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Capítulo 5 Fungos UNidAde B Cogumelos de uma espécie de basidiomiceto que ocorre na Mata Atlântica. O cogumelo é uma estrutura reprodutiva do ciclo de vida dos fungos basidiomicetos. Fungos são grandes recicladores da natureza. Eles decompõem matéria orgânica, possibilitando que outros seres vivos reaproveitem os elementos químicos da matéria decomposta. Além disso, certos fungos atuam como agentes fermentadores na produção de pães e de bebidas alcoólicas. Neste capítulo apresentamos as características gerais dos fungos e tendências recentes de classificação no grupo. 5.1 Características gerais e estrutura dos fungos Há fungos unicelulares e multicelulares. Estes últimos são constituídos por filamentos microscópicos ramificados, as hifas, que formam o micélio. 5.2 Principais grupos de fungos Nas classificações mais recentes, os fungos são divididos em quatro filos principais: Chytridiomycota, Zygomycota, Ascomycota e Basidiomycota. Não há mais o “grupo de conveniência” Deuteromycota. 5.3 Reprodução dos fungos Além da reprodução assexuada, os fungos podem apresentar ciclos reprodutivos sexuados, em que se formam corpos de frutificação, dos quais o cogumelo é um exemplo. R ep ro d uç ão p ro ib id a. A rt .1 84 d o C ód ig o P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 136 U n id a d e B • Ví ru s, m o n e ra s, p ro to ct is ta s e f u n g o s Seção 5.1 Características gerais e estrutura dos fungos Fungos são organismos eucarióticos, heterotróficos, uni ou multi- celulares, que vivem no solo, na água ou no corpo de outros seres vivos. Seus principais representantes são os bolores, os cogumelos, as orelhas- -de-pau e as leveduras, estas últimas também chamadas de levedos ou fermentos. No passado, os fungos foram considerados plantas primitivas ou degeneradas, que haviam perdido a clorofila e a capacidade de realizar fotossíntese. Por esse motivo, nas classificações mais antigas, eles eram incluídos no reino das plantas. A partir da década de 1950, os novos conhecimentos biológicos, prove- nientes principalmente do desenvolvimento das técnicas de microscopia e bioquímica, mostraram que os fungos são mais aparentados com os animais que com as plantas. Eles foram, então, transferidos para o reino Protista, juntamente com algumas algas e protozoários. A partir da década de 1970, os biólogos reconheceram que os fungos são tão diferentes dos outros grupos de seres vivos que mereciam ter um reino próprio, Fungi. (Fig. 5.1) Atualmente são conhecidas mais de 70 mil espécies de fungos e, a cada ano, são descritas entre 1,5 e 2 mil novas espécies. Em algumas estimati- vas constam mais de 1,5 milhão de espécies de fungos viventes, número só superado pelo de espécies de insetos. Acredita-se que o maior ser vivo existente hoje na Terra seja um fungo da espécie Armillaria ostoyae, com idade estimada em 2.400 anos. Os filamentos desse fungo, popularmente conhecido como cogumelo-do-mel, estendem-se por uma área de quase 9 milhões de metros quadrados, sob o solo de uma floresta próxima das Strawberry Mountains, no estado norte-americano de Oregon. Objetivos❱❱❱❱ Valorizar o estudo CCCCCCC sistematizado dos fungos, que permite reconhecer padrões de semelhança e de diferença entre os seres que nos rodeiam. Enumerar e explicar CCCCCCC as principais características dos fungos. Termos e conceitos❱❱❱❱ fungo• hifa• micélio• corpo de frutificação• C D A B Figura 5.1 Representantes do reino Fungi. A. Orelhas-de-pau, fungos que vivem em madeira em decomposição. B. Bolor verde que ataca diversos tipos de alimento (na foto, uma laranja). C. Cogumelo. D. Micrografia de células do levedo Saccharomyces cerevisiae, ao microscópio eletrônico de varredura, colorizadas artificialmente (aumento . 2.4003). A B Hifas Núcleos Hifa cenocítica Septo Hifas septadas dicarióticas Núcleos Hifas septadas monocarióticas Núcleo Hifas compactadas no cogumelo Micélio (conjunto de hifas) Solo CogumeloEsporo R ep ro d uç ão p ro ib id a. A rt .1 84 d o C ód ig o P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 137 1 Organização corporal dos fungos: hifas e micélio Todos os fungos multicelulares são constituídos por filamentos ramificados denominados hifas, as quais contêm o material celular do fungo. O conjunto de hifas forma o micélio, que constitui o corpo do fungo. As hifas podem ser de dois tipos: cenocíticas e septadas. Hifas cenocíticas (do grego koinos, co- mum, e kitos, célula) são filamentos contínuos, sem divisões transversais, preenchidos por uma massa citoplasmática com centenas de núcleos. Hifas septadas têm paredes transversais (septos) que delimitam compar- timentos celulares com um ou dois núcleos, dependendo do estágio do ciclo sexual (veja o item sobre a reprodução dos fungos). Os sep- tos são incompletos, apresentando um orifício central que põe em comunicação direta os citoplasmas de células vizinhas. A parede das hifas é formada basicamen- te pelo polissacarídio quitina. Curiosamente, essa substância também está presente no reino Animal, constituindo o esqueleto dos artrópodes (crustáceos, insetos, aranhas etc.). (Fig. 5.2) O emaranhado de hifas que constitui o micélio pode crescer indefinidamente, enquanto houver alimento disponível e condições favoráveis. O crescimento das hifas ocorre apenas nas extremida- des; nas regiões mais antigas, o conteúdo citoplasmático pode até mesmo desaparecer. Durante o crescimento do fungo, a massa citoplasmática prolonga as hifas, fluindo para as extremidades das galerias em construção e, eventualmente, abandonando as mais antigas. Nos processos de reprodução sexuada de muitas espécies de fungo, formam-se hifas especiais que crescem em agrupamentos compactos, constituindo os corpos de frutificação, dos quais cogumelos e orelhas-de-pau são os exemplos mais conhecidos. (Fig. 5.3) Figura 5.3 A. Representação esquemática do desenvolvimento das hifas a partir de um esporo. B. Representação esquemática de um cogumelo, mostrando as hifas. (Imagens sem escala, cores-fantasia.) C. Corpos de frutificação do fungo Amanita sp. C OH O H H O O H H CH2OH O H OH H H H CH2OH O H OH H H H Quitina O H H HNCOCH3 CH2OH O H OH OH OH O H H O O H H CH2OH O H OH H H H CH2OH O H OH OH H H H Celulose O H H CH2OH O HNCOCH3H