Prévia do material em texto
METODOLOGIAS DE PESQUISA: abordagens críticas e reflexivas Antonina Mendes Feitosa Soares Wirla Risany Lima Carvalho Ana Teresa Silva Sousa Organizadoras 2017 METODOLOGIAS DE PESQUISA: abordagens críticas e reflexivas Metodologias de pesquisa: abordagens críticas e reflexivas / Antonina Mendes Feitosa Soares, Wirla Risany Lima Carvalho, Ana Teresa Silva Sousa, organizadoras. – Teresina: EDUFPI, 2017. E-Book. ISBN: 978-85-509-0222-7 1. Educação. 2. Pesquisas em Educação. 3. Formação Docente. I. Soares, Antonina Mendes Feitosa. II. Carvalho, Wirla Risani Lima. III. Sousa, Ana Teresa Silva. IV. Título. CDD: 370.7 M593 Reitor Prof. Dr. José Arimatéia Dantas Lopes Vice-Reitora Profª. Drª. Nadir do Nascimento Nogueira Superintendente de Comunicação Profª. Drª. Jacqueline Lima Dourado METODOLOGIAS DE PESQUISA: abordagens críticas e reflexivas © Antonina Mendes Feitosa Soares • Wirla Risany Lima Carvalho • Ana Teresa Silva Sousa 1ª edição: 2017 Revisão Francisco Antonio Machado Araujo Editoração Francisco Antonio Machado Araujo Diagramação Wellington Silva Capa Mediação Acadêmica Editor Ricardo Alaggio Ribeiro EDUFPI – Conselho Editorial Ricardo Alaggio Ribeiro (presidente) Acácio Salvador Veras e Silva Antonio Fonseca dos Santos Neto Cláudia Simone de Oliveira Andrade Solimar Oliveira Lima Teresinha de Jesus Mesquita Queiroz Viriato Campelo Ficha Catalográfica elaborada de acordo com os padrões estabelecidos no Código de Catalogação Anglo-Americano (AACR2) Bibliotecária Responsável: Nayla Kedma de Carvalho Santos CRB 3ª Região/1188 53 módulos 1 9 m ó d u lo s APRESENTAÇÃO Ana Teresa Silva Sousa INTRODUÇÃO Antonina Mendes Feitosa Soares Wirla Risany Lima Carvalho A CONEXÃO DE SABERES: ELABORAÇÃO CONCEITUAL E INTERDISCIPLINARIDADE Maria Salonilde Ferreira A ENTREVISTA COMPREENSIVA E ABORDAGEM MULTIRREFERENCIAL, FUNDAMENTOS QUE NORTEIAM A PESQUISA COM ALUNOS DE LICENCIATURA EM LETRAS, BIOLOGIA, MATEMÁTICA E PEDAGOGIA Ana Lúcia Andruchak Adir Luiz Ferreira A ENTREVISTA NARRATIVA COMO POSSIBILIDADE NA PRODUÇÃO DE DADOS NA PESQUISA EM EDUCAÇÃO Isana Cristina dos Santos Lima A EXTREVISTA REFLEXIVA NA PESQUISA EM EDUCAÇÃO Francisco Antônio Machado Araújo A PESQUISA NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES: CONCEPÇÕES DOS DOCENTES DO IFPI Rosimeyre Vieira da Silva Carla Daiane Alencar Mendes 9 19 33 53 73 87 105 SU M Á R IO A PRÁTICA COLABORATIVA NOS PROCESSOS DE PESQUISA, ENSINO E APRENDIZAGEM: COMPARTILHANDO AS FORMAS DE PENSAR E DE AGIR Márcia Ribeiro Silva Fernandes Marlinda Pessôa Araujo A PROPOSIÇÃO DAVYDOVIANA SUBSIDIANDO O ESTUDO DO CONCEITO DE NÚMERO EM CONTEXTO FORMATIVO DE PROFESSORES DOS ANOS INICIAIS Valdirene Gomes de Sousa AS NARRATIVAS E A INVESTIGAÇÃO EM EDUCAÇÃO: UM NOVO DESIGN PARA A PESQUISA Conceição de Maria Ribeiro dos Santos Maria Lemos da Costa Patrícia da Cunha Gonzaga CATEGORIAS DA PSICOLOGIA SÓCIO-HISTÓRICA QUE EXPLICAM A CONSTITUIÇÃO DO HUMANO Eliana de Sousa Alencar Marques COLABORAÇÃO E O PROCESSO DE FORMAÇÃO CONTÍNUA DO PROFESSOR DE MATEMÁTICA DO ENSINO FUNDAMENTAL Elieide do Nascimento Silva O USO DA PROPOSTA ANALÍTICA DOS NÚCLEOS DE SIGNIFICAÇÃO NA PESQUISA EM EDUCAÇÃO Francisco Antônio Machado Araújo Maria Vilani Cosme de Carvalho DEFININDO A BASE EPISTEMOLÓGICA DE UMA PESQUISA SOBRE FORMAÇÃO CONTINUADA: BREVES CONSIDERAÇÕES Erineide Cunha de Sousa DESENVOLVENDO O MÉTODO DE PESQUISA NA PERPESCTIVA SÓCIO-HISTÓRICA Sílvia Maria Costa Barbosa NARRATIVIDADE DE PROFESSORES ALFABETIZADORES EM INÍCIO DE CARREIRA: EXPERIÊNCIAS E APRENDIZAGENS CONSTRUÍDAS Ana Luiza Floriano de Moura 123 139 155 171 191 211 229 243 257 PERCEBER E APRENDER Maria Salonilde Ferreira Marineide Gomes de Oliveira da Cunha PESQUISA COLABORATIVA: POSSIBILIDADE DE SACIAR A FOME E A SEDE DE INVESTIGAR AS PRÁTICAS DOCENTES Rosalina de Souza Rocha da Silva Ivana Maria Lopes de Melo Ibiapina REFLEXÃO E COLABORAÇÃO COM PROFESSORES UNIVERSITÁRIOS: DUPLA ESTIMULAÇÃO PARA A COMPREENSÃO DO QUE É REFLEXÃO CRÍTICA Ivana Maria Lopes de Melo Ibiapina A SOCIOPOÉTICA COMO ABORDAGEM DE PESQUISA E ENSINO-APRENDIZAGEM COM/ENTRE ADOLESCENTES E JOVENS Shara Jane Holanda Costa Adad Sandra Haydèe Petit PERFIL CIENTÍFICO DAS ORGANIZADORAS E DOS AUTORES 273 289 307 327 337 APRESENTAÇÃO 99 APRESENTAÇÃO Ana Teresa Silva Sousa - UFPI Depreendemos das distinções apresentadas, que método e metodologia têm peculiaridades próprias que lhes dão singularidade. No entanto, estabelecem entre si relação dialética de unidade, mantendo cada um a sua identidade. (FERREIRA, 2017, p. 58) A epígrafe supracitada está dialeticamente relacionada ao título desta obra que ora me proponho a apresentar aos leitores e que possibilitara refletir acerca do que trata e orienta cada investigação em educação proposta pelos autores deste exemplar. Depreender das distinções apresentadas para compreender a essência que está na aparência de cada artigo subjaz fazermos o movimento do pensamento de cada autor na busca de desvelar o que objetivou suas pesquisas, causas e efeitos produzidos nos contextos, espaços e tempos em que ocorreram os estudos. Desse modo, as perspectivas teórico-metodológicas podem ou não estabelecer entre si relações dialéticas de unidade, conforme expressa alguns artigos. Todavia, as distinções de estrutura e composição são necessárias e fundamentais para 10 Ana Teresa Silva Sousa10 manter a identidade e as circunstâncias de produção das pesquisas realizadas no âmbito das instituições de ensino superior e das escolas básicas dos professores, nos seus diversos contextos de atuação e trabalho. Na perspectiva de divulgar os conhecimentos produzidos por professores, pesquisadores e educadores em geral, a Associação Francofone de Pesquisa Científica em Educação - AFIRSE- Secção Brasileira tem como prática recorrente partilhar com seus leitores todas as formas de publicação, de informação e de documentação, estabelecendo intercâmbio acadêmico entre esses atores sociais. A publicação deste livro, intitulado “METODOLOGIAS DE PESQUISAS: Abordagens críticas e reflexivas” constituem mais uma obra acadêmica, dentre outras já produzidas com o aval da referida instituição, conforme propõe o seu estatuto em termos nacional e internacional: “fomentar a produção do saber, a difusão e utilização de resultados de pesquisa em educação”. A múltipla articulação dos diversos artigos que compõem o presente volume possibilitará ao leitor fazer incursão na diversidade de pesquisas, referenciais teóricos e metodológicos, bem como nos procedimentos investigativos. O livro contempla, portanto, produções de conhecimentos situados historicamente e de estudos que têm como núcleo temático as pesquisas em educação. E se apresenta como caminhos para a construção de mudanças, transformações e emancipação dos professores no processo de formação e atuação docente. Considerando as particularidades, os diversos campos específicos do conhecimento e de investigação de modo a assegurar a relação ou ligação do método que propõe cada autor e de seu lugar na produção, assim, especificar o que trata cada artigo constitui a atividade principal desta obra. Na introdução, Antonina Mendes Feitosa Soares e Wirla Risany Lima Carvalho apresentam uma reflexão sobre a importância da relação intrínseca que existe entre teoria, método e metodologias, para a idealização e implementação da pesquisa acadêmica. Destarte, enfatizam que, para o pesquisador, o método é alicerce relevante e unifica o sentido do paradigma que o constituiu. Defendem, ademais, APRESENTAÇÃO 1111 um olhar complexo, holístico e não fragmentado do investigador, pois seus objetos de estudo estão mergulhados em contextos sócio-históricos, repletos de redes de conexão, devendo, portanto, ser investigados com a riqueza de possibilidades inerentes à pesquisa qualitativa que tem na reflexão e na crítica seus pontos altos de apresentação.O artigo “A CONEXÃO DE SABERES: ELABORAÇÃO CONCEITUAL E INTERDISCIPLINARIEDADE” a autora Maria Salonilde Ferreira traz reflexão sobre uma proposta curricular na perspectiva de elaboração conceitual e a relação com os saberes de um curso de especialização em educação infantil. O objetivo foi compreender o papel do professor e da escola no processo de ruptura que conduziria a interdisciplinariedade e fragmentação das disciplinas. A adesão à pesquisa foi composta por professores responsáveis pela execução do curso. No estudo constatou indícios relativos à natureza conceitual pelos seus significados expressos estabelecidos nas conexões de generalidade, singularidade e particularidade, sem os quais o conceito não existiria. O artigo “A ENTREVISTA COMPREENSIVA E ABORDAGEM MULTIRREFERENCIAL, FUNDAMENTOS QUE NORTEIAM A PESQUISA COM ALUNOS DE LICENCIATURAS EM LETRAS, BIOLOGIA, MATEMÁTICA E PEDAGOGIA”, cujos autores são Ana Lúcia Andruchak e Adir Luiz Ferreira, apresenta reflexões na perspectiva da multirreferencialidadade no sentido de compreender a complexidade, pluralidade e heterogeneidade dos fenômenos sociais sobre os sentidos formativos atribuídos por estudantes das licenciaturas em Letras, Biologia, Matemática e Pedagogia, da Universidade do Estado de Mato Grosso – UNEMAT, sobre seu processo de socialização e de aprendizagem, envolvidos na construção da identidade docente. Destacam que a abordagem foi fundamental para aproximar o pesquisador aos estudantes porque eles falam de seu processo formativo, da trajetória escolar e a construção de imagens e representações que influenciam o processo de constituição identitária para o exercício da docência. O que contribuiu para o entendimento das relações sociais, de suas linguagens e de seus sentidos, impedindo a realização de análises reducionistas. 