Buscar

388906595-Sexualidade-Infancia-Professores

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 21 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 21 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 21 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

25/07/13 :: Psicopedagogia On Line :: Portal da Educação e Saúde Mental ::
www.psicopedagogia.com.br/artigos/artigo.asp?entrID=984 1/21
Cursos & Eventos
CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO E APERFEIÇOAMENTO 2013
SEDES
CURSO DE FORMAÇÃO EM PSICOPEDAGOGIA CLÍNICA
EPSIBA
EDUCAÇÃO CONTINUADA MBA, Especialização, Aperfeiçoamento, Aprimoramento e Extensão
COGEAE
Quinta-Feira, 25 de Julho de 2013 15:09:23
Para imprimir este artigo sem cortes clique no ícone da impressora
>>>
 
SEXUALIDADE NA INFÂNCIA: O QUE PENSAM OS (AS) PROFESSORES
(AS) DE EDUCAÇÃO INFANTIL?
Dângella Dalinny Pereira Venâncio, Flávia Santos de Arruda, Sandra
Patrícia Ataíde Ferreira
RESUMO
O objetivo deste artigo foi investigar como os (as) docentes concebem
a sexualidade infantil, bem como se incluem esta temática em sua
prática pedagógica. Para tanto, foram realizadas seis observações em
uma creche comunitária, mais precisamente em duas turmas: uma
contendo alunos de 3 a 4 anos e outra com alunos de 4 a 5 anos, e
entrevista individual com as professoras das respectivas turmas. O
resultado deste trabalho apresenta que a dificuldade que as professoras
têm em abordar orientação sexual (OS) na escola, se dá, entre outras
coisas, pela confusão que elas fazem entre sexo e sexualidade e pela
falta de uma formação adequada, resultando assim na insegurança em
lidar com este tema com as crianças.
Palavras-Chave: infância, sexualidade, orientação sexual.
1.INTRODUÇÃO
Embora a temática sexualidade esteja presente nos meios de
comunicação, nas discussões sociais, nas músicas, na literatura, ela
ainda é, muitas vezes, tratada como algo proibido e inaceitável,
especialmente, quando se trata do desenvolvimento da sexualidade
infantil e suas expressões no espaço escolar.
A cultura tem forte influência no desenvolvimento da sexualidade dos
indivíduos e a maneira como uma sociedade concebe e lida com ela se
revela, por exemplo, no modo como os adultos reagem frente aos
primeiros contatos exploratórios que as crianças fazem em seu corpo e
que, em geral, é revestido de medo, culpa ou susto.
Essas atitudes ocorrem devido ao tipo de educação – influência cultural
– que esses adultos receberam e de suas experiências pessoais, e isso
pode repercutir na maneira como as crianças possam vir a praticar sua
sexualidade na vida adulta, pois segundo a perspectiva vygotskyana:
o processo de desenvolvimento nada mais é do que a apropriação
ativa do conhecimento disponível na sociedade em que a criança
nasceu, ou seja, é preciso que ela aprenda e integre em sua maneira
de pensar o conhecimento da sua cultura. (DAVIS; OLIVEIRA, 1994,
p.54).
Home Quem Somos Conteúdo Interesse Geral Serviços Busca
http://www.psicopedagogia.com.br/
http://www.psicopedagogia.com.br/arquivo/curso_evento.shtml
javascript:self.print()
http://www.psicopedagogia.com.br/
25/07/13 :: Psicopedagogia On Line :: Portal da Educação e Saúde Mental ::
www.psicopedagogia.com.br/artigos/artigo.asp?entrID=984 2/21
p.54).
A pouca circulação de informação sobre os comportamentos sexuais
infantis, mostra o quanto o conservadorismo de uma cultura acerca
deste assunto pode refletir sobre o ser humano e assim passar a ser
reforçada/reproduzida pela família, pela religião e pela própria
escola, dado às regras que cada sociedade cria, formulando assim
parâmetros para o comportamento sexual dos indivíduos.
A importância de o (a) professor (a) tratar deste assunto com as
crianças é que assim elas passam a compreender melhor como se dá a
construção do corpo e as relações afetivas, visto que o
desenvolvimento do ser humano ocorre a partir da interação de suas
condições biológicas com outros indivíduos e com a cultura em que ele
está inserido. Por isso ser relevante “(...) desenvolver no educador um
olhar para a sala de aula, de modo a perceber nela o que ocorre de
forma clara e o de forma não tão clara, porque a sexualidade está
presente em nossas vidas, muitas vezes, de forma não explícita”
(SILVA, 2002, p.34). Ou seja, o (a) professor (a) não deve apenas
dominar os conteúdos programáticos das matérias pelas quais é
responsável, mas também ser capaz de inserir temas transversais que
fogem à especificidade que está habituado a lidar.
2. SEXUALIDADE: CONSIDERAÇÕES HISTÓRICAS, SOCIAIS E
EDUCACIONAIS 
Conforme Ribeiro (1996), tratar sexualidade como “objeto do
conhecimento” não quer dizer dicotomizá-la do contexto no qual está
inserida, pelo contrário, ela faz parte de um universo de relações do
meio social, incluindo costumes, civilização, mitos e síntese de
experiências vivenciadas. Conhecê-la significa organizar, estruturar e
explicar, em um contexto de vida, as ações sobre os objetos que estão
dentro de um sistema social historicamente construído.
Houve um tempo em que falar e fazer sexo não demandava muitas
restrições. Durante o século XV e XVI era admitido que as pessoas
satisfizessem suas necessidades sexuais para não pôr a saúde em risco;
as trocas de carícias eram permitidas e, para acalmar as crianças, os
pais masturbavam-nas. Com a ascensão da burguesia no século XVII, a
sexualidade passa a ser vista como a união entre os sexos, ao amor, ao
matrimônio e, principalmente, à procriação. “(...) Desnecessário
dizer, portanto, que o coito entre pessoas do mesmo sexo era
francamente desaprovado”. (PORTER, 1998 apud OLIVEIRA, 2001, p.
24). 
No século XVIII, predominam as idéias de Rousseau que têm como
fundamento a crença na bondade do homem e a sociedade como a
origem do mal. Seu trabalho inspirou reformas e políticas educacionais
cujos objetivos da educação seriam o desenvolvimento das
potencialidades da criança e o seu afastamento dos males sociais. Em
sua obra Emílio ou Da Educação, ele associa o sexo à dor, ao
sofrimento, às perversões e ao enfraquecimento, por isso, os
interesses da criança por essa questão deveriam ser retardados pela
educação.
Chauí (1987) apud Oliveira (2001) mostra que, no século XIX, o sexo
passou a ser investigado e estudado num contexto médico-científico,
25/07/13 :: Psicopedagogia On Line :: Portal da Educação e Saúde Mental ::
www.psicopedagogia.com.br/artigos/artigo.asp?entrID=984 3/21
passou a ser investigado e estudado num contexto médico-científico,
em que a maior preocupação era classificar as patologias físicas e
psíquicas, a propagação de doenças venéreas, os desvios e as
anomalias sexuais com objetivos higiênicos e profiláticos como
reguladores das condutas consideradas anormais. A prática higienista
teve a escola como um de seus propagadores, uma vez que a família
não correspondia de modo satisfatório às prescrições de higiene
transmitidas pela pedagogia médica.
A partir disso, tanto na Europa quanto no Brasil, surgiram os internatos
e os colégios para complementarem a educação familiar aproveitando-
se do discurso da higiene para normatizar o comportamento dos
alunos. Sob posse do saber médico, o âmbito da educação empenhou-
se, entre outros, no combate à masturbação e, nessas circunstâncias,
segundo Werebe (1998) apud Oliveira (2001), os (as) professores (as)
evitavam o despertar da curiosidade dos (as) alunos (as)
desenvolvendo assim o medo e a repulsa nos (as) educandos (as) em
relação à sexualidade. Assim, a escola se mostra como espaço da não-
sexualidade.
No início do século XX, Freud, Fundador da Psicanálise, revolucionou e
combateu muitas idéias nos meios científico e médico de sua época a
respeito da sexualidade. A idéia mais ousada foi o postulado da
existência da sexualidade na infância. Para ele, o recém-nascido traz
consigo princípios de moções sexuais que se desenvolvem por algum
tempo até sofrerem uma anulação progressiva, mas que a vida sexual
da criança costumava aparecer de forma mais acessível à observação
no período de três ou quatro anos de idade.
