Buscar

Livro-Texto Unidade IV

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 90 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 90 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 90 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

141
HISTÓRIA DA AMÉRICA CONTEMPORÂNEA
Unidade IV
7 AMÉRICAS NO PÓS‑SEGUNDA GUERRA MUNDIAL
A articulação das relações contemporâneas nas Américas passa, necessariamente, pelos fatores 
que provocaram a emergência do neoliberalismo. O período da Guerra Fria, para além das grandes 
tensões militares envolvendo sérias ameaças de eclosão de hecatombes nucleares em razão de possíveis 
enfrentamentos diretos entre as superportências – Estados Unidos e União Soviética – foi, também, 
repleto de discussões relativas ao papel dos indivíduos em suas sociedades, dos países em relação aos 
vizinhos – relações internacionais – de economia e de cultura. Isso para mencionar os aspectos mais 
evidentes uma vez que a liderança norte‑americana no ocidente fez com que esses debates ganhassem 
força e, assim, alinhar‑se era deixar de lado algumas demandas sócio‑políticas e econômicas, o que 
tinha custo político e econômico.
Durante as décadas de 1950 e 1960, uma das grandes discussões na política internacional era a 
questão da necessidade da construção de blocos econômicos e a América Latina não ficou alheia ao 
processo de construção de alianças visando a integração econômica. Segundo Arruda,
a partir de 1955 cresceu intensamente o endividamento dos países do 
continente junto aos países desenvolvidos. A inflação tornou‑se galopante 
em muitos países, pois a emissão era o meio pelo qual se procurava cobrir 
o déficit deixado pela balança comercial e pelas despesas orçamentárias 
(ARRUDA, 2004, p. 569).
Muito mais dinheiro é colocado em circulação e isso provoca inflação com os gastos na compra de 
produtos supérfluos que atendiam a demandas de consumo novas, incentivadas no pós Segunda Guerra 
representando uma “americanização” de costumes.
No Brasil, o governo do Gal. Dutra (1946‑1951) representou uma guinada em direção ao modelo 
norte‑americano de consumo e as reservas acumuladas foram gastas com importações de bens dos 
Estados Unidos – tamanha foi a crise que se tornou necessário o planejamento e ação do governo para 
solucionar a questão, sendo que esse esforço levou a formação da Missão Abbink e da Comissão Mista 
Brasil‑Estados Unidos.
142
Unidade IV
 Saiba mais
Para saber mais sobre a Missão Abbink, leia:
RIBEIRO, T. R. M. Das missões à Comissão: ideologia e projeto 
desenvolvimentista nos trabalhos da “Missão Abbink” (1948) e da Comissão 
Mista Brasil‑Estados Unidos (1951‑1953). Dissertação (Mestrado em 
História). Instituto de Ciências Humanas e Filosofia, Universidade Federal 
Fluminense, Rio de Janeiro, 2012. Disponível em: http://www.historia.uff.
br/stricto/td/1643.pdf. Acesso em: 15 jun. 2015.
7.1 Estados Unidos e os anos 1960 e 1970: a emergência das reivindicações 
sociais e políticas
Os Estados Unidos assistiram ao surgimento de uma nova esquerda, e a explosão da juventude 
na vida pública com manifestações de contestação e rebeldias em torno da liberdade de dispor do 
corpo como bem entendesse com a busca da liberdade sexual e a contracultura assustaram alguns dos 
setores mais conservadores e até mesmo retrógrados dos Estados Unidos, e a reação não demoraria a se 
articular. Segundo Karnal (2007).
historiadores chamam os anos 1960 de a “longa década”, pois muito da 
mudança social e cultural dessa década foi sentida ao longo dos anos 1970. 
Fazendo campanhas, em 1968 e 1972, para restaurar a “lei e a ordem”, o 
presidente Nixon, não obstante continuou algumas das iniciativas liberais 
que tinham marcado os governos Kennedy e Johnson. Nixon e seu sucessor, 
Gerald Ford, queriam acabar com as heranças do New Deal [...] a Suprema 
Corte acelerou a expansão das noções de igualdade, cidadania e proteção 
da liberdade individual iniciada na década de 1950. A retirada das últimas 
tropas americanas do Vietnã e a renúncia do presidente Nixon, por abuso 
de poder em 1974, marcaram o ápice da “crise de autoridade” nos Estados 
Unidos (KARNAL, 2007, p. 253).
Apesar da constante menção aos avanços nas liberdades individuais e sociais – condição essencial 
para a construção de sociedades realmente democráticas, vale lembrar que Nixon renunciou em agosto 
de 1974, em função do escândalo do Watergate surgido durante um ano de disputa eleitoral contra 
George McGovern vencida por Nixon.
Além das instabilidades políticas, economicamente a crise se instaurava com o choque do petróleo 
desde 1973, causado pela súbita alta dos preços internacionais por determinação dos países árabes 
produtores com represália ao apoio ocidental e norte‑americano à Israel. Os EUA começaram então 
a enfrentar inflação e a cada ano, entre 1973 e 1981, a renda dos trabalhares diminui 2% e o poder 
aquisitivo em geral baixou ao nível de 1961, segundo Karnal (2007).
143
HISTÓRIA DA AMÉRICA CONTEMPORÂNEA
 Saiba mais
Para desenvolver um olhar amplo sobre o momento histórico e a 
realidade econômica dos Estados Unidos, recomendamos:
MARINHO, H. A. M. P. Estados Unidos: o contexto dos anos 1970 e as 
crises do petróleo. Revista Eletrônica História em Reflexão, Dourados, v. 
4 n. 7, jan/jun 2010. Disponível em: http://www.periodicos.ufgd.edu.br/
index.php/historiaemreflexao/article/viewFile/753/469. Acesso em: 15 
jun. 2015.
Como resposta à rápida “deteriorização” do quadro político e econômico, ocorre uma espécie de 
“contra‑ofensiva conservadora” e que deveria portar‑se como uma nova direita. Karnal (2007) adverte 
ainda que a partir das crises do petróleo os grupos defensores da economia livre cresceram e passaram 
a ter a força necessária para pressionar o governo. Esse grupo era favorável à retomada de políticas mais 
agressivas em relação a outros países na defesa dos interesses colocados como sendo norte‑americanos. 
Setores da grande mídia eram controlados por esse grupo que passava então a fazer propaganda do 
modo de vida americano, que novamente se identificava com um modelo de liberdade que pregava 
um certo tipo de liberdade. “Liberdade veio a ser redefinida como nos anos 1920 e 1950: o direito de o 
capitalismo norte‑americano florescer livremente” (KARNAL, 2007, p. 253).
Dessa maneira, foi num contexto de reestruturação interna que o país passa a adotar práticas 
neoliberais, uma vez que salários eram reduzidos e o desemprego eram “aceitos” como métodos de 
saneamento das grandes corporações para assegurar a manutenção de sua rentabilidade, quase que 
ignorando as enormes consequências sociais do processo.
A grande ofensiva dessa “nova direita” se articulou como uma resposta às importantes mudanças 
sociais pelas quais passava a sociedade norte‑americana durante a década de 1960 e as pressões 
existentes ainda nos primeiros anos da década de 1970. A discussão a respeito dos direitos civis para 
os negros com o Poder Negro (Black Power) e Panteras Negras colocava à mostra as desigualdades e 
violentas exclusões que existiam no interior da sociedade que se colocava para as outras nações do 
mundo com a terra da defesa da liberdade e igualdade. Os imigrantes hispânicos e seus descendentes 
também estavam as discussões no dia a dia – o que para alguns autores seria a defesa dos direitos dos 
“chicanos” (JENKINS, 2012) e havia, ainda, demandas de populações indígenas.
O Poder vermelho assumiu o renascimento do movimento índio americano, 
que levou a cabo protestos espetaculares e confrontos com forças federais. 
Estes culminaram na ocupação de vários lugares em Wounded Knee, local 
do massacre brutal de 1890 que constituiu o fim simbólico dos conflitos 
militares da fronteira do século anterior. Além dos movimento étnicos, 
aquilo que pode ser descrito como ‘68ismo’ manifestou‑se também no 
Movimento das Mulheres, que fez renascer o feminismo, responsável por 
144
Unidade IV
uma das linhas sociais mais importantes da América nos finais do século 
XX. O movimento teve origem a meio da década, com a publicação de obras 
como Feminine Mystique (1963), de Betty Friedan, e a formação da National 
Organization for Women (NOW); e a ideia explodiu na atmosfera política 
de 1968 [...] o descontentamentoem relação aos conceitos tradicionais de 
gênero e sexualidade levaram à criação do movimento pelo direitos dos 
homossexuais [...] o momento crucial deste movimento ocorreu com a 
revolta no bar Stonewall de Nova Iorque, em 1969, quando os manifestantes 
homossexuais resistiram a um sistema já antigo de assédio policial (JENKINS, 
2012, p. 239‑240).
Essas observações nos permitem ver uma sociedade complexa e cindida, questionada por seus 
próprios membros e distante do paraíso da liberdade e democracia que surgia como propaganda no 
exterior. Um novo e poderoso grupo de reivindicações tornou‑se extremamente relevante e acabou por 
tornar‑se uma forma de inclusão política via um ativismo político para além das velhas bandeiras que, 
aparentemente, estariam desgastadas. O ambientalismo, assim, tornou‑se um movimento de grande 
relevância e outra grande polêmica era a manutenção da Guerra do Vietnã.
7.2 Estados Unidos e o avanço do conservadorismo
Nos Estados Unidos, as mudanças culturais, o aumento populacional, os problemas sociais 
internos com os questionamentos em relação ao papel dos poderes de Estado provocaram 
receios no setores menos progressistas e estes passaram à uma contra‑ofensiva articulada com a 
finalidade de se manter no poder e “salvar” os valores da sociedade americana que consideravam 
mais “verdadeiros”.
A partir de finais dos anos 1970, os conservadores [...] encontraram uma causa 
comum no movimento contra o aborto e na luta para evitar que os estados e 
cidades adotassem medidas sobre os direitos de homossexuais e passassem 
a incluí‑los nos direitos civis. Igualmente crítica foi a campanha contra a 
proposta da Emenda sobre a Igualdade de Direitos (ERA) à Constituição dos 
Estados Unidos, que proibia a discriminação sexual. A emenda foi reprovada 
pelo Congresso [...] a campanha galvanizou o movimento feminista: em 
1978, 100.000 pessoas marcharam em Washington para apoiar a medida 
(JENKINS, 2012, p. 249).