12 Ana Teresa Silva Sousa12 O artigo “A ENTREVISTA NARRATIVA COMO POSSIBILIDADE NA CONSTRUÇÃO DE DADOS NA PESQUISA EM EDUCAÇÃO” de autoria de Isana Cristina dos Santos Lima trata dos significados e os sentidos do mal estar docente de professores em início de carreira e suas relações com a identidade docente que está se constituindo. A entrevista narrativa como ferramenta mediadora da pesquisa possibilitou a compreensão de que a professora entrevistada foi além da aparência, pois foram considerados os processos constitutivos de sua identidade como suas relações com o mundo objetivo, isto é, o contexto social, histórico e cultural e suas relações com os outros. O artigo “A ENTREVISTA REFLEXIVA: ASPECTOS TEÓRICO- METODOLÓGICOS DE UMA PESQUISA EM EDUCAÇÃO”, cuja autoria é Francisco Antônio Machado Araújo, utilizou a entrevista reflexiva como fundamentação teórico-metodológica na educação para abordar a dimensão subjetiva do trabalho docente mediado pelas TIC’s. Considera que esse instrumento se destaca pelo seu caráter amenizador das relações de poder e de desigualdades estabelecidas entre pesquisador e pesquisado. O movimento reflexivo produzido por meio da entrevista faz com que o sujeito entrevistado reorganize seu pensamento, produzindo reflexões que antes não haviam sido tematizadas, além de possibilitar oportunidade de diálogo aberto em que se levam em conta tanto as intenções do pesquisador quanto do sujeito investigado sobre o objeto de estudo. No artigo “A PESQUISA NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES: CONCEPÇÕES DOS DOCENTES DO IFPI” as autoras Rosimeyre Vieira da Silva e Carla Daiane Alencar Mendes analisam se as práticas de pesquisa favorecem reflexões sobre a formação docente dos professores do IFPI. O estudo é um ensaio que usa a entrevista compreensiva para compreender o registro de um saber social incorporado pelos indivíduos à sua historicidade, às suas orientações e as definições de sua ação em relação ao conjunto da sociedade. Os saberes foram obtidos a partir da interpretação compreensiva das falas dos sujeitos mediada por meio do trabalho do pesquisador. Destacam o estudo como relevante para construção do conhecimento em sala de aula, que, embora a reflexão, não seja o único ponto de destaque na educação brasileira, emerge continuamente com nítida necessidade de exposição. APRESENTAÇÃO 1313 No artigo “A PRÁTICA COLABORATIVA NOS PROCESSOS DE PESQUISA, ENSINO E APRENDIZAGEM: COMPARTILHANDO AS FORMAS DE PENSAR E AGIR” as autoras se propõem a evidenciar as contribuições da prática colaborativa nos contextos de pesquisa, ensino e aprendizagem. Tomando como referência pesquisas publicada em formato de artigos. O estudo foi organizado a partir dos subtemas: A arte de colaborar na pesquisa; o ensino e o processo de colaboração; o aprender colaborativamente. Destacam que há a necessidade de maior aprofundamento da temática porque o estudo possibilitou uma visão inicial do trabalho com pesquisa colaborativa no contexto da educação. O artigo “A PROPOSIÇÃO DAVYDOVIANA SUBSIDIANDO O ESTUDO DO CONCEITO DE NÚMERO EM CONTEXTO FORMATIVO DE PROFESSORES DOS ANOS INICIAIS” de autoria de Valdirene Gomes de Sousa está organizado a partir da questão: quais as necessidades que os professores apontam sobre a realidade desenvolvida na prática docente em matemática, nos anos iniciais, a partir do estudo da proposição davydoviana? A pesquisa foi desenvolvida com cinco professores do primeiro ao quinto ano do ensino fundamental com o objetivo de compreender o desenvolvimento de suas práticas sobre o conceito de número. O estudo foi organizado a partir das categorias necessidades como fragilidades e necessidades como possibilidades. A autora conclui que a tomada de consciência do distanciamento entre as duas perspectivas de organização do ensino do conceito de número modificou substancialmente a necessidade formativa, vista na perspectiva do ensino desenvolvimental, em relação ao que vivenciam no contexto promovido pela rede municipal de ensino. E a prática docente na perspectiva desenvolvimental apresenta como possibilidade para os professores repensar os processos formativos para essa área do conhecimento. O artigo “AS NARRATIVAS E A INVESTIGAÇÃO EM EDUCAÇÃO: UM NOVO DESIGN PARA A PESQUISA”, organizados pelas autoras Conceição de Maria Ribeiro dos Santos, Maria Lemos da Costa e Patrícia da Cunha Gonzaga, apresenta a contribuição das narrativas como abordagem metodológica no desenvolvimento de pesquisas em estudos de cunho científico, empenhada em alcançar 14 Ana Teresa Silva Sousa14 este propósito. As autoras destacam as análises produzidas sobre as narrativas a partir de seus direcionamentos e dinamismo, estas proporcionam uma gama de interações das quais avultam dimensões subjetivas que retratam a evolução do enredo exposto pelo narrador em suas experiências de vida, logo, narrar no estudo significa reviver uma face oculta do passado que permite a reelaboração do futuro. O artigo “CATEGORIAS DA PSICOLOGIA SÓCIO-HISTÓRICA QUE EXPLICAM A CONSTITUIÇÃO DO HUMANO”, autoria de Eliana de Sousa Alencar Marques, objetiva evidenciar o potencial heurístico da Psicologia Sócio-Histórica para fundamentar pesquisas em educação. Ao explicar a constituição e o desenvolvimento do humano em seu desenvolvimento histórico e os processos sociais que medeiam esse desenvolvimento, a autora faz alusão ao potencial dessa abordagem no desenvolvimento de investigações que se proponham a explicar o homem considerando-o na sua relação dialética com a realidade. No artigo “COLABORAÇÃO E O PROCESSO DE FORMAÇÃO CONTÍNUA DO PROFESSOR DE MATEMÁTICA DO ENSINO FUNDAMENTAL” foi produzido a partir do recorte da tese de doutorado, no Programa de Pós-Graduação da UFPI, a autora Elieide do Nascimento Silva toma como base de estudo os princípios do Materialismo Histórico Dialético, da Teoria Sócio-Histórica, da Pesquisa Colaborativa e, ao questionar a relação da prática educativa problematizadora com práticas criativas na resolução de problemas matemáticos realizadas pelo professor do sexto ano do Ensino Fundamental, mostra quea colaboração e a reflexividade tornam possível à compreensão da relação das práticas, porque contribui para formação profissional dos professores. No artigo “CONTRIBUIÇÕES À PROPOSTA ANALÍTICA DOS NÚCLEOS DE SIGNIFICAÇÃO: ASPECTOS METODOLÓGICOS DE UMA PESQUISA”, os autores Francisco Antônio Machado Araújo e Maria Vilani Cosme de Carvalho, a partir do trabalho de mestrado intitulado “Educação com tecnologia: conectando a dimensão subjetiva do trabalho docente mediado pelas TIC’s”, discutem a proposta analítica dos Núcleos de Significação por meio da exposição do processo de análise de uma pesquisa qualitativa mediada pela APRESENTAÇÃO 1515 Psicologia Sócio-Histórica. Por considerar que a proposta, não consiste na reunião de procedimentos fechados, mas dinâmica e aberta à contribuições metodológicas, a pesquisa permitiu ampliar a aproximação das zonas de sentido produzidas pelos sujeitos investigados e o desvelamento de sua subjetividade, através de um novo movimento analítico das notas indicativas de significação e dos núcleos temáticos. No artigo “DEFININDO A BASE EPISTEMOLÓGICA DE UMA PESQUISA SOBRE FORMAÇÃO CONTINUADA: BREVES CONSIDERAÇÕES” Erineide Cunha de Sousa propõe analisar a importância da definição da base epistemológica de uma pesquisa qualitativa, bem como discorrer sobre a formação continuada de professores na melhoria da prática pedagógica. Está é uma pesquisa bibliográfica inconclusa de mestrado em Educação da UFPI de natureza qualitativa, em que a autora caracteriza a teoria crítica como pressuposto teórico que fundamenta a base epistemológica dos estudos que está desenvolvendo. Nas discussões realizadas, destaca que a formação continuada de professores nos últimos tempos tem se afirmado como uma nova categoria que precisa ser revista rotineiramente no intuito de concretizar a formação do ser humano, para uma atuação compromissada com realidade. No artigo “DESENVOLVENDO O MÉTODO DE PESQUISA NA PERSPECTIVA SÓCIO-HISTÓRICA” o texto de autoria de Silva Maria Costa Barbosa trata de um projeto de pesquisa intitulado: “Trabalho docente e desenvolvimento profissional: estudo sobre a dimensão subjetiva das formas de enfrentamento às dificuldades vividas por professores do ensino fundamental em sala de aula”. O objetivo foi de identificar e apreender os sentidos e significados produzidos por uma professora do ensino fundamental de uma escola pública acerca da sua atividade pedagógica no enfrentamento das dificuldades. A base teórico-metodológica advém da Psicologia Sócio-Histórica e dos fundamentos do Materialismo Histórico Dialético. A análise e interpretação dos dados foram realizadas a partir dos núcleos de significação com base em Aguiar e Ozella (2006). No artigo “NARRATIVIDADE DE PROFESSORES ALFABETIZADORES EM INÍCIO DE CARREIRA: EXPERIÊNCIAS E 16 Ana Teresa Silva Sousa16 APRENDIZAGENS CONSTRUÍDAS”, Ana Lúcia Floriano de Moura e Antônia Edna Brito, a partir do eixo de análise Aprendizagens docentes: relação teoria e prática no contexto alfabetizador, desenvolveram pesquisa qualitativa com abordagem narrativa sobre formação inicial de professores alfabetizadores que, segundo as autoras, torna possível conhecer a subjetividade que norteia os sujeitos pesquisados. Orienta-se teoricamente em Garcia (1999); Nono (2011), dentre outros. O estudo teve como análise Bardin e Franco, concluindo que o espaço de atuação profissional, proporciona aos alfabetizadores iniciantes aprendizagens significativas, fato que requer uma formação reflexiva dotada de uma base sólida de conhecimentos profissionais e com capacidade para uma competente tomada de decisões diante dos desafios da prática pedagógica. O artigo “PERCEBER E APRENDER”, de autoria de Maria Salonilde e Marineide Gomes de Oliveira da Cunha, analisa relação entre o desenvolvimento da percepção e o aprendizado da leitura de alunos da educação infantil de uma escola pública da cidade de Poço Branco/RN. O trabalho fundamenta-se