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Ana Luiza Spiassi Sampaio @anassampaioo É o retorno do conteúdo gástrico através do Esfíncter Esofagiano Inferior (EEI); Refluxo gastroesofágico casual/fisiológico: curta duração, ocorre durante as refeições; assintomático; Refluxo interprandial recorrente: longa duração, costuma originar sintomas (pirose e regurgitação); patológico; Doença do Refluxo Gastroesofágico (DRGE) ➜ afecção crônica secundária ao refluxo patológico de parte do conteúdo gástrico para o esôfago e/ou órgãos adjacentes (faringe, laringe, árvore traqueobrônquica); pode ou não ter lesões teciduais (esofagite); Distúrbio mais comum do trato gastrointestinal alto; “Pirose” ➜ queimação retroesternal ascendente; Qualquer faixa etária (inclusive crianças); Prevalência aumenta com a idade; Sintomas tendem a ser mais frequentes e intensos em obesos e gestantes (relaxamento do EEI promovido pela progesterona + aumento da pressão intra-abdominal exercido pelo útero gravídico); Criança ➜ DRGE predomina em lactentes ➜ desaparece até a idade de 2 anos (imaturidade do EEI); Esofagite erosiva relacionada à DRGE: fator de risco para o adenocarcinoma de esôfago➜ cicatrização das erosões acontece por meio de metaplasia intestinal; o Esôfago de Barret: quando o 1/3 distal do esôfago apresentar a alteração; A incidência de adenocarcinoma de esôfago está aumentando, ao passo que a prevalência de infecção pelo H. pylori está diminuindo ➜ os efeitos patogênicos do H. pylori reduzem a secreção ácida ➜ indivíduos com pangastrite por H. pylori que possuem DRGE ficariam protegidos do dano mucoso ácido, com menor risco de esofagite erosiva e, consequentemente, menor probabilidade de desenvolver esôfago de Barrett, displasia e adenocarcinoma; Relaxamentos transitórios do EEI não relacionados à deglutição: mecanismo patogênico mais comum de DRGE (60- 70%); característicos dos indivíduos sem esofagite ou com esofagite leve; o Ao contrário dos relaxamentos desencadeados pela deglutição, os relaxamentos patológicos são mais duradouros (> 10 segundos) e não são seguidos de peristalse esofagiana eficaz; Hipotonia verdadeira do EEI: pressão média do EEI < 10 mmHg; o Pode ser associada a esclerose sistêmica (fibrose e atrofia da musculatura esofagiana), lesão cirúrgica do EEI (após esofagomiotomia de Heller), tabagismo, uso de drogas com efeito anticolinérgico ou miorrelaxante (agonistas beta-adrenérgicos, nitratos, antagonistas do cálcio) e a gestação; o Colecistocinina (CCK) e a secretina reduzem o tônus do EEI; o Principal mecanismo patogênico em pacientes que com esofagite erosiva grave ➜ refluxo ocasionado por este mecanismo é mais intenso e mais prolongado ➜ maior exposição da mucosa e maior dano; Ana Luiza Spiassi Sampaio @anassampaioo Desestruturação anatômica da junção esofagogástrica (hérnia de hiato); “Acid Pocket”: principal agente agressor da mucosa esofágica na DRGE ➜ material ácido oriundo do estômago (pH < 4.0); o Estômago cheio ➜ parte do suco gástrico produzido no fundo do órgão fica “boiando” por cima do bolo alimentar (“acid pocket”) ➜ reflui durante o relaxamento do EEI no período periprandial; o Refluxo de bile e secreções pancreáticas pode contribuir para o dano mucoso; o DRGE ➜ episódios de refluxo intensamente ácido ocorre nas primeiras 3 horas após as refeições; Hérnias de hiato favorecem o refluxo ➜ o EEI passa a não contar mais com a ajuda da musculatura diafragmática como reforço mecânico à sua função de barreira; o A posição inapropriada do EEI (passa a ficar dentro da cavidade torácica, local onde a pressão externamente exercida sobre ele é menor), facilita a ocorrência do chamado “re-refluxo”, a partir do material contido no saco herniário; o Hérnia de hiato nem sempre se acompanha de DRGE; Mecanismos de defesa contra o refluxo: o Bicarbonato salivar: neutraliza a acidez do material refluído; o Peristalse esofagiana: devolve o material para o estômago; Coexistência de disfunção das glândulas salivares síndrome de Sjögren, medicamentos com efeito anticolinérgico) e/ou distúrbios motores primários do esôfago ➜ contribuem para a ocorrência e a gravidade da DRGE; Pirose (queimação retroesternal) ➜ principal sintoma da DRGE; ocorre