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93 Habilidades Seções de estudo Capítulo 4 Estática dos fluidos Seção 1: Variação de pressão estática num fluido incompressível Seção 2: Efeito de força de contato em fluido incompressível confinado (Lei ou Princípio de Pascal) Seção 3: Deslocamento de êmbolos por fluidos incompressíveis A partir do estudo deste capítulo, espera-se que o estudante possa visualizar o que é a pressão em um fluido e como é medida, aplicando em situações que envolvam variação de profundidade dentro de um fluido. Também, deve isualizar e aplicar as leis de Pascal e Stevin em sistemas hidráulicos que permitem obter vantagem mecânica. FREITAS, L. A moral na obra de Piaget: um projeto inacabado. São Paulo: Cortez, 2003, p. 56. 94 Capítulo 4 Para início de estudo Um fluido é considerado estático quando todas as partículas que o constituem não estiverem em movimento. De outra forma, se estiverem em movimento, devem ter a mesma velocidade relativa em relação a um referencial inercial, isto é, nos quais são válidas as leis de Newton. No equilíbrio estático, um fluido está submetido somente a forças de pressão normais e forças volumétricas. Assim, enfatizaremos a avaliação das distribuições de pressão estática e alguns efeitos importantes atribuídos a essas distribuições que descrevem o comportamento de um fluido estático. Seção 1 Variação de pressão estática num fluido incompressível. Para avaliarmos as variações de pressão, , as quais um fluido está submetido, vamos considerar um elemento diferencial de fluido. As forças que agem sobre o elemento fluido são devidas à gravidade (peso), e as tensões no fluido vizinho (pressões), conforme mostram as Figuras 4.1 e 4.2, respectivamente. (SISSON; PITTS, 2001). Figura 4.1 – Representação de um elemento diferencial de fluido incompressível submetido à ação da gravidade Fonte: Elaboração do autor (2014). 95 Fundamentos de Termodinâmica e Mecânica dos Fluidos Figura 4.2 – Representação de um elemento diferencial de fluido incompressível submetido às forças em todas as direções. Fonte: Elaboração do autor (2014). Para um fluido em equilíbrio estático, aplica-se a 1ª lei de Newton, , a partir da qual se obtêm as três equações escalares 4.1, 4.2 e 4.3, que garantem a condição de equilíbrio para o elemento diferencial de fluido (SISSON; PITTS, 2001) (Eq. 4.1) (Eq. 4.2) (Eq. 4.3) Seguindo a dedução matemática para a obtenção de uma equação que permita quantificar a pressão exercida sobre um elemento fluido, divide-se cada uma das equações (4.1, 4.2 e 4.3) por , e , respectivamente, e tomando o limite quando , e tendem a zero, obtêm-se: (Eq. 4.4) (Eq. 4.5) (Eq. 4.6) 96 Capítulo 4 é a força externa por unidade de volume, a qual pode ser representada na forma vetorial através da equação 4.7. (Eq. 4.7) em que: é a força de pressão total por unidade de volume num ponto; é a força de por unidade volume num ponto. A equação 4.7 pode também ser escrita da seguinte maneira, conforme a equação 4.8. (Eq. 4.8) As equações 4.4, 4.5 e 4.6 indicam que, com as hipóteses feitas, a pressão é independente das coordenadas x e z, dependendo, apenas, da coordenada y. A partir dessa abordagem, verifica-se que a pressão é uma função de uma só variável e podemos usar, então, uma derivada total (direcional) no lugar da derivada parcial. Reescrevendo, então, a equação 4.8 adotando a notação de derivada total, tem-se a equação 4.9. (Eq. 4.9) Para determinar a variação de pressão num fluido incompressível ( ) num campo gravitacional constante ( ), considerando que a pressão no nível de referência é designada por , a pressão , no local y é obtida por integração da equação 4.10. (Eq. 4.10) Com o resultado da integração da equação 4.10, considerando a superfície do corpo fluido da Figura 4.1 (tomada como referência) e admitindo (- ), tem-se a equação 4.11 conhecida como equação fundamental da hidrostática. (SISSON; PITTS, 2001). A soma das pressões atmosférica e efetiva é denominada de pressão absoluta. (SISSON; PITTS, 2001) . (Eq. 4.11) ou (Eq. 4.12) Em que é a massa específica do líquido. é a aceleração da gravidade local. é a profundidade (altura da coluna de líquido). 