no Materialismo Histórico Dialético, a neurociência (RATEY, 2002) e a bio psicologia (PINEL, 2005), tendo a pesquisa colaborativa e o paradigma colaborativo critico reflexivo como aporte metodológico. O resultado parcial da pesquisa apontado pelas autoras é que as crianças percebem apenas a relação espacial de distância, o que demostra a necessidade de continuidade do estudo, para outras apreciações. O artigo “PESQUISA COLABORATIVA: POSSIBILIDADE DE SACIAR A FOME E A SEDE DE INVESTIGAR AS PRÁTICAS DOCENTES” é um estudo desenvolvido pelas autoras Rosalina de Sousa Rocha da Silva e Ivana Maria Lopes de Melo Ibiapina e objetiva explorar questões relativas à Pesquisa Colaborativa conduzida no contexto da educação básica e as possibilidades de transformações dessas práticas na educação. O estudo foi realizado com os professores de Artes Visuais na educação profissional técnica de nível médio, na perspectiva de que estes se fortaleçam ética e afetivamente, a partir de ações colaborativas que promovam o questionamento acerca do seu fazer pedagógico e das teorias que o embasam. As autoras evidenciam que na Pesquisa Colaborativa os partícipes, em APRESENTAÇÃO 1717 colaboração, são capazes de descrever, de informar, de confrontar e de reelaborar suas ações, potencializando seu agir em favor do compartilhamento de significados e da negociação de sentidos. No artigo “REFLEXÕES E COLABORAÇÃO COM PROFESSORES UNIVERSITÁRIOS: DUPLA ESTIMULAÇÃO PARA COMPREENSÃO DO QUE É REFLEXÃO CRÍTICA’’, a pesquisa relatada é tem como autoria Ivana Maria Lopes de Melo Ibiapina e foi desenvolvida a partir da identificação das necessidades formativas dos professores e se propôs, por meio do significado de reflexão, a organizar estudo para que houvesse dupla estimulação: reflexão e colaboração na produção compartilhada dos saberes necessários à reflexão crítica. A opção teórica metodológica orientou-se pelos princípios do Materialismo Histórico Dialético e da pesquisa colaborativa. No estudo, os significados e sentidos enunciados de reflexão produzidos pelos professores, na sua maioria, ocorreu através de apreensões sistematizadas de experiências concretas e de abstrações que advém das perspectivas técnica e pragmática. O processo formativo vivenciado na pesquisa contribuiu para que as compreensões compartilhadas expandissem os sentidos e significados de reflexão. Centrado no processo colaborativo, os docentes se apropriam do significado de reflexão crítica enunciando e, inclusive, de quais os saberes necessários ao processo reflexivo crítico. Por fim, o artigo “A SOCIOPOÈTICA COMO ABORDAGEM DE PESQUISA E ENSINO-APRENDIZAGEM COM/ENTRE ADOLESCENTES E JOVENS”, Shara Jane Holanda Costa Adad e Sandra Haydèe Petit, tem como foco de discussões adolescentes e jovens. A compreensão das autoras é de que, pesquisar e lidar com jovens é possível desde que se acredite neles e em suas capacidades. Com base na sociopoética (GAUTHIER, 2003; 2004), aprenderam a pesquisar e lidar com jovens imbuídas de sensibilidade. Chamam a atenção na conclusão do estudo para a necessidade das artes para viver, e no dizer delas: essa é a condição para que os jovens possam viver, brincar e, principalmente, apaixonar-se pela vida. Para as autoras, há necessidade de destituição dos conceitos considerados eternos e também com a verdade que pode ser rasgada pela criação artística. 18 Ana Teresa Silva Sousa18 A coletânea de textos que compõe este livro configura o compromisso da AFIRSE em colocar a disposição da comunidade científica acadêmica as mais diversas produções de pesquisas em educação, no sentido de oferecer aos leitores de diversas instituições formativas uma rica e variada produção de conhecimentos que contribuirão para a melhoria da qualidade da educação no campo em que se inserem os professores formadores. O resultado dos artigos desta publicação traz no amalgamo o sentido do inacabamento, processo contínuo de pesquisas nas diversasperspectivas teóricas e metodológicas. Os diversos objetos de estudo propostos pelos autores se conectaram dialeticamente nesta obra, posto que, depreendeu-se das distinções apresentadas para manter a identidade de cada proponente desta obra, um livro que inicia e encerra reflexões atuais no campo educacional. INTRODUÇÃO 19 INTRODUÇÃO Antonina Mendes Feitosa Soares - UFPI Wirla Risany Lima Carvalho - UFPI Uma teoria não é o conhecimento; ela permite o conhecimento. Uma teoria não é uma chegada; é a possibilidade de uma partida. Uma teoria não é uma solução; é a possibilidade de tratar um problema. Em outras palavras, uma teoria só realiza seu papel cognitivo, só ganha vida com o pleno emprego da atividade mental do sujeito. É essa intervenção do sujeito que dá ao termo método seu papel indispensável. (MORIN, 2015) Diante da intencionalidade de discorrermos sobre conhecimentos que são produzidos em contextos históricos e sociais, bem como almejando fugir de uma visão dualista que ainda predomina na sociedade contemporânea alicerçada nos sentimentos e princípios que caracterizam o egocentrismo humano, fez-nos recorrer ao pensamento de Morin (2015) ao tratar das teorias que orientam os métodos e suas metodologias. Para tanto, introduzimos palavras repletas de significados e sentidos com o desejo de provocar reflexões sobre as aproximações e distanciamentos Antonina Mendes Feitosa Soares • Wirla Risany Lima Carvalho20 existentes entre método e metodologia, no contexto das abordagens críticas e reflexivas, objeto desse livro. A reflexão, desenvolvida neste exemplar vem como contraponto aos que ainda defendem paradigmas conservadores, em que os conhecimentos são produzidos de forma fragmentada e dissociada, posto que concordamos com Morin (2012, p. 15), ao instigar uma reflexão em seus questionamentos: “[...] pode-se comer sem conhecer as leis da digestão? Respirar sem conhecer as leis da respiração? Pensar sem conhecer nem as leis da natureza, nem as do pensamento? Nesse sentido, questionamos a compreensão dos fenômenos dissociados das suas relações e ressaltamos a necessidade de pensar, sentir e desenvolver ações orientadas pelos pressupostos de novos paradigmas, nos quais a busca por relações e complexidades intrínsecas, geram a sua própria forma de conceber o homem e a sociedade em que está inserido. Ressalta Morin (2012, p.7-8) que: As representações tradicionais do homem ajudaram a despedaçá- lo, a fragmentá-lo, privando-o de sua riqueza multidimensional (sua identidade é ao mesmo tempo biológica, psicológica e social). Trata-se agora e urgentemente de costurar, de articular aquilo que as ciências humanas e as ciências clássicas haviam dispersado. Pensar sobre esse “homem velho” e superá-lo, torna-se exigência diante dos problemas da sociedade complexa, dando-lhe o devido crédito de se inserir em um novo contexto de construção sócio-histórica, em redes de conexão com funções essencialmente colaborativas. (MORIN, 2012) Indubitavelmente, nesse ínterim, surge o “novo homem” com um olhar mais apurado e desafiador, de si mesmo, do outro e de tudo que o cerca, utilizando-se de um meta ponto de vista, alicerçado em uma autoética crítica e reflexiva de si mesmo, como norteador de suas intencionalidades educativas, assim como de suas pesquisas. (MORIN, 2011). Esse olhar de pesquisador envolvido com a autoética e com um meta ponto de vista transforma o campo de pesquisa em mundo, INTRODUÇÃO 21 assim como o objeto de estudo em realidade. Nesse sentido, suas intencionalidades não são mais ‘de’ e ‘para’ si mesmo apenas, mas ‘do’ e ‘para’ o mundo que o cerca, que o recebe e transforma como partícipe. (MORIN, 2011). Aspectos que nos faz lembrar de Milton Nascimento ao cantar “Cidadão do mundo eu sou”, destacando a colaboração entre os vários olhares que convivem‘como’ e ‘para uma’ “janela para o mundo”. Assim são os campos de pesquisa, em que métodos e metodologias colaboram no olhar paradigmático e complexo, que desperta campo repleto de possibilidades diante da materialidade, historicidade e movimento inerentes. (AFANASIEV, 1968). Em face da observação sobre paradigmas e sua relação com um método, Morin (2014, p.335) ressalta que não devemos compreender a palavra método com o sentido que se lhe atribui a ciência clássica, pelo contrário, deveríamos analisá-la a partir de seu sentido original. Uma vez que no viés clássico nada mais é que: “[...] um corpus de receitas, de aplicações quase mecânicas, que visa à excluir todo sujeito de seu exercício.” Afirma, portanto, que “O método degrada- se em técnica porque a teoria se tornou um programa.” Certamente, quando Morin (2014, p.335) enfatiza que teoria e método estabelecem relações recorrentes, na complexidade, “[...] a teoria é engrama, e o método, para ser estabelecido, precisa de estratégia, iniciativa, invenção, arte.”. Porquanto, destaca invariavelmente a função do pesquisador nesse processo quando advoga que O método, gerado pela teoria, regenera-a. O método é a praxis fenomenal, subjetiva, concreta, que precisa de geratividade paradigmática/teórica, mas que, por sua vez, regenera esta geratividade. Assim, a teoria não é o fim do conhecimento, mas um meio-fim inscrito em permanente recorrência. (MORIN, 2014, p.335-336) Ainda em relação à recorrência entre método e teoria, o autor avulta que a complexidade intrínseca à uma teoria complexa necessita de uma constante recriação intelectual, pois não estando em movimento, “[...] Arrisca-se incessantemente a degradar-se, isto Antonina Mendes Feitosa Soares • Wirla Risany Lima Carvalho22 é, a simplificar-se. Toda teoria entregue a seu peso tende a achatar- se, a unidimensionalizar-se, a reificar-se, a psitacizar-se.”