nas primeiras 3 horas após as refeições e ao deitar; o É diferente de azia (queimação epigástrica); o Pode ser acompanhada de regurgitação (percepção de um fluido salgado ou ácido na boca); Pirose + regurgitação: sintomas esofagianos Disfagia ➜ sugere complicações (estenose péptica ou adenocarcinoma); pode resultar apenas do edema inflamatório na parede do esôfago ou da coexistência de um distúrbio motor associado; Manifestações de alerta para câncer: caráter rapidamente progressivo da disfagia (primeiro para sólidos e depois para sólidos + líquidos, em questão de semanas ou meses); coexistência de outros sinais de alarme (perda ponderal, sangue oculto nas fezes e anemia); Estense péptica: disfagia somente para sólidos, de curso insidioso (anos) e não associada à perda ponderal (apetite preservado); Dor precordial ➜ pode ser indistinguível da dor coronariana; diagnóstico diferencial com angina pectoris (a DRGE é uma das principais etiologias de “dor torácica não cardíaca”); Sintomas extraesofagianos/atípicos: relacionados ao refluxo ácido para a boca (erosão do esmalte dentário), faringe (irritação da garganta, sensação de globus), laringe (rouquidão, granuloma de corda vocal), cavidade nasal (sinusite crônica, otite média) e árvore traqueobrônquica (tosse crônica, broncoespasmo, pneumonite aspirativa); Anemia ferropriva por perda crônica de sangue ➜ aparece nos pacientes que desenvolvem esofagite erosiva grave, com formação de úlceras profundas; Esofagite infecciosa (CMV, HSV, Candida); Esofagite eosinofílica; Dispepsia não ulcerosa; Úlcera péptica gastroduodenal; Doença do trato biliar; Distúrbios motores do esôfago; Doença coronariana; Pode ser feito somente pela anamnese: paciente refere pirose pelo menos 1x por semana, por um período mínimo de 4 a 8 semanas; Resposta à prova terapêutica ➜ redução sintomática > 50% após 1-2 semanas de uso de IBP (principal teste confirmatório); Ana Luiza Spiassi Sampaio @anassampaioo Exames complementares: Endoscopia Digestiva Alta; pHmetria de 24h (com ou sem impedanciometria); Esofagomanometria; e Esofagografia Baritada; Endoscopia Digestiva Alta: identifica as complicações da DRGE (esofagite, estenose péptica, esôfago de Barrett e adenocarcinoma); útil para diagnóstico diferencial com as condições que simulam os sintomas de refluxo; o Indicações de EDA em pacientes suspeitos ou diagnosticados com DRGE: “Sinais de alarme”: disfagia, emagrecimento, odinofagia, sangramento gastrointestinal e anemia; Sintomas refratários ao tratamento; História prolongada de pirose (> 5-10 anos) ➜ maior risco de esôfago de Barrett; Idade > 45-55 anos; Presença de náuseas e vômitos, história familiar de câncer e sintomas intensos ou noturnos devem levar o médico a "considerar" a realização de EDA; pHmetria de 24h: padrão-ouro para confirmação diagnóstica de DRGE (sensibilidade e especificidade acima de 90%); o Indicações: sintomas refratários ao tratamento clínico; avaliação de sintomas atípicos (tosse, rouquidão, dor torácica); documentação da real existência de DRGE antes de uma cirurgia antirrefluxo; reavaliação de pacientes ainda sintomáticos após a cirurgia antirrefluxo; o É passado um cateter de 2 sensores de pH ➜ sensor mais distal fica a 5 cm acima do EEI; mais proximal a 20 cm; o Refluxo é detectado pela queda do pH intraesofágico (pH < 4,0); o Variáveis aferidas: percentual do tempo totalde refluxo, percentual do tempo de refluxo em ortostase, percentual do tempo de refluxo em posição supina, número de episódios de refluxo, número de episódios de refluxo com > 5min de duração, duração do maior episódio ➜ “índice de refluxo” (Índice de De Meester) > 14,7 é diagnóstico de DRGE; o pH intraesofagiano < 4,0 por mais do que 7% do tempo de exame é diagnóstico; Impedanciometria: detecta a ocorrência de refluxo gastroesofágico independentemente do pH do material refluído; o Indicação para associar impedanciometria com pHmetria: pacientes refratários ao tratamento com inibidores de bomba de próton; o Usuários de bloqueadores do receptor H2 de histamina devem interromper a medicação três dias antes do exame; usuários de inibidores de bomba de prótons precisam parar a medicação 14 dias antes; Esofagomanometria: não