Nesse cenário, a direita, com o Partido Republicano, indicou às eleições presidenciais Ronald 
Regan, ex‑artista de televisão e cinema de filmes de “segunda linha” que ganhara notoriedade 
recente com um posicionamento de extrema direita sendo seu vice George H. W. Bush, que depois 
se tornou presidente – nos meios jornalísticos ele passou a ser Bush “pai”, já que seu filho foi outro 
presidente. Percebe‑se aqui uma “linhagem” na política federal com um discurso político utilizando 
Deus, Nação, Bandeira e Família – o que nos dá a medida de suas convicções e posicionamento 
político inequivocamente à direita.
145
HISTÓRIA DA AMÉRICA CONTEMPORÂNEA
7.3 As Eras Reagan e Bush: a consolidação do discurso neoliberal
A vitória de Ronald Wilson Reagan nas eleições presidenciais norte‑americanas em 1980 o 
transformou no 40º presidente do país e seus mandatos se estenderam de 20 de janeiro de 1981 a 20 de 
janeiro de 1989, uma vez que foi reeleito. Reagan estava muito ligado à sua imagem pública construída 
em grandes veículos midiáticos como rádio e cinema – no qual apareceu em mais de 50 filmes – e 
também às posições cada vez mais conservadoras e de direita quando atuou no sindicato dos artistas 
norte‑americanos. Vale lembrar que a Guerra Fria ainda não havia terminado e o discurso anticomunista 
agregava votos e arregimentava intenções.
Nos finais da década de 1970 e no princípio do governo Reagan, o discurso contra o “império do mal” 
fazia enorme sucesso junto ao de combate aos comunistas, ajudando na afirmação do liberalismo econômico.
Exagerando a situação encarada em 1981, descreveu a inflação e o desemprego 
da época como “terror” a serem combatidos por sua administração e que 
justificariam suas medidas anti‑New Deal: corte de gastos e de impostos, 
política monetária restritiva e diminuição da regulamentação estatal. [...] 
uma verdadeira revolução nas relações entre economia e governo, com o 
estabelecimento do Estado mínimo (MELLO FILHO, 2010, p.11).
E ainda na dissertação de Mello Filho, mas citando outro autor, vem o esclarecimento,
Por detrás da euforia do corte de impostos [...] estava [...] o Estado mínimo 
– uma criatura magra e pão‑duro, que oferecia justiça pública imparcial, 
mas não mais. Sua visão de boa sociedade repousava na força e potencial 
produtivo dos homens livres nos mercados livres (STOCKMAN, 1986, p. 8 
apud MELLO FILHO, 2010, p. 11)
E retomando diretamente Mello Filho,
Observaremos, na retórica do presidente, a defesa de princípios de livre mercado 
e de diminuição do papel do Estado na economia. A essas ideologias, princípios 
teóricos e práticas que argumentam a ineficiência da ação governamental 
na economia e promovem ordenações econômicas com menor intervenção 
estatal, chama‑se neoliberalismo (MELLO FILHO, 2010, p. 11).
Assim com um discurso que utilizava uma retórica liberal, os sentidos são modificados e, ao invés da 
defesa de direitos sociais com a ampliação de liberdades, o que ocorre é um combate ao papel do Estado 
promotor de bem‑estar social. Se o nascimento neoliberalismo ocorreu antes da Era Reagan, foi em seu 
governo internacionalmente ligado à Inglaterra governada por Thatcher que se transformou em prática 
e em política de Estado.
Normalmente identifica‑se o surgimento do neoliberalismo com a criação 
da Mont Pelerin Society, nome do spa suíço em que um grupo, congregado 
146
Unidade IV
em torno da figura de Friedrich von Hayek, se reuniu pela primeira vez 
em 1947 para defender tais tipos de ideias. Entre os membros dessa 
sociedade, estavam Ludwig von Misses, Milton Friedman e, por algum 
tempo, Karl Popper [...]. Em sua declaração de fundação o grupo defendia 
que: Os valores centrais da civilização se acham em perigo. Em grandes 
extensões da superfície da Terra, as condições essenciais da dignidade e da 
liberdade humanas já desapareceram. Noutras, acham‑se sob a constante 
ameaça do desenvolvimento das atuais tendências políticas [...] sustenta 
[...] que esses desenvolvimentos vêm sendo promovidos por um declínio 
da crença na propriedade privada e no mercado competitivo; porque, sem 
o poder e a iniciativa difusos associados a essas instituições, torna‑se 
difícil imaginar uma sociedade em que se possa efetivamente preservar a 
liberdade (DECLARAÇÃO DA FUNDAÇÃO DA MONT PELERIN SOCIETY, 1947, 
apud HARVEY, 2008, p. 29).
Mello Filho (2010) observa que essas ideias ficaram um pouco em desuso durante as décadas de 
1950 e 1960, mas seu retorno foi premiado pela Academia Sueca com o Nobel de Economia em 1974 
para von Hayek e em 1976 para Milton Friedman.
O neoliberalismo associa propriedade privada e mercado competitivo a 
liberdade em geral. [...] esse é o cerne do pensamento econômico de Ronald 
Reagan. Porém [...] nunca houve, na história da humanidade, uma sociedade 
unicamente organizada em torno da liberdade de mercado. Nesse sentido, o 
neoliberalismo não passa de uma utopia ou, na pior das hipóteses, de uma 
visão de mundo construída apenas para a restauração do poder econômico e 
de classe das elites enfraquecidas pelo liberalismo americano do pós‑Guerra 
(PALLEY, 2005, p. 21‑3 apud MELLO FILHO, 2010, p. 13).
O governo Reagan promoveu ajustes no sentido da redução dos gastos orçamentários com assistência 
social e, no plano externo, gerou uma escalada das ações dos Estados Unidos com forças oficiais ou 
mesmo clandestinas, da CIA, atuando em diversas partes do globo no combate ao poder dos soviéticos 
e de seus aliados.
O orçamento do Departamento de Defesa dos Estados Unidos aumentou 
de 136 mil milhões de dólares em 1980 para 244 mil milhões em 1985 
[...] durante a presidência de Reagan, as restrições anteriores foram 
abandonadas e défices anuais da ordem de 200 mil milhões de dólares 
eram comuns no anos 1980, o que equivalia a cerca de 5% ou 6% do PIB 
(JENKINS, 2012, p. 251).
O militarismo ressurgia como a defesa dos valores americanos indo além da propaganda e 
discursos inflamados. Os Estados Unidos desenvolveram uma série de mísseis de médio alcance 
(Pershing e Cruise)e eles foram posicionados na Europa em países aliados, contra a União 
Soviética em 1983. O risco de um armagedon, de uma hecatombe nuclear provocada por um 
147
HISTÓRIA DA AMÉRICA CONTEMPORÂNEA
ataque mútuo que levaria ao fim da civilização provocou manifestações pacifistas na Inglaterra 
e na Alemanha e também provocou mudanças no imaginário norte‑americano uma vez que as 
pessoas passaram a construir abrigos antinucleares e a estocar mantimentos ou ainda, diversos 
filmes eram produzidos pela mais significativa máquina de propaganda norte‑americana – 
Hollywood – em que essa temática surgia. O mundo pós guerra nuclear amedrontava e isso era 
reforçado pelo cinema.
 Saiba mais
Como forma de perceber o universo cultural em torno do medo de um 
armagedom nuclear, recomendamos os filmes de ficção:
O DIA Seguinte. Dir.: Nicholas Meyer. 1983, 127min.
MAD Max. Dir.: George Miller. Austrália: 1979, 93 min.
E suas continuações:
MAD Max 2: A caçada continua. Dir. George Miller. Austrália: 1981, 95 min.
MAD Max 3: Além da cúpula do trovão. Dir. George Miller. Austrália: 
1985, 105 min.
Reagan promovia grandes gastos com a indústria bélica e a desregulamentação dos mercados 
financeiros – com o neoliberalismo e a globalização – e a desvalorização do sindicalismo com a 
diminuição de restrições às indústrias. Dentro desse quadro aparentemente próspero e sedutor como 
modelo a ser imitado, associando‑se ao enorme desenvolvimento do mundo da informática e, portanto, 
digital com grandes corporações se estruturando na década de 1980, havia um problema grave de 
desindustrialização e a taxa de desemprego oficial passou de 6% em 1978‑9 para quase 10% em 1982‑3, 
conforme indica Jenkins (2012).
Para se entender toda a dinâmica dos Estados Unidos articulada com as relações internacionais e 
com a expansão de determinadas práticas financeiras, é importante observar as adesões ao pensamento 
neoliberal, como ele foi construído enquanto discurso e prática.
Um dos aspectos da análise de Harvey, inspirado em Gramsci, sobre o 
neoliberalismo é a capacidade que o neoliberalismo tem de mobilizar ideias 
presentes em diversas sociedades e fazer que sua mensagem faça parte do 
senso comum. “Nenhum modo de pensamento se torna dominante sem 
propor um aparato conceitual que mobilize nossas sensações e nossos 
instintos, nossos valores e nossos desejos, assim como as possibilidades 
inerentes ao mundo social que habitamos. Se bem‑sucedido, esse aparato 
148
Unidade IV
conceitual se incorpora a tal ponto ao senso comum que passa a ser tido 
por certo e livre de questionamento” (HARVEY, 2008, p. 15 apud MELLO 
FILHO, 2010, p. 48‑9).
E continua,
Ao longo dos anos 1970, espalhou‑se a concepção de que a presença do 
Estado na economia seria prejudicial ao funcionamento da mesma. A mídia, 
os think thanks e universidades foram alguns dos elementos primordiais na 
elaboração e propagação de tal visão de mundo. A década de 1970 assistiu 
[...] a uma maior unificação das corporações capitalistas formando uma 
poderosa correlação de forças. [...] Propagandeiam as noções de liberdade 
individual e de nivelamento do funcionamento do mercado com a diminuição 
da interferência governamental mas, na verdade, estão propondo um tipo 
de comportamento do Estado que favorece mais a grupos específicos da 
sociedade sob o pretexto de que esse tipo de governo seria mais benéfico para 
a sociedade como um todo. [...] Gramsci já havia observado esse importante 
aspecto da hegemonia: O fato da hegemonia pressupõe indubitavelmente 
que se leve em conta interesses e grupos sobre os quais a hegemonia se 
exerce, que se forme um certo equilíbrio de compromisso, isto é, que o grupo 
dirigente faça sacrifícios de ordem econômica corporatista; mas é evidente 
que tais sacrifícios e tal compromisso não podem dizer respeito ao essencial 
(GLUCKSMANN, 1990, p. 100 apud MELLO FILHO, 2010, p.48‑9).
