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21/06/2022 19:07 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 1/15 OFICINAS, LUDICIDADE E JOGOS COOPERATIVOS AULA 3 21/06/2022 19:07 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 2/15 Profª Maria Cristina Trois Dorneles Rau CONVERSA INICIAL JOGOS COOPERATIVOS E INCLUSÃO NA ESCOLA As relações sociais estão cada vez mais complexas. As pessoas estão envolvidas em diversos tipos de atividades: administrar a carreira, que exige formação constante; lidar com os avanços tecnológicos, que até determinado momento estavam reduzidos ao acesso às redes sociais; e com a família... E a família? Ao pensarmos nesse segmento, as famílias, como parte essencial da vida de todas as pessoas, paramos para refletir sobre as relações, as interações e o papel essencial que elas têm para todas as pessoas. A família pode ser constituída de diferentes formas, e o que garante a sua formação passa pela ideia de união entre as pessoas, de colaboração, de respeito mútuo, de educação e de tantos outros termos que representam um dos maiores elos entre as pessoas. Por que começamos a falar sobre a família, nesta aula? Porque ela é o primeiro elo entre a criança e a sociedade. É por meio das relações familiares que a criança interage com as concepções de homem, sociedade e educação. Assim, esta aula objetiva falar sobre as interações sociais e culturais das crianças, constituídas por meio das relações que elas estabelecem com o meio. E, por isso, trataremos sobre cooperação e competição como elementos importantes na formação humana. TEMA 1 – COMPETIÇÃO E COOPERAÇÃO Certo dia, a professora Mariana propôs um jogo conhecido por todos: a dança das cadeiras. Você já brincou desse jogo? 21/06/2022 19:07 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 3/15 Crédito: Iakov Filimonov/Shutterstock. Por que a dança das cadeiras é um jogo e não uma brincadeira? Porque o jogo tem regras e a dança das cadeiras segue esse princípio. As regras desse jogo são: Forma-se um círculo com as cadeiras. Disponibiliza-se um número menor de cadeiras do que o número de participantes. Os participantes do jogo se posicionam ao redor das cadeiras, em fila. O jogo usa uma música (gravada, cantada etc.) para dar início à prática. O jogo se inicia com a música tocando e os participantes devem dançar ao redor das cadeiras, movendo-se para frente e, quando a música para de tocar, devem procurar uma cadeira para se sentar. O participante que não consegue uma cadeira para se sentar sai do jogo. Vence o participante que sentar até o final do jogo. Ao reconhecermos as regras dessa brincadeira tradicional, vamos analisar as interações, os movimentos e o que promovem no processo de desenvolvimento e aprendizagem das crianças. 1.1 DANÇA DAS CADEIRAS: UM JOGO COMPETITIVO A dança das cadeiras é um jogo que promove as relações de competição. Entendemos que esse jogo é bastante complexo e, por isso, exige competências socioemocionais e psicomotoras. Dessa forma, considerando o modo convencional de jogar, a dança das cadeiras poderá ser ensinada às crianças a partir da pré-escola, desde que suas ações sejam compreendidas por professores e crianças. Observe a complexidade do jogo. As crianças precisam compreender o que é uma fila e, de forma diversa à organização em outros momentos na escola, agora a fila será em círculo, ao redor das cadeiras. Irá tocar uma música que incitará o desejo de mover o corpo. Será? É comum que as pessoas 21/06/2022 19:07 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 4/15 movam o corpo ou parte dele (pés, mãos, cabeça) ao ouvir um ritmo. Isso diz respeito ao desenvolvimento da expressão corporal. Assim, quando você for realizar esse jogo pela primeira vez, convide as crianças para ouvir as músicas antes e conhecer os ritmos. Deixe que elas movimentem o corpo de forma livre, expressiva, sem combinados ou regras. Só então passe a convidá-las para que participem da brincadeira. Explique