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Acupuntura auricular e sistêmica APRESENTAÇÃO A acupuntura é uma terapia milenar oriental que, ao longo do tempo, foi difundida para o Ocide nte e reconhecida por seus benefícios à saúde. É utilizada principalmente para o alívio de dores, conquistando muitos adeptos em todo o mundo. A palavra "acupuntura" vem do latim acus, que significa agulha, e punctura, que se refere à punção. Consiste em uma técnica com o uso de agul has finas específicas para esse procedimento em pontos mapeados no corpo humano. Ao traçarm os linhas ligando os pontos reagentes à acupuntura, podemos identificar traços longitudinais e h orizontais que são chamados de meridianos, os quais têm ligação com os órgãos (zang) e víscera s (fu). Essa terapia visa a tratar a pessoa como um todo, e não somente a doença manifestada por ela. O tratamento promove a circulação de Qi (energia) e Xue (sangue) pelo organismo, buscando o eq uilíbrio global do corpo. Para a estimulação, várias técnicas podem ser utilizadas além da tradici onal com agulhas. A auriculoterapia é uma delas, que, por intermédio de sementes (por exempl o), pressiona os pontos reagentes do microssistema da orelha. Uma técnica mais atual de estímul o é a laserpuntura, que utiliza o laser de baixa frequência nos pontos de acupuntura. Outro exem plo de modernização no método da acupuntura é a eletroacupuntura, que, por intermédio de um aparelho, promove estímulos frequentes nas agulhas, dispensando a movimentação manual. Nesta Unidade de Aprendizagem, você estudará sobre o processo histórico da acupuntura, situad o pelos marcos relevantes dessa técnica ao longo dos anos. Também irá identificar os mecanism os de meridianos na aplicação de agulhas ou pressão. Além disso, poderá determinar as técnicas de acupuntura ideais a cada paciente. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Contextualizar o histórico da utilização de acupuntura.• Identificar os mecanismos de meridianos na aplicação de agulhas ou pressão.• Determinar as técnicas de acupuntura ideais a cada paciente. • DESAFIO Uma sessão de acupuntura tem a duração de, aproximadamente, 50 minutos, sendo que as agulh as permanecem no paciente por média de 30 minutos. Durante esse tempo, algumas situações in esperadas podem ocorrer. É necessário que o acupunturista esteja preparado para atender à circu nstância de forma segura e tranquila, amparado pelo conhecimento técnico e de biossegurança. Nesse contexto, acompanhe a seguinte situação: a) Como você realizaria o atendimento de uma pessoa com medo de agulha, especialmente se fo r criança? Quais os recursos que você utilizaria para realizar a sessão de acupuntura no caso de Mariana? b) Quais as medidas de biossegurança que estão em risco nesse caso que envolve a solicitação d a paciente Alessandra? Qual é a conduta correta que o profissional deve ter nessa situação? c) O que você faria nessa situação? Quais as medidas a serem tomadas durante o atendimento do Lucas? INFOGRÁFICO A medicina tradicional chinesa abrange várias técnicas baseadas na filosofia oriental, como a ac upuntura, a auriculoterapia, a moxaterapia e o Do-in. Atualmente, podem ser integrados nos trat amentos de acupuntura instrumentos modernos auxiliares, como a eletroacupuntura e a lasertera pia. O diagnóstico e a escolha dos pontos para cada tipo de tratamento na busca pelo equilíbrio g lobal do paciente são ancorados na visão da filosofia oriental, assim como nas peculiaridades de cada pessoa e seu contexto. Essas práticas podem ser utilizadas de forma isolada ou em conjunto. A escolha de cada técnica vai depender do caso em questão. Porém, de forma geral, existem indicações e contraindicações que devem ser levadas em consideração na hora de definir a terapia utilizada. No Infográfico, você conhecerá os conceitos de cada técnica, suas indicações e contraindicações para cada tipo de paciente. CONTEÚDO DO LIVRO A acupuntura é uma prática complexa e dinâmica tanto pelo processo de fundamentos teóricos q ue ela requer como pelas possibilidades de intervenção e de suas técnicas variadas. Essa prática vai além da inserção de agulhas nos pontos do corpo, envolvendo um conhecimento milenar, jun tamente com recursos complementares atuais para a sua prática clínica. No capítulo Acupuntura auricular e sistêmica, da obra Práticas integrativas e complementares e m saúde, base teórica desta Unidade de Aprendizagem, você acompanhará os principais marcos históricos da acupuntura, as especificidades dos procedimentos na acupuntura sistêmica e auricu lar, bem como uma série de pontos utilizados no tratamento de alguns problemas de saúde. Boa leitura. PRÁTICAS INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES EM SAÚDE OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM > Contextualizar o histórico da utilização de acupuntura. > Identificar os mecanismos de meridianos na aplicação de agulhas ou pressão. > Determinar as técnicas de acupuntura ideais a cada paciente. Introdução A acupuntura sistêmica e auricular integra a área de práticas integrativas e comple- mentares de saúde (PICS). Essas técnicas são consideradas antigas e se originam de conhecimentos milenares orientais, fazendo parte da medicina tradicional chinesa (MTC). A acupuntura foi incluída no Sistema Único de Saúde (SUS) em 2006, depois em 2017 outras PICS foram implantadas, totalizando atualmente 29 terapias ofertadas na saúde pública. Essas práticas são benéficas principalmente para pacientes que sofrem de dores crônicas, promovendo o alívio, bem-estar e mais qualidade de vida. A acu- puntura sistêmica produz estímulos em pontos espalhados pelo corpo, enquanto a auriculoterapia — também conhecida como acupuntura auricular — estimula especificamente pontos no pavilhão auricular, sendo ele designado como um microssistema. Neste capítulo, você conhecerá os principais marcos históricos da acupuntura e as especificidades dos procedimentos na acupuntura sistêmica e auricular. Além disso, estudará uma série de pontos utilizados no tratamento de alguns problemas de saúde. Acupuntura auricular e sistêmica Talita Cristiane Sutter História da acupuntura