A partir dessa observação percebe‑se que no neoliberalismo não é possível eliminar completamente o 
Estado de Bem‑Estar criado anteriormente pois as enormes tensões sociais criadas aí seriam insuportáveis 
e poderiam, inclusive, explodir em conflitos sociais e étnicos – assustadores para diversos setores sociais. 
Vale lembrar que em 1992, em diversas cidades norte‑americanas, sendo a mais notável, Los Angeles, 
explodiram conflitos étnicos que deixaram mais de 50 mortos – ao lado do racismo das forças oficiais na 
repressão à população negra, havia a recessão e o aumento do desemprego e isso provocou um estado 
de tensões muito significativas.
Exemplo de aplicação
Você consegue estabelecer um paralelo entre esses confrontos e a crise em maio de 2015 e que teve 
início na cidade norte‑americana de Baltimore?
Para isso sugerimos a consulta de jornais e revistas desse período.
No cenário econômico, mesmo com a expansão ocorrida na Era Reagan, o sistema não estava livre 
de crises, ao contrário, sua dinamização provoca alterações tão intensas e momentos tão críticos que 
cada vez mais houve‑se falar de crises nas bolsas de valores. De acordo com as observações de Arruda, 
(2004), em 1987 a Bolsa de Nova Iorque sofreu fortes baixas, a produção industrial desacelerou – o foco 
149
HISTÓRIA DA AMÉRICA CONTEMPORÂNEA
havia sido o capitalismo financeiro e a ênfase na manutenção de elevados índices de rentabilidade na 
Bolsa de Valores, independentemente das graves consequências.
O combate a essa situação torna‑se uma das bandeiras republicanas, apoiados também na 
manutenção de uma política externa agressiva. Sobre George Bush (pai),
A grande obra política de Bush foi a Guerra do Golfo contra o Iraque, 
seu antigo aliado, que transformou Saddam Hussein no inimigo público 
número um dos Estados Unidos. A vitória arrasadora obtida pelas tropas 
norte‑americanas. [...] Isso não foi o bastante para garantir a reeleição de 
Bush, que, em 1992, foi derrotado pelo democrata Bill Clinton. Tinha início 
a era Clinton [...] (ARRUDA, 2004, p. 603).
O termo que constantemente utilizamos para fazer referência ao grupo político que chega ao poder 
com Reagan, permanece com Bush pai e retorna com Bush é, nas palavras de Finguerut (2014),
O que chamamos de Nova Direita é a coalizão ou articulação de três atores 
centrais do conservadorismo americano: os libertários, a Direita Cristã e 
os conservadores tradicionais e neoconservadores, agindo em três campos 
distintos: cultural, social e político. Esta articulação em nossa discussão 
ganha corpo a partir dos anos 60 e conforme o momento histórico ganha 
evidência ou se desarticula (FINGUERUT, 2014, p. 1).
E Finguerut (2014) completa,
as ideias são disseminadas (seja pela imprensa conservadora – que tenta se 
contrapor a mídia progressista num embate ideológico que perpassa por 
diferentes temas e assuntos tais como os direitos dos gays, aborto, o estado 
de bem‑estar social, a regulação do sistema financeiro, o aquecimento 
global/pressões ambientais internas e externas, os limites e formas de fazer 
a guerra contra o terrorismo etc. (FINGUERUT, 2014, p. 2).
A articulação do discurso em torno da defesa de valores considerados como norte‑americanos não 
é uma especulação de quem analisa a realidade social dos Estados Unidos em fins do século XX e 
princípios do XXI. Anualmente são promovidas reuniões para promover discussões e traçar os rumos 
desses setores da Nova Direita no sentido de conseguir retornar o poder na Casa Branca.
O Values Voters Summit é um dos eventos dos mais tradicionais do 
conservadorismo social dos EUA. Possibilita todos os anos uma grande 
mobilização de ativistas de todo país que reúnem em Washington D.C. 
[...] A proposta do encontro é mobilizar e energizar ativistas, cidadãos, 
lideranças políticas e futuros candidatos políticos em torno de temas 
da agenda do conservadorismo social [...] Se prestarmos atenção nas 
ideias e nas formas de mobilização [...] notaremos a centralidade em 
150
Unidade IV
torno das ameaças ao casamento heterossexual e à tradicional família 
cristãcomo temas centrais dos painéis e das conferências secundárias 
do evento. [...] Ted Cruz, vencedor da eleição interna do encontro como 
candidato favorito dos conservadores para a próxima eleição presidencial 
americana, enfatiza o fracasso do chamado Obamacare, a tentativa 
do governo Obama de oferecer um plano de saúde estatal universal. 
[...] Michelle Bachmann, do estado de Minnesota, revela a força do 
argumento Tea Party, com uma retórica que prega a desobediência civil 
e o enfretamento diante de um governo apresentado como tirânico e 
autoritário (FINGUERUT, 2014, p. 7).
Quadro 1 – Conservadores X liberais: dois modelos familiares
Família conservadora Família liberal / progressista
Centralidade na figura paterna Os pais dividem as tarefas e os papéis
A educação dos filhos é centrada na 
disciplina. Criam‑se mecanismos de 
recompensa e de punição a partir dela
Os liberais focam‑se na comunidade e na 
atuação social do governo
A educação é norteada por forte senso 
competitivo, criando a perspectiva de uma 
divisão entre vencedores e perdedores. 
A educação é norteada pelo diálogo e pela 
experiência social plural e multicultural
Obediência, disciplina e autoridade se 
destacam como valores morais
Empatia, responsabilidade e esperança se 
destacam como valores morais.
Desconfiança diante da atuação do governo Aposta e visão proativa do governo
Fonte: Lakoff (2008) apud Finguerut (2014, p. 12).
Nessa visão conservadora, o país seria uma nação a ser preservada contra mudanças que consideram 
contrárias à liberdade individual e à manutenção da União. Finguerut (2014) afirma, ainda que os 
dois grupos referem‑se às liberdades direitos civis mas os liberais querem seu aumento enquanto os 
conservadores, sua manutenção.
7.4 A Era Clinton e a reação ao conservadorismo político
O processo de intensas mudanças econômicas com a reestruturação do capitalismo sob a forma 
neoliberal desenvolvidos pelos governos de Reagan e Thatcher começa a dar resultados no início do 
anos 1990 com a intensificação da revolução tecno‑científica que, para alguns autores, representa a 3º 
Revolução Industrial. Robôs na produção, informatização crescente do setor bancário conferindo maior 
agilidade às transações financeiras. As mudanças tecnológicas tiveram fortes impactos na economia 
com o aumento da produtividade, queda de preços e ajuda na recuperação econômicas dos Estados 
Unidos, tirando o país do quadro de piora do final da era Reagan.
O início da administração Clinton coincidiu com a manutenção de um congresso de maioria 
republicana de tendências conservadoras.
151
HISTÓRIA DA AMÉRICA CONTEMPORÂNEA
ao iniciar o seu primeiro mandato presidencial, em 1992, Bill Clinton foi 
impedido pelo Congresso, de maioria republicana, de realizar muitos gastos 
em sua política social, o que contribuiu para diminuir os gastos públicos e 
zerar o déficit em 1998 (ARRUDA, 2004, p. 671).
O trecho é elucidativo dos mecanismos de funcionamento do neoliberalismo – naquele momento 
já operando de maneira muito intensa – e os governos que adotam essas práticas se afastam de 
gastos sociais. A expansão capitalista resultado da modernização e dinamização do sistema levou a 
uma recuperação da capacidade produtiva dos Estados Unidos e a retomada de sua capacidade de 
exportar, mas o outro lado da questão é uma concentração de riquezas no mundo nunca antes visto 
em toda a História.
Mas nem tudo é maravilhoso. As grandes fortunas cresceram de forma 
brutal. Poucas empresas controlam orçamentos superiores a muitos 
países do mundo. As fortunas individuais tornam‑se fantásticas, como a 
de Bill Gates, dono da Microsoft. Enquanto, a situação social dos negros 
pouco mudou. Apesar da ascensão social possibilitada pelas leis dos 
direitos civil, pelo ingresso em universidades, somente 35% dos negros 
têm rendimentos de classe média, em trono de 35 mil dólares anuais (em 
1968 eram 10%). O salário dos brancos é em média 65% superior ao dos 
negros (ARRUDA, 2004, p. 672).
Considerando a modernização e sofisticação do capitalismo, nossa preocupação constante aqui é 
desenvolver um olhar mais crítico a respeito de suas dinâmicas e impactos no dia a dia das nações 
americanas. De norte a sul do continente as mudanças são percebidas intensamente e podemos 
considerar que certamente o que se passava nos Estados Unidos afetava cada vez mais seus vizinhos.
A era Clinton se desenvolveu sob o signo da informação e constantemente ele esteve em noticiários 
– direta ou indiretamente como, por exemplo, em denúncias de irregularidades no setor imobiliário 
envolvendo uma empresa em que sua esposa Hillary Clinton era sócia – o escândalo Whitewater.
A retórica democrata de ênfase em aspectos sociais – para combater a obra dos republicanos – com 
projetos para saúde, educação e previdência não se consolidava e a inflação, a queda do déficit fiscal e 
também a redução do desemprego deram um segundo mandato da Clinton.
A mais poderosa nação do planeta era abalada por escândalos envolvendo assédio sexual do 
presidente contra Paula Jones e de ter um caso com a estagiária Monica Lewinski e, como Clinton teria 
solicitado que ela mentisse em seu testemunho, negando o caso, os boatos de um possível impeachment 
tomaram conta dos noticiários e do cenário político interno e externo.
Mas o que tem que ver isso com a realidade do restante das Américas?
Politicamente Clinton se desgastava rapidamente e sua esposa o defendeu publicamente alegando 
haver um ataque da extrema direita contra seu marido. Em sua defesa Clinton apresentava o fim do déficit 
152
Unidade IV
público, o baixo desemprego, inflação baixa e seus programas de ajuda a setores mais desfavorecidos. A 
“opinião pública” pendeu para Clinton e o processo de Paula Jones acabou arquivado.
Ao mesmo tempo que o presidente corria risco de impeachment, a política externa torna‑se 
novamente agressiva na recuperação da imagem de um país que determinava os rumos da História não 
apenas continental, mas mundial. Os discursos oficiais frequentemente mobilizavam o argumento da 
defesa dos interesses norte‑americanos para justificar intervenções militares – como no caso do Iraque 
que novamente era invadido em nome do combate às armas de destruição em massa que Saddam 
Hussein alardeava possuir.