as regras do jogo claramente, para que todos compreendam que deverão ouvir o som, mover o corpo e, quando perceberem a interrupção do som, pararem de movimentar o corpo. Disponha o mesmo número de cadeiras quanto o de participantes, para que aprendam a procurar um espaço próprio. Só depois disso retire a primeira cadeira. Novamente: retome a regra para que todos compreendam que ela faz parte do jogo. Jogue várias vezes; deixe que todos participem, entrem e saiam quando desejarem. Comumente, esse jogo é realizado em festas de aniversário infantis, gincanas recreativas na escola ou clubes de lazer. Vemos muitas crianças chorando, ao saírem da brincadeira. E é nesse sentido que apontamos a sua complexidade. No entanto, a dança das cadeiras é um jogo divertido e prazeroso, que aborda o ensino do movimento, a percepção do ritmo e do espaço e da competição. Esclareça as regras; deixe que as crianças façam perguntas para que compreendam que aquelas existem no jogo e também farão parte da vida. Explique que competição existe nas relações sociais desde muito tempo atrás e que ela poderá despertar a percepção das próprias habilidades e competências. As crianças poderão competir consigo mesmas, tentando desenvolver as próprias habilidades. Observar os movimentos e estratégias das outras crianças contribuirá para que revisem os seus próprios gestos e atitudes e, dessa forma, a competição será uma construção saudável para todos. 1.2 DANÇA DAS CADEIRAS: A COMPETIÇÃO E A INCLUSÃO DE CRIANÇAS COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL, TRANSTORNOS DE DÉFICIT DE ATENÇÃO E HIPERATIVIDADE Vamos imaginar que você é professor ou professora regente de uma turma de 23 estudantes com 8 anos de idade, do 3º ano do ensino fundamental em uma escola de ensino regular. Nessa turma, tem uma estudante com deficiência intelectual (DI) leve, outra com transtorno de déficit de atenção com hiperatividade (TDAH), com predomínio da desatenção, ambas com laudo médico e orientação de estudos e acompanhamento por profissional da área da psicopedagogia. Isso ajuda muito, pois você poderá conhecer melhor as características de aprendizagem dessas estudantes. No entanto, sugerimos 21/06/2022 19:07 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 5/15 que o laudo sirva apenas para isso e não para rotular a criança; assim, você deverá se fixar nas suas potencialidades e não apenas nas suas dificuldades. Na turma, você tem, portanto, duas estudantes que precisam de orientações específicas para melhor compreender o processo de ensino e, assim, participar ativamente das aulas, atividades, recreações e eventos na escola. A competição requer dos estudantes algumas habilidades específicas. No que diz respeito aos aspectos motores, é necessário que as crianças tenham agilidade, percepção de ritmo, controle do freio inibitório, coordenação motora global e organização espaçotemporal; nos aspectos cognitivos, a competição implica habilidades de atenção, concentração e organização de pensamento; e quanto ao afeto e socialização, é necessário que os estudantes tenham empatia e boas relações com o outro. Você pode estar pensando: quantas habilidades! E ainda podem existir outras que nós tenhamos deixado de mencionar. Como poderemos trabalhar esse jogo com as crianças com DI e TDAH, considerando suas dificuldades? Como elas estarão em condições de competir com as outras crianças? As características das crianças com TDAH envolvem a pouca habilidade de resolver problemas, autoavaliação e automonitoramento pobres e isso diz respeito à pouca crítica de seu próprio comportamento. E, pela sua dificuldade em organizar sua rotina, comumente elas iniciam muitas atividades, mas não as finalizam. O TDAH é causado por fatores genéticos e riscos biológicos. Os fatores que causam o TDAH afetam o desenvolvimento e o funcionamento de áreas específicas do cérebro, principalmente na região frontal e suas conexões. Essas áreas são responsáveis por funções