Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Educação Infantil Analice Oliveira Fragoso Unidade 2 A Criança e o Amparo Legal Analice Oliveira Fragoso Educação Infantil Diretor Executivo DAVID LIRA STEPHEN BARROS Gerente Editorial CRISTIANE SILVEIRA CESAR DE OLIVEIRA Projeto Gráfico TIAGO DA ROCHA Autor ANALICE OLIVEIRA FRAGOSO A AUTOR Analice Oliveira Fragoso Olá! Meu nome é Analice Oliveira Fragoso. Sou formada em Pedagogia, especialista em Psicopedagogia, mestre e doutora em Distúrbios do Desenvolvimento. Tenho experiência como professora no ensino superior há mais de quatro anos, tanto no curso de graduação em Pedagogia quanto no curso de especialização em Neuropsicopedagogia. Sou apaixonada por educação, por isso há mais de sete anos realizo pesquisas nessa área do conhecimento. É um grande privilégio transmitir minha experiência àqueles que estão iniciando suas profissões. Agradeço à Editora Telesapiens pelo convite para integrar seu elenco de autores independentes e estou muito feliz em poder ajudar você nesta fase de muito estudo e trabalho. Conte comigo! ICONOGRÁFICOS Olá. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez que: INTRODUÇÃO: para o início do desenvolvimento de uma nova compe- tência; DEFINIÇÃO: houver necessidade de se apresentar um novo conceito; NOTA: quando forem necessários obser- vações ou comple- mentações para o seu conhecimento; IMPORTANTE: as observações escritas tiveram que ser priorizadas para você; EXPLICANDO MELHOR: algo precisa ser melhor explicado ou detalhado; VOCÊ SABIA? curiosidades e indagações lúdicas sobre o tema em estudo, se forem necessárias; SAIBA MAIS: textos, referências bibliográficas e links para aprofundamen- to do seu conheci- mento; REFLITA: se houver a neces- sidade de chamar a atenção sobre algo a ser refletido ou dis- cutido sobre; ACESSE: se for preciso aces- sar um ou mais sites para fazer download, assistir vídeos, ler textos, ouvir podcast; RESUMINDO: quando for preciso se fazer um resumo acumulativo das últi- mas abordagens; ATIVIDADES: quando alguma atividade de au- toaprendizagem for aplicada; TESTANDO: quando o desen- volvimento de uma competência for concluído e questões forem explicadas; SUMÁRIO Criança como sujeito histórico-crítico ................................................10 A teoria histórico-cultural de Vygotsky ........................................................................... 12 Contribuições dos estudiosos da educação ............................................................... 13 Dimensão política sobre a educação da criança ...........................17 Aspectos legais que amparam a criança ......................................... 20 Aspectos legais ............................................................................................................................... 20 Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) .............................................................23 O direito da criança de brincar ..............................................................................................29 Aspectos legais da Educação Infantil .................................................32 7 UNIDADE 02 Educação InfantilEducação Infantil 8 INTRODUÇÃO Neste tópico você irá conhecer os aspectos legais que amparam a criança e os que regem a Educação Infantil. Durante nossos estudos, você compreenderá que leis foram estabelecidas com a finalidade de defender o direito das crianças, reconhecendo-as como sujeitos de direitos. Essas iniciativas contribuíram para a valorização da infância, promovendo uma mudança na forma como a sociedade via e tratava as crianças e como as vê nos dias de hoje. Veremos também os documentos legais que amparam a Educação Infantil e como essa modalidade de ensino foi implantada e toma cada vez mais visibilidade nos campos de estudo. Educação InfantilEducação Infantil 9 OBJETIVOS Olá, seja muito bem-vindo à Unidade 2, nosso objetivo é auxiliar você no desenvolvimento das seguintes competências profissionais até o término desta etapa de estudos: 1. Interpretar o panorama da posição da criança enquanto sujeito histórico-crítico; 2. Explicar como se instituíram as políticas públicas em relação a educação das crianças; 3. Classificar os aspectos legais que amparam à criança; 4. Apontar as legislações que regem a educação infantil. Então? Preparado para uma viagem sem volta rumo ao conhecimento? Ao trabalho! Educação InfantilEducação Infantil Alberto Júnior 10 Criança como sujeito histórico-crítico INTRODUÇÃO: Atualmente, nossas crianças já têm voz desde os seus primeiros balbucios, porém, nem sempre foi assim. Da mesma forma que a educação infantil tardou para se debruçar sobre a necessidade de um olhar em formação, a criança também passou por diferentes períodos até alcançar sua visibilidade social e um pensamento crítico que consolidasse os estudos da área. Neste capítulo, vamos compreender o panorama da posição da criança como um sujeito histórico-crítico. Nos primórdios da história da infância, encontramos relatos que nos apontam que as crianças eram vistas, mas não eram ouvidas. Posicionamento este identificado, por exemplo, nos estudos ingleses que se debruçaram em entender as bases da educação tradicional, refletido em seus sistemas educativos e políticos. Somente no final do século XIX, com a influência do construtivismo, iniciam-se debates sobre a necessidade de se construir uma perspectiva crítica acerca da temática, empreendidos pelos pedagogos, mas ainda assim não suficiente. Pudemos perceber na trajetória da história da criança e nas teorias da educação que o campo crítico de debate nesse contexto tardou para se consolidar e na prática, mesmo nos dias atuais, ainda encontramos muitas dificuldades para o debate no campo de estudo (OLIVEIRA-FORMOSINHO; KISHIMOTO; PINAZZA, 2011). Como vimos anteriormente, a infância não teve significado em seus primórdios. As crianças eram expostas como adultos em miniaturas através de suas roupas, eram tratadas como tal e não tinha um mundo próprio, ou seja, não tinham uma posição social (ARIÈS, 1981). Alguns estudos modernos contrapõem que, no mesmo período histórico, poderiam existir