 Saiba mais
Para saber mais a respeito das constantes invasões norte‑americanas 
no Oriente Médio, recomendamos:
EBRAICO, P. R. B. M. As opções de geopolítica americana: o caso do golfo 
pérsico. 2005 (Dissertação de mestrado). Rio de Janeiro: PUCRJ. Disponível 
em: http://www.maxwell.vrac.puc‑rio.br/Busca_etds.php?strSecao=res
ultado&nrSeq=8064@1. Acesso em: 15 jun. 2015.
Com o fracasso dos esforços de contenção do Iraque por meio de sanções econômicas e buscando 
agradar os setores favoráveis ao fortalecimento internacional dos Estados Unidos, a Secretária de Estado 
norte‑americana Madeleine Albrigth alardeou publicamente: “nós temos o motivo, o direito e os meios 
para fazê‑lo” (ARRUDA, 2004, p. 676) iniciando uma série de bombardeios à Bagdá.
Em outubro de 1994, a administração Clinton começou a despachar aviões, 
navios e tropas terrestres para responder a uma aproximação militar 
iraquiana na fronteira do Kuwait. [...] Os EUA enviaram 30.000 soldados 
americanos para a região em nome da manutenção da paz. [...]“(Irã e Iraque) 
mantém terroristas dentro de suas fronteiras. Eles apoiam bases terroristas 
em outras terras. Eles anseiam por armas nucleares e outras armas de 
destruição em massa. Todos os dias, eles colocam inocentes em perigo e 
incitam a discórdia entre as nações. Nossa política com relação a eles é 
simples: Eles devem ser contidos”. [...] o Presidente Clinton iniciou uma 
campanha de bombardeamento contra o Iraque, conhecida como Operação 
Raposa do Deserto, em dezembro de 1998 (EBRAICO, 2005, p. 100).
Vale lembrar que o mesmo governo que avançou sobre o Iraque – importante produtor mundial de 
petróleo – em 1993 havia patrocinado um célebre encontro entre os líderesarquirivais de Israel e da 
Autoridade Palestina, Yitzhak Rabin e Yasser Arafat, respectivamente.
153
HISTÓRIA DA AMÉRICA CONTEMPORÂNEA
Figura 49 – O histórico aperto de mão entre Yasser Arafat e 
Yitzhak Rabin, mediado pelo presidente Clinton em Washington, 13/9/1993
A imagem dos líderes apertando as mãos com Bill Clinton sorridente e ao fundo como promotor 
da paz mundial foi amplamente explorada pela propaganda que promovia os Estados Unidos como 
liderança mundial.
Desde a década de 1980, as relações com a América Latina eram muitas vezes definidas por invasões 
militares dos Estados Unidos e ações da CIA. Por exemplo, o caso de Manuel Noriega, apeado do poder 
por um ataque que o capturou e levou preso para os Estados Unidos. De antigo colaborador da CIA 
passou a acusado de colaborador com o narcotráfico internacional promovido pelo Cartel de Medellín, da 
Colômbia, que alcançaria notoriedade mundial com ações agressivas contra candidatos presidenciáveis, 
sequestros e assassinatos ordenados por seu chefe Pablo Escobar. Noriega acabou condenado a quarenta 
anos de prisão nos Estados Unidos.
Arruda indica ainda sobre a América Latina que
Razões ainda diferentes explicam a intervenção americana no Haiti. 
Nem motivos ideológicos, nem combate ao narcotráfico. País nascido de 
uma rebelião de escravos no século XVIII, o Haiti encerrou, em 1986, um 
período trágico de sua história, com a deposição do ditador Baby Doc, 
filho do famigerado François Papa Doc, que impôs uma ditadura férrea ao 
país desde sua chegada ao poder em 1957, apoiado pelos terríveis tontons 
macoutes, membros de sua guarda pessoal que espalhavam o terror no seio 
da população (ARRUDA, 2004, p. 680).
7.5 Era George W. Bush e o 11 de Setembro: a guerra ao terror
O ataque às Torres Gêmeas do World Trade Center (WTC), em Nova Iorque, no dia 11 de setembro de 
2001 é um dos principais eventos que marcaram o final do século XX e princípios do XXI. Talvez nenhum 
outros tenha sido tão discutido, analisado, visto e questionado. Tal evento, ao menos no imaginário 
norte‑americano, constitui‑se como um divisor de águas – algo que funciona como o marco de uma 
geração – e que define a política externa dos Estados Unidos no decorrer do governo de George W. Bush.
154
Unidade IV
O WTC foi construído no momento de expansão do capitalismo dos norte‑americanos com 
um símbolo incontestável de progresso material e da pujança do capitalismo de Wall Street – 
em Manhattan. Sua destruição, num atentado que envolveu também o ataque ao Pentágono 
– símbolo máximo da potência militar estadunidense – e uma outra aeronave que caiu sobre 
solo norte‑americano se transformam em marcos de memória para muitas pessoas, inclusive não 
norte‑americanos que acompanharam o evento pela televisão, mas que não tinham, no momento, 
clareza do que estava ocorrendo.
Nossa intenção aqui não é reconstituir o dia 11 de setembro de 2001, mas perceber de que maneira 
esse evento contribuiu para as formas como a política interna e externa dos Estados Unidos passaram a 
ser conduzidas a partir de então. Não faria sentido aqui fazer um longo histórico dos ataques sofridos 
pelos Estados Unidos dede o século XIX – com assassinatos de presidentes e declarações de guerra 
no decorrer do século XX. Nossa preocupação é apresentar de que maneira a Era da globalização e 
do Neoliberalismo se articulam e provocam novos conflitos entre diferentes povos – principalmente 
nas Américas.
Considerando os danos causados no imaginário norte‑americano, quando a confianças nas 
autoridades é abalada, o medo de novos atentados é crescente e a presença de norte‑americanos mortos 
dentro do próprio país por inimigos estrangeiros foi algo muito difícil de combater.
Uma imagem, entretanto, somente pode ser combatida com outra 
imagem. Se a ação terrorista seguiu um script cinematográfico, a reação 
americana teria que seguir o mesmo figurino. A televisão incumbiu‑se 
de fazer isso desde o primeiro momento. Elegeu logo seus novos heróis: 
bombeiros, policiais militares e tripulantes do vôo 93. As revistas em 
quadrinhos colocaram seus super‑heróis a serviço do resgate dos 
mortos ou desaparecidos no ataque, muitos dos quais foram certamente 
volatilizados pela explosão dos tanques dos aviões. A rede americana CNN 
voltou aos dias de glória da Guerra do Golfo, quando o jornalista Peter 
Arnette transmitiu suas imagens sob o registro America under Attack 
(América sob ataque), logo substituído pelo rótulo America’s New War (A 
nova guerra da América) (ARRUDA, 2004, p. 752).
A reação norte‑americana foi equivalente à declaração de uma Terceira Guerra Mundial, 
posto que internamente o país se uniu sob o governo de George W. Bush acreditando que quem 
não estivesse ao seu lado, seria seu inimigo ou faria parte do “Eixo do Mal”. Uma vez que o 
Afeganistão foi identificado como protetor da Al Qaeda, rede terrorista de Osama Bin Laden, 
a guerra contra esse país foi declarada. O militarismo e o patriotismo foram revalorizados na 
sociedade norte‑americana. A indústria bélica ganhou novo alento no esforço mundial de combate 
ao terrorismo e isso fica evidente com a escolha do vice de Bush, Dick Cheney – amplamente 
favorável àquilo que foi chamado de Guerra ao Terror, admitindo, inclusive o recurso da tortura 
contra opositor dos Estados Unidos.
155
HISTÓRIA DA AMÉRICA CONTEMPORÂNEA
 Saiba mais
Indicamos a leitura sobre estar em Nova Iorque no 11 de setembro de 
2001, com vários relatos, inclusive do crítico à política agressiva dos Estados 
Unidos, Noam Chomsky.
ARRUDA, J. J. Nova História moderna e contemporânea. Bauru: Edusc, 2004.
O passo seguinte do recrudescimento da política internacional foi um novo ataque ao Iraque. O 
núcleo político em torno de George W. Bush era composto por Dick Cheney, Donald Rumsfeld, Paul 
Wolfowitz e Colin Powell – sendo os três primeiros também chamados de “falcões” – sendo Rumsfeld e 
Cheney peças‑chave da administração de Bush pai que havia realizado a primeira Guerra do Iraque – e 
representando a ala neoconservadora e sua agressividade militarista e o ataque de 11 de setembro de 
2001 aproximou as alas mais conservadoras e agressivas da figura do presidente e os moderados – no 
caso Colin Powell – perderam espaço. O país rumava novamente para guerra externas e em setembro de 
2002 – após um ano do ataque, foi apresentado o que seria a Doutrina Bush por meio do documento 
“Estratégia de Segurança Nacional dos EUA”, do qual Arruda, 2004, nos apresenta seus quatro eixos 
principais, a saber,
• Na academia militar de West Point, em 2 de junho de 2002, George 
Bush disse: “a guerra contra o terror não se ganha na defensiva. [...] 
promessa de retaliação maciça nada significam contra esquivas redes 
terroristas sem nações ou cidadãos para defendê‑las. [...] É preciso 
levar a batalha ao inimigo e confrontar as piores ameaças antes 
que elas venham à tona”. Isso significa a legitimação dos ataques 
preventivos como elemento central da nova ordem internacional.
• No Congresso norte‑americano, em 20 de setembro de 2001, George 
Bush dissera: “Todas as nações, em todas as regiões, agora têm uma 
decisão a tomar: ou estão conosco ou estão com os terroristas”. Isto 
é, o terrorismo o principal inimigo da humanidade e os países são 
divididos em favoráveis aos terroristas ou aos Estados Unidos, sem 
lugar para os neutros (ARRUDA, 2004, p. 767).
Aqui podemos observar o delineamento da ação do governo dos Estados Unidos naquele momento. 
Na pertinente observação crítica de Kurz – citado por Arruda (2004, p. 769) – “os Estados Unidos precisam 
adotar as funções de um Estado mundial, sem poder ser o Estado mundial”. Daí a unilateralidade da 
agressiva Doutrina Bush. O significado do empenho dos Estados Unidos pode ser avaliado quando se 
observa que cerca de 4% do PIB vai para a defesa, o equivalente aos gastos realizados pelas demais 
192 nações do globo. E ainda segundo Arruda, “O orçamento de 400 bilhões de dólares anuais equivale 
ao dobro do faturamentoindividualizado das três maiores corporações norte‑americanas, a saber, a 
Wall‑Mart, a Exxon e a General Motors” (ARRUDA, 2004, p. 780).