97 Fundamentos de Termodinâmica e Mecânica dos Fluidos A equação 4.12 exibe um comportamento linear, conforme ilustra a Figura 4.3. Figura 4.3 – Variação da pressão com profundidade em um fluido líquido Fonte: Elaboração do autor (2014). A pressão efetiva ou pressão hidrostática é dada pela equação 4.13, a qual pode ser reescrita em função do peso específico do fluido, conforme a equação 4.14. (Eq. 4.13) (Eq. 4.14) A diferença entre as pressões absoluta e atmosférica é denominada de pressão relativa ou pressão manométrica (FOX et al., 2006). (Eq. 4.15) MANOMETRIA A manometria é uma das técnicas mais convenientes para medir pressões, a qual consiste em determinar o deslocamento produzido numa coluna contendo um fluido (ou fluidos). Na medida de pressões elevadas, geralmente é utilizado o mercúrio como o fluido manométrico. Essa escolha é devido ao seu alto valor de peso específico. Algumas vezes é utilizada a água para medir pressões em gases. (FOX et al., 2006). • Manômetros Manômetros são aparelhos simples, de baixo custo, utilizados para se medir diferença de pressão, obtida pela diferença na altura da coluna de dois líquidos. Existem vários tipos de manômetros, entre eles, o manômetro com tubos em U: o manômetro de tubo aberto (Figura 4.4), e o manômetro diferencial (Figura 4.5). Há também o manômetro de tubo inclinado (Figura 4.6) (FOX et al., 2006). 98 Capítulo 4 Figura 4.4 – Manômetro de tubo em U Fonte: Elaboração do autor (2014). Figura 4.5 – Manômetro diferencial Fonte: Elaboração do autor (2014). 99 Fundamentos de Termodinâmica e Mecânica dos Fluidos Figura 4.6 – Manômetro de tubo inclinado Fonte: Elaboração do autor (2014). Duas leis governam o comportamento dos fluidos estáticos: A lei de Stevin e a lei de Blaise Pascal. A lei de Stevin refere-se à pressão exercida por uma coluna de líquido, enquanto que a lei de Blaise Pascal refere-se à pressão transmitida por um líquido confinado em uma tubulação. Veremos essas leis em detalhes ao longo dessa seção. LEI DE STEVIN A lei de Stevin estabelece que a pressão no interior de um fluido aumenta linearmente com a profundidade. (FOX ET AL., 2006) Esse comportamento é dado pela equação 4.12 e ilustrado pela Figura 4.3, considerando que a pressão inicial é não nula. Para manômetros abertos, a pressão inicial é a pressão atmosférica. VASOS COMUNICANTES Vaso comunicante é um sistema formado por diversos ramos iguais ou em várias formas, que se comunicam entre si. Numa situação em que a superfície livre de um líquido que ocupa as diferentes partes do recipiente é horizontal, ou seja, o líquido sobe à mesma altura h em todos os ramos, verifica-se o princípio dos vasos comunicantes. Independente do formato de cada ramo, a pressão é igual, em todos os pontos localizados a uma mesma altura h, , em qualquer um dos ramos, conforme ilustra a Figura 4.7. A pressão no fundo de cada um dos ramos é a mesma. Esse fenômeno é conhecido como paradoxo hidrostático. 100 Capítulo 4 Figura 4.7 – Vasos comunicantes contendo líquido Fonte: Elaboração do autor (2014). Regras práticas e úteis para escrever as equações dos manômetros quando há tubos interligados contendo fluidos diferentes. Quaisquer dois pontos na mesma elevação (nível), num trecho contínuo do mesmo líquido, estão submetidos à mesma pressão; A pressão aumenta à medida que se percorre, para baixo, uma coluna de líquido; Quando temos um conjunto de tubos interligados contendo fluidos diferentes, inicia- se por um menisco e adicionam-se as pressões resultantes das colunas do fluido, quando percorremos para baixo, e subtraem-seas pressões resultantes quando percorremos para cima. Para fixar esses conceitos, observe o seguinte exemplo adaptado do livro Introdução à Mecânica dos Fluidos. (FOX et al., 2006, p. 56): 1º) Na figura abaixo, o manômetro diferencial está totalmente cheio com os líquidos água, mercúrio e óleo. Obtenha a expressão para a diferença de pressão entre os pontos A e B. Considere: 101 Fundamentos de Termodinâmica e Mecânica dos Fluidos Figura 4.8 – Manômetro diferencial Fonte: Elaboração do autor (2014). Resolução A expressão para a diferença de pressão entre os pontos A e B é obtida