HNCOCH3 Figura 5.2 Quitina e celulose têm estruturas químicas semelhantes; a principal diferença é que a quitina contém o elemento nitrogênio em sua composição (note os componentes da fórmula destacados em roxo). As propriedades desses dois polissacarídios também são parecidas: ambos são resistentes, flexíveis e insolúveis em água. R ep ro d uç ão p ro ib id a. A rt .1 84 d o C ód ig o P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 138 U n id a d e B • Ví ru s, m o n e ra s, p ro to ct is ta s e f u n g o s Seção 5.2 2 Nutrição dos fungos Os fungos têm nutrição heterotrófica e utilizam grande variedade de fontes orgânicas como alimento. A maioria das espécies nutre-se de restos de outros organismos, sendo chamadas de espécies sapróbias. Outras espécies nutrem-se de matéria orgânica viva e são parasitas de animais e plantas, causando-lhes doenças. Durante seu crescimento sobre a fonte de alimento, o micélio libera en- zimas digestivas, que agem extracelularmente, degradando as moléculas orgânicas. As hifas absorvem, então, os produtos da digestão, utilizando-os como fonte de energia e matéria-prima para sua sobrevivência e cresci- mento. Esse modo de vida dos fungos é responsável pelo apodrecimento de diversos materiais, como frutas e verduras, por exemplo. (Fig. 5.4) Há espécies de fungo que vivem em associações harmoniosas com outros organismos, trocando benefícios, como é o caso dos fungos que constituemos liquens e as micorrizas, estudados mais adiante. Figura 5.4 Fotos de tomate e de arroz com bolor. Bolores são fungos sapróbios que decompõem materiais orgânicos, sendo responsáveis pela deterioração de diversos alimentos. Objetivo❱❱❱❱ Caracterizar e CCCCCCC exemplificar os principais filos de fungos: Chytridiomycota (quitridiomicetos); Zygomycota (zigomicetos); Ascomycota (ascomicetos) e Basidiomycota (basidiomicetos). Termos e conceitos❱❱❱❱ quitridiomiceto• zigomiceto• ascomiceto• basidiomiceto• líquen• micorriza• Principais grupos de fungos Características gerais dos filos de fungos Adotamos neste livro a classificação que agrupa os fungos em quatro filos: Chytridiomycota, Zygomycota, Ascomycota e Basidiomycota. Classi- ficações mais antigas consideravam um quinto filo de fungos (filo Deute- romycota), originalmente idealizado para abrigar os fungos sem processos sexuais conhecidos. Recentemente, porém, comparações de sequências de DNA e de detalhes da estrutura interna das células têm permitido deslocar espécies originalmente classificadas como deuteromicetos para os outros filos, apesar de elas não apresentarem reprodução sexuada. (Fig. 5.5) As características gerais de cada um dos quatro filos de fungos estão sumarizadas na Tabela 5.1 e são descritas a seguir. (Tab. 5.1) Tabela 5.1 Classificação dos fungos adotada neste livro Reino Fungi Filo Características principais Chytridiomycota Unicelulares ou filamentosos (hifas cenocíticas). Apresentam flagelos em algum estágio do ciclo de vida. Ex.: Allomyces arbuscula. Zygomycota Hifas cenocíticas. Formam esporos sexuados chamados zigósporos. Sem corpo de frutificação. Ex.: Rhizopus nigricans, um bolor preto do pão. Ascomycota Hifas septadas. Formam esporos sexuados chamados ascósporos, em estruturas especializadas chamadas ascos. Algumas espécies formam corpo de frutificação (ascocarpo ou ascoma). Ex.: Saccharomyces cerevisae (fermento biológico ou levedo de cerveja). Basidiomycota Hifas septadas. Formam esporos sexuados chamados basidiósporos, em estruturas especializadas chamadas basídios. Algumas espécies formam corpo de frutificação (basidiocarpo ou basidioma). Ex.: Agaricus sp. (champignon). Conteúdo digital Moderna PLUS http://www.modernaplus.com.br Animação: Algas, fungos e protozoários, veja aba Fungos, botão Nutrição R ep ro d uç ão p ro ib id a. A rt .1 84 d o C ód ig o P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 139 C a p ít u lo 5 • Fu n g o s Filo Chytridiomycota (quitridiomicetos) O filo Chytridiomycota reúne os quitridiomicetos, ou quitrídias, fungos terrestres e aquá- ticos, unicelulares e multicelulares, que em algum estágio do ciclo de vida apresentam células flageladas (esporos e/ou gametas). É o único filo do reino Fungi que possui representantes fla- gelados, o que levou alguns autores a chamá-los de mastigomicetos (do grego mastix, flagelo, e mycetos, fungo). Como os outros fungos, os quitridiomicetos apresentam quitina na parede celular e armazenam glicogênio. A maioria dos quitridiomicetos é sapróbia, entretanto há espécies parasitas de plantas, de algas, de protozoários, de outros fungos etc. Um exemplo de quitrídia parasita é Batrachochytrium dendrobatidis, que tem sido apontada como responsável pelo desaparecimento de anfíbios em vários continentes e cuja ocorrência já foi relatada no Brasil. Filo Zygomycota (zigomicetos) O filo Zygomycota (do grego zygos, união) reúne os zigomicetos, fungos que não formam corpo de frutificação durante os processos sexuados. Eles são também os únicos fungos multicelulares, além dos quitridiomicetos, com hifas cenocíticas; todos os outros fungos possuem hifas septadas. Um representante de vida livre deste filo é Rhizopus stolonifer, bolor preto que cresce so- bre superfícies úmidas de alimentos ricos em carboidratos, como pão velho, frutas e verduras. Há zigomicetos que parasitam plantas, protozoários, vermes e insetos. Outros zigomicetos formam associações mutualísticas com raízes de plantas, as chamadas micorrizas. A C B D Figura 5.5 Representantes de alguns filos de fungos. A. Foto de Aspergillus niger (aumento . 2503). B. O basidiomiceto Agaricus campestris (filo Basidiomycota) é uma das espécies conhecidas como champignons, muito utilizados na culinária. C. O ascomiceto Morchella esculenta (filo Ascomycota) é um fungo comestível apreciado pelos gourmets (altura . 8 cm). D. Micrografia do fungo Candida albicans, que causa infecções de mucosa em seres humanos (microscópio eletrônico de varredura, colorizada artificialmente). Antigamente classificado como deuteromiceto, esse fungo é agora incluído no filo Ascomycota, junto com as leveduras (aumento . 