práticas diferenciadas em relação à infância e criança (GOUVEA, 2008). Educação InfantilEducação Infantil 11 REFLITA: Encontramos poucos registros da história da infância relatados por estudiosos do tema. Mas será que não existiram outras concepções? Outras culturas? Ou até mesmo pequenas vilas e vilarejos da época que não concordavam com esse tratamento e buscavam acolher suas crianças de outras formas? Seriam pessoas de uma classe social mais baixa? As repostas para essas perguntas nunca teremos, mas podemos partir desse pressuposto para levantar hipóteses sobre o início da mudança. Com a modernidade, as mudanças surgiram: a educação das crianças começou a ser motivo de preocupação para os pais que passaram a acolher suas reais necessidades. Contudo, foi preciso criar e determinar algumas regras para um comportamento social e assim passaram a ser disciplinadas pela família e no meio em que viviam. Em consequência disso, a escola se institui para adequar a criança ao seu convívio social, visto que era um ser exposto a fragilidades e precisava se adaptar. Com o tempo, as crianças puderam ser vistas como alunos e assim se configurou o mundo da infância (BOTO, 2002). No decorrer do século XX encontramos pesquisas sobre a infância em ciências humanas e sociais, no campo da psicologia. A criança ficou restrita a esses estudos, sem diálogo com as áreas da sociologia, história e a antropologia e em consequência disso a criança passou a ser classificada como um ser biopsicológico e ignorado como sujeitos sociais (SARMENTO; GOUVÊA, 2008). Hoje podemos notar que há, na história da infância, mais registros epistemológicos e menos sociais epolíticos. Porém, é importante ressaltar que o psicólogo Vygotsky em seus estudos mostrou que para o desenvolvimento intelectual da criança é necessário interagir com o meio social (FREITAS; KUHLMANN JUNIOR, 2002). Educação InfantilEducação Infantil 12 A seguir, vamos estudar um pouco mais sobre a sua teoria e compreender a criança como sujeito social no seu processo de aprendizagem e desenvolvimento. A teoria histórico-cultural de Vygotsky Segundo Vygotsky, o sujeito se constitui através de interações no seu meio social e com essa estrutura social as funções psicológicas são construídas. Pode-se assim dizer que o processo de socialização no qual a criança está inserida resulta em sua aprendizagem e seu desenvolvimento. Durante esse processo, é importante destacar que o brincar é um segmento primordial no desenvolvimento da criança, pois é nesse momento que ela constrói suas brincadeiras simbólicas com características do seu mundo real. É no brincar que a zona de desenvolvimento proximal pode ser ampliada no contexto da criança, pois há uma relação direta com a aprendizagem, envolvendo outras funções como afetividade, memória, linguagem, atenção, entre outras. Dessa forma, a construção de mundo da criança acontece conforme ela vai praticando suas funções (VYGOTSKY, 1991; 1998). Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP): distância entre o que a criança já sabe fazer sozinha para o que ela ainda está aprendendo (PAPALIA; OLDS; FELDMAN, 2006). Outros aspectos importantes nos estudos desse teórico são a emoção e a imaginação. A primeira funciona como um mediador interno ligada ao estímulo externo. Já a imaginação desperta novas emoções e estratégias mnemônicas, pois auxilia a criança a aprender a partir de experiências. Junto a tudo isso temos a linguagem, a qual contribui para o seu desenvolvimento oral, escrito e gestual. Pode-se dizer que todos esses aspectos juntos: linguagem, emoção, memória, imaginação e pensamento, contribuem para que a criança seja um ser social que constrói sua relação com o mundo (VYGOTSKY, 1991; 1998). Educação InfantilEducação Infantil 13 O mnemônico está relacionado à memória e é caracterizado como um conjunto de técnicas utilizadas para auxiliar o processo de memorização. Existem várias técnicas que podem te ajudar a não esquecer de coisas durante o dia a dia, além de auxiliarem nos estudos. Você pode criar uma técnica de acordo com suas necessidades. ACESSE: Visite os links a seguir e saiba mais sobre a técnica dos mnemônicos http://bit.ly/3bTT8jX e https://bit.ly/3bQbvGm. Vygotsky define funções elementares, ou meio biológico, como um padrão biologicamente definido para todos os seres humanos. Já as funções superiores, ou meio sociocultural, são os aspectos comportamentais adquiridos nas relações sociais por meio da linguagem. A criança, através de seu contexto social, sofre interferência no seu comportamento com as vivências mediadas pela linguagem, isso aconte- ce através da relação desses meios ou funções (VYGOTSKY, 1991; 1998). Contribuições dos estudiosos da educação Vygotsky foi, sem dúvida, um precursor com sua teoria, a qual continua contribuindo para os estudos científicos e psicológicos até os dias de hoje. Porém, outros estudiosos também desenvolveram suas teorias que ajudaram na compreensão, desenvolvimento e formação das crianças. A contribuição de Émile Durkheim (1858-1917) foi fundamental para a sociologia e além de influenciar políticos, sociólogos, pesquisadores e suas ideias, influenciou os educadores. Durkheim entende a educação como um poderoso instrumento para a construção contínua de uma moral coletiva. Ele separa a solidariedade em mecânica e orgânica. Na mecânica, os homens se juntam por meio de valores, cultura, religião ou sentimento comum, assim esses indivíduos ainda não se diferem. Já a orgânica é aquela em que os homens são diferentes entre si. A união deles Educação InfantilEducação Infantil http://bit.ly/3bTT8jX https://bit.ly/3bQbvGm Alberto Júnior 14 só acontece devido à necessidade de um com o outro para desenvolver algum tipo de atividade social. Esses dois tipos de solidariedade contribuem para o conceito de consciente coletivo (LUCENA, 2012). Figura 1: Educadores que influenciaram a educação Fonte: Wikimedia Commons Outro teórico, John Dewey (1859-1952), acreditava que a formação acontece no âmbito familiar, onde os mais novos aprendem com os mais velhos sobre como pensar, agir e sentir, ou seja, um processo contínuo e de renovação. Já a escola entra como um