executivas do cérebro, comoo autocontrole, o automonitoramento, a memória de trabalho, o planejamento, a organização e o controle emocional. (Estanislau; Matos, 2014, p. 153) Já as crianças com DI leve podem apresentar como características atraso no desenvolvimento neuropsicomotor, falta de resposta a estímulos visuais e auditivos e alterações posturais como hipotonia ou hipertonia. Para Duarte (2018, p. 19), A deficiência intelectual (DI) é uma condição clínica caracterizada por limitações evidentes no funcionamento intelectual e no comportamento adaptativo, este último expresso como habilidades adaptativas conceituais, sociais e práticas e as limitações devem estar presentes antes dos 18 anos. Os déficits adaptativos limitam o funcionamento de uma ou mais atividades diárias da criança com DI leve, comprometendo a sua comunicação e o seu aspecto social, e têm reflexos nos diversos ambientes que a pessoa frequenta, como a casa, a escola e o local de trabalho. Contudo, o que pode 21/06/2022 19:07 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 6/15 ser visto como falta de competência ou rara habilidade pode se transformar, para os professores, em objetivos do jogo e, dessa forma, todos os estudantes, com suas características de desenvolvimento e aprendizagem, dele participarão, competindo, assim, consigo próprios e, depois, com os colegas. Se o contexto for criativo, inspirar confiança às crianças, estas participarão do jogo com entusiasmo. Para isso, você poderá inserir algumas insígnias, que serão os desafios do jogo para todos. A primeira insígnia poderá ser a de propor aos estudantes que, ao escutar a música, movam o corpo pelo espaço da sala, longe das cadeiras. A segunda poderá ser que, ao perceber a música parar de tocar, a criança deverá entrelaçar a mão com a da criança que estiver logo atrás na fila. E a terceira? Deixaremos aqui para você elaborá-la, por meio da sua criatividade e reflexão. Com efeito, lembre que a competição é um elemento que poderá ser um conteúdo a ser abordado na formação pessoal de crianças, jovens e adultos para uma atuação ética, de respeito a si e ao outro. Assim, o mais importante da competição, para os estudantes com ou sem deficiências ou transtornos globais do desenvolvimento (TGD), será observar suas atitudes, tentar melhorar suas próprias habilidades e, entre elas, desenvolver comportamentos empáticos e respeitosos consigo e com o outro. TEMA 2 – COOPERAÇÃO E COMPETIÇÃO Ao ler rapidamente o título deste tema, provavelmente você não prestou atenção na inversão dos termos. No item anterior, a competição foi o primeiro termo a ser apresentado e agora ele está em segundo lugar. Isso não quer dizer que a cooperação passe a ter um sentido maior neste tema, mas que ambas, competição e cooperação, fazem parte das regras dos jogos e que podemos tratar de uma e de outra objetivando a formação de um sujeito mais crítico das próprias escolhas, mais empático e solidário consigo e com o outro. Assim, este item abordará as ideias anteriores, pelo olhar da cooperação. 2.1 DANÇA DAS CADEIRAS: UM JOGO COOPERATIVO Certo dia, a professora Mariana insistiu em modificar o jogo da dança das cadeiras. Por que será que ela pensou em mexer na forma de jogar um jogo tradicional? 21/06/2022 19:07 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 7/15 Crédito: BRGFX/Shutterstock. Para isso, a professora escreveu as regras do jogo tradicional em um painel feito com papel kraft e, ao lado de cada regra, inseriu uma imagem que correspondesse à ideia. Em seguida, propôs às crianças que elas pensassem sobre o jogo e descrevessem o que nele gostavam ou não. Por meio das ideias das crianças, a professora Mariana revisou as regras e acrescentou ao lado das imagens das regras tradicionais outras imagens. Observe as regras a seguir e verifique como elas foram transformadas na dança das cadeiras cooperativa: Forma-se uma fileira com as cadeiras. Disponibiliza-se um número de cadeiras igual ao