa taxa de
desmatamento de quase 20 mil quilômetros quadrados ao ano, na última década do século XX, para que uma pequena parcela de
brasileiros se desse conta de que o maior patrimônio natural do país está sendo torrado.
(AB’SABER, A. Amazônia: do discurso à práxis. São Paulo: EdUSP, 1996.)
Um processo econômico que tem contribuído na atualidade para acelerar o problema ambiental descrito é:
a) Expansão do Projeto Grande Carajás, com incentivos à chegada de novas empresas mineradoras.
b) Difusão do cultivo da soja com a implantação de monoculturas mecanizadas.
c) Construção da rodovia Transamazônica, com o objetivo de interligar a região Norte ao restante do país.
d) Criação de áreas extrativistas do látex das seringueiras para os chamados povos da floresta.
e) Ampliação do polo industrial da Zona Franca de Manaus, visando atrair empresas nacionais e estrangeiras.
2. (FUNDAÇÃO SOUSÂNDRADE 2008) A luta dos camponeses pela posse da terra sempre foi uma constante na história do
Maranhão. No entanto, ao longo do século XX, a propriedade da terra foi adquirida e controlada de diversas formas pelos
latifundiários em aliança com as oligarquias locais e regionais, utilizando-se de fraudes cartoriais e jurídicas para atestarem os
seus títulos de propriedade. Essa prática fraudulenta chama-se:
a) Parceria.
b) Usucapião.
c) Desapropriação.
d) Invasão.
e) Grilagem.
3. A luta pela terra no Brasil é marcada por diversos aspectos que chamam a atenção. Entre os aspectos positivos, destaca-se a
perseverança dos movimentos do campesinato e, entre os aspectos negativos, a violência que manchou de sangue essa história.
Os movimentos pela reforma agrária articularam-se por todo o território nacional, principalmente entre 1985 e 1996, e
conseguiram de maneira expressiva a inserção desse tema nas discussões pelo acesso à terra. O mapa seguinte apresenta a
distribuição dos con�itos agrários em todas as regiões do Brasil nesse período e o número de mortes ocorridas nessas lutas.
(Comissão Pastoral da Terra — CPT OLIVEIRA, A. U. A longa marcha do campesinato brasileiro: movimentos sociais, con�itos e
reforma agrária. Revista Estudos Avançados. Vol. 15 n. 43, São Paulo, set./dez. 2001. Disponível em: s2.glbimg.com. Acesso em:
18 jan. 2020.)
Com base nas informações do mapa acerca dos con�itos pela posse de terra no Brasil, a região:
a) Conhecida historicamente como das Missões Jesuíticas é a de maior violência.
b) Do Bico do Papagaio apresenta os números mais expressivos.
c) Conhecida como oeste baiano, tem o maior número de mortes.
d) Do norte do Mato Grosso, área de expansão da agricultura mecanizada é a mais violenta do país,
e) Da Zona da Mata mineira teve o maior registro de mortes.
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Notas
SAG1
Síndrome de Adaptação Geral.
�lamento de tungstênio2
É montado entre dois �os de suporte rígidos que transportam corrente elétrica e será aquecido até a incandescência pelo �uxo
de corrente da fonte de baixa voltagem, emitindo elétrons a uma taxa proporcional à temperatura do �lamento.
Cibridismo3
É estar on e off o tempo todo.
Somos seres ciber-hídridos, ou seja, temos uma constituição biológica, expandida por todas as interfaces tecnológicas que
adquirimos, e, cada vez mais, estaremos replicados em todas essas plataformas. Nossos conteúdos, dados pessoais, fotos,
vídeos, leituras, tudo o que faz parte da nossa vida está integrado nas interfaces que utilizamos, e não vivemos sem eles. Isso é
ser cíbrido.
Referências
BRASIL. Ministério da Política Fundiária e do Desenvolvimento Agrário. Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária. O
que é Grilagem? 17/02/2009. Disponível em: //www.incra.gov.br/oqueegrilagem. Acesso em: 27 jan. 2020.
BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. Qualidade da carne
bovina. Disponível em: https://www.embrapa.br/qualidade-da-carne/carne-bovina. Acesso em: 27 jan. 2020.
BRASIL. Ministério da Política Fundiária e do Desenvolvimento Agrário. Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária.
Livro branco da grilagem de terras. 01/02/1999. Disponível em:
C//www.incra.gov.br/media/servicos/publicacao/livros_revistas_e_cartilhas/Livro%20Branco%20da%20Grilagem%20de%20Terras.pdf
. Acesso em: 27 jan. 2020.
CENTRO DE ESTUDOS AVANÇADOS DE ECONOMIA APLICADA – CEPEA. PIB do agronegócio brasileiro. Disponível em:
https://www.cepea.esalq.usp.br/br/pib-do-agronegocio-brasileiro.aspx.Acesso em: 27 ago. 2019.
CENTRO DE PESQUISA E DOCUMENTAÇÃO DE HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA DO BRASIL – FGV-CPDOC. Programa de
Integração Nacional (PIN). Disponível em: //www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-tematico/programa-de-integracao-
nacional-pin. Acesso em: 27 jan. 2020.
COMISSÃO PASTORAL DA TERRA - CPT. Centro de Documentação Dom Tomás Balduino. Con�itos no Campo Brasil 2011.
Antônio Canuto, Cássia Regina da Silva Luz, Isolete Wichinieski (orgs.). Goiânia: CPT Nacional Brasil, 2012.
COMISSÃO PASTORAL DA TERRA - CPT. Centro de Documentação Dom Tomás Balduino. Con�itos no Campo Brasil 2017.
Antônio Canuto, Cássia Regina da Silva Luz e Thiago Valentim Pinto Andrade (orgs.). Goiânia: CPT Nacional Brasil, 2017.
DOMINGUES, M. S.; BERMANN, C. O arco de des�orestamento na Amazônia: da pecuária à soja. Ambiente & sociedade, v. 15,
n. 2, p. 1-22, 2012.
ESTEVAM, C.; MARQUES, E. Massacre que matou 12 pessoas em Corumbiara, RO, completa 20 anos. G1. 09/08/2015.
Disponível em: //g1.globo.com/ro/vilhena-e-cone-sul/noticia/2015/08/massacre-que-matou-12-pessoas-em-corumbiara-ro-
completa-20-anos.html. Acesso em: 7 fev. 2019.
VÍTIMAS do massacre do Eldorado dos Carajás são lembradas em manifestações no PA. G1. PA. 17/04/2018. Disponível em
https://g1.globo.com/pa/para/noticia/vitimas-do-massacre-do-eldorado-dos-carajas-sao-lembradas-em-manifestacoes-no-
pa.ghtml. Acesso em: 7 fev. 2019.
OLIVEIRA, A. U. Modo Capitalista de Produção, Agricultura e Reforma Agrária. São Paulo: FFLCH/Labur, 2007.
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PEREIRA, C. N.; OLIVEIRA, A. L. M. A eterna marcha da violência no campo. Publicado em 22 set 2017. MST. Disponível em:
https://mst.org.br/2017/09/22/a-eterna-marcha-da-violencia-no-campo/. Acesso em: 27 jan. 2020.
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desmatamento na Amazônia. Nova economia, v. 19, n. 1, p. 41-66, 2009.
SILVA, L. K. R. A migração dos trabalhadores gaúchos para a Amazônia Legal (1970-1985). Klepsidra - Revista virtual de
história. n. 25, 2005. Disponível em: //www.klepsidra.net/klepsidra25/rs-mt.htm. Acesso em: 27 jan. 2020.
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