Freud (1905) postulou o desenvolvimento sexual infantil em fases a
partir da organização da libido - que é uma força quantitativamente
variável que poderia medir os processos e transformaçõesocorrentes
no âmbito da excitação sexual. A libido está apoiada em uma zona
erógena corporal que “trata-se de uma parte da pele ou da mucosa em
que certos tipos de estimulação provocam uma sensação prazerosa de
determinada qualidade” (FREUD, 1905/2002, p. 61). A cada fase do
desenvolvimento sexual corresponde uma estrutura biológica de base,
havendo o deslocamento da zona erógena ao longo desse
desenvolvimento. As fases ou estágios podem ser assim descritos
(SHIRAHIGE; HIGA, 2004):
Fase Oral (0-1 ano): a zona erógena principal, zona de prazer, é a
boca, com lábios e língua. Os objetos de prazer escolhidos são os
seios, dedos, chupeta, alimentos etc. É através da boca, com o ato da
sucção, que a criança passa a conhecer o mundo externo e estabelece
contato sensorial com outra pessoa, permitindo assim, a formação da
afetividade;
Fase Anal (1-3 anos): nesta fase o ânus é a zona das tensões e
gratificações sexuais. A sensação de prazer ou desprazer está
relacionada à expulsão ou retenção das fezes, ou seja, a manipulação
das mesmas. A criança evacua quando se sente aceita pelo ambiente -
as fezes são dadas como prendas/recompensas -, e se nega a fazê-lo
quando se sente assustada ou rejeitada;
Fase Fálica (3-4 anos): a zona erógena são os órgãos genitais. Chama-
se fálica pelo fato do pênis ser o principal objeto de interesse da
criança de ambos os sexos. Nesta fase, surge o Complexo de Édipo,
25/07/13 :: Psicopedagogia On Line :: Portal da Educação e Saúde Mental ::
www.psicopedagogia.com.br/artigos/artigo.asp?entrID=984 4/21
criança de ambos os sexos. Nesta fase, surge o Complexo de Édipo,
que é a relação de amor que a criança desenvolve com seu progenitor
do sexo oposto, e impulsos de rivalidade e ciúme em relação ao
progenitor do mesmo sexo. Este período também se caracteriza pelo
aparecimento do Complexo de Castração, que no menino se revela sob
o signo do medo da castração. Ele teme que seu pai, enciumado de
seu relacionamento com a mãe, castigue-o, castrando-o. Na menina, o
Complexo de Castração apresenta-se a partir do sentimento de
angústia gerado pela descoberta da ausência do pênis. O Narcisismo,
outro fenômeno que caracteriza essa fase, aplicado à primeira
infância, é chamado narcisismo primário. Neste momento, a criança
não relaciona sua libido com o mundo externo, ou seja, ela não
distingue o “eu” e o “não-eu”. Sua única realidade é seu próprio corpo
com suas sensações de frio, calor, sono, sede. A criança é para si
mesma o objeto de amor;
Período de Latência (5-6 a 11-12 anos): corresponde ao primeiro
período de escolarização (1ª a 4ª série) que antecede a adolescência.
A libido é deslocada dos objetos sexuais para o desenvolvimento
intelectual e social das crianças, pois é neste período que se inicia a
repressão da energia sexual;
Fase Genital: apresenta-se na fase de adolescência, quando os
impulsos sexuais reprimidos durante o período de latência são
reativados. Nesta fase, o narcisismo é substituído por um amor que
gere um relacionamento de satisfação mútua. A reprodução é a
principal função e os aspectos psicológicos ajudam na realização desse
objetivo.
É importante salientar que a passagem de uma fase para outra não
significa o desaparecimento total da anterior, ou seja, em vários
momentos da vida as pessoas podem apresentar as marcas de uma
determinada fase.
O Pai da Psicanálise atribuiu ao âmbito educacional a responsabilidade
de uma moral sexual repressiva, já que as crianças da época
apresentavam noções de pudor, vergonha, pecado e inibição
resultados das excessivas restrições pelas quais passavam. Para ele, as
crianças deveriam receber informações sobre questões sexuais,
sempre que demonstrassem interesse pelo assunto, pois não é negando-
as que farão com que elas permaneçam puras, ao contrário, são os
adultos que criam o mistério ao redor dos assuntos sexuais.
Os adultos costumam ficar embaraçados quando as crianças, por
exemplo, perguntam como os bebês entram na barriga da mãe. Para
responderem esse tipo de pergunta, antes de se deixarem influenciar
pelas regras sociais comuns, eles deveriam ter consciência de que as
crianças só querem satisfazer suas curiosidades.
Conforme Silva (2002), o Brasil é um dos países que está
desenvolvendo trabalhos referentes às experiências na área da
sexualidade humana dentro da escola. Essas mudanças mostram-se
representadas e são apoiadas, por exemplo, na inclusão da Orientação
Sexual (OS) na proposta dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs),
como tema transversal a ser levado para dentro da sala de aula, como
se observa nessa passagem do referido documento: 
O papel da escola é abordar os diversos pontos de vista, valores e
25/07/13 :: Psicopedagogia On Line :: Portal da Educação e Saúde Mental ::
www.psicopedagogia.com.br/artigos/artigo.asp?entrID=984 5/21
O papel da escola é abordar os diversos pontos de vista, valores e
crenças existentes na sociedade para auxiliar o aluno a encontrar um
ponto de autoreferência por meio da reflexão (...). O trabalho de
orientação sexual na escola é entendido como problematizar, levantar
questionamentos e ampliar o leque de conhecimentos e de opções
para que o aluno, ele próprio, escolha seu caminho. (BRASIL, 1997, p.
121)
Os PCNs também deixam claro que a orientação sexual na escola não
substitui, nem concorre com a função da família, mas antes a
complementa.
O Ministério da Educação apresenta que o acesso a OS é um direito de
todo (a) cidadão (ã), crianças e adolescentes presentes na escola
brasileira, cabendo assim, aos (as) educadores (as) construírem uma
maneira pela qual estas opções devem ser inclusas no dia-a-dia do
trabalho pedagógico dos (as) alunos (as) e professores (as).
Embora as autoridades educacionais brasileiras tenham se sensibilizado
sobre a importância desta temática na escola, incluindo nos PCNs a OS,
quando isto diz respeito à Educação Infantil e Fundamental, torna-se
bastante polêmica, pois muitos docentes conservam, ainda hoje, um
posicionamento retrógrado. A escola reflete os padrões e normas de
comportamentos vigentes na sociedade e, muitas vezes, acaba
reproduzindo muito do que se passa no âmbito familiar e social como a
omissão, repressão ou negação de questões de ordem sexual que
surgem entre as crianças e os jovens.
A curiosidade infantil estende-se a todos os aspectos da vida, inclusive
o sexual. Embora pareçam “assustadoras” para os adultos, essas
curiosidades fazem parte da tentativa da criança entender os
diferentes acontecimentos e pessoas do mundo ao seu redor, pois da
mesma forma que ela aprende a andar e falar, ela vai aprendendo
sobre seu corpo, suas sensações, seu gênero e sua sexualidade a partir
desses questionamentos.
Egypto (2003) argumenta que geralmente os (as) professores (as) não
estão preparados (as) para tratar com esse tipo de situação e muito
menos com a masturbação em sala de aula. Pantoni, Piotto e Vitória
apud Rosseti-Ferreira (2003) discutem que o (a) professor (a) primário
(a) sabe que a criança pequena muitas vezes se masturba em classe,
cabendo a ele (a) saber diferenciar se esta masturbação é uma auto-
exploração ou se ela está querendo alertar de que algo não vai bem.
O alerta pode ser verificado quando o ato de se masturbar se torna
freqüente e repetitivo, pois a criança pode estar usando esse recurso
para mostrar que algumas de suas necessidades afetivas não estão
sendo satisfeitas, por exemplo, falta de atenção, ansiedade, tristeza
ou tédio. Ela busca seu corpo para compensar o mal-estar, já que é
uma fonte de prazer e alivia a tensão; ou para agredir o adulto ao
fazê-lo.
