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A LGPD E A HERMENÊUTICA JURÍDICA CONSTRUÍDA PELOS TRIBUNAIS SUPERIORES BRASILEIROS ATRAVES DE SEUS ENTENDIMENTOS

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE 
CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS 
 CURSO DE DIREITO 
 
 
 
 
JULIANA DE ALBUQUERQUE GONÇALVES SARAIVA 
 
 
 
 
 
 
A LGPD E A HERMENÊUTICA JURÍDICA CONSTRUÍDA PELOS TRIBUNAIS 
SUPERIORES BRASILEIROS ATRAVÉS DOS SEUS ENTENDIMENTOS 
 
 
 
 
 
 
 
 
NATAL 
2022 
 
 
JULIANA DE ALBUQUERQUE GONÇALVES SARAIVA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A LGPD E A HERMENÊUTICA JURÍDICA CONSTRUÍDA PELOS TRIBUNAIS 
SUPERIORES BRASILEIROS ATRAVÉS DOS SEUS ENTENDIMENTOS 
 
 
 
 
 
 
 
Monografia apresentada ao curso de graduação 
em Direito, da Universidade Federal do Rio 
Grande do Norte, como requisito parcial à 
obtenção do título de Bacharel/Licenciado em 
Direito. 
 
Orientadora: Profa. Dra. Mariana de Siqueira. 
 
 
 
 
 
 
 
 
NATAL 
2022 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN 
Sistema de Bibliotecas - SISBI 
Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro Ciências Sociais Aplicadas - CCSA 
 
 Saraiva, Juliana de Albuquerque Goncalves. 
 A LGPD e a hermenêutica jurídica construída pelos Tribunais 
Superiores Brasileiros através dos seus entendimentos / Juliana 
de Albuquerque Goncalves Saraiva. - 2022. 
 80f.: il. 
 
 Monografia (Graduação) - Universidade Federal do Rio Grande 
do Norte, Centro de Ciências Sociais Aplicadas, Curso de 
Direito. Natal, 2022. 
 Orientadora: Profa. Dra. Mariana de Siqueira. 
 
 1. Direito Digital - Monografia. 2. Lei Geral de Proteção de 
Dados (LGPD) - Monografia. 3. Lei nº 13.709/2018 - Monografia. 4. 
Jurisprudência superior - Monografia. 5. Hermenêutica jurídica - 
Monografia. I. Siqueira, Mariana de. II. Título. 
 
RN/UF/CCSA CDU 342.9 
 
 
Elaborado por Shirley de Carvalho Guedes - CRB-15/440 
 
 
 
JULIANA DE ALBUQUERQUE GONÇALVES SARAIVA 
 
 
A LGPD E A HERMENÊUTICA JURÍDICA CONSTRUÍDA PELOS TRIBUNAIS 
SUPERIORES BRASILEIROS ATRAVÉS DOS SEUS ENTENDIMENTOS 
 
 
 
Monografia apresentada ao curso de graduação 
em Direito, da Universidade Federal do Rio 
Grande do Norte, como requisito parcial à 
obtenção do título de Bacharel/Licenciado em 
Direito. 
 
 
 
Aprovada em: 11/02/2022 
 
BANCA EXAMINADORA 
 
______________________________________ 
Profa. Dra. Mariana de Siqueira 
Orientadora 
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE 
 
______________________________________ 
Profa. Ma. Lidiane Araújo Aleixo de Carvalho 
Membro interno 
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE 
 
______________________________________ 
Profa. Ma. Kate de Oliveira Moura Surini 
Membro externo 
UNINASSAU NATAL 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
À Adyale Riberio Pessoa de Albuquerque (in 
memoriam), vulgo Dida, que foi sempre 
inspiração de força, destreza, sagacidade e 
beleza, ensinando a todas as mulheres ao seu 
redor como nascer, viver e morrer. 
 
E viva a vida! 
 
“Uma mulher, quando reconhece sua força, se 
torna uma fonte inesgotável de inspiração.” 
(Rafael Nolêto) 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
Primeiramente, gostaria de agradecer a Deus por sempre gerar as luzes no fim do túnel 
de cada semestre dessa trajetória. Todo semestre eu quase tranquei! 
Agradeço à minha família mais presente, Tibério Saraiva, João Victor Saraiva e Laís 
Saraiva, já pedindo desculpas pela ausência e pelos momentos não compartilhados com vocês, 
dedicados ao curso. Foi um projeto coletivo que começo a colher os frutos com vocês! 
Agradeço à minha irmã maravilhosa, Jeanine de Albuquerque, que nesta graduação e 
em todas as empreitadas pessoais e profissionais que invento, me apoia, me dá força e é suporte 
essencial. Sem você minha vida não era nem metade do que é. Te amo! 
Agradeço à minha mainha de Natal - Niza. Sem você, Nizélia Saraiva, não tinha 
terminado nem o 1o período, pode ter certeza! Mais do que minha babona :p, você é meu 
suporte, meus braços e minhas pernas. Sou sempre grata a tudo que fez e faz por mim e pelos 
meus filhos. Te amo, meu chiclete! 
Agradeço aos meus familiares que direta ou indiretamente, contribuíram para que eu 
chegasse até aqui. 
Agradeço às minhas amigas "Relax - 5 é 10". Com trajetórias tão diferentes nos 
encontramos no curso, nos apoiamos, curtimos nossas conquistas, empurramos umas às outras 
quando queríamos desistir, e mais do que tudo, soubemos reconhecer as melhores qualidades 
de cada uma. Somos super mulheres e vocês são eternas! Foram decisivas na trajetória da minha 
vida e do meu curso. Da UFRN para essa e outras vidas! Obrigada Alanna Princesa, Bia, Dena, 
Jaci, Jhose, Marcinha e Tatá. 
Agradeço em especial à minha orientadora e amiga, professora Mariana de Siqueira, 
que instruiu com maestria a condução deste trabalho, compartilhando seu saber e acolhendo 
minhas ideias de pesquisa durante todo o processo. Decisiva na escolha do tema, é sem dúvida, 
uma referência no país em Direito e Tecnologia, o qual eu tenho o prazer inenarrável de 
trabalhar e vivenciar de perto a evolução do Direito Digital brasileiro como Ciência, através de 
suas pesquisas, falas, palestras e publicações. 
Agradeço aos professores do Curso de Direito da UFRN, que contribuíram para minha 
formação com seus ensinamentos e exemplos, em especial ao professor Morton, que 
definitivamente é um legado de competência, profissionalismo e inspiração para todos os alunos 
do curso. Cursar suas disciplinas foi fundamental para a minha permanência nesse curso. Se 
puder, não deixe nunca a disciplina de Introdução ao Estudo do Direito :D! 
 
 
Agradeço aos amigos do curso, em especial, à turma do "Samba do Crioulo Doido" ou 
“ZAP 2016.2 RAIZ”, que apesar de sua diversidade conseguiu demonstrar até o fim, como é 
bom a convivência harmoniosa das diferentes tribos. Sempre me senti parte de vocês. 
Agradeço ao Grupo de Pesquisa GEDI (Grupo de Estudos de Direito da Internet), que 
tanto contribuiu para minha formação. 
Agradeço desde já à banca, professoras Lidiane Aleixo e Kate Oliveira, que são para 
mim, fontes do saber, honrando-me com seus olhares especiais sobre meu trabalho. Obrigada 
desde já pelo aceite. 
Por fim, agradeço ao meu Departamento de Ciências Exatas (DCX) e às Coordenações 
dos cursos de Licenciatura em Ciência da Computação (LCC) e Bacharelado em Sistemas de 
Informação (SI), aos quais sou vinculada. Obrigada pela compreensão na distribuição das 
minhas atividades acadêmicas junto à Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Não foi fácil, 
por quase 6 anos, trabalhar em outro estado e ser aluna integral de um curso presencial. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
, 
 
 
 
 
O modo como você reúne, administra e usa a 
informação determina se vencerá ou perderá. 
 
Bill Gates 
 
 
RESUMO 
 
No contexto da Sociedade 5.0, o desenvolvimento do Direito Digital é crucial na disposição de 
normas oriundas das relações sociais modernas, no intuito de tentar garantir a validade jurídica 
das informações trocadas. Nesta conjuntura, a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) surge 
no Brasil para tutelar o tratamento de dados pessoais, realizado por pessoa natural ou jurídica, 
de direito público ou privado, objetivando a proteção dos direitos fundamentais de liberdade, 
de privacidade e do livre desenvolvimento da personalidade. Uma vez publicada, a eficácia de 
uma norma perpassa por seu reconhecimento social, a fim de que o “dever ser” preconizado por 
ela seja cumprido pelos indivíduos e pelo Estado. Considerando a vacância da LGPD aliada à 
opacidade regulamentadora da Agência Nacional de Proteção de Dados (ANPD), a segurança 
jurídica pode ser significativamente comprometida no que tange à aplicação da lei. Neste 
contexto, no emaranhado de normas brasileiras, é esperada a existência delacunas no 
ordenamento jurídico que podem ser supridas/minimizadas com o auxílio da hermenêutica 
jurídica. Assim, o problema de pesquisa abordado é compreender a interpretação que os 
Tribunais Superiores (STJ e STF) estão dando à LGPD, manifestada através de seus 
entendimentos jurisprudenciais. Assim, uma pesquisa documental foi realizada para analisar as 
decisões judiciais desses Tribunais. A coleta de dados delimitou-se no período de 14/08/2018 
a 31/07/2021, em engenhos de busca que disponibilizam seus julgados. Resultando em 27 
ações, 15 do STJ e 12 do STF, foi possível fazer uma análise de discurso extraindo os 
entendimentos sobre a aplicação da norma. Como conclusão, observou-se que a hermenêutica 
e a construção jurisprudencial acerca da LGPD ainda estão em desenvolvimento e assim, as 
primeiras decisões que referenciam esta norma apresentam-se em caráter principiológico ou 
trazendo à tona as definições reportadas pelo seu Art. 1o. Ademais, a insegurança jurídica 
trazida pelas lacunas da lei, aparentemente, não estão sanadas através da jurisprudência dos 
Tribunais neste momento, uma vez que os entendimentos dos ministros pouco remontam 
expressamente aos dispositivos lei, e por consequência, não há uma discussão sobre a 
construção hermenêutica da norma. Entretanto, é importante frisar que a constitucionalidade da 
LGPD ainda não foi questionada perante o STF, nem seus dispositivos legais foram abordados 
como pontos controvertidos no ordenamento jurídico, perante o STJ. 
 