156
Unidade IV
Relembra Arruda (2004, p. 777) que além do aspecto humanitário da morte de milhares de civis 
em função dos ataques – algo como 7.000 pessoas, além de 10.000 soldados iraquianos contra 169 
soldados da coligação invasora, existe a destruição de um patrimônio cultural irrecuperável em um país 
símbolo do início da civilização e que contava com mais de 25 mil sítios arqueológicos. A Biblioteca 
Nacional, onde estavam versões muito antigas do Alcorão, foi queimada. O Museu Nacional, atacado 
e saqueado e jamais se saberá ao certo o que se perdeu uma vez que os registros também foram 
destruídos. Internamente, a guerra do Iraque servia para se articular da reeleição de Bush – vale lembrar 
que eleito anteriormente sob suspeitas.
Afinal, diz Robert Kurz,
as novas religiões do ódio, sejam elas de origem islâmica ou cristã, são 
todas de natureza sintética, arbitrária e eclética. Todas têm apenas o 
nome em comum com autênticas tradições religiosas que se remetem. São 
um subproduto da modernidade decadente das sociedades de mercado 
ocidentais ou ocidentalizadas (KURZ apud ARRUDA, 2004, p. 787).
E continua Arruda (2004, p. 787) com outros autores
O que está em causa é a própria perpetuidade dos valores americanos, no 
lamento de Gunter Grass. O país generoso, defensor do direito inarredável 
de expressão, vê sua imagem regredir, empalidecer, um simulacro do que já 
foi. Contradição inevitável da história. Exatamente no momento em que o 
brilho da democracia precisa resplandecer sobre o Oriente Médio, porque é 
isso que se deseja, seu poder iluminador se eclipsa (ARRUDA, 2004, p. 787).
De maneira mais ampla, podemos perceber conexões entre a política interna e externa dos 
Estados Unidos no médio e curto prazos e, assim, Pecequilo faz uma observação que aparentemente 
é despretensiosa, mas que se lida atentamente é esclarecedora da maneira como a política externa foi 
conduzida. Afirma a autora que
Na ausência de consensos, as posições oscilam como produto de bases 
sociais fragmentada, e não como resultado de uma ‘política disfuncional’ de 
Washington [...]. A política é reflexo da sociedade da qual emerge e representa 
suas contradições, não podendo dela ser descolada. Em duas décadas do 
pós‑Guerra Fria, esses tendências produziram três grandes estratégias 
diferentes: o Engajamento e Expansão (1993) no governo do democrata Bill 
Clinton (1993/2000), a Doutrina Bush (2002) com o republicano George W. 
Bush (2001/2008) e a Doutrina Obama (2010), do democrata Barack Obama 
(2009/2012) (PECEQUILO, 2012, p. 14).
Assim, as mudanças internas com o crescimento dos neoconservadores – que mesmo durante a 
administração Clinton tiveram grande capacidade de atravancar projetos sociais do governo, reflete 
uma sociedade cindida e preocupada com sua própria manutenção.
157
HISTÓRIA DA AMÉRICA CONTEMPORÂNEA
Por fim, é preciso mencionar que a tática neoconservadora envolveu pesadas 
ofensivas na mídia, opondo‑se ao que definem como excessos liberais (apoio 
aos citados aborto, casamento entre pessoas do mesmo sexo, proteção à 
imigrantes e minorias em geral), sendo uma de suas manifestações o processo 
de impeachment contra Clinton por conta de seu caso extraconjugal com 
Monica Lewinski, estagiária da Casa Branca no período de 1998/1999. Porém, 
sua volta ao poder foi somente em 2000, uma vez que em 1992 Bush pai 
não conseguiu a reeleição. Sustentando sua campanha no slogan ‘It’s the 
economy, stupid’(‘é a economia, estúpido!’), e na mudança e na esperança, o 
que seria repetido por Barack Obama em 2008, o democrata Bill Clinton foi 
eleito Presidente (PECEQUILO, 2012, p. 17).
O governo Clinton investiu a expansão de valores caros aos norte‑americanos como a democracia em 
âmbito mundial e, num contexto de globalização da economia, a ideia da supremacia do livre mercado. 
Essa estratégia foi apelidada de Engajamento & Expansão, quando os Estado Unidos se posicionam 
estrategicamente seguindo quatro pontos, indicados por Lake (1993), mas aqui citados via Pecequilo 
(2012), a saber
1. Fortalecer o núcleo principal das democracias de mercado, inclusive a 
norte‑americana, favorecendo a disseminação dos valores e princípios 
democráticos para todo o sistema a partir desta comunidade
2. Incentivar, quando possível, a implantação e consolidação de novas 
democracias e livres mercados em Estados significativos e importantes.
3. Impedir a agressão de Estados hostis à democracia e incentivar a sua 
liberalização por meio de políticas específicas.
4. Perseguir uma agenda humanitária para a melhora das condições 
de vida em regiões prejudicadas. Posteriormente, criar condições 
para que eventualmente essas comunidades possam integrar‑se ao 
sistema pacífica e democraticamente (PECEQUILO, 2012, p. 18).
Outra importante diferença dos democratas em relação aos republicanos foi a afirmação de Clinton 
em áreas como meio ambiente, direitos humanos e até saúde apesar da intensa a oposição à aprovação 
das medidas de cunho mais social. O período final do governo Clinton assistiu a uma certa recuperação 
geral da economia e isso lhe permitiu lançar seu vice, Al Gore, à presidência, mas surpreendentemente a 
campanha foi um fracasso e a família Bush, apoiada em diversos setores conservadores retornou à Casa 
Branca. Como aponta Pecequilo (2012, p. 19), a agenda neoconservadora foi marcada pelo chamado 
conservadorismo com compaixão (compassionate conservantism) afirmando que não atacariam direitos 
adquiridos como o aborto mas combateriam os “excessos liberais” como o casamento entre pessoas do 
mesmo sexo e a delicada questão da tolerância com os ilegais. No voto direto, Al Gore teve mais votos 
mas no colégio eleitoral foi Bush o que conduziu os republicanos para o Salão Oval da Casa Branca, mas 
sob suspeitas de fraude e irregularidades.
158
Unidade IV
7.5.1 Bush (filho): conservadorismo com compaixão
Em termos cronológicos Pecequilo (2012) divide o governo de Bush filho em três fases:
De janeiro a setembro de 2001, setembro de 2001 a dezembro de 2004 e janeiro 
de 2005 ao final de seu mandato. A primeira destas fases é representada 
por tendências mistas de ofensiva neoconservadora, resistência interna e 
baixa popularidade. Mais da metade da população não apoiara a eleição de 
Bush filho e muitos contestavam a forma como a eleição fora decidida pelos 
tribunais, uma vez que a Suprema Corte Federal suspendera os processos de 
recontagem de votos, solicitados e em andamento. [...] a Retórica da Casa 
Branca (pendia fortemente para o unilateralismo) (PECEQUILO, 2012, p. 19).
E ainda segundo a mesma autora, mas em obra de 2011,
Na manhã de 11 de setembro de 2001, os atentados terroristas às cidades de 
Nova Iorque e Washington mudaram essa realidade, ao gerar um consenso 
baseado no medo inédito que atingiu os Estados Unidos depois da perda da 
invulnerabilidade do território continental. A exacerbação do nacionalismo 
e da união nacional foram outros resultados (PECEQUILO, 2011, p. 21).
E prossegue,
Internamente, os mesmos liberaram as forças neoconservadoras, 
favoreceram a construção de um novo inimigo, o terrorismo 
fundamentalista islâmico de caráter transnacional [...] e a implementação 
de regras de censura e restrição de liberdades civis pelo Estado. [...] Essas 
regras foram sistematizadas no Ato Patriota (2001), lei de combate ao 
terror que permitia a prisão de suspeitos sem direito a advogado, e 
que, conforme sua última prorrogação em 2011, permanecerá em vigor 
até 2015. Resultaram, também, nos memorandos internos autorizando 
a tortura, redefinida como práticas de interrogatório mais duras, e no 
caráter de prisioneiros, vistos não mais como soldados, mas combatentes 
inimigos, sem pátria, somente com afiliação a grupos terroristas. Estas 
posturas resultaram nos escândalos de maus tratos de prisioneiros na 
base norte‑americana deGuantánamo em Cuba, nas instalações de 
Abu Graib no Iraque e em instalações secretas da CIA em outros países. 
Para dar amparo a essas ações, foi criado o Departamento de Segurança 
Doméstica (Homeland Security) e o USNORTHCOM (Comando do Norte), 
em 2001. Externamente, a Guerra Global Contra o Terror (GWT, Global 
War on Terrorism), geraria duas guerras na Ásia Central e no Oriente 
Médio, o Afeganistão (2001 em andamento) e o Iraque (2003/2011) 
(PECEQUILO, 2012, p. 21).
159
HISTÓRIA DA AMÉRICA CONTEMPORÂNEA
Reunindo todos os esforços dos Estados Unidos no sentido de promover a Guerra Global ao Terror, 
surge a Doutrina Bush, ou também denominada Doutrina Preventiva,
Não podemos defender a América e nossos amigos esperando pelo melhor. 
Devemos estar preparados para derrotar os planos de nossos inimigos [...] 
único caminho para a paz e a segurança é o caminho da ação [...] Devemos 
estar preparados para deter Estados Bandidos e seus clientes terroristas 
antes de se tornarem aptos a nos ameaçar ou usar armas de destruição em 
massa contra os EUA e seus aliados e amigos (PECEQUILO, 2012, p. 22).
Os setores mais conservadores provocaram uma reestruturação e posicionamento dos Estados 
Unidos para tentar equacionar os problemas mais preementes que Pecequilo elenca, a saber:
à perda de legitimidade e credibilidade hegemônicas; ao definhamento e 
estagnação do sistema multilateral; à crescente valorização de coalizões 
anti‑hegemônicas e a utilização de doutrinas preventivas por outros 
Estados que temiam ser invadidos pelos norte‑americanos (como os 
membros remanescentes do Eixo do Mal, Coreia do Norte, Irã, Venezuela); a 
ascensão de novas potências e o distanciamento de aliados, que indicavam 
a consolidação de um sistema internacional com tendências multipolares e 
de desconstrução de poder (PECEQUILO, 2012, p. 24).