. (MORIN, 2014, p. 336) Ainda em relação aos perigos que correm as teorias, diante de um contexto de complexidade, Morin (2014, p. 339) afirma que “[...] Em todo pensamento, em toda investigação, há sempre o perigo de simplificação, de nivelamento, de rigidez, de moleza, de enclausuramento, de esclerose, de não retroação; há sempre a necessidade, reciprocamente, de estratégia, reflexão, arte.” Porquanto, para Morin (2014, p.337), “[...] a teoria não é nada sem o método, a teoria quase se confunde com o método ou, melhor, teoria e método são dois componentes indispensáveis do conhecimento complexo.”. O método seria, portanto, uma atividade pensante e consciente do sujeito pesquisador e, por acréscimo – em alusão à fala de Descartes (2012) que ressalta o método como arte de guiar a razão nas ciências –, o autor enfatiza que “[...] é a arte de guiar a ciência na razão.”. (MORIN, 2014, p. 339). Diante do exposto, nesse olhar complexo, dinâmico e pesquisador, visando à não simplificação das teorias complexas, não há como falar das metodologias sem ressaltar o método ou vários métodos existentes que dão sentido às metodologias. Destarte, entre métodos e metodologias, há muito o que se compreender. Há muito se confundem as nuances e peculiaridades que lhes cercam na construção do conhecimento e de uma consciência humana. Notório se faz, no entanto, que são complementares em suas funções de fundamentação e produção de saberes, uma vez que, ressaltando o que Marx (2002) preconiza a respeito da formação da consciência que se adquire ou se determina, a partir da vivência material. Assim, destaca este, que não é a consciência que determina a vida. Desta forma, podemos inferir que da aplicação do método e das metodologias, surgem campos de possibilidades de formação de consciência antes, durante e depoisda pesquisa aplicada. O método, instância maior dentro dessa relação, apresenta-se como um status quo a ser definido para um momento a ser pesquisado. Um olhar direcionado e inserido num contexto, onde as metodologias irão, complementarmente, desenhar os caminhos a serem trilhados INTRODUÇÃO 23 pelo pesquisador, visando a obtenção de resultados em relação ao objeto investigado.Kopnin (1978, p. 92) ao tratar dessa temática defende “[...] método como certo procedimento, como um conjunto de meios e ações exercidas sobre o objeto estudado”. Referindo-se ao método, Viera Pinto (1969, p. 373) afirma que: O método brota na natureza da consciência, é uma exigência dela, e por isso não pode ser dissociada da consideração do ser do homem, enquanto animal naturalmente investigador da realidade. O método é, na verdade, a forma exterior, materializada em atos, assumida pela propriedade fundamental da consciência, a sua intencionalidade. Esse entendimento nos leva a inferir que o conhecimento em seus diversos entendimentos e a prática social vivenciada criam seus métodos com base na unidade orgânica entre objetividade e subjetividade. Portanto, a consciência é por essência o “caminho para” algo diferente dela, que está fora dela em um mundo que a circunda e que consegue aprender pela capacidade ideativa que possui. No entendimento desse teórico, a consciência é por definição método. (VIEIRA PINTO, 1969). Esse entendimento de método não remete à estagnação, mas ao devir e, considerando que tanto o conteúdo quanto as relações desenvolvem-se com o progresso da Ciência e com o entendimento histórico de método, condição que nos coloca na oposição daqueles que defendem o essencialismo, o racionalismo, e nos encaminha para pensar o homem e a realidade na perspectiva histórico-social, a partir de um modo dialético materialista de pensar, uma vez que este se constitui em “[...] meio e método de transformação por meio da análise crítica do material factual concreto” (KOPNIN, 1978, p. 83). Constitui-se, portanto, em um modo de análise concreta do objeto real, dos fatos reais. Partindo dessa lógica, o conhecimento constitui-se não no campo do espírito, mas elaborado e significado pelos sujeitos nas relações sociais ao vivenciarem determinada realidade. Como afirma Viera Pinto (1969), a base do conhecimento do método é objetiva, tem caráter material, realiza-se no desenvolvimento histórico do conceito de método. Antonina Mendes Feitosa Soares • Wirla Risany Lima Carvalho24 Referindo-se ao caráter objetivo do método, Pavlov (1948, p. 401, grifo do autor) destaca alguns de seus atributos “[...] como lei objetiva ‘transplantada’ e ‘transferida’ na consciência humana empregada de modo consciente e planificado como vínculo de explicação e mudança do mundo.”. Para esse teórico o método científico é a regularidade interna do movimento do pensamento humano, tomada como reflexo subjetivo do mundo objetivo. Em nosso entendimento, neste exemplar, os autores evidenciam a importância do método no contexto das pesquisas, pois ressaltam seu caráter regulador interno no momento da internalização e construção do pensamento e da ação humana. É um pensar ordenadamente subjetivo que regula ações objetivas, por assim dizer. Como preconiza Perujo (2011, p. 101), “o método justamente, tem a missão de nos guiar por esse caminho, eivado e tortuoso, trazendo pautas anteriormente validadas, procedimentos que contem com o reconhecimento da ciência”. Assim, depreendemos que os autores atentaram para o fato de que vislumbrar uma pesquisa sem um método é um caminhar sem sentido, sem as lentes a projetar a realidade. O método, pois, orienta o processo e sugere, por assim dizer, a utilização de metodologias para a sua aplicação prática. Como afirma Perujo (2011, p.103): Todo método requer sua própria metodologia. Ele não permanece isolado na órbita das conceitualizações gerais. Ele desce ao plano da práxis, recomendando um catálogo de ferramentas que dotam de operacionalidade a intenção de apreender um ponto exato da realidade (delimitação do objeto de estudo) com a finalidade de analisa-lo para, finalmente, estabelecer contribuições. No entanto, as metodologias, parcialmente trabalhadas, sem sua interlocução direta com o método, também podem chegar a resultados e possibilidades, muito embora percam em consistência e robustez. Nas discussões empreendidas no volume em foco, as metodologias nos contextos complexos de pesquisa, são essenciais na produção de um novo olhar educacional para um homem e para uma sociedade, humanamente, mais crítica. Para exemplificar, utilizamos a analogia que destaca, as metodologias como filhos que necessitam de um olhar do tutor, que INTRODUÇÃO 25 as direcionem em sentidos e significados que advêm de leis e princípios consolidados por um método. Da mesma maneira, apresentam-se como órfãos que anseiam por um seio que jorra consistência teórico- metodológica nas definições dos olhares categóricos advindos do Método escolhido, para enfim investigar a relação entre sujeitos e objetos de estudo. Nesse contexto, destacamos a necessidade que os autores desse livro sentiram de pensar sobre o método e de torna-lo o alicerce para a pesquisa e para as metodologias escolhidas. Dessa maneira, discutiremos, vez que foi a escolha predominante dos autores, o Materialismo Histórico Dialético (MHD) como método. Partindo do pressuposto de que no MHD, método criado por Marx (2002), o homem – a partir de uma necessidade que se origina em um contexto de materialidade – é o agente principal de atividade consciente, sendo ao mesmo tempo transformador e transformado nesse ínterim, assim, inferimos que não há objetividade apenas, mas um processo de internalização subjetiva, na qual se denominam de sentido e significação, porquanto não há porque pensar que apenas as metodologias – sozinhas, como procedimentos e técnicas – deem conta de tanta complexidade sem um método como pano de fundo. O método, portanto, é um alicerce lógico que promove direcionamento aos procedimentos, em um sentido de operacionalização da compreensão da essência dos fenômenos pesquisados, partindo também do olhar do próprio método, ou seja, parte-se dele a construção subjetiva de um olhar pesquisador e volta- se a ele, concatenando as metodologias ao seu direcionamento. (FERREIRA, 2017). As metodologias são, por assim dizer, a execução de procedimentos técnico-científicos que foram construídos, subjetivamente, por um pensamento alicerçado em uma estrutura lógica que as definem. E qual a melhor metodologia a aplicar? Poderemos nos deparar com esse questionamento, já que existem metodologias quantitativas, qualitativas e mistas (que seria a junção dessas duas). Em resposta, Sampieri, Collado e Lucio (2013), apresentam opiniões de pesquisadores que destacam que na década de 1970 Antonina Mendes Feitosa Soares • Wirla Risany Lima Carvalho26 havia uma tendência forte para metodologias quantitativas pela forte influência do positivismo, no entanto, por volta do final do século XX, à medida que o paradigma qualitativo foi sendo desenvolvido, as metodologias qualitativas ganharam seu espaço e se solidificaram no campo da pesquisa, como extremamente pertinentes às discussões de compreensão e intervenção nos fenômenos que interferem na vivência social humana. Destarte, precisamos destacar um posicionamento bastante pertinente à nossa reflexão, a partir do que os autores supracitados trazem em suas indagações e de outros pesquisadores, acerca de que tipo de metodologia é mais fidedigna: “O que é melhor: um serrote, uma chave de fenda ou um martelo?” (SAMPIERI, COLLADO, LUCIO, 2013, p. 400). Afirmam estes autores que a melhor resposta seria a de que tudo depende para que vamos utilizar. Nesse sentido, podemos incorporar aqui a necessidade de um método que nos direcione nessa escolha. Muito embora saibamos, que muitos “[...] por inexperiência ou inaptidão, insistem em utilizar um serrote para pregar um prego ou uma chave de fenda para cortar uma madeira [...]”