mediador para ampliar esse caminho, acolhendo as dificuldades que acontecem nesse processo e possibilitando condições para que seu aluno possa ser inserido no ambiente social. Assim, podemos resumir que a criança recebe de seus pais e/ou familiares os ensinamentos de suas experiências de vida, o que os prepara para a sociedade, juntamente com a escola que dá continuidade a esse processo. O pensamento de Dewey, nesse sentido, é estar em constante atualização para reconstruir e renovar as experiências vividas e a forma de pensar de acordo com as circunstâncias (COTRIM; PARISI, 1979). William Heard Kilpatrick (1871-1965), discípulo de Dewey, defende em sua teoria a importância de educar a sociedade para respeitar a personalidade de cada indivíduo. Além disso, acreditava que a educação busca melhorias durante a vida em relação a pensamentos e atitudes, fazendo isso através do desenvolvimento contínuo, esse processo deve Educação InfantilEducação Infantil Alberto Júnior Alberto Júnior Alberto Júnior Alberto Júnior 15 começar na infância. Sua principal obra é A função social cultural docente na escola (COTRIM; PARISI, 1979). Para Ovide Decroly (1871-1932), a criança precisa ter um conhecimento de si mesma em todos os aspectos: suas necessidades, vontades, como é o funcionamento do seu corpo, por quê e quando sente fome, frio e calor, por que ela pode sentir medo ou tristeza e em que momentos fica feliz. Depois, ela precisa compreender o ambiente em que vive e os indivíduos ao seu redor, o que pretende e quais trabalhos realizam para atender as suas necessidades e desejos. Seu método se fundamenta em três estágios: • Observação: colocar a criança próxima a objetos, pessoas e fatos; • Associação: interagir com ela mesma, objetos, questões temporais de presente e passado, o que está perto e distante; • Expressão: expor seu pensamento através da fala, escrita, desenhos (COTRIM; PARISI, 1979). Outra importante contribuição para o pensar sobre a criança, encontramos em Maria Montessori. Ela apresenta relevante reflexão sobre a necessidade de a criança ser incluída na vida social desde os primeiros anos, conversando e deixando ela se expressar, explicando todas as coisas que pertencem ao seu meio. Não se trata apenas de pensar sobre esse impacto da inclusão no desenvolvimento da leitura e escrita, mas também na sua vida social (LILLARD, 2017). Edouard Claparede (1873-1940) escreve a Educação funcional para refletir sobre o atender das necessidades e interesses das crianças. É preciso conhecer a criança exatamente como ela é para ajudá-la a satisfazer suas vontades. Além disso, acredita no dinamismo infantil como o resultado da relação dos aspectos físicos e psíquicos. Sua Teoria do Brinquedo influencia a construção do pensamento, pois no ato de brincar existe a possibilidade do enfrentamento de problemas a serem resolvidos de forma dinâmica através de soluções inteligentes (COTRIM; PARISI, 1979). Educação InfantilEducação Infantil Alberto Júnior Alberto Júnior Alberto Júnior 16 SAIBA MAIS: Quer sabem mais sobre a Educação Infantil e o conceito de Infância? Assista ao vídeo a seguir “Contexto da infância no Brasil”, da TV Cultura, disponível em: https://bit.ly/2NuPFPy. RESUMINDO: Na teoria desenvolvida por Vygotsky, a linguagem é o instrumento de mediaçãousado entre os sujeitos, contribuindo para o aprendizado e desenvolvimento. Por meio da linguagem, a criança em seu contexto social descobre o mundo explorando e interagindo com ele. Esse processo de compreensão e descoberta de mundo encontra-se presente nas brincadeiras simbólicas, bem como em outras funções psicológicas acompanhadas com a linguagem, imaginação, memória e emoção. Até aqui, conhecemos pensadores que influenciaram a Educação Infantil. Educação InfantilEducação Infantil https://bit.ly/2NuPFPy 17 Dimensão política sobre a educação da criança INTRODUÇÃO: Neste capítulo vamos entender como se instituíram as políticas públicas em relação à educação das crianças, como foi a construção de leis e a institucionalização do Ministério da Educação em nosso país. Por quase dois séculos, a Companhia de Jesus comandou a educação no Brasil com os padres Jesuítas no período de 1549 a 1759. Com o tempo, a formação ficou restrita à classe dominante e não tinha mais sentido para a vida prática da colônia. No século XVIII, um novo período se instalava na educação do nosso país: o iluminismo. Sua influência do por toda a Europa atinge Portugal e consequentemente chega ao Brasil. Assim, Marquês de Pombal buscou modernizar o ensino através das Ciências Experimentais e, mesmo após a expulsão dos padres Jesuítas em 1759, houve muitas barreiras por conta da forte estrutura deixada pela Companhia de Jesus (COTRIM; PARISI, 1979). Por mais de um século, muitos acontecimentos desgastaram esse processo de mudanças até a Proclamação da República, em 1889, momento em que a esperança reacendeu no país diante do triste quadro educacional. Porém, só em 1915 foi criada uma campanha para o processo educacional, visando promover atividades para a escola primária e a escola popular, liderado por Olavo Bilac (COTRIM; PARISI, 1979). Com a propagação de escolas pelas cidades, educadores passaram a observar que ao ensinar, as estratégias didáticas utilizadas não atendiam a todas crianças. A partir daí, os educadores foram em busca de respostas e perceberam que era preciso entender seus alunos no “momento de aprender”, visando as questões do desenvolvimento. A criança passou a ser estudada em suas condições biológica, psicológica e educativa por meio de pesquisas em crescimento e adaptação social. Contudo, surge Educação InfantilEducação Infantil Alberto Júnior Alberto Júnior Alberto Júnior Alberto Júnior 18 uma desaprovação da pedagogia da imposição, pois é baseada em medos e castigos, o que despertou uma pedagogia científica (COTRIM; PARISI, 1979). Com base nessa pedagogia, surge o movimento Escola Nova, para reformar o ensino e implementar as ciências aplicadas, como a psicologia e biologia, no campo da educação. Esse movimento aconteceu após 1920 e tinha como principais representantes Lourenço Filho, Anísio Teixeira e Fernando de Azevedo que defendiam a escola