número de participantes. Os participantes do jogo se posicionam livremente próximos às cadeiras. O jogo usa a música (gravada, cantada etc.) para dar início à prática (essa regra não foi alterada). O jogo se inicia com a música tocando e os participantes devem dançar livremente, movendo-se para onde quiserem e, quando a música para de tocar, devem procurar uma cadeira e nela se sentar. A música retorna e uma nova rodada se inicia e duas cadeiras são retiradas. Tudo recomeça como na rodada anterior. Os participantes que não conseguem cadeira para se sentar ficam em pé, em frente a um colega, de mãos dadas. Na próxima rodada, retiram-se mais duas cadeiras e, a partir de agora, os participantes que não conseguirem cadeira para se sentar se sentarão no colo dos colegas. Isso se segue até que fique uma cadeira apenas, no final do jogo. Na última rodada, o grupo deve se organizar de modo que uns sentem no colo uns dos outros. Vence o grupo! 21/06/2022 19:07 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 8/15 Ao observarmos as regras desse jogo tradicional, agora modificadas, vamos analisar novamente as interações, os movimentos e o que promovem no processo de desenvolvimento e aprendizagem das crianças. Observe que a complexidade do jogo continuou; no entanto, a maneira de dele participar foi alterada. As crianças, agora, não precisam estar enfileiradas, e isso lhes propicia liberdade para se movimentarem no espaço, seguindo seu próprio ritmo. Desse modo, quando a música se iniciar, ela não terá que se preocupar com vencer ou sair do jogo e sua atenção poderá se direcionar ao próprio corpo, atendendo ao prazer pelo movimento. Desse jeito, o desenvolvimento da expressão corporal ocorrerá mais facilmente. A expressão das emoções e sentimentos encontra na música e na dança um excelente recurso para aperfeiçoar a capacidade criativa das crianças. Com essa nova forma de jogar, convide as crianças para ouvir as músicas, cantá-las, e elabore outras formas de realizar a atividade. Por exemplo, no lugar das músicas tocadas, você poderá bater palmas, cantar uma cantiga de roda com as crianças ou usar as batidas de um tambor. Continue a explicar as regras claramente para que todos compreendam a nova maneira de jogar. Desse modo, esse jogo, que é realizado em festas de aniversário infantis, gincanas recreativas na escola ou clubes de lazer, poderá ser mais divertido e incluir a todos: crianças, jovens e adultos. Provavelmente, não veremos mais as crianças chorando ao participar da brincadeira, mas seus sorrisos e a sua alegria diante das interações colaborativas desenvolvidas por todos os participantes. TEMA 3 – TRANSFORMAR JOGOS COMPETITIVOS EM COOPERATIVOS: É POSSÍVEL? O jogo dança das cadeiras cooperativa é uma transformação do jogo tradicional e, com as novas regras, poderá atender às características das crianças com DI e TDAH. Praticamente, todos os jogos e brincadeiras tradicionais podem ser transformados em práticas lúdicas cooperativas. Mas, para que isso ocorra, há a necessidade de se transformar o olhar sobre o modo como os participantes agem e interagem consigo e uns com os outros. E isso diz respeito aos objetivos do jogo competitivo e do jogo cooperativo. Os participantes do jogo competitivo têm como meta vencer e, dessa forma, elaboram estratégias para derrotar e excluir o outro. O termo correto para o outro é adversário. Como vimos no item sobre o jogo competitivo, existem formas de participar dessa prática refletindo sobre as próprias atitudes, observando o comportamento do outro; no entanto, ao final haverá vencedores e perdedores. 