1.2503). R ep ro d uç ão p ro ib id a. A rt .1 84 d o C ód ig o P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 140 U n id a d e B • Ví ru s, m o n e ra s, p ro to ct is ta s e f u n g o s AMPLIE SEUS CONHECIMENTOS Liquens e micorrizas Liquens Você já deve ter notado crostas verde-acinzentadas ou avermelhadas que crescem sobre troncos de árvo- res, rochas ou barrancos: são liquens, formados pela associação cooperativa de fungos e algas, ou de fungos e cianobactérias. Nessas associações, os fungos mais comuns são os ascomicetos, e as algas são geralmente clorofíceas unicelulares. A “crosta” que forma o líquen contém três camadas: as duas externas são constituídas pelas hifas do fungo unidas e compactadas; a mais interna é formada pelas células das algas e por hifas do fungo frouxamente entre- laçadas. As hifas estão intimamente associadas às células das algas, das quais extraem substâncias nutritivas. Tradicionalmente, os biólogos têm considerado a associação entre fungos e algas no líquen uma Figura 5.6 A e B. Dois tipos de liquens. C. Representação esquemática de um líquen mostrando sua estrutura microscópica. No destaque, detalhe ampliado da relação entre as células da alga e as hifas do fungo no líquen. (Imagens sem escala, cores-fantasia.) Sorédios (estruturas reprodutivas) Células da alga Hifas do fungo Células da alga Hifas do fungo C troca mútua de benefícios, ou mutualismo. Enquan- to a alga produz substâncias utilizadas na nutrição do fungo, este protege a alga, mantendo-a em um ambiente úmido e favorável. É a associação com o fungo que permite às algas viverem em ambientes pouco convidativos, tais como rochas nuas e troncos de árvores ressecados. Graças a essa capacidade de sobreviver em ambientes áridos, os liquens são os pioneiros na colonização de novos ambientes, criando condições para o estabelecimento posterior de outros seres vivos. Liquens reproduzem-se assexuadamente por meio de fragmentos especiais que têm hifas do fungo e célu- las da alga em associação. Esses fragmentos, chamados de sorédios, soltam-se e são geralmente levados pelo vento para novos locais, constituindo as unidades de disseminação dos liquens. (Fig. 5.6) A B Filo Ascomycota (ascomicetos) O filo Ascomycota reúne os ascomicetos, grupo que contém cerca de metade de todas as espécies descritas de fungo. Eles caracterizam-se por formar, no ciclo de reprodução sexuada, estruturas especiais em forma de saco, os ascos, de onde provém o nome Ascomycota (do grego askos, bolsa, odre). No interior dos ascos formam-se esporos sexuais denominados ascósporos. Em certos ascomicetos, os ascos estão reunidos em corpos de frutificação carnosos chamados de ascocarpos, ou ascomas. O exemplo talvez mais conhecido de ascomiceto, porém não o mais típico, é a levedura Sac- charomyces cerevisae, o popular fermento de padaria ou fermento biológico. Esse organismo apresenta-se normalmente sob a forma unicelular, mas, se faltarem nutrientes no meio, pode produzir um micélio (ou pseudomicélio). Esse fenômeno, chamado de dimorfismo (forma unicelular e de micélio), também é observadoem outras espécies de levedura. Um ascomiceto importante para estudos genéticos é o Neurospora crassa, bolor de cor rosada cujo ciclo de vida facilita a análise da descendência. Trabalhando com esse fungo, os biólogos R ep ro d uç ão p ro ib id a. A rt .1 84 d o C ód ig o P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 141 C a p ít u lo 5 • Fu n g o s Micorrizas Sabemos que muitos cogumelos crescem perto de plantas. Se acompanhássemos terra adentro as hifas que formam esses cogumelos, descobriríamos que elas se enrolam e às vezes penetram nas raízes das árvores, formando as chamadas micorrizas (do grego myketos, fungo, e rhiza, raiz). Estudos mostraram que as plantas se beneficiam com essa associação, principalmente se o solo for pobre em minerais de que elas necessitam. O fungo aumenta a capacidade da raiz de absorver minerais escassos no solo, mas também se beneficia com a associação, obtendo das raízes açúcares, aminoácidos e outras substâncias orgânicas das quais se nutre. Essa relação de mutualismo é muito antiga e já foi observada em raízes de plantas fósseis. (Fig. 5.7) Figura 5.7 Representação esquemática de micorrizas, associações entre certos fungos e raízes de certas plantas. Raízes com micorrizas desenvolvem-se melhor do que as que não têm fungos associados. (Imagens sem escala, cores- -fantasia.) A foto mostra um cogumelo (corpo de frutificação) cujas hifas (os filamentos microscópicos que compõem o micélio) crescem associadas em raízes de plantas, formando as micorrizas. Fungo (Boletus) Hifas do fungo Hifas Raízes MICORRIZAS Raízes do pinheiro (Pinus) estadunidenses Edward Tatum e George Beadle esclareceram a relação entre genes e enzimas, o que lhes valeu o Prêmio Nobel de Fisiologia ou Medicina em 1958. Atualmente, o genoma completo de N. crassa, distribuído em sete cromossomos, já teve sua sequência de bases desvendada. Ascomicetos comestíveis como Morchella esculenta (morilles, em francês) são muito aprecia- dos pelos amantes da culinária. Certas espécies de ascomiceto vivem em associações mutualísticas com algas ou cianobac- térias, formando liquens. Na maioria dos liquens, o fungo participante é um ascomiceto. Filo Basidiomycota (basidiomicetos) O filo Basidiomycota (do grego basis, base) reúne os basidiomicetos, fungos que formam, no ciclo de reprodução sexuada, estruturas especiais, os basídios, de onde se originam os esporos sexuais, os basidiósporos. Muitas espécies produzem corpos de frutificação elaborados, chamados de basidio- carpos ou basidiomas, popularmente conhecidos como cogumelos. Um representante bem conhecido dos basidiomicetos é o champignon do gênero Agaricus, muito utilizado na culinária. R ep ro d uç ão p ro ib id a. A rt .1 84 d o C ód ig o P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 142 U n id a d e B • Ví ru s, m o n e ra s, p ro to ct is ta s e f u n g o s Seção 5.3 Reprodução dos fungos Nos fungos o processo de formação da primeira hifa a partir de um esporo é conhecido como germinação. Nesse processo, o revestimento resistente do esporo rompe-se e a célula alonga-se, enquanto seu núcleo se multiplica por mitose. Surge assim uma estrutura filamentosa, a hifa, que se alonga progressivamente e se ramifica, originando o micélio. 