A acupuntura é considerada uma das terapias mais antigas do mundo. Dados arqueológicos apontam que pode ser originária da China, entre 8.000 e 3.000 a.C. (MAO-LIANG, 2001). A literatura traz divergências sobre cada período da origem e desenvolvimento da acupuntura na linha do tempo, então o que temos é uma estimativa histórica com base em estudos arqueológicos. Por volta de 4.500 a.C., a acupuntura era realizada com lascas de pedra polida, utilizadas juntamente com a moxa. Outra forma referenciada na lite- ratura era a técnica por intermédio de ossos (Figura 1) e bambu, moldados para a aplicação na área auricular e em outras partes do corpo (SENNA; SILVA; BERTAN, 2012; WEN, 2017). Figura 1. Agulhas elaboradas com ossos na Antiguidade. Fonte: Chinese... ([2020?], documento on-line). A moxa é uma terapia que tem como base o calor, que era disseminado com o aquecimento de areia e pedra para tratar dores abdominais e articu- lares (WEN, 2017). Atualmente, a moxaterapia é considerada uma espécie de acupuntura térmica, e utiliza o princípio ativo da artemísia (Artemisia vulgaris) no formato de bastões (charutos prensados) ou em lã, que são queimados e aproximados dos pontos de acupuntura (Figura 2). Acupuntura auricular e sistêmica2 Figura 2. Aplicação de moxaterapia com bastão de artemísia em ponto de acupuntura. Fonte: Você sabe... (c2019, documento on-line). Na Antiguidade, quando as pessoas sentiam dores no corpo, era comum pedirem para serem golpeadas na superfície dolorida com pedaços de pe- dras quentes (MAO-LIANG, 2001). Possivelmente esse contexto foi o início da acupuntura, na manipulação sob pressão de algum objeto pontiagudo e/ou quente em pontos dolorosos, progredindo para o alívio da dor. O primeiro registo que se tem conhecimento a fazer menção sobrea acupuntura é o livro Nei Jing, o Tratado de Medicina Interna do Imperador Amarelo. É uma obra livro clássica, que aborda tanto a acupuntura quanto a moxaterapia na prevenção de doenças. Traz o relato de conversas do impe- rador com seu ministro, além de revelar a filosofia oriental em que se baseia o conhecimento da acupuntura (WANG, 2001). Essa obra ainda é considerada essencial na formação dos acupunturistas, pois seus estudos trazem os funda- mentos da MTC, com pilares necessários para a prática clínica da acupuntura. Vale ressaltar que a MTC se baseia nas teorias do yin-yang e dos cinco elementos, que fundamentam todo o conhecimento oriental (SENNA; SILVA; BERTAN, 2012). Tais conhecimentos são utilizados inclusive na elaboração do diagnóstico pelo acupunturista. São conhecimentos importantes para a compreensão da energia e dualidade contida no universo, seus ciclos e na vida em geral. Acupuntura auricular e sistêmica 3 O Imperador Amarelo governou a China de 2.704 a 2100 a.C., sendo essas datas aproximada pelos manuscritos. A acupuntura já tinha suas bases e vinha sendo utilizada, inclusive com menções aos meridianos e descrições sobre os tipos de agulhas e aplicações (WEN, 2017). Tais conhecimentos foram essenciais para o aprimoramento dos materiais utilizados atualmente. Os livros clássicos são os textos confiáveis escritos pelos chineses que dominavam a prática da acupuntura e considerados referências para esse sistema de saúde. Neles constam o arcabouço teórico e clínico dessa prática. A tradição é transmitida ao longo das gerações por meio desses escritos (SIONNEAU, 2015). Na Dinastia Chin, Han, Huei (221 a.C. a 264 d.C.), foram produzidos rela- tórios médicos com a utilização da acupuntura no tratamento de doenças, principalmente a malária. Também foram nomeados vários pontos dos me- ridianos mapeados no corpo (WEN, 2017). Escrito por volta do ano 300 a.C. o livro Shan Hai Jing (ou Clássico das Montanhas e dos Mares) faz menção à localização do monte Gaoshi, e descreve que é repleto de pedra jade para a prática da acupuntura (MAO-LIANG, 2001). De acordo com a tradição oral da família Tung, foi nessa época que o Mestre Tung aprendeu acupuntura com o seu pai. Esses ensinamentos foram repassados por várias gerações como uma linhagem de acupuntura guardada em segredo, com conhecimentos específicos compostos de pontos extras e de metodologia única aplicada no microssistemas do corpo. Essa metodologia ficou conhecida em todo o mundo como Pontos Mágicos do Mestre Tung (MIN, 2015). O Mestre Tung é um exemplo dos ensinamentos passados entre as gerações. Ele descobriu pontos que não estavam sendo mapeados no corpo e realizava a sua prática clínica segundo essa metodologia. Teve muito sucesso nos tratamentos para dores e é reconhecido até hoje por seu legado na acupuntura. A seguir, são listados os períodos das dinastias chinesas e suas repercus- sões na acupuntura (WEN, 2017). � A Dinastia Tang (618 a 907 d. C.) foi uma época marcada pela dissemina- ção da acupuntura para o exterior. Houve a fundação da Escola Imperial de Medicina, formando os primeiros médicos com essa especialização. � Na Dinastia Sung (960 a 1279) o rei Sung Jen Tsung foi curado com a acupuntura depois de uma enfermidade grave. Assim, passou a dar importância à terapia, ordenando o médico de referência da cidade a elaborar mapas e diagramas dos meridianos. O rei também ordenou a construção de uma estátua de bronze com os pontos e trajetos dos meridianos. Acupuntura auricular e sistêmica4 � A Dinastia Ming (1366 a 1644) foi o momento de descoberta de docu- mentos relatando os meridianos extraordinários e o uso de poucas agulhas para o tratamento das doenças. Nesse período, foi escrito uma compilação de todas as teorias, métodos e experiências. � Na Dinastia Chin (1649 a 1910) governantes que dominaram a China por 13 anos baniram a prática da acupuntura no país. Com a influência da medicina ocidental pelo mundo e a difusão da medicação alopática e de novos procedimentos de saúde para combater as epidemias, o imperador instituiu a exclusão da acupuntura na formação médica, dando lugar aos modelos de conhecimento das escolas do Ocidente. A MTC não é mais praticada como antes, quando cada dinastia mantinha seu estilo de terapia com a acupuntura. Porém, seus fundamentos perma- necem intactos até hoje, sustentados pelos ensinamentos