pública, laica e obrigatória. Apesar dos obstáculos encontrados por educações tradicionais, as suas ideias continuaram a influenciar e disseminar a pedagogia contemporânea (COTRIM; PARISI, 1979). Com a Revolução de 1930, no governo de Getúlio Vargas, foi criado o Ministério da Educação e Saúde com o objetivo de organizar a educação. Com a constituição de 1934 e 1937, as ideias da Escola Nova influenciam no direito de receber uma educação vinda da família e dos poderes públicos. Com a queda de Vargas, foi aprovada a Constituição Liberal de 1946, que influenciou a construção de um estatuto que estabeleceria as diretrizes e bases do ensino no Brasil. Após 13 anos de discussões, o projeto foi aprovado na Lei nº 4.024 de 20 de dezembro de 1961 (COTRIM; PARISI, 1979). Foi em 1962 que a Lei de Diretrizes e Bases passou a vigorar, estabelecendo o direito à educação. Assim, criando o Conselho Federal de Educação: TÍTULO II DO DIREITO À EDUCAÇÃO Art. 2º A educação é direito de todos e será dada no lar e na escola. Parágrafo único. À família cabe escolher o gênero de educação que deve dar aos seus filhos. Art. 3º O direito à educação é assegurado: I – pela obrigação do poder público e pela liberdade de iniciativa particular de ministrarem o ensino em todos os graus, na forma da lei em vigor; Educação InfantilEducação Infantil Alberto Júnior Alberto Júnior Alberto Júnior 19 II – pela obrigação do estado em fornecer recursos indispensáveis para que a família e, na falta desta, os demais membros da sociedade se desobriguem dos encargos da educação, quando provada a insuficiência de meios, de modo que sejam asseguradas iguais oportunidades a todos. (COTRIM; PARISI, 1979, p. 272) RESUMINDO: Neste capítulo vimos como as políticas públicas em relação à educação das crianças foram construídas ao longo da história, bem como a instituição da Lei de Diretrizes e Bases. Educação InfantilEducação Infantil 20 Aspectos legais que amparam a criança INTRODUÇÃO: Nesse tópico, serão abordados os aspectos legais que amparam a criança, compreendendo quais leis foram estabelecidas com a finalidade de defender seus direitos, reconhecendo-as como cidadãs que necessitam de cuidado e atenção nesse período tão importante do desenvolvimento. Essas iniciativas contribuíram para a valorização da infância, promovendo uma mudança na forma em que a sociedade via e tratava as crianças, bem como a maneira como essa visão se modificou com o passar do tempo. Figura 2: Valorização da Infância Fonte: Pixabay Aspectos legais Um documento considerado marco na história dos direitos humanos é a Declaração Universal dos Direitos Humanos, aprovada em 1948, que Educação InfantilEducação Infantil 21 estabelece em seu Artigo 1º: “Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade”. Tal documento considera que a dignidade humana é inerente a “TODOS” os membros da família humana. Contudo, isso é colocado de uma forma muito generalizada. ACESSE: ACESSE o link a seguir e leia a “Declaração Universal dos Direitos Humanos”: https://bit.ly/1vsw6aL. Feita a leitura, você vai observar que o termo “criança” é citado no documento apenas uma vez. É possível refletir, a partir do que aprendemos na unidade anterior, sobre a motivação de alguns aspectos mencionados na declaração e sobre a motivação para a criação de novos documentos, como a garantia de alguns direitos de forma específica para as crianças, conforme estudaremos adiante. Nossa Constituição estabelece de forma mais clara e objetiva os direitos da criança, considerando os princípios proclamados na carta da Nações Unidas em 1945. A carta das Nações Unidas foi motivada por uma necessidade de defender a liberdade e os direitos humanos. Ela foi assinada com o objetivo de acabar com o totalitarismo e os regimes militares. Somente a partir do século XX é que a infância passou a ser reconhecida legalmente, a partir da publicação do primeiro documento internacional em defesa da criança, nomeado como a Declaração Universal dos Direitos das Crianças (1959). Seu conteúdo teve como base a Declaração de Genebra de 1924. De acordo com a Declaração Universal dos Direitos das Crianças, estabelece-se como direitos da criança: Educação InfantilEducação Infantil https://bit.ly/1vsw6aL Alberto Júnior 22 1. Igualdade, sem distinção de raça, religião ou nacionalidade; 2. Proteção para o seu desenvolvimento físico, mental e social; 3. Um nome e uma nacionalidade; 4. Alimentação, moradia e assistência médica adequadas 5. Educação e cuidados especiais às crianças com deficiência; 6. Amor e compreensão por parte dos pais e da sociedade; 7. Educação gratuita e lazer infantil; 8. Serem socorridas em primeiro lugar, em caso de catástrofes; 9. Serem protegidas contra o abandono e a exploração no trabalho; 10. Crescerem dentro de um espírito de solidariedade,compreensão, amizade e justiça entre os povos. ACESSE: ACESSE o link a seguir e leia na íntegra a “Declaração Universal dos Direitos das Crianças” (UNICEF), de 20 de novembro de 1959: https://bit.ly/1MDkd7v. Ainda em 1979 foi decretada a Lei 6.697, que estabeleceu o Código de menores. Esse documento defendia a doutrina da situação irregular, ou seja, entendia as crianças menores de 18 anos de idade como um objeto de medidas judiciais. EXEMPLO: Crianças abandonadas, crianças marginalizadas, crian- ças vítimas de alguma violência etc. Diante dos documentos citados e considerando que a criança é um sujeito que necessita de cuidados em decorrência de sua imaturidade física e mental, foi necessário conferir o dever de assegurar às crianças esses direitos à família e ao Estado, conforme o Artigo 227 da Constituição Federal, o qual estabelece que: Educação InfantilEducação Infantil https://bit.ly/1MDkd7v Alberto Júnior Alberto Júnior Alberto Júnior 23 É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, a saúde, a educação, ao lazer, a profissionalização, a cultura, a dignidade, ao respeito, à liberdade e a convivência familiar e comunitária. Além de colocá-los a salvo de toda forma negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. TESTANDO: Por que será que foram estabelecidos esses direitos de proteção à criança? Faça uma breve recordação dos marcos da história em relação a cada um desses itens assegurados no Artigo 227 da Constituição Federal de 1988. De forma geral, temos o conhecimento de algumas leis de uma forma muito generalizada e não paramos para refletir sobre sua aplicabilidade no dia a dia. Podemos ver um exemplo disso no Art. 5º da Constituição Federal que diz: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade”. Bem, agora que vimos os principais documentos de amparo às crianças, vamos prosseguir com o estudo do principal documento voltado à proteção das crianças no Brasil. Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) foi estabelecido pela Lei 8.069/1990 e é considerado um marco na defesa dos direitos das crianças (0-12 anos de idade) e adolescentes (12-18 anos de idade) brasileiros. Educação InfantilEducação Infantil Alberto Júnior Alberto Júnior 24 Figura 3: Crianças e adolescentes Fonte: Pixabay Mas o que mais o ECA nos traz além do que consta nos documentos citados anteriormente? E qual a diferença do Código de Menores? O ECA revogou o Código de Menores de 1979, que defendia a doutrina da situação irregular e trouxe um novo modelo baseado no princípio da proteção integral, reconhecendo a criança e o adolescente como sujeitos de direitos, além da garantia dos direitos das crianças e dos adolescentes. Ele também estabelece os direitos e deveres do Estado e da sociedade como responsáveis pelos mesmos, fundamentando-se no Artigo 227 da Constituição Federal, já citada anteriormente, e isso se dá independente de sua condição (regular ou irregular). O objetivo do ECA é garantir à criança e ao adolescente todos os direitos inerentes ao ser humano e específicos à sua condição, independentemente de raça, crença, etnia, classe social e da condição familiar, garantindo-lhes o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social. REFLITA: Como seria se não existissem leis que garantissem os direitos e a proteção das crianças hoje? Educação InfantilEducação Infantil Alberto Júnior Alberto Júnior 25 Com essa reflexão, você irá compreender a criança como um sujeito dependente de cuidados. Vamos usar como exemplo um bebê: para que ele sobreviva, cresça e se desenvolva, é necessário que um adulto lhe dê alimento, dedique cuidados com sua higiene e saúde, lhe dê estímulos adequados para o seu bom desenvolvimento. Caso isso não aconteça, ele não terá condições de ter esses cuidados por si mesmo e virá a óbito. SAIBA MAIS: Após a implantação do ECA, o Brasil reduziu o índice de mortalidade infantil em 24%. Para saber mais, acesse a notícia em: https://bit.ly/2MbXLLg. Agora, vamos estudar alguns artigos contidos nesse documento. Primeiramente você deve saber que o ECA é composto por 267 artigos que estão divididos em dois livros. O Artigo 1º dispões sobre a proteção integral à criança e ao adolescente, e está fundamentado no Art. 227 da Constituição Federal. Ele reconhece a criança e o adolescente como sujeitos de direito com absoluta prioridade, respeitando a condição de desenvolvimento em que se encontram. Por que as crianças e adolescentes são tratados com absoluta prioridade, não podendo ter as mesmas garantias de direitos dos adultos? As crianças e os adolescentes são tratados com absoluta prioridade porque a constituição os reconheceu como sendo credoras de atenção especial por serem pessoas em desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social. Os Artigos 7º e 8º abordam o cuidado assegurado a todas as mulheres gestantes, garantindo nutrição e condições adequadas para o parto, além de apoio psicológico no período pré e pós-natal e de orientação sobre amamentação. Dessa forma, é possível observar o cuidado e a proteção com a criança mesmo antes de seu nascimento. Educação InfantilEducação Infantil https://bit.ly/2MbXLLg 26 No Artigo 9º, após o nascimento da criança é considerado dever do poder público, das instituições e dos empregadores garantirem condições adequadas para as mães e seus filhos no período de amamentação. Figura 4: Amamentação Fonte: Pixabay O Artigo 13º menciona três documentos que garantem possibilidade de proteger a criança de maus-tratos ou em caso de a mãe não querer ficar com seu filho: 1. Conselho Tutelar: local para onde são encaminhadas as crianças com suspeita ou confirmação de maus-tratos; 2. Justiça da Infância e da Juventude: local onde realiza-se atendimento às mães que tenham interesse em doar seus filhos, seja qual for a razão; 3. Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS): local onde realiza-se acompanhamento terapêutico às crianças na primeira infância, vítimas de violência. Até aqui vimos um panorama sobre o direito à vida e à saúde das crianças. A seguir, veremos de forma resumida o direito à liberdade, ao respeito e à dignidade. Mas antes de iniciarmos, convido você a refletir sobre o que é respeito e dignidade. Educação InfantilEducação Infantil 27 Respeito é um sentimento que leva alguém a tratar outra pessoa com atenção e consideração. Dignidade é a consciência que temos de nosso próprio valor. A partir dessas definições, vamos pensar na realidade do nosso dia a dia. Será que as crianças e adolescentes têm sido tratadas com respeito e dignidade? Como isso pode ser feito? SAIBA MAIS: Leia o artigo “Dignidade e educação infantil: visão de pais e educadores”. Disponível em: https://bit.ly/2QxNXho. Dessa forma, do Artigo 15º ao 18º o ECA garante direito: • À liberdade: direito da criança de ir e vir, dar opinião, brincar, ter uma religião, buscar orientação e participar da vida familiar e comunitária; • Ao respeito: proteger a integridade física, psíquica e moral das crianças; • À dignidade: sendo dever de todos zelar pela dignidade da criança colocando-as a salvo de correção em forma de castigo físico geralmente aplicados por pais e educadores. Em 2014 foi estabelecida a lei da palmada (Lei nº 13.010/2014) que proíbe o uso de castigos físicos como forma de disciplina. Do artigo 19º ao 24º é descrita a importância da convivência familiar e comunitária para o bom desenvolvimento da criança e do adolescente, garantindo-lhes o direito de serem criados e educados porsua família ou, na ausência ou falta desta, por uma família substituta. O