Palavras-chave: LGPD. Lei 13.709/2018. Jurisprudência Superior. Hermenêutica Jurídica. 
 
 
ABSTRACT 
 
In Society 5.0 context, Digital Law development is crucial for the legal norms of digital norms, 
in order to try to guarantee the legal validity of the information provided. In this scenario, the 
General Data Protection Law (GDPL) was proposed in Brazil to protect the data processing, 
carried out by a natural or legal person, of public or private law, aiming at the protection of the 
fundamental rights of freedom, privacy and free development. of personality. Once published, 
an attempt at a norm passes through its social recognition, so that the “ought to be” advocated 
by it is fulfilled by and by the State. Considering the LGPD legislation combined with the 
opacity of the National Agency for the Protection of Legislation (ANPD), security can be 
significantly altered with regard to the application of the LGPD. In this context, with the tangle 
of Brazilian norms, it is expected in any order the existence of gaps that can be filled/minimized 
with the help of legal hermeneutics. Thus, the problem through his research is to understand the 
interpretation that the higher courts and STF are manifested from jurisprudential 
understandings. Thus, a documentary research was carried out to analyze the decisions of these 
courts. Data collection was limited to the period from 08/14/2018 to 07/31/2021, in search 
engines that make their judgments available. Resulting in 27, 15 of the STJ and 12 of the STJ, 
it was possible to carry out a discourse analysis extracting the understandings on the application 
of the norm. As a conclusion, it can be concluded that hermeneutics and jurisprudential 
construction are in development and thus the first decisions that refer to this norm to present 
themselves in a principled character or to the surface as definitions reported by its art. 1st The 
judicial decision is related to gaps in the law, possibly not remedied through the jurisprudence 
of the courts. However, it is legalized that the provisions of the constitutionality of the LGPD 
have not yet been questioned before the STF, nor its legal provisions have been informed as 
important controversial points in the ment, before the STJ. 
 
Keywords: LGPD. 13.709/2018 Law. Superior Jurisprudence. Legal Hermeneutics. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE FIGURAS 
 
 
 
Figura 1 – Visão geral das decisões do STJ e STF ................................................................. 455 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE QUADROS 
 
 
Quadro 1 – Correlação das QPs com os dados extraídos das Decisões................................ 43 
Quadro 2 – Habeas Corpus e Recursos de Habeas Corpus: Decisões do STJ que mencionam 
LGPD
 .....................................................................................................................................48
8 
Quadro 3 – Mandado de Segurança (MS), Recursos em MS e Suspensão de Segurança: 
Decisões do STJ que mencionam LGPD .................................................................................. 50 
Quadro 4 – Demais Decisões do STJ que mencionam LGPD.............................................. 58 
Quadro 5 – ADIs: Decisões do STF que mencionam LGPD ............................................... 61 
Quadro 6 – Demais Decisões do STF que Mencionam LGPD ............................................ 62 
Quadro 7 – Mandado de Segurança (MS) e Medida Cautelar de MS: Decisões do STF que 
Mencionam LGPD .................................................................................................................... 65 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE SIGLAS 
 
ADC Ação Declaratória de Constitucionalidade 
ADI Ação Direta de Inconstitucionalidade 
ADPF Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental 
ANPD Autoridade Nacional de Proteção de Dados 
CF Constituição Federal 
CPI Comissão Parlamentar de Inquérito 
CPC Código de Processo Civil 
CNPD Conselho Nacional de Proteção de Dados Pessoais 
CONAQ Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais 
Quilombolas 
GDPR General Data Protection Regulation (Regulamento Geral de Proteção de Dados) 
LINDB Lei de Introdução às normas do Direito 
LGPD Lei Geral de Proteção de Dadas 
MP Ministério Público 
MS Mandado de Segurança 
OIT Organização Internacional do Trabalho 
PEC Proposta de Emenda à Constituição 
PGR Procuradoria Geral da República 
STF Supremo Tribunal Federal 
STJ Superior Tribunal de Justiça 
TJGO Tribunal de Justiça de Goiás 
TRF3 Tribunal Regional Federal da 3a Região 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
1 CONTEXTO E MOTIVAÇÃO .......................................................................................... 16 
2 A LGPD COMO TEXTO JURÍDICO INOVADOR NO BRASIL ................................ 20 
2.1 A Inovação da LGPD ......................................................................................................... 20 
2.2 Validade e eficácia da LGPD no ordenamento jurídico brasileiro ..................................... 25 
2.3 A (In)segurança jurídica acerca da LGPD .......................................................................... 28 
2.4 A Opacidade Legislativa no Tratamento de Dados Pessoais: Indefinições da ANPD........29 
3 O PAPEL HERMENÊUTICO DOS TRIBUNAIS SUPERIORES NO 
ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO ................................................................... 32 
3.1 Heterointegração e autointegração: complementação do Ordenamento Jurídico............... 32 
3.2 Hermenêutica jurídica para auxiliar a interpretação do Direito.......................................... 34 
3.3 Hermenêutica Legislativa do Superior Tribunal de Justiça (STJ).......................................36 
3.4 Hermenêutica constitucional do Supremo Tribunal Federal (STF) .................................... 38 
4 PROBLEMATIZAÇÃO DA PESQUISA .......................................................................... 41 
5 METODOLOGIA DA PESQUISA .................................................................................... 42 
5.1 Abordagem metodológica ................................................................................................... 42 
5.2 Coleta de dados ...................................................................................................................42 
5.3 Extração e Análise de dados ............................................................................................... 42 
6 JURISPRUDÊNCIA SUPERIOR ACERCA DA LGPD ................................................. 44 
6.1 Visão geral das decisões Tribunais Superiores ................................................................... 44 
6.2 Jurisprudência do STJ acerca da LGPD ............................................................................. 46 
6.3 Jurisprudência do STF Acerca da LGPD............................................................................ 59 
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................. 68 
REFERÊNCIAS ...................................................................................................................... 72 
ANEXO A – RESUMO/LINKS DE AÇÕES DO STJ QUE REFERENCIAM A LGPD...78 
ANEXO B – RESUMO/LINKS DE AÇÕES DO STF QUE REFERENCIAM A LGPD...80 
 
 
 
 
16 
 
 
1 CONTEXTO E MOTIVAÇÃO 
 
A conjuntura atualmente globalizada é marcada pela revolução digital, vindo à tona a 
Sociedade 5.0, que busca a priorização da humanidade em detrimento do universo das 
tecnologias e suas máquinas (RAMOS et al., 2020). Isto coloca o ser humano no centro da 
discussão, empregando a tecnologia para otimizar a qualidade de vida das pessoas. Neste 
contexto de evolução para uma sociedade superinteligente, o desenvolvimento e aprimoramento 
do Direito Digital é crucial para tratar de um conjunto de normas, aplicações, conhecimentos e 
relações jurídicas, oriundas do universo digital, no intuito de tentar garantir a validade jurídica 
das informações prestadas, bem como das transações, através do uso por exemplo, de 
certificados digitais. 
Neste cenário, no Brasil, surge a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) que dispõe 
sobre o tratamento de dados pessoais, inclusive nos meios digitais, realizado por pessoa natural 
ou jurídica, de direito público ou privado, objetivando a proteção dos direitos fundamentais de 
liberdade, de privacidade e do livre desenvolvimento da personalidade da pessoa natural 
(BRASIL, 2018). Na forma da Lei nº 13.709, sancionada em agosto de 2018, a LGPD 
estabelece no ordenamento jurídico brasileiro, direitos aos titulares das informações pautados 
nos Direitos Fundamentais de Liberdade, de Intimidade e de Privacidade, a fim de equilibrar o 
relacionamento entre estes titulares e os controladores de dados, a quem competem as decisões 
referentes ao tratamento de dados pessoais (CANTO et al., 2020). Dentre outras instruções, esta 
lei traz a definição de dados (e de dados sensíveis), seu tratamento, formas de consentimento 
para este tratamento, os agentes no processo de tratamento dos dados, além de prever a criação 
da Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD) e do Conselho Nacional de Proteção de 
Dados Pessoais (CNPD). Todo esse aparato legal visa subsidiar a regulação das relações sociais 
em torno dos dados e informações pessoais. 
A despeito do que visa a LGPD, o meio pelo qual as pessoas, e principalmente, as 
empresas e as instituições públicas devem se adequar para estar em conformidade com esta 
norma, ainda é um grande desafio, uma vez que ela apresenta uma série de condutas a serem 
adotadas. Entretanto, existem lacunas acerca da aplicação de algumas normas que advêm da 
LGPD, fazendo-se necessário criação de portarias e regulamentos pela ANPD. Sob esta ótica, 
o compliance digital é fundamental na observância de deveres e da análise de riscos, através da 
adoção de uma cultura corporativa ética e transparente nas atividades organizacionais, 
identificando funções e responsabilidades no que tange ao tratamento de dados 
17 
 
 
(MULLHOLAND, 2020) (SILVA, 2020). Neste cenário, o papel da ANPD destaca-se como 
fundamental no processo de orientação, fiscalização e aplicação de sanções previstas nesta lei1. 
 Levando em conta que a ANPD foi criada e está em processo de constituição, além de ter 
sua natureza transitória (Art. 55-A § 1º), é possível observar uma lacuna no que se refere à 
diretrizes, normas, orientações e procedimentos que deem suporte à adequação das pessoas, 
organizações e instituições a esta lei. O perfil orientador e fiscalizador da ANPD é essencial 
para execução e aplicação da LGPD, pois sem esse marco regulatório e fiscalizador, não há 
efetividade nem garantia de funcionamento. Este cenário pode inclusive acarretar o 
comprometimento da segurança jurídica que dá condições às pessoas a gerarem conhecimento 
antecipado e reflexivo das consequências diretas de seus atos e de seus fatos, à luz da liberdade 
reconhecida no ordenamento jurídico pátrio (DI PIETRO, 2019). Como consequência, esta 
insegurança jurídica pode inclusive comprometer o desenvolvimento tecnológico e 
empreendedor no país, independentemente da área de atuação (PECK, 2020). 
A eficácia de uma norma jurídica perpassa por seu reconhecimento social, a fim de que 
o “dever ser” preconizado por ela seja cumprido pelos indivíduos e pelo Estado. Assim, o tempo 
de vacância da LGPD pode ter sido um impasse na sua implementação de forma eficaz na 
sociedade. Aliado a isto, a Agência Nacional de Proteção de Dados (ANPD), que assume um 
papel regulatório, fiscalizatório e sancionatório, foi criada, mas está em processo de 
constituição e organização para pleno funcionamento. Esses dois fatores podem influenciar 
significativamente na segurança jurídica acerca da LGPD, que teve sua previsão legal para 
entrar em vigor conforme Art. 652. 
 