clássicos de um conhecimento milenar. Ressalta-se que, apesar desse conhecimento ser antigo, sua técnica evolui com a ajuda dos recursos tecnológicos dos dias atuais, incluindo a disponibilização das agulhas em aço inox com a ponta polida em diamante, permitindo menos atrito na inserção, e o uso de laser como substituto às agulhas. Mecanismos de meridianos na aplicação de agulhas ou pressão No corpo humano, há diversos pontos que reagem à aplicação da acupuntura. Ao se traçar linhas ligando esses pontos, obtém-se linhas longitudinais e horizontais que possuem ligação direta com os órgãos (zang) e as vísceras (fu). Em alguns meridianos nascem ramos que percorrem as cavidades do corpo e outros que estão localizados mais superficialmente (WEN, 2017). Sendo assim, nosso corpo é como um mapa constituído de canais que se conectam e reagem aos estímulos internos e externos. Supõe-se que a Teoria dos Meridianos foi descoberta pela observação dos estímulos dos pontos de acupuntura e relato de sensação de calor e pequenos choques percorrendo direções o corpo (WEN, 2017). Existem meri- dianos diferentes descritos, conforme a função que desempenham. Os mais importantes são os 12 meridianos principais, que reproduzem os dois lados do corpo, e os dois meridianos extras, passando verticalmente pelo centro do corpo e tendo como função regular o fluxo energético dos meridianos principais. Cada meridiano possui muitos pontos, que são nomeados se- Acupuntura auricular e sistêmica 5 gundo o início de sua localização (CANÇADO, 1993). Os pontos de acupuntura descobertos até o momento não são considerados únicos. Muitos pontos continuam sendo descobertos, contribuindo para os tratamentos e evidências científicas dessa área. Os meridianos principais são: pulmão (P), intestino grosso (IG), estômago (E), baço-pâncreas (BP), coração (C), intestino delgado (ID), bexiga (B), rins (R), circulação sexo (CS), triplo aquecedor (TA), vesícula biliar (VB) e fígado (F). Os meridianos extras são: vaso da concepção (VC) e vaso governador (VG) (LIMA, 2018). A seguir, você conhecerá os tipos de acupuntura e detalhes da prática clínica. Acupuntura sistêmica A acupuntura sistêmica emprega os fundamentos da MTC para traçar o diag- nóstico e o tratamento do paciente, estimulando pontos com agulhas nas regiões do corpo. Cada pessoa é única e as queixas fazem parte de um processo próprio de hábitos, estilo de vida e relação com o ambiente. O tratamento de acupuntura é mais eficaz quando a combinação dos pontos é elaborada para satisfazer as necessidades específicas de cada indivíduo (ROSS, 2003). Pacientes diferentes podem manifestar um mesmo sintoma, mas o trata- mento deve ser analisado de forma exclusiva para cada caso, considerando os aspectos individuais levantados na anamnese. Dessa forma, os pontos a serem aplicados não serão os mesmos. Os mecanismos de ação da acupuntura consistem em (WEN, 2017): � alterar a circulação sanguínea, promovendo o relaxamento muscular e diminuindo a inflamação e a dor; � promover a liberação de hormônios como o cortisol e endorfina, pro- movendo a analgesia; � auxiliar na imunidade, aumentando a resistência do hospedeiro e equilibrando o organismo; � regular e normalizar as funções orgânicas, além de recuperar o meta- bolismo, importante no processo de cura. Antes de uma sessão de acupuntura, é recomendável que o acupunturista realize um levantamento de dados do paciente, contendo anamnese completa, inspeção, exame físico e diagnóstico de língua e pulso, para poder traçar um Acupunturaauricular e sistêmica6 plano adequado de tratamento com foco no paciente de forma integral. No exame físico, o acupunturista deverá examinar as áreas doloridas, nódulos subcutâneos e edemas, além de verificar a temperatura da pele, descamações, alergias, etc. (YOUBANG; LIANGYUE, 1998). A escolha dos pontos que serão utilizados na sessão de acupuntura deve estar de acordo com a necessidade do paciente e com a avaliação realizada pelas etapas do diagnóstico. É importante que o protocolo elaborado seja reavaliado nas sessões posteriores para maior êxito no tratamento. A ação de um ponto de acupuntura é definida pelo efeito que promove no local, ou seja, mobilizar o qi (energia), expelir agentes patógenos, nutrir o sangue, entre outros (MACIOCIA, 2019). Logo após a inserção da agulha, é comum observarmos uma coloração avermelhada ao redor dela. Essa reação faz parte da resposta do organismo, sendo interpretada como um efeito positivo de ação naquele ponto com a chegada do qi. A acupuntura, por ser um método de prática clínica complexa, requer conhecimento aprofundado das bases da MTC. Pensando em simplificar o método por etapas, alguns pesquisadores contemporâneos instituíram cinco princípios fundamentais para melhorar o efeito curativo dessa prática (YOUBANG; LIANGYUE, 1998): � identificar o problema e analisar a natureza da doença; � classificar o conjunto dos sintomas e síndromes; � identificar os meridianos afetados; � escolher os meridianos a serem tratados e selecionar os pontos; � selecionar os métodos de tratamento. Cada etapa está relacionada aos conhecimentos prévios que o acupuntu- rista precisa possuir sobre as bases teóricas, incluindo as causas e a evolução das doenças segundo a MTC, o estudo dos meridianos e seus respectivos pontos, a fisiologia energética, conhecimento dos zang fu e diagnóstico. As agulhas de acupuntura são estéreis e devem ser descartadas na caixa coletora para material perfuro-cortante. As embalagens podem acondi- cionar uma, cinco ou 10 unidades. Assim, quando o método de tratamento requer poucas agulhas, uma embalagem com menos unidades torna-se mais econômica. Cada pacote geralmente acompanha um mandril de guia para a aplicação. A Figura 3 demonstra a aplicação de uma agulha utilizando o mandril como guia. Acupuntura auricular e sistêmica 7 Figura 3. Aplicação de acupuntura — agulha descartável e mandril. O tamanho das agulhas varia bastante, mas as mais utilizadas são as de calibre 0,18 × 0,8 mm para auriculoterapia e/ou locais mais sensíveis à dor, como mãos e dedos, por serem menores e mais finas. As agulhas de calibre 0,25 × 30 mm são de tamanho