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Ana Carolina Teixeira Bastos – MEDICINA – 7 SEMESTRE Acidente vascular cerebral isquêmico DEFINIÇÃO • AVC é definido pelo aparecimento súbito de sintomas e/ou sinais causados por perda de uma função cerebral focal, algumas vezes global • duração superior a 24 horas, ou que levem à morte, sem outra causa aparente a não ser a de origem vascular. O acidente vascular isquêmico é causado por fluxo sanguíneo insuficiente em parte ou todo o cérebro, com ausência de extravasamento. EPIDEMIOLOGIA • atualmente é a causa mais comum de óbito no Brasil. Pode ser isquêmico (80- 85% dos casos) ou hemorrágico (15- 20%). • 85% das doenças vasculares cerebrais são isquêmicas. • Cerca de 75% das pessoas com AVC possuem mais que 65 anos, e sua incidência dobra a cada década após os 55 anos. • Predomínio no sexo masculino, após os 70 anos. FATORES DE RISCO • hipertensão arterial crônica • hipercolesterolemia • aterosclerose carotídea • fibrilação atrial. Outros fatores predisponentes relevantes incluem: tabagismo, abuso de álcool, diabetes mellitus, doença renal crônica, obesidade. CLASSIFICAÇÃO TROMBÓTICA • Originado na mesma artéria em que ocorreu o AVE. EMBÓLICA • Trombo originado de um local distante e caminha pela circulação até desencadear o AVE. Cardioembólico • A fonte é o coração, na maioria das vezes pela fibrilação atrial ou IAM. Ateroembólico • Típico em pacientes hipertensos, em que há presença de uma placa aterosclerótica instável na carótida comum ou bifurcação carotídea ou artéria vertebral. ETIOLOGIA AVC CARDIOEMBÓLICO • embolia cardíaca é responsável por cerca de 20% de todos os AVCs isquêmicos. Avc por cardiopatias Ana Carolina Teixeira Bastos – MEDICINA – 7 SEMESTRE • e embolia de material trombótico que se forma na parede atrial ou ventricular ou nas valvas cardíacas esquerdas. • esses trombos se desprendem e embolizam para a circulação arterial. • O trombo pode fragmentar-se ou sofrer lise rapidamente, produzindo apenas um AIT alojam-se com maior frequência nas: • artéria carótida interna intracraniana, na ACM • artéria cerebral posterior (ACP), ou em um de seus ramos; AVC embólico arterioarterial • A formação de trombos em placas ateroscleróticas pode embolizar para artérias intracranianas, produzindo AVC embólico arterioarterial. ATEROSCLEROSE CAROTÍDEA • A aterosclerose dentro da artéria carótida ocorre com mais frequência dentro da bifurcação da carótida comum e da artéria carótida interna proximal; o sifão carotídeo (porção dentro do seio cavernoso) também é vulnerável à aterosclerose. • Sexo masculino, idade mais avançada, tabagismo, hipertensão, diabetes e hipercolesterolemia são fatores de risco para doença carotídea CAUSAS MENOS COMUNS DE ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL distúrbios de hipercoagulação • aumentam principalmente o risco de trombose venosa cortical ou do seio venoso cerebral trombose de seio venoso • do seio lateral ou sagital ou das pequenas veias corticais (trombose venosa cortical) • complicação do uso de contraceptivos orais, da gravidez e do puerpério, de doença inflamatória intestinal, infecções intracranianas (meningite) e desidratação. ANATOMIA VASCULAR O encéfalo é irrigado por dois sistemas arteriais: (1) carotídeo (anterior); (2) vertebrobasilar (posterior). A anterior se torna: cerebral média, cerebral anterior e coroide anterior. CEREBRAL MÉDIA • é a principal artéria do cérebro, infelizmente a mais acometida no AVE isquêmico. • Desenvolve artérias perfurantes que irrigam o tálamo, os gânglios da base e a cápsula interna. • O ramo superior irriga o córtex e a substância subcortical (fibras) de quase todo o lobo frontal (córtex motor piramidal, pré-motor, área do olhar conjugado, área de Broca Ana Carolina Teixeira Bastos – MEDICINA – 7 SEMESTRE • lobo parietal que faz parte da área somatossensorial primária e associativa, área associativa geral dos giros