1 Conforme Art. 55-J, compete à ANPD, dentre outras funções: 
[...] 
III - elaborar diretrizes para a Política Nacional de Proteção de Dados Pessoais e da Privacidade; 
[...] 
VII - promover e elaborar estudos sobre as práticas nacionais e internacionais de proteção de dados pessoais e 
privacidade; 
VIII - estimular a adoção de padrões para serviços e produtos que facilitem o exercício de controle dos titulares 
sobre seus dados pessoais, os quais deverão levar em consideração as especificidades das atividades e o porte dos 
responsáveis; 
[...] 
XIII - editar regulamentos e procedimentos sobre proteção de dados pessoais e privacidade, bem como sobre 
relatórios de impacto à proteção de dados pessoais para os casos em que o tratamento representar alto risco à 
garantia dos princípios gerais de proteção de dados pessoais previstos nesta Lei; 
[...] 
 XVIII - editar normas, orientações e procedimentos simplificados e diferenciados, inclusive quanto aos prazos, 
para que microempresas e empresas de pequeno porte, bem como iniciativas empresariais de caráter incremental 
ou disruptivo que se autodeclarem startups ou empresas de inovação, possam adequar-se a esta Lei 
[...]; 
XXIV - implementar mecanismos simplificados, inclusive por meio eletrônico, para o registro de reclamações 
sobre o tratamento de dados pessoais em desconformidade com esta Lei. (BRASIL, 2018) 
2 Art. 65. Esta Lei entra em vigor: 
18 
 
 
As sanções administrativas, que serão aplicadas pela ANPD (art. 52), estão previstas no 
CAPÍTULO VIII - Seção I - arts. 52 a 54, que por sua vez, entraram em vigor apenas em 
01/08/2021, conforme prevê o art. 65. Neste cenário, é possível perceber uma lacuna jurídico-
administrativa no que tange às sanções, tendo em vista que as regras de comportamento sobre 
o tratamento dos dados tinham vigência desde 14/08/2020 - quase 1 ano antes. Ou seja, ao se 
descumprir às normas da LGPD nesse período, as sanções administrativas não poderiam ser 
aplicadas direcionando os conflitos a serem decididos pelo Judiciário. 
Conforme prevê o doutrinador Lemke (2005), considera-se lacuna da lei quando há 
ausência de regra determinada que se espera dentro do sistema jurídico global (LEMKE, 2005).Ao se falar em lacuna, observa-se que o direito objetivo não oferece, em princípio, uma solução 
para determinada questão. Essa incompletude é contrária ao plano normativo no âmbito do 
direito positivo, mensurada pelo critério aferidor de todo o ordenamento jurídico (AVILA, 
2006). Dessa forma, Diniz (2002) esclarece que quando há faltas ou falhas de conteúdos de 
regulamentação jurídico-positiva para determinadas situações fáticas, admite-se sua remoção 
por uma decisão judicial jurídico-integradora. 
Ademais, é sabido que atos administrativos que venham a ser executados pela ANPD 
serão definitivos quando os interessados não interpuserem os recursos cabíveis para questionar 
as decisões proferidas; na hipótese de já haverem sido manejadas todas as peças previstas pelo 
ordenamento jurídico, cuja finalidade seja a discussão quanto à deliberação formulada pelo 
Poder Executivo; por vício de legalidade ou por revogação da própria ANPD, por questões de 
conveniência ou oportunidade (PEREIRA, 2009). Entretanto, estes atos administrativos podem 
ser modificados a qualquer momento caso o Judiciário seja provocado, pleiteando o novo 
julgamento da mesma matéria discutida anteriormente. Nestes casos, os atos serão submetidos 
à análise do Poder Judiciário, cabendo a este manifestar-se definitivamente sobre os conflitos. 
A partir daí surge uma problemática jurídica sobre a posição do Judiciário, no que se 
refere a aplicação da LGPD, junto aos Superiores Tribunais, uma vez que nem as sanções 
administrativas poderiam ter sido aplicadas pela ANPD no período de 14/08/2020 a 01/08/2021 
– vigência parcial da norma. Nesta conjuntura, é mister ressaltar a importância do papel 
hermenêutico dos Tribunais Superiores, Superior Tribunal de Justiça (STJ) e Supremo Tribunal 
Federal (STF), no ordenamento jurídico brasileiro. Ademais, levando em conta que o STJ tem 
 
I - dia 28 de dezembro de 2018, quanto aos arts. 55-A, 55-B, 55-C, 55-D, 55-E, 55-F, 55-G, 55-H, 55-I, 55-J, 55-
K, 55-L, 58-A e 58-B; e 
I-A – dia 1º de agosto de 2021, quanto aos arts. 52, 53 e 54; 
II - 24 (vinte e quatro) meses após a data de sua publicação, quanto aos demais artigos. 
19 
 
 
por objetivo proteger leis federais, como é o caso da LGPD, suas decisões repercutem nos 
Tribunais Federais e Estaduais, para que harmonizem seus entendimentos sobre determinado 
assunto. 
 
 
 
 
 
 
20 
 
 
2 A LGPD COMO TEXTO JURÍDICO INOVADOR NO BRASIL 
 
2.1 A Inovação da LGPD 
 
O cenário de inovação tecnológica atual que impulsiona a Sociedade 5.0, impõe ao Direito a 
necessidade de adequação ou criação de normas que protejam os direitos fundamentais dos 
indivíduos nesta nova conjuntura (DONEDA, 2011). Nesta toada, no dia 20 de outubro de 2021, 
foi aprovada pelo Plenário do Senado Federal a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 
17/20193, tornando um direito fundamental a proteção de dados pessoais, a ser promulgada no 
dia 10/02/2022 4 . Neste cenário, as informações, consumidas e trafegadas pelas redes 
interconectadas, podem possuir características que vinculam de forma objetiva os indivíduos 
(UNIAO EUROPEIA, 2018), passando assim a serem informações pessoais. Muitas dessas 
informações estão associadas à privacidade da pessoa, fato esse que foi acolhido no 
ordenamento jurídico brasileiro através da tutela do direito à privacidade. 
 Seguindo padrões internacionais de inovação normativa, no que tange à tecnologia e aos 
dados pessoais, a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) - Lei n° 13.709/2018, surge no Brasil 
contemplando padrões de proteção semelhantes aos preconizados pelo Regulamento Geral 
sobre a Proteção de Dados - General Data Protection Regulation (GDPR) (UNIAO 
EUROPEIA, 2018). Este regulamento dispõe sobre a proteção dos dados pessoais e 
possibilidades de tratamento deles, prevendo também sanções quando descumpridas regras de 
conduta previstas. Vale ressaltar que a LGPD não trata apenas de dados pessoais digitais, mas 
também dados captados e tratados por meios de cadastros físicos, por exemplo. Pela LGPD, a 
aplicação de multas muito altas é um dos fatores que demonstra a preocupação do legislador 
originário com a tutela dos dados pessoais dos indivíduos. Além disso, seu Art. 6o elenca 10 
princípios que ressaltam o fundamento basilar adotado na construção dessa lei5. 
 
3 Proposta de Emenda à Constituição n° 17, de 2019 Proposta de Emenda à Constituição n° 17, de 2019 - Ementa: 
Acrescenta o inciso XII-A, ao art. 5º, e o inciso XXX, ao art. 22, da Constituição Federal para incluir a proteção 
de dados pessoais entre os direitos fundamentais do cidadão e fixar a competência privativa da União para legislar 
sobre a matéria. Disponível em: https://www25.senado.leg.br/web/atividade/materias/-/materia/135594. Acesso 
em 15 jan. 2022. 
4 Agência de Notícia do Senado: Emenda que inclui proteção de dados pessoais na Constituição será promulgada 
na quinta Fonte: Agência Senado https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2022/02/04/emenda-que-inclui-
protecao-de-dados-pessoais-na-constituicao-sera-promulgada-na-quinta Acesso em 04 fen. 2022. 
5Art. 6º As atividades de tratamento de dados pessoais deverão observar a boa-fé e os seguintes princípios: 
I - finalidade: realização do tratamento para propósitos legítimos, específicos, explícitos e informados ao titular, 
sem possibilidade de tratamento posterior de forma incompatível com essas finalidades; 
II - adequação: compatibilidade do tratamento com as finalidades informadas ao titular, de acordo com o contexto 
do tratamento; 
https://www25.senado.leg.br/web/atividade/materias/-/materia/135594
https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2022/02/04/emenda-que-inclui-protecao-de-dados-pessoais-na-constituicao-sera-promulgada-na-quinta
https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2022/02/04/emenda-que-inclui-protecao-de-dados-pessoais-na-constituicao-sera-promulgada-na-quinta
21 
 
