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APG 11 (Acidente Vascular Encefálico - AVE) MORFOFISIOLOGIA SNC - Sistema Nervoso Central (SNC) possui um envoltório, a MENINGE, com três folhetos membranosos (o exter no, dura-máter, a aracnóide; e o mais interno, pia-máter) e alguns espaços entre eles. - Destes espaços, o peridural é utilizado em analgesias na região lombar, e o subaracnóide é o maior e preenchido por vasos, filamentos radiculares de nervos e líquido encéfalo raquiano (ou líquor). Dura-máter: é mais fibrosa e forma grandes pregas na cavidade craniana (foice do cérebro, tenda do cerebelo, diafragma da sela túrsica) e canais venosos importantes na drenagem (seios da dura-máter). - O maior dos seios da dura-máter é o seio sagital superior, sagital e mediano próximo à calota. - Porém na base o maior é o seio cavernoso, acima da asa maior do osso esfenóide e atravessado pela artéria carótida interna e alguns nervos cranianos. - O líquor (LCR) tem sua circulação apenas no SNC, sendo produzido nas paredes dos quatro ventrículos encefálicos (plexos corióides) e absorvidos para corrente venosa em granulações da aracnóide para os seios da dura-máter. - Os ventrículos encefálicos são quatro e se comunicam entre si, sendo os dois primeiros chamados de laterais (VL), dentro de cada hemisfério cerebral do telencéfalo. - O terceiro ventrículo encontra-se dentro do diencéfalo e o quarto ventrículo entre ponte, bulbo e cerebelo. Este último se comunica com o espaço subaracnóide, para circulação externa do líquor e com o terceiro ventrículo através do aqueduto cerebral mesencefálico. - Ainda se estuda no SNC a sua estrutura interna, após vários tipos de secção (transversais, frontais, sagitais e oblíquas). - A organização macroscópica pode ser vista pela visualização de SUBSTÂNCIA BRANCA (axônios mielinizados), SUBSTÂNCIA CINZENTA (corpos e dendritos) e a RETICULAR (intermediária do tronco encefálico). ENCÉFALO (CAVIDADE CRANIANA): - Tronco encefálico (bulbo, ponte e mesencéfalo): estrutura externa, interna e funções. - Continuação da medula espinal acima do forame magno, no osso occipital, logo se dilata no bulbo ou medula oblonga, parte mais inferior do tronco encefálico (TE). No meio do tronco, existe uma proeminência chamada ponte e, cranialmente, uma parte pequena, situada acima do cerebelo, chamada de mesencéfalo - Acima do tronco encefálico encontra-se o CÉREBRO (diencéfalo e telencéfalo) e por trás da ponte e bulbo situa-se o CEREBELO. - Cerebelo: estrutura externa, interna e funções; - O cerebelo está ligado ao tronco encefálico através de três pares de braços de substância branca chamados pedúnculos cerebelares superiores, médios e inferiores - Cérebro: Diencéfalo (tálamo, hipotálamo, infundíbulo e neurohipófise, subtálamo, epitálamo, glândula pineal, e terceiro ventrículo (paredes laterais, inferior e posterior); Telencéfalo (hemisférios cerebrais direito e esquerdo, ventrículos laterais direito e esquerdo, parede anterior do terceiro ventrículo). - O cérebro constitui cerca de 85% do encéfalo. - O teto do ventrículo III: é composto de uma tela corióide que produz líquor e está abaixo de estruturas telencefálicas medianas: fórnix e comissura do corpo caloso. - O tálamo: tem função integradora de sensibilidade mal definida como tato, dor e temperatura corporal; é estação retransmissora de quase toda sensibilidade discriminatória (exceto o olfato) além de importante estação de impulsos que chegam ou saem do córtex cerebral no controle da motricidade, ativação cortical e comportamento emocional (sistema límbico). - O epitálamo: está relacionado a núcleos do sistema límbico e a funções da glândula pineal (hormônio melatonina originado da serotonina) como ritmo circadiano das funções, maturação genital e imunológica. -O subtálamo: é lateral ao hipotálamo e não tem relação com a cavidade do ventrículo III; seu núcleo subtalâmico está ligado ao núcleo telencefálico globo pálido no controle da função motora somática. - O hipotálamo: está relacionado com funções motivacionais (sede, fome, sexo), hormonais (através do controle da hipófise), viscerais (controle do sistema nervoso visceral), ritmo circadiano (fibras retino-hipotalâmicas para os ritmos metabólicos de cerca de um dia de duração), temperatura corporal e sistema emocional (principal efetuador do componente periférico das emoções, o comportamento observado). - Em geral, atua indiretamente através de fibras hipotálamo-reticulares. O telencéfalo: divide-se em dois grandes hemisférios, ligados a uma parte mediana que forma a parede anterior do ventrículo III, com estruturas inter-hemisféricas comissurais: • lâmina terminal • comissura anterior Acima desta estrutura mediana, encontra-se a maior estrutura inter-hemisférica comissural, constituída de fibras transversais: o corpo caloso (joelho e esplênio). Logo abaixo dele passam duas fibras de projeção cortical, o fórnix direito e esquerdo (colunas e pernas), que liga a área mais antiga do córtex cerebral (hipocampo) ao hipotálamo. Porém, a maior fibra de projeção cortical (com aferência e eferência) chama-se cápsula interna, situada entre o tálamo - A ESTRUTURA EXTERNA é destacada pela presença de sulcos para a conexão com nervos cranianos: III e IV pares do mesencéfalo, V do meio da ponte, VI, VII e VIII pares do sulco bulbo-pontino e do IX ao XII de sulcos longitudinais ventrais e laterais do bulbo. - Os colículos do tecto mesencefálico são dois superiores e dois inferiores e são proeminências de núcleos internos da via óptica reflexa e auditiva, respectivamente. - A cavidade do tubo neural forma o aqueduto cerebral no menencéfalo, ligando o terceiro ao quarto ventrículo; este último se encontra entre o bulbo e ponte (ventrais) e o tecto ligado ao cerebelo posteriormente. - Na ESTRUTURA INTERNA a substância branca (SB) continua periférica à cinzenta, mas esta se encontra fragmentada por fibras transversais, diferente da medula espinal onde é contínua. - A substância cinzenta (SC) forma núcleos de nervos cranianos (sensitivos e motores) e outros que têm a ver com função motora cerebelar. Entre a SB e a SC existe uma formação intermediária chamada de formação reticular, onde encontramos núcleos e fibras em rede, com funções hoje muito pesquisadas. - No SNC estuda-se a superfície externa, com elevações ou sulcos que se relacionam com nervos e vasos. - A vascularização sanguínea é extensa e seu fluxo somente perde para o renal e o cardíaco. - Dois sistemas arteriais destacam-se na vascularização do SNC: • Sistema carotídeo interno • Sistema vértebro-basilar - Ambos se encontram na base craniana para formar o polígono de Willis ou círculo arterial cerebral, o qual dá origem a artérias profundas e às artérias cerebrais (corticais ou superficiais). - A drenagem venosa também se faz através de sistemas profundo e superficial, mas ambos passam pelos seios da dura-máter para sair do crânio e tomar as veias jugulares internas em direção ao coração. - A barreira hematoencefálica está constituída de um endotélio capilar fechado e um neurópilo (prolongamentos gliais espesso). - Os doze pares de nervos cranianos têm esse nome porque se originam no encéfalo, dentroda cavidade craniana, e passam através de vários forames do crânio. - Assim como os 31 pares de nervos espinais, eles integram a parte periférica do sistema nervoso (SNP). - Cada nervo craniano tem um número – indicado por um numeral romano – e um nome. Os números indicam a ordem, de anterior para posterior, na qual os nervos se originam no encéfalo. Os nomes designam a distribuição ou a função dos nervos. - Três nervos cranianos (I, II e VIII) contêm axônios de neurônios sensitivos e são, portanto, chamados de nervos sensitivos especiais. Na cabeça, eles são exclusivos e estão associados aos sentidos especiais do olfato, da visão e da audição, respectivamente. - Os corpos celulares da maioria dos nervos sensitivos estão localizados em gânglios situados fora do encéfalo. - Cinco nervos cranianos (III, IV, VI, XI e XII) são classificados como nervos motores, pois eles contêm apenas axônios de neurônios motores quando deixam o tronco encefálico. - Os axônios que inervam músculos