supramarginal e angular) e parte superior do lobo temporal (área de Wernicke). • Se houver oclusão de toda a ACM em sua origem (obstruindo seus ramos penetrantes e corticais) e as colaterais distais forem limitadas, os achados clínicos são hemiplegia contralateral, hemianestesia, hemianopsia homônima e 1 ou 2 dias de olhar preferencial para o lado ipsilateral. ARTÉRIA CEREBRAL ANTERIOR • Irriga a porção anterior, medial e orbitária do lobo frontal. • Além disso, emite ramos perfurantes para nutrir a porção anterior da cápsula interna, corpo amigdaloide, hipotálamo anterior e uma parte da cabeça do núcleo caudado. ARTÉRIA BASILAR • irrigam a base da ponte e a parte superior do cerebelo • Podem ocorrer lesões ateromatosas em qualquer ponto ao longo do tronco da basilar, porém são mais frequentes nos segmentos basilar proximal e vertebral distal. • Em geral, as lesões ocluem a artéria basilar proximal e uma ou ambas as artérias vertebrais. • O quadro clínico varia segundo a disponibilidade de fluxo colateral retrógrado pelas artérias comunicantes posteriores. FISIOPATOLOGIA • O AVE isquêmico se manifesta pela súbita instalação de um deficit neurológico focal persistente, como consequência a uma isquemia seguida de infarto no parênquima encefálico. Cérebro, diencéfalo, tronco ou cerebelo. • É decorrente da oclusão aguda de uma artéria de médio ou pequeno calibre. TRÊS PRINCIPAIS MECANISMOS. (1) oclusão de um vaso intracraniano por êmbolo que se origina em local distante (p. ex., fontes cardiogênicas como fibrilação atrial ou êmbolos arterioarteriais de placas ateroscleróticas carotídeas), muitas vezes acometendo os grandes vasos intracranianos; (2) trombose in situ de um vaso intracraniano, em geral afetando as pequenas artérias penetrantes que se originam nas principais artérias intracranianas; (3) hipoperfusão causada por estenose por limitação de fluxo de um grande vaso extracraniano (p. ex., carótida interna) ou intracraniano, frequentemente gerando isquemia na “zona de fronteira”. OCLUSÃO • A oclusão aguda de um vaso intracraniano reduz o fluxo sanguíneo para a região cerebral que ele supre. • O grau de redução do fluxo é uma função do fluxo sanguíneo colateral, e este depende da anatomia vascular individual (que pode ser alterada pela doença), do local de oclusão e da pressão arterial sistêmica. • Uma diminuição do fluxo sanguíneo cerebral para zero causa morte do tecido cerebral em 4 a 10 minutos Se o fluxo sanguíneo for restaurado para o tecido isquêmico antes do desenvolvimento de infarto significativo, o paciente pode apresentar apenas sintomas transitórios, e a síndrome clínica é denominada ataque isquêmico transitório (AIT). penumbra isquêmica, definida como a área de tecido isquêmico, mas com disfunção reversível, ao redor de uma área central de infarto. Ana Carolina Teixeira Bastos – MEDICINA – 7 SEMESTRE INFARTO CEREBRAL FOCAL (1) uma via necrótica na qual a degradação do citoesqueleto celular é rápida, devido principalmente à insuficiência energética da célula; (2) uma via apoptótica na qual as células são programadas para morrer. • A isquemia produz necrose ao privar os neurônios de glicose e oxigênio, o que, por sua vez, resulta em incapacidade das mitocôndrias de produzir ATP. • Os sintomas neurológicos manifestam- se em segundos porque os neurônios carecem de glicogênio; portanto, a insuficiência de energia instaura-se rapidamente. • Se a interrupção do fluxo durar mais do que alguns minutos, sobrevém o infarto ou morte de tecido cerebral QUADRO CLÍNICO • As manifestações variam de acordo com a artéria ocluída e a região cerebral afetada. • qualquer déficit neurológico de início súbito. • quadroclínico é muito variável e dependente fundamentalmente da região do encéfalo acometida. SÍNDROMES LACUNARES Hemiparesia motora pura • lesão localizada na cápsula interna ou na ponte por compromisso das artérias lenticuloestriadas ou perfurantes