 
 Apesar da LGPD abordar especificamente a proteção dos dados pessoais, o Brasil já 
possuía legislações que tratavam de privacidade e proteção de dados. Entretanto, a LGPD veio 
congregar essas normas, que antes eram apresentadas de forma transversal no Ordenamento 
Jurídico Brasileiro num contexto expandido de uma Sociedade majoritariamente digital. A 
Constituição Federal, através da tutela da dignidade da pessoa humana como direito 
fundamental, reveste as garantias fundamentais de imprescritibilidade, inalienabilidade, 
inviolabilidade, universalidade, complementaridade (CALADO, 2019). O direito à privacidade 
por exemplo, encontra-se no Art. 5o- X, impondo que “são invioláveis a intimidade, a vida 
privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material 
ou moral decorrente de sua violação” (BRASIL, 1988). 
 Buscando assegurar a proteção da individualidade humana, os direitos à personalidade, 
também parte das garantias e direitos fundamentais, englobam o direito à intimidade, à vida 
privada, à honra e à imagem. A garantia desses direitos dá a oportunidade aos indivíduos de 
desenvolver livremente suas aptidões pessoais, inclusive no que se refere ao pleno exercício da 
democracia. Ressalta-se que o direito à personalidade é uma construção contínua e inacabada, 
retratado através do tempo e espaço em que uma sociedade se enquadra. Desta maneira, a 
Sociedade da Informação atual incrementa uma característica antes não vislumbrada como parte 
da personalidade humana: seus dados pessoais. Assim, ao ver os dados pessoais como um 
prolongamento do próprio sujeito, as garantias previstas para a proteção da personalidade, 
também são aplicáveis a eles pois se associam objetivamente aos indivíduos, podendo interferir 
na sua intimidade, vida privada, honra e imagem. Por conseguinte, as tutelas concernentes à 
personalidade previstas na Constituição também são extensíveis aos dados pessoais (DONEDA, 
 
III - necessidade: limitação do tratamento aomínimo necessário para a realização de suas finalidades, com 
abrangência dos dados pertinentes, proporcionais e não excessivos em relação às finalidades do tratamento de 
dados; 
IV - livre acesso: garantia, aos titulares, de consulta facilitada e gratuita sobre a forma e a duração do tratamento, 
bem como sobre a integralidade de seus dados pessoais; 
V - qualidade dos dados: garantia, aos titulares, de exatidão, clareza, relevância e atualização dos dados, de acordo 
com a necessidade e para o cumprimento da finalidade de seu tratamento; 
VI - transparência: garantia, aos titulares, de informações claras, precisas e facilmente acessíveis sobre a 
realização do tratamento e os respectivos agentes de tratamento, observados os segredos comercial e industrial; 
VII - segurança: utilização de medidas técnicas e administrativas aptas a proteger os dados pessoais de acessos 
não autorizados e de situações acidentais ou ilícitas de destruição, perda, alteração, comunicação ou difusão; 
VIII - prevenção: adoção de medidas para prevenir a ocorrência de danos em virtude do tratamento de dados 
pessoais; 
IX - não discriminação: impossibilidade de realização do tratamento para fins discriminatórios ilícitos ou 
abusivos; 
X - responsabilização e prestação de contas: demonstração, pelo agente, da adoção de medidas eficazes e 
capazes de comprovar a observância e o cumprimento das normas de proteção de dados pessoais e, inclusive, da 
eficácia dessas medidas. (BRASIL, 2018) (grifos da autora) 
 
22 
 
 
2011). Uma outra previsão de proteção de dados prevista na Constituição se refere ao habeas 
data (Art. 5o - LXXII), onde prevê o conhecimento das informações relativas à pessoa, 
mantidas nos bancos de dados das entidades governamentais ou de caráter público. 
Complementarmente, o Código Civil é outro dispositivo legal que trata da privacidade 
da pessoa humana e consequentemente dos seus dados, quando em seu Art. 21 preceitua que 
“A vida privada da pessoa natural é inviolável, e o juiz, a requerimento do interessado, adotará 
as providências necessárias para impedir ou fazer cessar ato contrário a esta norma” (BRASIL, 
2002). Seguindo nessa linha, o Código de Defesa do Consumidor também pressupõe a proteção 
de acesso aos dados pessoais que estejam arquivados (BRASIL, 1990): 
 
Art. 43. O consumidor, sem prejuízo do disposto no art. 86, terá acesso às 
informações existentes em cadastros, fichas, registros e dados pessoais e de 
consumo arquivados sobre ele, bem como sobre as suas respectivas fontes. 
§ 1° Os cadastros e dados de consumidores devem ser objetivos, claros, 
verdadeiros e em linguagem de fácil compreensão, não podendo conter 
informações negativas referentes a período superior a cinco anos. 
§ 2° A abertura de cadastro, ficha, registro e dados pessoais e de consumo 
deverá ser comunicada por escrito ao consumidor, quando não solicitada por 
ele. 
§ 3° O consumidor, sempre que encontrar inexatidão nos seus dados e 
cadastros, poderá exigir sua imediata correção, devendo o arquivista, no prazo 
de cinco dias úteis, comunicar a alteração aos eventuais destinatários das 
informações incorretas. 
§ 4° Os bancos de dados e cadastros relativos a consumidores, os serviços de 
proteção ao crédito e congêneres são considerados entidades de caráter 
público. 
 § 5° Consumada a prescrição relativa à cobrança de débitos do consumidor, 
não serão fornecidas, pelos respectivos Sistemas de Proteção ao Crédito, 
quaisquer informações que possam impedir ou dificultar novo acesso ao 
crédito junto aos fornecedores. 
§ 6° Todas as informações de que trata o caput deste artigo devem ser 
disponibilizadas em formatos acessíveis, inclusive para a pessoa com 
deficiência, mediante solicitação do consumidor. (BRASIL, 1990) 
 
Mais recente do que os dispositivos supracitados, o Marco Civil da Internet (Lei 
12.965/2014) regula o uso da Internet no Brasil por meio da previsão de princípios, garantias, 
direitos e deveres para quem usa a rede, bem como da determinação de diretrizes para a atuação 
do Estado (BRASIL, 2014). Esta lei aparece como disruptiva para a época, pois estabeleceu um 
regime claro de acesso de dados cadastrais, logs e conteúdo que trafegam na internet 
(FRAGOSO, 2022) (CORREIA, 2019). Especificamente relacionado com a proteção de dados, 
segundo o Marco Civil, os dados cadastrais podem ser requisitados por autoridades com 
competência legal, mesmo sem ordem judicial prevista. Adicionalmente, os usuários possuem 
o direito ao consentimento livre, expresso e informado sobre a coleta, uso, armazenamento e 
23 
 
 
tratamento de dados pessoais (Art. 7º, VII e IX). Em contrapartida, para o fornecimento de 
registros de acesso e conexão, há previsão da necessidade de ordem judicial e há a 
discriminação sobre os requisitos formais e materiais para sua concessão (Art. 22). 
Concernente a este cenário, porém essencialmente voltada ao direito público, a Lei de 
Acesso à Informação - LAI (12.527/2011) surge em 2011. Aplicada de maneira obrigatória a 
todos os entes a Administração Pública - Direta ou Indireta, regulamenta o direito constitucional 
de acesso às informações públicas criando mecanismos que possibilitam, a qualquer pessoa, 
física ou jurídica, sem necessidade de apresentar motivo, o recebimento de informações 
públicas dos órgãos e entidades (BRASIL, 2011) (TEIXEIRA, 2020). Pautada nos princípios 
de transparência da Administração Pública, a LAI deixa de fora a regulamentação dos vínculos 
empresariais privados com os cidadãos, sem previsões legais para controle e proteção de dados 
pessoais nestas relações (DONEDA, 2017). Destaca-se que a economia atual se fundamenta na 
comercialização de dados e informações, fato este que não é abordado pela referida lei. 
Como é possível observar, a regulamentação da proteção de dados pessoais está disposta 
em vários dispositivos legais no ordenamento jurídico, o que pode dificultar sua compreensão 
e consequente aplicação de forma eficaz. Além de resolver a transversalidade da abordagem no 
que tange à proteção de dados, a LGPD inova quando espera uma responsabilidade proativa 
dos operadores dos dados, organizações e Autoridade Nacional de Proteção de Dados - ANPD 
(Art. 46, §2o da LGPD). Assim sendo, a preocupação maior da LGPD não é com o dado em si, 
mas com o seu tratamento (BRASIL, 2018). O tratamento de dados é previsto no Art. 5o, X da 
LGPD, que traz um rol de atividades, meramente exemplificativo, sobre a intervenção que o 
dado pode sofrer6. 
Outra novidade trazida pela LGPD é que o tratamento dos dados só é permitido quando 
há consentimento livre, informado e inequívoco do titular, e que esse tratamento tenha uma 
finalidade específica (Art. 7o, I da LGPD). Entretanto, há disposições que se excetuam a essa 
regra, a citar: para cumprimento de obrigação legal ou regulatória pelo controlador (II), quando 
a Administração Pública necessita de dados para a execução de políticas públicas previstas em 
leis e regulamentos ou respaldadas em contratos, convênios ou instrumentos congêneres (III), 
para a realização de estudos por órgão de pesquisa (IV), quando necessário para a execução de 
contrato ou de procedimentos preliminares relacionados a contrato do qual seja parte o titular, 
 
6 X - tratamento: toda operação realizada com dados pessoais, como as que se referem a coleta, produção, recepção, 
classificação, utilização, acesso, reprodução, transmissão, distribuição, processamento, arquivamento, 
armazenamento, eliminação, avaliação ou controle da informação, modificação, comunicação, transferência, 
difusão ou extração; [...] (BRASIL, 2018) 
 