Se tivermos em conta que a crise e o receio de novos ataques ou atentados foi amplamente 
explorados pelo governo de Bush filho num esforço de garantir a segurança de seu país, mas também 
de promover uma legitimação de um governo eleito sob suspeitas, podemos de alguma maneira 
montar um quadro em que a guerra ao terror permanece como elemento central. Não significa isso 
que os Estados Unidos declararam guerra a tudo e a todos, uma vez que são necessários aliados para 
sua causa e assim Bush filho promoveu uma série de viagens pela Europa, Ásia e América Latina, 
visitando o Brasil e causando diversos transtornos na rotina das cidades por onde passou, sendo o 
caso de São Paulo emblemático uma vez que cada vez que sua comitiva se deslocava de um ponto 
a outro da cidade avenidas eram bloqueadas, escoltas de helicópteros tornavam os céus tensos 
espetáculos militaristas e assim presença de Bush na cidade não pôde passar desapercebida por sua 
população mais comum.
Quando o governo de Bush filho, em seu segundo mandato, já se encaminhava para o final, a 
articulação conservadora se constrói em torno de Cheney para dar continuidade ao projeto político 
representado por Bush, mas os democratas ganharam força com a crise interna pois a situação 
econômica se deteriorara muito rapidamente a partir de 2007 e piorava em 2008. O fantasma de uma 
nova recessão, de escala que lembrava a todos as consequências da Grande Depressão que se seguiu à 
quebra da bolsa de Nova Iorque, em 1929 e a crise mundial nos anos posteriores assustava muitos. No 
ano em que a crise ganha força, 2008 e no seguinte, 2009, o PIB ficou na casa de ‑0,4% e ‑3,5%.
A campanha de Obama, em oposição ao governo federal lançou mão de slogans como Yes, we 
can e Change We Can Believe In (“Sim, nós podemos” e “Mudança na qual podemos acreditar”). 
160
Unidade IV
A defesa de suas posições políticas Obama acenou para a formação de um governo no qual até 
mesmo os rivais republicanos poderiam ter espaço – o que na prática significou articular uma 
ideia de reconciliação nacional via partidos políticos. Dessa forma sua propaganda enfatizava 
sim o papel hegemônico dos Estados Unidos mas, novidade na história recente dos Estados 
Unidos, tinha uma agenda social importante. Sua eleição, para Pecequilo significava em linhas 
gerais, que
Obama tornou‑se o primeiro afro‑americano a chegar à Casa Branca, como 
símbolo de uma nova América, multicultural, multirracial e global, com a 
tarefa de renovar o poder e a sociedade dos Estados Unidos para os desafios 
internos e externos do século XXI (Pecequilo, 2012, p. 25).
Assim, continua a autora,
A eleição de Barack Obama deve ser entendida como histórica por diversos 
prismas: pelo fato de ter se tornado o primeiro afro‑americano a ser tornar 
Presidente, pela gravidade da crise norte‑americana e pelas operações 
militares nas quais o país estava envolvido (PECEQUILO, 2012, p. 25).
Apesar da crise econômica e financeira desencadeada a partir de 2008 no ser imobiliário dos 
Estados Unidos, contaminando bolsas de valores pelo mundo e se agravando nos meses seguintes, os 
republicanos não se alinharam automaticamente ao consenso e paulatinamente foram minando os 
esforços sociais de Obama, uma vez que estímulos à economia eram reduzidos, bem como foi impedida 
estrutura de uma de suas bandeiras de campanha que era a criação de um serviço de saúde nacional. E 
por mais incrível que possa parecer, em razão do aumento da presença do Estado na vida das pessoas, 
houve quem considerasse Obama socialista.
Externamente, cumprir a promessa de fechar Guantánamo acabou se revelando mais difícil do que 
parecia – vale lembrar que o Ato Patriótico foi prorrogado até 2015. Apesar das enormes dificuldades 
enfrentadas tanto internamente quanto externamente, Obama conseguiu em 2009 ter seus esforços 
reconhecidos internacionalmente e ganhou o Prêmio Nobel da Paz. Expressões agressivas saíram do 
rol dos discursos presidenciáveis e foram organizados os esforços para tirar as tropas do Iraque e do 
Afeganistão, em 2011 e 2014, respectivamente. Nos dizeres de Clinton, ex‑presidente, a nova realidade 
pode ser vista assim,
Vivemos em um mundo profundamente interdependente no qual as velhas 
regras e fronteiras não mais se aplicam [...] precisamos fazer uso do que vem 
sendo chamado de “paz inteligente”, de todas as ferramentas ao nosso dispor 
– diplomática, econômica, militar, político, legal e cultural, escolhendo as 
ferramentas e sua combinação para cada situação. Com o poder inteligente, 
a diplomacia estará na vanguarda da política externa. (CLINTON, 2009 apud 
PECEQUILO, 2012, p. 26).
161
HISTÓRIA DA AMÉRICA CONTEMPORÂNEA
 Saiba mais
Para uma análise crítica do 11 de Setembro, recomendamos a 
leitura de Noam Chomsky. Obra realizada por um norte‑americano 
que procurou entender o que provocou o 11 de setembro e não apenas 
referendar o ataque
CHOMSKI, N. 11 de Setembro. 5. ed. Rio de Janeiro: Ed. Bertrand Brasil, 2002.
A transição política da Era Bush para o sucessor Barack Obama não foi um processo simples. Devemos 
considerar que desde a Era Reagan o neoconservadorismo se fortaleceu e na Era Bush, tanto do pai como 
do filho, suas práticas militaristas agressivas serviram para reafirmar a imagem pública norte‑americana 
de potência militar, na sequencia com a Era Obama, ao menos na retórica, o governo da Casa Branca 
parece defender algumas mudanças de rumo e os discursos internacionais – apesar da manutenção da 
rigidez no que é tido por Guerra ao Terror, com a captura e execução de Osama Bin Laden por forças 
norte‑americana que invadiram o Paquistão.
7.6 Era Obama: Yes, We Can
Barack Obama ao ser eleito derrotou os setores mais conservadores,
Como nenhuma outra o fora antes, a campanha de Barack Obama à 
presidência dos Estados Unidos é um fenômeno planetário. A notícia 
da sua vitória sobre o republicano John McCain foi festejada com 
manifestações em todo o mundo. O jovem senador do Illinois, filho de 
uma antropóloga branca e de um economista negro, sobressai‑se já em 
meados de 2004, quando discursa na Convenção Democrática de Boston 
e a sua intervenção évista por quase dez milhões de telespectadores. 
Mas poucos ousam prever que um negro com um middlename árabe – 
Hussein – irá ser o sucessor de George W. Bush. Mas o carisma de Obama 
é contagiante e a sua campanha, centrada na palavra de ordem ‘sim, nós 
podemos’ (yes, we can), mobiliza músicos, atores e outras figuras públicas, 
como a apresentadora de televisão Oprah Winfey, espalha‑se pela 
internet e cria uma adesão popular sem precedentes. Barack Obama fora 
um dos primeiros políticos americanos a opor‑se à invasão americana do 
Iraque e a promessa da retirada dos soldados americanos é um dos temas 
fortes de sua campanha. A prioridade militar dos Estados Unidos deve 
ser o Afeganistão, defende o candidato democrata, que assume também 
objetivos ambiciosos na política interna, como o de garantir cuidados 
de saúde para todos, assegurar a independência energética do país ou 
reduzir drasticamente o poder dos lobbies de Washington. Nas eleições de 
4 de novembro de 2008, vence McCain com 53 por cento do voto popular, 
162
Unidade IV
obtendo mais de 69 milhões de votos, um recorde absoluto na história 
das eleições presidenciais americanas. Quando chega ao Grant Park de 
Chicago, no dia seguinte, para fazer seu discurso de vitória, espera‑o uma 
multidão de 240 mil pessoas. Usando o slogan ‘yes, we can’ como refrão 
de seu texto – numa tática muito semelhante à que Martin Luther King 
usara, quase meio século antes, com o seu ‘I have a dream’ ‑, Obama 
centra a sua intervenção na ideia de que se vive um momento histórico 
e que os Estados Unidos, cuja reputação internacional decaíra durante 
a era Bush, voltarão a ser uma nação respeitada e admirada no mundo 
(DISCURSOS..., 2010, p. 131).
E nas palavras do próprio presidente Barack Obama no discurso pós eleição,
Yes, we can. Boa noite, Chicago. Se houver uma única pessoa nesta sala 
que duvide ainda que a América seja um lugar onde tudo é possível, que 
se pergunte todos os dias se o sonho dos nossos fundadores continua 
vivo, que duvide do poder de nossa democracia, aqui tem a resposta. [...] 
Esta é a vitória de vocês. [...] Prometo para vocês. Nós, enquanto povo, 
chegaremos lá. Haverá fracassos e passos em falso. Haverá muitos que não 
estarão de acordo com todas as decisões que tomarei como presidente. 
Sabemos que o governo não pode resolver todos os problemas, mas 
serei sempre honesto com vocês sobre os desafios que nos afrontam. [...] 
Esta vitória em si não representa a mudança que buscamos. Para nós, 
é apenas a oportunidade de fazermos esta mudança e isso não pode 
acontecer se voltarmos a fazer as coisas da mesma maneira que foram 
feitas anteriormente. [...] Lembremos que, se esta crise financeira tiver nos 
ensinado alguma coisa, é que não podemos ter uma Wall Street forte e 
uma Main Street que sofre. [...] Como Lincoln disse a uma nação ainda 
mais dividida do que a nossa, não somos inimigos, mas amigos. Embora a 
paixão tenha colocado sob tensão os nossos laços afetivos, ela não pode 
rompê‑los. E a esses americanos cujo apoio ainda tenho de conquistar, 
digo: talvez não tenha conquistado o seu voto, mas ouço suas vozes. [...] 
Àqueles... àqueles que querem destruir o mundo: nós vamos vencê‑los. 
Àqueles que procuram a paz e a segurança: nós vamos apoiá‑los. E a todos 
aqueles que se perguntam se o farol da América ainda brilha todos os dias, 
provamos uma vez mais esta noite que a verdadeira força da nossa nação 
não vem do poder das nossas armas ou da extensão da nossa riqueza, mas 
sim da força das nossas ideias: a democracia, a liberdade, a oportunidade 
e a esperança que nunca morre. Este é o verdadeiro caráter da América: a 
sua capacidade de mudar (DISCURSOS..., 2010, p. 131‑4).
Registramos aqui apenas alguns dos trechos de sua fala e ressaltamos o caráter ideológico da 
valorização da unidade e da capacidade de superação das dificuldades internas e externas numa época 
em que indubitavelmente a liderança dos Estados Unidos não já era tão evidente assim, um pouco 
163
HISTÓRIA DA AMÉRICA CONTEMPORÂNEA
em razão da agressiva Era Bush (filho), mas também como consequência de uma crise financeira que 
teve epicentro nos Estados Unidos entre 2007 e 2008 e que se alastrou por quase todo o mundo, com 
consequências desastrosas para diversos países.