pontinas, respectivamente. • Caracteriza-se por hemiparesia completa proporcionada, na maioria das vezes, na ausência de alterações sensitivas; AVC puramente sensitivo lesão localizada no tálamo por oclusão das artérias talamoperfurantes. Caracteriza-se por perda sensorial ou parestesia contralateral; Hemiparesia atáxica • lesão localizada na ponte ou na cápsula interna por compromisso das artérias perfurantes pontinas e lenticuloestriadas, respectivamente. • Caracterizada por hemiparesia e ataxia do lado com predomínio de paresia crural; Disartria – síndrome “da mão desajeitada” • lesão na ponte ou na cápsula interna contralateral. • Caracteriza-se por fraqueza facial central, disartria e disfagia graves, paresia e desjeito da mão, com incapacidade de manobrar uma caneta ou lápis normalmente. TERRITÓRIO VASCUALAR Artéria cerebral média 1. Fraqueza da mão, ou do braço e da mão (síndrome braquial); 2. Fraqueza facial com afasia motora (de Broca) – hemisfério dominante; 3. Fraqueza ou não no braço (síndrome opercular frontal); 4. Afasia de expressão (de Wernicke) – hemisfério dominante; 5. Déficit motor clássico – hemiparesia/plegia completa desproporcionada de predomínio braquifacial. Artéria cerebral média direita • Hemiparesia esquerda, paralisia facial central esquerda, hemi-hipostesia esquerda, heminegligência esquerda. Artéria cerebral média esquerda Ana Carolina Teixeira Bastos – MEDICINA – 7 SEMESTRE • Hemiparesia direita, paralisia facial central direita, hemi-hipostesia direita, afasia. Artéria cerebral anterior • Paresia e/ou hipostesia de membro inferior contralateral, rebaixamento do nível de consciência (especialmente se bilateral), incontinência urinária Artéria cerebral posterior • Hemianopsia homônima contralateral, hemi-hipostesia contralateral. SÍNDROME DE WEBER (SÍNDROME CRUZADA PIRAMIDAL DO III PAR) AVC do pedúnculo cerebral, hemiplegia completa contralateral + paralisia do III par ipsilateral, que pode ou não ser acompanhada de parkinsonismo (substância negra) e hemibalismo contralateral (núcleo subtalâmico); SÍNDROME DE DÉJÉRINE-ROUSSY AVC do tálamo posterolateral (artéria talamogeniculada), hemianestesia contralateral + dor talâmica espontânea; Artéria carótida interna • Mesmos déficits encontrados para a artéria cerebral média e artéria cerebral anterior, amaurose do olho ipsilateral Artérias do sistema vertebrobasilar • Vertigem, alteração de nervos cranianos (com exceção do nervo óptico e do nervo olfatório), hemiparesia e/ou hemi-hipostesia • contralateral, paralisia facial central contralateral, ataxia cerebelar DIGANÓSTICO É ESSENCIALMENTE CLÍNICO Um dos pontos fundamentais que o clínico deve ter em mente no atendimento do paciente com AVCi agudo é que a sua avaliação e a tomada de condutas devem ser ágeis e objetivas. Avaliar • Tempo de evolução do déficit neurológico • Exame físico detalhado: FC,ausculta cardíaca, FR. • Pressão arterial • Obter dados sobre antecedentes mórbidos e medicações em uso. Se o paciente fizer uso de anticoagulantes, questionar quando ele fez uso da última dose. • Avaliar a presença de contraindicações para trombólise endovenosa (TEV) • Reconhecimento de fatores de risco Metas Escala de coma de Glasgow Ana Carolina Teixeira Bastos – MEDICINA – 7 SEMESTRE Estabilização clínica inicial ABC (A – via aérea, B – breathing/respiração, C – cardiovascular e hemodinâmico). LABORATORIAIS • Hemograma • vHS, plaquetas • tempo de protrombina • tromboplastina parcial ativada e fibrinogênio A avaliação bioquímica deve incluir glicemia, função renal e hepática, perfil lipídico, ácido úrico e eletroforese de proteínas. TOMOGRAFIA DE CRÂNIO • A presença de uma das síndromes acima sugere fortemente AVE isquêmico, embora a TC de crânio não contrastada seja sempre ESSENCIAL para descartar AVE hemorrágico. • nas primeiras 12-24h, geralmente não mostra o AVE isquêmico, pois o infarto só tem expressão radiológica na TC após 24-72h, como uma