24 
 
 
a pedido do titular dos dados (V), para o exercício regular de direitos em processo judicial, 
administrativo ou arbitral (VI), para a proteção da vida ou da incolumidade física do titular ou 
de terceiros (VII), para a tutela da saúde, exclusivamente, em procedimento realizado por 
profissionaisde saúde, serviços de saúde ou autoridade sanitária (VIII), quando necessário para 
atender aos interesses legítimos do controlador ou de terceiros, exceto no caso de prevalecerem 
direitos e liberdades fundamentais do titular que exijam a proteção dos dados pessoais (IX), ou 
para a proteção do crédito (X). 
Iniciando-se pelo consentimento de tratamento de dados, perpassando pelo término e 
direito ao esquecimento, um outro ponto inovador da LGPD é permitir que decisões individuais 
prevaleçam em detrimento do interesse de outrem (GIANNOTTI, 2019). Uma vez que os dados 
afetem os interesses pessoais, profissionais, de consumo, de crédito ou qualquer outro aspecto 
da personalidade, o cidadão assume a posição de um controle maior sobre seus próprios dados. 
Neste universo, a definição de agentes de tratamento acaba sendo primordial para elencar os 
envolvidos no processo de tratamento de dados e inclusive, subsidiar o correto direcionamento 
das sanções previstas. Assim, o Art. 5º (VI, VII, VIII, IX) prevê os agentes de tratamento (e 
encarregado) e traz suas definições7. 
O delineamento da responsabilidade civil sobre o tratamento de dados pessoais é um 
outro ponto inovador da LGPD. Os agentes de tratamento possuem a obrigação de indenizar na 
falta de um dever de conduta imposto a ele (GIANNOTTI, 2019) (SCHAEFERa et al., 2020) 
(SCHAEFERb et al., 2020). É possível observar, portanto, a adoção da teoria subjetiva da 
responsabilidade civil, sendo necessário haver a prova da conduta culposa do agente quando 
ocorrido o dano. Os Arts. 42 a 54 abordam padrões de conduta que devem ser seguidos pelos 
agentes de tratamento (sigilo, segurança, boas práticas e gerência de dados) e com isso 
sustentam a possibilidade de responsabilidade por omissão na adoção de medidas de segurança 
ou descumprimento das obrigações impostas na lei8. 
 
7 VI - controlador: pessoa natural ou jurídica, de direito público ou privado, a quem competem as decisões 
referentes ao tratamento de dados pessoais; 
VII - operador: pessoa natural ou jurídica, de direito público ou privado, que realiza o tratamento de dados 
pessoais em nome do controlador; 
VIII - encarregado: pessoa indicada pelo controlador e operador para atuar como canal de comunicação entre o 
controlador, os titulares dos dados e a Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD); 
IX - agentes de tratamento: o controlador e o operador; 
8 Art. 42. O controlador ou o operador que, em razão do exercício de atividade de tratamento de dados pessoais, 
causar a outrem dano patrimonial, moral, individual ou coletivo, em violação à legislação de proteção de dados 
pessoais, é obrigado a repará-lo. 
[...] 
Art. 46. Os agentes de tratamento devem adotar medidas de segurança, técnicas e administrativas aptas a proteger 
os dados pessoais de acessos não autorizados e de situações acidentais ou ilícitas de destruição, perda, alteração, 
comunicação ou qualquer forma de tratamento inadequado ou ilícito. 
25 
 
 
 
 
 
A fim de dar suporte ao cenário tão complexo de implantação desta lei, a própria LGPD 
previu a criação da Agência Nacional de Proteção de Dados (ANPD). Ela é responsável pela 
regulação de setores específicos da atividade econômica e governamental a fim de assegurar o 
cumprimento de suas atribuições com a maior eficiência, além de promover o adequado 
funcionamento dos setores regulados, conforme legislação específica, e o tratamento de dados 
pessoais, na forma da lei (XXIV, § 3º da LGPD). Adicionalmente, esta agência desempenha 
um papel fiscalizatório e sancionatório quando acaba sendo responsável pela aplicação das 
sanções previstas nesta lei (Art. 55-K). 
 
2.2 Validade e eficácia da LGPD no Ordenamento Jurídico Brasileiro 
 
Dentre as várias formas de normas presentes no Ordenamento Jurídico Brasileiro, a 
regra jurídica de conduta se caracteriza por disciplinar formas de atividades e de conduta, 
delimitando o comportamento do Estado e dos indivíduos (REALE, 2001). As regras 
caracterizam-se por serem normas que estabelecem imperativamente uma obrigação, sendo 
aplicáveis por completo e de modo absoluto (DWORKIN, 1999). Deste modo, as regras, assim 
como os princípios, podem ser vistas no ordenamento jurídico como uma maneira de garantir a 
segurança jurídica e viabilizar os valores preconizados pela sociedade. 
Neste sentido, esse tipo de regra pré configura a ocorrência de um fato/ato e associa 
uma consequência pré-determinada - objetividade e obrigatoriedade: o “dever-ser”. Embasada 
num juízo hipotético, ela parte do pressuposto do livre arbítrio dos indivíduos no que tange a 
cumprir ou descumprir o previsto da regra. É importante ressaltar que toda regra de conduta 
possui uma alternativa de adimplemento em caso de violação do dever que ela anuncia. 
Neste cenário, a estrutura da regra jurídica por si só não é autocontida e suficiente para 
sua adoção, sendo necessário que ela satisfaça uma série de requisitos de validade (REALE, 
2001): validade formal (vigência), validade social (eficácia) e validade ética (fundamento). 
 
[...] 
Art. 50. Os controladores e operadores, no âmbito de suas competências, pelo tratamento de dados pessoais, 
individualmente ou por meio de associações, poderão formular regras de boas práticas e de governança que 
estabeleçam as condições de organização, o regime de funcionamento, os procedimentos, incluindo reclamações 
e petições de titulares, as normas de segurança, os padrões técnicos, as obrigações específicas para os diversos 
envolvidos no tratamento, as ações educativas, os mecanismos internos de supervisão e de mitigação de riscos e 
outros aspectos relacionados ao tratamento de dados pessoais. (BRASIL, 2018) 
 
26 
 
 
Portanto, ela deve ser elaborada e aprovada por um órgão competente previsto pela Constituição 
Federal, com legitimidade subjetiva - quanto ao órgão em si - e legitimidade também quanto à 
matéria versada. Adicionalmente, o legislador deve respeitar o regimento interno de 
funcionamento do órgão, fazendo com que a regra criada deva respeitar também um requisito 
procedimental. Apenas atendendo a esses três requisitos de legitimidade, é possível afirmar que 
ela se torna formalmente válida, podendo se manifestar como norma jurídica dentro do 
ordenamento jurídico. 
Por outro lado, a validade social está ligada à conduta humana, a partir do momento em 
que a sociedade vive o Direito e o incorpora na maneira de ser e agir da coletividade. Portanto, 
há uma clara distinção entre a validade formal (vigência) da validade social (eficácia) que se 
refere ao cumprimento do Direito por parte da sociedade, tendo em vista que há um 
reconhecimento da regra e dos seus efeitos na comunidade suscitada através do seu 
cumprimento. 
Por fim, destaca-se a necessidade de fundamentação de toda regra de conduta. Esse 
fundamento deve sempre se pautar no senso de justiça e de coletividade. Ele é a razão de ser da 
norma, onde é possível compreender a finalidade que legitima inclusive a vigência e a eficácia. 
Sob essa perspectiva, é possível observar a correlação dessas características da regra jurídica 
de conduta com a visão tridimensional da norma: vigência - norma, eficácia - fato, 
fundamento - valor. 
As regras de conduta podem ser formalizadas através de leis, que no sentido técnico, 
introduzem algo novo de caráter obrigatório no sistema jurídico em vigor, disciplinando 
comportamentos individuais e até mesmo de entes públicos. O ordenamento jurídico brasileiro 
se estrutura a partir da Constituição Federal, que por sua vez delimita a competência e a 
estrutura de todo o sistema normativo. Portanto, a inovação do Direito já existente se dá através 
da criação de novas leis, respeitando o processo legislativo legal. Sendo assim, a lei assume um 
papel de destaque na construção sistemática das fontes do Direito e na sua consequente 
aplicação através da elaboração de normas no ordenamentojurídico. 
A despeito da criação da LGPD em 2018, sua vigência parcial ocorreu apenas em agosto 
de 2020, e total, em agosto de 2021, após várias modificações e discussões legislativas sobre a 
matéria. Esse tempo entre a publicação da lei e sua vigência teve como justificativa o grande 
desafio à sua implementação pelas entidades públicas e privadas, em razão da pandemia do 
coronavírus de COVID-19. A despeito de ela assumir um papel de inovação no Direito 
Brasileiro, a sua validade social ficou comprometida, logo numa época em que o mundo gira 
27 
 
 
em torno de economia majoritariamente digital, trafegando dados pessoais em redes de 
computadores ao redor do mundo. 
Levando em consideração que a aplicação da norma pressupõe seus três requisitos de 
validade - formal, social, ético - a LGPD ainda apresenta lacunas a serem preenchidas, 
repercutindo na sua efetividade social. Neste cenário, apesar de ela tardiamente ter entrado em 
vigência, estudos apontam que empresas começaram a mapear as recomendações previstas na 
lei e implementar medidas de segurança e proteção de dados, mesmo que de forma ad hoc 
(VENTURA, 2019). Levando em consideração a complexidade de implantação da lei e os altos 
valores de multas em caso de sanções, as organizações, principalmente do setor financeiro e do 
varejo, estão tentando se adaptar à LGPD. Porém, as indefinições acerca da LGPD e a falta de 
recomendações previstas para serem publicadas pela ANPD, dificulta esse processo de forma 
prática. 
O processo adaptativo no que se refere à LGPD para empresários brasileiros é algo 
custoso, apesar da temática se apresentar solidificada ao redor do mundo (DIAS, 2020). Alguns 
estudos apontam o atraso da vigência da LGPD como uma tragédia, ampliando os riscos do 
Brasil como país atrativo para investidores pois muitas empresas acabam tendo um 
desalinhamento em relação às melhores práticas internacionais no tocante ao tratamento de 
dados. Adicionalmente, a pandemia de COVID-19 fez crescer o volume de dados 
compartilhados virtualmente, criando-se um ambiente propício para a disseminação de 
condutas impróprias. Desta maneira, a vigência desta lei poderia servir como uma salvaguarda 
ao desordenado relacionamento de entidades públicas e privadas com os dados dos cidadãos. 
Nesta conjuntura, a cultura da proteção de dados precisa ser concebida na sociedade e 
servirá como uma garantia aos titulares dos dados (também consumidores), onde será possível 
saber quais organizações ele poderá ou não confiar suas informações (PILOTO, 2020). Assim, 
a implementação de um programa que seja adequado à LGPD acaba sendo uma corrida 
empresarial. Sairá na frente a organização que se adaptar melhor à prestação de serviços 
prevendo a proteção de dados dos indivíduos. Ressalta-se que para a implantação desse 
programa faz-se necessário a existência de uma equipe multidisciplinar e ao mesmo tempo 
especializada em proteção de dados, a fim de assegurar o pleno funcionamento do negócio, 
desde a conscientização da empresa, passando por mapeamento de dados e verificação de 
equipamentos de segurança e privacidade (GARCIA, 2020). 
 