serve para diagnosticar a DRGE ➜ não confirma a ocorrência de refluxo; o Auxilia no planejamento cirúrgico; o Utiliza um cateter que mede a pressão em diversos pontos ao longo do órgão; o Indicações: Localizar o EEI de modo a permitir o correto posicionamento do cateter de pHmetria; Antes da cirurgia antirrefluxo, com o objetivo de avaliar a competência motora do esôfago e determinar o tipo de fundoplicatura a ser realizada; Suspeita de algum distúrbio motor associado; Esofagografia baritada: paciente deglute contraste baritado e são obtidas imagens radiológicas que revelam a anatomia do esôfago; o Caracterização das hérnias de hiato; o Solicitado em pacientes com disfagia (caso EDA não possa ser imediatamente realizada); Ana Luiza Spiassi Sampaio @anassampaioo Esofagite de refluxo ➜ alterações inflamatórias na mucosa esofagiana visíveis pela endoscopia; nem sempre essas alterações possuem correspondência direta com as manifestações clínicas (maioria dos pacientes sintomáticos apresenta EDA normal); Esofagite de importância clínica ➜ possui erosões (soluções de continuidade limitadas à mucosa, com pelo menos 3 mm de extensão); Esofagite erosiva ➜ coletar biópsias da mucosa ➜ hiperplasia da camada basal do epitélio estratificado, associada à papilomatose (proeminência das papilas da lâmina própria); o Alteração histopatológica mais precoce é o aumento do espaço intercelular no epitélio estratificado; Biópsia: confirma diagnóstico de esôfago de Barrett (metaplasia intestinal); 5% dos portadores de esofagite erosiva ➜ cicatrização fibrótica das lesões; Se inicia no terço inferior do órgão; Disfagia por obstrução mecânica (predominando para sólidos) é a característica clínica mais marcante; insidiosa, precedida em anos por sintomas como pirose; A pirose costuma diminuir ou desaparecer ➜ a estenose péptica atua como “barreira antirrefluxo”; Portadores de estenose péptica perdem pouco ou nenhum peso - apetite preservado; Abaixo da área de estenose geralmente há epitélio metaplásico (Barrett); Biópsia endoscópica: sempre indicada; Tratamento: dilatação endoscópica por balão (até se obter um diâmetro luminal de 13-17 mm ➜ alívio da disfagia); Ana Luiza Spiassi Sampaio @anassampaioo Erosões ➜ superficiais; Úlceras ➜ lesões mais profundas - alcançam a submucosa e a muscular; Quadro clínico: dor ao deglutir (odinofagia); hemorragia digestiva oculta (anemia ferropriva); Localização: áreas de epitélio metaplásico (“úlcera de Barrett”) ➜ 1/3 distal; Refluxo pode ser causa para broncoespasmo; DRGE pode exacerbar a asma; Tratamento da asma (agonistas beta-adrenérgicos, que relaxam o EEI) pode induzir refluxo; Suspeita clínica de asma relacionada à DRGE ➜ pHmetria de 24h; Refluxo gastroesofágico + esofagite erosiva ➜ cicatrização das áreas lesadas com substituição do epitélio escamoso normal por um epitélio colunar de padrão intestinal, altamente resistente ao pH ácido (metaplasia intestinal); Prevalência: homens brancos; aumenta com a idade (pico entre 45-60 anos); Obesidade é fator de risco independente para EB; Fatores de proteção: consumo de vinho tinto, infecção crônica por H. pylori e raça negra são fatores de proteção contra o esôfago de Barrett; Diagnóstico: inspeção do endoscopista ➜ visualiza no terço inferior do órgão as típicas “línguas” de coloração vermelho-salmão; o Confirmação é feita pela biópsia ➜ presença de células caliciformes (repletas de mucina); EB representa uma lesão precursora do Adenocarcinoma de esôfago; TODOS os portadores EB devem receber inibidores de bomba de prótons; Refluxo gastroesofágico fisiológico tem maior probabilidade de se manifestar clinicamente em crianças (são as famosas “golfadas” dos bebês); o Não requer tratamento ➜ melhora de forma espontânea; DRGE infantil: refluxo é intenso, incômodo e associado a complicações (déficit pôndero- estatural, irritabilidade, PNM de repetição); o Diagnóstico: história clínica + resposta positiva à prova terapêutica; EDA tem pouca especificidade, pois até 25% das crianças com < 1 ano de vida possui alterações inflamatórias na mucosa esofágica; o Farmacoterapia: para casos persistentes; bloqueadores do receptor H2 de histamina (ranitidina); Cirurgia antirrefluxo: para os casos