1 Reprodução assexuada A maneira mais simples de um fungo filamentoso reproduzir-se asse- xuadamente é por fragmentação: o micélio se fragmenta e origina novos micélios. Exceções são as leveduras, como Saccharomyces cerevisae, que se reproduzem por brotamento, ou gemulação. Os brotos (gêmulas) normalmente separam-se da célula original, mas eventualmente podem permanecer unidos, formando cadeias de células. (Fig. 5.8) Muitos fungos reproduzem-se assexuadamente por esporulação, pro- cesso em que se formam células haploides especiais dotadas de paredes resistentes, os esporos. Objetivos❱❱❱❱ Explicar, em linhas CCCCCCC gerais, os principais processos de reprodução assexuada em fungos: brotamento e esporulação. Compreender CCCCCCC os processos de reprodução sexuada em zigomicetos, ascomicetos e basidiomicetos. Reconhecer e explicar CCCCCCC a importância dos fungos decompositores na reciclagem da matéria orgânica. Conhecer e CCCCCCC exemplificar a importância econômica dos fungos como alimento, na produção de pão e de bebidas alcoólicas, na fabricação de queijos etc. Termos e conceitos❱❱❱❱ brotamento• esporulação• zigosporângio• asco• ascoma• basídio• basidioma• Broto Mitocôndria Reservas nutritivas Parede celular Núcleo Broto Vacúolo Figura 5.8 A. Fotomicrografia de uma levedura em brotamento, ao microscópio eletrônico de varredura (colorizada artificialmente; aumento . 5.2003). B. Representação esquemática dos estágios de brotamento em que os brotos permanecem unidos, produzindo cordões de células interligadas. C. Representação esquemática da estrutura interna de uma levedura formando um broto. C B A R ep ro d uç ão p ro ib id a. A rt .1 84 d o C ód ig o P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 143 C a p ít u lo 5 • Fu n g o s Como exemplo de reprodução assexuada por esporulação, podemos citar a do zigomiceto Rhizopus stolonifer. Esse fungo é um emaranhado de hifas cenocíticas que crescem sobre o substrato, de onde absorvem nutrientes. Em determinados pontos do micélio formam-se hifas especiais, os esporangióforos, que crescem eretas em relação ao substrato. A denominação dessas hifas deve-se ao fato de elas apresentarem na extremidade livre uma dilatação esférica, o esporângio, em cujo interior se formam esporos. Na massa citoplasmática que preenche o esporângio em formação, os núcleos dividem-se por mitoses sucessivas até se tornarem centenas. A massa citoplasmática então divide-se, isolando células mononucleadas, que se transformam em esporos. À medida que os esporos se formam, o esporângio adquire coloração negra. O esporângio maduro rompe-se e libera os esporos, que se dispersam pelo ar. Ao encontrar condi- ções favoráveis, o esporo germina e dá origem a um novo micélio, completando o ciclo assexuado. Os ascomicetos também formam hifas reprodutivas assexuadas, os conidióforos, nas extremi- dades das quais se individualizam fileiras de células que se transformam em esporos conhecidos como conídios, ou conidiósporos. Os quitridiomicetos, por sua vez, formam esporos móveis, os zoósporos, dotados de flagelo e que necessitam de água para sua dispersão. 2 Reprodução sexuada Os fungos têm processos de reprodução sexuada em que ocorre fusão de núcleos celulares haploides e consequente formação de zigotos diploides. Estes se dividem imediatamente por meiose (meiose zigótica) para formar células haploides que se diferenciam em esporos. Os esporos resultantes dos processos sexuais recebem o nome de zigósporos, nos zigomice- tos; de ascósporos, nos ascomicetos; e de basidiósporos, nos basidiomicetos. Para diferenciar esses esporos daqueles que se formam assexuadamente, os biólogos costumam chamá-los de “esporos sexuais”, indicando assim que eles se originaram da meiose de um zigoto diploide. Muitas espécies de fungo apresentam “formas sexuais” distintas designadas pelos sinais 1 e 2. Isso significa que nesses fungos há duas formas fisiologicamente distintas de micélio, sendo que os do tipo 1 só podem ter reprodução sexuada com os do tipo 2, e vice-versa. Esses fungos são conhecidos como fungos heterotálicos. Outros fungos não apresentam diferencia- ção sexual e neles a reprodução sexuada pode ocorrer entre hifas de um mesmo micélio. São os fungos homotálicos. De maneira geral, a reprodução sexuada dos fungos começa pela fusão de hifas, um processo chamado de plasmogamia. As hifas resultantes da plasmogamia são denominadas hifas dicarió- ticas, porque os núcleos originários da fusão distribuem-seaos pares. Posteriormente ocorre cariogamia, ou seja, fusão dos pares de núcleos haploides, produzindo núcleos zigóticos diploides. Estes se dividem imediatamente por meiose e dão origem aos esporos sexuais. Ciclo sexual em zigomicetos A reprodução sexuada em zigomicetos tem início com a produção de um hormônio, o ácido trispórico, por hifas compatíveis próximas. O hormônio leva as hifas a emitirem projeções que crescem uma em direção à outra até se encontrarem. As extremidades das duas hifas que entram em contato se isolam do resto do micélio pela formação de um septo transversal e passam a constituir estruturas denominadas gametângios, que podem conter dezenas ou centenas de núcleos haploides. Em certas espécies, os gametângios podem formar-se pelo encontro de hifas do mesmo micélio, em outras, as hifas só se atraem e formam gametângios quando pertencem a micélios de formas sexuais diferentes (um 1 e outro 2). As paredes que separam os dois gametângios em contato se dissolvem e as duas mas- sas citoplasmáticas repletas de núcleos haploides se fundem (plasmogamia). Os núcleos provenientes dos dois gametângios emparelham-se dois a dois e, em seguida, se fundem (cariogamia), dando origem a núcleos diploides. Enquanto isso ocorre, a parede celular que reveste os gametângios fundidos engrossa e se diferencia, formando uma estrutura esférica e de cor escura com cerca de 0,5 milímetro de diâmetro, o zigosporângio. A massa citoplas- mática com os inúmeros núcleos diploides resultantes da cariogamia, presente no interior do zigosporângio, é o zigósporo. R ep ro d uç ão p ro ib id a. A rt .1 84 d o C ód ig o P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 144 U n id a d e B • Ví ru s, m o n e ra s, p ro to ct is ta s e f u n g o s Ciclo sexual em ascomicetos O ciclo de vida de um ascomiceto tem início com a germinação de um esporo e o desenvolvimen- to do micélio. Este forma