É necessário que o (a) professor (a) aborde o (a) aluno (a) para poder
conversar com ele (a), investigar o que sente; ensinar o que é
intimidade e que para tudo tem seu lugar e hora. Mas para isso, é
preciso que o (a) docente conheça o desenvolvimento sexual infantil,
respeite esta fase da criança e possa ter condições de promover
projetospsicopedagógicos para auxiliar na construção da sexualidade e
na orientação sexual das mesmas.
25/07/13 :: Psicopedagogia On Line :: Portal da Educação e Saúde Mental ::
www.psicopedagogia.com.br/artigos/artigo.asp?entrID=984 6/21
na orientação sexual das mesmas.
Além de tudo isso, é necessário também que este (a) professor (a)
receba formação contínua e supervisão para dar conta dessas questões,
uma vez que, não é só quando o (a) professor (a) planeja que este
assunto vai surgir; as crianças manifestam dúvidas sobre a sexualidade
o tempo inteiro.
O saber sexual, na maioria das vezes, não faz parte dos conteúdos
curriculares da maioria dos cursos de graduação que formam estes (as)
professores (as), resultando na inadequação da seleção, seqüenciação e
desenvolvimento dos conteúdos. Deve-se também levar em
consideração quais as condições para o (a) professor (a) realizar este
trabalho. Muitos (as) deles (as) encontram dificuldade de ordem
material, como: condições de trabalho inadequadas, recursos materiais
deficientes e falta de circulação de material didático, entre outras.
É preciso então que o (a) docente tenha contato com uma formação
específica para prepará-lo (a) ao nível de conhecimento, metodologia
e postura para trabalhar a sexualidade com as crianças a fim de “(...)
possibilitar ao aluno autonomia para eleger seus valores, tomar
posições e ampliar seu universo de conhecimento” (BRASIL, 1997, p.
123) em relação a este tema.
Enfim, as dificuldades em tratar sobre esse assunto precisam ser
esclarecidas através de um trabalho educacional mais eficaz, ou seja,
aponta-se a importância do diálogo sobre sexualidade dentro dos
espaços escolares, bem como uma formação docente que contemple a
questão da mesma, possibilitando que este tema seja abordado e
discutido com as crianças sem preconceitos ou de maneira mais
esclarecedora. 
Existe o conhecimento de que esta dificuldade em tratar sobre
sexualidade com as crianças, no âmbito escolar, se expressa, muitas
vezes, na falta de habilidade ou mesmo de crença dos (as) professores
(as) em relação à existência da sexualidade em tenra idade; uma vez
que “muitos consideram, ainda hoje, a abordagem das questões
sexuais na escola como algo não-sadio, pois estimularia precocemente
a sexualidade da criança” (CAMARGO; RIBEIRO, 1999, p.39). Daí o
objetivo de se pesquisar como os (as) educadores (as) concebem a
sexualidade infantil, bem como se incluem esta temática em sua
prática pedagógica e cotidiana, tomando como base o Projeto Político
Pedagógico da escola e o planejamento semanal e/ou mensal desses
(as) educadores (as). 
Assim, através desta investigação, espera-se estar contribuindo para
que os (as) professores (as) reflitam sobre o desenvolvimento das suas
próprias sexualidades e possam avaliar ou reavaliarem suas práticas
quanto a esses aspectos, para que assim, conforme Silva (2002), eles
(as) possam produzir, juntamente com a escola, um trabalho
pedagógico e sistemático voltado para a orientação sexual de seus
(suas) alunos (as). 
3. METODOLOGIA
A pesquisa foi realizada em campo, através de um estudo de caso, que
“é a seleção de um objeto de pesquisa restrito, com o objetivo de
aprofundar-lhe os aspectos característicos” (SANTOS, 2002, p.31), e
25/07/13 :: Psicopedagogia On Line :: Portal da Educação e Saúde Mental ::
www.psicopedagogia.com.br/artigos/artigo.asp?entrID=984 7/21
aprofundar-lhe os aspectos característicos” (SANTOS, 2002, p.31), e
com utilização das seguintes técnicas de coleta de dados: observação,
entrevista e análise documental. 
3.1. As Observações em sala de aula
Com o objetivo de se obter um melhor conhecimento da prática
educativa das professoras e para compreensão de qual significado elas
dão aos “inusitados” acontecimentos que surgem dentro de seu dia-a-
dia pedagógico, como, por exemplo, a situação em que um (a) aluno
(a) dá um “beijo” na boca de outro (a) coleguinha de turma; assim
como para verificar possíveis manifestações sexuais das crianças,
efetuaram-se seis observações em duas salas de aula, uma contendo
crianças de 3 a 4 anos e outra de 4 a 5, cada uma com vinte alunos
matriculados, no período de 16/05/06 a 01/06/06.
O motivo da escolha dessas turmas é pelo fato de ser nesta faixa etária
que “a criança apresenta interesse pelos genitais e pelas diferenças
entre meninos e meninas, marcadamente na questão de presença e
ausência do pênis.” (GUIMARÃES, 1995, p. 48). Além disso, na
instituição investigada, existiam apenas duas turmas com as idades que
mais se adequavam a esta pesquisa.
As observações foram feitas por duas pesquisadoras que ficaram, cada
uma, em uma sala de aula. Essas observações foram realizadas no
horário entre 14h e 16h 30 min, duas vezes por semana, em que foram
feitos registros das ações, situações e dos comportamentos das
docentes e dos (as) discentes que estavam inseridos nesse ambiente,
sem intervenções diretas sobre eles (as). As pesquisadoras ficavam no
canto da sala, sentadas em uma cadeira, junto à educadora, utilizando
papel e caneta para as anotações. No horário do refeitório, saíam para
o meio do corredor, que dava de frente para ele, para obterem uma
melhor visão sobre os (as) alunos (as).
3.1.1. A Creche Investigada
A Creche investigada, localizada na comunidade do Entra Apulso, no
bairro de Boa Viagem, foi fundada em Maio de 1991. Entidade sem fins
lucrativos atende a mais de cem crianças de zero a seis anos, filhos
(as) de noventa mães trabalhadoras da própria comunidade, com
horário de funcionamento de 7h às 17h, de segunda à sexta-feira;
tendo duas horas de almoço (12h às 14h) para as professoras e escalas
para os demais funcionários que, no intervalo de almoço das docentes,
ficam com as crianças que permanecem na instituição por tempo
integral.
Possui boa estrutura física, estando composta por um berçário, duas
salas que atendem crianças entre 1,5 e 2 anos, uma sala com crianças
entre 2,5 e 3 anos, uma outra que atende crianças de 3 a 4 anos e
outra, com alunos de 4 a 5 anos; duas salas de coordenação, sendo uma
delas também de recepção; um refeitório; um parquinho para criança
e um banheiro para banho coletivo.
As salas possuem forma quadrada, geralmente com quatro a cinco
mesas, de quatro lugares cada, adequadas para as crianças, exceto o
berçário que é composto por três berços, colchonetes distribuídos no
chão e três cadeiras apropriadas para as refeições. As paredes são
decoradas com colagens de figuras e com os nomes dos (as) alunos (as);
25/07/13 :: Psicopedagogia On Line :: Portal da Educação e Saúde Mental ::
www.psicopedagogia.com.br/artigos/artigo.asp?entrID=984 8/21
decoradas com colagens de figuras e com os nomes dos (as) alunos (as);
há pranchas com brinquedos para meninos e meninas que ficam ao
alcance das crianças; um filtro, um banheiro e uma pequena pia onde,
após as refeições, eles (as) escovam os dentes. Em cada sala, fica uma
educadora e, no horário da troca de roupa, uma auxiliar ajuda nessa
atividade.
Quanto à estrutura administrativa, hoje atua com dezoito funcionários,
sendo que nove destes trabalham como educadoras; três como
cozinheiras e duas como coordenadoras, sendo uma pedagógica e
outra administrativa. Possui também um conselho fiscal, formado por
alguns pais dos (as) alunos (as), e uma diretoria. 
A creche desenvolve atividades de orientação sócio-familiar com
encontros mensais com os pais em que são tratados temas sobre o
direito das crianças; violência doméstica, verbal, física, emocional e
sexual; educação, higiene e saúde; aleitamento materno; prevenção
de doenças infecto-contagiosas; meio ambiente; assim como,
orientações sobre direito trabalhistas e pensão alimentícia. Tudo o que
é realizado dentro da instituição também é informado à comunidade
através de reuniões: prestação de contas.