médio, indicadas para o corpo. Já as agulhas de tamanho 25 × 40 mm são mais longas e recomendadas para regiões que exigem aprofundamento, como a região glútea. Porém, há agulhas diversifi- cadas à disposição do profissional, cabendo a ele identificar na sua prática clínica qual se adequa melhor ao tratamento almejado. Durante a sessão, é importante atentar à indicação da direção da agulha, para então direcionar o ângulo nos pontos específicos. Saber o objetivo que se pretende atingir na terapia é essencial para o tratamento ter sucesso. Os ângulos mais utilizados são (WEN, 2017): � perpendicular — ângulo de 90° com a superfície cutânea; � oblíqua — ângulo de 30° a 60° com a superfície cutânea; � horizontal — ângulo de 10° a 20° com a superfície cutânea. Além do direcionamento da agulha, é importante analisar a profundi- dade de inserção, pois existem fatores que implicam nessa decisão. Deve-se constatar a constituição física do paciente, pois quando estão obesos as Acupuntura auricular e sistêmica8 agulhas podem ser mais aprofundadas. Já naqueles de constituição magra, a inserção deve ser mais superficial, assim como em idosos e crianças. Doenças por deficiência energética requerem menor estímulo (WEN, 2017). Nesses casos, as técnicas de manipulação também devem ser adaptadas para essas necessidades. Um cuidado que se deve ter na inserção das agulhas é com o risco de pneu- motórax. O pneumotórax é um colapso pulmonar, sendo ocasionado nesses casos pela perfuração do pulmão pela agulha de acupuntura. O paciente sente falta de ar e pode vir a óbito se não diagnosticado brevemente e encaminhado ao hospital. Outro risco são as varizes, já que são contraindicadas as inserções de agulhas na região afetada. Como visto, é essencial ter conhecimentos e habilidades técnicas para a prática da acupuntura sistêmica. Auriculoterapia A acupuntura pode ser aplicada nos microssistemas do corpo, sendo um deles o pavilhão auricular. Nesse caso, o método terapêutico realizado pela estimu- lação de pontos específicos da orelha é denominado acupuntura auricular ou auriculoterapia. Historicamente, ela aparece juntamente com a acupuntura sistêmica nos escritos do Nei Jing, não sendo possível ter uma noção exata de tempo em sua história. Sendo uma prática milenar, foi utilizada por diversos povos da Antiguidade, como egípcios, indianos e chineses. Inclusive Hipócrates, considerado o pai da medicina, realizava a técnica de cauterização e sangria em pontos auriculares (MAS, 2009; SENNA; SILVA; BERTAN, 2012). No século XVII, as cauterizações auriculares eram utilizadas para tra- tar dor ciática. No ano de 1935, a prática ganhou evidência na China, com a cauterização sobre o ápice da orelha para o tratamento da conjuntivite. Aproximadamente em 1957, o médico francês Paul Nogier, em seus estudos sobre a acupuntura auricular, investigou a relação das regiões da orelha com as partes do corpo. Ele apresentou a teoria de que a anatomia da orelha po- deria ser comparada à figura de um feto em posição pré-natal. Essa analogia entre as áreas da orelha e as regiões do corpo é utilizada até os dias atuais (SENNA; SILVA; BERTAN, 2012). A Figura 4 demonstra a relação da orelha com a imagem de um feto de ponta-cabeça. Acupuntura auricular e sistêmica 9 Figura 4. Representação da orelha como um feto de ponta-cabeça. Fonte: Auriculoterapia ([2020?], documento on-line). Tendo como base a relação do feto com as áreas da orelha, a região do lóbulo representa a cabeça humana, e nela está o ponto da visão. Os piratas iam até a China para furar a orelha com brinco de ouro (que, para a acupuntura, é uma energia estimulante — yang), e tampavam a vista oposta ao furo com o objetivo de energizar sua visão e enxergar primeiro o barco do inimigo (MAS, 2009). A orelha é uma região muito inervada e conectada ao sistema nervoso central. Dessa forma, os pontos mapeados pela auriculoterapia correspondem a todos os órgãos e funções do corpo. Quando esses pontos são estimulados, o cérebro recebe impulsos que geram fenômenos físicos e químicos que promovem o reequilíbrio de áreas e funções do corpo como um todo. Essa prática é reconhecida em vários países e auxilia no tratamento de diversas patologias, como dores de forma geral, úlceras, gastrites, transtornos ae- rofágicos, diarreias, herpes, eczemas, transtornos vasculares periféricos, problemas relacionados ao ciclo menstrual, entre outros (SCAVONE, 2016). O microssistema da orelha é uma opção para a aplicação da acupuntura sem o uso de agulhas, podendo ser utilizada como uma terapia isolada ou associada com outras. O diagnóstico na auriculoterapia é realizado com base na observação da orelha (alterações dermatológicas e anatômicas), queixa do paciente e os conhecimentos da teoria dos cinco elementos. Dessa forma, Acupuntura auricular e sistêmica10 o terapeuta desenvolve um protocolo individualizado de pontos auriculares, visando a melhoria da saúde como um todo. Os pontos são estimulados utilizando sementes, esferas de ouro, esferas metálicas, cristais, agulhas semipermanentes ou até mesmo agulhas de acupuntura para auriculoterapia. No caso das agulhas, a punturação ocorre por certo período na sessão de tratamento, enquanto as esferas e sementes são fixadas com fitas adesivas e permanecem nolocal por até uma semana (SENNA; SILVA; BERTAN, 2012). As fitas mais utilizadas para a fixação das esferas ou sementes na orelha são a microporosa ou esparadrapo da cor da pele — por serem discretas, muitas vezes nem se percebe que a pessoa está com o estímulo terapêutico. Os cristais são ótimas opções para aplicação — por serem menores, são indi- cados para orelhas pequenas, como das crianças. A auriculoterapia pode ser associada à acupuntura sistêmica, sendo aplicada ao final da sessão como potencializador do tratamento, já que assim os estímulos permanecerão durante a semana auxiliando o paciente. Dependendo do diagnóstico, a moxaterapia também pode ser usada na auriculoterapia. É aplicada por intermédio da queima de um in- censo próprio (mogussá-kô), estimulando os pontos pelo calor. Outra alternativa é estimular os pontos auriculares com os dedos (do-in). Técnicas de