documento descreve as várias possibilidades de constituição familiar sendo: a família natural, a família substituta, da guarda, da tutela e da adoção. Para enten- der melhor cada uma delas, leia do artigo 25º ao 52º do ECA. Educação InfantilEducação Infantil https://bit.ly/2QxNXho https://bit.ly/2YKsrVw 28 Figura 5: Família Fonte: Pixabay A educação ganha atenção especial nos artigos 53° a 59º, nos quais é posto que todas as crianças e adolescentes têm direito à educação, visando o pleno desenvolvimento como pessoa e o preparo para o exercício da cidadania. Eles também devem ter acesso à escola pública e gratuita, perto de suas residências. O artigo 56º aborda uma realidade que deve ser respeitada e combatida. A escola deve comunicar ao conselho tutelar casos de maus- tratos, faltas injustificadas e evasão escolar. Dentro do processo educacional, o artigo 58º diz que é preciso respeitar os valores culturais, artísticos e históricos próprios do contexto social de cada criança e adolescente. Cabe aos educadores proporcionar dinâmicas sobre diversidade cultural em sala de aula, promovendo respeito entre os alunos. ACESSE: Não deixe de ler o artigo “5 maneiras eficientes para trabalhar a diversidade na sala de aula”, disponível em: https://bit.ly/2IdLBfZ. Educação InfantilEducação Infantil https://bit.ly/2IdLBfZ 29 Agora, vamos conhecer um pouco sobre o direito à profissionalização e à proteção do trabalho, descritos do artigo 60º ao 69º. Crianças até os 13 anos de idade são proibidas de exercer qualquer tipo de trabalho. É considerado trabalho infantil toda forma de trabalho remunerado, ou não, que privam as crianças e adolescentes de experiências próprias de suas idades, como estudar e brincar. Dos 13 aos 16 anos de idade o trabalho é permitido apenas na condição de aprendiz, onde o jovem frequenta a escola em um período do dia e no outro realiza o ensino profissionalizante supervisionado. Entre os 16 e 18 anos de idade o trabalho é permitido, porém o jovem não pode trabalhar no período noturno e nem exercer tarefas consideradas de risco. O trabalho infantil é um descumprimento desses direitos, pois compromete o desenvolvimento físico e psicológico da criança. O ECA é considerado uma referência. Portanto, é importante que você tenha conhecimento do seu conteúdo para refletir com seus alunos sobre os direitos e as responsabilidades para o pleno exercício da cidadania e ajude sua escola a construir um novo olhar sobre a infância. O direito da criança de brincar Um dos direitos específicos garantidos às crianças é o direito de brincar. É curioso pensarmos, nos dias de hoje, que foi necessária a criação de uma lei para garantir esse direito às crianças, não é mesmo? Educação InfantilEducação Infantil 30 Figura 6: Crianças brincando Fonte: Pixabay A Declaração Universal dos Direitos da Criança (1959) foi fortalecida pela convenção dos Direitos da Criança (1989) para garantir o direito de toda criança de brincar e divertir-se, sendo dever da sociedade e das autoridades públicas garantirem esse direito. O Estatuto da Criança e do Adolescente, em seu artigo 16º, também assegura à criança o direito de brincar, mas esse direito foi ainda mais fortalecido com a implantação da Lei nº 13.257/2016 sobre a primeira infância. Essa lei garante às crianças de 0 a 6 anos de idade prioridade no desenvolvimento de programas, na formação de profissionais e na formulação de políticas públicas. Foi a partir dessa lei que surgiram as organizações de espaços lúdicos em todos os lugares públicos ou privados em que tenha circulação de crianças. Educação InfantilEducação Infantil 31 ACESSE: A professora Tizuko Morchida, da Faculdade de Educação da USP, em entrevista a Tatiane Bertoni, discorreu acerca do brincar a e das brincadeiras na infância, seus significados e sua importância. Não deixe de conferir: https://bit.ly/2QumFEz. Você precisa entender que o brincar é essencial para as crianças, pois enquanto se divertem elas também desenvolvem aspectos físicos, emocionais e cognitivos. Por isso, é preciso garantir espaços lúdicos para que essas brincadeiras aconteçam, pois eles promovem a diversão e o aprendizado dessas crianças. Vigotsky (1987) entende o brincar como uma atividade humana criadora, na qual imaginação, fantasia e realidade interagem na produção de novas possibilidades de interpretação, de expressão e de ação pelas crianças, assim como de novas formas de construir relações sociais com outros sujeitos, crianças e adultos. É por meio da brincadeira, imaginação, fantasias e questionamentos que as crianças irão aprender e compreender o mundo ao mesmo tempo que constroem sua identidade pessoal e coletiva. Você acredita no brincar como o viver da infância ou acredita no brincar como forma de aprendizado? RESUMINDO: Neste tópico, aprendemos sobre os documentos legais que garantem os direitos das crianças e entendemos que elas estão em um período de aprendizado constante. A seguir, vamos conhecer as legislações que regem a educação para esse público. Educação InfantilEducação Infantil https://bit.ly/2QumFEz 32 Aspectos legais da Educação Infantil INTRODUÇÃO: A Constituição reconhece que o Estado tem o dever de garantir o direito das crianças de serem atendidas em creches e pré-escolas e vincula esse atendimento à área educacional. Neste capítulo, vamos estudar quais são os aspectos legais da Educação Infantil. Por que as creches e pré-escolas foram vinculadas a um atendimento educacional? Antes a Educação Infantil era vista como um ambiente de cuidado e estava na esfera da ação social, ou seja, era um espaço que cuidava das crianças no período em que seus pais ou responsáveis estavam trabalhando. Mas então, qual é a diferença de cuidar e educar? Cuidar significa a ação de tomar conta de alguém e educar é dar a alguém todos os cuidados e instruções necessárias para o pleno desenvolvimento do ser humano. Para cuidarmos de alguém não é necessário conhecimento pedagógico, basta alimentar a criança, mantê-la limpa e segura. Essa ação pode ser realizada em ambiente doméstico. Porém, se pensarmos em um atendimento educacional podemos relacionar esses dois conceitos. Quando uma cuidadora vai dar