3.1 DANÇA DAS CADEIRAS: A COOPERAÇÃO E CRIANÇAS COM DI E TDAH 21/06/2022 19:07 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 9/15 No caso do jogo cooperativo, os participantes do jogo têm como meta vencer juntos e, nessa perspectiva, elaboram estratégias para evidenciar as habilidades e competências individuais e, por consequência, da equipe. Nesse sentido, o atraso motor da criança com DInão será visto como uma incapacidade, mas como uma característica pessoal e que, por conseguinte, não a levará à exclusão do jogo. A criança poderá participar dele livremente, assim como todas, expressando suas emoções e sentimentos, se divertindo, pois, quando a música parar, mesmo que não encontre uma cadeira para se sentar, encontrará braços abertos para recebê-la. E a criança com TDAH não será excluída do jogo porque demorou a discriminar o som ou por estar desatenta para apressar-se para encontrar uma cadeira para se sentar. Outras características das crianças poderão ser atendidas com a nova forma de jogar a dança das cadeiras. Por exemplo, nos aspectos emocionais, comumente elas apresentam imaturidade psicológica e por isso têm dificuldade de controle das emoções. Podem ficar mais frustradas do que as outras quando são excluídas e, dessa forma, se desinteressar em participar das atividades coletivas. Assim, sugerimos que você insira os jogos e brincadeiras cooperativas na prática lúdica e propicie momentos em que todos, com suas características de desenvolvimento motor, cognitivo e afetivo social, possam participar ativamente, interagir e aprender no coletivo. Falar em inclusão gera debates e reflexões, pois, apesar de há mais de duas décadas essa realidade estar presente na sociedade, nas políticas públicas de educação e nos projetos políticos pedagógicos na escola, ainda observamos várias pessoas com posturas excludentes no que se refere ao acolhimento dos estudantes com deficiências, TGD ou altas habilidades/superdotação (AH/SD). Assim, esse assunto, apesar de ser difícil de ser tratado, necessita ser discutido por todos. Os professores têm nos jogos cooperativos um meio de ensino para propiciar vivências lúdicas e significativas para os estudantes, na escola. Há espaço e tempo para todos e os jogos cooperativos demonstram isso. Vamos conhecer mais sobre esse tema? TEMA 4 – PRÁTICA LÚDICA INCLUSIVA A escola precisa estar preparada para atender a diversidade cultural, social dos estudantes e isso diz respeito também às suas características de desenvolvimento e aprendizagem. As crianças se desenvolvem e aprendem de forma diferente e algumas, em especial, têm condições diversas do esperado para a sua idade ou para série em que estão matriculadas. Nesse sentido, é papel da escola 21/06/2022 19:07 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 10/15 inclusiva acolher essa diversidade e não julgar quem está ou não dentro dos padrões que determinam a normalidade. Por anos, a ideia de inclusão foi compreendida de maneira equivocada e os planejamentos de ensino não atendiam as necessidades e interesses das crianças como um todo. A escola estava formada e o que se pretendia era integrar as crianças ao processo de ensino e a tudo que faz parte do contexto educacional. No entanto, a inclusão significa que a escola precisa buscar formas de ensino para que todos os estudantes se sintam incluídos, de forma justa. Com efeito, para que isso se efetive é necessário que os professores estejam bem preparados, por meio da formação inicial, continuada ou em serviço; que o espaço, o ambiente e os recursos materiais da escola propiciem condições de acessibilidade; e que, entre outros aspectos, os planejamentos de ensino incluam atividades diversificadas. Por conseguinte, as práticas lúdicas cooperativas poderão atender a esses princípios e envolver os estudantes em atividades construtivas e inclusivas para todos os estudantes. 