acupuntura ideais a cada paciente A acupuntura é uma prática multidisciplinar, podendo ser exercida por profissio- nais de nível superior com diploma na área da saúde, sendo reconhecidos, nesse caso, como especialistas na área (pós-graduação). Outras categorias profissionais também podem realizar a formação, já que se considera a acupuntura uma prática milenar. Em 2010, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) anunciou a inclusão da acupuntura como Patrimônio Cultural Intangível da Humanidade, buscando manter a salvo os conhecimentos da MTC, ameaçados pelo processo de globalização e imposição de mudanças pela me- dicina ocidental. “Diante deste compromisso internacional, o Estado Brasileiro não poderá promulgar legislação que afete as formas tradicionais da prática da Acupuntura, particularmente os dispositivos do chamado ‘Ato Médico’ e da legislação regulamentando a Acupuntura” (CONSELHO REGIONAL DE FISIOTERAPIA E DE TERAPIA OCUPACIONAL DA 8ª REGIÃO [CREFITO-8], 2017, documento on-line). Acupuntura auricular e sistêmica 11 Assim, ao concluir o curso, o acupunturista proverá o estudo teórico e prático para que possa diagnosticar com base nos ensinamentos da MTC e construir um protocolo de pontos para cada caso. Dessa forma, vamos abordar a seguir tratamentos de acupuntura utilizando a técnica do-in, in- dicada para autoaplicação, pelo estímulo da pressão dos dedos nos pontos de acupuntura. Também estudaremos sugestões de pontos para tratamentos utilizando a técnica da auriculoterapia e a eletroacupuntura e laserterapia como ferramentas auxiliares para o tratamento em acupuntura. Técnica do-in A técnica do do-in, ou digitopressura, é efetuada pela pressão dos dedos sobre os pontos patógenos dos meridianos. A aplicação pode ser realizada com o dedo indicador, pressionando três vezes cada ponto por um tempo de mais ou menos 5 a 10 segundo cada vez. Em casos especiais, como bebês, podemos fazer pequenas e suaves batidas com o dedo no ponto, já sendo o suficiente (NATALI, 1981). Na Antiguidade, “quando o primeiro homem massageou o próprio pé ferido na tentativa de aliviar a dor, a ideia do Do-In já estava formada” (CANÇADO,1993 p. 13). O registro dessa técnica também estava no clássico do Imperador Amarelo, o Nei Jing. A técnica do Do-In é antiga como as demais práticas de acupuntura, sendo que foi descrita na primeira obra que retratava tais terapias voltadas para a cura das doenças. Esse método é utilizado dessa forma até os dias atuais. Esse tipo de massagem atua basicamente na condição energética do orga- nismo. Para que haja uma resposta satisfatória da terapia, é importante que o paciente esteja relaxado e receptivo aos estímulos dos pontos (CANÇADO, 1993). Essa terapia não deve ser aplicada em pacientes com lesões. Quando um ponto está doloroso, isso indica que há um bloqueio de circulação de energia, que poderá estar em excesso ou em deficiência no organismo. Nesse caso, o Do-In visa normalizar o fluxo de qi nos meridianos (ANDRADE, 2009). Na acupuntura pediátrica japonesa (chamada shonishin), podem-se utilizar apalpadores e outras ferramentas metálicas que estimulem os pontos. No tratamento de crianças, agulhas não costumam ser utilizadas, dando-se preferência aos instrumentos estimuladores, que, nesse caso, possuem formatos lúdicos. Acupuntura auricular e sistêmica12 Geralmente, o do-in não apresenta contraindicações, mas deve-se evitar a prática dessa massagem no abdome da gestante, no IG4 (ponto específico do intestino grosso) e no BP6 (ponto específico do baço) (ANDRADE, 2009). Na acupun- tura, esses pontos também não devem ser aplicados em gestantes (ROSS, 2003). Pontos para aplicação de do-in e auriculoterapia A seguir são apresentadas ilustrações com a indicação dos pontos para do-in e auriculoterapia para tratamentos de queixas comuns. Ponto C7 Indicado para situações de ansiedade e angústia. Para o estímulo, realize a pressão contínua com a unha do polegar (CANÇADO, 1993). Conforme ilustra a Figura 5, esse ponto se localiza “sobre a prega de flexão do punho, na margem radial do tendão do músculo flexor ulnar do carpo” (LIMA, 2018, p. 111). Figura 5. Aplicação de do-in no ponto C7. Fonte: Cançado (1993, p. 27). Ponto IG20 Indicado para congestão nasal. Deve-se fazer pressão contínua com a ponta do dedo médio (CANÇADO, 1993). A Figura 6 demonstra os pontos que estão localizados “no sulco nasolabial ao nível do ponto médio da margem lateral da asa nasal” (LIMA, 2018, p. 51). Acupuntura auricular e sistêmica 13 Figura 6. Aplicação de do-in no ponto IG20. Fonte: Cançado (1993, p. 46). Ponto IG4 Indicado para cefaleia. O estímulo ocorre pela pressão contínua com a polpa do polegar (CANÇADO, 1993). Na Figura 7, você pode observar o estímulo “no ponto mais alto da saliência muscular do dorso das mãos” (LIMA, 2018, p. 43). Figura 7. Aplicação de do-in no ponto IG4. Fonte: Cançado (1993, p. 56). Acupuntura auricular e sistêmica14 Os mapas de auriculoterapia ajudam a localizar pontos específicos no pavilhão auricular, e cada ponto tem a sua função principal. Porém, é im- portante ressaltar que, apesar disso, não é recomendada a aplicação sem os conhecimentos necessários. Alguns sintomas podem encobrir um problema grave de saúde, sendo necessário estudo, prática e dedicação à auriculoterapia para ser realizada de forma adequada e segura (FONSECA, 2004). Na Figura 8, você pode observar um mapa auricular que corresponde ao padrão da escola chinesa. Não existe um mapa único para a auriculoterapia, e você pode encontrar outros modelos disponíveis para venda que especi- ficam ou não no verso do mapa a função de cada ponto ou pontos extras localizados atrás da orelha. Figura 8. Mapa auricular. Fonte: Adaptada de Fonseca (2004). Acupuntura auricular e sistêmica 15 Alguns pontos atuam na zona correspondente equilibrando as energias daquela área. O ponto “boca”, por exemplo, atua equilibrando a circulação de energia nessa área, e também acalma a tosse e equilibra o apetite. Sendo assim, é indicado para casos de obesidade, aftas, anorexia, entre outros (SENNA; SILVA; BERTAN, 2012). Porém, existem pontos que tratam além da área referida. Vale lembrar que