28 
 
 
 
2.3 A (In)segurança Jurídica acerca da LGPD 
 
A eficácia de uma norma jurídica perpassa por seu reconhecimento social, a fim de que 
o “dever ser” preconizado por ela seja cumprido pelos indivíduos e pelo Estado. Neste cenário, 
o tempo de vacância da LGPD acabou sendo um impasse que dificultou sua própria 
implementação, como mencionado anteriormente. Aliado a isto, a Agência Nacional de 
Proteção de Dados (ANPD), que assume um papel regulatório, fiscalizatório e sancionatório, 
foi criada, mas está em processo de constituição e organização para pleno funcionamento. Esses 
dois fatores podem influenciar significativamente a segurança jurídica acerca da LGPD. 
O Princípio da Segurança Jurídica não está presente de forma expressa na Constituição 
Federal, mas é encontrado quando se observa o respeito ao ato jurídico perfeito, coisa julgada 
e direito adquirido (SOUZA, 2010). Desta forma, ela constitui um princípio fundamental para 
a ordem jurídica internacional (BRAGA e NOGUEIRA, 2020). Possui uma natureza objetiva 
que versa sobre a irretroatividade da interpretação de lei no âmbito da Administração Pública e 
uma natureza subjetiva, que aborda a confiança da sociedade nos atos, procedimentos e 
condutas proferidas pelo Estado. 
Assim sendo, a estabilidade jurídica está diretamente relacionada com a irretroatividade 
do Direito, não sendo aceitável que a sociedade seja surpreendida por punições estatais devido 
a novas interpretações de fatos passados. Neste sentido, o Estado Democrático de Direito 
precisa aspirar a legalidade das suas ações, sob a égide da proteção da segurança jurídica, boa-
fé e expectativas criadas pelas leis e pelas decisões judiciais. 
Outros dispositivos legais também se referem a este princípio, como a Lei do Processo 
Administrativo (Lei nº 9.784/99) que dispõe em seu Art. 2º “A Administração Pública 
obedecerá, dentre outros, aos princípios da legalidade, finalidade, motivação, razoabilidade, 
proporcionalidade, moralidade, ampla defesa, contraditório, segurança jurídica, interesse 
público e eficiência”. Seguindo o venire contra factum proprium (não pode a Administração 
Pública ir de encontro aos seus próprios atos), o entendimento dos Tribunais Superiores é de 
que o Princípio da Segurança Jurídica supera o próprio Princípio da Legalidade (DI PIETRO, 
2019). 
A Segurança Jurídica como princípio foi reforçado com a Lei de Introdução às Normas 
do Direito Brasileiro (LINDB), reforçando sua aplicação do Ordenamento Jurídico (LOPES e 
TOMAZ, 2019). Dando suporte a ele, o Princípio da Confiança desencadeia a boa-fé do cidadão, 
que crê na prática de atos lícitos por parte da Administração Pública e Privada. Nesta seara, o 
29 
 
 
Princípio da Segurança Jurídica objetivamente leva à estabilização do ordenamento, e 
subjetivamente busca proteger a confiança das pessoas em relação às expectativas geradas por 
promessas e atos estatais. Alguns doutrinadores trazem a compreensão dele como um corolário 
do Direito, se comportando como uma norma de pacificação social (CARVALHO, 2017). 
Portanto, uma das suas funções é tentar garantir a estabilidade das relações jurídicas 
consolidadas, fazendo com que todos tenham a certeza das consequências dos atos praticados 
pelos indivíduos nas suas relações sociais. 
Levando em conta que a legislação infraconstitucional, normalmente, estabelece novas 
regras, a segurança jurídica precisa ser observada com cautela, a fim de garantir a sua 
aplicabilidade de forma eficaz. A existência de novas interpretações é indiscutível, uma vez que 
o Direito se molda à sociedade, assim como a sociedade se molda ao Direito. Por conseguinte, 
os efeitos das novas regras precisam ser modulados para decisões futuras, de modo a estabelecer 
um regime de transição, instituindo a estabilidade esperada (BARBOSA, 2022). 
Entretanto, a responsabilidade sobre a estabilidade nas relações jurídicas não cabe 
apenas aos operadores do Direito, quando em suas práticas jurídicas estabelecem regimes de 
transição e ponderam suas decisões para evitar erros grosseiros de interpretação, mas deve 
começar pelos legisladores, na construção da própria norma. Assim, as lacunas deixadas pela 
LGPD, com previsão de serem preenchidas por outras leis, regulamentos e portarias a serem 
emitidos pela ANPD, dificulta ainda mais a estabilidade dessas relações jurídicas, gerando um 
estado de incertezas no que tange à validade e eficácia social de aplicação da lei. 
Apesar de algumas normas de conduta estarem previstas na LGPD, a presunção e 
necessidade de publicação de fontes do direito que subsidiem a conformidade das pessoas 
físicas, organizações e instituições, junto à LGPD ainda é um problema. Consequentemente, os 
limites legais sobre o tratamento de dados ainda geramum abismo entre o que se espera com a 
implantação da lei e o que é, ou “dever-ser” praticado pela sociedade. Deste modo, a eficácia 
de uma legislação pode levar em consideração vários fatores sociais, a citar, a quantidade de 
julgados que abordam aquela lei, a repercussão social, efeitos causados nas empresas, a 
utilização dela para criação de outros institutos jurídicos, dentre outros (GALVÃO et al., 2019). 
 
2.4 A Opacidade legislativa no tratamento de dados pessoais: indefinições da ANPD 
 
A ANPD é um órgão da Administração Pública, da Presidência da República (Art. 55-
A). Sua natureza jurídica é transitória, podendo ser transformada pelo Poder Executivo em 
entidade da administração pública federal indireta, submetida a regime autárquico especial e 
30 
 
 
vinculada à Presidência da República (Art. 55-A - § 1º). Ela é formada pelos seguintes órgãos: 
Conselho Diretor, órgão máximo de direção, Conselho Nacional de Proteção de Dados Pessoais 
e da Privacidade, Corregedoria, Ouvidoria, Órgão de assessoramento jurídico próprio e 
Ouvidoria (BRASIL, 2018). É importante ressaltar a natureza jurídica da transitória da ANPD 
que atualmente é órgão do Poder Executivo, mas que tem previsão legal de se transformar em 
autarquia independente, podendo ou não chegar a ser Agência Reguladora. Entretanto, a própria 
LGPD já assegura que ela possui natureza estatal voltada a tomar decisões técnicas sem 
interferências políticas, não sendo subordinada hierarquicamente a qualquer ente da 
Administração Pública Direta, inclusive mantendo a estabilidade dos seus dirigentes, a fim de 
dar suporte à tomada de decisões independentes. 
Uma vez que a LGPD se baseia na GDPR, a criação da ANPD foi motivada pela 
exigência, por parte da Comissão de Proteção de Dados Pessoais da União Europeia, da 
existência de uma autoridade nacional com independência decisória para a proteção de dados 
(LIMA, 2020). O primeiro problema que se pode observar com a previsão legal sobre a ANPD 
é a natureza transitória da Autoridade. Uma vez que ela é órgão integrante da Presidência da 
República, questionamentos acerca da independência administrativa, financeira, funcional e 
decisória ainda são levantados. 
Ademais, levando em consideração o seu papel regulatório, fiscalizatório e 
sancionatório, a opacidade legislativa em torno da LGPD esteve, e ainda está presente, desde a 
criação da LGPD, uma vez que a ausência da ANPD repercutiu na falta de regulamentação 
sobre questões importantes, como por exemplo, prazos para atendimento dos requerimentos dos 
titulares, base legal de dados pessoais, normas específicas para micro e pequenas empresas ou 
mesmo transferências internacionais (ABRUSIO et al., 2020). 
Aliado a isso, é notório como as mudanças tecnológicas ocorrem rapidamente, exigindo 
aos operadores do direito, uma atualização constante acerca do tratamento de dados pessoais 
em meios digitais. O mercado é dinâmico e os softwares dominam o mundo. Assim, a apuração 
das responsabilidades civis necessitará de conhecimento técnico profundo sobre informática, 
exigindo-se a adoção de prova pericial (Art. 464, I do CPC) (CORREIA, 2019). Essas provas 
técnicas afastarão o automatismo da responsabilização objetiva pura e o ativismo judicial, 
quando este é prejudicial à segurança jurídica, uma vez que ele é demandado pela ausência de 
norma que se adeque a determinados casos concretos. Por conseguinte, as bases teórico-
jurídicas e os guias práticos de implantação da ANPD serão naturalmente ajustados frente às 
demandas de negócio, de diferentes setores econômicos, inclusive daqueles decorrentes de 
31 
 
 
questões tecnológicas que estão sempre em contínua evolução (GARCIA, 2020) (LOPES et al., 
2020). 
Estudos apontam que uma das maiores dificuldades no compliance digital, no que se 
refere à LGPD, é a falta de clareza sobre o efetivo e o material regulatório da ANPD, para a 
execução de suas atribuições: estabelecimento de normas, padrões técnicos e ações educadoras 
junto às empresas (REUTERS, 2019) (CELIDONIO, 2020). A omissão da ANPD atualmente 
pode ser vista como um dos maiores problemas de implantação da LGPD, do ponto de vista 
interno, uma vez que a regulamentação sobre o tratamento de dados ainda possui lacunas, e do 
ponto de vista externo, tendo em vista que o Brasil acaba tendo dificuldades em estar em 
conformidade com padrões internacionais de proteção de dados pessoais (LOPES et al., 2020). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
32 
 