esqueléticos são de dois tipos: Axônios motores branquiais inervam músculos esqueléticos que se desenvolvem a partir dos arcos faríngeos (branquiais) - Estes neurônios deixam o encéfalo por meio de nervos cranianos mistos e pelo nervo acessório. - Axônios motores somáticos inervam músculos esqueléticos que se desenvolvem a partir dos somitos da cabeça (músculos dos olhos e da língua). - Estes neurônios saem do encéfalo por meio de cinco nervos cranianos motores (III, IV, VI, XI e XII). Axônios motores que inervam músculos lisos, músculos cardíacos e glândulas são chamados de axônios motores autônomos e fazem parte da divisão autônoma do sistema nervoso. - Os quatro nervos cranianos restantes (V, VII, IX e X) são nervos mistos – contêm axônios de neurônios sensitivos que entram no encéfalo e de neurônios motores que deixam o encéfalo. - Embora os nervos cranianos sejam mencionados unitariamente em relação ao tipo, localização e função, lembrese de que eles são estruturas pareadas. Acidente Vascular Encefálico - Déficit neurológico atribuído a uma lesão focal aguda do SNC por uma causa vascular. - Sintomas tem que persistir por, pelo menos, 24 h. Epidemiologia - Caracteriza a 2ª causa de morte e a principal causa de incapacidade do adulto no mundo. - No Brasil, apresenta importância ainda maior, correspondendo atualmente à principal causa de morte e incapacidade. - Aproximadamente 80% dos AVC são isquêmicos, enquanto 20% são hemorrágicos. - A incidência de AVC aumenta com a idade, sendo que cerca de 2/3 de todos os AVCs ocorrem em pessoas com mais de 65 anos. - A incidência é um pouco maior em homens doque em mulheres, sendo maior em afrodescendentes do que em brancos. - A incidência de AVC diminuiu nas últimas décadas, principalmente em decorrência da melhora no tratamento da hipertensão. Fatores de risco gerais Não modificáveis - Idade avançada; sexo masculino; baixo peso ao nascer; etnia afrodescendente; história familiar de AVE. Modificáveis • Vasculares: Hipertensão (PA > 140 mmHg sistólica ou 90 mmHg diastólica); tabagismo; estenose de carótida assintomática (> 60% diâmetro); doença arterial periférica. • Cardíacos: Fibrilação atrial (com ou sem doença valvar); ICC; doença cardíaca coronariana. • Endócrinos: Diabetes mellitus; tratamento hormonal na pós- menopausa (estrogênio e/ou progesterona); uso de contraceptivos orais. • Metabólicos: Dislipidemia; colesterol total elevado (20%); HDL baixo (< 40 mg/dL); obesidade (especialmente, abdominal). • Hematológicos: Anemia falciforme. • Estilo de vida: Sedentarismo. AVE isquêmico agudo - O AVE isquêmico é definido como um episódio de disfunção neurológica causada por estenose ou oclusão vascular que resulta em infarto focal no cérebro, na medula espinal ou na retina sem um território vascular específico. Epidemiologia - Estima-se que 650.000 AVE isquêmicos agudos ocorram a cada ano nos EUA, sem mencionar outros países. - Os fatores de risco individuais mais significativos para AVE isquêmicos agudos incluem hipertensão arterial, a DM, tabagismo (cigarros), má nutrição, inatividade física, arritmias cardíacas, etilismo e obesidade. - As mortes hospitalares após AVE isquêmicos agudos são relativamente raras, ocorrendo em aproximadamente 5% dos casos, e estão associadas a envelhecimento, gravidade do AVE, história pregressa de fibrilação atrial, AVE prévio, estenose de artéria carótida, diabetes melito e história pregressa de doença da artéria coronariana (DAC). Fisiopatologia - Embora represente apenas 2% do peso corporal total, o cérebro consome 20% da energia total do corpo e depende de um aporte constante de glicose e oxigênio para manter suas funções e sua integridade estrutural. • Para assegurar um fluxo sanguíneo cerebral (FSC) constante através de uma gama de pressões sanguíneas e estados metabólicos, os vasos sanguíneos cerebrais se contraem ou dilatam em resposta a alterações nas concentrações de oxigênio e dióxido de carbono e ao estresse de cisalhamento nas paredes vasculares relacionado com a velocidade do fluxo sanguíneo. • O mediador primário da vasodilatação é o óxido nítrico (NO), que é liberado pelas células endoteliais e relaxa as células musculares lisas circunferenciais na túnica média. - Redução do fluxo sanguíneo cerebral: Quando a pressão de perfusão cerebral se torna inferior a aproximadamente 60 mmHg, seja em decorrência de hipotensão sistêmica ou bloqueio arterial localizado, a vasodilatação autorreguladora não consegue compensar isso com consequente redução do fluxo sanguíneo cerebral de sua variação normal de 50 a 60 mℓ/100 g/min. Fluxo sanguíneo cerebral < 30 mℓ/100 ,g/min: Troca regional de nutrientes e oxigênio cai na unidade neurovascular (célula endotelial, pericitos circundantes, membrana basal, astrócitos perivasculares e neurônios adjacentes), resultando em despolarização patológica de neurônios e da glia e supressão da atividade elétrica normal como evidenciado por alentecimento e atenuação da atividade eletroencefalográfica de fundo; Fluxo sanguíneo cerebral < 20 mℓ/100 g/min: Deflagra uma cascata de lesão isquêmica que pode evoluir para necrose neuronal irreversível e infarto cerebral. - Com a isquemia, há depleção de ATP e perda do potencial de membrana, que é essencial para a atividade elétrica neuronal. o Juntamente a ela, há elevação dos níveis de cálcio citoplasmático, que por sua vez ativa uma cascata de processos enzimáticos que contribuem para as lesões celulares. Cerne do infarto e penumbra: Quando o fluxo sanguíneo cerebral cai abaixo de 20 mℓ/100 g/min, pressupondo uma taxa normal de metabolismo neuronal, o tecido nervoso evolui de um estado de disfunção elétrica reversível para um estado de “penumbra” de lesão citotóxica e morte celular programada (apoptose). • Penumbra: Sombra que avança sobre a terra antes da escuridão completa de um eclipse solar. Na terapia moderna do AVE, o tecido no estado de penumbra consiste em tecido cerebral ameaçado de morte. • A falha da bomba transmembrana ATP sódio/potássio ocorre primeiro, despolarizando os neurônios e a glia. • A despolarização disseminadaprovoca liberação descontrolada de neurotransmissores excitatórios como glutamato, que resultam, por sua vez, em influxo intracelular de cálcio e sódio. • Após a fase de excitotoxicidade e apoptose ser iniciada, ocorre uma fase de falência bioenergética com disfunção da bomba iônica e perda dos gradientes normais transmembrana de sódio e cálcio. • No cerne do infarto, onde é maior a falência bioenergética, esses desvios eletrolíticos maciços fazem com que a água siga passivamente seu gradiente osmótico, resultando em tumefação celular e, por fim, lise. • O resultado é um edema citotóxico (tumefação intracelular). • Visualizado na RM • O cerne do infarto é circundado por uma área de hipoperfusão relativa, a penumbra isquêmica , na qual o fluxo sanguíneo cerebral é suficiente para manter temporariamente a sobrevida celular, mas não consegue manter indefinidamente a função celular normal. • O tecido na área de penumbra pode ser salvo se perfusão adequada para o território puder ser restaurada em tempo hábil e isso é a base de todas as terapias de perfusão do AVE isquêmico agudo. • O tecido na área de penumbra é instável e, com frequência, evolui para infarto completo com o passar do tempo, tornando o intervalo de tempo até reperfusão o fator terapêutico mais importante para a melhora do desfecho neurológico e a prevenção de morte após AVE isquêmico agudo. Infarto completo Estima-se que o intervalo de tempo desde a oclusão vascular até o infarto completo varie, na maioria dos casos, de 3 a 6 h, dependendo das características do fluxo colateral. • Após a necrose e o infarto do tecido, ele passa a ser facilmente visualizado na TC e na sequência FLAIR (inversão- recuperação atenuada por líquido) da RM. • O fluxo sanguíneo cerebral é conservado em níveis quase normais até a margem de um infarto completo onde cai para níveis indetectáveis enquanto o vaso comprometido permanecer ocluído. • Nos dias seguintes o infarto se torna progressivamente edemaciado. • As células isquemiadas que evoluem para infarto tecidual franco liberam várias citocinas pró-inflamatórias