a auriculoterapia segue as bases da MTC e a escolha de um protocolo requer conhecimentos além da localização dos pontos no mapa. O Quadro 1 descreve o nome de pontos auriculares, algumas funções referentes a eles e sua localização na orelha. Não se objetiva aqui explicar a totalidade de função e indicações que abrangem esses pontos. Utilize o mapa auricular para encontrá-los mais facilmente. Quadro 1. Pontos auriculares: função, indicação e localização Nome do ponto Função Indicação Localização Shen men Deve ser o primeiro ponto estimulado para qualquer protocolo de auriculoterapia. Acalma a mente, sendo um tranquilizante. Também é analgésico para dores de qualquer natureza. Ansiedade, desordens mentais, inflamação, tosse seca, asma brônquica, epilepsia, hipertensão arterial, prurido, sedativo, anti-inflamatório.No mapa, observe que ele aparece acima do ponto quadril, na região da fossa triangular da orelha. Ponto estômago Regula a energia pré- -natal, favorece a formação de gu qi (qi dos alimentos) e equilibra as vísceras. Problemas digestivos de forma geral, insônia com sono leve, depres- são, afta, retenção de alimentos. Região onde desaparece a raiz do hélix da orelha. Ponto fígado Equilibra a livre cir- culação de energia e sangue. É benéfico para a atividade do fígado e da vesícula biliar, além de influenciar o sistema digestório. Gastrite crônica, diarreia ou consti- pação, depressão ou ansiedade por abstinência, cefaleias, irritabilidade, estresse, globus hystericus (sensação de bola na garganta). No bordo pos- teroinferior da concha cimba, acima do ponto baço. (Continua) Acupuntura auricular e sistêmica16 Nome do ponto Função Indicação Localização Ponto pulmão Esse ponto influencia na dispersão e descendên- cia dos fluidos no corpo, drenando a umidade e acalmando a tosse. Regula o fechamento e abertura dos poros. Pneumonia, melanco- lia, resfriado, rinite, tosse, asma, bronquite, dermatite, urticária, distúrbios de pele como acne e vitiligo. Acima e abaixo do ponto coração. Ponto coração Acalma o shen (mente), controla os vasos sanguíneos e a produção de sangue, fortalece a atividade do coração, tem influência na língua, na fala e garganta. Palpitações, dor torácica, trombose, varizes, ansiedade e depressão, insônia, distúrbios relaciona- dos à fala, distúrbios mentais, hipertensão. Centro da concha cava. Fonte: Adaptado de Fonseca (2004) e Senna, Silva e Bertan (2012). Tanto a auriculoterapia quanto a acupuntura são utilizadas também no tratamento de doenças crônicas, como diabetes e hipertensão, de forma coadjuvante ao tratamento medicamentoso. Eletroacupuntura e laserterapia Durante a sessão, o acupunturista poderá fazer uso do recurso da eletroa- cupuntura. Trata-se da utilização de um aparelho que emite uma potência variada de corrente elétrica, sendo adaptada por cabos que se ligam às agulhas de acupuntura. Durante a aplicação da eletroacupuntura, pode-se observar a mobilização das agulhas, devido à contração muscular do corpo (ATHAYDE, 2016). Esse método substitui a movimentação manual das agulhas pelo acupunturista. Atualmente, há outra ferramenta utilizada nas sessões de acupuntura, o laser. A laserterapia tem sido amplamente divulgada como um método seguro e não invasivo que pode ser substituir o uso das agulhas. Nesse caso, a aplicação do feixe de laser se dá precisamente nos pontos da acupuntura, conhecida também como laserpuntura. (Continuação) Acupuntura auricular e sistêmica 17 O laser de baixa potência ou terapêutico é utilizado para fins de trata- mentos há alguns anos em consultórios na Espanha, Rússia e Japão. Como todo procedimento clínico, deve-se identificar o problema e avaliar a dose necessária para o caso. Assim, como o laser também pode ser aplicado em lesões, é avaliada sua profundidade ou área que está manifestada. A potência é definida pelo profissional, além de analisar os critérios para o tratamento após anamnese do paciente. A laserterapia dispõe de muitas vantagens, incluindo a curta duração do procedimento, pois o tempo de estímulo do ponto pode variar de 30 segundos a 2 minutos. É indolor e pode ser combinada com outras técnicas de trata- mento. Trata-se de uma alternativa para os pacientes com fobia a agulhas e pessoas sensíveis à dor, como as crianças, idosos, pacientes psiquiátricos, entre outros (VALCHINOV; PALLIKARAKIS, 2015). Um estudo de caso publicado por Zang, Shen e Wang (2014) descreveu a acupuntura para o controle da hipertensão. Um homem de 56 anos foi admitido no Primeiro Hospital de Ensino da Universidade de Medicina Tradi- cional Chinesa de Tianjin, na China, com hipertensão, sendo que não tolerava os efeitos colaterais causados pelos medicamentos anti-hipertensivos. Durante 12 semanas, o paciente recebeu 60 tratamentos de acupuntura. Os pontos de acu- puntura escolhidos foram tanto para hipertensão quanto para reações adversas a medicamentos, como diarreia e fadiga. Durante esse tempo, seu bem-estar geral melhorou e a pressão arterial diminuiu, assim como os efeitos colaterais do anti-hipertensivo. O estudo sugere que a acupuntura intensiva pode ter um efeito na redução da pressão arterial, especialmente quando em sinergia com o medicamento anti-hipertensivo, atuando de forma complementar. Vale ressaltar que, com a descontinuação do medicamento, o efeito foi enfraquecido. Porém, os autores concluíram que a acupuntura desempenha seu papel no tratamento de hipertensão, especialmente em pacientes que não toleram os efeitos colaterais dos medicamentos anti-hipertensivos. Além de complexa, a prática da acupuntura é ampla tanto no uso das téc- nicas associadas, permitindo outros recursos concomitantes, quanto na sua aplicação para diversos problemas de saúde. É uma prática que sobreviveu aos anos e que hoje resiste para se manter ativa em meio aos conhecimentos e valorização do modelo de saúde contemporâneo. Podemos identificar pela prática clínica o êxito na escolha desse tratamento, mesmo sendo ele indicado como complementar no Brasil. Os ganhos de qualidade de vida citados por seus adeptos incluem melhora no padrão do sono, identificação do contexto emocional envolvendo menos ansiedade e