banho em um bebê, ela pode durante esse processo cantar músicas nomeando as partes do corpo enquanto lava-as. Essa simples ação estimula o desenvolvimento da criança em seus aspectos físicos e cognitivos. Educação InfantilEducação Infantil Alberto Júnior 33 Figura 7: Cuidados com os bebês Fonte: Pixabay Portanto, a partir do cuidado eu posso também realizar uma ação pedagógica. A educação nada mais é do que um conjunto de processos pedagógicos tendentes ao desenvolvimento geral do ser humano. Nesse sentido, vamos compreender a implantação e o funcionamento da Educação Infantil no Brasil. A Educação Infantil foi regulamentada a partir da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº 9.394/1996). Esse documento define a Educação Infantil como a primeira etapa da Educação Básica, tendo como finalidade o desenvolvimento integral da criança de 0 a 6 anos de idade, em seus aspectos físicos, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade. A Educação Básica está dividida em três etapas: 1. Educação Infantil; 2. Ensino Fundamental (I e II – Anos Iniciais e Anos Finais); 3. Ensino Médio. Educação InfantilEducação Infantil Alberto Júnior Alberto Júnior Alberto Júnior Alberto Júnior Alberto Júnior Alberto Júnior 34 Também foram instituídas as Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação Infantil (Resolução CNE/CEB nº 1, de 07/04/1999). Nelas está descrito que é dever do Estado garantir a oferta de Educação Infantil pública, gratuita e sem critério de seleção. Ela deve ser oferecida porcreches e pré-escolas em espaços institucionais não domésticos que constituem estabelecimentos educacionais públicos ou privados, que educam e cuidam de crianças de 0 a 5 anos de idade. Além disso, esse documento estabelece a obrigatoriedade da matrícula das crianças de 4 a 6 anos de idade na Educação Infantil. As propostas pedagógicas descritas nas Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação Infantil regem três princípios: • Princípios éticos: da autonomia, da responsabilidade, da solidariedade e do respeito ao bem comum, ao meio ambiente e às diferentes culturas, identidades e singularidades; • Princípios políticos: garantir os direitos de cidadania dessa criança, o exercício dessa cidadania e o respeito à democracia; • Princípios estéticos: a valorização da sensibilidade, da criatividade, da ludicidade e da liberdade de expressão nas diferentes manifestações artísticas e culturais. Figura 8: Brincando na escola Fonte: Unsplash Educação InfantilEducação Infantil Alberto Júnior Alberto Júnior Alberto Júnior Alberto Júnior Alberto Júnior Alberto Júnior Alberto Júnior 35 O Programa Currículo em Movimento da Educação Básica nos traz quatro eixos a serem trabalhados na Educação infantil: educar, cuidar, brincar e interagir. Esses eixos são considerados indissociáveis. Através dessas dimensões, vamos entender que o ato de alimentar, cuidar e vestir pode ser utilizado para desenvolver o intelecto da criança, propor atividades que haja envolvimento afetivo, psicológico e cognitivo. Outro documento muito importante divulgado pelo Ministério da Educação em 1990 é o Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil (RCNEI). Ele se fundamenta na orientação dos trabalhos a serem desenvolvidos nas creches e pré-escolas, apresentando objetivos e conteúdos a serem trabalhados nessa etapa educacional com orientações didáticas, relativas à avaliação do desenvolvimento da criança. Outros documentos foram publicados pelo Ministério da Educação (MEC) com o objetivo de subsidiar as práticas presentes nas escolas de Educação Infantil. A seguir, vamos comentar alguns deles: • Parâmetros Nacionais de Qualidade para a Educação Infantil: tem como objetivo orientar o sistema de ensino com os padrões de referência e organização, gestão e funcionamento de creches e pré- escolas de todo país. Esse documento é considerado um norteador para implementar e avaliar políticas públicas educacionais para crianças de 0 até 5 anos de idade (BRASIL, 2006); • Indicadores da Qualidade na Educação Infantil: esse documen- to é um instrumento de autoavaliação institucional que visa o en- volvimento de todos da comunidade escolar, objetivando a cons- trução de uma escola de qualidade (BRASIL, 2009). ACESSE: A Cidade de Santos realizou uma experiência diferenciada, ao avaliar a educação infantil “com a participação de 867 representantes de comunidades escolares das redes municipal e conveniada de ensino”. De forma prática e democrática, realizaram uma autoavaliação participativa, demonstrando os indicadores da qualidade na Educação Infantil. Assista agora: https://bit.ly/2Qx3euL. Educação InfantilEducação Infantil https://bit.ly/2Qx3euL Alberto Júnior Alberto Júnior Alberto Júnior Alberto Júnior 36 • Parâmetros Básicos de Infraestrutura para Instituições de Educação Infantil: esse documento foi desenvolvido com o objetivo de realizar adaptações dos espaços de Educação Infantil, desenvolvendo projetos relacionados à qualidade dos ambientes escolares (BRASIL, 2006); • Política Nacional de Educação Infantil: pelo direito das crianças de 0 a 6 anos à educação: esse documento trabalha em prol das políticas para Educação Infantil, contribuindo para um processo mais democrático de implementação de políticas para crianças de zero a seis anos de idade (BRASIL, 2006).I; SAIBA MAIS: Aprofunde seus conhecimentos realizando a leitura do artigo “As políticas públicas no contexto da Educação Infantil”. Disponível em: http://bit.ly/2OZCMx8. Nova Base Nacional Comum Curricular (BNCC): é considerado um documento essencial para melhorar a qualidade de ensino. Seu conteúdo detalha os objetivos de aprendizagem para Educação Infantil e Ensino Fundamental. Sua última versão traz modificações significativas. ACESSE: E o que muda na Educação Infantil a partir da BNCC? Confere aqui no bate papo da TC Cultura com a educadora Beatriz Ferraz: https://bit.ly/2JHvUkb. Educação InfantilEducação Infantil http://bit.ly/2OZCMx8 https://bit.ly/2JHvUkb Alberto Júnior Alberto Júnior 37 Figura 9: Direitos de aprendizagem e desenvolvimento Fonte: Adaptado de Brasil (2017) Como exemplo de participação no pensar a Educação Infantil, encontramos