área hipodensa (“cinza”) acompanhada de edema. • A TC inicial serve, portanto, para afastar AVE hemorrágico, pois a hemorragia aparece de imediato, como uma área hiperdensa (“branca”) RESSONÂNCIA NUCLEAR MAGNÉTICA • é um exame de maior acurácia do que a TC no diagnóstico do AVE isquêmico, devendo ser utilizada a sequência T2 ou o FLAIR (atenuação de fluido). DOPPLER TRANSCRANIANO • pode ajudar a descobrir qual é a artéria intracraniana obstruída. Ana Carolina Teixeira Bastos – MEDICINA – 7 SEMESTRE TRATAMENTO Os tratamentos que visam reverter ou reduzir a extensão do infarto tecidual e melhorar o desfecho clínico se enquadram em seis categorias: (1) suporte clínico; (2) trombólise intravenosa (IV); (3) revascularização endovascular; (4) tratamento antitrombótico; (5) neuroproteção (6) centros especializados em AVC e reabilitação. SUPORTE CLÍNICO • é otimizar a perfusão cerebral na penumbra isquêmica circundante. • hipoglicemia • (principalmente uma glicemia < 60 mg/dl • prontamente corrigida, pois por si mesma causa lesão neuronal. • A hiperglicemia deve ser tratada com insulina em pacientes hiperglicêmicos (> 180 mg/dl), sendo mantida entre 140-180 mg/dl. Hipertensão arterial • E. A regra é não baixar a PA no primeiro dia, a não ser que ela seja maior ou igual a 220 x 120 mmHg • Exceto se o paciente apresentar dissecção aórtica, IAM, edema agudo de pulmão, encefalopatia hipertensiva (isto é, a não ser que exista uma emergência hipertensiva). • A penumbra isquêmica é nutrida por colaterais que dependem diretamente da pressão arterial para manter seu fluxo. • Se a PA do paciente for reduzida rapidamente para < 140 x 90 mmHg, a penumbra será convertida em infarto (maior sequela neurológica). Vale frisar que o trombolítico só pode ser prescrito para pacientes com PA ≤ 185 x 110 mmHg. Após administração do trombolítico, a PA deve ser mantida abaixo de 180 x 105 mmHg nas primeiras 24h (diminui risco de transformação hemorrágica). nitroprussiato de sódio • (0,5 mcg/kg/min) quando a PA diastólica for > 140 mmHg, e o labetalol venoso no restante dos casos. TROMBÓLISE INTRAVENOSA (IV) • O estudo NINDS revolucionou o conceito terapêutico da fase aguda do AVE isquêmico, ao demonstrar que o rtPA reduz as sequelas do AVE (mas não a mortalidade). • quando aplicado dentro das primeiras três horas do início dos sintomas Critérios para o uso do rT Ana Carolina Teixeira Bastos – MEDICINA – 7 SEMESTRE REVASCULARIZAÇÃO ENDOVASCULAR • O AVC isquêmico por oclusão de um grande vaso intracraniano resulta em altas taxas de morbidade e mortalidade • As oclusões desses vasos calibrosos (artéria cerebral média [ACM], artéria carótida interna intracraniana e artéria basilar) costumam envolver um coágulo volumoso e, com frequência, não são desobstruídas apenas pelo rtPA IV. TROMBECTOMIA MECÂNICA VIA CATETERISMO INTRA-ARTERIAL • até 6-8h após o início dos sintomas, desde que se trate de oclusões de grandes vasos intracerebrais (ex.: carótida interna, cerebral média, basilar). • Para a sua indicação é necessário que a TC de crânio sem contraste inicialmente realizada seja complementada com uma angioTC (administração de contraste IV para delinear a anatomia vascular cerebral), uma angio-RM ou mesmo uma arteriografia convencional TRATAMENTO ANTITROMBÓTICO Antiagregante Plaquetário• Iniciar aspirina (160-300 mg) dentro das primeiras 48 horas do início do AVEi. Heparina • Deve ser prescrita na dose profilática, para prevenção de TVP/TEP • heparina não fracionada 5.000 UI a cada 8-12h, ou pela heparina de baixo peso molecular (ex.: enoxaparina 40 mg SC 1x/dia). OUTROS MEDICAMENTOS ESTATINAS • Estatinas de alta potência, como a atorvastatina, se mostraram benéficas na prevenção tanto primária quanto secundária do AVEi, sem aumentar as taxas de hemorragia intracraniana, mesmo nos pacientes que não apresentam níveis aumentados de LDL- colesterol.
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