e proteases que rompem a arquitetura e a função da unidade neurovascular, aumentando a permeabilidade da barreira hematencefálica. • A apoptose é deflagrada por vários processos inflamatórios, inclusive a combinação de receptor/ligante do receptor CD95 e TRAIL (ligante induzindo apoptose relacionada com fator de necrose tumoral) e liberação de citocromo-Coxidase pela membrana mitocondrial, que resultam na ativação da cascata de morte celular programada intrínseca e morte celular tardia. • A resposta inflamatória do parênquima resulta de suprarregulação dos receptores de adesão leucocitária das células endoteliais que provocam adesão leucocitária e transmigração para o tecido afetado e é responsável pelo prolongado processo de inflamação e remodelagem teciduais após um infarto se completar, enquanto o edema desaparece e as regiões envolvidas se tornam tecido fibrótico gliótico. Etiologia Aterosclerose de grande artéria - (15 a 40% dos casos) A placa de aterosclerose pode surgir em qualquer ponto ao longo da árvore arterial extracraniana ou intracraniana, mas geralmente é encontrada nos pontos de ramificação vascular onde ocorre fluxo turbulento, mais comumente na bifurcação da artéria carótida comum, na origem da artéria vertebral, na junção vertebrobasilar ou na origem das artérias cerebrais anterior ou média. - A placa aterosclerótica provoca AVE isquêmico por um de 2 mecanismos: Hipoperfusão através de uma região de estenose crítica Ruptura da placa resultando na formação de trombo e subsequente embolização distal do trombo ou dos fragmentos da placa Fragmentos da placa aterosclerótica ou um trombo “novo” formado no topo da placa emboliza(m) e oclui(em) um vaso distal. o As placas com cerne necrótico rico em lipídios e envoltório fibroso delgado implicam em risco de ruptura espontânea e ativação da cascata da coagulação que resulta em formação de trombo superposto. OBS: Do ponto de vista clínico, é difícil diferenciar a isquemia consequente a aterosclerose de grandes artérias do AVE de origem cardíaca (AVE cardioembólico). • Aterosclerose de grandes artérias existe a ocorrência de repetidos ataques isquêmicos transitórios ou infartos completos no mesmo território vascular e o melhor exemplo consiste em episódios repetidos de cegueira monocular transitória indolor relacionada com aterosclerose da artéria carótida ipsilateral (amaurose fugaz). • Resulta de êmbolos de colesterol provenientes da placa na artéria carótida e provoca oclusão da artéria retiniana central ou uma de suas ramificações. AVE cardioembólico - (15 a 30% dos casos) - Todos os episódios de AVE causados por tromboembolia secundária a um evento cardíaco. - Mais comumente, cardioembolia ocorre a partir de trombo formado no apêndice atrial esquerdo do coração de pacientes com fibrilação atrial, contudo, cardioembolia também pode resultar de lesão em valva nativa ou em prótese valvar ou de trombo em parede ventricular resultante de infarto do miocárdio recente ou miocardiopatia dilatada grave. • Os AVE cardioembólicos também podem ter causas neoplásicas, tais como mixoma atrial ou endocardite marântica, ou causas infecciosas, como endocardite infecciosa. • Nas técnicas de imagem, AVE dispersos na junção das substâncias branca e cinzenta nos 2 hemisférios ou nas circulações anterior e posterior são, mais provavelmente, cardioembólicos. Infarto de pequenos vasos/AVE lacunares - (15 a 30% dos casos) - Consequentes à oclusão de pequenos vasos; são definidos clinicamente por 4 subtipos gerais: hemiparesia motora pura, síndrome sensorial pura, síndrome sensorimotora atáxica e disartria-mão desajeitada, embora várias outras manifestações possam ocorrer dependendo do território do vaso acometido. • Esses AVE resultam do bloqueio de pequenas artérias perfurantes oriundas da artéria cerebral média (ACM) (lenticuloestriadas), das artérias cerebral posterior ou comunicantes posteriores (tuberotalâmica, paramediana, coroidal posterior, inferolateral) e da artéria basilar (perfurantes pontinas). o Esses vasos são propensos a desorganização e fibrose da parede arterial segmentar (lipo- hialinose) e formação de microateroma. • Com o passar do tempo, a parede arterial se torna espessada e ocorre redução do lúmen do vaso, provocando o aparecimento de uma região de isquemia aguda que geralmente tem menos de 1,5 cm de diâmetro. • Hipertensão arterial é o maior fator de risco, embora DM, envelhecimento e tabagismo também sejam fatores contribuintes. • Infarto lacunar ocorre mais frequentemente nos núcleos da base, no tálamo, na cápsula interna, na coroa radiada e na ponte. Causa indeterminada de AVE A etiologia de até 40% dos AVE permanece criptogênica ou indeterminada, mesmo após investigação laboratorial e radiológica substancial. No entanto, muitos desses pacientes têm fibrilação atrial não diagnosticada. • Embora persistência do forame oval (PFO) e comunicação interatrial (CIA) também estejam associadas a AVE criptogênico nos pacientes mais jovens, o fechamento do forame oval persistente ainda não tem eficácia comprovada na prevenção de recorrência de AVE. Outras causas de AVE - (< 5%dos casos): Processo mórbido específico que apresenta correlação temporal ou associação com o AVE. Além disso, a investigação diagnóstica não deve revelar outro mecanismo mais comum. • Os exemplos incluem AVE consequente a distúrbios hematológicos (p. ex., hipercoagulabilidade, anemia falciforme), doença infecciosa ou inflamatória, doença intrínseca da parede arterial (ou seja, vasculopatia), dissecção vascular, infarto associado a infarto, distúrbios genéticos ou causas iatrogênicas. OBS: Isquemia cerebral global (encefalopatia isquêmica/hipóxica difusa): Ocorre quando há uma redução generalizada da perfusão cerebral (como ocorre no infarto cardíaco, choque e hipotensão grave). • Na isquemia cerebral global grave, ocorre morte neuronal difusa, independentemente da vulnerabilidade da região. • O encéfalo se apresenta edematoso e intumescido, produzindo o alargamento dos giros e o estreitamento dos sulcos. A superfície de corte mostra fraca demarcação entre as substâncias cinzenta e branca. • Os aspectos microscópicos de lesão isquêmica irreversível (infarto) evoluem com o tempo até chegar a necrose tecidual. Manifestações clínicas - Os AVE isquêmicos podem ser definidos clinicamente pela natureza do déficit neurológico associado com os sinais e sintomas se encaixando em síndromes definidas que representam territórios vasculares específicos. As exceções ocorrem quando existe lesão preexistente do SNC, circulação colateral ou variações na anatomia vascular ou cerebral que podem resultar em quadros clínicos atípicos ou inesperados. Infarto da artéria cerebral média (ACM) • Oclusão proximal da ACM só consegue comprometer as estruturas hemisféricas profundas, assim como as estruturas hemisféricas corticais, quando existe substancial vascularização colateral irrigando o córtex. ◦ Isquemia isolada das estruturas cerebrais profundas, sobretudo, a cápsula interna, os núcleos da base e a coroa radiada, ocorre em virtude de bloqueio das origens das artérias lenticuloestriadas que provoca hemiparesia contralateral e, possivelmente, perda hemissensitiva que frequentemente é indistinguível de uma síndrome lacunar. ◦ Infartos profundos de maiores dimensões (“infarto estriadocapsular”) que comprometem as conexões corticais para o tálamo e as radiações ópticas podem provocar as síndromes corticais de heminegligência, afasia e hemianopsia homônima ou quadrantanopsia. • A isquemia cortical no território da ACM ocorre isoladamente quando a oclusão vascular está localizada nas divisões superior ou inferior da ACM (o número e a localização dessas ramificações podem variar). ◦ A lesão do córtex hemisférico (direito ou esquerdo) pode provocar fraqueza contralateral de membros, perda sensitiva contralateral, astereognosia (incapacidade de identificar objetos pelo tato), agrafestesia (incapacidade de reconhecer letras traçadas na pele), redução da discriminação de dois pontos, déficits contralaterais de campo visual e desvio do olhar para o lado lesionado. Apraxia ideacional (incapacidade de compreender a função de um objeto ou