. (SAMPIERI, COLLADO, LUCIO, 2013, p. 400). A partir desse olhar crítico dos autores, podemos destacar ainda que muitos pesquisadores cometem o erro de insistir em uma metodologia apenas por modismos ou comodismos de sua preferência. Destarte, faz-se necessário que chamemosà atenção para esse fato, pois fundamentar-se em um método, conscienciosamente, minimiza esses efeitos danosos de agir metodologicamente à revelia. Ressalta Gonsalves (2001, p.61), que o registro metodológico está para além de apenas percorrer um caminho e, sim, na capacidade de apresentar uma postura epistemológica, no momento em que explicita “[...] a relação entre sujeito-objeto do conhecimento.”. Nesse mesmo sentido, a autora supracitada apresenta que: Méthodos significa o caminho para chegar a um fim, enquanto logos indica estudo sistemático, investigação. Assim, no sentido etimológico, metodologia significa o estudo dos caminhos a serem seguidos, incluindo aí os procedimentos escolhidos. (GONSALVES, 2001, p. 62, grifos da autora). INTRODUÇÃO 27 Sendo que, nesse ínterim, também destaca a compreensão de que a metodologia é intrinsecamente ligada ao Método escolhido, uma vez que“entendida como o caminho e o instrumental próprios para abordar aspectos do real, a metodologia inclui concepções teóricas, técnicas de pesquisa e a criatividade do pesquisador.”(GONSALVES, 2001, p. 62). Assim, destaca Gonsalves (2001, p. 62): Incluir concepções teóricas na metodologia não significa que você deverá fazer outra revisão bibliográfica. O que está sendo colocado é que a escolha do método remete para uma posição teórica (positivista, estruturalista, dialética, fenomenológica, dentre outras) e que deve ser explicitada. Dessa maneira, devemos demonstrar de que forma aproximou- se de seu objeto de estudo e a forma com que deseja estudá-lo. Para tanto, lançamos mão de procedimentos que devem ficar claros no momento e com a intenção de uma coleta de dados, não só em sua forma técnica de aplicação, mas em sua própria escolha. Como exemplo, citamos a preferência por entrevistas deve ser explicada como procedimento escolhido e depois a sua forma proposta de aplicação com os partícipes da pesquisa. (GONSALVES, 2001). Nesse sentido, um destaque interessante nas metodologias qualitativas é a criatividade, também desenvolvida, a partir de certa experiência em pesquisas científicas, em que o próprio pesquisador tem liberdade de apresentar seu percurso metodológico, desde que seja fiel aos pressupostos do método que utiliza como alicerce. (GONSALVES, 2001). Nesse contexto, Gonsalves (2001, p. 63) afirma que, “Assim, a criatividade é um poderoso elemento do processo de pesquisa, que está posto desde seu início e que não pode ser definido a priori, pois está na dependência do processo de investigação.” Em face ao exposto, sendo o que se apresenta no contexto das inter-relações entre teoria, método, metodologias, conhecimento, consciência e criatividade, precisamos indubitavelmente destacar o papel da crítica e da reflexão nesse cenário como meio e produto do pesquisador. Antonina Mendes Feitosa Soares • Wirla Risany Lima Carvalho28 Inicialmente, faz-se necessário ressaltar que para se falar em crítica e em reflexão, tanto na pesquisa, quanto fora desta, devemos desenvolver a escuta, pois não há diálogo e dialogicidade sem haver um processo de ouvir o outro e isto, notadamente, está relacionado ao respeito à existência e aos pensamentos/pontos de vista desse outro, mesmo que adversos aos nossos, internalizando-o como partícipe de uma construção de conhecimento. Apresentando-se, dessa forma, a crítica e a reflexão como categorias de suma importância às pesquisas no paradigma qualitativo, pois das contradições reveladas pelos partícipes, originam-se também conhecimentos e concepções, a partir dessas inter-relações contextualizadas no objeto de estudo. Em reforço a este pensamento, Morin (2014, p. 29) apresenta que: O princípio de explicação da ciência clássica via no aparecimento de uma contradição o sinal de um erro de pensamento e supunha que o universo obedecia à lógica aristotélica. As ciências modernas reconhecem e enfrentam as contradições quando os dados apelam, de forma coerente e lógica, à associação de duas idéias contrárias para conceber o mesmo fenômeno (a partícula que se manifesta quer como onda, quer como corpúsculo, por exemplo). Destarte, havia na ciência clássica uma concepção de que o observador deveria distanciar-se da observação, já nas ciências modernas há uma conclamação à participação e envolvimento deste. Sendo que, a partir desse olhar de observador, automaticamente, a necessidade de auto-relativização surge como sentimento de modéstia e humildade, no momento em que internaliza que o seu ponto de vista, a sua crítica e a sua reflexão são parciais, relativas e não são as únicas a existirem. (MORIN, 2014). Tendo em vista a afirmação acima, com excelência destaca Morin (2014, 29), “[...] vemos que o próprio progresso do conhecimento científico exige que o observador se inclua em sua observação, o que concebe em sua concepção; em suma, que o sujeito se reintroduza de forma autocrítica e auto-reflexiva em seu conhecimento dos objetos.”. INTRODUÇÃO 29 Neste livro, em busca de agir e pesquisar, a partir de princípios que deem conta da complexidade que vivemos, os autores necessitam distinguir e analisar, estabelecendo uma comunicação, inter-relações, co-participações, entre o objeto de estudo e o seu contexto, bem como entre o seu observador e a coisa observada. (MORIN, 2014). Pois, afirma Morin (2014, p. 30), que o observador: [...] Esforça-se não por sacrificar o todo à parte, a parte ao todo, mas por conceber a difícil problemática da organização, em que, como dizia Pascal, ‘é impossível conhecer as partes sem o todo, como é impossível conhecer o todo sem conhecer particularmente as partes’. Sendo que, nesse movimento é relevante que os pesquisadores – diante das dimensões físicas, biológicas, espirituais, culturais, sociológicas e históricas da própria concepção daquilo que é humano – desenvolvam “[...] amplamente o diálogo entre ordem, desordem e organização, para conceber, na sua especificidade, em cada um dos seus níveis, os fenômenos [...]”, pois se outrora a ciência reduzia seu conhecimento apenas ao que se podia manipular, atualmente, “[...] há que insistir fortemente na utilidade de um conhecimento que possa servir à reflexão, meditação, discussão, incorporação por todos, cada um no seu saber, na sua experiência, na sua vida [...]”. (MORIN, 2014, p. 30). Porquanto, ao introduzirmos essas reflexões sobre a tessitura entre método e metodologia, ressaltamos que – mesmo que não explicitado – o método deve apresentar-se no contexto da pesquisa aplicada e definida pelo pesquisador. Sob esse viés, destacamos que este livro, intitulado Metodologias de pesquisa: abordagens críticas e reflexivas, apresenta múltiplos caminhos que demonstram, clara ou implicitamente, suas escolhas por métodos e metodologias próprias e estabelecidas, dentro da diversidade de críticas e reflexões que coexistem no paradigma qualitativo, proporcionando de forma criativa uma contextura que se fundamenta na experiência histórica da pesquisa científica. Decisivamente, finalizamos este excerto, agraciadas com os olhares dos autores, a partir dessa tessitura, pois não só nos brindam Antonina Mendes Feitosa Soares • Wirla Risany Lima Carvalho30 com artigos e conhecimentos advindos de seus achados, assim como com oportunidades, ou seja, possibilidades de se refletir e pensar criticamente sobre a pesquisa acadêmica e suas especificidades no cenário brasileiro. Referências AFANASIEV, V. Fundamentos da Filosofia. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1968. FERREIRA, M. S. Para não dizer que não falei de método. In: IBIAPINA, I.M.L. de M.; BANDEIRA, H. M. M. B. Formação de professores na perspectiva histórico-cultural: vivências no Formar. Teresina: EDUFPI, 2017. p. 57-78. DESCARTES, R. Discurso do Método: meditações. Tradução de Roberto Leal Ferreira. 2.ed. São Paulo: Martin Claret, 2012. Coleção a obra prima de cada autor – 45. GONSALVES, E. P. Conversas sobre iniciação à pesquisacientífica. Campinas, SP: Editora Alínea, 2001. KOPNIN, P.V. A Dialética como lógica e teoria do conhecimento. Rio de janeiro: Civilização Brasileira.1978. MARX, K.A ideologia alemã. São Paulo: Centauro, 2002. MORIN, E.Ciência com consciência. Tradução de Maria D. Alexandre e Maria Alice Araripe de Sampaio Dória. Ed. Revista e modificada pelo autor. 16.ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2014. ____. Para onde vai o mundo? Tradução de Francisco Morás. 3.ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2012. ____. O Método 6: Ética. Tradução de Juremir Machado da Silva. 4.ed. Porto Alegre: Sulina, 2011. INTRODUÇÃO 31 PAVLOV, I. Teoria do Reflexo. Moscou: Edições Progresso, 1948. PERUJO, S. F. Pesquisar no labirinto: a tese doutorado, um desafio. Tradução: Marcos Maecionilo. São Paulo: Parábola Editorial, 2011. SAMPIERI, R.H; COLLADO, C.F; LUCIO, M.del P.B. Metodologia de Pesquisa. Tradução de Daisy Vaz de Morais. Revisão Técnica de Ana Gracinda Queluz Garcia, Dirceu Silva, MarcosJúlio. 5.ed. Porto Alegre: Penso, 2013. VIEIRA PINTO, A. Ciência e existência: problemas filosóficos da pesquisa científica. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1969. A CONEXÃO DE SABERES: ELABORAÇÃO CONCEITUAL E INTERDISCIPLINARIDADE 33 A CONEXÃO DE SABERES: ELABORAÇÃO CONCEITUAL E INTERDISCIPLINARIDADE Maria Salonilde Ferreira AFIRSE – Seção Brasileira O Estrangeiro: Distinto amigo, esmerar-se em separar tudo de tudo é algo não somente discordante, como também é prova de desconhecimento das Musas e da filosofia. Teeteto: Por quê? O Estrangeiro: É a mais radical maneira de aniquilar toda argumentação, esta de separar cada coisa de todas as outras, pois a razão nos vem da ligação mútua entre as figuras. Platão A busca da unidade é uma questão posta desde a antiguidade, como pode ser observado no diálogo entre Teeteto e o Estrangeiro. Essa questão tão antiga é ao mesmo tempo muito atual, particularmente, em se tratando de produção de saberes. Os conhecimentos histórica e socialmente produzidos foram se fragmentando em áreas distintas, conf igurando uma visão dualista que se tornou um paradigma ainda predominante. Essa forma como se configura o Maria Salonilde Ferreira34 saber tem feito, historicamente, com que continue, na produção do conhecimento, a separação, caracterizada pela fragmentação, disjunção e isolamento. Cada um desses fragmentos ignora as relações que poderão exercer entre si, assim como, as relações com o universo do qual fazem parte. É verdade que esforços são empreendidos no sentido de superar essa fragmentação, em particular, as propostas relativas à interdisciplinaridade. No entanto, observamos frequentemente resistências em relação a se estabelecer o diálogo, e as instituições de ensino continuam a fortalecer o modelo fragmentado das disciplinas escolares que no entender de Morin (2004, p.5609) advém: [...] do princípio da separação, muito bem formulado por Descartes. No que diz respeito ao conhecimento objetivo, ele separa as matérias umas das outras, e ele separa o objeto conhecido do sujeito conhecedor. Ele leva ao princípio da especialização, que adquiriu uma dimensão extraordinária pela organização das disciplinas [...]. Na tentativa de romper com essa postura hegemônica, foi que desenvolvemos junto a um grupo de educadores, uma experiência de formação continuada onde reaprendêssemos, como advertia Platão, a unidade entre as coisas. A reflexão a seguir tem como parâmetro a investigação que se efetivou no contexto de uma proposição curricular onde se privilegia a elaboração conceitual e suas inter-relações entre os saberes. Deter- nos-emos na análise da avaliação efetivada pelos professores que vivenciaram a experiência de pesquisa e formação. A BUSCA Para viabilizar o que foi objetivado, elaboramos a proposta de um curso de especialização em Educação Infantil (2007), a f im de possibilitar a compreensão da realidade existente, o desenvolvimento de novas concepções de conhecimento e de ciência, à redução do processo de fragmentação das disciplinas, assim como, à apreensão do papel da escola e particularmente do A CONEXÃO DE SABERES: ELABORAÇÃO CONCEITUAL E INTERDISCIPLINARIDADE 35 professor nesse processo de ruptura que poderia conduzir a uma efetiva interdisciplinaridade. Esse desafio desencadeou a busca de adesão dos professores da universidade responsável pelo Curso – Universidade Federal do Piauí/UFPI. Nove (9) professores aderiram à proposta, compondo o grupo responsável pelo a execução do curso, sendo que dentre eles dois (2) coordenariam a pesquisa e dois (2) ficariam responsáveis pela coordenação do Curso. Para manter o anonimato os professores serão identificados pelas letras iniciais do nome. O grupo de alunos compreendia quarenta (40) professoras de educação infantil, das redes particular e pública (estadual e municipal). O curso foi realizado na cidade de Parnaíba/PI na Escola X às sextas-feiras (17h às 22h) e aos sábados (07h30min às 12h30min e das 14h às 17h). Constituído o grupo de professores, realizamos uma reunião em que discutimos os objetivos da proposta e os princípios que a orientam, destacando a pertinência de superar a tendência programática das disciplinas e estruturarmos o currículo por áreas de estudos organizadas em redes conceituais. Os professores aceitaram em participar da experiência o que passou a exigir a definição de algumas estratégias relativas à sua execução: • Seminário para estudo e discussão do procedimento metodológico adotado: “Metodologia da Elaboração Conceitual”. • Opção pelas áreas do conhecimento que compunham os módulos constitutivos da grade curricular, conforme o quadro a seguir. Maria Salonilde Ferreira36 Quadro – 1 Grade Curricular Módulos Áreas do Conhecimento I Fundamentos Filosóficos da educação Fundamentos Sociológicos da educação Fundamentos Psicológicos da educação Teorias Educacionais II Processos do ConhecerPesquisa Educacional I Seminário de Pesquisa I III Atividade Brincar Planejamento e Organização Escolar Currículo e Avaliação na Educação Infantil IV Pesquisa Educacional IISeminário de Pesquisa II • Reflexão no sentido de precisar os conceitos que comporiam o corpus teórico do conhecimento de cada área, delimitando os conceitos que constituiriam a rede de conhecimentos. A proposição de nos centramos na elaboração conceitual como elemento de integração de conhecimentos tem como referência, entre outros, os estudos de Vigotski (2000), Kopnin (1978), Burlatski (1987), Guetmanova (1989) e resultados de pesquisas realizadas por alguns componentes do grupo (FERREIRA, 2009). Os resultados desses estudos apontam indícios relativos à natureza dos conceitos. Os seus signif icados formam uma rede de conexões, pois cada conceito é uma generalização, e a relação entre eles é uma relação de generalidade que expressa ao mesmo tempo seu grau de abstração e sua concretude, como também a singularidade e a particularidade, conexões sem as quais o conceito não existiria. Isso possibilita interconexões as quais se urdem multidimensionalmente incluindo tanto as dimensões socioculturais e bio-psicológicas quanto às lógicas e semióticas inerentes aos processos de produção de signif icados, possibilitando sua estruturação em redes; A CONEXÃO DE SABERES: ELABORAÇÃO CONCEITUAL E INTERDISCIPLINARIDADE 37 • Organização das redes conceituais, considerando que a imagem produzida pelo momento icônico do conhecimento em rede cria possibilidades de mudança de perspectiva na configuração das ações pedagógicas no interior da escola, particularmente, a organização do conhecimento escolarizado. Na organização do conhecimento em redes conceituais, a unidade do diverso se evidencia sem que tal conexão pareça uma arbitrariedade ou uma usurpação, permitindo direcionar os significados que os conceitos adquirem em cada área das ciências para a progressiva elaboração, pelo aluno, do conhecimento acerca do universo, do ser humanoe das relações que este estabelece com o mundo, como também com os seus semelhantes. Possibilita, ainda, a apreensão do estatuto social e histórico do conhecimento produzido por seres humanos dotados de espírito e consciência, biológica e psicologicamente capazes de refletir sobre si mesmo, sobre o mundo, a vida, a sociedade e o próprio conhecimento. As metáforas que tentam dar concretude ao currículo são múltiplas. Poderemos iniciar com a etimologia do próprio termo “currículo”. Este advém do vocábulo latino currere – caminho, jornada, percurso. Essas metáforas se diversificam, percorrendo um caminho que passa pelo artefato social (GOODSON, 1997), território (SILVA, 1995) até os atratores ou caos (MACPERSON apud PACHECO, 1996). A metáfora concretiza, contraditoriamente, objetividade e subjetividade, uma vez que contém a variedade da realidade, assim como a intencionalidade e as múltiplas perspectivas dessa realidade. Esse fato torna-se mais evidente à medida que se avança na análise da metáfora rede. Os aspectos constitutivos de sua estrutura começam a emergir a partir do momento em que se expande, tornando-se momento icônico de diversas áreas do conhecimento. A história, que nos conduziu a utilizar a metáfora da rede como elemento estrutural da proposta curricular do Curso é longa. Envolve nossas concepções de sociedade, educação, ser humano, conhecimento, ensino, aprendizagem, assim como a nossa compreensão de como esses fatores se inter-relacionam. Inclui, Maria Salonilde Ferreira38 também, opções teórico-metodológicas e resultados alcançados em estudos e investigações efetivadas no interior de escolas públicas. Para representar graficamente as redes inspiramo-nos nos princípios indicados por Galagovisky (1993). Segundo esse autor, cada conceito representa os nós da rede unidos por frases que indicam a direção da leitura da rede. Essa poderá se iniciar a partir de quaisquer conceitos (nós) da rede, com a condição de respeitar o sentido das flechas. Fundamentando-se nas contribuições das ciências neuropsicológicas e do construtivismo, o autor considera, ainda, que as redes conceituais podem ser interpretadas, ao mesmo tempo, como análogos semânticos de um recorte de estrutura cognitiva que simboliza nossos saberes e, como análogos semânticos dos modelos neurônicos constitutivos físicos desses saberes. Assim, ele afirma que as redes conceituais constituem-se uma imagem icônica dos análogos semânticos dos modelos neurônicos, ou seja, são circuitos de orações nucleares que codificam significados fundamentais e aprendizagens entretecidos de acordo com as conexões que cada sujeito é capaz de executar (GALAGOVSKI, 1993). Apresentaremos, a título de ilustração, redes conceituais de algumas áreas de conhecimento constitutivas da proposta curricular do Curso. A CONEXÃO DE SABERES: ELABORAÇÃO CONCEITUAL E INTERDISCIPLINARIDADE 39 Fonte: Pesquisa Currículo em Rede: ativando a formação crítico-reflexiva – 2006/7 Maria Salonilde Ferreira40 Fonte: Pesquisa Currículo em Rede: ativando a formação crítico-reflexiva – 2006/7 A CONEXÃO DE SABERES: ELABORAÇÃO CONCEITUAL E INTERDISCIPLINARIDADE 41 Fonte: Pesquisa Currículo em Rede: ativando a formação crítico reflexiva – 2006/7 Maria Salonilde Ferreira42 Operacionalizar o currículo exigiu que se definissem situações de aprendizagem propícias à elaboração e internalização de conceitos e ao desenvolvimento de funções mentais, processos e procedimentos psíquicos peculiares à formação de conceitos. Nessa direção, foram definidos procedimentos para a sondagem dos conhecimentos prévios, sistematização dos conceitos e acompanhamento do processo de elaboração conceitual, como também da proposta curricular. Para construir a parte empírica relativa à proposta em seu conjunto optamos pela entrevista temática com os professores e pela aplicação de um questionário junto às alunas. Nesse texto, ater-nos-emos ao procedimento da entrevista. Essa