agitação, alívio das dores no corpo de forma geral, além do relaxamento obtido nas sessões. Acupuntura auricular e sistêmica18 O acupunturista necessita se aperfeiçoar constantemente, estudar de forma contínua, tanto a teoria quanto sua prática clínica. Estudos de casos são bem-vindos no processo de estudo exploratório, pois a vivência permite aplicar os conhecimentos em cenários que conhecemos e que nos instigam a buscar respostas. A acupuntura é uma arte, envolvendo inclusive a intuição do acupunturista na percepção do que não é relatado pelo paciente e captado pelo sistema energético do seu corpo. Atuar com a acupuntura permite ter apropriação de conhecimentos para curar e se autocurar. Referências ANDRADE, A. J. F. Energia e saúde: do-in, fitoterapia e outras terapias alternativas. São Paulo: Biblioteca 24 horas, 2009. ATHAYDE, F. B. Eletroacupuntura: fundamentos para prática clínica. São Paulo: Andreoli, 2016. AURICULOTERAPIA. In: TAI CHI Massage. [S. l.], [2020?]. Disponível em: https://masso- terapiataichi.wordpress.com/auriculoterapia/. Acesso em: 5 dez. 2020. CANÇADO, J. Do-in: livro dos primeiros socorros. 37. ed. São Paulo: Ground, 1993. v. 1. CHINESE medicine. In: CHINESE center. New Belgrade, [2020?]. Disponível em: http:// en.chinesecenter.megatrend.edu.rs/chinese-medicine/. Acesso em: 5 dez. 2020. CONSELHO REGIONAL DE FISIOTERAPIA E TERAPIA OCUPACIONAL da 8ª REGIÃO (CRE- FITO-8). Unesco inclui a acupuntura como patrimônio cultural inatingível da humanidade. Curitiba, 2017. Disponível em: https://www.crefito8.gov.br/pr/index.php/sala-de-im- prensa/noticias/632-unesco-inclui-acupuntura-como-patrimonio-cultural-intangivel- -da-humanidade. Acesso em: 5 dez. 2020. FONSECA, W. P. Ilustração dos pontos auriculares. São Paulo: Academia Brasileira de Artes Orientais, 2004. LIMA, P. R. Manual de acupuntura: direto ao ponto. 4. ed. Rio de Janeiro: Zen Editora, 2018. MACIOCIA, G. Os fundamentos da medicina chinesa. Rio de Janeiro: Roca, 2019. MAO-LIANG, Q. Acupuntura chinesa e moxibustão. Rio de Janeiro: Roca, 2001. MAS, W. D. D. 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Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu funcionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links. Acupuntura auricular e sistêmica20 DICA DO PROFESSOR A auriculoterapia é uma técnica de acupuntura muito utilizada atualmente por ser, na maioria do s casos, não invasiva e indolor. É uma terapia que consiste na aplicação de materiais como esfer as, cristais e sementes no pavilhão auricular do paciente. Também podem-se utilizar as agulhas, porém, nos casos que envolvem crianças ou pessoas com medo de agulhas, essa opção é substitu ída pelos estímulos não invasivos. Sabendo que a auriculoterapia é uma prática complementar p ara vários tratamentos na área da saúde, é necessário que você conheça os materiais utilizados n essa técnica. Na Dica do Professor, serão apresentados os materiais, assim como as informações importantes sobre os procedimentos dessa terapia. Aponte a câmera para o código e acesse o link do vídeo ou clique no código para acessar. EXERCÍCIOS 1) A acupuntura auricular e a sistêmica são técnicas que fazem parte das práticas integr ativas e complementares de saúde. Em relação ao processo histórico dessas práticas, relatado na obra clássica Nei Jing, do Imperador Amarelo, assinale a alternativa correta: A) No livro clássico Nei Jing, na época do Imperador Amarelo, as terapias alternativas como a acupuntura, a moxaterapia, a auriculoterapia, a eletroacupuntura e o Do-in já eram conhe cidas e relatadas na obra. Assim, essas terapias já faziam parte das práticas da época, sendo referência até hoje. B) O livro Nei Jing abordava as práticas de acupuntura utilizando vários tipos de agulhas, sen do elaboradas por tipos de materiais diferentes, como ossos, bambus e pedras. Esses materi ais eram de fácil acesso, já que se encontravam na natureza. https://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/cee29914fad5b594d8f5918df1e801fd/fd7a7cfc0c979232612888f2e9c7dd09 C) A obra do Imperador Amarelo abordava os fundamentos da Medicina Tradicional Chinesa, sendo esses conhecimentos ultrapassados atualmente pela evolução tecnológica. Hoje em d ia, outras obras substituíram o Nei Jing, constituídas por conhecimentos da medicina ocide ntal aplicados para a acupuntura. D) O clássico Nei Jing consistia em relatos da conversa do Imperador Amarelo com o seu acu punturista. Os registros traziam de forma discursiva as doenças da época, como também a convivência de amizade do Imperador com o seu acupunturista. E) Protocolos de acupuntura para o tratamento da malária foram descritos na obra do Imperad or Amarelo. A malária era uma doença que ameaçava a população daquela época e, por iss o, o Imperador exigiu que fossem realizados estudos sobre a doença para descobrir a sua c ura. 2) A aplicação da auriculoterapia é no pavilhão auricular. Para esse procedimento ser ef icaz e trazer benefícios ao paciente, devemos estar atentos a algumas especificidades dessa técnica. Analise as afirmativas e indique a sentença correta. A) O mapa da auriculoterapia é baseado na imagem de bebê, sendo que a cabeça tem como re ferência o lóbulo da orelha do paciente. A imagem invertida do bebê reflete um espelhame nto de um microssistema de acupuntura. B) Os pontos ilustrados no mapa referem-se a todos os órgãos do nosso corpo, sendo que, em casos de doenças mais graves, indica-se o uso de agulhas no lugar das sementes. As agulha s, por serem mais potentes para doenças graves, inteferem de forma mais rápida no estímul o das doenças crônicas. C) O mapa tem um único modelo, elaborado pela escola chinesa de acupuntura. A escola chin esa é a que detém os registros autorais dos mapas de acupuntura pela sua referência e orige m. D) Os mapas indicam, além dos pontos, os tipos de materiais para o estímulo na auriculoterapi a. Nesse caso, além da indicação dos pontos para a sua aplicação, a ilustração indica se, na área, é recomendável o uso de sementes, agulhas ou cristais, assim como a sua contraindic ação. E) Para a aplicação da auriculoterapia, podemos utilizar o mapa como guia para os pontos e a plicá-los sem contraindicação, pois o mapa detalha os problemas de saúde e o método de a plicação segura. 