de manipulá-lo) acompanha a lesão hemisférica esquerda ou bilateral. • As síndromes resultantes de uma lesão no hemisfério dominante incluem afasia (disfunção da linguagem), apraxia ideomotora bilateral (incapacidade de realizar tarefas motoras aprendidas) e apraxia bucolingual (incapacidade de controlar voluntariamente os movimentos da boca e da língua). O tipo e a intensidade da afasia dependem da localização e das dimensões do infarto. ◦ A oclusão de um ramo superior da ACM comprometerá o córtex anterior em torno do aqueduto de Sylvius (aqueduto do mesencéfalo segundo a Terminologia Anatômica) e, especificamente, o giro frontal inferior, provocando afasia de Broca (expressiva). ▪ A afasia de Broca se caracteriza por redução ou desaparecimento da fluência verbal e incapacidade de escrever com conservação da compreensão. ▪ Quando a afasia é expressiva ou global, geralmente, há hemiparesia e esta é significativa. • A oclusão de um ramo inferior da ACM, afetando o córtex posterior em torno do aqueduto de Sylvius e, especificamente, o giro temporal superior e a junção temporoparietal, provoca afasia de Wernicke (receptiva). ◦ A afasia de Wernicke se caracteriza por conservação da fluência e da prosódia, mas o conteúdo é ininteligível, com erros parafásicos fonêmicos e semânticos, comprometimento da compreensão e incapacidade de ler, nomear ou repetir. ▪ Com frequência, a afasia receptiva se acompanha de hemianopsia homônima ou quadrantanopsia, mas a hemiparesia pode ser leve ou mesmo inexistente. • A síndrome de Gerstmann (confusão direita-esquerda, agnosia digital, acalculia e agrafia) é consequente a infarto do giro angular dominante. Infarto da artéria cerebral anterior (ACA) • Hemiparesia no membro inferior e/ou perda hemissensitiva contralaterais. • Afasia transcortical do tipo motor. • Negligência motora (relutância em usar o membro contralateral apesar da ausência de fraqueza) é um achado frequente, consequente a disfunção do córtex motor suplementar pré-frontal. • O infarto bilateral da ACA resulta, muitas vezes, em disfunção executiva com inércia motora e abulia (escassez de comportamentos espontâneos) ou, até mesmo, mutismo acinético (incapacidade de mover-se ou falar em um paciente acordado). • Apraxia da marcha. • Síndrome da mão alienígena (atividade motora involuntária) ou hemibalismo do membro superior contralateral pode resultar de lesão da parte anterior do corpo caloso ou da parte medial do córtex frontal. • Comportamento de utilização e comportamento de imitação são síndromes neurocomportamentais que podem ocorrer nos infartos pré-frontais unilaterais. ◦ No comportamento de utilização, o paciente agarra, de modo automático e impulsivo, os objetos que aparecem no seu campo visual e estão ao seu alcance. ◦ O comportamento de imitação consiste em imitação automática e involuntária dos movimentos do examinador. • A oclusão da artéria recorrente de Heubner, uma artéria perfurante calibrosa oriunda da ACA proximal, resulta em infarto da cabeça do núcleo caudado, da cápsula interna anterior e da parte anterior do putame. ◦ Manifestações clínicas comuns incluem disartria, perseverança motora, hemiparesia com tralateral, abulia e incontinência. Infarto da artéria carótida interna (ACI) • A oclusão aguda da artéria carótida provoca hipoperfusão hemisférica aguda que, na ausência de um polígono de Willis patente, pode se manifestar como crise epiléptica, tremores do membro contralateral ou infarto holo- hemisférico dos territórios da ACA e ACM. • Se o fluxo colateral pela artéria comunicante posterior, pela artéria comunicante anterior ou pelas artérias piais for adequado, a oclusão pode ser clinicamente silenciosa ou acometer apenas áreas suscetíveis menores. • Em contrapartida, a oclusão da ACI com pouca circulação colateral ou uma “oclusão em T” distal da ACI pode evoluir para infarto holo-hemisférico devastador, conservando apenas o território da ACP – tálamo, parte medial do lobo temporal e lobo occipital. Infarto da zona de fronteira - (entre os territórios das artérias cerebrais anterior, média e posterior): • Combinação de fraqueza, perda hemissensitiva e sinais corticais. • Afasia transcortical do tipo expressivo ou receptivo com relativa preservação da capacidade de repetição também é comum. • Os infartos de zona de fronteirade ACA e ACM provocam primariamente fraqueza do membro superior porque a região acometida corresponde anatomicamente aos neurônios da área motora de inervação dos membros superiores. ◦ Quando são bilaterais, como ocorre na parada cardíaca, os infartos de zona de fronteira de ACA e ACM resultam na síndrome do homem no barril que se caracteriza por fraqueza proximal bilateral de braço e membro inferior com relativa preservação da força facial e na parte distal do membro. Infarto da artéria coroidal anterior • Resulta na síndrome clássica de hemiparesia contralateral, hemianestesia e hemianopsia homônima. • Ocasionalmente, manifestações corticais como afasia ou heminegligência podem resultar da ruptura dos tratos talamocorticais de substância branca. Artéria cerebral posterior (ACP) • Provoca infarto do lobo occipital e da parte inferior do lobo temporal. • Instalação abrupta de hemianopsia homônima contralateral. • Lesões bilaterais do lobo occipital podem provocar a síndrome de Anton (cegueira cortical que não é reconhecida pelo paciente). ◦ A síndrome de Charles Bonnet (alucinações visuais) também pode ocorrer. • A síndrome de Baliant ocorre nos infartos blaterais da junção parieto- occipital e se caracteriza por simultanagnosia (incapacidade de reconhecer partes de um objeto como um todo), apraxia oculomotora (incoordenação do olhar) e ataxia óptica, com comprometimento da coordenação da mão sob orientação visual). • Heminegligência, embora seja incomum nas lesões occipitais, pode ocorrer quando a lesão se estende para o lobo parietal. • Os infartos da ACP esquerda que comprometem a substância branca profunda da junção parieto-occipital ou o esplênio do corpo caloso podem causar alexia sem agrafia, um tipo de síndrome de desconexão entre o córtex occipital não dominante e a área de processamento da linguagem no córtex parietotemporal dominante. • O infarto da parte inferomedial do lobo temporal pode causar delirium com agitação psicomotora ou amnésia global. • Se o núcleo posterior ventral do tálamo for preferencialmente acometido, o paciente apresentará hemianestesia contralateral. ◦ Hiperpatia pode ocorrer subsequentemente em uma condição denominada síndrome de DejerineRoussy ou síndrome álgica talâmica. Visto que o tálamo retransmite informações para o córtex, o infarto talâmico também pode provocar várias manifestações atípicas, como ataxia, afasia (dominante), heminegligência (não dominante), déficits de campo visual, perda da memória ou transtornos comportamentais. • Letargia ou coma pode resultar se o sistema de ativação reticular no mesencéfalo ou nos tálamos for acometido e, com frequência, também ocorre uma combinação de anormalidades oculomotoras. • Alterações da consciência são especialmente comuns quando existe uma artéria variante (artéria de Percheron) que irriga os tálamos mediais e a parte rostral do mesencéfalo a partir de um vaso único que se origina em uma ACP unilateral. • Lesões no mesencéfalo, quando são posteriores, provocam a síndrome de Parinaud que se caracteriza por desvio persistente do olhar conjugado para baixo, paralisia do olhar para cima, nistagmo por convergência ou retração, retração palpebral ou sinal de Collier e dissociação de resposta pupilar à luz e a visão para perto. Infarto do território vertebrobasilar: • Síndrome de encarceramento (paralisia completa da face, do membro superior e do membro inferior com preservação isolada dos movimentos oculares verticais e conservação da consciência). • Disfunção de nervos cranianos, sinais de tratos longos inclusive fraqueza, anormalidade dos reflexos ou hiperflexia, perda sensitiva e/ou achados cerebelares. • Síndromes lacunares sem déficits dos nervos cranianos que são clinicamente indistinguíveis de infartos lacunares na circulação anterior. Paralisia do olhar ou dos nervos oculomotores, inclusive oftalmoplegia