tanto hifas especializadas na reprodução assexuada (conidióforos, que produzem conidiósporos) quanto hifas especializadas na reprodução sexuada. Estas últimas são de dois tipos: gametângios femininos, ou ascogônios, e gametângios masculinos, ou anterídios. A partir do ascogônio forma-se uma projeção, o tricógino, que cresce em direção a um ante- rídio próximo e se funde a ele. Pelo tricógino, os núcleos do anterídio migram para o interior do ascogônio. Nas espécies homotálicas, a passagem de núcleos pode ocorrer tanto entre game- tângios de um mesmo micélio quanto de micélios distintos. Nas espécies heterotálicas, apesar de um mesmo micélio formar anterídios e ascogônios, há união e passagem de núcleos apenas entre gametângios de micélios sexualmente compatíveis. Assim, os ascogônios de micélios 1 unem-se e recebem núcleos de anterídios somente de micélios 2, e vice-versa. Os núcleos provenientes do anterídio emparelham-se com os núcleos do ascogônio, estabe- lecendo a condição dicariótica, mas não ocorre fusão entre eles. A partir do ascogônio crescem hifas cujas células têm pares de núcleos, um deles descendente do núcleo do ascogônio e o outro, do núcleo do anterídio. Assim, o micélio que se origina do “ascogônio fecundado” é constituído exclusivamente por hifas dicarióticas, denominadas hifas ascógenas. Os ascos formam-se a partir de células apicais de hifas ascógenas. Nesse processo, os dois núcleos de uma célula da extremidade de uma hifa ascógena fundem-se para formar o zigoto, que é o único núcleo diploide em todo o ciclo de vida de um fungo ascomiceto. A célula que contém o núcleo diploide alonga-se e origina o asco. No interior deste, o núcleo divide-se por meiose e origina quatro células haploides, que ficam enfileiradas ao longo do asco. Na maioria dos asco- micetos, cada uma dessas células passa por uma divisão mitótica adicional, de modo que o asco geralmente apresenta oito células haploides enfileiradas em seu interior. Estas se diferenciam em ascósporos, libertados quando ocorre a ruptura da parede do asco maduro. Os ascósporos são transportados pelo ar e, ao encontrarem condições favoráveis, germinam, originando novos micélios haploides e reiniciando o ciclo. (Fig. 5.10) Figura 5.9 Representação esquemática do ciclo de um fungo zigomiceto. Analise o esquema acompanhando as explicações do texto. (Imagens sem escala, cores-fantasia.) Após um período de dormência que pode durar alguns meses, a parede do zigosporângio rompe-se e o zigósporo emerge de seu interior formando uma haste, o esporangióforo, com uma dilatação na extremidade, o esporângio. Os núcleos diploides dividem-se por meiose, originando milhares de núcleos haploides, que se individualizam em esporos no interior do esporângio. Este finalmente se rompe e libera os esporos no ar. Ao atingir um local adequado, o esporo germina e dá origem a um novo micélio. (Fig. 5.9) Detalhe da fusão de micélios sexualmente compatíveis Fecundação Gametângios de sexos diferentes Zigoto (zigosporângio) (2n) R! Germinação do esporo Esporos (n ) Micélio (n ) Reprodução assexuada Esporos (n ) Esporângio Desenvolvimento do esporangióforo MEIOSE Esporângio Esporangióforo R ep ro d uç ão p ro ib id a. A rt .1 84 d o C ód ig o P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 145 C a p ít u lo 5 • Fu n g o s Em diversas espécies, os ascos originam-se de estruturas compactas, altamente organizadas, formadas pela reunião de hifas do micélio dicariótico. Essas estruturas constituem corpos de fru- tificação denominados ascocarpos, termo que tende a ser substituído por ascoma. (Fig. 5.11) Ascocarpo (ampliação) Fusão de núcleos (fecundação) Corpo de frutificação (ascocarpo ou ascoma) Micélio com hifas mono e dicarióticas Hifa dicariótica Fusão de micélios compatíveis Liberação e germinação dos ascósporos Asco Ascósporos Núcleos haploides (n) MEIOSE ZIGótICA R! Zigoto (2n) Mitose e formação dos ascósporos Hifa ascógena Figura 5.10 Representação esquemática do ciclo sexual de um fungo ascomiceto. Analise o esquema acompanhando as explicações do texto. (Imagens sem escala, cores-fantasia.) Figura 5.11 A. Representação esquemática de ascomas. (Imagem sem escala, cores-fantasia.). B. Fotomicrografia ao microscópio óptico de corte de um ascoma mostrando hifas, coradas em azul, e esporos, em vermelho, no interior de ascos (aumento . 2003). C. Fotografia do corpo de frutificação de um ascomiceto (Cookeina tricholoma), altura . 1,5 cm. Ascoma em corte Ascos com ascósporos Corpos de frutificação (ascocarpo ou ascoma)A B B C R ep ro d uç ão p ro ib id a. A rt .1 84 d o C ód ig o P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 146 U n id a d e B • Ví ru s, m o n e ra s, p ro to ct is ta s e f u n g o s Ciclo sexual em basidiomicetos O ciclo de vida nesses fungos inicia-se com a germinação de um esporo, que origina hifas cons- tituídas por células dotadas de um único núcleo (monocarióticas). O processo sexuado envolve o encontro de dois micélios sexualmente compatíveis. Ao entrar em contato, as hifas 1 e as hifas 2 se fundem (plasmogamia), originando hifas dicarióticas. Estas são constituídas por células com dois núcleos, cada um deles descendente do núcleo de um dos micélios que se fundiram. Ao se dividir, as células fornecem um exemplar de cada um de seus núcleos a suas células-filhas, de modo que a condição dicariótica se mantém nas novas hifas formadas. O micélio com hifas dicarióticas cresce e desenvolve-se, às vezes durante anos, até que, em determinada fase do ciclo, a célula terminal de certas hifas adquire a forma de uma clava e passa a ser denominada basídio. Os dois núcleos do basídio fundem-se (cariogamia), originando um núcleo diploide que, imediatamente, se divide por meiose e produz quatro núcleos haploides. Enquanto a meiose ocorre, formam-se na superfície do basídio quatroprotuberâncias em forma de dedos. Cada um dos núcleos haploides gerados na meiose migra para o interior de uma dessas protuberâncias, que se isola do resto do basídio e desenvolve uma parede grossa e resistente, transformando-se em um basidiósporo. Os basidiósporos maduros desprendem-se do basídio e dispersam-se pelo ar. Ao encontrar condições favoráveis, o basidiósporo germina e origina um novo micélio que repetirá o ciclo. (Fig. 