Possui apoio financeiro e de serviços de pessoas físicas e jurídicas,
assim como trabalho voluntário de psicólogo, terapeuta floral,médico,
nutricionista e recreadores, visando proporcionar o desenvolvimento
físico, mental e social das crianças. Também conta com o Atendimento
Pedagógico desenvolvido por uma pedagoga voluntária que se reúne
com a coordenadora pedagógica toda terça-feira e, uma vez por mês,
com as demais professoras para auxiliar no andamento dos projetos e
efetuar a atualização de seus conhecimentos. 
Além disso, existe a cooperação da Prefeitura da Cidade do Recife -
PCR, que se responsabiliza pelas refeições e fardamentos das crianças;
pelo material de limpeza da creche; pela formação contínua das
educadoras e pelas cadernetas de freqüências dos (as) alunos (as). As
cadernetas, ao final de cada semestre, por exigência da PCR, devem
ser encaminhadas à prefeitura com uma análise do desenvolvimento de
cada aluno (a), pois é uma forma que ela tem de verificar o trabalho
que está sendo realizado por parte da (s) creche/educadoras junto às
crianças.
3.2. Entrevista com as professoras
Após as observações em sala de aula, foram realizadas entrevistas com
as duas professoras das duas turmas observadas a partir de um roteiro
semi-estruturado. Esse roteiro era composto de vinte e duas questões
que abordavam desde perguntas mais amplas sobre a educação e
orientação sexual que elas receberam na escola, na família e na época
de preparação para a docência, até perguntas mais específicas, como
aquelas relacionadas às suas práticas pedagógicas atuais: se as crianças
apresentam algum tipo de comportamento sexual durante a aula, se
elas incluem OS em seus planejamentos; e especialmente, como
concebem a sexualidade infantil.
As entrevistas ocorreram após as observações porque se pretendia
evitar que o conteúdo nela explorado influenciasse a atuação das
25/07/13 :: Psicopedagogia On Line :: Portal da Educação e Saúde Mental ::
www.psicopedagogia.com.br/artigos/artigo.asp?entrID=984 9/21
evitar que o conteúdo nela explorado influenciasse a atuação das
professoras durante os dias de observação, pois se buscava confrontar
o que foi verificado durante as observações com as
concepções/conhecimentos sobre sexualidade e OS que as mesmas
possuíam.
Foram realizadas entrevistas individuais, na sala da coordenação, em
07/06/06, com a participação de duas entrevistadoras: uma orientava
e dirigia a conversa e a outra intervia quando necessário. O tempo
médio de duração das entrevistas foi de 35 min. Estas foram gravadas
e posteriormente transcritas. 
Sobre as entrevistadas, ambas são da comunidade. Uma delas, a
professora da turma de 3 a 4 anos, com 30 anos de idade, possui
formação em magistério e ensino médio e a outra, da turma de 4 a 5
anos, contando 46 anos de idade, está concluindo o ensino médio. Elas
trabalham nesta instituição há aproximadamente dez anos, sendo que,
a professora da turma de 4 a 5 anos, atua em sala de aula há apenas
dois meses. Antes de assumir efetivamente a função de docente, esta
atuava como substituta das demais professoras, assumindo as turmas
quando da ausência destas nos casos de licença maternidade e/ou
médica. 
3.3. O Projeto Político Pedagógico da Creche e o Planejamento
Mensal das professoras
Com o objetivo de se verificar se a instituição inclui OS ou tópicos
referentes à sexualidade em seu Projeto Político Pedagógico - PPP,
assim como se as educadoras o acrescentam em seu plano de aula, no
decorrer das visitas à escola e das observações em sala de aula, foi
solicitado à coordenadora pedagógica o PPP da creche e o
planejamento de aula mensal das professoras entrevistadas.
Ela apresentou um projeto da creche realizado no ano anterior ao
desenvolvimento desta pesquisa, pois o atual ainda estava sendo
elaborado/atualizado. Este projeto mostra a história da
fundação/sustentação da entidade. Ele traz também o modo como era
feito o trabalho da psicóloga com a aromaterapia, o acompanhamento
que a creche realiza junto aos pais através de reuniões periódicas, em
que discutem sobre os direitos das crianças e fazem a prestação de
contas de tudo o que é realizado dentro dela. Mostra também um
balanço financeiro da despesa anual da instituição.
A coordenadora informou que a creche não possui PPP, pois cada sala
possui seu projeto. No entanto, ao se ter acesso/analisado estes
projetos, percebeu-se que estes não se caracterizavam exatamente
como projetos, mas sim como propostas de exercícios que poderiam
ser realizados junto aos (as) alunos (as). Isto porque são modelos de
atividades para serem aplicadas pelas professoras nas aulas e não um
conjunto de ações/metas que atendam às necessidades pedagógicas da
instituição como um todo. 
Teve-se acesso ao “projeto” Junino, que estava sendo vivenciado por
todas as turmas, que sugeria contos, decoração das salas, ensaios de
danças típicas e pesquisa de receitas; e ao projeto de Leitura e Escrita
do Nome, vivenciado apenas pela turma de 4 a 5 anos, que tinha como
objetivo o aprendizado do nome de cada aluno a partir de um
conjunto de atividades que visava o desenvolvimento da habilidade
motora e do reconhecimento das letras utilizadas para a grafia dos
25/07/13 :: Psicopedagogia On Line :: Portal da Educação e Saúde Mental ::
www.psicopedagogia.com.br/artigos/artigo.asp?entrID=984 10/21
motora e do reconhecimento das letras utilizadas para a grafia dos
nomes.
Quanto ao projeto da professora da turma de 3 a 4 anos, “Brincadeira
é Coisa Séria”, a coordenadora mostrou o caderno de registro da
educadora. A mesma esteve de licença maternidade e por isso havia
uma quebra nas anotações. Mas o que se constatou foi uma descrição
das aulas dadas e das reações dos alunos em seu dia-a-dia em relação
às atividades aplicadas.
Sobre o planejamento mensal das professoras, não foi possível fazer
uma análise, visto que elas não realizam este trabalho, sendo suas
atividades baseadas nos projetos já mencionados.
4. ANÁLISE DOS RESULTADOS
Para verificar as concepções das professoras sobre a sexualidade
infantil, bem como se estas incluem ou lidam com este tema em sala
de aula, foi realizada uma análise qualitativa a partir: (a) do
intercruzamento das várias informações formais e informais obtidas nas
observações e entrevistas; (b) do olhar individual e depois
comparativo sobre as entrevistas. A partir disso, foi possível organizar
os dados nas seguintes temáticas, a saber: (a) influência sócio-cultural
na construção da concepção de sexualidade das educadoras, (b)
formação das professoras e postura das docentes diante das
manifestações sexuais das crianças, (c) a visão das professoras sobre
sexualidade na infância e sobre o momento em que ela surge e, (d)
abordagem de OS na pré-escola e a solução para tratar este tema com
as crianças.
Influência sócio-cultural na construção da concepção de sexualidade
das educadoras
Através das entrevistas, percebeu-se que, durante o período de
desenvolvimento infantil, as professoras não tiveram oportunidade de
tirar suas dúvidas sobre sexualidade com os pais. Era um assunto
proibido, feio, pecaminoso. E por causa disso acabaram aprendendo na
rua, com os amigos e/ou através da leitura.
Isto se revela a partir das respostas dadas pelas entrevistadas quando
foram questionadas sobre se receberam OS em seu âmbito familiar e
educacional, como se observa nos relatos abaixo:
“Em casa não. Assim, escolar sim. (...) Na adolescência, mas em casa
de maneira nenhuma. (...) Perguntei para minha mãe como era que
uma menina se transformava em moça. Minha mãe arrudiou, arrudiou,
arrudiou e nada. Fiquei sabendo porque chegou o momento e pronto.
Ou chegar, assim, e se envolver com um homem como é que a gente
deve se prevenir como é que deve reagir, nunca. Eu nunca tive essa
orientação em casa. Na minha casa não. Foi aprendido na escola, no
decorrer do tempo, com as experiências como no trabalho.” 
(Professora A – turma de 3 a 4 anos).
“Não [recebi orientação sexual], porque na minha época se falasse em
sexo... Há 46 anos atrás. Não. Meus pais eramignorantes, do interior.