internuclear e desalinhamento vertical ou nistagmo também são achados comuns. • Anormalidades assimétricas do olhar vertical e desalinhamento do olhar vertical, alterações do nível de consciência e déficits motores e sensitivos bilaterais variáveis. • Síndrome de Wallenberg ou bulbar lateral, que se caracteriza por vertigem, ataxia ipsilateral, perda da sensibilidade álgica e térmica na face ipsilateral e no braço e na perna contralaterais, disfagia e síndrome oculossimpática ipsilateral (síndrome de Horner). Artéria cerebral anterior - Déficit motor e/ou sensorial (perna > face, braço) - Reflexos de preensão e sucção - Abulia, força paratônica, apraxia da marcha Artéria cerebral média - Hemisfério dominante: afasia, déficit motor e sensorial (face, braço > perna > pé), pode ser hemiplegia completa se cápsula interna, hemianopsia homônima - Hemisfério não dominante: negligência, anosognosia , déficit motor e sensorial (face, braço > perna > pé ), hemianopsia homônima Artéria cerebral posterior - Hemianopsia homônima; alexia sem agrafia (hemisfério dominante); - Alucinações visuais, perseverações visuais (córtex calcarino); - Perda sensorial, coreoatetose, dor espontâneo (tálamo); - Paralisia do III nervo, paresia do movimento vertical dos olhos, déficit motor (pedúnculo cerebral, mesencéfalo) Vasos penetrantes - Hemiparesia motora pura (síndromes lacunares clássicas) - Déficit sensorial puro - Déficit sensório-motor puro - Hemiparesia, ataxia homolateral - Disartria/mão desajeitada Vertebrobasilar - Paralisias do nervo craniano Déficits sensoriais cruzados Diplopia, tontura, náusea, vômito, disartria, disfagia, soluço Ataxia de membros e marcha Déficit motor Coma Sinais bilaterais sugestão doença arterial basilar Artéria carótida interna - Início progressivo ou gaguejante da síndrome MCA, ocasionalmente síndrome ACA também se fluxo colateral insuficiente Diagnóstico Reconhecimento das manifestações Uma parcela bem pequena dos pacientes consegue ser tratado antes das 4,5 h, recomendadas para o tratamento trombolítico IV, devido, sobretudo, a falta de capacidade da população em reconhecer os sinais/sintomas iniciais do evento isquêmico. Avaliação hospitalar inicia Anamnese inicial direcionada para a definição do déficit e do momento específico do aparecimento dos sinais/sinais de AVE ou do último momento conhecido quando o paciente estava normal. E a avaliação neurológica rápida usando a NIHSS (National Institutes of Health Stroke Scale). Exames de imagem • TC de crânio sem contraste: Grande valor na diferenciação entre hemorragia cerebral e isquemia. ◦ Achados precoces na TC do AVE isquêmico agudo: Desaparecimento da diferenciação entre as substâncias branca e cinzenta (primeiro no córtex insular), obscurecimento da substância cinzenta nos núcleos da base e trombo agudo visualizado na parte proximal da ACM (sinal da ACM densa). RM (especialmente, sequência DWI): Modalidade mais sensível para detectar AVE isquêmico nas primeiras 6 h a partir dos primeiros sinais/sintomas. Sua utilização é limitada devido a sua relativa indisponibilidade na maioria dos setores de emergência e ao período de tempo (prolongado) para a aquisição de imagens. • Angiotomografia computadorizada ou magnética: Avaliação aguda dos vasos cervicais e cerebrais. • TC de perfusão: Realizadajuntamente com a ATC para determinar o intervalo de tempo até a chegada e o volume de contraste que alcança várias áreas do cérebro. • RM de perfusão: Consegue diferenciar o tecido infartado do tecido em risco ao comparar imagens de perfusão com as sequências DWI. Tratamento - Trombólise IV: Administração IV de ativador de plasminogênio tecidual (tPA). O tratamento ótimo envolve a administração de tPA o mais cedo possível, até 3 h a partir do aparecimento dos sinais/sintomas de AVE para a maioria dos pacientes e 4,5 h em um seleto grupo de pacientes. • Critérios de inclusão: Diagnóstico clínico de AVE isquêmico causando déficit neurológico mensurável; início dos sintomas com menos de 4,5 h antes do início do tratamento; idade ≥ 18 anos. • Contraindicações: ◦ Relativas: Sinais/sintomas discretos, déficit de resolução rápida, crises epilépticas e hipoglicemia ou hiperglicemia por ocasião do exame inicial e PA > 185/110 mmHg. ◦ Fortes: Nível baixo de anticoagulação com varfarina ou trombocitopenia leve e estável (contagem de plaquetas de 50.000 a 100.000). ◦ Absolutas: Hemorragia cerebral na TC de crânio inicial, infarto precoce já envolvendo mais de 1/3 do território da ACM, tratamento além da janela de tempo de 4,5 h e suspeita de dissecção da aorta. Terapias adjuvantes a trombólise IV: • Trombólise intra-arterial (IA) com tPA: Administração IA de agentes trombolíticos; • Trombectomia mecânica: Aparelho que extrai mecanicamente o coágulo cerebral; • Trombólise com ondas de ultrassom de alta frequência. Ataque isquêmico transitório (AIT) - Designa sintomas neurológicos de origem isquêmica com duração inferior a 24 h. Na verdade, a duração da maioria deles varia de apenas alguns minutos a 1 hora. - Muitas vezes denominado miniacidente vascular encefálico, o AIT pode ter implicações perigosas. Epidemiologia - Cerca de 1 em cada 3 pessoas que têm fatores de risco para acidente vascular e apresentam um AIT autêntico acaba por sofrer um AVE ao longo da vida, metade deles no decorrer de 1 ano após o AIT inicial. Fisiopatologia Casos de estenose acentuada da artéria carótida ou do sistema vertebrobasilar A causa da isquemia transitória pode ser o baixo fluxo distal; esses AIT costumam ser curtos e estereotipados, cursando com episódios repetidos da mesma síndrome. Podem ocorrer somente em postura ortostática ou durante hipotensão transitória ou arritmia cardíaca. Casos de embolia de placa aterosclerótica ou dissecção originária do coração, aorta ou grande vaso proximal - Os AIT podem ser mais duradouros, pois o êmbolo provoca a oclusão transitória de um ramo arterial distal antes que haja dissolução espontânea. Casos de AIT de pequenos vasos Podem ser consequência de lipohialinose e arteriolosclerose de pequenos vasos penetrantes, como os ramos lenticuloestriados da artéria cerebral média, ou perfurantes das artérias vertebral e basilar. Casos de AIT associados a hiperviscosidade - Pode estar presente na policitemia, anemia falciforme e trombocitemia, trombose venosa cerebral, endocardite bacteriana e arterite temporal. Os AITs podem desaparecer com a correção desses distúrbios subjacentes. Casos de AIT relacionado ao vasospasmo - Pode estar presente em usuários de cocaína, por consequência de vasospasmo cerebral induzido por drogas. Manifestações clínicas - AIT nas artérias da retina: • Cegueira monocular transitória (CMT ou amaurose fugaz) caracterizada por turvação ou escurecimento da visão, cujo auge é alcançado em alguns segundos (às vezes, como se descesse uma cortina) e geralmente desaparece em minutos. ◦ A causa mais importante de CMT é a estenose interna proximal da artéria com consequente comprometimento hemodinâmico ou embolia. • Placas de Hollenhorst, decorrentes de pseudoêmbolos de colesterol, nos ramos das artérias da retina. AIT no território carotídeo • Combinações variadas de fraqueza e perda da sensibilidade nos membros, afasia ou heminegligência. • Na circulação posterior causam sintomas relacionados ao cérebro (perda do campo visual ou cegueira cortical), tronco encefálico (sintomas associados a nervos cranianos e trato longo, às vezes cruzados ou bilaterais) e cerebelo. • “Síndromes lacunares” transitórias, como hemiparesia pura ou perda hemissensorial pura. • Discinesias paroxísticas, inclusive tremor, ataxia, distonia dos membros e abalos mioclônicos. ◦ Com frequência, o tremor irregular grosseiro de um braço ou uma perna com duração de segundos a 1 minuto, denominado AIT com tremor do membro, e às vezes precipitado pela adoção da postura ortostática, está associado a estenose ou oclusão crítica da artéria carótida. • Embora rara, a estenose de alto grau ou oclusão completa das 2 artérias carótidas internas e da artéria basilar proximal pode causar “crises de queda súbita” (drop attacks). AIT na artéria subclávia • Na síndrome do roubo da subclávia, a estenose da