5.12) Figura 5.12 A. Representação esquemática do ciclo sexual de um fungo basidiomiceto. B. Representação esquemática da formação do basídio, a hifa especializada em que ocorre a meiose para formação dos basidiósporos. Analise os esquemas acompanhando as explicações no texto. (Imagens sem escala, cores-fantasia.) Fusão de núcleos (fecundação) R! MEIOSE ZIGótICA Zigotos (2n) Corpo de frutificação (basidiocarpo ou basidioma) Hifas haploides (n) Germinação dos basidiósporos Basidiósporos (n) Liberação dos basidiósporos Micélio dicariótico Fusão de micélios compatíveis Lamela (ampliação) Fusão nuclear (fecundação) Formação dos basidiósporos MEIOSE R! Hifa dicariótica Zigoto (2n) Núcleos haploides (n) Basídio Basidiósporos (n) Hifas dicarióticas A B R ep ro d uç ão p ro ib id a. A rt .1 84 d o C ód ig o P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 147 C a p ít u lo 5 • Fu n g o s Em diversas espécies de basidiomicetos, hifas próximas da superfície do substrato crescem em corpos de frutificação complexos (cogumelos), denominados basidiomas, termo que tende a substituir basidiocarpo. Nestes, os basídios se formam na superfície de lamelas localizadas na parte inferior do “chapéu”. (Fig. 5.13) Lamela em corte Basídios Hifas estéreis Basidiósporos Corpos de frutificação (basidiocarpo ou basidioma) Figura 5.13 A. Representação esquemática da estrutura das lamelas de um basidioma (basidiocarpo), mostrando basídios e basidiósporos. (Imagens sem escala, cores-fantasia.) B. Foto mostrando a face inferior de um cogumelo (Omphalina sp.) com lamelas, finas lâminas dispostas como raios nas quais se formam os esporos. CIÊNCIA E CIDADANIA Importância ecológica, econômica e médica dos fungos Fungos decompositores Fungos são organismos fundamentais ao equilíbrio da natureza. As espécies sapróbias, juntamente com certas bactérias, desempenham o papel de agentes decompositores, decompondo cadáveres e restos de organismos. Com isso, os ele- mentos químicos constituintes da matéria orgânica dos seres mortos podem ser reaproveitados por outros seres vivos. Entretanto, essa mesma atividade decompo- sitora pode ter aspectos negativos para o nosso dia a dia, já que os fungos causam o apodrecimento de roupas, objetos de couro, cercas, dormentes de madeira das estradas de ferro, alimentos etc. A B Conteúdo digital Moderna PLUS http://www.modernaplus.com.br Animação: Algas, fungos e protozoários, veja aba Fungos, botão Reprodução R ep ro d uç ão p ro ib id a. A rt .1 84 d o C ód ig o P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 148 U n id a d e B • Ví ru s, m o n e ra s, p ro to ct is ta s e f u n g o s Fungos e alimentação Embora haja notícia de mais de 600 espécies de cogumelo utilizadas na alimenta- ção humana, cerca de 20 são realmente populares. Entre essas espécies, destacam-se Agaricus campestris, conhecido como champignon, e Lentinus edodes, conhecido como shiitake. Os champignons são cultivados em mais de 70 países, e sua produção anual excede 14 bilhões de dólares norte-americanos. Cogumelos são alimentos com baixos teores de carboidratos e de gorduras, ricos em vitaminas. As leveduras são fungos microscópicos utilizados na preparação de alimentos e bebidas fermentados. O levedo Saccharomyces cerevisiae, empregado na fabricação de pão e de bebidas alcoólicas, fermenta açúcares para obter energia, liberando gás carbônico e álcool etílico. Na produção do pão, é o gás carbônico que interessa; as pequenas bolhas desse gás, eliminadas pelo levedo na massa, contribuem para tornar o pão leve e macio. A produção dos diferentes tipos de bebida alcoólica varia de acordo com o material orgânico fermentado, o tipo de levedura utilizada e as técnicas de fabricação. Por exemplo, na produção da cerveja, são utilizados os fungos Saccharomyces cerevisiae ou Saccharomyces carlsbergensis para fermentar a cevada; na produção do vinho, o fungo responsável pela fermentação do suco de uva é o Saccharomyces ellipsoideus; na produção do saquê utiliza-se inicialmente o ascomiceto Aspergillus oryzae para fermentar o arroz e, em seguida, Saccharomyces cerevisiae. Após a fermentação, certas bebidas passam por processos de destilação, o que aumenta sua concentração em álcool. Exemplos de bebidas destiladas são a cachaça e o rum (produzidos com caldo de cana-de-açúcar fermentado por fungos diversos) e o uísque (obtido de cereais fermentados pelo Saccharomyces cerevisiae). Certos fungos são empregados na produção de queijos, sendo responsáveis por seu sabor característico. Os fungos Penicillium roquefortii e Penicillium camembertii, por exemplo, são utilizados na fabricação de queijos tipos roquefort e camembert, respecti- vamente. (Fig. 5.14) Figura 5.14 A. O processo de panificação depende do levedo Saccharomyces cerevisiae. Ao lado da massa de pão fermentada, dois tabletes de fermento biológico fresco, constituídos por levedos prensados. B. As “veias” azuladas do queijo tipo gorgonzola devem-se ao crescimento de um fungo do gênero Penicillium, que confere um sabor forte e característico a esse tipo de queijo. C. Tanques de fermentação para a produção de vinho, que também é fermentado por leveduras. A B C R ep ro d uç ão p ro ib id a. A rt .1 84 d o C ód ig o P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 149 C a p ít u lo 5 • Fu n g o s Fungos e a indústria farmacêutica Os antibióticos, substâncias que matam bactérias, foram obtidos pioneiramen- te de espécies do gênero Penicillium, na década de 1920. Desde então, os fungos têm sido largamente empregados na indústria farmacêutica para a produção de antibióticos e de outros medicamentos. Certos fungos produzem toxinas poderosas, que vêm sendo objeto da pesquisa farmacêutica. Alguns produzem substâncias denominadas ciclopeptídios, capazes de inibir a síntese de RNAm nas células animais. A ingestão de um único corpo de frutificação (cogumelo) do basidiomiceto Amanita phalloides, por exemplo, pode causar a morte de uma pessoa. O ascomiceto Aspergillus flavus, que contamina se- mentes oleaginosas como o amendoim, produz a aflatoxina, substância altamente tóxica capaz de provocar câncer. Um fungo muito estudado do ponto de vista farmacêutico foi o ascomiceto Claviceps purpurea, popularmente conhecido como “esporão-do-centeio”. Foi dele que se