Não se falava nesse assunto. Foi até quando eu engravidei do 1º filho e
me botaram pra rua na época. (...) Hoje em dia tem pais que não
25/07/13 :: Psicopedagogia On Line :: Portal da Educação e Saúde Mental ::
www.psicopedagogia.com.br/artigos/artigo.asp?entrID=984 11/21
me botaram pra rua na época. (...) Hoje em dia tem pais que não
aceitam. (...) Aprendi na rua com amigos, com vizinhos, em revistas,
que eu lia muitas revistas, porque revista ensina muito. Hoje em dia
não sabe o que é uma vida sexual quem não quer, quem é burro e
analfabeto. Porque revista tem ensinando, televisão tá ensinando e
tem amigos na rua e escola. Escola num modo de dizer, porque eu
acho que nem na escola tá ensinando. Tá ensinando mais na televisão e
revista.” (Professora M – turma de 4 a 5 anos).
Percebeu-se também que durante sua vida escolar, enquanto
criança/adolescente, uma delas teve um suporte por parte da escola,
mesmo que não fosse de maneira esquematizada, que não houvesse um
espaço apropriado, mas havia orientações ocasionais, como quando
tratavam das doenças sexualmente transmissíveis – DSTs (prevenção),
como também contou em conversas informais. Enquanto que para a
outra professora, não havia espaço para OS no colégio, e isso fez com
que o assunto se tornasse “matéria” que se aprendia no horário do
recreio, entre os amigos e com revistas.
Histórica e culturalmente, o homem foi construindo uma série de
posturas em volta do sexo. Tantas foram as regras, as exigências, as
privações e as permissões criadas que fizeram com que a atividade
sexual se tornasse um tabu social e, principalmente, familiar.
De acordo com Egypto (2003), a dificuldade que existe em se tratar do
assunto dentro da família, acontece pelo fato de muitas vezes ela não
possuir o domínio sobre esse assunto e, conseqüentemente, não saber
como lidar com ele; não ter os subsídios adequados, o controle dos
meios. Ou seja, apesar de existirem, hoje, materiais que explanem
sobre o assunto, ainda há a inibição que é passada de geração a
geração, por parte dos pais/familiares para abordarem esse tema com
os (as) jovens e as crianças.
Embora se saiba o quanto é importante que a família perceba que tem
um papel fundamental na educação de seus (suas) filhos (as), o relato
das professoras revela que ela não assumiu/assume essa
responsabilidade.
Sabe-se que as crianças estão à mercê das influências do meio e que
constroem seu conhecimento na inter-relação com o outro, e por isso
é importante que a escola participe abordando
(...) todas as mensagens transmitidas pela mídia, pela família e pela
sociedade (...). Trata-se de preencher lacunas nas informações que a
criança já possui e (...) criar a possibilidade de formar opinião a
respeito do que lhe é ou foi apresentado. (BRASIL, 1997 p. 122).
É a partir das relações vivenciadas e informações recebidas que o
indivíduo elabora suas concepções sobre a sexualidade, como se
evidencia na fala da seguinte professora:
“Sexualidade pra mim é como a mulher e o homem, que é a criança
que vai crescendo, vai se descobrir (...). Você se descobrir, descobrir
o corpo do parceiro (...). É a mulher se descobrir e o homem se
25/07/13 :: Psicopedagogia On Line :: Portal da Educação e Saúde Mental ::
www.psicopedagogia.com.br/artigos/artigo.asp?entrID=984 12/21
o corpo do parceiro (...). É a mulher se descobrir e o homem se
descobrir sexualmente. (...) Quando você tá se tornando de criança
pra adolescente, de adolescente para homem, para mulher. Aí você
vai descobrindo a sexualidade (...).” (Professora M – turma 4 a 5 anos).
A compreensão do tema pelas professoras, mostra que elas ainda
confundem sexo com sexualidade: “É, acho que é uma coisa boa... né?
Que a gente tem que fazer com consciência, com prazer, amor. Essas
coisas assim.” (Professora A – turma 3 a 4 anos).
Elas apresentam que sexualidade está mais para sexo, o ato em si;
apesar de uma delas também reconhecer que há uma descoberta
individual por parte das crianças, que existe a curiosidade em primeiro
reconhecer seu próprio corpo para poder perceber o do outro.
Conforme Guimarães (1995), sexo é a diferença física entre homem e
mulher, é a atração que um sente pelo outro para a reprodução,
enquanto que sexualidade se refere ao conceito de sexo, uma vez que
leva à reflexão e ao discurso sobre o sentido e intencionalidade do
mesmo. Está ligado à vida, ao amor, ao relacionamento.
Essa concepção de sexualidade como sexo também dificulta no
trabalho de OS dentro da escola, pois acaba fazendo com que as
educadoras pensem que, ao contrário de estarem instruindo os (as)
alunos (as), possam estimular ainda mais a curiosidades por parte deles
(as) e fazer com que eles (as) acabem “despertando” para aquilo o que
aprenderam e passem a apresentar comportamentos “sexuais”.
Formação das professoras e postura das docentes diante das
manifestações sexuais das crianças
Para abordar OS com as crianças, não basta apenas que as professoras
tenham uma boa noção da diferença entre sexo e sexualidade, mais
também que elas possuam conteúdo suficiente para poder discuti-lo de
forma adequada e compreensiva, e para que estejam preparadas para
lidar com as diversas expressões de sexualidade que possam existir no
seu dia-a-dia ou no dia-a-dia da sala de aula.
 
Esses conteúdos deveriam ser tratados durante a preparação destes
(as) educadores (as) para a docência, mas nos cursos de formação
(inicial e/ou continuada) esse ainda não é um tema considerado
primordial e, portanto, não se encontra uma disciplina específica
disponível na estrutura curricular dos mesmos. Com as professoras
pesquisadas não foi diferente, pois conforme discurso abaixo, elas
declaram que a preparação que tiveram para tratar orientação sexual
ocorreu depois de estarem atuando na profissão e, mesmo assim,
através de uma psicóloga da creche, uma vez ou outra, nos encontros
pedagógicos dentro da escola:
“As capacitações que a gente tem aqui é sobre mais educação... mas
fala sobre a sexualidade infantil. (...) a gente tem uma psicóloga, aliás,
ela está até afastada. Aí ela sempre orienta a gente sobre isso (...) Mas
assim, capacitação profunda (...) de puxar o assunto pra gente ta
dentro, não. Mas tocam no assunto assim: pra gente tomar cuidado, pra
25/07/13 :: Psicopedagogia On Line :: Portal da Educação e Saúde Mental ::
www.psicopedagogia.com.br/artigos/artigo.asp?entrID=984 13/21
dentro, não. Mas tocam no assunto assim: pra gente tomar cuidado, pra
tá olhando, porque a criança descobre a sexualidade muito cedo,
muito cedo com os amigos. Amiguinhos né, que eles descobrem
pegando... Menino pega no pênis, pega pra vê o que é, como é, não
sei o quê. Curiosidade. É assim que eles vão descobrindo.” (Professora
M – turma 4 a 5 anos).
“(...) pelo menos quando eu fiz, assim na sala, a gente ta, tem aula
de... com a psicóloga. Tem tudo isso, mas assim, elas não direcionam
diretamente à criança se acontecer alguma situação, digamos, pra
gente conseguir contornar. (...) É... experiência própria. (...) A gente
procurava sempre tirar dúvidas com a psicóloga que tinha aqui (...) Aí
ela é quem orientava a gente toda vez que acontecia um caso.”
(Professora A – turma 3 a 4 anos)
A partir destas declarações, percebe-se que o fato de não terem tido
preparação para lidar com esse tipo de tema, fez com que as
professoras se tornassem inseguras para atuar diante dos
acontecimentos que surgem durante suas aulas, mas isso não as
impedem de buscar apoio de outros (as) profissionais e, através das
orientações recebidas, aprenderem a trabalhar com a situação.
E quando se fala em acontecimentos, é referente a alguns
comportamentos que as crianças apresentaram durante o período de
observação como, por exemplo: em um dos dias de visita, contavam
11 alunos (as) na turma de 3 a 4 anos e quatro ainda estavam no banho,
quando estes últimos entraram na sala de aula, uma menina, que estava
sentada na mesa próximaà porta, tentou pegar no pênis de um deles e
este imediatamente se desviou e brigou com ela. A educadora que
estava organizando a sala para o momento da troca de roupa não
percebeu o que estava acontecendo, mas em outra ocasião, em que
um dos meninos pegou na vulva de duas meninas, quando essas
passaram por ele, e elas foram reclamar para a professora, a mesma
chamou a atenção dele e disse que isso não era certo e fez com que
ele pedisse desculpas às garotas. Ele pediu.