 
3 O PAPEL HERMENÊUTICO DOS TRIBUNAIS SUPERIORES NO 
ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO 
 
3.1 Heterointegração e Autointegração: complementação do ordenamento jurídico 
 
Mesmo numa conjuntura complexa, com emaranhado de normas constitucionais e 
infraconstitucionais, é esperado em qualquer ordenamento jurídico a existência de lacunas. Elas 
existem quando o sistema jurídico não atende ao caso concreto e o operador precisa decidir 
sobre o tema. Quando elas ocorrem, há uma ausência de norma específica, ou mesmo de um 
critério para a aplicação de outras normas (EQUIPE SAJ ADV, 2018). Nestes cenários, os 
operadores do Direito podem se apoiar em técnicas de integração. Essa técnica foi uma forma 
que o Direito achou para atingir sua efetividade, mesmo diante de grandes transformações 
sociais. 
É importante destacar que as lacunas não devem ser compreendidas como uma falha no 
ordenamento, mas uma omissão involuntária que resulta de uma limitação natural da norma. 
Isto ocorre naturalmente nos sistemas jurídicos porque é inconcebível elaborar normas jurídicas 
que se apliquem de forma atemporal e para todas as situações. Levando em conta a Teoria do 
Ordenamento Jurídico de Bobbio, existem dois tipos frequentes de lacunas: (i) próprias e (ii) 
impróprias (BOBBIO, 2014). As próprias dizem respeito às hipóteses de inexistência de norma 
específica para um caso concreto. Nestes casos, a existência de uma lacuna própria pressupõe 
um ordenamento formado por normas exclusivas gerais e por normas gerais inclusivas, e 
portanto, diante de um caso concreto, é esperado que ele seja enquadrado em qualquer uma 
delas por atividade interpretativa do jurista. 
Por outro lado, as lacunas impróprias existem quando um caso não regulamentado é 
enquadrado por uma norma geral exclusiva do sistema, mas a prática não condiz com o ideal. 
Quando isto ocorre, faz-se necessária a formulação de novas normas por ação do legislador. 
Nesta conjuntura, as técnicas de integração visam auxiliar os advogados em suas argumentações, 
uma vez que há necessidade de preenchimento dessa ausência de regulamentação. 
Segundo o doutrinador Bobbio (2014), existem dois métodos de complementação do 
ordenamento jurídico através das técnicas de integração: heterointegração (costumes e 
princípios gerais), que consiste na integração operada através de recurso a ordenamentos 
diversos daquele que é dominante e a autointegração (analogia), que consiste na integração 
33 
 
 
cumprida através do mesmo ordenamento. O Art. 4o da LINDB9 e o art. 140 do Código de 
Processo Civil (CPC)10 dispõem sobre técnicas de integração, podendo o operador de direito 
recorrer à analogia, costumes e princípios gerais do Direito para solucionar as questões. 
Os costumes são regras sociais praticadas reiteradamente e de forma generalizada que 
acabam se tornando obrigatórias dentro de uma sociedade, sendo consideradas como fontes do 
direito. Em contrapartida, a analogia não é apenas um método de interpretação, e sim uma fonte 
de Direito (MARQUES, 2021). No caso de lacunas da lei, a função da analogia é encontrar, no 
ordenamento jurídico vigente, as hipóteses que sejam previstas pelo legislador e que contem 
com uma semelhança ao fato existente. Nesta toada, a equidade para muitos estudiosos está 
relacionada com a ideia de justiça em um caso particular. Pode ser vista como uma adaptação 
geral e abstratada norma jurídica ao caso concreto, que apenas pode ser utilizada nos casos em 
que a lei autoriza, conforme previsão expressa do parágrafo único, art. 140 do Novo CPC. 
Considerados basilares como fontes do direito, os princípios gerais são preceitos, ou 
fundamentos, que servem para orientar a compreensão sobre um determinado tema. Esses 
princípios valem como alicerces para sedimentarem uma completude do ordenamento jurídico. 
Ressalta-se que os princípios informam o sistema de forma independente, mesmo que não 
estejam positivados de forma expressa na norma. Em consequência disso, vale considerar as 
tendências jurisprudenciais e o histórico de julgamento dos juízos competentes na formulação 
da argumentação. 
Por outro lado, a jurisprudência é uma outra forma de solucionar questões envolvendo 
lacunas da lei. Ela é um conjunto de decisões e análises que são feitas pelo Judiciário a respeito 
de um determinado tema, que serve como uma diretriz para os operadores do Direito, orientado 
à construção de teses e até o posicionamento em novas decisões. Pode-se compreender então 
que a jurisprudência tem três funções principais: (i) aplicação da lei, (ii) adaptar a lei, 
colocando-a em harmonia com as ideias contemporâneas da sociedade e as necessidades 
modernas e por fim, (iii) uma função criadora, destinada a preencher as lacunas da lei 
(MAXIMILIANO, 1984). Como consequência, a jurisprudência acaba sendo a fonte mais geral 
e extensa de exegese, propondo soluções mais adequadas às necessidades sociais. Ademais, ela 
evita que uma questão doutrinária se torne eternamente aberta, fazendo com que se abra 
margens à novas demandas, uma vez que não se saberá qual o resultado das controvérsias. Em 
destaque, a jurisprudência, apesar de falhas algumas vezes, adaptar os textos às condições da 
 
9 Art. 4º (LINDB) Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os 
princípios gerais de direito. 
10 Art. 140 (CPC). O juiz não se exime de decidir sob a alegação de lacuna ou obscuridade do ordenamento jurídico. 
34 
 
 
sociedade atual, tornando-se a grande renovadora do Direito, erradicando ideias dominantes e 
retrógradas. 
Entretanto, é importante ressaltar que a jurisprudência auxilia o trabalho do intérprete, 
mas não o substitui, nem dispensa. Assim, os julgados se tornam fatores de jurisprudência 
somente quanto aos pontos questionados e decididos, e não quanto ao raciocínio, 
exemplificações e referências (MAXIMILIANO, 1984). Como efeito, o mais importante do 
julgado está em seus fundamentos, devendo haver inclusive confronto de várias decisões acerca 
do tema. 
Por fim, é importante destacar que as sentenças de primeira instância formam 
jurisprudência, mas na medida em que se aumenta a altura do tribunal mais aumenta o prestígio 
das discussões sobre o tema, e inutilizam os juízes inferiores. O STF ocupa o primeiro lugar e 
depois vêm os Tribunais de segunda instância. Neste cenário, a jurisprudência acaba sendo a 
causa mais geral da formação de costumes jurídicos em tempos modernos, contribuindo para 
precedentes legislativos e para o Direito Consuetudinário. 
Ao observar as lacunas jurídicas e as alternativas em lidar com as situações que são 
postas à prova, a dogmática jurídica é uma forma que os operadores do Direito têm de observar, 
analisar e atuar conforme as orientações e pressupostos provados de forma cognitiva, ou 
levantados através de experiências reais geradas por casos ocorridos anteriormente. Ela não 
apenas orienta, mas estabelece limites relacionados à interpretação e aplicação da norma. 
 
3.2 Hermenêutica Jurídica para auxiliar a interpretação do direito 
 
A Hermenêutica Jurídica tem o objetivo de sistematizar os processos aplicáveis para 
determinar o sentido e o alcance das expressões do Direito (MAXIMILIANO, 1984). Portanto, 
ela acaba sendo uma ciência que estuda princípios metodológicos de interpretação e explicação 
da norma jurídica, sistematizando os meios pelos quais se preencham as lacunas existentes no 
Sistema jurídico vigente (GARCIA, 1996). Neste cenário, ela exerce um papel fundamental 
para o Direito Positivo, uma vez que este precisa ser bem compreendido para então, ser 
corretamente aplicado nos casos concretos. 
À primeira vista, os conceitos de interpretação e hermenêutica podem parecer sinônimos, 
mas no campo jurídico, a Hermenêutica abrange a Interpretação, a Integração e a aplicação do 
Direito propriamente dito, que vem a ser a finalidade maior (ROCHA, 2022). Assim, de maneira 
geral, a interpretação é de cunho prático, aplicando os ensinamentos da hermenêutica, enquanto 
esta última descobre e fixa os princípios que regem a interpretação. Para alguns doutrinadores, 
35 
 
 
interpretar é apreender ou compreender os sentidos implícitos das normas jurídicas, revelando 
o pensamento que está por trás das palavras11. Ao interpretar, o aplicador do direito não somente 
deixa claro o que a norma representa, mas consegue revelar o sentido apropriado para o caso 
concreto. 
É importante destacar que a interpretação e a legislação convivem em uma forma cíclica, 
uma vez que se eleva da realidade à norma e retorna-se da norma para realidade 12 . 
Consequentemente, há a compreensão de que toda norma jurídica necessita de interpretação, 
tendo consciência de que nenhuma lei é capaz de prever a todos os casos possíveis. Aí está o 
papel da hermenêutica jurídica, procedendo como uma forma de adaptar a lei rígida e abstrata 
aos fatos e casos concretos do cotidiano da vida em sociedade. Portanto, a hermenêutica visa 
determinar não só o sentido das normas, seu alcance e sua adaptação aos casos concretos. 
Existem várias espécies de interpretação, condicionadas quanto à sua origem, sua 
natureza e seus efeitos. Entretanto, como foco deste trabalho é analisar a interpretação 
jurisprudencial dos Tribunais Superiores, é mister destacar a interpretação judicial, também 
conhecida como usual. Ao adotar este tipo de interpretação, o julgador faz prévia condição para 
a aplicação do Direito, ocorrendo quando os Juízes de Direito das instâncias inferiores 
sentenciam, bem como nas ocasiões em que os Tribunais de instâncias superiores proferem suas 
decisões na forma de Acórdãos (ROCHA, 2022). Adicionalmente, as súmulas que esclarecem 
conceitos normativos também compõem este rol. 
Por outro lado, para a doutrina e jurisprudência mais atual, a adoção da hermenêutica 
deixa de ser simplesmente um ato de revelação de sentido para a construção deste sentido, 
considerando não só o texto normativo, mas o interlocutor e sua forma de vida (REGO, 2009). 
Neste contexto surge o Pragmatismo Jurídico que se concebe como um método de elaboração 
teórica de pensamento, sustentando-se numa lógica baseada na experiência. Possui como 
características13 (i) o antifundacionalismo, que consiste na rejeição de asserções absolutas 
previamente concebidas, estáticas, perpétuas e imutáveis, como alicerce do pensamento e do 
conhecimento; (ii) o consequencialismo, que se manifesta na acepção de que a avaliação de 
ações e proposições deve se dar através da investigação de suas decorrências atuais e de 
possibilidades futuras, e (iii) o contextualismo, que importa em conferir a necessária relevância 
 