artéria subclávia ou do tronco braquiocefálico proximal à origem da artéria vertebral causa sintomas associados ao tronco encefálico, cerebelo ou até mesmo ao cérebro, que com frequência se manifestam durante o esforço e às vezes são acompanhados por sintomas de claudicação do braço. • A síndrome decorre do desvio do fluxo anterógrado pela artéria vertebral pérvia retrogradamente na artéria vertebral contralateral distal à oclusão, deixando a artéria basilar sem fluxo sanguíneo. Diagnóstico - Diagnóstico difícil quando os sintomas são ambíguos (p. ex., marcha cambaleante ou crises de queda súbita; tontura, atordoamento ou síncope; vertigem; diplopia fugaz; amnésia transitória; distúrbio visual atípico em um ou ambos os olhos, como clarões, distorções ou visão em túnel; sensação de peso ou “cansaço” em um ou mais membros; ou parestesia em uma área de perda sensitiva fixa ou com breve acometimento de apenas um membro). - Exames de imagem podem mostrar infartos em localização pertinente: É mais provável detectar anormalidades por DWI quando os sintomas duram mais de uma hora; quando a duração é superior a 3 h, observam- se infartos em 70% dos casos. - Diagnóstico diferencial: Enxaqueca, arritmia cardíaca, crises epilépticas, hipoglicemia, neuropatia compressiva, conversão e neurose. Hemorragia intracerabral (HIC) - Definida como o sangramento espontâneo agudo no parênquima encefálico. HIC primária • Causada por degeneração microscópica de pequenas artérias encefálicas, decorrente de hipertensão crônica e mal controlada (80% dos casos) ou angiopatia amiloide (20% dos casos); HIC secundária • Sangramento intraparenquimatoso decorrente de lesão vascular diagnosticável ou coagulopatia. Epidemiologia - A incidência geral estimada anual de HIC é de 12 a 15 casos por 100.000. - As hemorragias intraparenquimatosas espontâneas (não traumáticas) ocorrem mais comumente na meia-idade ou no fim da vida adulta, com um pico de incidência por volta de 60 anos de idade - A HIC, o tipo menos tratável e mais devastador de AVE, é uma importante causa de mortalidade, morbidade e incapacidade nos EUA e no mundo, responsável por 10 a 30% das internações hospitalares por AVE. - Após a HIC, muitos pacientes necessitam de atenção à saúde prolongada, e apenas 20% recuperam a independência funcional. -Cerca de 40 a 80% dos pacientes vítimas de HIC morrem no decorrer dos primeiros 30 dias, e metade das mortes ocorre nas primeiras 48 h. Etiologia e fatores de risco - Fatores de risco para hemorragia intracerebral primária: Demográficos: ◦ Idade avançada ; ◦ Raça/etnia negra. Fatores de risco vasculares: ◦ HAS crônica (doença de pequenos vasos); ▪ Não adesão à terapia antihipertensiva aumenta o risco de HIC, e o controle da pressão arterial reduz comprovadamente esse risco. ▪ HAS crônica causa vasculopatia de pequenos vasos caracterizada por fragmentação, degeneração e, por fim, ruptura de pequenos vasos perfurantes no encéfalo, denominada lipo-hialinose. ▪ Entre as estruturas afetadas com frequência estão os núcleos da base e o tálamo (50%), as regiões lobares (33%) e o tronco encefálico e cerebelo (17%). ▪ Ao exame anatomopatológico, o padrão de lesão dos pequenos vasos é caracterizado por degeneração de células musculares lisas da túnica média; pequenos aneurismas miliares associados a trombose e micro-hemorragias; acúmulo de fragmentos não gordurosos; e hialinização da túnica íntima, de preferência nos pontos de bifurcação e partes distais do vaso. ◦ Álcool; ▪ Álcool etílico pode afetar a função plaquetária e a fisiologia da coagulação e promover a fragilidade vascular. ◦ Tabagismo; ◦ Baixo nível de colesterol. ▪ Ainda há controvérsias neste fator de risco. Patologia vascular: ◦ Angiopatia amiloide (inclusive formas hereditárias). ▪ Sobretudo, em idosos; ▪ Deposição de proteína betaamiloide em pequenos e médios vasos sanguíneos do encéfalo e leptomeninges, que podem sofrer necrose fibrinoide; ▪ Pode ser um distúrbio esporádico, associado à doença de Alzheimer, ou ocorrer em algumas síndromes familiares. OBS: A HAS e a idade avançada são os mais fortes preditores de HIC. Fatores de risco para hemorragia intracerebral secundária Infarto encefálico ◦ Transformação hemorrágica de lesão isquêmica subaguda; ◦ Trombose venosa/de seio cerebral. Lesões vasculares preexistentes: ◦ Angioma cavernoso; ◦Malformação arteriovenosa. Neoplasias malignas: ◦ Tumor encefálico; ◦Metástase cerebral. Inflamatórios: ◦ Vasculite; ◦ Endocardite (aneurisma micótico). Hematológicos: • Coagulopatia; trombocitopenia. Iatrogênicos: ◦ Anticoagulantes; ▪ O ácido acetilsalicílico é um fator de risco para hemorragia nos pacientes em terapia anticoagulante. ◦ Fibrinólise. Tóxicos: • Cocaína; anfetaminas. Fisiopatologia - A ruptura arterial abrupta acarreta o rápido acúmulo de sangue no parênquima encefálico e aumento da pressão tecidual local, seguidos por início abrupto de forças de cisalhamento e destruição física. - As hemorragias agudas, independentemente da etiologia, são caracterizadas pelo extravasamento de sangue com compressão do parênquima adjacente. - Além do relativo efeito expansivo, o próprio hematoma induz 3 alterações fisiopatológicas iniciais no tecido encefálico adjacente: • Morte neuronal e de células gliais por apoptose e inflamação; • Edema vasogênico; • Ruptura da barreira hematencefálica (BHE). - Hemorragias antigas mostram a área de destruição cavitária do encéfalo com uma borda de coloração acastanhada. As lesões precoces consistem em um núcleo central de sangue coagulado, circundado por uma borda de tecido encefálico mostrando alterações anóxicas neuronais e gliais, além de edema. - A hemorragia intraparenquimatosa hipertensiva pode se originar no putâmen (50% a 60% dos casos), no tálamo, na ponte, nos hemiférios cerebelares (raramente) e em outras regiões encefálicas. Já “hemorragias lobares” originam-se nos lobos dos hemisférios cerebrais. - A expansão do hematoma é uma importante causa de deterioração neurológica precoce, e o volume da HIC é um potente preditor de desfecho após HIC primária. • Um hematoma expansivo pode ser causado por sangramento persistente e/ou recidiva do sangramento por ruptura de somente uma arteríola. - O edema em torno da HIC pode ser produzido por mediadores inflamatórios locais e sistêmicos que promovem, direta ou indiretamente, lesão tecidual pela ativação de leucócitos, geração de prostaglandinas e leucotrienos, além da ativação do complemento. • Em parte, o sangue intracerebral é diretamente responsável pela ocorrência de edema local após HIC. Manifestações clínicas - Como a maioria das hemorragias espontâneas tem origem em vasos diminutos, o acúmulo de um hematoma é demorado e explica o início sereno da síndrome clínica ao longo de minutos ou horas. - A evolução progressiva, os vômitos frequentes e a cefaleia são elementos importantes que ajudam a diferenciar a hemorragia do infarto. - Hematoma em expansão acomete a cápsula interna adjacente do putame (local afetado com maior frequência de HIC): - Hemiparesia contralateral, em geral, com hemianestesia e hemianopsia e, em grandes hematomas, afasia ou comprometimento da consciência do distúrbio. • Às vezes, pequenos hematomas autolimitados próximos da região capsular podem simular síndromes lacunares com déficits motores ou sensitivos puros. Hemorragia com origem no tálamo: Hemianestesia precede hemiparesia. OBS: Uma vez estabelecidos os sinais motores, sensitivos e do campo visual contralaterais, os principais elementos que distinguem os 2 locais são: • Desvio ocular horizontal conjugado na hemorragia do putame; • Comprometimento do olhar para cima na hemorragia talâmica. Hemorragia pontina - Habitualmente, leva o paciente ao coma com quadriparesia e distúrbios da motilidade ocular com desconjugação acentuada, embora pequenas hemorragias possam simular síndromes de infarto. Hemorragias espontâneas primárias no mesencéfalo ou no bulbo - Ainda são objeto de discussão e são curiosidades raras. • Quando ocorrem, o acometimento anatômico geralmente é secundário à hemorragia originada em regiões diencefálicas, cerebelares ou pontinas adjacentes. Hemorragia cerebelar - Em geral, a síndrome tem