Manifestações como essas aconteciam quase que diariamente, segundo
depoimento das professoras que sempre relatavam fatos que já haviam
acontecido antes mesmo da presença das observadoras ou de quando
não estavam na escola observando, como se verifica abaixo:
“(...) há alguns dias, durante o tempo que vocês estavam observando,
infelizmente não deu pra ela ver né [refere-se a uma das
entrevistadoras], foi em dias que ela não tava (...). Teve um caso de
um menino que deitou uma menina no chão, subiu em cima da menina
e ficou fazendo posição de como tava tendo relações sexuais e essa
mesma menina, pegou um menino, encostou na parede e ficou se
esfregando no menino que chega tava de olho virando. (...) lá no
parque atrás das árvores, na casinha mesmo, todo mundo vendo, (...)
ela tirou a roupa do menino, abraçou o menino e ficou fazendo
movimentos como se tivesse tendo relação sexual.” (Professora A –
Turma 3 a 4 anos).
25/07/13 :: Psicopedagogia On Line :: Portal da Educação e Saúde Mental ::
www.psicopedagogia.com.br/artigos/artigo.asp?entrID=984 14/21
Turma 3 a 4 anos).
“Tenho um aluno. (...) Tem uma boneca na sala, (...) ele pega a
boneca, abraça, beija tanto, beija tanto. (...) Tavam debaixo da mesa
hoje (...) ‘Minha namorada, tia’. (...) Parece que foi hoje. (...) Outro
aluno estava trocando de roupa e uma menina, chegou e pegou no
pinto dele. Aí ele disse: ‘Oh tia! ela tá pegando no meu pinto’. Eu não
tinha nem visto, aí disse a ela: o que é isso em? Que coisa mais feia,
pegando no pinto do amiguinho! Aí ela ficou toda desconfiada.”
(Professora M – Turma 4 a 5 anos).
Assim como no banho, no carinho do colo da mãe, no sugar o seio, as
crianças descobrem sensações agradáveis junto aos (as) colegas, um
satisfazendo a curiosidade do outro e explorando as diferenças entre
si, mas no caso de nossas docentes, elas se sentem constrangidas para
auxiliarem de maneira adequada nesta fase do desenvolvimento de
seus (suas) alunos (as) por se sentirem despreparadas.
Quanto à postura tomada por elas diante das situações, foram
orientadas, pela psicóloga, para não chamarem a atenção dos (as)
alunos (as) para o ato em si, e sim, desviar a atenção deles (as) para
não estimularem a repetição e a curiosidade dos (as) mesmos (as), ou
seja, é muito mais fácil para elas “ignorarem” as manifestações do que
tentarem conversar com as crianças de maneira clara e objetiva sobre
o assunto para que possam orientar aos (as) alunos (as) que existem
momentos e locais adequados para expressar o que sentem.
A forma insegura com que elas cuidam dos fatos em si é também
reflexo do que elas apresentam por não se sentirem “competentes”
para trabalharem com o tema, o que se torna bastante claro no
discurso a seguir:
“Não faça isso! Isso não pode fazer não! Aí eles dizem assim: ‘Por que
tia?’ Aí eu não tenho resposta. Mas eu digo, é porque é feio. Às vezes
eu digo, por nada! Porque não pode! Porque é assim... a gente tem
que ter uma capacitação pra ta preparada, pra gente ter esse tipo de
resposta né. Às vezes eu digo até... olha não pode não, isso é feio,
não pode não, ta certo? Aí eles não fazem.” (Professora M – Turma 4 a
5 anos).
A partir deste comentário percebe-se o quanto faz falta uma
preparação adequada no período de formação do (a) educador (a) para
que este (a) adquira segurança, informações e didática para trabalhar
OS com seus (suas) alunos (as).
Mesmo não havendo preparação durante a formação dos (as) futuros
(as) docentes para trabalhar com OS, na escola, o Brasil (1997)
apresenta que é importante que esses (as) educadores (as) reconheçam
que existe, por parte das crianças e jovens, a curiosidade em volta da
sexualidade e a busca do prazer; e por isso indica que os (as)
professores (as) tenham contato com leituras, teorias e discussões
sobre a sexualidade, com suas temáticas específicas e diferentes
abordagens, para que eles (as) estejam preparados (as) para intervir
25/07/13 :: Psicopedagogia On Line :: Portal da Educação e Saúde Mental ::
www.psicopedagogia.com.br/artigos/artigo.asp?entrID=984 15/21
abordagens, para que eles (as) estejam preparados (as) para intervir
junto aos (as) alunos (as) e para que tenham um espaço para supervisão
dessa prática que deve acontecer de modo sistemático e continuado.
A visão das professoras sobre sexualidade na infância e sobre o
momento em que ela surge
Sabe se que a sexualidade é algo inerente ao ser humano, e que
segundo Freud (1905), apresenta-se desde o momento do nascimento
até a morte, de formas diferentes a cada ciclo do desenvolvimento,
sendo esta também a visão que as docentes pesquisadas possuem, pois
quando questionadas a respeito do surgimento da sexualidade no ser
humano, deram respostas semelhantes. Elas consideram que surge
desde o nascimento:
“Acho que desde que ta na barriga né? (...) Acho que tudo parte do
princípio... acho que não tem, digamos, uma idade “x”. (...) Acho que
é assim, quando ta maiorzinho, ta falando, surge a pergunta.”
(Professora A – Turma 3 a 4 anos)
“Ele já vai descobrindo aí, já de bebê. (...) Aí eu acho que é assim,
um descobrimento. Sei lá, é do ser humano mesmo, é da gente
mesmo, da criança, que já vem de bebê e aí já vai...” (Professora M –
Turma 4 a 5 anos)
Acrescentam ainda que os sentimentos e sensações sexuais que as
crianças sentem são, além de suas curiosidades naturais, expressões de
algo presenciado, ou seja, elas “são inocentes, puras” e por isso,
apenas repetem o que vêem, confirmando assim, que elas pensam que
o comportamento dos (as) alunos (as) não é inerente a eles (as). O que
contradiz com a noção de que sexualidade surge desde a infância,
como se verifica nos relatos abaixo:
“(...) Quando eu vejo uma criança fazendo algo, acho que é alguma
coisa que ela tá vendo e quer passar que ela já aprendeu. Não é uma
coisa que vem dela. Um desejo, não. Eu sinto que é uma coisa que ela
ta vendo ou em casa, ou na televisão mesmo.” (Professora A – Turma 3
a 4 anos)
“Eu acho que eles manifestam assim, é o conhecimento, querer, a
inocência, porque estão descobrindo. (...) Não têm a noção do que é
aquilo. Se aquilo é feio, se é bonito, se deve fazer ou não fazer. É
uma curiosidade deles. Aí, eu acho que já vão descobrindo depois, já
que revista tem ensinando televisão tá ensinando e tem amigos na rua
e escola.” (Professora M – Turma 4 a 5 anos)
As educadoras vislumbram que a infância é a época da inocência e
apontam que a influência do meio é um causador do afloramento
dessas demonstrações sexuais que surgem por parte das crianças. Ou
seja, o contato que elas possuem com os adultos e com a mídia, faz
com que elas adquiram certos comportamentos que não seriam
“adequados” a sua idade e é também por causa do relacionamento
social que se torna tão complicado o trato desse tema com elas, uma
vez que:
25/07/13 :: Psicopedagogia On Line :: Portal da Educação e Saúde Mental ::
www.psicopedagogia.com.br/artigos/artigo.asp?entrID=984 16/21
a discussão das questões da sexualidade humana trás para a escola
muitas das contradições de nossa sociedade, o que desencadeia um
movimento de repensar a sexualidade tanto individual como coletiva
(...) possibilitando a construção de novas idéias. (SILVA, 2002, p. 33)
 
As crianças hoje vivem num mundo sem barreiras: Tv, revistas, tudo
colabora para despertar o interesse e a curiosidade delas em relação à
sexualidade/sexo. Através de conversas informais durante as
observações, a professora da turma de 3 a 4 anos comentouque, às
vezes, até dentro de casa, o “estímulo” surge; os pais que não se
preocupam em ter relações sexuais antes de se assegurarem de que os
(as) filhos (as) não estão vendo e, no entanto, quando as crianças
apresentam certos comportamentos, eles se enchem de preconceitos e
condenam as demonstrações/repetições das mesmas, brigam com elas,
dizem que é feio, errado e não explicam. Esquecem que a sexualidade
também é um processo de aprendizagem que se configura tanto no
âmbito familiar quanto escolar.