Apesar do tom conciliador e de esperança de um mundo melhor, o projeto de derrotar os inimigos 
desse sonho americano prossegue e em 2011 Barack Obama faz outro discurso “histórico”, mas agora 
noutro sentido,
A Casa Branca. Escritório do Secretário de Imprensa. Para divulgação 
imediata. 23h36 – Horário de verão da Costa Leste dos EUA, domingo, 1º 
de maio de 2011. Presidente Obama: Boa noite. Esta noite posso informar 
ao povo americano e ao mundo que os Estados Unidos realizaram uma 
operação que matou Osama bin Laden, líder da Al Qaeda e terrorista 
responsável pelo assassinato de milhares de homens, mulheres e crianças 
inocentes. [...] Há quase 10 anos, um lindo dia de setembro foi obscurecido 
pelo pior ataque ao povo americano na nossa história. As imagens do 
11 de Setembro estão marcadas em nossa memória nacional – aviões 
sequestrados cruzando o céu limpo de setembro, as Torres Gêmeas 
desabando, a fumaça negra subindo do Pentágono, os destroços do voo 
93 em Shanksville, Pensilvânia, em que as ações de heróicos cidadãos 
impediram mais tristeza e destruição. [...] logo após tomar posse, ordenei 
a Leon Panetta, diretor da CIA, que fizesse do assassinato ou captura de 
Osama bin Laden prioridade máxima de nossa guerra contra a Al Qaeda. 
[...] Ao mesmo tempo, devemos também reafirmar que os Estados Unidos 
não estão – e nunca estarão – em guerra com o Islã. [...] Bin Laden não 
era um líder muçulmano. Ele era um assassino em massa de muçulmanos 
(MISSÃO diplomática..., 2011).
Se acreditarmos apenas nos aspectos superficiais dos discursos políticos, sendo assim capturados 
pela lógica dos produtores dessas falas, podemos considerar uma aproximação com diversos países 
no sentido de se modernizar politicamente para sobreviver no século XXI, mas, se uma análise 
mais detida é elaborada, fica mais fácil de observar que os discursos favoráveis a um ou outro 
país acabam por auxiliar o impedimento da formação de conjuntos regionais muito fortes. Tal 
observação não exclui a questão da liderança dos Estados Unidos, no cenário econômico mundial 
no início do século XX.
Internamente, Obama sofre derrotas políticas impostas pela oposição republicana e também pelo 
escândalo do vazamento de informações sigilosas num escândalo conhecido como Wikileaks promovido 
por Assange, e isso tem contribuído para o desgaste da Era Obama.
Em diversos momentos da História recente, os Estados Unidos precisaram se articular no sentido 
de estabelecer os parâmetros continentais para que sua liderança fosse assegurada. Se voltarmos o 
olhar para a Doutrina de Monroe, que apregoava “América para os americanos”, isso fica evidente. No 
entanto, em termos práticos, e mais relevantes para nossas discussões, visamos ao período pós‑Guerra 
164
Unidade IV
Fria, e principalmente, naquele momento em que os Estados Unidos novamente buscou desenvolver sua 
política continental.
A integração regional voltou para a agenda política dos Estados Unidos e diversas iniciativas de 
encontros, acordos e aproximações econômicas auxiliaram nesse movimento. Desde os acordos comerciais 
como o Nafta (implementado em 1º de janeiro de 1994 e com intensas reações populares locais contra ele 
mas que veremos mais adiante quando tratarmos de movimentos sociais contemporâneos), envolvendo 
Estados Unidos, Canadá e México até a Área de Livre Comércio das Américas – chamada de Alca, existe 
um esforço no sentido mencionado.
Os Estados Unidos, no início dos anos 1990 viviam a já mencionada rearticulação neoconservadora 
em sua política interna, mas economicamente ganhava força a propaganda neoliberal e na primeira 
Era Bush (pai) isso fica claro com o Nafta para o Norte, mas também – o que é particularmenterelevante ao Brasil, o Mercosul visava integrar Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai – segundo a 
lógica do neoliberalismo que foi, indiscutivelmente, uma política norte‑americana de promoção de 
seus fundamentos econômicos. O alinhamento aos Estados Unidos ocorreu naquilo que passou a 
ser chamado de Consenso de Washington, segundo o qual o neoliberalismo acaba por se tornar a 
política desses Estados também – então recém‑saídos de longas e sangrentas ditaduras militares. 
Os governos de Fernando Collor de Melo, no Brasil (entre 1990 e 1992 – que marcou época por 
ser o primeiro presidente eleito do Brasil de forma direta na Nova República e também por seu 
impeachment em 1992, com intensa mobilização popular nas ruas do Brasil) e no caso dos vizinhos 
argentinos, era o governo de Carlos Menem (entre 1989 e 1999). A crise política no Brasil alçou ao 
comando do executivo nacional Itamar Franco (1992‑4), que desenvolveu ainda mais esse aspecto 
continental, tendo deixado a articulação do processo sob responsabilidade de seu Ministro das 
Relações Exteriores, entre 1992‑3, Fernando Henrique Cardoso, que posteriormente foi eleito 
presidente do país.
As ambiguidades da época são bem apontadas por Pecequilo (2012, p. 41), uma vez que 
internamente ocorre a manutenção do Plano Real e o governo segue a cartilha neoliberal de 
privatizações com redução da presença do Estado em diversos setores, mas externamente não 
enfatiza a participação na OMC ou a América Latina – o que nos indica não ser a região uma 
prioridade de seu governo uma vez que foi preferida a articulação com potências de outros 
continentes como a China, a Rússia e a Índia. Esse quadro, no entanto, sofre uma reviravolta nos 
dois governos de Luis Inácio Lula da Silva (2003‑2010), com sua ênfase no papel da liderança do 
Brasil e na intensificação das articulações regionais próximas, no caso, dos parceiros vizinhos. Foi 
emblemático em seu governo, a aproximação da Venezuela, sob o governo de Hugo Chávez (entre 
1999 e 2012) e também com Cuba.
165
HISTÓRIA DA AMÉRICA CONTEMPORÂNEA
Equador
Trópico de Capricórnio
Brasil
 Guianas
1 – Guiana Francesa
2 – Suriname
3 – República Cooperativa da Guiana
 América Andina
4 – Venezuela
5 – Equador
6 ‑ Peru
7 – Bolívia
8 – Chile
9 – Colômbia
 América Platina
10 ‑ Paraguai
11 – Argentina
12 – Uruguai
Figura 50 – Países da América do Sul
Em termos continentais, a maior articulação econômica foi obra da administração Clinton e 
uma tendência retomada com Obama. Diversas cúpulas continentais ocorreram para assegurar a 
implementação daquilo que foi alardeado como sendo a democracia e a boa governança. No ano 2000, 
ocorreu a I Cúpula de Brasília e da reunião dos chefes de Estado sulamericanos nasceu uma proposta 
de Integração da Infraestrutura Regional Sul‑Americana (IIRSA), dando ênfase a setores locais como 
telecomunicações, transportes e energia – problemas comuns aos diversos países.
As mudanças podem ser percebidas em termos de um salto qualitativo, nas palavras de Pecequilo (2012)
Também foi apresentado o conceito de “globalização assimétrica”, de crítica 
moderada à globalização (SILVA, 2009), e retomados os contatos com as 
potências regionais do mundo em desenvolvimento. A reaproximação 
do Brasil com nações como a China, Rússia e Índia não trazia, porém, 
um sentido político mais amplo, mas representava a quebra dos padrões 
de alinhamento que dominaram os anos 1990. Esse salto qualitativo foi 
observado a partir do governo Lula (2003/2010). Lula consolidou o fim dos 
alinhamentos e imprimiu uma nova agenda interna e externa para o país. Em 
termos internos, a retomada de políticas sociais (Fome Zero, investimentos 
em saúde e educação) e de ações de desenvolvimento, trouxe uma nova 
era de crescimento econômico, que levou à consolidação da estabilidade e 
a diminuição da vulnerabilidade do país. Na dimensão externa, essa política 
166
Unidade IV
levou a ganhos de poder com o reforço do poder brando brasileiro e a 
retomada de seu papel de líder do Terceiro Mundo. A ênfase na cooperação 
Sul‑Sul, mas sem abandonar o Norte‑Sul, reforçaram a atuação brasileira no 
mundo e na região. Em termos globais, isso significou a aproximação com 
os países emergentes, posturas mais assertivas no multilateralismo e, na 
região, observou‑se a continuidade da IIRSA e o lançamento do projeto da 
Comunidade Sul‑Americana de Nações (Casa) em 2004, depois renomeada 
UNASUL (União Sul‑Americana de Nações) a partir de 2007. Em 2004, ainda, 
o Brasil passou a líder a Missão de Estabilização das Nações Unidas no Haiti 
(Minustah), demonstrando seu papel afirmativo e assertivo na região e nas 
Nações Unidas (PECEQUILO, 2012, p. 46‑7).
Ressaltamos, no entanto, outro aspecto fundamental que ganhou força – apesar de muitas vezes 
não ser muito presente nos noticiários regionais da época – que foram as reações ao movimento 
genericamente tratado por globalização.
Carlos Fuentes, eminente escritor mexicano, observou com muita propriedade os momentos críticos 
que envolveram o início do século XXI e registrou sua visão de mundo e percepção do que estava 
ocorrendo num livro chamado Contra Bush, de 2004.
A necessidade de restaurar uma ordem jurídica internacional, multilateral 
e confiável, dedicada a resolver os conflitos políticos mediante negociação 
diplomática e os conflitos sociais mediante solidariedade internacional. 
Subjacentes aos eventos [...] existem seis bilhões de seres humanos à espera 
de um mundo de cooperação que se ocupe da vasta pauta do trabalho e 
da saúde, da educação e da habitação. Não teremos um mundo justo e 
equilibrado se não atendermos a essas necessidades. Exaltar o “choque de 
civilizações” propicia os fundamentalismos violentos de um e de outro lado, 
esquecendo que todos somos descendentes de encontros de civilizações 
e que nos incumbe respeitar as diferenças e somar as semelhanças das 
grandes culturas humanas. [...] O presidente Bill Clinton declarou, com 
grande propriedade: ‘não se vencerá o terror se não se conseguir determinar 
a maneira de um mundo interdependente’. Esse é o grande problema de 
nossa época e George W. Bush não contribuiu para resolvê‑lo, somente para 
exacerbá‑lo (FUENTES, 2004, prefácio).