início abrupto, com vômitos e ataxia grave (que, geralmente, impede o paciente de ficar de pé e caminhar); às vezes, é acompanhada de disartria, acometimento dos nervos cranianos adjacentes (sobretudo do 6º e 7º) e paralisia do olhar lateral conjugado para um lado. • A origem cerebelar é sugerida pela ausência de alterações no nível de consciência e ausência de fraqueza focal ou perda sensitiva. - Nos lobos cerebrais, as hemorragias ainda têm uma predileção inexplicada pelos 2/3 posteriores do encéfalo. • Quando afetam um ou mais lobos cerebrais, é difícil distinguir clinicamente a síndrome do infarto porque a evolução progressiva e os vômitos são muito menos frequentes no infarto; além disso, muitas vezes os hematomas da substância branca lobar resultam de malformações arteriovenosas, angiopatia amiloide, tumores ou outras causas que apenas raramente afetam os núcleos da base, o tálamo e a ponte. - A expansão da massa não modifica o quadro clínico até que haja compressão do tronco encefálico suficiente para precipitar o coma, quando já é tarde demais para a evacuação cirúrgica da hemorragia com a finalidade de reverter o distúrbio. • Essa pequena margem de tempo entre um estado alerta e o coma irreversível torna imprescindível considerar o diagnóstico em todos os pacientes com essa síndrome clínica e é uma razão para solicitar que os pacientes que chegam ao pronto-socorro com vômitos de origem indeterminada tentem ficar de pé e deambular. DiagnósticoTC sem contraste do encéfalo - Método de escolha para avaliar a presença de HIC, pois avalia o tamanho e a localização do hematoma, a extensão para o sistema ventricular, o grau de edema adjacente e a desorganização anatômica. AngioTC Pode revelar HIC secundário a aneurisma ou malformação arteriovenosa, ou extravasamento ativo de meio de contraste para o coágulo, indicativo de aumento do risco de expansão precoce do hematoma quando identificado logo após o surgimento de sintomas. RM como gradiente-eco (GRE, T2*); - Angiografia cerebral diagnóstica convencional Reservada para pacientes com suspeita de causas secundárias de HIC (aneurismas, malformações arteriovenosas, trombose de veia cortical ou dos seios da dura-máter ou ainda vasculite). Angiografia por cateter diagnóstica: - Considerada em pacientes com hemorragia intraventricular (HIV) primária e em pacientes mais jovens não hipertensos com HIC lobar. Tratamento - Reversão da anticoagulação: Na razão normalizada internacional (RNI) elevada: Vitamina K, 10 mg, injeção IV direta e 4F-PCC (concentrado de complexo protrombínico de quatro fatores, com fatores II, VII, IX e X); • Heparina: Sulfato de protamina, 10 a 50 mg, injeção IV direta lenta; • Trombocitopenia ou disfunção plaquetária: Desmopressina, 0,3 μg/kg, injeção IV direta e/ou transfusão de 6 unidades de plaquetas; • Reversão acelerada da RNI para intervenção neurocirúrgica para salvar a vida do paciente: Fator VII ativado recombinante, 40 a 80 μg/kg (cerca de 3 a 6 mg) por injeção IV direta. • - Controle da PA: HIC aguda causa hipertensão arterial extrema; • Manter pressão arterial média < 140 mmHg com infusão contínua de labetalol IV (betabloqueador) ou nicardipino (bloqueador dos canais de cálcio); • Se torporoso ou comatoso, medir a pressão intracraniana e manter a pressão de perfusão cerebral > 70 mmHg. - Hipertensão intracraniana: HIC volumosa acarreta o risco de edema cerebral e elevação da pressão intracraniana (PIC). • Elevar a cabeceira do leito a 30°; • Manitol, 1,0 a 1,5 g IV periferico; • Hiperventilar até PCO2 de 30 mmHg. • Líquidos e nutrição: • Soro fisiológico (0,9%) a 1,0 mℓ/kg/h; • Iniciar nutrição enteral por tubo nasoduodenal no decorrer de 24 h. Profilaxia de convulsão: • Coma com hipertensão intracraniana ou convulsões agudas: Fosfenitoína (15 a 20 mg/kg) seguida por 300 mg/dia IV ou levetiracetam 1.000 mg 2×/dia durante 7 dias. Homeostase fisiológica • Mantas de resfriamento para manter temperatura ≤ 37,5°C; • Infusão intravenosa de insulina para manter glicose de 120 a 180 mg/dℓ. Tratamento cirúrgico • Drenagem ventricular: Indicada em todos os pacientes torporosos ou comatosos com HIV e expansão ventricular com indicação de suporte intensivo. ◦ Descomprime a abóbada craniana e interrompe o processo de herniação inferior do tronco encefálico, pois permite a drenagem do LCS com sangue para um receptáculo de drenagem. • Craniotomia: Pode melhorar o desfecho de pacientes mais jovens com grandes hemorragias lobares e deterioração por efeito expansivo. ◦ Ampla aceitação de que os pacientes com hemorragia cerebelar com diâmetro > 3 cm são beneficiados por evacuação cirúrgica de emergência. ◦ Vantagens da cirurgia minimamente invasiva (CMI) em relação à craniotomia convencional: Redução do tempo de operação, possibilidade de realização sob anestesia local e redução do trauma cirúrgico. Hemorragia subaracnóidea (HSA) Epidemiologia - Responsável por 5% dos AVE; afeta quase 30.000 pessoas por ano nos EUA, com incidência anual de 1 por 10.000. - É mais frequente entre 40 e 60 anos de idade, e as mulheres são afetadas com maior frequência que os homens. - A HSA por ruptura de um aneurisma intracraniano é um evento devastador; cerca de 12% dos pacientes morrem antes do atendimento médico, e outros 20% morrem depois da admissão hospitalar. - Cerca de metade dos 2/3 que sobrevivem apresenta incapacidade permanente, sobretudo, por déficits neurocognitivos e depressão. Etiologia Aneurismas saculares moriforme na base do encefálo Os aneurismas saculares (moriforme) na base do encéfalo são a causa de 80% dos casos de HSA. • O aneurisma sacular é o tipo mais comum de aneurisma intracraniano. Causas não aneurismáticas de HSA • Traumatismo (hematoma traumático); • HSA perimesencefálica idiopática; • Malformação arteriovenosa; • Dissecção arterial intracraniana; • Uso de cocaína e anfetamina; • Aneurisma micótico; • Apoplexia hipofisária; • Doença de moyamoya; • Vasculite do SNC; • Doença falciforme; • Distúrbios da coagulação; • Neoplasia primária ou metastática. Fisiopatologia - Os aneurismas saculares ocorrem com maior frequência no círculo arterial do cérebro (círculo de Willis) ou em seus principais ramos, sobretudo, nas bifurcações. • Em 85-90% dos casos, os aneurismas intracranianos estão localizados na circulação anterior; os 3 locais mais comuns são o complexo da artéria comunicante anterior (cerca de 40%), a junção das artérias comunicante posterior e carótida interna (cerca de 30%) e a região intermediária da artéria cerebral média, no primeiro importante ponto de ramificação no sulco lateral (fissura de Sylvius) (cerca de 20%). Os aneurismas da circulação posterior são mais frequentes no ápice da artéria basilar ou na junção das artérias vertebral e cerebelar inferior posterior. Os aneurismas saculares na árvore arterial cerebral distal são raros. - Eles se originam na região de deficiência da lâmina elástica arterial e da túnica média e tendem a aumentar com a idade. • A parede do aneurisma típico é formada apenas por túnica íntima e túnica adventícia e pode tornar-se fina como papel. ◦ Ausência de músculo liso e lâmina elástica da íntima. - Um aneurisma sacular não rompido é uma evaginação das paredes finas, com uma superfície brilhante e avermelhada e uma parede fina e translúcida. - Muitos aneurismas, em especial aqueles que serompem, são irregulares e multilobulados, e os aneurismas maiores podem ser parcial ou totalmente preenchidos por um coágulo organizado, que às vezes é calcificado. • Em geral, a ruptura ocorre na cúpula do aneurisma. • Quase 20% dos pacientes têm 2 ou mais aneurismas; muitos deles são aneurismas “espelhados”, no mesmo vaso no dimídio contralateral. - Os aneurismas intracranianos são incomuns em crianças, mas acometem 2% dos adultos, sugerindo que cerca de 2 a 3 milhões de norte-americanos tenham um aneurisma. Entretanto, mais de 90% deles são pequenos (< 10 mm) e se mantêm assintomáticos por toda a vida. O risco anual de ruptura de um aneurisma intracraniano assintomático é de cerca de 0,7%. - O rompimento pode ocorrer a qualquer momento, porém em cerca de um terço dos casos ele é associado ao aumento agudo da pressão intracraniana, como