Conforme Vygotsky (1984) apud Davis e Oliveira (1994) a criança já
nasce num mundo social e a partir desse momento vai construindo sua
visão de mundo através do relacionamento com adultos ou outras
crianças mais experientes, ou seja, as crianças também constroem
novos conhecimentos com a interação entre as condições sociais nas
quais estão inseridas e suas estruturas orgânicas. 
O Brasil (1997) mostra que as crianças, além de sofrerem influências de
outras fontes, como livros e pessoas não pertencentes à sua família, a
mídia, hoje, é a principal. A TV apresenta propagandas, filmes e
novelas com nível de erotização elevado gerando excitação e
causando ansiedade em relação às curiosidades e fantasias sexuais das
crianças, ou seja, essas fontes exercem influência de maneira
categórica na formação sexual delas e pode levar à aceleração das
manifestações por parte das mesmas.
 
Abordagem de OS na pré-escola e a indicação para tratar este tema
com as crianças
Considerando que as crianças manifestam naturalmente sua
sexualidade, desde o nascimento, uma vez que são seres sexuados - é
fundamental que os (as) educadores (as) compreendam isso e que
façam um acompanhamento de modo a satisfazer a curiosidade das
mesmas, respeitando seus limites de entendimento e a especificidade
da dúvida que elas apresentam.
Quando questionadas sobre se trabalham este tema com as crianças, as
entrevistadas concordam que é de grande valia uma orientação nessa
direção porque isso pode ajudar não apenas nesta fase de descobertas
corporais, como nas futuras experiências sexuais de cada um (a):
“Eu acho bom. Porque a criança já vai desenvolvendo, já vai
descobrindo sabendo o que é certo pra não tá perdida, como muitas
que tem por aí. Eu acho certo. Isso pra casa, na escola, pra mãe
25/07/13 :: Psicopedagogia On Line :: Portal da Educação e Saúde Mental ::
www.psicopedagogia.com.br/artigos/artigo.asp?entrID=984 17/21
ensinar, tudo. Eu acho certo, não acho errado não”. (Professora M –
Turma 4 a 5 anos)
“Eu acho legal. Assim, agora assim, sabendo colocar pra aquela faixa
etária né. Sabendo... é... colocar de uma maneira que eles entendam,
que não choque muito. Por exemplo: eu não posso falar com uma
criança da maneira que eu falo pra você sobre sexo. Eu acho legal,
porque desde o início eles vão aprendendo. Chegar a idade maior já
tão bem... né... mais espertinhos do que eu na idade deles.”
(Professora A – Turma 3 a 4 anos)
A partir das falas das educadoras, verifica-se que, ambas reconhecem
a importância de OS na educação infantil e destacam o cuidado no
tratamento destas informações, pois não basta apenas conhecer o
desenvolvimento sexual infantil; é preciso primeiro investigar a
imagem ou conceito que a criança já tem para poder falar com ela de
modo que a faça entender o que está sendo dito e satisfaça sua
curiosidade.
Conforme Silva (2002), Orientação Sexual deve ser entendida como um
processo de intervenção sistemático e contínuo para ser aplicado à
escola e que deve envolver toda a comunidade escolar, de modo a
assegurar aos (as) discentes espaços adequados, para receberem uma
informação clara e objetiva para que assim, a partir de conceitos, eles
(as) mesmos (as) possam construir novos conhecimentos e valores para
chegarem a uma ação autônoma e criativa.
Além de argumentarem que precisam possuir uma linguagem
“aprimorada” para poderem conversar sobre sexualidade com os (as)
alunos (as), as professoras revelam ainda a necessidade de se
formarem, desenvolverem-se profissionalmente:
“Eu acho que a gente deveria conhecer mais as coisas, porque os
meninos estão se aperfeiçoando... a gente também tem que se
aperfeiçoar não é. Eu acho que a gente tinha também que se reciclar
nessa parte aí não é? Para poder lidar melhor com casos mais
profundos se aparecer né”. (Professora A – turma de 3 a 4 anos)
“Falta os professores serem orientados para orientar os alunos, pra
conversar com os alunos”. (Professora M – turma 4 a 5 anos)
A partir destas falas, vê-se que as docentes possuem maturidade e
entendimento de suas limitações e possibilidades de concretizar a
orientação sexual no contexto escolar. De modo geral, elas solicitam
oportunidades de crescimento pessoal e formação especializada, já
que, conforme Ribeiro (1999), o preparo dos (as) educadores (as)
implica em estimular as suas potencialidades, suas criatividades e suas
sensibilidades, embasando não só o conhecimento sobre as crianças,
mas também o autoconhecimento.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
De acordo com a pesquisa realizada, além da dificuldade que existe
em encontrar material didático adequado que aborde o assunto, o que
25/07/13 :: Psicopedagogia On Line :: Portal da Educação e Saúde Mental ::
www.psicopedagogia.com.br/artigos/artigo.asp?entrID=984 18/21
em encontrar material didático adequado que aborde o assunto, o que
mais faz falta é uma preparação sobre este tema desde o processo de
formação inicial para se atuar na educação infantil, até um
acompanhamento para a prática no dia-a-dia, ou seja, as professoras
sentem falta de uma formação continuada, de um desenvolvimento
profissional na área.
Percebeu-se o quanto é importante que exista uma Orientação Sexual
dirigida para crianças no intuito de ajudá-las não só a conhecerem seus
corpos como também para ajudá-las a construir seus próprios
conhecimentos/conceitos sobre sexualidade. E para que isso tudo
aconteça, é de fundamental importância que existam profissionais
capacitados para poderem trabalhar com este tema.
Através dos contatos com as professoras foi percebido também que há
certo impedimento pessoal/temor em tratar OS com as crianças
devido a uma cultura repressiva que elas receberam da família em seus
períodos de desenvolvimento. Verificou-se que houve ausência de
orientação sexual por parte dos pais, parentes ou professores (as) e
que as informações que elas tiveram sobre sexualidade, enquanto
crianças/adolescentes, foram através de conversas com os (as)
colegas, de revistas e/ou da tv. O fato da sexualidade não ter sido
tratada com naturalidade dentro da família, fez com que elas não se
sentissem, ou se sintam, à vontade para lidar com o tema, embora
reconheçam a existência deste fenômeno na infância.
Compreendeu-se que uma das formas de ajudar a se trabalhar OS nas
escolas seria através de condições de trabalho adequadas, formação
continuada, entre outras, uma vez que, quando a família não assume a
responsabilidade em lidar com este tema com seus (suas) filhos (as),
esta recai sobre a escola e, mais precisamente sobre os (as)
professores (as), que em geral, também não tiveram OS no âmbito
familiar e/ou escolar, o que acaba refletindo em suas práticas
pedagógicas.
Entre as dificuldades apontadas pelas professoras em abordar OS na
educação infantil, está a política de formação de professores em nosso
país, pois elas argumentam que há uma “deficiência” na estrutura
curricular do curso de preparação para a docência, já que não existe
uma disciplina/especialização que contemple a sexualidade de maneira
específica, definindo estratégias e/ou uso de recursos adequados: e
que também há dificuldade em encontrar material didático que as
ajudem a compreender melhor esta fase pela qual a criança passa e
faça com que se sintam mais seguras para trabalharem o tema.
 
Até mesmo na formação continuada na escola, as educadoras sentem
falta de um direcionamento especial na área. Ou seja, o assunto só é
abordadoquando há uma dúvida específica por parte delas ou porque
houve uma manifestação por parte de um (a) aluno (a); não há um
momento de reflexão/estudo sobre o tema conforme acontece com as
outras áreas de conhecimento.