abrangeu os aspectos metodológicos, a interação com as alunas-professoras, as dificuldades e sugestões para sua superação. Foram realizadas em grupo, no dia 25/10/2007, na Sala de Estudo do Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal do Piauí – UFPI. Participaram desse momento sete (7) dos nove (9) professores envolvidos. As falas foram registradas em fita cassete e transcritas integralmente. Passaremos a seguir, a refletir sobre as considerações tecidas pelos professores. (RE) LIGANDO CONHECIMENTOS A imagem icônica do conhecimento em rede cria possibilidades de mudança de perspectiva na configuração da ação pedagógica do professor, particularmente no que diz respeito à internalização do conhecimento escolarizado, à prática docente e à interdisciplinaridade do conhecimento. Fato constatado a partir da experiência vivenciada de integrar os conhecimentos curriculares desencadeando um processo de ensino aprendizagem cujo elemento articulador é as redes conceituais. De um modo geral, os professores consideram a metodologia adequada aos objetivos propostos, destacando como aspectos relevantes, o momento de reconstrução ou (re) elaboração, a reflexão, a motivação e a interatividade, conforme evidencia as falas a seguir. A CONEXÃO DE SABERES: ELABORAÇÃO CONCEITUAL E INTERDISCIPLINARIDADE 43 A metodologia de trabalho do curso foi diferenciada. Nós trabalhamos com o processo de formação e desenvolvimento de conceitos, começando com o conceito prévio das alunas e posteriormente fizemos a reconstrução desse conceito com o apoio dos textos teóricos e as discussões que foram realizadas em sala de aula. Então, a metodologia foi muito positiva pelo próprio depoimento das alunas. Elas acharam muito interessante a forma de trabalho. Eu também, como professora, considero que o trabalho foi muito válido porque analisando os conceitos (elaborados pelas alunas) mesmo que ainda não de forma bem sistematizada, mas fazendo uma avaliação, uma análise do que já foi produzido, a gente percebe claramente a evolução das alunas no que se refere à internalização do conceito [...]. (I. M.). Essa ideia da reconstrução dos conceitos, do conceito inicial, da teoria e do refazer acho que é uma ideia muito importante. [...] Agora, eu acho que o essencial dessa metodologia é que ela proporciona de uma forma muito mais precisa a passagem pela prática porque esses conceitos iniciais muitas vezes têm essa base. (A. P.). Achei a proposta superinteressante. Inclusive agora, numa disciplina que eu estou trabalhando [...] eu, antes de ir para a sala de aula, pensei nos conceitos que eu poderia trabalhar, aí optei por trabalhar com cartas pedagógicas para que eles pudessem elaborar o conceito, pra eu ver o conceito prévio dos alunos e depois voltar com outra carta pra que eles mostrem o conceito que foi reconstruído (A. E.). E um momento muito importante foi a questão da construção do conhecimento prévio e o momento de reelaboração, quando elas ficaram encantadas quando viram, depois de todas as discussões que foram feitas, como é que elas viam, como é que era o ensino, o que era aprendizagem. E isso, depois que foi discutido, que foi trabalhado, que elas passaram a entender que se tratava de uma atividade (N.). O processo de formação e desenvolvimento de conceitos implica a unidade entre as modalidades de conhecimento (espontâneo e Maria Salonilde Ferreira44 científico) e a direção do seu movimento (ascendente/descendente e espiralado), assim como as suas inter-relações cria as condições nas quais se torna possível considerarmos os significados já elaborados pelos alunos e a partir dos quais se iniciar o processo de reelaboração. É Vigotski que nos dá o apoio teórico quando afirma: Acreditamos que os dois processos – o desenvolvimento dos conceitos espontâneos e dos conceitos não espontâneos – se relacionam e se influenciam constantemente. Fazem parte de um único processo: o desenvolvimento da formação de conceitos, queé afetado por diferentes condições externas e internas, mas que é essencialmente um processo unitário, e não um conflito entre formas de intelecção antagônicas e mutuamente exclusivas. (VYGOTSKY, 1987, p. 74). A compreensão dessa unidade e da sua mútua influência, como também, a relevância dada ao processo faz com que o aluno se descubra como ser capaz de produzir conhecimentos, criando uma das condições internas essenciais para aprender – a motivação –, desvelando, desse modo, os vínculos entre cognição e afetividade. Como Vigotski (1987) demonstra, em toda ideia reelaborada está presente a relação afetiva do homem perante a realidade representada nessa ideia. Assim, torna-se compreensível o destaque dos professores ao fator motivacional. É. A participação foi bastante motivadora, elas se sentiram motivadas para dizer (inaudível) comparar os conceitos com outros conceitos e os seus próprios conceitos. Eu acho isso aí o mais importante, foi a comparação que elas fizeram entre o conceito que elas emitiram no início e depois no processo de reelaboração. (I. M.). Quero destacar também o interesse das alunas. Elas se mostravam muito interessadas, questionando, procurando esclarecimentos e isso é um fator que eu considero bastante positivo para uma metodologia que é a primeira vez que está sendo experimentada no ensino superior [...] e que, pelos depoimentos, tudo indica que funciona. (M. S.). A CONEXÃO DE SABERES: ELABORAÇÃO CONCEITUAL E INTERDISCIPLINARIDADE 45 Só complementando. É a questão do interesse do grupo em relação ao desenvolvimento das atividades, porque mesmo chegando cansadinhas, elas tinham sempre aquela preocupação de já ter feito a leitura do texto, essa coisa toda. (N.). No que se refere à interação em sala de aula e de sua relação com o aprender, ela é resultante das peculiaridades da própria abordagem metodológica que propicia a integração dos conhecimentos pela unidade epistemológica dos significados conceituais, cuja extensão permite que a interdisciplinaridade se efetive sem artifícios externos. Perpassa essa proposta a concepção de aprendizagem como atividade do sujeito que aprende mediado pelo outro, instrumentos e símbolos. Como afirma Luria (1994, p. 17): A solução de tarefas construtivas é uma das formas de atividade intelectual do homem. A forma segunda e consideravelmente mais elevada é o pensamento verbal ou lógico verbal, através do qual o homem, baseando-se nos códigos da língua, está em condições de ultrapassar os limites da percepção sensorial imediata do mundo exterior, refletir conexões e relações complexas, formar conceitos, fazer conclusões e resolver complexas tarefas teóricas. Desse modo, o processo interativo desencadeado teve um papel singular como evidencia a fala dos professores. Nesse processo as alunas participaram bastante tanto no momento em que elas (inaudível) dos conhecimentos prévios fazendo as colocações iniciais e interagindo na sala de aula, na troca desses significados. No momento da reconstrução também, o apoio dos textos ajudou muito no processo de reflexão e no processo de reelaboração do conceito [...]. Aquelas que participaram do processo de colaboração tiveram com certeza mais possibilidades e seus conceitos reelaborados tiveram os atributos de forma mais sistematizada. Aquelas que fizeram de forma solitária, isoladas porque não estavam participando das interações tiveram uma dificuldade maior do que aquelas que estavam no processo de sala de aula interagindo com as colegas. (I.M.). Maria Salonilde Ferreira46 Claro que as discussões em sala de aula são muito ricas, são valiosas porque você está trocando ideias, você está discutindo as suas dúvidas, colocando a sua opinião. (A. E.). E também com relação à reconstrução dos conceitos, a exemplo também dos outros professores, a gente cita a questão do trabalho solitário, do estudo solitário. Quando a gente vai fazer uma avaliação dessa reconstrução dos conceitos e se for comparar com a lista de presença, a gente percebe que na hora de reconstruir aquelas pessoas que não participaram das discussões coletivas, realmente, elas têm uma dificuldade maior para alcançar o nível de elaboração de conceitos mais evoluído. (O.) Como já foi destacado, aquelas alunas que não participavam das discussões, elas tiveram mais dificuldades na reelaboração dos conceitos. (M. S.). Isso torna, ainda, evidente que a passagem dos conceitos espontâneos aos científicos, assim como o desenvolvimento das capacidades que conduzem ao processo de elaborar conhecimentos identificados e adequados à realidade não ocorrem de modo espontâneo. Esse processo requer uma ação sistemática, consciente e voluntária daqueles que nele estão implicados. Os fatores apontados como aqueles que dificultaram ou se constituíram entraves para o processo se desenrolar a contento estão associados aos elementos funcionais do curso, como por exemplo, o horário das aulas (noite, manhã e tarde); as alunas-professoras não serem liberadas das suas atividades na sexta-feira à tarde, vindo diretamente do trabalho para a sala de aula, algumas alunas, por circunstâncias alheias a sua vontade, tinham que faltar às aulas ou chegarem com um retardo considerável. Isso, no entender dos professores, de certa forma, prejudicou a aprendizagem dessas alunas, como fica evidenciado nos depoimentos a seguir. A CONEXÃO DE SABERES: ELABORAÇÃO CONCEITUAL E INTERDISCIPLINARIDADE 47 A única desvantagem foi a falta de algumas alunas na sala de aula. Isso atrapalhou o processo de reelaboração. Elas não estavam presentes no momento da discussão dos conhecimentos prévios e na interação, na troca de conhecimentos com as colegas. Então, algumas que faltaram as atividades tiveram que fazer esse processo solitário. É, ai eu considero a metodologia no sentido que a gente tem que permitir que os alunos façam, mas, quando eles fazem sozinhos, elaboram sozinhos, eles perdem a oportunidade da