experiências nas quais os profissionais participam da construção de modelos práticos e contextualizados. Por exemplo, alguns profissionais da gestão municipal de São Paulo elaboraram o Currículo da Cidade – Educação Infantil publicado em 2019. Esse documento busca integrar as experiências práticas das crianças dessa rede de ensino, trazendo novas possibilidade e atuação na Educação Infantil. ACESSE: Visite o link a seguir e conheça mais sobre as propostas do Currículo da Cidade para a Educação In fantil, da Cidade de São Paulo: https://bit.ly/30MKPii. A Educação Infantil se tornou alvo de interesse de muitas pesquisas, abrangendo diversas temáticas relacionadas às práticas de educação e aos cuidados das crianças. A finalidade da Educação Infantil no Brasil é o desenvolvimento integral da criança de 0 a 5 anos de idade em seus aspectos físicos, intelectual, linguístico e social. É importante destacar que não é função só da escola a educação infantil. Essa educação será complementada pela educação que a criança tem em casa e na comunidade em que vive. Educação InfantilEducação Infantil https://bit.ly/30MKPii 38 Será que com essa garantia de direitos todas as crianças de 0 a 5 anos de idade no Brasil frequentam a escola? Mesmo com a iniciativa de tantas políticas garantindo a educação dessa população, muitas crianças nessa faixa etária ainda estão fora das creches e das pré-escolas, a principal razão desse cenário é muitas vezes a falta de vagas. RESUMINDO: Chegamos ao final desta unidade. Aqui vocês viram diversos documentos que subsidiam as práticas presentes nas escolas de Educação Infantil, assim como garantem os direitos dessas crianças. Educação InfantilEducação Infantil 39 REFERÊNCIAS ARIÉS, F. História Social da Criança e da Família. Rio de Janeiro: LTC, 1981. BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal: Centro Gráfico, 1988. BRASIL. Estatuto da Criança e do Adolescente, Câmara dos Deputados, Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990. DOU de 16/07/1990 – ECA. Brasília, DF. Disponível em: https://www.chegadetrabalhoinfantil.org. br/wp-content/uploads/2017/06/LivroECA_2017_v05_INTERNET.pdf. Acesso em: 11 mar. 2021. BRASIL. Lei nº 9.394: Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB). Diário Oficial da União, Brasília, 2017. Disponível em: http://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/529732/lei_de_ diretrizes_e_bases_1ed.pdf. Acesso em: 11 mar. 2021. BRASIL. Lei nº 13.005, de 25 de junho de 2014. Aprova o Plano Nacional de Educação – PNE e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 26 jun. 2014. Disponível em: https://bit.ly/3lo7XOH BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria da Educação Fundamental. Referencial curricular nacional para educação infantil. Brasília, 1991. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/ rcnei_vol1.pdf. Acesso em: 11 mar. 2021. BRASIL. Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação. Parâmetros Nacionais de Qualidade para a Educação Infantil. Brasília: MEC/SAEB, 2006. BRASIL. Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação. Parâmetros Básicos de Infraestrutura paraInstituições de Educação Infantil. Brasília: MEC/SAEB, 2006. BRASIL. Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação. Indicadores de Qualidade na Educação Infantil. Brasília: MEC/SAEB, 2009. Educação InfantilEducação Infantil https://www.chegadetrabalhoinfantil.org.br/wp-content/uploads/2017/06/LivroECA_2017_v05_INTERNET.pdf https://www.chegadetrabalhoinfantil.org.br/wp-content/uploads/2017/06/LivroECA_2017_v05_INTERNET.pdf http://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/529732/lei_de_diretrizes_e_bases_1ed.pdf http://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/529732/lei_de_diretrizes_e_bases_1ed.pdf https://bit.ly/3lo7XOH http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/rcnei_vol1.pdf http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/rcnei_vol1.pdf 40 BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. 2017. Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/ BNCC_EI_EF_110518_versaofinal_site.pdf. Acesso em: 11 mar. 2021. BOTO, C. O desencantamento da criança: entre a Renascença e o Século das Luzes. In: FREITAS, M. C. de; KUHLMANN JUNIOR, M. (orgs.). Os intelectuais na história da infância. São Paulo: Cortez, 2002. p. 11-60. COTRIM, G; PARISI, M. Fundamentos da educação: história e filosofia da educação. São Paulo: Saraiva, 1979. FREITAS, C. de F; KUHLMANN JUNIOR, M. Os intelectuais na história da infância. São Paulo: Cortez, 2002. GOUVEA, M. C. S. A escrita da história da infância: periodização e fontes. In: SARMENTO. M. J; GOUVEA, M. C. S. (orgs.). Estudos da Infância: educação e práticas sociais. Rio de Janeiro: Vozes, 2008, p. 119-140. LILLIARD, P. P. Método Montessori: uma introdução para pais e professores. São Paulo: Manole, 2017. LUCENA, C. O pensamento educacional de Émile Durkheim. Revista HISTEDBR On-line, Campinas, SP, v. 10, n. 40, p. 295-305, ago. 2012. OLIVEIRA-FORMOSINHO, J.; KISHIMOTO, T. M.; PINAZZA, M. A. Pedagogia (s) da infância: dialogando com o passado, construindo o futuro. Porto Alegre: Artmed, 2011. SARMENTO. M. J; GOUVEA, M. C. S. Apresentação – Olhares sobre a infância e a criança. In: SARMENTO. M. J; GOUVEA, M. C. S. (orgs.). Estudos da Infância: educação e práticas sociais. Rio de Janeiro: Vozes, 2008, p. 07-14. VIGOTSKY, L. S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1991. VIGOTSKY, L. S. O desenvolvimento psicológico na infância. São Paulo: Martins Fontes, 1998. Educação InfantilEducação Infantil http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_EF_110518_versaofinal_site.pdf http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_EF_110518_versaofinal_site.pdf Analice Oliveira Fragoso Educação Infantil Criança como sujeito histórico-crítico A teoria histórico-cultural de Vygotsky Contribuições dos estudiosos da educação Dimensão política sobre a educação da criança Aspectos legais que amparam a criança Aspectos legais Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) O direito da criança de brincar Aspectos legais da Educação Infantil Novo marcador
Compartilhar