extraiu originalmente um alcaloide, o ácido lisérgico, ou LSD, substância alucinógena que ficou famosa na década de 1970. C. purpurea cresce sobre grãos de cereal, principalmente centeio e trigo. Cereais contaminados por esse fungo causaram, no passado, intoxicações em massa, com muitas mortes. Desde o sé- culo XVI as parteiras já conheciam uma propriedade farmacêutica do esporão-do- -centeio: se ingerido em pequenas quantidades, ele acelera as contrações uterinas durante o parto. Fungos parasitas Diversas espécies de fungo são parasitas e causam doenças em plantas e em animais, inclusive na espécie humana. Certos fungos podem causar infecções graves, com lesões profundas na pele e em órgãos internos da pessoa. Nas plantas, os fungos provocam doenças como a ferrugem, que ataca o cafeeiro e outras plantas economi- camente importantes. (Fig. 5.15) Conteúdo digital Moderna PLUS http://www.modernaplus.com.br Texto: Bebidas alcoólicas Figura 5.15 A ferrugem do cafeeiro, que produz lesões nas folhas,é causada pelo fungo basidiomiceto Hemilea vastatrix. AtividAdes R ep ro d uç ão p ro ib id a. A rt .1 84 d o C ód ig o P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 150 U n id a d e B • Ví ru s, m o n e ra s, p ro to ct is ta s e f u n g o s QUESTÕES PARA PENSAR E DISCUTIR Questões objetivas 1. O reino Fungi é constituído por a) organismos autotróficos unicelulares. b) organismos autotróficos e heterotróficos, uni- celulares e multicelulares. c) organismos heterotróficos, unicelulares. d) organismos heterotróficos, unicelulares e mul- ticelulares. Considere as alternativas a seguir para responder às questões de 2 a 6. a) Ascomicetos. b) Basidiomicetos. c) Quitridiomicetos. d) Deuteromicetos. e) Zigomicetos. 2. Quais fungos formam cogumelos e orelhas-de-pau como corpos de frutificação? 3. A que grupo de fungos pertence a levedura Saccharomyces cerevisae, empregada na fabricação de pão? 4. Que grupo de fungos representava uma categoria de conveniência e foi excluído nas classificações mais modernas? 5. Quais dos grupos de fungo não apresentam corpo de frutificação e formam esporos multinucleados, contidos em um envoltório espesso? 6. Quais fungos apresentam células dotadas de flagelo em alguma fase do ciclo de vida? 7. “A fermentação realizada pelo levedo Saccharomyces cerevisiae produz (1) e (2). O primeiro é importante para fazer o pão crescer, e o segundo constitui o ‘espírito’ das bebidas fermentadas.” Para completar corretamente a frase anterior, (1) e (2) devem ser substituídos, respectivamente, por a) gás carbônico e ácido acético. b) gás carbônico e álcool etílico. c) gás oxigênio e álcool etílico. d) gás oxigênio e ácido acético. Questão discursiva 8. Imagine, hipoteticamente, que os fungos decom- positores desaparecessem. Quais seriam as conse- quências disso? VESTIBULARES PELO BRASIL Brasil Região Nordeste Região Sudeste Região Norte Região Centro-Oeste Região Sul Brasil – Regiões Questões objetivas 1 (UFRR) O fermento biológico, o mofo que ataca os alimentos e os cogumelos comestíveis são organis- mos que pertencem ao reino Fungi. Com relação a este grupo de organismos indique as proposições verdadeiras: I. todos são clorofilados; II. nutrem-se por digestão extracorpórea, isto é, liberam enzimas digestivas para o substrato, que fragmentam macromoléculas em molé- culas menores, permitindo sua absorção pelo organismo; III. são eucariontes, unicelulares ou multicelula- res; IV. são utilizados na produção industrial de iogur- tes; V. possuem glicogênio como reserva nutritiva; VI. alguns são utilizados para produção de antibi- óticos. a) I, III, VI e V. b) II, III, V e VI. c) II, III e IV. d) II e V. e) I e IV. 2 (Esam-RN) Os vírus, as bactérias, os protozoários e os fungos têm em comum a(o) a) mesma organização celular. b) presença de moléculas autorreplicativas. c) mesmo tipo de nutrição. d) capacidade de produzir toxinas. e) presença de um envoltório lipoproteico. 3 (Uece) Os fungos são organismos , que, em associação com algas, seres , formam uma associação do tipo . Marque a opção que completa, na ordem e corretamente, as lacunas do enunciado. a) aclorofilados; heterotróficos; aclorofilados; mu- tualismo. b) aclorofilados; autotróficos; aclorofilados; sim- biose. c) aclorofilados; heterotróficos; aclorofilados; sim- biose. d) aclorofilados; heterotróficos; clorofilados; mu- tualismo. R ep ro d uç ão p ro ib id a. A rt .1 84 d o C ód ig o P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 151 C a p ít u lo 5 • Fu n g o s 4 (Unifor-CE) Os lêvedos são fungos unicelulares que constituem o conhecido “fermento de padaria”. Com base no que se conhece sobre o seu meta- bolismo conclui-se corretamente que, dos fatores abióticos abaixo, o único que não influi diretamente no crescimento de uma população desses micror- ganismos mantida em laboratório é a) o teor de glicose. b) a temperatura. c) o teor de O2. d) a luz. e) o pH. 5 (UEMS) No verão de 1928, o cientista Alexander Fleming descobriu uma substância química, a pe- nicilina, antibiótico que impedia a proliferação de certas bactérias. A penicilina, substância de larga utilização medicinal, é produzida a partir de que tipo de organismos? a) Algas b) Bactérias c) Vírus d) Protozoários e) Fungos 6 (Mackenzie-SP-Adaptado) Qual é a alternativa incorreta a respeito dos fungos? a) Existem espécies parasitas. b) Existem alguns tipos unicelulares. c) Possuem reprodução sexuada e assexuada. d) Têm nutrição heterotrófica. e) As suas hifas contêm basicamente celulose. 7 (Vunesp) Um indivíduo sentou-se à mesa para almoçar e comeu uma fatia de pão, tomou um copo de cerveja e deliciou-se com um prato de champignon. Isso tudo foi possível graças à existên- cia e atividade a) das bactérias. b) dos fungos. c) dos liquens. d) das cianofíceas. e) das algas verdes. 8 (UFMG) Casacos de lã, sapatos de couro e cintos de algodão guardados por algum tempo em armários podem ficar mofados, pois os fungos necessitam de a) algas simbióticas para digerir o couro, a lã e o algodão. b) baixa luminosidade para realizar fotossíntese. c) baixa umidade para se reproduzirem. d) substrato orgânico para o desenvolvimento adequado. 