Vale lembrar que o vice de Bush era Cheney e que da administração pública ele passou a controlar 
uma corporação, a Halliburton Incorporated, que administra mais de cem mil funcionários e que chega 
a faturar anualmente mais de quinze bilhões de dólares e que essa empresa é grande produtora e 
fornecedora de insumos e tecnologia petrolífera. E, segundo Fuentes (2004),
A Halliburton Inc. ampliou seus interesses da Argélia a Angola, da Nigéria à 
Venezuela, do Mar do Norte ao Oriente Médio, e da Birmânia a Bangladesh. 
“Os Estados Unidos não tem amigos, têm interesses”, disse cinicamente John 
167
HISTÓRIA DA AMÉRICA CONTEMPORÂNEA
Foster Dulles, secretário de Estado do presidente Eisenhower. Mais sutil, 
Cheney declarou: “É lamentável que o bom Deus não haja posto as jazidas 
de petróleo nas nações democráticas” (FUENTES, 2004, p. 13).
Carlos Fuentes, relata ainda que, em um texto de 18 de janeiro de 2001, com o título “Adeus, Mr. 
Clinton”, que
Num jantar com Gabriel García Marquez e Bernardo Sepúlveda, perguntei ao 
presidente Clinton quem eram seus piores inimigos. Sem hesitar, o presidente 
respondeu: “a extrema direita fundamentalista’ (FUENTES, 2004, p. 25).
As complexas relações entre México e Estados Unidos também foram objeto de discussões no início 
do século XX, sendo que em 2001 indicava Carlos Fuentes que Vicente Fox, presidente mexicano, e 
George W. Bush se encontraram em Guanajuato, no México, para discutir quatro pontos, a saber: drogas, 
trabalho, comércio e energia.
Por ocasião da reafirmação de seus princípios, Bush e seu o procurador geral John Ashcroft tomaram 
medidas para combater o terror, a saber,
• Criação de tribunais militares secretos para julgar e condenar as 
pessoas suspeitas de ser, poder ser ou quererser terroristas.
• Faculdade arbitrária do executivo para decidir quem vai ser julgado 
pelos tribunais ad hoc.
• Celebração de julgamentos secretos em alto‑mar ou em bases 
militares como guantánamo, em cuba.
• Abolição de jurados e sua substituição por comissões de oficiais das 
forças armadas.
• Supressão do direito do acusado de se comunicar com seus advogados.
• Revogação do princípio de que toda pessoa é inocente até prova em 
contrário, em favor do princípio de culpabilidade e, em consequência, 
da responsabilidade do acusado em provar que é inocente.
• Advogados defensores impostos pelo tribunal, sem consulta do acusado.
• O acusado e seus advogados não terão acesso aos documentos da 
acusação.
• A culpabilidade não exigirá, como estabelece o direito vigente, provas 
“além de qualquer dúvida razoável”.
168
Unidade IV
• Bastará a decisão majoritária e discricional dos juízes militares.
• Não haverá direito a apelações (FUENTES, 2004, p. 62‑3).
Fuentes alega que
Apesar de todas as salvaguardas, [...] o governo de Bush Jr. diz não. E o faz 
para afirmar que os EUA não estão sujeitos a nenhuma lei ou jurisdição 
superior aos próprios EUA. Paradoxo dos paradoxos: na era da globalização, 
quando se celebra ou lamenta, conforme o caso, a morte das soberanias 
nacionais, a potência máxima do mundo afirma sua própria soberania em 
grau sem precedentes, pelo menos, desde a época do Império Romano. Sem 
poderes limitantes ou equilíbrios potenciais, os Estados Unidos dizem ao 
mundo: minha soberania é inviolável, a sua não. Ou seja, neste mundo existe 
uma regra para os EUA, e outra para os demais países (FUENTES, 2004, p. 83).
Afirma o mesmo autor que Bush é um “tratadicida” (FUENTES, 2004, p. 84), ficando evidente o tom 
das acusações. Não significa que ao relacioná‑las aqui estejamos corroborando com todos os pontos 
ressaltados, mesmo porque o fundamental é seu olhar crítico. Lembra Fuentes que na administração que 
chama de Bush Jr. os Estados Unidos ficaram contra o Tratado de Kioto e a favor das emissões nocivas 
de gases. Contra o Protocolo sobre Armas Nucleares. Contra o Tratado de Experiências Nucleares. Contra 
o Tratado de Minas Antipessoais. A favor da exploração petrolífera em zonas ecológicas do Alasca. E a 
favor de medidas protecionistas do aço e dos gigantescos subsídios à agricultura.
Exemplo de aplicação
Você consegue relacionar as discussões ecológicas presentes no início do século XXI em relação ao 
desmatamento, poluição e esgotamento de recursos hídricos – além de problemas de planejamento e 
infraestrutura, com as questões apresentadas em conferências ambientais internacionais, tais como a 
ECO‑1992?
Mencionamos, ainda, as mais recentes alterações em termos de política externa nas Américas quando 
por ocasião da Cúpula das Américas, em 2014, no Panamá, a imprensa especializada pôde noticiar um 
gesto que simboliza uma sensível alteração das relações entre Estados Unidos e Cuba quando seus 
chefes de Estados – Barack Obama e Raul Castro – apareceram juntos em um cumprimento que, de 
alguma maneira, acena para novas relações para o século XXI.
7.6.1 Estados Unidos e o início da era Trump – 2017
O final da era Obama foi marcado pela eleição, em 2016, do Republicano de Donald Trump, 
derrotando a candidata democrata e ex‑primeira dama, Hillary Clinton – candidatura que sucederia a 
Obama, que não podia concorrer a um terceiro mandato. A eleição foi muito discutida, pois o sistema 
norte‑americano é bastante diferente do brasileiro, uma vez que Hillary Clinton obteve mais votos entre 
a população, mas como não venceu no colégio eleitoral não ficou com o cargo.
169
HISTÓRIA DA AMÉRICA CONTEMPORÂNEA
 Saiba mais
No Brasil, na Nova República, não temos eleições por colégio eleitoral. 
O último caso recente foi a eleição indireta de Tancredo Neves, derrotando 
Paulo Maluf, em 1984, para o primeiro mandato pós‑Ditadura Cívico Militar 
(1964‑1985), mas com a morte de Tancredo Neves o cargo ficou com José 
Sarney. Sobre isso, indicamos dois filmes:
O PACIENTE: o caso Tancredo Neves. Dir.: Sérgio Resende. Brasil: Globo 
Filmes, 2018. 100 min.
TANCREDO: a travessia. Dir.: Silvio Tendler. Brasil, 2011. 104 min.
Em sua campanha, Trump adotou como slogan “Make America Great Again!” (Torne a América Grande 
Novamente!), e estruturou suas propostas como a antítese da era Obama, prometendo retirar o país de 
acordo internacionais relacionados à proteção ambiental, tornar mais rigorosa a política anti‑imigração 
– tendo como ponto mais famoso e controverso a construção de um muro entre os Estados Unidos e 
o México, custeado pelos próprios mexicanos. O governo Trump tem sido marcado na política externa 
por debates relacionados a tarifas e aumento de taxas externas, rivalizando muitas vezes com a nova 
potência emergente no início do Terceiro Milênio e, também, no século XXI – a China. Na política interna, 
em dezembro de 2019 foi processado e teve encaminhado o seu pedido de impeachment – aprovado 
pela Câmara dos Representantes (semelhante à Câmara dos Deputados no Brasil), mas absolvido pelo 
Senado, o que encerrou o caso.
Podemos considerar que a história da América Contemporânea ganha complexidade à medida que 
chega cada vez mais próxima de nossa época. Isso equivale a dizer que é preciso desenvolver cada 
vez mais a capacidade de analisar criticamente as informações que circulam, as produções da grande 
imprensa e mesmo de diversas áreas culturais. Se a chamada era Trump começa envolvida em grandes 
discussões, beirando crises, é sinal de que novos tempos se anunciam. Não se está dizendo com isso que 
são tempos de grandes rupturas ou calamidades, mas que é importante ter o olhar atento para todas as 
referências que são produzidas e que podem influenciar nossa maneira de pensar e entender o mundo.
Se a Era Trump se inicia com o debate sobre uma possível crise na globalização – marcada na Europa 
pela saída da Inglaterra da União Europeia, naquilo que se convencionou, na grande imprensa, chamar 
de Brexit (vocábulo formado pela junção das palavras inglesas Britain e exit, que juntas formam a 
ideia de saída britânica) – antes mesmo da eleição de Trump –, muitos outros temas aparecem na 
ordem do dia.
A promessa de construção de um muro na fronteira com o México visando impedir a entrada 
de imigrantes, tidos como ilegais, as ações contrárias à entrada de muçulmanos no país, as disputas 
comerciais com a China e a saída de tratados internacionais de proteção ambiental são ações que 
reiteram um dos grandes lemas de campanha de Trump: a América em primeiro lugar.
170
Unidade IV
É curiosa essa crise e os ataques à globalização, pois esta teve como um de seus motores os EUA, 
com a implementação do neoliberalismo do governo de Ronald Reagan. Na atualidade, o debate sobre o 
desemprego intensifica‑se e discussões nacionalistas e xenofóbicas têm marcado presença nos debates 
e na mídia, principalmente, com a presença cada vez mais intensa da imigração.
 Saiba mais
Para conhecimentos adicionais a respeito da produção cultural e da 
construção do imaginário norte‑americano sobre a crise no mundo do 
trabalho e o impacto das relações entre os norte‑americanos e os chineses, 
indicamos o filme:
INDÚSTRIA americana. Dir.: Steven Bognar; Julia Reichert. Estados 
Unidos: Higher Ground Productions, 2019. 110 min.
E sobre o ano final da era Obama, indicamos:
THE final year. Dir.: Greg Barker. Estados Unidos: Motto Pictures, 2017. 
89 min.
7.6.2 América: território de tensões e enormes possiblidades nos anos iniciais da 
década de 2020
Para trazer aqui a diversidade das questões que envolvem os povos e países americanos no início 
do século XXI, podemos mencionar as muitas dificuldades enfrentadas pelo governo venezuelano de 
Nicolás Maduro, desde 2013, ou ainda a polarização de projetos políticos e de sociedade que envolveu 
a Argentina em 2019, quando nas eleições presidenciais, Alberto Fernández, e sua vice Cristina Kirchner, 
derrotaram o então presidente

Continue navegando