interação com os colegas e do aprendizado em colaboração (I. M.). [...] muitas vezes no horário da noite a aluna já chegava (inaudível) do dia intensivo que ela teve de trabalho. Aí, bom, ela não tinha nem tempo de se recuperar porque no dia seguinte intensivamente (inaudível), aí, às vezes não conseguia certo ritmo; o ritmo era de certa forma meio lento por causa do modo como a gente teve que funcionar, eu acho que esse foi um dos entraves do trabalho que a gente fez. (A. P.). [...] o que a gente percebeu ao longo do trabalho foi exatamente a questão da intensidade das atividades que foram desenvolvidas. Esse foi um ponto que prejudicou um pouco a forma de trabalhar. (O.). Por conta do tempo e das atribuições que as alunas tinham, em toda disciplina teve problemas em relação à chegada do pessoal, principalmente na sexta-feira que a gente começava sempre com um atraso bem considerável porque elas vinham dos seus trabalhos. (N.). As dificuldades são semelhantes as dos outros professores. A questão do tempo, das professoras-alunas passarem o dia todo trabalhando e chegarem com certo atraso, algumas alunas, por contingências diversas, tiveram que faltar. Então isso gerou dificuldades, principalmente na reconstrução, na reelaboração dos conceitos. (M. S.). Maria Salonilde Ferreira48 Face às dificuldades geradas, particularmente, pelo modo como foi estruturado o funcionamento do curso, foi sugerido que se pensasse uma estratégia de funcionamento que não implicasse desgaste nem trabalho excessivo por parte dos professores nem dos alunos, havendo, desse modo, maior aproveitamento, rentabilidade e sucesso na aprendizagem. Apesar dos impasses advindos dessa situação, trabalhar com o processo de elaboração conceitual a partir da estruturação das redes conceituais foi o fator que permitiu as alunas irem gradativamente superando as dificuldades, à medida que ia desenvolvendo os processos e procedimentos psíquicos inerentes à atividade cognoscitivade conceituar, uma vez que essas redes se articulam pela unidade interna configurada no próprio conceito, sem que a interdisciplinaridade pela integração entre os conhecimentos seja arbitrária nem usurpadora, como foi evidenciado pela professora A. E. E na realidade foi uma experiência extremamente interessante, porque, quando cheguei à sala de aula, começando a desenvolver o trabalho, eu percebi que eu ia poder aprender com as alunas, porque elas estavam tão empenhadas na metodologia que elas estavam sabendo que passos seguir, como fazer [...]. Portanto, a elaboração conceitual envolve processos de construção desconstrução e reconstrução de conhecimentos e de sua organização em patamares mais amplos e complexos, possibilitando o desenvolvimento, dentre outras funções, da capacidade de pensar teoricamente e de generalizar aprendizagens. No entanto, a sua efetivação exige determinadas condições sem as quais não se realizará a contento. VIABILIDADE DA INTERDISCIPLINARIDADE Fundamentada não só nessa investigação, mas também em outros estudos e pesquisas, tendo como objeto o processo de elaboração conceitual em situações formais de ensino-aprendizagem, com vista também à interdisciplinaridade mediada por esse processo, podemos, entre outras condições, destacar: A CONEXÃO DE SABERES: ELABORAÇÃO CONCEITUAL E INTERDISCIPLINARIDADE 49 • Criar nos sistemas de educação formal (infantil, fundamental, médio e superior) espaços de reflexão que provoque a ruptura, por um lado, com a concepção fragmentária, disjuntiva e isolada do universo, da vida, da humanidade, da sociedade, do conhecimento e, por outro lado, com o modo linear e mecanicista de pensar, a partir do entendimento das conexões que produzem a unidade sem a perda das identidades; da cognição como processo da vida, abrangendo das sensações ao pensamento, das emoções à consciência e comportamentos e mudanças de nosso foco conceitual, incluindo fenômenos e relações, algo que implica a expansão de nosso arcabouço filosófico e científico; • Operacionalizar currículos escolares que conduzam o aluno à apropriação do conhecimento como elemento de mediação do desenvolvimento de capacidades e formação de atitudes. Currículos cujos conteúdos sejam programados de forma integrada, pois as descobertas no campo das neurociências e da cognição, entre outras, têm demonstrado que os vários sistemas que constituem nosso corpo e nossa mente funcionam de forma conectada numa única rede. A visão fragmentária que permeia nossos sistemas educacionais vai de encontro a nossa própria natureza. Como esclarece Capra (2006, p.223): “[...] a cognição é um fenômeno que se expande por todo organismo, operando por intermédio de uma intrincada rede de peptídios que integra nossas atividades mentais, emocionais e biológicas”. • Dominar o significado dos conceitos científicos centrais que compõem o corpus de conhecimento das áreas que integram o currículo escolar, pela qual o professor é responsável, dos nexos e relações entre esses conceitos e destes com aqueles das outras áreas, assim como, de conceitos mais gerais, como por exemplo, cultura, sociedade, desenvolvimento, ser humano, ensino aprendizagem e outros; • Conhecer os processos biopsíquicos e sociais implicados na atividade de ensinar e aprender e as inter-relações entre aprendizado e desenvolvimento. Vygotsky, (1978, p. 74) chama Maria Salonilde Ferreira50 a atenção para esse aspecto ao afirmar que “a aprendizagem é uma das principais fontes de conceitos da criança em idade escolar, e é também uma poderosa força que direciona seu desenvolvimento, determinando o destino de todo seu desenvolvimento mental”. • Desenvolver procedimentos pedagógicos propícios à elaboração e internalização de conhecimentos, a formação de atitudes, de valores e ao desenvolvimento de funções mentais, processos e procedimentos psíquicos, habilidades intelectuais e sociais; • Planejar de forma consciente e sistemática o processo que se efetiva nas várias instâncias de educação escolarizada; • Propiciar estratégias de formação continuada, tendo como ponto de partida as necessidades formativas do professor, buscando a compreensão da unidade dialética entre teoria e prática com enfoque na reflexão crítica colaborativa como elemento de mediação. Há uma multiplicidade de estudos centrados nessa questão apontando esses fatores como indispensáveis a formação e construção da docência enquanto profissão. Os aspectos, por nós, destacados nos conduzem a questionar até que ponto as políticas públicas de formação visam propiciar ao educador competência para mediar à ação educativa face às exigências da atualidade, ao atual perfil traçado para esse profissional e o que é proposto, nos últimos anos, como princípios norteadores de sua formação. Há forças sociais significativas que exijam um sistema educativo mais eficaz? As instituições formativas estão empenhadas em desencadear processos de formação que atendam aos princípios propostos ou esses não passam de “boas intenções” e meros discursos? Quem realmente se preocupa com o fato de que o sistema educativo cumpra as suas promessas? Apesar das respostas a essas questões serem, em sua maioria, de ordem negativa e que se justifique que o sistema não tem interesse A CONEXÃO DE SABERES: ELABORAÇÃO CONCEITUAL E INTERDISCIPLINARIDADE 51 em formar professores do mais alto nível porque o seu objetivo real é aumentar a eficácia do sistema sem aumentar os custos, teme que professores crítico-reflexivo sejam contestadores ou interlocutores incômodos; que tenham consciência da falta de unanimidade em relação ao atual paradigma de profissionalização e seus corolários (status, renda, nível de formação, postura crítico-reflexiva e colaborativa, mobilização coletiva, gestão democrática) isso não é motivo para renunciarmos e nos acomodarmos ao status quo. Concordamos com Perrenoud (2002, p. 194) quando nos adverte: “Embora tenha poucas chances de se realizar de forma integral, a curto ou médio prazo, ele pode contribuir na orientação das reformas da formação inicial e contínua no sentido de preparar para o futuro”. Como o amanhã se faz agora, urge, no nosso entender, mobilizar todos os meios disponíveis para que ocorram processos de efetiva profissionalização dos educadores, uma vez que os estudos e as experiências realizadas nessa direção demonstram não só a sua validade, mas muito mais a sua viabilidade. Referências BURLATSKI, Fédor Fundamentos da Filosofia Marxista-Leninista Trado: Asryants K. Moscovo: Edições Progresso, 1987. CAPRA, Fritjof. A Teia da Vida: uma nova compreensão científica dos sistemas vivos. Trado: Newton Roberval Eichemberg. São Paulo: editora Cultrix, 2006. FERREIRA, Maria Salonilde. Buscando caminhos: uma metodologia para o ensino-aprendizagem de conceitos. Brasília: Liberlivro, 2009. GALAGOVISKY, Lydia R. Redes Conceptuales: base teórica e implicaciones para el processo de enseñanza-aprendizaje de las ciencias. In: Enseñanza de las Ciências, Madrid, v. 3, n. 11, p.301-307, 1993. GOODSON, Ivor F. A Construção Social do Currículo. Trado: Maria João Carvalho. Lisboa: Educa, 1997. Maria Salonilde Ferreira52 GUÉTMANOVA, Alexandra. Lógica. Trado. José M. Pinto. Moscovo: Editora Progresso, 1989. KOPNIN, Pável V. A Dialética como Lógica e Teoria do Conhecimento. Trado. Paulo Bezerra Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1978. LURIA, Alexander R.. Curso de Psicologia Geral. Trado: Paulo Bezerra. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1994. MORIN, Edgar. (Org.) A Religação dos Saberes: o desafio do século XXI. Trado: Flávia Nascimento. Rio de Janeiro: Bertand Brasil, 2004. PACHECO, José Augusto. Currículo: teoria e práxis. Porto: Porto Editora, 1996. PERRENOUD, Philippe. A Prática Reflexiva no Oficio de Professor: profissionalização e razão pedagógica. Trado: Cláudia Schilling. Porto Alegre: Artmed Editora, 2002. PLATÃO. O Sofista. Trado: José Cavalcante de Souza