9 (UFF-RJ) Pode-se afirmar que os liquens são uma associação entre a) algas e fungos com reprodução sexuada por meio de sorédios. b) algas e bactérias com reprodução assexuada por meio de esporos. c) algas e fungos com reprodução assexuada por meio de sorédios. d) algas e fungos com reprodução assexuada por meio de esporos. e) algas e fungos com reprodução sexuada por meio de esporos. 10 (Unip-SP) Células de levedo foram colocadas em um meio ambiente de cultura contendo glicose a 5% e mantidas em ambiente sem oxigênio. Depois de 48 horas as células foram observadas ao micros- cópio, sendo feita uma análise química do meio de cultura. Quais os resultados esperados? a) Células em brotamento C6H12O6, CO2 e C3H6O3 b) Células intactas e isoladas CO2, C2H5OH c) Células plasmolisadas apenas C6H12O6 d) Células em brotamento C6H12O6, O2 e C2H5OH e) Células intactas e isoladas C6H12O6 e C3H6O3 11 (Vunesp) Reprodução na qual há produção de esporos por meiose e fusão de hifas haploides diferentes, originando micélios diploides, é típica de a) fungos. b) algas. c) bactérias. d) musgos. e) samambaias. 12 (PUC-PR) Um estudante de Biologia, ao realizar uma pesquisa científica, chegou à conclusão de que um determinado ser vivo apresenta as seguintes características: 1. Tem como substância de reserva o glicogênio. 2. Apresenta quitina como um dos componentes da membrana celular. 3. É pluricelular, muito embora suas células não constituam tecidos diferenciados. 4. É eucarionte, porém não sintetiza pigmento fotossintetizante. Pelas características expostas, conclui-se que o ser vivo pesquisado pertence ao reino a) Protista. b) Fungi. c) Monera. d) Plantae. e) Animalia. 13 (USJ-SC) Os fungos nutrem-se por a) digestão intracorporal e extracelular em órgãos digestivos. b) fotossíntense. c) liberação de matéria orgânica presente em suas hifas. d) digestão extracorporal e absorção da matéria orgânica digerida do meio. AtividAdes 0 2 4 6 8 Dias após exposição Mosquitos não expostos Mosquitos expostos Po rc en ta ge m d e so br ev iv ên ci a 10 12 14 0 20 40 60 80 100 Tempo Concentração Açúcares Ácido tartárico Ácido málico R ep ro d uç ão p ro ib id a. A rt .1 84 d o C ód ig o P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 152 U n id a d e B • Ví ru s, m o n e ra s, p ro to ct is ta s e f u n g o s 14 (Enem-MEC) Foram publicados recentemente tra- balhos relatando o uso de fungos como controle biológico de mosquitos transmissores damalária. Observou-se o percentual de sobrevivência dos mosquitos Anopheles sp. após exposição ou não a superfícies cobertas com fungos sabidamente pesticidas, ao longo de duas semanas. Os dados obtidos estão presentes no gráfico ao lado. No grupo exposto aos fungos, o período em que houve 50% de sobrevivência ocorreu entre os dias a) 2 e 4. c) 6 e 8. e) 10 e 12. b) 4 e 6. d) 8 e 10. 15 (Enem-MEC) Na região sul da Bahia, o cacau tem sido cultivado por meio de diferentes sistemas. Em um deles, o convencional, a primeira etapa de preparação do solo corresponde à retirada da mata e à queimada dos tocos e das raízes. Em seguida, para o plantio da quantidade máxima de cacau na área, os pés de cacau são plantados próximos uns dos outros. No cultivo pelo sistema chamado cabruca, os pés de cacau são abrigados entre as plantas de maior porte, em espaço aberto criado pela derru- bada apenas das plantas de pequeno porte. Os cacaueiros dessa região têm sido atacados e de- vastados pelo fungo chamado vassoura-de-bruxa, que se reproduz em ambiente quente e úmido por meio de esporos que se espalham no meio aéreo. As condições ambientais em que os pés de cacau são plantados e as condições de vida do fungo vassoura-debruxa, mencionadas acima, permitem supor-se que sejam mais intensamente atacados por esse fungo os cacaueiros plantados por meio do sistema a) convencional, pois os pés de cacau ficam mais expostos ao sol, o que facilita a reprodução do parasita. b) convencional, pois a proximidade entre os pés de cacau facilita a disseminação da doença. c) convencional, pois o calor das queimadas cria as condições ideais de reprodução do fungo. d) cabruca, pois os cacaueiros não suportam a sombra e, portanto, terão seu crescimento pre- judicado e adoecerão. e) cabruca, pois, na competição com outras es- pécies, os cacaueiros ficam enfraquecidos e adoecem mais facilmente. 16 (Enem-MEC) As características dos vinhos depen- dem do grau de maturação das uvas nas parreiras porque as concentrações de diversas substâncias da composição das uvas variam à medida que as uvas vão amadurecendo. O gráfico a seguir mostra a variação da concentração de três substâncias presentes em uvas, em função do tempo. O teor alcoólico do vinho deve-se à fermentação dos açúcares do suco da uva. Por sua vez, a acidez do vinho produzido é proporcional à concentração dos ácidos tartárico e málico. Considerando-se as diferentes características desejadas, as uvas podem ser colhidas a) mais cedo, para a obtenção de vinhos menos ácidos e menos alcoólicos. b) mais cedo, para a obtenção de vinhos mais ácidos e mais alcoólicos. c) mais tarde, para a obtenção de vinhos mais alcoólicos e menos ácidos. d) mais cedo e ser fermentadas por mais tempo, para a obtenção de vinhos mais alcoólicos. e) mais tarde e ser fermentadas por menos tempo, para a obtenção de vinhos menos alcoólicos. Questões discursivas 17 (UFRRJ) Um dos armários do laboratório da escola apareceu com pontos e fios brancos em suas por- tas, do lado interno. Um dos alunos identificou os pontos e os fios brancos como sendo um tipo de mofo. Para eliminá-lo, passou um pano embebido em álcool na porta, até limpá-la totalmente. Na semana seguinte, para surpresa do aluno, os pontos e fios reapareceram. A partir dos seus conhecimen- tos a respeito da estrutura e biologia dos fungos, explique por que o mofo reapareceu. 18 (Fuvest-SP) As bananas mantidas à temperatura ambiente deterioram-se em consequência da proli- feração de microrganismos. O mesmo não acontece com a bananada, conserva altamente açucarada, produzida com essas frutas. a) Explique, com base no transporte de substân- cias através da membrana plasmática, por que bactérias e fungos não conseguem proliferar em conservas com alto teor de açúcar. b) Dê exemplo de outro método de conservação de alimentos que tenha por base o mesmo princí- pio fisiológico.
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