3) A acupuntura integra um arcabouço de conhecimentos e fundamentação teórica da medicina chinesa. Para desenvolver essa prática, o acupunturista precisa saber as sua s especificidades, inclusive sobre o diagnóstico. Leia as afirmações e indique a sentença correta. A) O diagnóstico é a etapa que antecede a anamnese, permitindo a inspeção de dores pelo cor po. A anamnese é a etapa seguinte, já que os dados são analisados após o exame clínico. B) O diagnóstico de língua faz parte do diagnóstico da medicina ocidental, sendo um exame c línico atual e reconhecido pelos profissionais de saúde. C) Na acupuntura, podemos iniciar a aplicação dos pontos antes do diagnóstico. Dessa forma, o estímulo já poderá ser realizado, antecipando essa etapa e agilizando o processo do trata mento. D) A identificação dos meridianos afetados integra a etapa do diagnóstico e pode haver o com prometimento de vários canais ao mesmo tempo. Espera-se que o paciente consiga indicar a área correspondente a sua dor para uma avaliação correta e a identificação dos canais co mprometidos. E) Os conhecimentos sobre os zang fu são dispensáveis para a elaboração do diagnóstico. Tai s saberes fazem parte dos fundamentos antigos e não precisam mais estar elencados na prát ica da acupuntura. 4) Na sessão de acupuntura, podem ser utilizadas técnicas complementares para auxilia r no tratamento do paciente. Assim, outros métodos e equipamentos são incluídos na terapêutica. Assinale as sentenças corretas em relação à moxaterapia. A) A moxa é derivada de um carvão mineral prensado. Constitui-se de um material sólido e cr istalino de ação prolongada no organismo. B) A moxa atua emitindo calor para o interior do ponto e região afetada. O calor, por ser térm ico, auxilia terapeuticamente no organismo. C) A moxaterapia pode ser aplicada em vários pontos sem contraindicação. Sua ação traz ben efícios para qualquer problema de saúde e pode ser aplicada em qualquer pessoa. D) Na auriculoterapia, a moxa é aplicada em todos os casos para potencializar as sementes. Sem esse estímulo complementar, as sementes não ativam como esperado na área da orelha. E) A moxaterapia causa vasoconstrição na área aplicada. É possível perceber essa situação pe la coloração pálida do pavilhão auricular após a sua aplicação. 5) A massagem do Do-in permite a autoaplicação com o estímulo nos pontos de acupunt ura. Qual das afirmativas apresenta a técnica correta dessa terapia? A) A técnica do Do-in é aplicada utilizando o dedo polegar em fricção na região dolorosa. Ne sse método, quanto mais atrito no ponto, mais efeito de condução se produz. B) O Do-in é aplicado no mesmo padrão de duração e intensidade para crianças e adultos, sen do necessário o mesmo tipo de estímulo para qualquer idade e constituição física. C) O Do-in não tem contraindicações, podendo ser realizado tanto em crianças, como em idos os e gestantes. Essa técnica pode ser realizada em qualquer pessoa e em qualquer problema de saúde. D) A massagem do Do-in tem como objetivo restabelecer o fluxo de energia do meridiano, ali viando as dores e promovendo muitos benefícios para a saúde de forma integral. E) O estímulo manual precisa ser com a pressão superficial para não machucar a pele do paci ente. Assim, a integridade da pele não fica comprometida e não corre riscos de lesões. NA PRÁTICA As doenças crônicas não transmissíveis são consideradas um dos maiores problemas de saúde p ública no Brasil e no mundo. Sabe-se que existem fatores de risco associados pela maioria das m ortes por elas. Entre eles, estão o tabagismo, o consumo alimentar inadequado, assim como o co nsumo excessivo de bebidas alcoólicas e o sedentarismo, fatores preveníveis pela mudança de h ábitos e com um estilo de vida mais saudável. Quando a doença está instaurada, os cuidados e o controle para com ela devem estar presentes durante toda a vida do paciente. As práticas integrat ivas de saúde são utilizadas também no cuidado dessas doenças. As técnicas de acupuntura, por exemplo, podem ser empregadas no tratamento de diabetes melit o. É importante ressaltar que a acupuntura não procura substituir o tratamento convencional e o controle da doença pelos exames específicos, mas, sim, de forma complementar a ele. Um difere ncial desse tipo de terapia é que ela não foca somente na doença, mas no paciente como um tod o, procurando equilibrar o organismo. Neste Na Prática, você conhecerá o caso de Dona Iracema e como a acupuntura pode auxiliar no tratamento de diabetes melito. SAIBA + Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professo r: Saúde, doença e tratamento em medicina chinesa Neste link, você irá conferir um vídeo que discute conceitos de saúde, doença e tratamento em m edicina chinesa, produzido pelo canal Facilitando Acupuntura. Aponte a câmera para o código e acesse o link do vídeo ou clique no código para acessar. Saúde em várias dimensões Clique no link e você poderá acompanhar a matéria da Revista Radis da Fiocruz sobre a inserção de práticas integrativas e complementares no SUS, evidências científicas e formação profissiona l. Aponte a câmera para o código e acesse o link do vídeo ou clique no código para acessar. Agulha de acupuntura x Agulha de injeção Neste vídeo, você poderá ver a demonstração do tamanho das agulhas de acupuntura em relação a uma agulha de injeção. Aponte a câmera para o código e acesse o link do vídeo ou clique no código para acessar. https://www.youtube.com/embed/nKra5v7dN4I https://radis.ensp.fiocruz.br/index.php/home/reportagem/saude-em-varias-dimensoes https://www.youtube.com/embed/-wgiAenG66M A acupuntura vai além da agulha: trajetórias de formação e atuação de acupunturistas Neste artigo, você poderá acompanhar as reflexões sobre os desafios na formação da acupuntura por profissionais da área da saúde no contexto da aplicação dessa prática no SUS. Aponte a câmera para o código e acesse o link do vídeo ou clique no código para acessar. https://www.scielosp.org/article/sausoc/2017.v26n1/300-311
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