iniciando-se pelo ponto A e obtendo-se a equação entre os pontos sucessivos ao longo do manômetro. Lembrando que a diferença de pressão é dada por , tem-se as equações 4.16, 4.17, 4.18, 4.19 e 4.20. (Eq. 4.16) (Eq. 4.17) (Eq. 4.18) (Eq. 4.19) (Eq. 4.20) 102 Capítulo 4 Para facilitar a substituição das equações acima, vamos reescrevê-las conforme as equações 4.21, 4.22, 4.23, 4.24 e 4.25. (Eq. 4.21) (Eq. 4.22) (Eq. 4.23) (Eq. 4.24) (Eq. 4.25) Substituindo as equações 4.22, 4.23, 4.24 e 4.25 na equação 4.21 temos: A diferença de pressão entre os pontos A e B é obtida em sua forma final, pela equação 4.26. (Eq. 4.26) Para fixar esses conceitos, observe o seguinte exemplo elaborado pelo autor. 2º) Na figura abaixo, o compartimento A contém um gás cuja densidade é desprezível, comparada à densidade dos líquidos. Considere: , , , , , e determine, em Pa, a pressão relativa ou manométrica em A. 103 Fundamentos de Termodinâmica e Mecânica dos Fluidos Figura 4.9 – Manômetro de tubo aberto apenas em um menisco Fonte: Elaboração do autor (2014). Resolução: Vamos aplicar a regra prática para manômetros e, a partir dela, obter a pressão no ponto A. Como a pressão relativa ou manométrica é definida como temos que: 104 Capítulo 4 Um sistema manométrico pode ser representado também conforme a Figura 4.10. Figura 4.10 – Sistema manométrico Fonte: Elaboração do autor (2014). O cálculo da pressão em um sistema semelhante ao mostrado na Figura 4.10 é realizado empregando a convenção para o manômetro A, conforme ilustra a Figura 4.11. A parte externa indica que o manômetro está exposto a um ambiente externo, que pode ser a atmosfera livre ou outro reservatório. A parte interna indica que o manômetro se comunica com um ambiente interno (reservatório). Figura 4.11 – Representação de um manômetro em um sistema Fonte: Elaboração do autor (2014). Observe o seguinte exemplo: 105 Fundamentos de Termodinâmica e Mecânica dos Fluidos 3º) Determine a pressão no reservatório 1, mostrado na Figura 4.12 abaixo, considerando que o manômetro C acusa a pressão de . O líquido contido na coluna é o mercúrio, cuja massa específica é . Figura 4.12 - Manômetro diferencial com dois meniscos abertos para atmosfera Fonte: Elaboração do autor (2014). Resolução: Considerando que a massa específica do ar é muito menor do que a do mercúrio, podemos desprezá-la. Lembrando que a pressão em um ponto de uma coluna de líquido é igual à pressão em outro ponto qualquer que tenha a mesma altura no mesmo líquido. 106 Capítulo 4 A pressão absoluta no ponto B é obtida pela equação 4.12.: A pressão no ponto B é igual à pressão no ponto A, logo, temos . Considerando que a massa específica do ar é desprezível em relação a do mercúrio, a pressão na interface (Hg-Ar) do reservatório é . Para calcular a pressão dentro do reservatório 1, aplicamos a equação 4.15, que determina a pressão manométrica. Nessa situação, a pressão absoluta (dentro) equivale à pressão no reservatório 1. A pressão de fora equivale à pressão acusada pelo manômetro C. Seção 2 Efeito de força de contato em fluido incompressível confinado - lei ou princípio de pascal A lei de Blaise Pascal estabelece que a pressão exercida num ponto de um fluido em equilíbrio estático, ou seja, em repouso ou que se movimenta uniformemente, é igual em todas as direções. Esse comportamento é dado pela equação 4.12 e ilustrado pela Figura 4.3, considerando a pressão inicial não nula. 107 Fundamentos de Termodinâmica e Mecânica dos Fluidos De outra forma, podemos dizer que o acréscimo de pressão, em um ponto de um fluido em equilíbrio estático, ou seja, em repouso ou que se move com velocidade constante, transmite-se integralmente a todos os pontos do fluido. Para um fluido líquido que se encontra confinado num recipiente, conforme mostra a figura 4.10, é válido o Princípio de Pascal. (SISSON; PITTS, 2001). Uma importante aplicação desse princípio é encontrada em máquinas hidráulicas, as quais são capazes de multiplicar forças. Por exemplo, os elevadores hidráulicos dos postos de gasolina e sistemas de freios e amortecedores de diversos tipos de automóveis. Figura 4.13. Recipiente contendo fluido Fonte:Elaboração do autor (2014). Aplicando o princípio de Pascal, tem-se que a variação de pressão num ponto do fluido se transmite integralmente a todos os demais pontos do fluido. Ao aplicarmos uma força no ponto A da Figura 4.13, uma variação de pressão que será transmitida igualmente para o ponto B do fluido. Assim, podemos representar a relação estabelecida que envolve a área do êmbolo (pistão) e a força aplicada (ou resultante) por meio da equação 4.27. (Eq. 4.27) Lembrando que e , podemos reescrever a equação 4.27, conforme a equação 4.28. (Eq. 4.28) Em que: é a área do êmbolo (pistão) do tubo A; é a área do êmbolo (pistão) do tubo B; é a força aplicada no êmbolo (pistão) do tubo A; é a força aplicada no êmbolo (pistão) do tubo B. 108 Capítulo 4 O deslocamento do êmbolo (pistão), devido à ação de uma força aplicada ao sistema, pode ser determinado pelo conceito da conservação do trabalho. Para isso, inicialmente, precisamos estabelecer algumas relações. O trabalho de uma força é dado pela equação 4.29. (HALLIDAYA; RESNICK, 2009). . (Eq. 4.29) Considerando que o produto escalar resulta num escalar, podemos substituir a força na equação 4.29 e reescrevê-la conforme a equação 4.30. (Eq. 4.30) Podemos empregar a equação 2.30 para expressar os trabalhos realizados pelas forças na entrada, e na saída do sistema, . Aplicando o princípio da conservação do trabalho, temos que o trabalho realizado na entrada deve ser igual ao trabalho realizado na saída. . Igualando os dois trabalhos, conforme a equação 2.31, podemos simplificar a pressão nos dois membros da equação, visto que ela é igual em todos os pontos do fluido. Dessa forma, podemos expressar o deslocamento dos êmbolos de um sistema hidráulico, mostrado na Figura 4.10, por meio da equação 4.32. (HALLIDAY; RESNICK, 2009). (Eq. 4.31) (Eq. 4.32) Observe o exemplo a seguir onde será aplicada a lei de Pascal. 4º) A figura abaixo mostra um bloco de concreto sobre um macaco hidráulico. No interior desse dispositivo existe óleo. Os êmbolos possuem áreas iguais a e . Sobre o êmbolo menor é aplicada uma força cujo módulo é 10000 N e, dessa forma, o bloco é equilibrado. Considere e determine: a) A massa do bloco. b) Se o deslocamento do êmbolo menor foi de 30 cm, qual o deslocamento do êmbolo maior? 109 Fundamentos de Termodinâmica e Mecânica dos Fluidos Figura 4.14 - Elevador hidráulico Fonte: Elaboração do autor (2014). Resolução: a) Aplicando a lei de Pascal, a pressão aplicada no ramo esquerdo da prensa hidráulica será transmitida integralmente a todas as partes do fluido, o que resulta em uma vantagem mecânica da força exercida pelo óleo sobre o êmbolo maior, onde está apoiado o bloco de concreto. Temos que: Como b) Aplicando a relação entre área e deslocamento, temos: O deslocamento do êmbolo maior é 4 vezes menor do que o deslocamento do êmbolo menor.Esse resultado é oriundo da relação entre o tamanho das áreas. 110 Capítulo 4 Atividades de autoavaliação 1. A figura desta questão mostra um reservatório contendo ar e água, separados por um êmbolo(Pistão). Na parte superior do reservatório, o ar está sob pressão de . O êmbolo tem área com faces iguais a e peso . Calcule: a) ( ) A pressão no ponto A; b) ( ) A intensidade da força que atua sobre um tampão, cuja área da seção transversal e igual a 111 Fundamentos de Termodinâmica e Mecânica dos Fluidos 2. Determine a pressão manométrica no ponto a, considerando que os líquidos A e B têm densidades relativas, respectivamente, iguais a 0,75 e 1,2. O líquido em torno do ponto a é água e o tanque da esquerda está aberto para atmosfera, conforme mostra a figura dessa questão. 3. A figura dessa questão mostra um sistema em que a leitura no manômetro B é fornecida. Considerando que o líquido contido na coluna é o mercúrio, determine, em metros de coluna de mercúrio, m.c.hg, a leitura do manômetro A. A ar ar B 1 2 20 cm 112 Capítulo 4 4. Em um posto de gasolina, um tanque subterrâneo de gasolina sofreu infiltração de água. Se a densidade da gasolina é 0,68, determine, em metros de coluna d’água, m.c.a.: a) ( ) A pressão na interface gasolina-água. b) ( ) A pressão no fundo do tanque.
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