refratários ou com complicações (probabilidade de alterações anatômicas na barreira antirrefluxo); Medidas Antirrefluxo: o Elevação da cabeceira do leito (15 a 20 cm); o Reduzir a ingestão de alimentos que relaxam o EEI ou que têm efeito diretamente “irritante” para o esôfago: gorduras, cítricos, café, bebidas alcoólicas e gasosas, menta, hortelã, molho de tomate, chocolate, condimentos em excesso (alho, cebola, pimenta); o Evitar deitar após as refeições, devendo-se esperar de 2-3h; quanto mais comer e mais gordura ingerir, mais esperar; o Evitar refeições copiosas; fracionar a dieta; o Suspensão do fumo; o Evitar líquidos às refeições; o Evitar atitudes que aumentem a pressão intra- abdominal (agachar, fazer abdominais, usar roupas e cintos apertados etc.); o Redução de peso em obesos; o Evitar, se possível, as drogas que relaxam o EEI (antagonistas do cálcio, nitratos, derivados da morfina, anticolinérgicos, progesterona, diazepam, barbitúricos, teofilina; Bloqueadores do receptor H2 de histamina (BH2); Inibidores da Bomba de Prótons (IBP); antiácidos; Bloqueadores H2: Bloqueiam os receptores H2 de histamina nas células parietais gástricas, inibindo uma das três vias de estímulo neuroendócrino à secreção ácida; Ana Luiza Spiassi Sampaio @anassampaioo São menos eficazes do que os IBP (não devem ser prescritos na vigência de esofagite grave ou outras complicações (esôfago de Barrett); Inibidores da Bomba de Prótons: Inibem a H+ /K+ ATPase (“bomba de prótons”) bloqueando a via final para a secreção de ácido pelas células parietais do estômago; Drogas de escolha quando o paciente é muito sintomático e quando apresenta esofagite ou outras complicações da DRGE; Dose padrão: 1x ao dia, 30min antes do café da manhã; Efeitos crônicos dos IBPs: maior risco de enterocolite infecciosa, incluindo infecção por Clostridium difficile; maior risco de pneumonia (por enteropatógenos Gram-negativos que passam a colonizar a mucosa gástrica e podem ser aspirados para a via aérea); má absorção intestinal de ferro, cálcio, magnésio e vitamina B12, provocando anemia (ferropriva e/ou megaloblástica), hipomagnesemia e fraturas osteoporóticas, especialmente fraturas de quadril; Antiácidos: Neutralizam diretamente a acidez do suco gástrico, sem interferir na secreção cloridropéptica das células parietais ➜ NÃO são úteis no tratamento prolongado daDRGE (efeito de curta duração); Antiácidos isolados não têm eficácia na cicatrização da esofagite; Formulações contendo magnésio devem ser evitadas em portadores de doença renal crônica, pelo risco de causar hipermagnesemia; Fundoplicatura; Restabelece a competência do EEI, circundando a extremidade inferior do esôfago com um manguito (ou válvula) formado pelo fundo gástrico; Realizada por meio da cirurgia videolaparoscópica; Na presença de complicações da DRGE (esofagite, úlceras esofágicas, estenose péptica e esôfago de Barrett), a maioria dos cirurgiões indica a cirurgia; Ana Luiza Spiassi Sampaio @anassampaioo 80% dos pacientes evoluem com recidiva dos sintomas, geralmente dentro dos primeiros 3 meses; Opções válidas: o Reintroduzir IBP na dose padrão e mantê-lo indefinidamente; o Utilizar o IBP na dose padrão, mas de forma intermitente (cursos alternantes de 2-4 semanas); o Utilizar o IBP “sob demanda” (somente para resolver sintomas eventuais); Para pacientes que necessitaram de IBP em dose dobrada durante o tratamento inicial, bem como para aqueles diagnosticados com complicações da DRGE, recomenda-se NÃO TENTAR A SUSPENSÃO DA MEDICAÇÃO, devendo o tratamento ser mantido indefinidamente com a menor dose efetiva possível; Realizar múltiplas biópsias endoscópicas à procura de displasia ou neoplasia; Na ausência de displasia ➜ EDA com repetida a cada 3-5 anos; Na presença de displasia de baixo grau ➜ EDA anual; terapia endoscópica; Bisfosfonados versus esôfago de Barrett: bisfosfonados orais (alendronato) foram relacionados a um possível aumento no risco de câncer de esôfago (tanto carcinoma escamoso quanto adenocarcinoma); o Contraindicada a administração de bisfosfonados orais em portadores de esôfago de Barrett (principal fator de risco para adenocarcinoma do esôfago);
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