Essa insegurança/dificuldade em tratar do assunto com as crianças
25/07/13 :: Psicopedagogia On Line :: Portal da Educação e Saúde Mental ::
www.psicopedagogia.com.br/artigos/artigo.asp?entrID=984 19/21
Essa insegurança/dificuldade em tratar do assunto com as crianças
remete também ao fato de acharem que não possuem uma “linguagem
apropriada” para “transmitirem” as informações de modo que não
estimulem aos (as) discentes a fazerem o que as professoras falam ou
que aumentem a curiosidade deles (as) sobre o assunto. Além de
temerem que ao tratarem OS com os (as) alunos (as), acabem
antecipando alguma manifestação por parte dos (as) mesmos (as).
Na realidade, este problema em tratar OS na escola é devido à
confusão que as docentes fazem entre sexo e sexualidade. Quando os
(as) alunos (as) se tocam ou tocam o (a) coleguinha, as educadoras não
pensam que eles (as) estão apenas satisfazendo a curiosidade que
possuem sobre seus próprios corpos e sobre as diferenças existentes
entre seus corpos, seus genitais e os dos outros, bem como, que isso
demanda prazer. Elas imaginam logo que eles estão se masturbando e
que isso deve ser reprimido/corrigido o mais breve possível, já que é
uma coisa “feia”, “errada”, “proibida”; também esquecem, ou
desconhecem, que o ato da masturbação é algo natural nesta idade.
Para poder trabalhar OS com crianças, é necessário não apenas que o
(a) profissional esteja bem preparado (a) e que possua todos os
recursos possíveis para tal a sua disposição, mas antes de tudo, ele (a)
precisa ser ajudado (a) no sentido de tirar o véu do preconceito de
ante de seus olhos. Isto no sentido de transpor as barreiras que
envolvem este tema e assim poder ajudar aos (as) seus (suas) alunos
(as) a construírem novos conhecimentos e deixar com que eles (as)
desenvolvam e exerçam sua sexualidade com prazer e
responsabilidade.
Para isso, é importante também que o (a) docente esteja sempre se
aperfeiçoando em busca de novas fontes que o (a) auxilie nesse
trabalho e que as instituições possibilitem esse desenvolvimento
profissional através de formação continuada e de apoio pedagógico.
Acreditamos que a mudança só se efetivará se o (a) professor (a)
reconhecer sua carência em relação ao assunto e mudar de concepção,
mas para isso é necessário também que eles (as) tenham subsídios
suficientes, e adequados, que os (as) permitam efetuar
reflexões/ações seguras e eficientes em relação a este tema junto aos
seus (suas) alunos (as) e a si mesmos (as). E estes subsídios devem
partir, fundamentalmente, de uma formação satisfatória e plena por
parte dos órgãos educacionais.
ANEXO
ROTEIRO PARA ENTREVISTA
01. Há quanto tempo ensina?
02. Qual tipo de formação?
03. Faz quanto tempo que se formou?
04. Estudou em escola pública ou particular?
05. Há quanto tempo trabalha nesta Instituição?
06. Existe algum tipo de formação continuada? Capacitação?
07. Você considera que a formação inicial para professor (a) oferece
preparação para a realização de Orientação Sexual (O.S) na escola? 
25/07/13 :: Psicopedagogia On Line :: Portal da Educação e Saúde Mental ::
www.psicopedagogia.com.br/artigos/artigo.asp?entrID=984 20/21
preparação para a realização de Orientação Sexual (O.S) na escola? 
08. A formação que você teve ofereceu?
09. O que você acha de O.S para criança na escola?
10. O que você pensa sobre sexualidade na infância?
11. Para você em que momento da vida do individuo a sexualidade
surge?
12. Você identifica manifestação de sexualidade nos seus alunos?
13. Quando há, qual sua postura diante disso? 
14. Os alunos perguntam sobre sexualidade? 
15. Você aborda a sexualidade no cotidiano da sala de aula? 
16. Como você trata isso?
17. Existe apoio da Instituição onde você trabalha para esse tipo de
atuação? 
18. Há recursos/materiais disponíveis para tratar desse assunto?
19. Você acha que precisa de quê para que essa orientação seja
empregada/facilitada na escola?
20. Você recebeu O.S na sua época? 
21. Tanto familiar quanto escolar?
22. O que é sexualidade pra você?
BIBLIOGRAFIA
BRASIL. Secretar ia de Educação Fundamental. Parâmetros Curr iculares Nacionais: pluralidade cultural,
or ientação sexual (vol. X). Brasília: MEC/SEF, 1997. p. 107-154.
CAMARGO, A. M. F. de; RIBEIRO, C. Sexualidade(s) e Infância(s): a sexualidade com um tema transversal. São
Paulo: Moderna; Campinas, SP: Editora da Universidade de Campinas, 1999.
DAVIS, C.; OLIVEIRA, Z. de. A concepção Interacionista: Piaget e Vygotski. In: ____. Psicologia na Educação. São
Paulo: Cortez, 1994 p. 49-54.
EGYPTO, A. C. Or ientação Sexual na Escola: um projeto apaixonante. São Paulo: Cortez, 2003.
FREUD, S. (1905). Três Ensaios sobre a Teor ia da Sexualidade. Rio de Janeiro: Imago, 2002.
GUIMARÃES, I. Educação Sexual na Escola: mito e realidade. São Paulo: Mercado das Letras, 1995.
OLIVEIRA, B. M. de. Sexualidade na Escola: um estudo sobre as representações dos docentes do ensino
fundamental. Recife, 2001. 163 f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Centro de Educação, Universidade
Federal de Pernambuco.
PANTONI, R.V.; PIOTTO, D.C.; V ITORIA, T. Conversando sobre Sexualidade: questões sobre sexualidade na
creche e pré-escola. In: ROSSETI-FERREIRA, M. C. et al. Os Fazeres na Educação Infantil. 6. Ed. São Paulo: Cortez,
2003. p. 67-71.
RIBEIRO, C. A Fala da Cr iança sobre Sexualidade Humana: o Dito, o Explícito e o Oculto. São Paulo: Mercado das
Letras, 1996.
SHIRAHIGE, E. E.; HIGA, M. M. A Contr ibuição da Psicanálise à Educação. In: KESTER, C. (org). Introdução à
Psicologia da Educação. São Paulo: Avercamp, 2004. p. 13-46.
SANTOS, A. R. dos. Metodologia Científica: a construção do conhecimento. 5. ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2002.
SILVA, R. de C e. Or ientação Sexual: possibilidade de mudança na escola. Campinas, SP: Mercado das Letras,
2002.
Publicado em 11/10/2007 16:33:00
Dângella Dalinny Pereira Venâncio, Flávia Santos de Arruda, Sandra
Patrícia Ataíde Ferreira - Dângella Dalinny Pereira Venâncio –
Licenciada em Pedagogia pela Universidade Federal de Pernambuco.
Auxiliar em um escritório de Advocacia. dalinny@hotmail.com
Flávia Santos de Arruda - Licenciada em Pedagogia pela Universidade
Federal de Pernambuco. Professora de Educação Infantil - Prefeitura
Municipal do Recife – Prefeitura Municipal de Jaboatão dos Guararapes.
flavias.a@ig.com.br
Sandra Patrícia Ataíde Ferreira - Doutora em Psicologia Cognitiva
pela Universidade Federal de Pernambuco. Professora do
Departamento de Psicologia e Orientação Educacionais – Centro de
Educação - Universidade Federal de Pernambuco – atuando nos cursos
de Pedagogia e Licenciaturas Diversas; e Professora Colaboradora do
mailto:tandaa@terra.com.br?Subject=Psicopedagogia%20On%20Line%20-%20Artigo%20Publicado
mailto:dalinny@hotmail.com
mailto:flavias.a@ig.com.brSandra
25/07/13 :: Psicopedagogia On Line :: Portal da Educação e Saúde Mental ::
www.psicopedagogia.com.br/artigos/artigo.asp?entrID=984 21/21
de Pedagogia e Licenciaturas Diversas; e Professora Colaboradora do
Programa de Pós-graduação em Psicologia Cognitiva desta mesma
instituição.
Dê sua opinião:
Clique aqui: Normas para Publicação de Artigos
[ Página Inicial | Voltar ]
© 1998 - 2013 Psicopedagogia On Line - Tel/Fax .: 11-5054-1559
Comentár ios: comentar ios@psicopedagogia.com.br
Dir eitos Autor ais 
Esta obr a está licenciada sob uma Licença Cr eative Commons.

Outros materiais