ocorre durante a evacuação ou no orgasmo sexual. • O sangue sob pressão arterial é forçado no espaço subaracnóidea e os indivíduos afetados apresentam uma súbita e excruciante cefaleia, perdendo rapidamente a consciência. Fatores de risco para ruptura de um aneurisma - Expansão, HSA prévia por outro aneurisma e localização no ápice da artéria basilar e na artéria comunicante posterior. • O mais importante desses fatores de risco é o tamanho: por exemplo, a taxa de sangramento anual de um aneurisma da artéria carótida interna < 7 mm é de 0,1%,mas essa taxa anual sobe para 8% nos aneurismas > 25 mm. Outros fatores de risco para ruptura de aneurisma em ordem aproximada de importância • Tabagismo • Cefaleia • Compressão de nervo craniano relacionada ao aneurisma • Grande consumo de álcool • História familiar de HSA • Sexo feminino (sobretudo, após a menopausa) • Múltiplos aneurismas • Hipertensão arterial • Exposição a cocaína ou outros agentes simpaticomiméticos. - A prevalência de aneurismas aumenta com a idade e é maior em pacientes com aterosclerose, história familiar de aneurisma intracraniano ou doença renal policística (DRP) autossômica dominante. • Os aneurismas intracranianos também foram associados à síndrome de Ehlers- Danlos, síndrome de Marfan, pseudoxantoma elástico, coarctação da aorta e doença falciforme. Manifestações clínicas - Em geral, a HSA começa com uma cefaleia “explosiva” seguida por rigidez cervical. • Muitas vezes a dor é descrita como “a pior dor de cabeça na vida”. • A cefaleia costuma ser generalizada, mas a dor focal pode se referir ao local de ruptura do aneurisma (p. ex., dor periorbital relacionada a aneurisma da artéria oftálmica). - Os sintomas comumente associados são perda da consciência, náuseas e vômitos, dor nas costas ou nos membros inferiores e fotofobia. - Nos pacientes que perdem a consciência, pode haver postura tônica e dificuldade de distinguir de uma crise epiléptica. - Embora a ruptura do aneurisma muitas vezes ocorra durante períodos de exercício ou estresse físico, a HSA pode ocorrer a qualquer momento, inclusive durante o sono. “Extravasamentos de alerta” ou “cefaleias sentinela” - Mais de 1/3 dos pacientes relata história de sintomas suspeitos dias ou semanas antes, entre os quais estão cefaleia, rigidez cervical, náuseas e vômitos, síncope ou perturbação visual. Com frequência, esses sintomas prodrômicos são causados por pequeno extravasamento de sangue do aneurisma. - A rigidez cervical e o sinal de Kernig são características da HSA. • No entanto, nem sempre esses sinais estão presentes e às vezes a confusão e a dor lombar são mais proeminentes que a cefaleia. - As hemorragias pré-retinianas ou sub- hialóideas - Grandes, de bordas regulares e na superfície da retina - Ocorrem em até 25% dos pacientes e são praticamente patognomônicas de hsa. - O mais importante determinante de desfecho após HSA é a condição neurológica do paciente ao chegar ao hospital. • Alguns pacientes se mantêm conscientes e lúcidos; outros apresentam confusão, delírio, amnésia, letargia, torpor ou coma. Escala de classificação de Hunt e Hess modificada Mecanismo de estratificação do risco de HSA com base no primeiro exame neurológico: ◦ HSA de grau I ou II: Prognóstico relativamente bom; ◦ HSA de grau III: Prognóstico intermediário; ◦ HSA de graus IV e V: Prognóstico sombrio. - Os sinais neurológicos focais ocorrem na minoria dos pacientes, mas podem indicar o local de sangramento. - • Hemiparesia ou afasia sugere aneurisma da artéria cerebral média; • Paraparesia ou abulia sugere aneurisma da porção proximal da artéria cerebral anterior. • Às vezes, esses sinais focais são causados por um grande hematoma, que pode exigir evacuação de emergência. - Os sinais e sintomas de um aneurisma intracraniano íntegro podem resultar da compressão de estruturas neurais adjacentes ou de tromboembolia. - Com frequência, mas nem sempre, esses aneurismas são grandes ou gigantes (> 25 mm). • Muitas vezes, os aneurismas da artéria comunicante posterior comprimem o nervo oculomotor (e quase sempre afetam a pupila); A neurismas da parte cavernosa da artéria carótida interna podem lesar o III , IV , V ou VI nervo craniano , e sua ruptura pode levar à formação de uma fístula carotideocavernosa; • Com menor frequência, grandes aneurismas comprimem o córtex ou o tronco encefálico, com sinais neurológicos focais ou crises convulsivas; • Às vezes, a trombose no saco aneurismático libera êmbolos para o território arterial distal, com consequentes ataques isquêmicos transitórios ou infarto. Diagnóstico - TC: Deve ser o 1º exame para diagnóstico de HSA, pois está prontamente disponível e a interpretação é direta. • Na maioria das vezes, a TC mostra sangue difuso nas cisternas interpedunculares (basais); nas hemorragias mais graves, o sangue se estende para as fissuras de Sylvius e inter-hemisférica, o sistema ventricular e sobre as convexidades. • A sensibilidade da TC para HSA é de 90 a 95% em 24 h, 80% em 3 dias e 50% em 1 semana. - Punção lombar: Em geral, o líquido cerebrospinal (LCS) contém sangue visível. A HSA é diferenciada da punção traumática pela aparência xantocrômica (amarelada) do líquido sobrenadante após a centrifugação. • A pressão do LCS quase sempre é alta e o nível de proteínas é elevado. - Angiografia cerebral: Procedimento diagnóstico definitivo para a detecção de aneurismas intracranianos e definição de sua anatomia. Tratamento Pressão arterial - Controle da pressão arterial elevada durante a fase pré-operatória (PA sistólica < 160 mmHg) com administração por via IV de labetalol, nicardipino ou clevidipino para evitar a recidiva de sangramento; Profilaxia da recidiva de sangramento Ácido épsilon-aminocaproico, 4 g IV por ocasião do diagnóstico, seguidos por 1 g/h até o reparo do aneurisma, durante um período máximo de 72 h após o ictus; Hidratação IV Solução salina normal (0,9%) ou solução isotônica balanceada (i. e., Plasma-Lyte®), 1,0 a 1,5 mℓ/kg/h; Exames laboratoriais • Hemograma completo e dosagem de eletrólitos periodicamente; • Realizar ECG seriados e dosagem de troponina I cardíaca (cTI) para avaliar lesão cardíaca; realizar ecocardiograma em pacientes com resultados anormais do ECG ou elevação de Cti. Profilaxia de crises epilépticas Fosfenitoína (15 a 20 mg/kg) ou levetiracetam (1 g) IV; interromper no dia 1 após a operação, exceto em caso de crise epiléptica, grau desfavorável, patologia cortical focal ou outro tipo de instabilidade; Profilaxia do vasospasmo Nimodipino, 60 mg VO 4/4 h até o dia 21 de HSA ou a alta; Homeostase fisiológica • Mantas de resfriamento para manter temperatura ≤ 37,5°C; • Infusão intravenosa de insulina para manter glicose de 120 a 180 mg/dℓ; • Transfusão para manter hemoglobina > 7,0 g/dℓ (na ausência de isquemia cerebral ou cardíaca ativa). Drenagem ventricular: • Instituição de dreno ventricular externo (DVE) de emergência em todos os pacientes torporosos/comatosos (IV/V de Hunt-Hess), bem como em pacientes letárgicos com hidrocefalia; • Iniciar tentativas de clampeamento de dreno ventricular externo e monitoramento da PIC no dia 3 após a colocação; • Realizar derivação ventriculoperitoneal durante a fase subaguda da doença em pacientes com disfunção cognitiva persistente e ventriculomegalia. Diagnóstico do vasospasmo: • Ultrassonografia Doppler transcraniana a cada 1 a 2 dias até o 10º dia após HSA; • Angiografia por TC nos dias 4 a 8 após HSA se houver alto risco. Tratamento do vasospasmo sintomático • Colocar o paciente em posição de Trendelenburg (cefalodeclive); • Administrar infusão de 500 mℓ de albumina a 5% ou 1 ℓ de solução salina a 0,9% durante 30 min; • Se o déficit persistir, elevar a PA sistólica com fenilefrina ou norepinefrina até a resolução do déficit (meta de 180 a 220 mmHg); • Se refratário, monitorar o débito cardíaco e acrescentar dobutamina ou milrinonapara manter índice cardíaco > 4,0 ℓ/min/m2; • Transfusão para manter hemoglobina > 10,0 g/dℓ; • Angiografia de emergência para administração intra-arterial de verapamil ou angioplastia cerebral, exceto se o paciente responder bem às medidas supracitadas.
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