4.1 HISTÓRIA: O LUGAR DO FAZ DE CONTA NA CONSTRUÇÃO DO PENSAMENTO SOBRE A COOPERAÇÃO Para melhor esclarecer o tema, vamos lhe contar uma história que incita a reflexão sobre as atitudes cooperativas: A ilha, os náufragos e o urso. A ilha, os náufragos e o urso Era uma vez uma ilha que existia perto do continente americano. Essa ilha era muito bonita. Lá, pássaros cantavam o dia todo, o sol brilhava e havia muitas flores e folhas. Certo dia, chegou a essa ilha um grupo de náufragos. Todos estavam muito assustados, pois o seu barco havia afundado quando eles estavam quase chegando à margem do continente. Eles conseguiram nadar até a ilha e, por isso, se salvaram. Quando já estavam lá por um tempo, a noite começou a cair e eles, com fome, começaram a procurar por algo que lhes servisse de alimento. De repente, encontraram um nativo e, ao vê-lo, ficaram com muito medo. O nativo, no entanto, já estava acostumado a encontrar pessoas que se perdiam do caminho e acabavam chegando à ilha, por descuido. Após um curto tempo de conversa, um dos náufragos perguntou ao nativo como eles poderiam conseguir algum alimento naquele lugar e lhe explicou que tudo que haviam carregado para comer tinha afundado com o 21/06/2022 19:07 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 11/15 barco. O nativo logo lhes explicou: “Para conseguir comida é fácil! Vocês terão que pegar alguns bambus, descascar e fazer uma salada”. Os náufragos gostaram da ideia, pois logo avistaram um grande terreno cheio de bambus plantados. – Cuidado! – disse o nativo. – Por quê? – perguntou o náufrago mais velho. Ao que o nativo respondeu: – Por aqui tem muito bambu, mas também tem um urso muito ciumento. E explicou aos náufragos que, para pegar o bambu que estava no terreno, eles não poderiam entrar todos juntos; apenas um deles deveria entrar. Os náufragos pensaram que, dessa forma, aquilo demoraria muito e a fome era grande. Assim, depois de alguns debates e troca de ideias, resolveram pegar seus cadarços dos calçados e fazer alguns nós, unindo todos. Desse jeito, apenas uma pessoa poderia entrar no terreno e ir inserindo bambus dentro dos nós, que seriam puxados pelos náufragos que estavam longe. Com efeito, o urso não perceberia que havia uma pessoa no terreno colhendo bambus. Todos cooperaram, ficando em silêncio, e, assim, fizeram uma bela salada e acabaram com a fome! Crédito: Maria Cristina Trois Dorneles Rau, 2020. Ao lidar com as frustrações geradas pela competição exagerada, muitas crianças se sentem excluídas das atividades, pois seus colegas e pares de jogos têm como único objetivo vencer. Ao contar a história A ilha, os náufragos e o urso para as crianças, você poderá incentivar a sua reflexão sobre a competição, o medo, a ansiedade, a necessidade, vencer sozinho ou vencer em equipe. Utilizando os princípios pensados para a prática lúdica inclusiva propostos por Soler (2009), é possível pensar na educação para a diversidade na prática lúdica, fazendo com que as crianças desenvolvam atitudes de respeito à singularidade de cada pessoa. O tema da história incita a reflexão sobre como podemos nos ajudar e, dessa forma, atingirmos objetivos comuns, atendendo aos interesses e necessidades de todos. Na sequência, você poderá criar alguns jogos em que as crianças reconheçam e vivenciem práticas que fortaleçam a cooperação e a solidariedade entre todos. 21/06/2022 19:07 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 12/15 TEMA 5 – JOGOS E BRINQUEDOS COOPERATIVOS 5.1 O URSO E O BAMBU Recursos: um lenço e um galho de planta para representar o bambu. Organização: para essa atividade, o ambiente deverá ser silencioso. Forma-se um círculo, com as crianças sentadas no chão. Ao centro, ficará uma criança que estará com os olhos vendados por um lenço. À sua frente, será colocado o galho. Como brincar: ao sinal do professor, uma das crianças tentará pegar o “bambu” sem que o colega perceba. Para isso, precisará se movimentar de forma lenta. As outras crianças precisarão fazer silêncio. Caso o “urso” perceba algum ruído ou movimento, deverá se levantar, imitando o movimento do urso. A criança que tentou pegar o bambu irá voltar para seu lugar e outra será escolhida. Caso ela consiga pegar o bambu, fará o papel de urso e o jogo seguirá. Esse jogo estimula a percepção auditiva e o trabalho em equipe. O seu caráter inclusivo, entre outros aspectos, está em ele facilitar a participação de crianças com baixa