11 BEVILÁQUA, Clóvis. Teoria Geral do Direito Civil. 7. ed. São Paulo: Francisco Alves, 1955, p. 37. 
12 COELHO DE SOUZA, Daniel. Introdução à ciência do Direito. 4. ed. rev. aum., São Paulo: Saraiva, 1983, p. 
386. 
13 FOSCHIANI, Clayton. O legado de William James. Cognitio-Estudos: Revista Eletrônica de Filosofia. São 
Paulo, vol. 7, n. 2, jul-dez.2010. Disponível em: 
http://revistas.pucsp.br/index.php/cognitio/article/view/3857/3017. Acesso em: 10 de jan. 2022, p. 238-239. 
 
36 
 
 
aos aspectos culturais, que não podem e não devem ser apartados do processo de investigação 
filosófica ou científica. 
 Com o Pragmatismo, os julgadores passama ter um papel fundamental no universo 
jurídico, uma vez que a aplicação do Direito será comprometida com a intervenção que ele faz 
da realidade social, suas tendências e aspirações. No entanto, há de se ressaltar que isto não 
pode ser feito de forma arbitrária, mas conforme sua habilidade de olhar para o futuro, tendo 
consciência das consequências que seu julgamento irá provocar (FRANK, 1993). Sendo este 
um modo de se exercer a prática do Direito, através de uma hermenêutica dialógica, ele se 
manifestará através das atividades cotidianas nos aplicadores, que aos poucos irão construindo 
sentido às normas, que somente a análise e compreensão da realidade da vida podem conduzir 
ao objetivo principal, a Justiça. 
 
3.3 Hermenêutica legislativa do Superior Tribunal de Justiça (STJ) 
 
O Superior Tribunal de Justiça é um órgão do Poder Judiciário, composto por 33 
ministros, nomeados pelo presidente da República, aprovados em sabatina, por votação 
absoluta, pelo Senado Federal (DA SILVA, 2020). Sua competência é disciplinada em três áreas: 
(1) originária, para processar e julgar as questões relacionadas no inc. l do art. 105; (2) 
competência para julgar, em recurso ordinário, as causas referidas no inc. II; (3) competência 
para julgar, em recurso especial, as causas indicadas no inc. III. 
Promulgada a Constituição de 1988, o Art. 105 incumbiu o STJ de proteger o direito 
federal, tendo a função constitucional de determinar o entendimento das leis federais para 
orientar a jurisprudência14. Doutrinadores, a citar Nelson Luiz Pinto, traz de forma clara a 
função do STJ que é “de zelar pela aplicação correta e uniforme do direito federal, sem 
contentar-se com interpretações dadas por outros Tribunais tidas apenas como razoáveis, mas 
que não coincidam com aquela que o STJ entenda como a correta e única possível”15. 
O que caracteriza propriamente o STJ são suas atribuições no controle de incertezas 
positivas em matéria de lei federal (DA SILVA, 2020). Desta forma, ele consubstancia a 
jurisdição de tutela do princípio da incolumidade do Direito objetivo. Como consequência, 
levando em conta sua competência de julgar, em forma de recurso especial, as causas decididas 
 
14 ALVIM, Arruda. Recursos no Superior Tribunal de Justiça (Coord. Sálvio de Figueiredo). São Paulo: Saraiva, 
1991. p. 155 
15 PINTO, Nelson Luiz. Recurso especial para o Superior Tribunal de Justiça teoria geral e admissibilidade. 
São Paulo: Malheiros Editores, 1992. p. 174. 
37 
 
 
em única ou última instância, pelos TRFs ou Tribunais Estaduais e Distrital, ele (i) observa se 
a referida lei discutida contraria outra lei federal ou tratado, (ii) julga válido ato de governo 
local contestado em face de lei federal e (iii) dá interpretação à lei federal (ou interpretação 
divergente) da que lhe haja atribuído em outro tribunal. 
É assegurado tanto ao Superior Tribunal de Justiça quanto ao Supremo Tribunal Federal 
a possibilidade de analisar se a interpretação de uma lei viola ou não a Constituição 
(MARINONI, 2021). Como consequência, eles têm proferido decisões de inadmissibilidade 
contraditórias, que não apenas violam o direito à tutela jurisdicional, como prejudicam o 
desempenho das suas próprias funções. As decisões das duas Cortes demonstram que nem uma 
nem outra parecem ter claro quem deve definir a interpretação da lei conforme à Constituição. 
As Cortes Superiores possuem mais responsabilidades do que as cortes de instância 
ordinária, possuindo as seguintes funções: (i) nomofilática16, que possibilita o equilíbrio entre 
o interesse público e a necessidade de correção das decisões para as partes envolvidas no 
processo, com a preponderância do interesse público para preservar a higidez das normas; (ii) 
uniformizadora17, a fim de assegura a igualdade, a previsibilidade e a segurança jurídica, com 
foco na uniformidade na aplicação e interpretação de regras e princípios em todo território 
nacional; (iii) paradigmática18, que fornece padrões decisórios para o julgamento isonômico 
dos casos; e (iv) dikelógica19, que preserva a resolução justa do caso concreto. 
Ressalta-se que o STJ é a Corte incumbida de definir a interpretação da lei nos termos 
da Constituição. Portanto, interpretar a lei nos termos da Constituição é primordialmente, 
conferir sentido à lei, já que a Constituição, ainda que também seja compreendida e vista com 
determinado significado, no processo interpretativo, se coloca como parâmetro e não como o 
objeto a que a atividade de interpretação busca atribuir sentido (MARINONI, 2021). Assim, é 
impossível pensar que o STJ define a interpretação da lei sem levar em conta sua adequação 
quanto à Constituição. 
 
16 MEDINA, José Miguel Garcia. Prequestionamento, repercussão geral da questão constitucional, 
relevância da questão federal: admissibilidade, processamento e julgamento dos recursos extraordinário e 
especial [livro eletrônico] . São Paulo: Revista dos Tribunais, 2017. [n.p.]. 
17 RANÑA, Leonardo Fernandes. Ordem pública nos recursos extraordinários e especial: observância do 
devido processo legal. Brasília: Gazeta Jurídica, 2018. p. 85. 
18 ALVIM, Teresa Arruda; DANTAS, Bruno. Recurso especial, recurso extraordinário e nova função dos 
tribunais superiores precedentes no direito brasileiro [livro eletrônico]. 4. ed. São Paulo: Thomson Reuters 
Brasil, 2019. [n.p.]. 
19 O termo “dikelógico” deriva da junção de duas palavras gregas, sendo elas dike (justiça) e lógiko (relativo à 
razão). (ALVIM, Teresa Arruda; DANTAS, Bruno. Recurso especial, recurso extraordinário e nova função dos 
tribunais superiores precedentes no direito brasileiro [livro eletrônico] 4. ed. São Paulo: Thomson Reuters Brasil, 
2019. [n.p.].; e RANÑA, Leonardo Fernandes. Ordem pública nos recursos extraordinários e especial: observância 
do devido processo legal. Brasília: Gazeta Jurídica, 2018. p. 87.). 
 
38 
 
 
No ordenamento jurídico brasileiro, foram estabelecidas duas Cortes para a revisão das 
decisões dos Tribunais, uma para rever as decisões que contrariam “a lei federal” e outra para 
rever as decisões que contrariam o "dispositivo da Constituição” (MARINONI, 2021). 
Hodiernamente, levando em conta as modernas teorias da interpretação e da transformação do 
civil law, a definição da interpretação da lei está centrada na necessidade de se garantir a 
segurança jurídica e a coerência do direito. Consequentemente, os precedentes obrigatórios ou 
vinculantes nada mais são do que uma consequência do dever de a Corte outorgar a todos um 
mesmo Direito. 
 
3.4 Hermenêutica constitucional do Supremo Tribunal Federal (STF) 
 
O STF tem sua formação semelhante ao do STJ, sendo composto por 11 ministros, 
também nomeados pelo presidente, depois de aprovada a escolha por sabatina no Senado 
Federal. Das competências do STF, cabe (i) processar e julgar originariamente as questões 
relacionadas ao inciso I do Art. 102 da constituição, (ii) julgar recursos ordinários indicados 
pelo inciso II e (iii) julgar em recurso extraordinário causa decididas em única e última instância 
que envolvem questões constitucionais referidas nas alíneas do inciso III, Art. 102 (DA SILVA, 
2020). 
É importante ressaltar, todavia, que o conteúdo dos litígios devem ter caráter 
constitucional, sendo de competência do Pretório Excelso a (a) Jurisdição constitucional com 
controle de constitucionalidade, onde cabe ao STF processar e julgar a ação direta de 
inconstitucionalidade de lei ou ato normativo federal ou estadual e a ação declaratória de 
constitucionalidade de lei ou ato normativo federal, assim também o pedido de medida cautelar 
nas ações diretas de inconstitucionalidade; (b) a jurisdição constitucional da liberdade, podendo 
o STF para processar e julgar, originariamente o habeas corpus, habeas data, mandado de 
segurança e mandado de injunção; e (c) jurisdição constitucional sem controle de 
constitucionalidade, nos

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