visão ou cegueira.Você poderá conversar com a turma e modificar a maneira de jogar caso haja crianças com surdez. Para crianças com deficiência intelectual, não é necessário fazer alterações no jogo. Soler (2009) esclarece haver a necessidade da superação da ideia de que, para se participar de jogos, existem somente estratégias individuais para vencer, e aponta um novo objetivo para a vitória: vencer por meio de estratégias coletivas que construam amizades, criatividade e solidariedade, fortalecendo as relações de afeto e convivência. A prática de jogos cooperativos propicia sentimentos de alegria e contentamento, pois a vitória é comunitária, com todos a solucionar os desafios dos jogos e brincadeiras. “Para as crianças, tanto faz competir ou cooperar, pois o que elas querem é se divertir” (Soler, 2009, p. 136). Os jogos cooperativos estimulam a união, a interação social, e objetivos comuns são compartilhados para beneficiar a todos. “Quando cooperamos, algo muito interessante acontece. Percebemos como é bom poder ajudar alguém” (Soler, 2009, p. 137). Contudo, a competição não deve ser vista como um aspecto negativo da prática lúdica; não se trata disso, mas do modo como são expressas as atitudes de competição nas vivências e interações entre as crianças, na escola e na sociedade. As duas práticas são importantes: a competição nos jogos estimula que todos os estudantes tentem superar as suas dificuldades, levando ao esforço individual para vencer seus próprios desafios; no entanto, numa perspectiva cooperativa, há de se proporcionar a reflexão dos estudantes sobre o 21/06/2022 19:07 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 13/15 fato de que a competição não pode gerar comparações entre rendimentos, entre eles. E, por isso, os jogos cooperativos possibilitam que todos os participantes contribuam para o êxito, utilizando as suas melhores habilidades e conhecimentos para que todos participem e sejam vitoriosos desses jogos. 5.2 QUEM SOU EU? Recursos: lenço para vendar os olhos. Organização: forma-se um círculo com as crianças em pé e de mãos dadas. No interior do círculo ficará uma criança com os olhos vendados por um lenço, que “será” o urso. Como brincar: as crianças irão rodar o círculo para a direita ou para a esquerda. O jogador que estiver ao centro irá levantar os braços e bater os pés e o círculo deverá parar de rodar. Quando esse jogador se aproximar de uma criança, esta deverá dizer a palavra bambu, e o “urso” tentará reconhecê-la pela voz. Se acertar, trocará de lugar com ela. O jogo descrito amplia a capacidade auditiva; favorece a autoestima, por meio da interação entre as crianças; e propicia a inclusão de crianças com deficiência física neuromotora ou intelectual, pois não requer alteração das regras, para a sua participação. A prática pedagógica cooperativa é uma forma inovadora de ensinar os estudantes a lidar com a diversidade. Nos jogos cooperativos, o objetivo principal não é vencer, mas sim todos vencerem juntos. Por conseguinte, todos se empenham em cooperar para que tenham sucesso, criando um ambiente de respeito e solidariedade. Isso é fundamental para a formação humana dos estudantes na escola. Dessa forma, observamos que os jogos cooperativos estão em consonância com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) (Brasil, 2018), pois estimulam o desenvolvimento das competências socioemocionais. Ao encontro das ideias do documento relacionamos o que Soler (2009) descreve como fundamental para a escola inclusiva e que precisa incentivar o trabalho em equipe. O autor destaca haver três estruturas de aprendizagem: a competitiva, a individualista e a que ocorre por meio da cooperação. A primeira e a segunda valorizam a recompensa individual e a terceira, a recompensa grupal (Soler, 2009). A aprendizagem cooperativa, pois, “[...] é uma maneira inovadora de se aprender a trabalhar com a diversidade” (Soler, 2009, p. 142). Com efeito, a educação inclusiva encontra nas práticas lúdicas um meio ímpar de estimular o aprendizado de atitudes mais cooperativas e solidárias entre as crianças. 21/06/2022 19:07 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 14/15 NA PRÁTICA Sabemos que uma das preocupações dos professores e demais profissionais da educação é incluir os estudantes com deficiências, TGD e AH/SD nas aulas, pois, quando isso ocorre, muitas vezes as práticas não são bem-sucedidas e, dessa forma, podem constranger as crianças. Nesse sentido, pense sobre a seguinte situação: imagine um estudante que possui boas habilidades espaciais e joga muito bem futebol, caçador ou queimada. Apresentando uma habilidade motora eficiente, ele poderá ser um incentivador do aprendizado de outros estudantes. No entanto, ele é extremamente competitivo, não sabe lidar com suas emoções e sentimentos e, dessa forma, está em constante conflito com os colegas, na escola. Sendo assim, a prática dos jogos cooperativos será uma ótima ferramenta para que ele desenvolva as suas competências socioemocionais e aprenda a lidar com suas características de temperamento e personalidade. Da mesma forma, um estudante que demonstre maior interesse por práticas de leitura, escrita ou desenho e menor habilidade motora, vivenciando práticas lúdicas cooperativas com os colegas de sala, inclusive com o estudante “bom de bola”, poderá compartilhar da sua capacidade de raciocínio, interpretação e memória visual e espacial e, dessa forma, as estratégias para a participação nos jogos serão fortalecidas para todos. Pensando sobre a situação descrita, como você acha que ambas as crianças poderiam compartilhar suas habilidades em vivências que abordassem apenas os jogos competitivos? Deixaremos essa pergunta para você refletir sobre o papel dos jogos cooperativos na prática pedagógica na escola. FINALIZANDO Os professores desempenham uma função importante na transformação das relações excludentes para outras, inclusivas, na escola. Ao abordar os jogos cooperativos na prática pedagógica, poderão incluir atividades que propiciem a superação das concepções que as crianças levam da sua própria história de vida e que incentivam a competição exagerada. A escola que não está consciente de seu papel social na formação humana dos estudantes corre o risco de reforçar a exclusão doentia presente em diversos segmentos da sociedade atual e, dessa forma, transformar crianças e jovens em perdedores. Ao criar ambientes seguros, éticos, a escola cria também um modelo mais afetivo e justo de sociedade para os estudantes. As crianças e jovens que participam de jogos cooperativos se sentem mais livres para aprender e cada vez mais demonstrar suas habilidades e ensinar aos outros atitudes de coragem, respeito e confiança. Isso se justifica porque, 21/06/2022 19:07 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 15/15 quando apenas as dificuldades motoras e cognitivas são realçadas, as crianças não se sentem amadas e respeitadas e isso propicia-lhes baixa autoestima, insegurança e ansiedade. Por conseguinte, essas crianças e jovens se isolam do convívio social, passando a evitar a convivência porque temem continuar a se sentir derrotadas. Com efeito, incluir a prática lúdica cooperativa na escola amplia as condições das crianças de participarem das atividades com os colegas e, dessa forma, serem felizes. REFERÊNCIAS BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular: educação é a base. Brasília, 2018. Disponível em: <http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_EF_110518_versaofinal_site.pdf>. Acesso em: 14 jan. 2021. DUARTE, R. C. B. Deficiência intelectual na criança. Residência Pediátrica, v. 8, supl. 1, p. 17-25, 2018. Disponível em: <http://residenciapediatrica.com.br/detalhes/337/deficiencia%20intelectual%20na%20crianca>. Acesso em: 14 jan. 2021. SOLER, R. Educação física inclusiva: em busca de uma escola plural. 2. ed. Rio de Janeiro: Sprint, 2009.
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